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Educação a Distância

Licenciatura em Matemática

Fundamentos de Álgebra

Giuliano Gadioli La Guardia


Margarete Aparecida dos Santos

Ponta Grossa – Paraná


2011
2

SUMÁRIO

PALAVRAS DOS PROFESSORES

OBJETIVOS E EMENTA DO LIVRO

UNIDADE 1 – SISTEMAS DE NUMERAÇÃO E TEORIA ELEMENTAR DOS


NÚMEROS
Seção 1 – Introdução ao Sistema de Numeração: Mudança de Base
Seção 2 – Teoria Elementar dos Números
2.1 – Números Naturais
2.2 – Números Inteiros
2.3 – Princípio da Indução Generalizada
2.4 – Somatórios e Produtórios
2.5 – Divisibilidade
2.6 – Máximo Divisor Comum e Mínimo Múltiplo Comum
2.7 – Números Primos
2.8 – Equações Diofantinas Lineares
2.9 – Números Racionais, Irracionais e Reais

UNIDADE 2 – RELAÇÕES
Seção 1 – Propriedades - Relação de Equivalência
Seção 2 – Classe de Equivalência
Seção 3 – Partição e Conjunto Quociente
Seção 4 – Relação de Ordem
Seção 5 – Congruência

UNIDADE 3 – OPERAÇÕES
Seção 1 – Definição e Propriedades
Seção 2 – Propriedade Associativa
Seção 3 – Propriedade Comutativa
Seção 4 – Elemento Neutro
Seção 5 – Elementos Simetrizáveis
Seção 6 – Elementos Regulares
Seção 7 – Propriedade Distributiva
Seção 8 – Parte Fechada para uma Operação
3

UNIDADE 4 – GRUPOS
Seção 1 – Definição e Propriedades
Seção 2 – Subgrupos
Seção 3 – Homomorfismo de Grupos
Seção 4 – Núcleo de um Homomorfismo
Seção 5 – Isomorfismo de Grupos
Seção 6 – Grupos Cíclicos
Seção 7 – Teorema de Lagrange
Seção 8 – Teorema do Homomorfismo

UNIDADE 5 – ANÉIS E CORPOS


Seção 1 – Anéis
Seção 2 – Subanéis
Seção 3 – Anéis de Integridade
Seção 4 – Corpos
Seção 5 – Subcorpos
Seção 6 – Homomorfismo e Isomorfismo de Anéis

PALAVRAS FINAIS
REFERÊNCIAS
NOTAS SOBRE OS AUTORES
RESPOSTAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS
FIGURAS E TABELAS
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PALAVRAS DOS PROFESSORES

Este é seu livro didático de Fundamentos de Álgebra. Esperamos que seja


um meio de aprendizado significativo em sua formação. Com esse espírito
oferecemos a você nossas boas vindas!
Escrevemos este livro com o desejo de apresentar um material que pudesse
aperfeiçoar seus conhecimentos em matemática bem como atingir uma melhoria
em sua formação profissional, tornando-a de maior valor e profundidade.
Abordamos os fundamentos da Álgebra, uma área importante da
matemática, pois apoia sua estrutura e permite novas conclusões e
desenvolvimentos matemáticos.
Hoje, conhecemos uma Álgebra extremamente elaborada, mas nem sempre
foi assim. Conheça um pouco de sua história.
Na antiguidade, a palavra Álgebra não tinha o mesmo sentido de hoje, pois
um algebrista era uma pessoa que trabalhava com ossos deslocados ou ossos
fraturados de pessoas; também podia fazer sangrias ou cortar cabelos. Na verdade,
Álgebra é a arte de se fazer isso.
Talvez seja meio decepcionante para alguns saberem disso, mas essa palavra
ficou com o título desse ramo da matemática, pois o matemático árabe Mohammed
ibn-Musa Al-Kowarizm utilizou a palavra Álgebra em seu livro para descrever a
ação que numa equação deve ser realizada, que é a de juntar termos semelhantes
como, por exemplo, x + 2x, que é igual a 3x. O título completo desse livro, escrito
em cerca de 825, é Hisab AL-jabr w’al-mukabalah, e significa ciência da
transposição e cancelamento.
É claro que a Álgebra não remonta a essa época apenas; na verdade, tem
suas origens com a matemática em si. Entretanto, o trabalho de Al-Kowarizm foi
um marco importantíssimo na história da Álgebra.
Por muitos séculos a Álgebra ficou centrada na busca de métodos de
resolução de equações, mas sempre esteve ―apoiada‖ na aritmética. Somente mais
tardiamente os matemáticos conseguiriam visualizar sua independência da
aritmética. Esse fato aconteceu no início do século XIX, com o cientista prodígio
Sir William Rowan Hamilton e seus contemporâneos: Carl Friederich Gauss,
Agustin Louis Cauchy, Arthur Cayley, Niels Henrik Abel e Evariste Galois, que
proporcionaram ainda mais significativas contribuições.
Em nossos dias, essa Álgebra ficou conhecida como Álgebra Abstrata,
devido ao seu nível de abstração; também é denominada de Álgebra Moderna, mas,
independentemente de sua nomenclatura, a Álgebra é de fundamental importância
5

para o desenvolvimento da matemática. Tendo tudo isso em mente, aproveite esta


oportunidade para estudá-la em profundidade, para que possa desenvolver ainda
mais seu raciocínio lógico-matemático, de forma a aperfeiçoar seus conhecimentos
em matemática.
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OBJETIVO E EMENTA DO LIVRO

OBJETIVO

Estimular no(a) educando(a) o desenvolvimento de seu raciocínio abstrato


mediante o estudo dos fundamentos da Álgebra e ampliar sua capacidade de
estruturar conhecimentos matemáticos utilizando-se justificativas matemáticas
formais.

EMENTA

Introdução ao sistema de numeração: mudança de base. Teoria elementar dos


números: números naturais, números inteiros, indução matemática, somatórios e
produtórios, divisibilidade, máximo divisor comum, mínimo múltiplo comum,
números primos, equações diofantinas lineares, números racionais, irracionais e
reais. Relações: propriedades, relação de equivalência, classe de equivalência,
partição, relação de ordem. Congruência. Conjunto quociente. Operações:
definição, propriedades, lei de composição interna e externa. Estruturas algébricas:
grupos, anéis e corpos.
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UNIDADE I – SISTEMAS DE NUMERAÇÃO E TEORIA ELEMENTAR


DOS NÚMEROS

Objetivos da Aprendizagem
- Realizar conversões de um número numa dada base, para outra base especificada.
- Conhecer os conjuntos numéricos dos naturais, inteiros, racionais, irracionais e
reais, com suas propriedades e operações.
- Efetuar demonstrações utilizando o método indutivo.

Roteiro de Estudos
Seção 1 – Introdução ao Sistema de Numeração: Mudança de Base
Seção 2 – Teoria Elementar dos Números
2.1 – Números Naturais
2.2 – Números Inteiros
2.3 – Indução Matemática
2.4 – Somatórios e Produtórios
2.5 – Divisibilidade
2.6 – Máximo Divisor Comum e Mínimo Múltiplo Comum
2.7 – Equações Diofantinas Lineares
2.8 – Números Primos
2.9 – Números Racionais, Irracionais e Reais

Para início de conversa

Desde o início de seus estudos escolares você aprendeu a contar e fazer


cálculos com uma forma específica de sistema de numeração, o sistema de
numeração decimal. Aprendeu também, mas não de forma aprofundada, o sistema
de numeração sexagesimal para cálculos de ângulos e horas.
Nesta disciplina, seu estudo começará com uma introdução sobre alguns
sistemas de numeração, focalizando a mudança de base, ou seja, você aprenderá
que números podem ser escritos e operados tendo uma base diferente da base
decimal.
Os fundamentos da Álgebra trazem os conhecimentos básicos desta área da
matemática, sua origem na aritmética e como se desenvolveu até chegar ao nível da
abstração que a caracteriza. A partir desta unidade você entrará em contato com a
Álgebra e seus respectivos conceitos e definições que a fundamentaram.
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Seção 1 – Introdução ao Sistema de Numeração: Mudança de Base

Como você sabe, para se escrever um número utilizam-se algarismos que o


representam, algarismos esses que, quando são posicionados de forma diferente,
possibilitam construir outros valores numéricos. Em outras palavras, ao se escrever
25, representam-se 2 dezenas e 5 unidades, mas, se inverter a posição desses
algarismos, obtém-se 52, que representa 5 dezenas e 2 unidades. Deste modo, os
algarismos 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 representam quaisquer quantidades que você
deseja. Além disso, você pode escrever o número 25 da forma 2 10  5 100 , que
é sua forma expandida.
Para fazer isso com um número maior, por exemplo, 25.708, você expande
da seguinte forma:
2 10.000  5 1.000  7 100  0 10  8 , ou melhor,
2 104  5 103  7 102  0 101  8 100 .
Note que cada algarismo está associado a uma potência de 10. Seguindo essa
lógica, você também poderia escrever números em bases diferentes da base 10.
Para se obter uma generalização para qualquer base de sistemas de
numeração é utilizada a expansão b-ádica de um número numa base b, ou seja,
N  an  bn  an1  bn1  ...  a2  b2  a1  b1  a0 , onde i  0,1, 2,..., n  1, n , ai são os
algarismos de representação do número N, b é a base, com b > 1, e βn denota o
conjunto dos algarismos ai que fazem parte da representação do número na base b.
No caso da base 10, βn se torna β10 = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9}. A base
binária possui apenas 2 símbolos, ou seja, β2 = {0, 1}. Para especificar qual a base
de um dado número escreve-se n j . Por exemplo, a notação 110011102 significa

que o número 11001110 está escrito na base 2 e assim por diante. A expansão b-
ádica desse número binário é dada por
N  1 28  1 27  0  26  0  25  1 24  1 23  1 21  0  20 . Se você resolver
essa expressão, o seu resultado é o número decimal correspondente a esse binário,
ou seja,
N  1 27  1 26  0  25  0  24  1 23  1 22  1 21  0  20 
1 128  1 64  0  32  0  16  1 8  1 4  1 2  0  1 
128  64  8  4  2  206.
Portanto, o número binário 10011101 corresponde ao número decimal N = 206.

Operações nos Binários


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Assim como é realizado no sistema de numeração decimal, é possível


realizar cálculos (adição e multiplicação) utilizando os números binários. Veja as
tabelas abaixo:

ADIÇÃO MULTIPLICAÇÃO
+ 0 1 × 0 1
0 0 1 0 0 0
1 1 10 1 0 1

Exemplo [Dados os números binários a = 10011 e b = 1011, determine o resultado


de a + b e a  b.
A forma de resolução de uma adição de binários é a mesma da decimal, pois você
coloca sobrepostos os números de mesma potência de 2, ou seja,
1 0 0 1 1
 1 0 1 1  Seguindo a tabela da adição, 1 + 1 = 10, você coloca 0 no local
resposta

da resposta e 1 sobre a 4ª coluna. Assim,


1
1 0 0 1 1
 Agora você deve fazer a adição dos três uns(1) da 4ª coluna,
 1 0 1 1
resposta 0
fazendo 1 + 1 + 1. É melhor efetuar essa adição em partes. Primeiramente, efetua-
se 1 + 1 = 10 e adiciona-se 10 com o último 1. Dessa forma resulta em 10 + 1, ou
ainda, seguindo a tabela da adição:
1 0
 1
1 1
Como o resultado é 11, coloca-se 1 sobre a 4ª coluna e 1 sobre a 3ª coluna.
10

1
1 0 0 1 1
 Neste momento é feita a adição dos números da 3ª coluna, que
 1 0 1 1
resposta 1 0

1 0 0 1 1
é igual a 1 + 0 + 0, resultando em 1 
 1 0 1 1
resp. 1 1 0
Efetuando-se a adição dos números da 2ª e 1ª coluna, o resultado é 1 para cada

1 0 0 1 1
uma. Então  . Dessa forma, o número soma binário procurado é
 1 0 1 1
1 1 1 1 0
11110.
Multiplicando-se 10011 e 1011:
Seguindo a tabela da multiplicação e iniciando-se
1 0 0 1 1
pelo último algarismo do binário 1011, multiplica-se
 1 0 1 1
o binário 10011 do último ao 1º algarismo:
resposta

1 0 0 1 1
Iniciando-se agora a multiplicação do penúltimo
 1 0 1 1
algarismo de 1011 por 10011, do último ao 1º:
1 0 0 1 1

1 0 0 1 1
O próximo número a se multiplicar é o antepenúltimo
 1 0 1 1
de 1011 por 10011, do último ao 1º:
1 0 0 1 1
1 0 0 1 1 

1 0 0 1 1
Para finalizar a multiplicação dos algarismos,
 1 0 1 1
determina-se o produto do 1º algarismo de 1011 por
1 0 0 1 1
10011, do último ao 1º.
1 0 0 1 1 
0 0 0 0 0 
11

1 0 0 1 1
 1 0 1 1 Desse ponto em diante é feita a adição das quatro
1 0 0 1 1 últimas linhas. Para facilitar, podem-se escrever
1 0 0 1 1  apenas as linhas que determinarão a soma, da
0 0 0 0 0  seguinte forma:
1 0 0 1 1 
resultado

1 0 0 1 1
1 0 0 1 1 
Efetuando-se a adição segundo a tabela da adição, da
0 0 0 0 0 
1 0 0 1 1  direita para a esquerda:

resultado
1 1
1 0 0 1 1 1 0 0 1 1
1 0 0 1 1  1 0 0 1 1 
 
0 0 0 0 0  0 0 0 0 0 
1 0 0 1 1  1 0 0 1 1 
resultado 0 1 resultado 0 0 1

1
1 0 0 1 1
1 0 0 1 1 
Lembrando que 1 + 1 = 10 e 10 + 1 = 11,
0 0 0 0 0 
1 0 0 1 1 
resultado 0 0 0 1

1 1 0 0 1 1 1 0 0 1 1
1 0 0 1 1  1 1 0 0 1 1 
0 0 0 0 0   0 0 0 0 0 
1 0 0 1 1  1 0 0 1 1 
resultado 1 0 0 0 1 1 1 0 1 0 0 0 1
Dessa forma, o produto binário procurado é 11010001.]

O que acha de observarmos mais um exemplo?

Exemplo [Calcule a adição e a multiplicação dos números decimais 41 e 131


convertidos para binários.
Primeiramente, é preciso converter os números dados para números binários,
encontrando-se as potências de 2 que resultam nesses números.
12

A maior potência de 2 que se aproxima de 41 é 2 5 = 32, pois 26 ultrapassa


41. Para que se possam procurar as demais potências, você faz 41 – 32 = 9. A
potência de 2 mais próxima é 2 3 = 8, fazendo-se então 9 – 8 = 1. Agora, você
determina a potência de 2 que resulta em 1, que é 2 0. Então, o número 41 pode ser
escrito em potências de 2 como 41 = 25 + 23 + 20, ou ainda, completando-se as
potências que foram multiplicadas por 0 e indicando-se as demais potências sendo
multiplicadas por 1 da seguinte forma: 41 = 1.25 + 0.24 + 1. 23 + 0.22 + 0.2 + 1.20.
O número binário procurado é determinado pelos uns e zeros que multiplicam as
potências de 2: 41 = 1.25 + 0.24 + 1. 23 + 0.22 + 0.2 + 1.20  101001.
Outra forma de realizar essa conversão é utilizar um método de divisões
consecutivas que, na verdade, é a mesma coisa, mudando-se apenas a forma de
representação:

41 2
1 20 2
0 10 2
O binário procurado é indicado pelos restos das
0 5 2
divisões do último até o primeiro:
12 2
01 2
10

41 2
1 20 2
 0 10 2
0 5 2 , então o binário procurado é 101001.
1 2 2
0 1 2
1 0

Para o decimal 131, a maior potência de 2 que se aproxima de 131 é 2 7 =


128. Subtraindo 128 de 131 resulta 3. Agora, a maior potência de 2 que se
aproxima de 3 é 21 e 3 – 2 = 1. Assim, resta a potência 20. Logo, o número 131
pode ser escrito como:
131 = 27 + 21 + 20, ou ainda, 131 = 1.27 + 0.26 + 0.25 + 0.24 + 0.23 + 0.22 + 1.21 +
1.20. Como o binário procurado é constituído por zeros e uns que multiplicam as
potências de 2, o número 131 corresponde ao número 10000011. Fazendo, agora,
pelo algoritmo da divisão, temos:
13

131 2
1 65 2
1 32 2
0 16 2
O binário procurado é indicado pelos restos das
08 2
divisões a partir do último até o primeiro:
0 4 2
0 2 2
0 1 2
10

131 2
1 65 2
 1 32 2
 0 16 2
0 8 2 Dessa forma, o número é 10000011.
0 4 2
0 2 2
0 1 2
1 0
Finalmente você pode efetuar as operações entre os binários 101001 e 10000011.
Iniciando-se o cálculo da adição:

1 0 0 0 0 0 1 1
Seguindo a tabela da adição:
+ 1 0 1 0 0 1
resposta
1 1
1 0 0 0 0 0 1 1 1 0 0 0 0 0 1 1
+ 1 0 1 0 0 1 + 1 0 1 0 0 1
resposta 0  resposta 0 0 

Como as demais adições eram entre 0 e 1, as


1 0 0 0 0 0 1 1
somas já foram indicadas, e o número binário
+ 1 0 1 0 0 1
procurado é 10101100.
1 0 1 0 1 1 0 0 

Conhecendo-se os binários correspondentes a 41 e 131, a multiplicação é


iniciada da seguinte forma:
1 0 0 0 0 0 1 1 Como no exemplo anterior, a multiplicação é feita
 1 0 1 0 0 1 da direita para a esquerda, do último algarismo da 2ª
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linha por todos os algarismos da 1ª linha:


1 0 0 0 0 0 1 1
Multiplicando-se o penúltimo algarismo da 2ª linha
 1 0 1 0 0 1
por todos da 1ª linha e assim por diante:
1 0 0 0 0 0 1 1

1 0 0 0 0 0 1 1
1 0 0 0 0 0 1 1
 1 0 1 0 0 1
 1 0 1 0 0 1
 1 0 0 0 0 0 1 1 
1 0 0 0 0 0 1 1
0 0 0 0 0 0 0 0 
0 0 0 0 0 0 0 0 
0 0 0 0 0 0 0 0 
1 0 0 0 0 0 1 1
1 0 0 0 0 0 1 1
 1 0 1 0 0 1
 1 0 1 0 0 1
1 0 0 0 0 0 1 1
1 0 0 0 0 0 1 1
 0 0 0 0 0 0 0 0 
0 0 0 0 0 0 0 0 
0 0 0 0 0 0 0 0 
0 0 0 0 0 0 0 0 
1 0 0 0 0 0 1 1 
1 0 0 0 0 0 1 1 
0 0 0 0 0 0 0 0 

1 0 0 0 0 0 1 1
 1 0 1 0 0 1
1 0 0 0 0 0 1 1
0 0 0 0 0 0 0 0 
A partir daqui efetua-se a
0 0 0 0 0 0 0 0 
 adição:
1 0 0 0 0 0 1 1 
0 0 0 0 0 0 0 0 
1 0 0 0 0 0 1 1 
resultado

1 0 0 0 0 0 1 1
 1 0 1 0 0 1
1 0 0 0 0 0 1 1
0 0 0 0 0 0 0 0 
0 0 0 0 0 0 0 0 
O resultado é 1010011111011.
1 0 0 0 0 0 1 1 
0 0 0 0 0 0 0 0 
1 0 0 0 0 0 1 1 
1 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 1 1
Você aprendeu como converter um número decimal em um número
binário. Reciprocamente, você pode converter um número binário em decimal
utilizando a expressão b-ádica.]
15

Exemplo [Considere o binário 10111001. Para se determinar o decimal


equivalente, é preciso expressar este número binário em sua expressão b-ádica:
N  1.27  0.26  1.25  1.24  1.23  0.22  0.21  1.20  128  32  16  8  1  185 ,
isto é, 101110012  18510 .]

Como você percebeu, para se determinar um decimal correspondente a um


binário, é só representar sua respectiva expressão b-ádica e realizar os cálculos.
Outras três bases mais conhecidas são as bases octal, hexadecimal e
sexagesimal. Na Seção 1.2, você aprenderá como calcular um número decimal na
base octal.

Operações nos Octais


Como o nome sugere, a base octal possui 8 algarismos e é representada por
β8 = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7}. Quando se deseja escrever um número decimal a partir
de um octal, você utiliza a representação b-ádica dada por
N  an .8n  an1.8n1  an2 .8n2    a2 .82  a1.81  a0 .80.
A ideia é determinar as potências de 8 que definem um número decimal.
Ou seja, se você quiser encontrar o octal que corresponde ao decimal 1.293,
primeiramente encontra-se a maior potência de 8 que se aproxima desse decimal,
sem ultrapassar seu valor, e então você deve multiplicá-la por um valor inteiro de 1
a 7, para que o número encontrado se aproxime ainda mais de 1.293. Desse modo,
a potência procurada é 8 3 = 512, pois 84 = 4.096. Multiplicando-se 2 por 83, o
resultado é 1.024. Se você multiplicasse 3 por 83 o produto ultrapassaria 1.293.
Efetuando-se a diferença entre 1.293 e 1.024 você encontrará 269.
Continuando-se o processo: a potência de 8 agora é 8 2 = 64, que pode ser
multiplicada por 4, ficando assim 4.82 = 256, e subtraindo-se 256 de 269, o
resultado é 13. A potência de 8 que mais se aproxima de 13 é 8 1 = 8, ou seja, 13 – 8
= 5. Para concluir, a última potência de 8 que se aproxima de 5 é 8 0 que, nesse
caso, deve ser multiplicada por 5, sendo 5.80 = 5. Para expressar o número decimal
1.293 em potências de 8, segundo o que foi feito aqui, a expressão resultante é
1.293  2.83  4.82  1.81  5.80 , em que o octal procurado é 2415.
Outro método interessante para se determinar esse octal é o algoritmo das
divisões sucessivas por 8:
16

1.293 8
5 161 8
1 20 8
4 2 8
2 0
O octal é constituído dos algarismos dos restos tomados de baixo para cima
1.293 8
5 161 8
 1 20 8 , ou seja, 2415.
 4 2 8
 2 0

Os números octais também possuem uma tabela para a adição e uma para a
multiplicação:

ADIÇÃO
+ 0 1 2 3 4 5 6 7
0 0 1 2 3 4 5 6 7
1 1 2 3 4 5 6 7 10
2 2 3 4 5 6 7 10 11
3 3 4 5 6 7 10 11 12
4 4 5 6 7 10 11 12 13
5 5 6 7 10 11 12 13 14
6 6 7 10 11 12 13 14 15
7 7 10 11 12 13 14 15 16

MULTIPLICAÇÃO
 0 1 2 3 4 5 6 7
0 0 0 0 0 0 0 0 0
1 0 1 2 3 4 5 6 7
2 0 2 4 6 10 12 14 16
3 0 3 6 11 14 17 22 25
4 0 4 10 14 20 24 30 34
5 0 5 12 17 24 31 36 43
6 0 6 14 22 30 36 44 52
7 0 7 16 25 34 43 52 61

O motivo das tabelas não possuírem valores (que para nós são óbvios) em
decimais é porque a soma e o produto em decimal precisam ser convertidos para o
octal correspondente. Por exemplo, quando você multiplica 6 por 7, o resultado em
17

decimal é 42, e então você precisa convertê-lo para octal, isto é, 42 = 5.81 + 2.80,
que corresponde ao octal 52. É dessa forma que todos os números das tabelas são
determinados.
Assim como é feito para números binários, você também pode adicionar e
multiplicar números octais entre si. Acompanhe no exemplo a seguir.

Exemplo [ Adicione e multiplique entre si os octais 5061 e 744.


Para efetuar-se a adição entre octais, você procede da mesma forma que faz com
números decimais, colocando sobrepostos os algarismos de mesma potência:
5 0 6 1
 7 4 4
resposta
A adição é realizada da direita para a esquerda, segundo a tabela dada da adição de
octais:
5 0 6 1
 7 4 4  Resolvendo-se 6 + 4 segundo a tabela encontra-se 12:
resposta 5

1
5 0 6 1
 Agora, pela tabela, 1 + 7 = 10:
 7 4 4
resp. 2 5
1
5 0 6 1
5 0 6 1
 E, finalizando:  7 4 4
 7 4 4
6 0 2 5
0 2 5
O octal resultante da adição é 6025. A seguir, o cálculo da multiplicação. A
disposição dos algarismos é a mesma da adição:
5 0 6 1
 7 4 4
resposta
O processo se inicia multiplicando-se o último algarismo de 744 por todos
os algarismos de 5061, da direita para a esquerda, sempre seguindo a tabela da
multiplicação entre octais:
5 0 6 1
 7 4 4  Quando se efetua 4 × 6 utilizando-se tabela da multiplicação
4
resulta em 30:
18

3
5 0 6 1
5 0 6 1
  7 4 4  Segundo a tabela da multiplicação, 4 × 5 = 24:
 7 4 4
3 0 4
0 4
5 0 6 1
 7 4 4  Multiplicando-se o penúltimo algarismo de 744 por 5061 é o
2 4 3 0 4
mesmo resultado da 3ª linha deslocando-se uma coluna para a esquerda:
5 0 6 1
 7 4 4
2 4 3 0 4  Seguindo com a multiplicação do 1º algarismo de 744 por
2 4 3 0 4 
5061 pela tabela da multiplicação:
5
5 0 6 1 5 0 6 1
 7 4 4  7 4 4
2 4 3 0 4  7 × 6 = 52  2 4 3 0 4 
2 4 3 0 4  2 4 3 0 4 
7  2 7 

5 0 6 1
5 0 6 1  7 4 4
 7 4 4 2 4 3 0 4
2 4 3 0 4  7 × 5 = 43  2 4 3 0 4 
2 4 3 0 4  4 3 5 2 7  
5 2 7  resultado
Como último passo, efetua-se a adição dos termos seguindo a tabela da adição:
1
2 4 3 0 4
2 4 3 0 4
2 4 3 0 4 
 3 + 7 = 12  2 4 3 0 4   1 + 4 = 5,
4 3 5 2 7  
4 3 5 2 7  
4 4
2 4 4
19

1
2 4 3 0 4
5 + 3 = 10, 10 + 2 = 12  2 4 3 0 4   1 + 2 = 3, 3 + 4 = 7, 7 + 5 =
4 3 5 2 7  
2 2 4 4

1 2 4 3 0 4 2 4 3 0 4
2 4 3 0 4  2 4 3 0 4 
14  
4 3 5 2 7   4 3 5 2 7  
4 2 2 4 4 4 6 4 2 2 4 4
Então, o produto de 5071 octal por 744 octal é 464224 octal. Se você
precisar determinar um decimal correspondente a um octal dado, precisa
desenvolver a expressão b-ádica do octal. Por exemplo, se o octal dado fosse 75023
e se você tivesse que encontrar o decimal correspondente, você teria que resolver a
expressão b-ádica de 75023, isto é:
N  7.84  5.83  0.82  2.81  3.80  7.4096  5.512  2.8  3  31.251. Veja que o
decimal correspondente ao número 75023 em octal é 31.251. ]

O número octal e o número binário possuem uma relação entre si, pois 2 3 =
8, o que permite converter um binário diretamente para um octal. A tabela a seguir
mostra a relação mencionada.
2 8
0.20 000 0
1.20 001 1
1.21 + 0.20 010 2
1.21 + 1.20 011 3
1.22 + 0.21 + 0.20 100 4
1.22 + 0.21 + 1.20 101 5
1.22 + 1.21 + 0.20 110 6
1.22 + 1.21 + 1.20 111 7

A tabela indica que, quando se tem um número binário, pode-se completar


à esquerda com zeros até obter agrupamentos de três algarismos binários.
Acompanhe os exemplos apresentados na sequência.

Exemplo [Dado o binário 1001011, determinar seu octal correspondente.


Para resolver essa questão, a partir do binário dado você faz agrupamentos de três
 011
em três binários da direita para a esquerda: 1. 001.  . Como no início do

número não se formou um trio, você completa com zeros à esquerda, isto é
20

1. 00
00   . Observando-se na tabela, os agrupamentos correspondem aos
1. 011
octais 1, 1 e 3, ou seja, o octal procurado é 113.]

Exemplo [ Converta o binário 11101 para o número octal correspondente.


Para realizar a conversão, assim como foi feito no exemplo anterior, você agrupa
 101
de três em três algarismos da direita para a esquerda, isto é 11.  . Como no

início não houve um agrupamento de três algarismos, você deve acrescentar zeros à

esquerda, ou seja, 0  . Observando-se na tabela, os octais correspondentes


11. 101
são 3 e 5, ou seja, 35.]

O processo inverso também pode ser feito: dessa forma o octal é fornecido
e com o auxílio da tabela você determina o binário. Acompanhe o exemplo dado a
seguir:

Exemplo [ Encontre o binário correspondente ao octal 3251.


Utilizando-se a tabela, você substitui cada algarismo octal pelo correspondente
3 2 5 1
binário  011.010.101.001 . Depois, você pode eliminar o
 010
011  101
 001

zero à esquerda, bem como os pontos de separação, resultando em 11010101001.]

Exemplo [ Converter o octal 123 para binário.


Com efeito, substitua, segundo a tabela, o correspondente binário de cada
1 2 3
algarismo octal:  001.010.011, eliminando-se os zeros à
 010
001  011

esquerda e os pontos de separação: 1010011.]

Como citado anteriormente, existem muitas bases de sistemas de


numeração. A seguir, você aprenderá a operar com os hexadecimais.

Operações nos Hexadecimais


Os números hexadecimais possuem uma base com 16 algarismos e, para
economizar escrita, os algarismos maiores que 9 são representados por letras, ou
seja, 16  0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, A, B, C, D, E, F , em que A = 10, B = 11, C = 12, D

= 13, E = 14 e F = 15. A representação b-ádica de um número decimal numa base


hexadecimal é N  an .16n  an1.16n1  an2 .16n2  ...  a2 .162  a1.161  a0 .160 .
21

Como foi feito com os números binários e octais, aqui você também pode
determinar a representação hexadecimal de um número decimal.

Exemplo [ Supondo que lhe seja dado o decimal 235.687, para encontrar o
hexadecimal correspondente, é preciso escrever o seu valor em somas de potências
de 16. A maior potência de 16 que não ultrapassa 235.687 é 16 4 = 65.536, que pode
ser multiplicada por 3 para que se aproxime mais ainda do decimal, ou seja: 3. 164
= 196.608. Subtraindo-se 196.608 de 235.687 o resultado é 39.079. A maior
potência de 16 que se aproxima de 39.079 é 163 = 4.096, e esse valor passa a ser
multiplicado por 9, pois 9. 163 = 36.864. Efetuando-se a subtração tem-se que
39.079 – 36.864 = 2.215. Como 163 é maior que 2.215, a próxima potência a ser
analisada é 162 = 256, que é multiplicada por 8 para se aproximar do valor 2.215.
Dessa forma resulta em 8.162 = 2.048. Calculando-se a diferença entre 2.215 e
2.048, o resultado é 167; ainda deve-se encontrar uma potência de 16 próxima.
Como 162 é maior que 167, então a potência é 161 = 16 e deve ser multiplicada por
10: 10. 161 = 160. Finalmente você chegou à última potência 160 = 1, que deve ser
multiplicada por 7, assim, 7. 160 = 7. Nesse momento, você escreve o número
235.687 na forma b-ádica, como apresentado a seguir:
N  3.164  9.163  8.162  10.161  7.160 
196.608  36.864  2.048  160  7  235.687.
As constantes que multiplicam as potências (nesse caso, nenhuma se anulou) são
398(10)7. Como A = 10, o resultado final é 398A7.]

Observação: Se você não destacar o 10, corre o risco de escrever o número como
398107, que está totalmente errado, pois esse valor resultaria no decimal 3.768.583
e não em 235.687.

Exemplo [ Neste exemplo, você aprenderá como determinar o hexadecimal


correspondente ao decimal 235.687 utilizando-se o algoritmo da divisão. Para
tanto, você segue dividindo os quocientes por 16, isto é:
235.687 16
7 14.730 16
10 920 16
8 57 16
9 3 16
3 0
22

Da mesma forma que você estudou os números binários e octais, o número


procurado é constituído dos restos das divisões tomados de baixo para cima,
lembrando-se que, neste caso, você já pode substituir os valores A = 10, B = 11, C
= 12, D = 13, E = 14 e F = 15 conforme o caso. Note que você deve substituir A =
10.
235.687 16
7 14.730 16
 A 920 16
 398A7 é o hexadecimal procurado.
 8 57 16
 9 3 16
 3 0
]

Para se encontrar um decimal correspondente a um decimal, o processo é


mais simples, porque você só precisa montar a expressão b-ádica e fazer os
cálculos.

Exemplo [ Qual é o decimal correspondente ao hexadecimal D02E79?


Fazendo-se a representação b-ádica do hexadecimal dado:
N  D.165  0.164  2.163  E.162  7.161  9.160 .
Substituindo-se as letras hexadecimais pelos seus valores decimais, segue que
N  13.165  2.163  14.162  7.161  9.160 
13.631.488  8.192  3.584  112  9  13.643.385.
]

Repare que, quanto maior a base, menos algarismos tem em sua


representação. Somente para você ter uma ideia, pegue esse número decimal
encontrado no exemplo, 13.643.385, e determine seu correspondente binário, octal
e hexadecimal, que já sabe que é D02E79. Note que, em relação ao número de
algarismos, obtém-se 16  10  2 , pois

D02E7916  13.643.38510  1101000000101110011110012. O número hexadecimal


tem 6 algarismos, o decimal tem 8 e o número binário tem 24. Se um número
hexadecimal é conhecido, isto é, sabe-se o número de algarismos (p) que o
representa, o número binário correspondente terá 4.p algarismos. Analogamente,
um número octal é conhecido, bem como o número de algarismos que o representa
(q); então o binário correspondente terá 3.q algarismos. Entretanto, isso somente
23

dará um resultado exato se um for múltiplo do outro, caso contrário o resultado


será um número de algarismos próximo à relação dada.

Exemplo [Se o número binário dado fosse 100110111, o octal correspondente seria
467 e o hexadecimal seria 137, ou seja, o binário possui 9 algarismos, o octal 3 e o
hexadecimal também 3. Bem, se você dividir 9 por 3 (para o octal) o resultado é 3,
que é exatamente o número de algarismos no octal. Ainda, se você dividir 9 por 4
(para o hexadecimal), o resultado é 2,25 e o hexadecimal tem 3 algarismos.]

Exemplo [Dado o binário 10110011, o octal correspondente seria 263 e o


hexadecimal B3. Como o binário possui 8 algarismos e 8 dividido por 3 é
aproximadamente 2,67, constata-se que não é o número de algarismos do octal 263.
Mas, se dividir 8 por 4, o resultado é 2, ou seja, o número de algarismos do
hexadecimal B3. Repare que, nesses dois exemplos, os resultados que não deram
exatos foram aproximados do valor real. Note que, no exemplo onde os valores
correspondentes entre si eram
D02E7916  13.643.38510  1101000000101110011110012 , o resultado do número
de algarismos para o hexadecimal foi exato, porque 24 (número de algarismos do
binário) é múltiplo de 4 e 3.]

No que diz respeito às operações entre hexadecimais, observe a tabela a


seguir de adição e multiplicação para que você possa efetuar os cálculos que virão
em seguida.
ADIÇÃO
+ 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F
0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F
1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F 10
2 2 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F 10 11
3 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F 10 11 12
4 4 5 6 7 8 9 A B C D E F 10 11 12 13
5 5 6 7 8 9 A B C D E F 10 11 12 13 14
6 6 7 8 9 A B C D E F 10 11 12 13 14 15
7 7 8 9 A B C D E F 10 11 12 13 14 15 16
8 8 9 A B C D E F 10 11 12 13 14 15 16 17
9 9 A B C D E F 10 11 12 13 14 15 16 17 18
A A B C D E F 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
B B C D E F 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 1A
C C D E F 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 1A 1B
D D E F 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 1A 1B 1C
E E F 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 1A 1B 1C 1D
F F 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 1A 1B 1C 1D 1E
24

MULTIPLICAÇÃO
× 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F
2 0 2 4 6 8 A C 7 10 12 14 16 18 1A 1C 1E
3 0 3 6 9 C F 12 E 18 1B 1E 21 24 27 2A 2D
4 0 4 8 C 10 14 18 15 20 24 28 2C 30 34 38 3C
5 0 5 A F 14 19 1E 1C 28 2D 32 37 3C 41 46 4B
6 0 6 C 12 18 1E 24 23 30 36 3C 42 48 4E 54 5A
7 0 7 E 15 1C 23 2A 2A 38 3F 46 4D 54 5B 62 69
8 0 8 10 18 20 28 30 31 40 48 50 58 60 68 70 78
9 0 9 12 1B 24 2D 36 38 48 51 5A 63 6C 75 7E 87
A 0 A 14 1E 28 32 3C 3F 50 5A 64 6E 78 82 8C 96
B 0 B 16 21 2C 37 42 46 58 63 6E 79 84 8F 9A A5
C 0 C 18 24 30 3C 48 4D 60 6C 78 84 90 9C A8 B4
D 0 D 1A 27 34 41 4E 54 68 75 82 8F 9C A9 B6 C3
E 0 E 1C 2A 38 46 54 5B 70 7E 8C 9A A8 B6 C4 D2
F 0 F 1E 2D 3C 4B 5A 62 78 87 96 A5 B4 C3 D2 E1

Os valores contidos nessas tabelas são calculados conforme a conversão de


um número decimal para um hexadecimal. Por exemplo, quando você multiplica
11 por 14, em decimal, você obtém 154, mas na tabela o valor é 9A, ou seja, o
valor 154 foi convertido para um número hexadecimal. Mais especificamente:
154 16 154 16
10 9 16  10 9 16  9(10)  9A
9 0  9 0
Dessa forma são calculados todos os valores das duas tabelas dadas.
Para encerrar esta seção, veja alguns exemplos de como realizar a adição e
a multiplicação entre hexadecimais.

Exemplo [Encontre o resultado das operações 3A2B + C50E, 3A2B × C50E.


Iniciando, então, pela adição, deve-se consultar a tabela da adição durante seus
cálculos:
3 A 2 B
+ C 5 0 E
resultado
Iniciando da esquerda para a direita, olha-se na tabela o valor de B + E (aqui é 19):
1
3 A 2 B
3 A 2 B
 + C 5 0 E
+ C 5 0 E
resultado 3 9
resultado 9
25

3 A 2 B
A soma de A + 5 é F: + C 5 0 E
res. F 3 9
3 A 2 B
Finalizando, tem-se que 3 + C = F: + C 5 0 E
F F 3 9
Dessa forma, o resultado da adição é FF39.

Na sequência, calcula-se a multiplicação entre os hexadecimais 3A2B e


3 A 2 B
C50E:  C 5 0 E
resultado
Multiplicando E por 3A2B seguindo a tabela da multiplicação e o produto de E por
9 1
1 C
3 A 2 B 1 C
B é 9A:  E × 2 = 1C, e resolvendo 1C + 9:  9
 C 5 0 E  9
2 5
resultado A 5

2
8 C
3 A 2 B
 E × A = 8C e, 8C + 2: + 2
 C 5 0 E
8 E
resultado 5 A

8 1
2 A
3 A 2 B 2 A
 E × 3 = 2A e, 2A + 8:  8
 C 5 0 E  8
3 2
res. E 5 A 2

3 A 2 B

 C 5 0 E Agora, multiplicando 0 por 3A2B:
3 2 E 5 A

3 A 2 B
× C 5 0 E
, Em seguida, multiplica-se 5 por 3A2B:
3 2 E 5 A
0 0 0 0 +
26

3
3 A 2 B
Pela tabela da multiplicação, tem-se 5 × 2 = A e, A + 3 = D:
× C 5 0 E
3 2 E 5 A
0 0 0 0 
7 

3 A 2 B
3
× C 5 0 E
3 A 2 B
3 2 E 5 A Fazendo 5 × A = 32:
× C 5 0 E
0 0 0 0 
3 2 E 5 A
D 7 
0 0 0 0 
2 D 7 

Efetuando-se a multiplicação por 5, 5 × 3 = F e, F + 3 = 12:


3 A 2 B
× C 5 0 E
3 2 E 5 A
0 0 0 0 +
1 2 2 D 7 +
Falta efetuar a multiplicação de C por 3A2B. Portanto, C × B = 84:
8
3 A 2 B
1
× C 5 0 E 1 8
1 8
3 2 E 5 A Fazendo C × 2 = 18 e,18 + 8:  8, ou
 8
0 0 0 0 + 2 0
0
1 2 2 D 7 +
4 
seja:
2
3 A 2 B
× C 5 0 E
3 2 E 5 A Multiplicando C × A = 78 e, 78 + 2 = 7A:
0 0 0 0 +
1 2 2 D 7 +
0 4 
27

7
3 A 2 B
× C 5 0 E
3 2 E 5 A
0 0 0 0 +
1 2 2 D 7 +
A 0 4 
2 4 2 4
Completando-se a multiplicação, você faz C × 3 = 24 e, 24 + 7:  7  7.
B 2 B

3 A 2 B
× C 5 0 E
3 2 E 5 A
Deste modo: 0 0 0 0 +
1 2 2 D 7 +
2 B A 0 4 +

Na próxima etapa, você precisa realizar as adições indicadas. Para tornar a


visualização mais clara, aqui serão representadas apenas as adições:
3 2 E 5 A
3 2 E 5 A
0 0 0 0 +
0 0 0 0 +
Iniciando o cálculo: 1 2 2 D 7 +
1 2 2 D 7 +
2 B A 0 4 +
2 B A 0 4 +
5 A

1
3 2 E 5 A
0 0 0 0 +
Fazendo E + 7 = 15:
1 2 2 D 7 +
2 B A 0 4 +
5 5 A

1
3 2 E 5 A
0 0 0 0 +
Adicionando-se 1 + 2 = 3, 3 + D = 10 e 10 + 4 = 14: .
1 2 2 D 7 +
2 B A 0 4 +
4 5 5 A
28

3 2 E 5 A
0 0 0 0 +
1 + 3 + 2 = 6: 1 2 2 D 7 +
2 B A 0 4 +
6 4 5 5 A
3 2 E 5 A
0 0 0 0 +
2 + A = C, 1 + B = C: 1 2 2 D 7 +
2 B A 0 4 +
2 C C 6 4 5 5 A
Portanto, o resultado da multiplicação de 3A2B por C50E é 2CC6455A. ]

Acompanhe o próximo exemplo:

Exemplo [ Calcule o produto de 20F1 por E46D.


Primeiramente, representam-se os números hexadecimais no formato comum da
multiplicação:
2 0 F 1
× E 4 6 D
resposta
Iniciando-se com a multiplicação de D por 20F1:
2 0 F 1
× E 4 6 D Fazendo D × F = C3
D
C
2 0 F 1
2 0 F 1
× E 4 6 D D × 2 = 1A
× E 4 6 D
C 3 D
3 D
2 0 F 1
× E 4 6 D
1 A C 3 D
Efetuando-se, agora, a multiplicação de 6 por 20F1:
2 0 F 1 5
× E 4 6 D 2 0 F 1
1 A C 3 D Multiplicando-se 6 × F = 5A × E 4 6 D
6  1 A C 3 D
A 6 +
29

2 0 F 1 2 0 F 1
× E 4 6 D × E 4 6 D
1 A C 3 D 6×2=C 1 A C 3 D
5 A 6 + C 5 A 6 +
Multiplicando-se 4 por 20F1:
3
2 0 F 1 2 0 F 1 2 0 F 1
× E 4 6 D × E 4 6 D × E 4 6 D
1 A C 3 D 4 × F = 3C 1 A C 3 D 1 A C 3 D
C 5 A 6 + C 5 A 6 + C 5 A 6 +
4  C 4  3 C 4 

2 0 F 1
× E 4 6 D
4×2=8 1 A C 3 D
C 5 A 6 +
8 3 C 4 
Finalmente, multiplica-se E por 20F1:
2 0 F 1 D
× E 4 6 D 2 0 F 1
1 A C 3 D × E 4 6 D
C 5 A 6 + E × F = D2 1 A C 3 D
8 3 C 4  C 5 A 6 +
E  8 3 C 4 
2 E 
2 0 F 1
× E 4 6 D
1 A C 3 D
C 5 A 6 + E × 2 = 1C
8 3 C 4 
D 2 E 

2 0 F 1
× E 4 6 D
1 A C 3 D
C 5 A 6 +
8 3 C 4 
1 C D 2 E 
Para se encontrar o produto é preciso fazer a adição a seguir:
30

1 A C 3 D 1 A C 3 D
C 5 A 6 + C 5 A 6 +
8 3 C 4 + 8 3 C 4 +
1 C D 2 E + 1 C D 2 E +
resposta 9 D
1 A C 3 D
C 5 A 6 +
8 3 C 4 + C + A = 16 e 16 + 4 = 1A
1 C D 2 E +
9 D
1
1 A C 3 D
C 5 A 6 +
1 + A = B, B + 5 = 10, 10 + C = 1C E 1C + E = 2A
8 3 C 4 +
1 C D 2 E +
A 9 D

2
1 A C 3 D
C 5 A 6 +
2 + 1 = 3, 3 + C = F, F + 3 = 12 e 12 + 2 = 14
8 3 C 4 +
1 C D 2 E +
A A 9 D

1
1 A C 3 D
C 5 A 6 +
1 + 8 = 9 e 9 + D = 16
8 3 C 4 +
1 C D 2 E +
4 A A 9 D

1
1 A C 3 D
1 A C 3 D
C 5 A 6 +
C 5 A 6 +
1+C=D 8 3 C 4 +
8 3 C 4 +
1 C D 2 E +
1 C D 2 E +
1 D 6 4 A A 9 D
6 4 A A 9 D
Dessa forma, o resultado é 1D64AA9D.]
31

Esses cálculos em bases diferentes são interessantes, pois você está


acostumado(a) a trabalhar com números decimais e às vezes fica difícil aceitar
resultados diferentes nos cálculos.
Como foi feita uma tabela relacionando o número binário com o octal
correspondente, apresentamos aqui uma tabela que relaciona o número binário com
o hexadecimal correspondente. Como 24 = 16, então:
2 16
0.20 0000 0
1.20 0001 1
1.21 + 0.20 0010 2
1.21 + 1.20 0011 3
1.22 + 0.21 + 0.20 0100 4
1.22 + 0.21 + 1.20 0101 5
1.22 + 1.21 + 0.20 0110 6
1.22 + 1.21 + 1.20 0111 7
1.23 +0.22 + 0.21 + 0.20 1000 8
1.23 +0.22 + 0.21 + 1.20 1001 9
1.23 +0.22 + 1.21 + 0.20 1010 A
1.23 +0.22 + 1.21 + 1.20 1011 B
1.23 +1.22 + 0.21 + 0.20 1100 C
1.23 +1.22 + 0.21 + 1.20 1101 D
1.23 +1.22 + 1.21 + 0.20 1110 E
1.23 +1.22 + 1.21 + 1.20 1111 F

Dessa forma, quando se quer determinar o hexadecimal correspondente a


um número binário, basta completar com zeros à esquerda do binário dado, até
fechar em grupos de 4 algarismos. Acompanhe o exemplo dado a seguir:

Exemplo [ Determinar o hexadecimal correspondente ao binário 11010.


Completando-se com zeros à esquerda até completar grupos de 4 algarismos resulta
1 10
000 
10 . Procurando-se na tabela os números 0001 e 1010, você encontra os
1 A
correspondentes 1 e A: , donde 110102  1A 16 .]
1 1010
000 

Analogamente, você pode fazer o caminho inverso, ou seja, determinar o


binário equivalente a um hexadecimal dado. Veja como se faz nos exemplos
abaixo:
32

Exemplo [ O binário equivalente ao hexadecimal 23. Olhe na tabela qual é o


2 3
binário equivalente ao 2 e ao 3: . Eliminando-se os zeros à esquerda, o

00 
10 0011
binário procurado é 100011.]

Com o conhecimento que obteve sobre diferentes sistemas de numeração,


você possui fundamentação para o entendimento da próxima seção, na qual
aprenderá a utilizar a representação b-ádica. Boa continuação de seus estudos!

Seção 2 – Teoria Elementar dos Números

Como o próprio título da seção sugere, na sequência serão estudadas


condições básicas que definem os conjuntos dos números naturais e inteiros, bem
como suas operações.

2.1 – Números Naturais

Nesta subseção você aprenderá a construção lógica e formal do conjunto


dos números naturais. Para que isso aconteça, um conhecimento sobre axiomas é
necessário, pois eles são as propriedades básicas, primitivas que sustentarão todos
os seus estudos sobre os números naturais.

Axiomas, definições e postulados são ideias evidentes que devem ser


aceitas sem nenhuma discussão ou questionamento.

O matemático e professor Euclides de Alexandria (cerca de 300 a.C.) foi


um dos primeiros a definir alguns axiomas para desenvolver uma geometria, que
ficou conhecida como Geometria Euclidiana. Um exemplo de um axioma de
Euclides é aquele que diz: pode-se traçar uma única reta ligando-se quaisquer dois
pontos.

O conjunto dos números naturais é definido por meio de axiomas


estruturados por Giuseppe Peano (1858 – 1932). Esses axiomas foram um marco
importantíssimo para o desenvolvimento da Álgebra.

Axiomas de Peano

P1 Zero é um número natural.

P2 Se n é um número natural, então a tem um único sucessor, denotado por n 


(ou por s(n) ), que também é um número natural.

P3 Zero não é sucessor de nenhum número natural.


33

P4 Dois números naturais que têm sucessores iguais são, eles próprios, iguais.

P5 Se uma coleção S de números naturais contém o zero e, também, o sucessor de


todo elemento de S , então S é o conjunto dos números naturais.

Em linguagem matemática, podemos reescrever os Axiomas de Peano da


seguinte forma:

Axiomas de Peano

P1 0 .

P2 n    n   .

P3   n   n    n  0  .

P4 m  n  m  n .

P5 Se S   e (i) 0  S ; (ii) n  S  n  S , então S   .

Como você já sabe, o elemento zero será denotado por 0. O conjunto dos
números naturais será representado por  e o sucessor de um número natural n
será representado por s  n  ou por n  .

Algumas observações importantes: o Axioma P1 garante que    . Em


P2 deve-se subentender a unicidade de n  . Mediante a utilização do Axioma P4
segue que m  n  m  n (basta, para isso, que se aplique a contrapositiva). O
Axioma P5 é denominado Princípio da Indução Completa. Pode-se obter um
resultado equivalente ao Axioma P5, que será mais conveniente para se
demonstrarem resultados matemáticos. Acompanhe-o a seguir:

Proposição (Primeiro Princípio da Indução Completa)

- Suponhamos que a todo número natural n esteja associada uma


afirmação P  n  tal que:

i) P  0  é verdadeira.

ii) P  r   é verdadeira sempre que P  r  é verdadeira, isto é, se P  r  é

verdadeira, então P  r   também é verdadeira.


34

Então P  r  é verdadeira para todo n .

Como já dissemos, o Primeiro Princípio de Indução Completa é mais


utilizado nas demonstrações do que seu análogo P5. Uma outra informação
importante é dada a seguir: como s  n  (ou n  ) denotam o sucessor de um número
natural n , pode-se escrever o conjunto dos números naturais como sendo

   
  0, s(0)  1, s(s  0 )  2, s s  s  0    3,...  0,1, 2, 3,... . Note que

 
s(0)  1, s(s  0 )  2, s s  s  0    3 e assim por diante.

Dois resultados importantes sobre o conjunto dos números naturais serão


enunciados aqui.

Proposição 1 - Se n , então n  n .

Demonstração: Veja DOMINGUES, H. H., Fundamentos de Aritmética,


Editora Atual, São Paulo, 1991.

Proposição 2 - Se n , n  0 , então existe m tal que n  m .

Demonstração: Veja DOMINGUES, H. H., Fundamentos de Aritmética,


Editora Atual, São Paulo, 1991.

Definido o conjunto dos números naturais, neste momento você estudará


como as operações são realizadas em  .

    

Definição 1 - Sejam m, n . Define-se a adição de
 m, n  
m  n
números naturais da seguinte forma:

i) n  0  n;
ii) m  n   m  n  .

Tendo isso em mente, pode-se definir n  (ou s  n  ) como sendo o número


natural n  1 , pois n   n  0   n  0  n  1 (ou s  n   n  1 ).

Os números n e m são denominados parcelas, e o resultado obtido é


denominado soma, como você já está acostumado.
35

A adição possui propriedades básicas, que serão exploradas a seguir. Na


verdade, são propriedades que você certamente já estudou. Vamos às propriedades?

Proposição 3 - A adição de números naturais satisfaz as seguintes


propriedades:

A1 )  n  , 0  n  n (Elemento Neutro);

A 2 )  n  , 1  n  n  1 ;

A 3 )  k , m, n    n   m  k    n  m   k (Associativa);

A 4 )  m, n    n  m  m  n (Comutativa);

A 5 )  m, n, l  , n  m  n  l  m  l (Lei do Cancelamento).

Demonstração: Utilizaremos o Princípio da Indução Completa (PIC) para


demonstrar cada uma dessas propriedades:

A1 ) Para n  0 , computemos P  0  : 0  0  0 , donde é verdadeira (note que


utilizamos ii ) da Definição 1).

Suponha que P  r  seja verdadeira: P  r  : 0  r  r (essa é a hipótese de


Indução, que denotaremos por H.I. para simplificar a notação). Devemos mostrar
que P  r   P  r   , isto é, como P  r  é verdadeira, devemos mostrar que P  r  

é verdadeira, onde P  r   é dada por P  r   : 0  r   r  . Partindo-se de 0  r  :

ii ) H.I. i)
0  r    0  r    r  0   r  , em que os itens i ) e ii ) são os itens da Definição
 

1.

Pelo Princípio da Indução Completa (PIC), segue que 0  n  n ,  n  .

i) A1 )
A 2 ) Para n  0 , computemos P  0  : 1  0 1  0  1 . Logo, P  0  é verdadeira.

Suponha que P  r  seja verdadeira: P  r  :1  r  r  1 (H.I.). Devemos mostrar


que P  r   P  r   , em que P  r   :1  r   r   1 . Partindo-se de 1  r  :

1  r   1  r    r  1   r    r   1 . Pelo PIC, obtém-se que  n  ,


ii ) H.I. 
 

1  n  n  1 , e o resultado se verifica.

A 3 ) Façamos indução sobre k e fixemos m e n .

P  0  é verdadeira, pois
36

n   m  0  n  m;  n  m   0  n  m  n   m  0   n  m   0 .

Suponha que P  r  seja verdadeira: P  r  : n   m  r    n  m   r (H.I.).


Devemos mostrar que P  r   P  r   , em que P  r   : n   m  r     n  m   r  .

Computemos n   m  r   :

n   m  r    n  m  r   n  m  r   n  m   r   n  m   r  .


ii ) ii )  H.I.  ii )

Pelo
PIC, o resultado está demonstrado.

A 4 ) Façamos indução sobre m e fixemos n . P  0  é verdadeira pois,


i) A1 )
n  0  n; 0  n  n  n  0  0  n . Suponha que Pr seja verdadeira:
P  r  : n  r  r  n (H.I.). Devemos mostrar que P  r   P  r   , em que .
Então,
ii ) H.I. A3 ) A2 )
n  r    n  r    r  n    r  n   1  r   n  1 
 

A2 ) A3 )
 r  1  n    r  1  n  r   n.

Pelo PIC, deduz-se que  m, n    n  m  m  n .

A 5 ) Façamos indução sobre n e fixemos m e l .

A1 )
P  0  é verdadeira, pois 0  m  0  l  m  l . Suponha que P  r  seja verdadeira,
isto é, P  r  : r  m  r  l  m  l (H.I.). Devemos mostrar que P  r   P  r   ,

em que P  r   : r   m  r   l  m  l . De fato,

A4 ) ii ) P4
r   m  r   l  m  r   l  r    m  r   l  r  
 

P4 A4 ) H.I.
 m  r  l  r  r  m  r  l  m  l.

Utilizando o PIC, deduz-se que  m, n, l  , n  m  n  l  m  l , e a


demonstração está completa.

Similarmente à adição, pode-se definir a multiplicação de números naturais.


Acompanhe a definição dada a seguir.
37

Definição 2 - Sejam m, n números naturais quaisquer. Define-se a


    

multiplicação de números naturais da seguinte forma:
 m, n  
 m  n  ou mn 
I  n  0  0;
II  m  n   mn  m .

Note, primeiramente, que não faremos distinção entre a notação m  n e a


notação mn : quaisquer destas representam o mesmo número natural, isto é, o
número dado pela multiplicação de x por y . Na multiplicação l  mn , m e n são
denominados fatores e l é denominado produto, como você bem sabe.

A multiplicação também possui propriedades básicas, que serão exploradas


a seguir.

Proposição 4 - A multiplicação de números naturais satisfaz as seguintes


propriedades:

M1 )  n  , 0  n  0 ;

M 2 )  n  , n 1  n e 1 n  n (Elemento Neutro);

M 3 )  k , m, n    n   m  k   n  m  n  k (Distributiva);

M 4 )  k , m, n    n   m  k    n  m   k (Associativa);

M 5 )  m, n    n  m  m  n (Comutativa).

Demonstração: Utilizaremos o Princípio de Indução (PI) para demonstrar


quase todas essas propriedades:
I)
M1 ) P  0  é verdadeira pois, 0  0  0 . Suponha que P  r  seja verdadeira:
Pr  : 0 r  0 (H.I.). Devemos mostrar que P r   P r  , em que

P  r   : 0  r   0 . Então, 0  r   0r  0  0  0  0 . Utilizando-se o PIC, deduz-se


II ) H.I. i)

que  n  , 0  n  0 .

M 2 ) Primeiramente, provaremos que  n  , n 1  n . Tal demonstração segue


II ) I) A1 )
imediatamente, pois n 1  n  0  n  0  n  0  n  n .

Para demonstrar que  n  , 1 n  n , utilizaremos o PIC.


38

I)
P  0 é verdadeira, pois 1  0  0 . Suponha que Pr seja verdadeira:
P  r  : 1 r  r (H.I.). Devemos mostrar que P r   P r  , em que

P  r   : 1 r   r  . Calculemos 1  r  : 1  r   1  r  1  r 1  r  . Desta forma, pelo


II ) H.I.

PIC, conclui-se que  n  , 1 n  n .

M 3 ) Utilizaremos indução sobre k e fixaremos m e n .

P  0  é verdadeira, pois

i) I)
n   m  0   n  m ; n  m  n  0  n  m  n   m  0   n  m  n  0 . Suponha que P  r 
seja verdadeira: n  m  r   n  m  n  r (H.I.). Devemos mostrar que
P  r   P  r   , em que P  r   : n   m  r    n  m  n  r  . Com efeito,

n  m  r   n  m  r   n  m  r   n 
ii ) II ) H.I.

H.I. A3 ) II )
 n  m  n  r   n  n  m  n  r  n  n  m  n  r .

Utilizando-se o PIC, conclui-se que  k , m, n    n   m  k   n  m  n  k .

M 4 ) Aplicaremos indução sobre k e fixaremos m e n . Como de costume,


I) I) I)
verificaremos P  0 : n   m  0   n  0  0; n  m  0  0  n  m  0  n  m  0 .
Assim, P  0 é verdadeira. Suponha que Pr seja verdadeira:
P  r  : n   m  r    n  m   r (H.I.). Devemos mostrar que P  r   P  r   , em que

P  r   : n   m  r     n  m   r  . Então,

n  m  r    n  m  r  m  n  m  r   n  m  n  m  r  n  m 
II ) M3 ) H.I. M3 )

M3 )
  n  m    r  1   n  m   r  .

Pelo PIC segue que  k , m, n    n   m  k    n  m   k .

M 5 ) Aplicaremos indução sobre m e fixaremos n . P  0  é verdadeira:


I) M1 )
n  0  0; 0  n  0  n  0  0  n . Suponha que Pr seja verdadeira:

P  r  : n  r  r  n (H.I.). Devemos mostrar que P  r   P  r   , em que P  r   é

dado por P r  : n  r  r  n . Calculemos n  r :


39

II ) H.I. M2 M3 / M5
n  r   n  r  n  r  n  n  r  n  1 n   r  1  n  r   n . Portanto, pelo PIC

tem-se que  m, n    n  m  m  n .

Repare, caro(a) estudante, em algo muito importante: para se demonstrar


um resultado você precisa utilizar conteúdos matemáticos demonstrados
anteriormente pois, caso contrário, o que for feito não terá validade lógica alguma.
Nas demonstrações das propriedades anteriores este raciocínio foi utilizado o
tempo todo.

Ordem no Conjunto dos Números Naturais

Você já estudou as operações de adição e multiplicação de números


naturais e suas respectivas propriedades. Quando se opera com números naturais
obtêm-se resultados que se diferenciam pelas suas magnitudes, ou seja, podem ser
iguais, menores ou maiores entre si. Aqui você estudará essa relação, denominada
relação de ordem, denotada por   ou, simplesmente,  . Acompanhe a definição
de tal relação:
Definição 3 - Sejam a, b, c, d  . Diz-se que a  b (lê-se a menor ou
igual a b ) se existe t  tal que b  a  t . A notação b  a significa que a  b .
Analogamente, diz-se que c  d (lê-se c menor que d ) se existe u  , u  0 , tal
que d  c  u . Da mesma forma, a notação b  a significa que a  b .

Repare que existe a seguinte equivalência lógica: a  b  a  b e a  b .


A relação  possui algumas propriedades, tais como: reflexividade,
antissimetria, transitividade, tricotomia, dentre outros. Acompanhe os teoremas
abaixo e suas respectivas demonstrações.

Teorema - Sejam k , m, n e seja  a relação descrita anteriormente.


Então  satisfaz as seguintes propriedades:
1) Reflexiva:  n    n  n ;
2) Antissimétrica:  n, m  , se m  n e n  m então n  m ;
3) Transitiva:  m, n, t  , se m  n e n  t então m  t .
Demonstração:
1) Reflexiva: é claro que n  n,  n  , pois existe 0 tal que
nn0.
40

2) Antissimétrica: suponha que m  n e n  m . Então, existem p, q 


tal que n  m  p e m  n  q . Substituindo-se a primeira na segunda equação
A3
resulta em m   m  p   q  m  m   p  q  , em que p  q  . Mostremos que

p  q  0 , o que implica que p  q  0 (prove isto!). De fato, se p  q  0 , pela

Proposição 2, existe u  tal que p  q  u e, assim,


i) A5
m  m   p  q   m  u   m  0  m  u   u   0 , o que contradiz o Axioma

P3. Como p  q  0 então p  q  0 , donde m  n .


3) Transitiva: suponha que m  n e n  t . Então, existem u, v  tal que
n  m  u e t  n  v . Substituindo-se a equação n  m  u na equação t  n  v
A3
implica que t   m  u   v  t  m   u  v  , u  v   , isto é, mt , e a

demonstração está completa.

Teorema - Seja  a relação dada na Definição 3. Então, quaisquer que


sejam m, n , m  n ou n  m .
Demonstração: Utilizaremos indução sobre m . Este teorema pode ser
escrito da seguinte forma:
(a) Existe u  tal que n  m  u , ou
(b) Existe v  tal que m  n  v .
P  0  é verdadeira pois, para m  0 , a sentença (a) se verifica, pois existe u  n tal

que n  0  n . Suponha que P  r  seja verdadeira:

P  r  : (a) Existe u  tal que n  r  u , ou (H.I.).

(b) Existe v  tal que r  n  v . (H.I.). Devemos mostrar que P  r   P  r   ,

em que P  r   é dado por

P  r   : (a) Existe t  tal que n  r   t , ou

(b) Existe x  tal que r   n  x .


Como P  r  é verdadeira, assuma que exista u  tal que n  r  u . Se u  0 ,

então n  r  n  r   n  1  r  , donde vale (b) com x  1 . Se u  0 , existe


A4 )
p  tal que u  p  , e, assim, n  r  u  n  r  p   n  r   p  1  n 

 p   r  1  n  r   p donde vale (a) com p  t . Analogamente, assuma que

exista v  tal que r  n  v . Se v  0 então r  n  r   n  r   n  1 , e


41

assim vale (b) com x  1 . Se v  0 , existe q   tal que v  q  . Então,

r  n  v  r  n  q   r    n  q    r   n   q   e é válido (b) tomando-se


 ii ) 

x   q  .

Portanto, como P  r   também é verdadeira, pelo PIC, segue que

 m, n  , m  n ou n  m .

Teorema (Lei da Tricotomia em  ) - Seja  a relação dada na


Definição 3. para quaisquer m, n vale uma, e somente uma, das relações:
m  n, m  n, n  m.
Demonstração: Veja DOMINGUES, H. H., Fundamentos de Aritmética,
Editora Atual, São Paulo, 1991.

Proposição - Qualquer que seja n , não existe nenhum número natural
entre n e n  1 .
Demonstração: Suponha que exista um número natural k entre n e n  1 ,
isto é, n  k  n  1 . Como n  k , existe u  , u  0 , tal que k  n  u , e como
k  n  1 , existe v  , v  0 , tal que n  1  k  v . Substituindo-se a equação
k  nu na equação n 1  k  v segue que
A3
n  1   n  u   v  n  1  n   u  v  . Como u  0 , existe p  tal que u  p  ;

como v  0, existe q tal que v  q . Então,

n  1  n   u  v  1   p   q    0   p   q  
A5 ii )  P4

P4 A4 ii )
 0  p   q  0  q  p   0   q  p  , contradizendo o Axioma P3. Logo, não

existe nenhum número natural entre n e n  1 , qualquer que seja n .

Teorema - Sejam k , l , m, n , l  0 . Se m  n , então m  k  n  k e


ml  n l .
Demonstração: Como m  n , então existe r  , r  0 tal que n  m  r .
Somando-se k em ambos os membros da equação n  m  r , conclui-se que
A4
n  k  m  r   k n  k  m  k   r , em que r  , r  0 , isto é,

mk  nk .
42

Demonstraremos, agora, que m  l  n  l é verdadeira sempre que m  n e


l  0 . Suponha então que m  n . Logo, existe r  0, r  , tal que n  m  r .
Multiplicando-se por l ambos os membros da equação n  m  r obtém-se
M3
n  l   m  r   l  n  l  m  l  r  l , em que r  l  . Falta mostrar que r  l  0 . De

fato, suponha por absurdo que r  l  0 . Como l  0 e r  0 , pela Proposição 2,


existem u, v  tal que l  u e r  v . Portanto,

r  l  0  u   v   0  u  v  u   0   u  v  u   0 , contradizendo o Axioma P3.


II ) ii ) 

Desta forma, implica que r  l  0 , donde m  l  n  l .

O Princípio da Boa Ordenação é um princípio de fundamental importância


para o estudo da Álgebra. Você verá que, apesar da demonstração não ser trivial,
seu entendimento é:

Princípio da Boa Ordenação - Se X   é um subconjunto não vazio


então X possui um menor elemento.
Demonstração: Seja A  n   | n  x,  x  X  ; é fácil verificar que

0  A , e então, A   . Utilizando-se P5, sabe-se que existe um elemento b


tal que b  A e b  1 A , senão A   .
Mostraremos que b é o menor elemento de X . Com efeito, como b  A
tem-se que b  x,  x  X . Se b X então b  x,  x  X , isto é,
b  1  x,  x  X , logo b  1 A , o que é uma contradição, pois b  1 A .
Portanto, b  X . Como b  X e b  x,  x  X , segue que b é o menor elemento
de X , e a demonstração está completa.

2.2 – Números Inteiros

O conjunto dos números inteiros, representado pela letra  , é dado por


  ..., 3,  2,  1, 0,1, 2, 3,... . As propriedades das operações de adição   (ou

simplesmente  ) e multiplicação  (ou simplesmente  ) definidas no conjunto


dos números inteiros são apresentadas a seguir.
Teorema - Sejam a, b, c números inteiros quaisquer. Então a adição e
a multiplicação de números inteiros satisfazem as seguintes propriedades:
43

Propriedades da adição:
Associativa: a   b  c    a  b   c ;

Comutativa: a  b  b  a ;
Elemento neutro: ! 0   |  a    a  0  0  a  a ;

Elemento simétrico:  a   , !  a    | a   a    a   a  0 ;

Lei do cancelamento da adição: Se a  c  b  c , então a  b .

Uma observação importante é o fato de que o elemento neutro da adição


bem como o simétrico aditivo de cada elemento z  são únicos.
Propriedades da multiplicação:
Associativa: a   b  c    a  b   c ;

Comutativa: a  b  b  a ;
Elemento neutro: !1  |  a    a 1  1 a  a ;
Anulamento do produto: Se a  b  0 , então a = 0 ou b = 0.
Assim como o elemento neutro da adição, o elemento neutro da
multiplicação também é único.
Propriedade da adição e multiplicação:
Distributiva: a   b  c    a  b    a  c  ;  a  b   c   a  c    b  c  .

Para facilitar a notação, ao invés de escrevermos a  b , escreveremos ab


para indicar o produto (multiplicação) de a por b .
Existe, além disso, outra operação em  que você bem conhece, a
subtração:

Definição - Sejam a, b . Define-se a subtração de a por b , denotado

por a  b , denominada de diferença entre a e b como sendo a  b  a   b  , em

que b é o simétrico aditivo de b .

Algumas propriedades da subtração no conjunto  são dadas a seguir:

Propriedades - Sejam a, b, c  . As seguintes propriedades são


verdadeiras:
i) a  b  c   ab  ac e  a  b c  ac  bc ;

ii) a.0  0 e 0.a  0 ;


iii) a  b    a  b    ab  ;
44

iv) Lei do cancelamento da multiplicação: Se ac  bc , com c  0 , então


ab.
Demonstração:
i) Adicionando-se ac à expressão a  b  c  e utilizando as propriedades

associativa (da adição) e a distributiva, segue que


a  b  c   ac  a  b  c   c   a b   c  c   ab . Assim, tem-se que

a  b  c   ac  ab . Adicionando-se o simétrico aditivo de ac em ambos os

membros, obtém-se a  b  c   ac   ac   ab   ac  , donde a  b  c   ab  ac .

A demonstração da equação  a  b  c  ac  bc é totalmente similar.

ii) a.0  a  0  0  a.0  a.0 . Como a.0  a.0  a.0 , pela lei do

cancelamento da adição deduz-se que a.0  0 . A demonstração de a.0  0 é


similar.
iii) Demonstraremos, primeiramente, que a  b     ab  . Como   ab  é

o simétrico aditivo de ab e como o simétrico é único, basta verificarmos que


ab  a  b   0 para concluir que a  b     ab  . Mas

ab  a  b   a b   b   a.0  0 , em que foram utilizadas a distributiva e o Item

ii). Para se demonstrar que  a  b    ab  , o raciocínio é totalmente análogo.

Como a  b     ab  e  a b   ab  , conclui-se imediatamente que

a  b    a  b , o que completa a demonstração de iii).

iv) Assuma que ac  bc , com c  0 . Adicionando-se o simétrico bc de


bc em ambos os membros da equação ac  bc obtém-se

ac   bc   0  ac   b  c  0  a   b  c  0 , em que foram utilizadas a

propriedade distributiva e o Item iii) anterior. Pela lei do anulamento do produto,


como c  0 , segue que a   b   0 , o que implica que a  b , como desejado.

Assim como no conjunto dos números naturais existe uma relação de


ordem total, também no conjunto dos números inteiros existe uma relação de
ordem total, denotada por  . Desta forma, a relação  é reflexiva,
antissimétrica, transitiva. Além disso, quaisquer dois números naturais são
comparáveis segundo  , isto é, dados a, b , uma e somente uma das três

asserções dadas a seguir são verdadeiras: a  b , b  a , a  b .


45

A notação a  b significa que a  b mas a  b . Além disso, a notação

a  b significa que b  a . Diz-se que a  b (lê-se a é menor ou igual a b ) se,


e somente se, existe t  , t  0 tal que b  a  t . Analogamente, diz-se que

a  b (lê-se a é menor que b ) se, e somente se, existe t  , t  0 , tal que


b  at.
Para simplificar a notação da relação de ordem, ao invés de escrevermos  ,
escreveremos simplesmente  para denotar esta relação de ordem em  .

Teorema - Sejam a, b, c, d . Então  satisfaz as seguintes


propriedades:
i) a  b  0  b  a  b  a ;
ii) a  b e c  d , então a  c  b  d ;
iii) Propriedades que definem a regra de sinais:
 a  0 e b  0  ab  0 ;
 a  0 e b  0  ab  0 ;
 a  0 e b  0  ab  0 ;
 a  0 e b  0  ab  0 ;
iv) a  b e c  0  ac  bc ;
v) a  b e c  0  bc  ac ;
vi) ac  bc e c  0  a  b ;
vii) a  c  b  c e c  0  a  b .
Demonstração:
i) Na inequação a  b , adiciona-se a em ambos os membros:
a   a   b   a   0  b  a . Adicionando-se na última inequação b :

 b   0   b    b  a   b   b  b   a  b  a . Dessa forma,

a  b  0  b  a  b  a . Falta mostrarmos que b  a  a  b . De fato,


adicionando-se b em ambos os membros da inequação a  b tem-se que
b   b   b   a   0  b  a . Adicionando-se a na inequação 0  b  a , segue

que 0  a   b  a   a  a  b   a  a   a  b , e o resultado está provado.

ii) Adicionando-se c em ambos os membros da inequação a  b obtém-se


a  c  b  c . Adicionando-se b em ambos os membros da inequação c  d resulta
em b  c  b  d ; pela transitividade de  conclui-se que a  c  b  d .
iii) Regras de sinais
46

 Como a0, existe t  , t  0 tal que a 0t t a t .


Multiplicando-se a equação a  t por b  0 , implica que ab  tb . Como

b, t  0 então bt  0 , isto é, ab  0  tb  ab  0 .
 Como a  0 , então 0  a e como b  0 , tem-se 0  b , ou ainda: a  0
e b  0 . Pela propriedade anterior:  a  b   0 . Como já foi provado que

a  b     ab  , então  a  b     a  b   


  ab   ab . Assim,

ab  0 .
 As outras regras de sinais são análogas.
iv) Como a  b , existe t  , t  0 tal que b  a  t . Multiplicando-se esta

equação por c , obtém-se bc   a  t  c  bc  ac  tc . Como c  0 , então tc  0 ,

e assim ac  bc .
v) Como a  b , existe t  , t  0 tal que b  a  t . Como c  0 , então
c  0 . Multiplicando-se a equação b  at por c , obtém-se

b  c    a  t  c   bc  ac   tc  . Como c  0 , então

t  c   0  tc  0 , e assim ac  bc  bc  ac .

Os Itens vi) vii) são deixados para você, caro(a) estudante.

2.3 Princípio de Indução Generalizada


Nesta subseção você estudará o Princípio da Indução Generalizada para o
conjunto dos inteiros.

Teorema - Seja a  e suponha que para cada z  a exista uma


propriedade P  z  associada a z tal que:

i) P  a  é verdadeira;

ii) Se P  z  é verdadeira, então P  z  1 também é verdadeira. Então,

P  z  é verdadeira para todo z  a .

Demonstração: Veja, por exemplo, DOMINGUES, H. H.. Fundamentos


de Aritmética. 1. ed. São Paulo: Editora Atual, 1998.

Vamos ver como funciona a demonstração por indução? Acompanhe os


exemplos dados na sequência:
47

Exemplo [Sejam a, b com a, b  0 e n com m, n  0 . Prove que

a n  bn   a  b  .
n

Verificando para n  1 :  a  b   a  b  a1  b1 . Assim, para n  1 , a proposição é


1

verdadeira. Suponha que a n  bn   a  b 


n
seja verdadeira (hipótese de indução

H.I.).

Devemos mostrar que a n1  bn1   a  b 


n1
é verdadeira. Com efeito, pela

definição de potência, sabe-se que a n  a  a n1 , donde a n1  bn1   a n  a    bn  b  .

Pela comutativa obtém-se a n1  bn1   a n  bn    a  b  e, pela H.I., segue que

a n1  bn1   a  b    a  b  . Utilizando-se novamente a definição de potência resulta


n

em a n1  bn1   a  b 
n1
. Pelo Princípio da Indução Generalizada (PIG), a

propriedade a n  bn   a  b  é verdadeira.]
n

Você percebeu que, além de ter utilizado a indução, também foi preciso
utilizar a definição de potência? Muitas vezes isso acontece numa demonstração,
isto é, temos que utilizar alguns raciocínios lógicos ao mesmo tempo. Gostou?
Acompanhe mais exemplos.

Exemplo [ Mostre que se n , n  4 , então 2n  n! .


Verificando-se para n  4 (porque, como você já sabe, este é o menor elemento):
24  16  24  4!. Logo, a proposição é verdadeira para n  4 .
Como de costume, suponha que 2n  n! seja verdadeira (hipótese de indução H.I.).

Devemos mostrar que a inequação 2   n  1! é verdadeira. Utilizando-


n 1

se H.I., sabemos que 2n  n! é verdadeira. Multiplicando-se ambos os membros

por 2, segue que 2  2n  2  2   n! . Então, como n  4 , resulta em


n 1

2  2  n!  4   n!  n   n!   n  1!  2( n1)   n  1! , Assim, pelo Princípio


n 1

da Indução Generalizada (PIG), a proposição 2n  n! , n  4 é verdadeira.]

Exemplo [ Prove que  n  , 1  3  5  7  ...   2n  3   2n  1  n2 .

Para n  1 : 1 = 12; a proposição é verdadeira para n  1 . Assuma que


1  3  5  7  ...   2n  3   2n  1  n2 seja verdadeira (H.I.).
48

Devemos provar que 1  3  5  7  ...  2  n  1  3  2  n  1  1   n  1


2
é

1  3  5  7  ...   2  n  1  3   2  n  1  1   n  1 


2

verdadeira. De fato, 1  3  5  7  ...   2n  2  3   2n  2  1   n  1 


2

1  3  5  7  ...   2n  1   2n  1   n  1 .
2

Utilizando-se H.I., tem-se que

1  3  5  7  ...   2n  1   2n  1  n2   2n  1  n2  2n  1   n  1 .
2

Aplicando-se o PIG, a propriedade 1  3  5  7  ...   2n  3   2n  1  n2 é

verdadeira.]

Como verificar que uma proposição é falsa? Para se verificar que uma
proposição é falsa você deve apresentar um contraexemplo, ou seja, um exemplo
em que a proposição em questão não é verdadeira. Acompanhe o exemplo dado a
seguir:
Exemplo [ Seja P  n   n2  n  41 um polinômio. Será que P  n  é sempre um

número primo, qualquer que seja n ? Note que, se substituirmos n  0 , o


resultado é igual a 41, que é um número primo: P  0  02  0  41  41 . Entretanto,

será que para todo n  1 , P  n  é primo?

A resposta é não, pois se fizermos n  41 tem-se P  41  412  41  41 , que

é divisível por 41, ou seja, P  n  não é primo. Uma pergunta que surge é a

seguinte: como sabemos que devemos substituir n  41 para que o resultado não
seja verdadeiro? Isso você vai saber somente estudando, treinando e resolvendo
exercícios, para que possa perceber como resolver situações-problema como essa.
É claro que, em alguns casos, você necessitará da ajuda ou dica de um professor
responsável, o que é natural.]

Mediante a aplicação do Princípio da Indução Completa, muitos resultados


podem ser provados. Você trabalhará, agora, com somas e produtos no conjunto
dos números inteiros e, para a demonstração de suas respectivas propriedades,
utilizaremos a Indução Matemática.

2.4 Somatórios e Produtórios


Quando você efetua uma adição ou uma multiplicação, pode fazê–las com
muitos termos, não apenas dois ou três. A notação utilizada para as muitas adições
49

é  , que é letra grega sigma na sua representação maiúscula. Para a multiplicação


o símbolo é a letra grega maiúscula pi,  . Assim, a representação de uma adição
n
de parcelas a1  a2  a3  ...  an1  an , pode ser escrita de forma resumida a
j 1
j ea

n
multiplicação a1  a2  a3    an1  an pode ser representada por a
j 1
j . Essas

operações possuem algumas propriedades importantes que serão vistas na


sequência.
Veja algumas propriedades e suas respectivas demonstrações.

Propriedade 1 - Sejam a1 , a2 , a3 ,  , an1 , an , an1   , com n  2 . Então,


n n1 n n1
tem-se que  a j   a j  an e
j 1 j 1
 a j   a j  an .
j 1 j 1

Demonstração: A demonstração será pelo Princípio da Indução Completa


2 1
(PIC). Para n  2 tem-se  a j  a1  a2   a j  a2 , ou seja, para n  2 a
j 1 j 1

propriedade é verdadeira.
n n1
Suponha que a  a
j 1
j
j 1
j  an seja verdadeira (hipótese de indução H.I.).

n1 n
Devemos mostrar que a equação  a j   a j  an1 é verdadeira. De fato,
j 1 j 1

utilizando-se H.I., tem-se que


n 1 n

 a j  a1  a2    an  an1   a1  a2    an   an1   a j  an1 .


j 1 j 1
Portanto,

n n1
pelo PIC, a propriedade a  a
j 1
j
j 1
j  an é verdadeira.

Demonstrando para a multiplicação  Verificando para n2:


2 1

a
j 1
j  a1  a2   a j  a2 . Então, para n  2 , a propriedade é verdadeira.
j 1

n n1
Suponha que  a j   a j  an seja verdadeira (H.I.). Devemos mostrar que a
j 1 j 1

n1 n
equação  a j   a j  an1
j 1 j 1
é verdadeira. Utilizando-se H.I. resulta,

imediatamente, em
50

n1 n

a
j 1
j  a1  a2  a3   an  an1   a1  a2  a3   an   an1   a j  an1 . Utilizando-se o
j 1

n n1
PIC, segue que a  a
j 1
j
j 1
j  an é verdadeira.

Propriedade - Sejam a1 , a2 , a3 ,  , an1 , an , an1   e

b1 , b2 , b3 ,  , bn1 , bn , bn 1   , com n2. Então, tem-se que

  a j  bj    a j   bj e   a j  bj    a j  bj .
n n n n n n

j 1 j 1 j 1 j 1 j 1 j 1

Demonstração: Verifiquemos para n2:

a  b j   a1  b1  a2  b2  a1  a2  b1  b2   a j   bj . Então, para n  2 , a


2 2 2

j
j 1 j 1 j 1

a  b j    a j   b j seja verdadeira


n n n
propriedade é verdadeira. Suponha que j
j 1 j 1 j 1

(H.I.).
n1 n1 n1
Devemos provar que a j 1
j  b j    a j   b j é verdadeira. Com efeito,
j 1 j 1

n1

a  b j     a j  b j   an1  bn1 . Pela H.I. e pela propriedade comutativa


n

j
j 1 j 1

n1 n1 n1

a  b j    a j  an1   b j  bn1   a j   b j . Aplicando-se


n n
deduz-se que j
j 1 j 1 j 1 j 1 j 1

a  b j    a j   b j é verdadeira.
n n n
o PIC, tem-se que a propriedade j
j 1 j 1 j 1

Demonstrando-se para a multiplicação: Para n = 2, a propriedade

a  bj    a j   bj
n n n

j é verdadeira, pois
j 1 j 1 j 1

  a j  b j    a1  b1    a2  b2    a1  a2   b1  b2    a j   b j .
2 2 2
Suponha que
j 1 j 1 j 1

a j  b j    a j   b j seja verdadeira (H.I.).


n n n

j 1 j 1 j 1

n1 n1 n1


Devemos mostrar que a
j 1
j  b j    a j   b j é verdadeira:
j 1 j 1

n1

a
j 1
j  b j    a1  b1    a2  b2    a3  b3     an  bn    an1  bn1  

   a j  b j    an1  bn1 
n

j 1

Utilizando H.I. obtém-se


51

n1  n   n 
 j j   j  j n1 n1   j n1     b j  bn1  . Pelo PIC, a
n n

 a  b  a  b   a  b   a  a
j 1 j 1 j 1  j 1   j 1 

  a j  b j    a j   b j é verdadeira.
n n n
propriedade
j 1 j 1 j 1

Exercício Dados a1 , a2 , a3 ,  , an1 , an , c   com n 1 , mostre que

 n  n  n  n
b   aj   b  aj e c  aj   c  aj .
 j 1  j 1  j 1  j 1
(DICA: utilize o Princípio de Indução Completa, como foi feito nas propriedades
anteriores).

Em relação aos somatórios, também existem os somatórios duplos, como


apresentamos a seguir.
Propriedade - Sejam a j , bk  , com j  1, 2,..., m , k  1, 2,..., n . Então

 m   n  n  m  n  m 
são válidas as propriedades   a j     bk  =    a j   bk =    a j  bk  .
 j 1   k 1  k 1  j 1  k 1  j 1 
Demonstração: Sabendo que
 m   n 
  a j     bk    a1  a2  ...  am    b1  b2  ...  bn  , então podemos escrever
 j 1   k 1 
esta expressão como:
n  m 
 a1  a2  ...  am   b1   a1  a2  ...  am   b2  ...   a1  a2  ...  am   bn     a j   bk
k 1  j 1 
Além disso,
n  m 
a1   b1  b2  ...  bn   a2   b1  b2  ...  bn   ...  am   b1  b2  ...  bn      a j  bk  ,
k 1  j 1 

 m   n  n  m 
donde segue que   a j     bk  =    a j  bk  .
 j 1   k 1  k 1  j 1 

2  3 
Exemplo [ O resultado da operação     2 j  3  k  é 72. Verifiquemos este
k 1  j 1 
2
 3   2   3 
resultado. Você sabe que    2 j  3   k  
=  2 j  3      k  e, segundo as
j 1  k 1   j 1   k 1 
propriedades vistas sobre somatórios, segue que
52

 2   3   2  2   3 
  2 j  3     k    2 j    3    k    2 1  2   2.3 . 1  2  3  72.
 j 1   k 1   j 1  j 1   k 1 
]
2  4 
Exemplo [ Efetuando-se a operação    j   k  1 
2
o resultado é 30, pois:
k 1  j 1 
2  4 2   4 2  2 
   j   k  1     j     k  1  
k 1  j 1   j 1   k 1 
   2 
   j   k  1  1  22  32  42     k  1 
2 4 2
2 2

k 1  j 1   k 1 k 1 

1  4  9  16   1  2    2.1  30.


]

 
    2 j  4   k  2k   , segue que o
5 3
2
Exemplo [ Efetuando-se a operação
k 1  j 1 
resultado é 0. De fato, temos que
   
  2 j  4     k 2  2k     2 j   4     k 2   2k  
3 5 3 3 5 5

j 1 k 1  j 1 j 1   k 1 k 1 
 3   3
 5 5

 2  j   4     k  2 k  
2

 j 1 j 1   k 1 k 1 

 2 1  2  3  3.4   12  22  32  42  52   2  1  2  3  4  5   

12  12    55  2.15    2 j  4     k 2  2k   0.
3 5

j 1 k 1

2.5 – Divisibilidade
Nesta subseção você estudará o algoritmo da divisão, muitas vezes
denominado na literatura por algoritmo de Euclides. Iniciaremos com a definição
de múltiplo de um dado número inteiro.

Definição - Dados dois inteiros a e b, diz-se que a é múltiplo de b se existe


um número inteiro q tal que a  qb .

Como exemplo, temos que 6 é múltiplo de 2, pois 6 = 2.3. Outro exemplo:


20 é múltiplo de – 5, pois 20 = (– 5)( – 4), e assim por diante.
53

Supondo agora que um inteiro a > b não seja múltiplo de b; isso significa
que b não pode ser subtraído de a um número inteiro de vezes. Assim, sobrará um
resto de a, donde teríamos a representação algébrica a  qb  r , em que 0 < r < b.
A seguir, formalizaremos esse resultado, o qual é de suma importância na
Álgebra:

Teorema - Dados dois números inteiros a e b , com b  0 , existem


inteiros q e r tal que a  qb  r com 0  r  b . Os inteiros q e r são únicos.

Demonstração: Admitiremos, sem perda de generalidade, que a  0 e


b  0 , pois os outros casos serão análogos a este. Suponha que existam q  , q e
r  , r  que satisfaçam as equações a  q b  r  e a  q  b  r  . Comparando-se tais
equações entre si deduz-se que
q b  r  q b  r   q b  q b  r   r    q  q  b  r   r  . Portanto, r   r  é

múltiplo de b, o que somente é possível se r   r   0  r   r  . Analogamente,


deduz-se que q  q , o que conclui a demonstração.

Definição - Sejam a, b . Diz-se que b | a (lê-se b divide a) se, e


somente se, existe q  tal que a  b  q . Como a multiplicação  de números
inteiros é comutativa pode-se escrever também a  q  b para indicar que b | a .

b
Note que a notação b | a é totalmente diferente da fração ou mesmo da
a
a
fração . Como foi convencionado anteriormente, escreveremos a multiplicação
b
de dois números inteiros sem utilizar o símbolo de multiplicação, isto é, se
a, b , então a multiplicação de a por b será denotada por a  b  ab .
A relação de divisibilidade satisfaz três propriedades interessantes.

Propriedades - A relação de divisibilidade em  satisfaz três


propriedades:
a) Reflexiva:  a    a | a ;
b) Antissimétrica (em  ):  a, b  , se a | b e b | a então a  b ;
c) Transitiva:  a, b, c  , se a | b e b | c então a | c .
Demonstração:
a)  a  segue que a  a 1 , donde  a    a | a .
54

b) Assuma que a, b e a | b e b | a . Por definição de divisibilidade,


existem inteiros r , s  tal que b  ra e a  sb , respectivamente. Por

substituição imediata obtém-se b  r  sb    rs  b . Então, r  s  1 ou r  s  1 .

Como a, b tem-se que r  s  1 , ou seja, a  b .


c) Sejam a, b, c  e suponha que a | b e b | c . Por definição, existem

inteiros z1 , z2  tal que b  z1a e c  z 2b , isto é, c  z2  z1a    z2 z1  a , com

z1 z2  . Portanto, a | c .
Você gostaria de aprender mais propriedades? Então, vamos lá!

Propriedade 1 - Sejam a, b, c, d , ai  , com i  1, 2,..., n . Então as


seguintes propriedades são verdadeiras:
i) Se a | b e a | c , então a | bc ;
ii) Se b | a e d | c , então bd | ac ;

iii) Se b |  a  c  e b | a , então b | c ;

iv) Se a | b e a | c , então a |  b  c  e a |  b  c  ;

v) Se a | b e a | c , então a |  mb  nc  e a |  mb  nc  , quaisquer que sejam

m, n ;

 n 
vi) Se b | ai ,  i  1,2,..., n , então b   ai ci  , quaisquer que sejam ci  .
 i 1 
Demonstração:
i) Se a | b e a | c , então existem q, q  tal que b  qa e c  q a .
Multiplicando-se a equação b  qa por c e segue que

bc   qa  c  bc   qa  q a   bc   qaq a . Como qaq  , conclui-se que

a | bc .

ii) Como b | a e d | c , então existem q, q  tal que a  qb e c  q d .


Multiplicando-se a equação a  qb por c, obtém-se

ac   qb  c  ac   qb  q d    qq  bd   ac   qq bd  , em que qq  .

Portanto, bd | ac .

iii) Suponha que b |  a  c  e b | a . Então existem q, q  tal que

a  c  qb e a  q b . Dessa forma, c  qb  a  c  qb   q b    q  q b , com

 q  q  . Como c  (q  q )b , segue que b | c .


55

iv) Demonstraremos somente o caso a |  b  c  , pois o caso a |  b  c  é

totalmente análogo. Suponha que a | b e a | c . Logo, existem inteiros q, q  tal

que b  qa e c  q a . Então b  c  qa  q a   q  q  a,  q  q  . Como

b  c   q  q a , com  q  q   deduz-se que a |  b  c  .

v) A demonstração deste item fica como exercício para você.


vi) Suponha que b | ai ,  i  1, 2,...,n . Então existem qi  , i  1, 2,...,n ,

tal que ai  qi b . Para quaisquer que sejam ci  , segue que


n n n
 n   n 
 a c   q b c
i 1
i i
i 1
i i  a c
i 1
i i    qi ci   b , isto é, b   ai ci  .
 i 1   i 1 

Utilizando-se o algoritmo da divisão, você pode deduzir os critérios de


divisibilidade de um número por 2, 3, 5 e assim por diante. Acompanhe os critérios
de divisibilidade dados a seguir.

Critérios de Divisibilidade
Um número natural N é escrito por seus algarismos pertencentes a uma
dada base: N  an an1...a2a1a0 . Como um exemplo, um número N pode ser escrito

na base 10 da forma N  an 10n  an1 10n1  ...  a2 102  a1 101  a0 100 .


Tendo isso em mente, determinaremos alguns critérios de divisibilidade
sobre os quais você já possui familiaridade.

Critério de Divisibilidade por 2 - Um número N é divisível por 2, se e


somente se, o algarismo que representa a unidade for divisível por 2.
Demonstração: Considere N  an an1...a2a1a0 , onde a base considerada é a
base 10. () Se a0 for múltiplo de 2, como todos os outros termos possuem, no
mínimo, uma dezena multiplicando-os, então N será divisível por 2.
() Suponha agora que 2 | N . Então, existe q  tal que N  2q .

Como an 10n  an1 10n1  ...  a2 102  a1 101  a0 100  2q ., isto é

  a 10   2  q .   a 10     a 10   a ,


n n n
i i i
i Visto que i i 0
i 0 i 0 i 1

então   ai 10i   a0  2q , ou seja, a0  2q    ai  10i  . Como


n n
2 | 2q e
i 1 i 1
56

 n 
2    ai 10i   , pela Propriedade 1, Item iv), o resultado segue, ou seja, 2 | a0 (ou
 i 1 
ainda a0 é múltiplo de 2).

Critério de Divisibilidade por 3 - Um número natural N é divisível por 3


se, e somente se, a soma de seus algarismos for divisível por 3.

Demonstração: () Suponha que N    ai 10i  e assuma que 3 | N ,


n

i 0

 n 
isto é 3 |   ai 10i   . Como   a 10   a
n

i
i
0  a1 10  ...an1 10n1  an 10n , e
 i 0  i 0

como as potências de 10 quando divididas por 3 sempre possuem resto 1, deduz-se


que a0  a1   3q1  1  ...an1   3qn1  1  an   3qn  1 . Então,
n n
a0  a1  3q1  a1  ...  an 1  3qn 1  an 1  an  3qn  an  (3n)    ai qi    ai . Pelo
i 1 i 0

 n n
  n

Item iii) da Propriedade 1, como 3 |  3n     ai qi    ai  e 3| (3n)    ai qi  
 i 1 i 0   i 1 
n
segue que 3 |  ai .
i 0

 
n n
() Assuma que N seja dado por N   ai  10i . Suponha ainda que 3 |  ai .
i 0 i 0

n n
Como já foi verificado em () , N   3n     ai qi    ai . Utilizando-se iv) da
i 1 i 0

 n
 n
Propriedade 1, como 3 |  3n     ai qi   e 3 |  ai , então 3 | N , e o critério está
 i 1  i 0

demonstrado.

2.6 – Máximo Divisor Comum e Mínimo Múltiplo Comum


Iniciaremos esta subseção com a definição de máximo divisor comum
(mdc) de dois números inteiros. No ensino médio e fundamental, você já estudou
tal conceito. Somente para relembrar, o mdc entre 8 e 12 é 4, pois 4 é o maior
divisor comum entre 8 e 12; o mdc entre 15 e 45 é o próprio 15, pois 15 é o maior
divisor comum entre 15 e 45; o mdc entre 21 e 25 é 1, pois 1 é o maior divisor
comum entre 21 e 25 e assim sucessivamente. Entretanto, o enfoque aqui é
diferente. Na verdade, você estudará propriedades e demonstrações mais abstratas
do conceito acima citado, pois é necessário que você aprenda os fundamentos e
57

respectivas propriedades deste conceito tão importante, o mdc. Esperamos que você
aprecie e aprenda os conteúdos abordados nesta seção. Bons estudos!

Definição 1 - Sejam a, b . Diz-se que d  é máximo divisor comum

(mdc) de a e b , denotado d  mdc  a, b  , se as seguintes condições se verificam:

i) d  0 ;
ii) d | a e d | b ;

iii) Se existe d   tal que d  | a e d  | b então d  | d .

O mdc de quaisquer dois números inteiros sempre existe. A demonstração


de tal proposição pode ser encontrada em IEZZI, G., DOMINGUES, H. H..
Álgebra Moderna. 2. ed. São Paulo: Atual, 1982.

Observação - O máximo divisor comum de dois números inteiros é único.


De fato, se d1 e d 2 são máximos divisores comuns entre a e b então d1  d2 , pois

pelo Item iii) da Definição 1, d1 | d2 e d 2 | d1 , e como d1 , d2  0 , o resultado se


verifica.

Teorema (Bézout) - Sejam a, b e d  mdc a ,b  . Então existem

inteiros s, t tal que d  sa  tb .


Demonstração: Veja IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna.
2. ed. São Paulo: Atual, 1982.

No caso particular em que mdc  a, b   1 tem-se o seguinte resultado:

Teorema - Sejam a, b . Se existem x, y  tal que ax  by  1 se, e

somente se, mdc  a, b   1 .

Demonstração: () Suponha que existam x, y  tal que ax  by  1 .

Devemos mostrar que mdc(a, b)  1 . Para isso, seja d  mdc  a, b  ; então d | a e

d | b . Pelo Item v) da Propriedade 1, d |  ax  by  e assim d |1 . Como d  0 tem-se

d  1 , ou seja, mdc  a, b   1 , como requerido.

() Basta utilizar o Teorema de Bézout para d  1 , isto é, para mdc  a, b   1 .


58

Propriedades - Sejam a, b, d , q, r  . Então o mdc satisfaz as seguintes


propriedades:
a) Se d  mdc  a, b  e a | b então d  |a | ;

b) Se d  mdc  a, b  e a  qb  r , então mdc  a, b   mdc  b, r  ;

c) mdc  a, b   mdc  b, a  ;

d) mdc  a, b   mdc |a|, |b| .

Demonstração:
a) Para mostrar que d  |a | , devemos verificar que |a | satisfaz i), ii) e iii)
da Definição 1. É claro que |a |  0 , e assim i) se verifica. Verificando-se ii), sabe-
se que |a | | a . Como a |b implica que |a | | b , donde ii) se verifica . Provemos que

iii) é verdadeira: suponha que exista d   tal que d  | a e d  | b . Devemos

mostrar que d  | |a | . Porém isso é óbvio, pois como d  | a , existe z  tal que

a  zd  . Se a  0  a  |a | donde d  | |a | ; se a  0  a  |a | , e então

a    z  d  ,  z  , isto é, d  |  a  d  | | a| . Como |a | satisfaz i), ii) e iii) da

Definição 1, segue que d  |a | , como desejado.

b) Sejam d1  mdc  a, b  e d2  mdc b, r  . Devemos mostrar que d1 | d 2 e

que d 2 | d1 e, como d1 , d2  0 conclui-se que d1  d2 . Como d1  mdc  a, b  , d1 | a

e d1 | b . Como r  a  qb , pela Propriedade 1- Item v), d1 | r . Assim, como d1 | b e

d1 | r segue que d1 | d2 , pois d2  mdc  b, r  (utiliza-se iii) da Definição 1 para d 2 .

Analogamente, como d2  mdc  b, r  , d 2 | b e d 2 | r . Como a  qb  r , conclui-se

pela Propriedade 1- Item v), que d 2 | a . Como d 2 | a e d 2 | b e como d1  mdc  a, b  ,

pelo Item iii) da Definição 1 (para d1 ), d 2 | d1 . Pelo que já foi tratado, deduz-se que

d1  d2 , ou seja, mdc  a, b   mdc  b, r  .

c) Sejam d1  mdc  a, b  e d2  mdc b ,a  . Devemos mostrar que d1 | d 2 e

que d 2 | d1 . Mas é claro que tanto d1 quanto d 2 dividem a e b , e assim, d1 | d 2 e

d 2 | d1 . Como d1 , d2  0 obtém-se d1  d2 , isto é, mdc  a, b   mdc  b, a  .

d) A demonstração deste item é deixada para você, estudante.

Exemplo [Para calcular, na prática, o mdc entre dois números inteiros, procede-se
da seguinte maneira: calcule o mdc  568,34  .
59

Inicia-se o processo dividindo-se 568 por 34; se o resultado do resto for zero, então
o mdc é 34, senão continuam-se as divisões:
568 = 34.16+24, dividindo 34 por 24:
34 = 24.1 + 10, dividindo 24 por 10:
24 = 10.2 + 4, dividindo 10 por 4:
10 = 4.2 + 2, dividindo 4 por 2:
4 = 2.2 e resto zero (r = 0), dessa forma o mdc  568,34  = 2.]

Exemplo [ mdc  20.713,319 = 11.

20.713 = 319.64 + 297


319 = 297.1 + 22
297 = 22.13 + 11
22 = 11.2 e r = 0.]

Você pode calcular o mdc utilizando uma tabela. Por exemplo, verifique
que mdc  568,34  2 :

Restos → 568 34 24 10 4 2 0
Quocientes → 16 1 2 2 2

Veja a tabela abaixo, que esboça o cálculo para mdc  3.429,702 , que é

igual a 27:
3.429 702 621 81 54 27 0
4 1 7 1 2

Definição 1 - Sejam a, b . Diz-se que a e b são relativamente primos

(ou ainda coprimos ou primos entre si), se mdc  a, b   1 .

Exemplo [ Os números 2n + 1 e 3n + 1, em que n > 1, são primos entre si.


Para demonstrar este resultado é preciso verificar que mdc  3n  1, 2n  1  1 .

Utilizando a tabela para calcular o mdc: 3n + 1 2n + 1 n 1 0


1 2 n

Então mdc  3n  1, 2n  1  1 , como desejado.]

Exemplo [Sejam a, b, c  com mdc  a, c   1 . Então mdc  b, c   mdc  ab, c  .

Para provar este fato, suponha que d1  mdc  b, c  e d2  mdc ab ,c  . Então d1 | b

e d1 | c , donde d1 | ab e d1 | c , o que implica que e d1 | d2 , por iii) da Definição 1


60

aplicada a d 2 . Analogamente, d 2 | ab e d 2 | c . Como mdc  a, c   1 , existem

inteiros x, y  tal que ax  cy  1 . Multiplicando-se tal equação por b obtém-se

b  ax  cy   b 1  b   ab  x  c by   b . Como d 2 | ab e d 2 | c , pelo Item iv) da

Propriedade 1, segue que d 2 | b . Utilizando-se iii) da Definição 1 aplicada a d1

deduz-se que d 2 | d1 . Como d1 , d2  0 , segue que d1  d2 , isto é,

mdc  b, c   mdc  ab, c  .]

Assim como o máximo divisor comum entre dois números inteiros é de


extrema importância no estudo da Álgebra, também o mínimo múltiplo comum de
dois números inteiros a, b , denotado por mmc  a, b  , também é um assunto muito

estudado em tal área da matemática. Como a própria escrita estabelece, o mínimo


múltiplo comum entre dois inteiros a, b é o menor múltiplo tanto de a quanto de

b . Por exemplo, mmc 8,10  40 , mmc  4, 5  20 e assim sucessivamente.

Acompanhe a definição formal do conceito de mínimo múltiplo comum entre dois


inteiros.

Definição 2 - O mínimo múltiplo comum de dois números inteiros a, b ,

denotado por m  mmc  a, b  , é um número inteiro satisfazendo as seguintes

condições:
i) m  0 ;
ii) a | m e b | m ;

iii) se existe m  tal que se a | m e b | m , então m | m .


Assim como para o mdc, o mmc de quaisquer dois números inteiros sempre
existe e é único. Acompanhe algumas propriedades interessantes do mmc.

Propriedades - Sejam a, b , a, b  0 . Então as seguintes propriedades


são verdadeiras:
a) mmc  a, b  é único;

b) mmc  a, b   mmc  b, a  ;

c) mmc  a, b   mmc  | a |,| b |  .

Demonstração:
61

a) Suponha que m1  mmc  a, b  e m2  mmc a ,b  . Pelo Item iii) da

Definição 2 segue que m1 | m2 e m2 | m1 . Como ambos são números positivos,

segue que m1  m2 , como requerido.

b) Sejam m1  mmc  a, b  e m2  mmc b , a  . Como, m2  0 , a | m2 ,

b | m2 , pelo Item iii) da Definição 2, m1 | m2 . Analogamente, m2 | m1 , ou seja,

m1  m2 . Então mmc  a, b   mmc  b, a  .

c) Considere m1  mmc  a, b  e m2  mmc  | a |,| b |  ; então a | m1 e b | m1 .

Se a | m1   a  | m1 e se b | m1   b  | m1 , e então a | m1 e b | m1 . Pelo Item iii)

da Definição 2, m2 | m1 . Analogamente, segue que m1 | m2 . Assim,

mmc  a, b   mmc  | a |,| b |  .

O mmc e o mdc possuem uma relação entre si:

Proposição - Sejam a, b . Se d  mdc  a, b  e m  mmc a ,b  então

mdc  | ab | .
Demonstração: Consideraremos somente o caso em que a  0 e b  0 ,
ab
pois os outros casos são análogos. Tome x  (note que x é um número inteiro,
d
pois d | a e d | b ). Vamos provar que x  m , isto é, vamos verificar que x satisfaz

as propriedades do mínimo múltiplo comum mmc  a, b  de a e b .

Evidentemente, o Item i) da Definição 2 é satisfeito. Verifiquemos ii): como


d | a e d | b , existem inteiros a1 , b1  tal que a  da1 e b  db1 , em que

mdc  a1 , b1   1 , pois d é o maior divisor comum de a e b . Sabemos que x  a1b

e, analogamente, x  ab1 , e assim a | x e b | x .

Para verificar o Item iii), considere m  um múltiplo comum de a e b .


Como a | m ,  q   | m  aq   a1 d  q . Além disso, como b | m tem-se que

b1d |  a1d  q  b1 | a1q ; como mdc  a1 , b1   1 segue que b1 | q . Então, existe z 

tal que q  b1 z . Substituindo-se q por b1 z  na equação m   a1d  q obtém-se

m   a1d  q   a1d  b1 z   a1db1  z  xz  x | m . Deste modo, como x satisfaz

os Itens i), ii) e iii) da Definição 2, segue que x  m , isto é, x  mmc  a, b  ,

completando-se a demonstração.
62

A forma de se calcular o mmc entre dois (ou mais) números você já


conhece. Vamos relembrar?

Exemplo [ Verifique que mmc 12, 56, 25  4.200 .

12 56 25 2
6 28 25 2
3 14 25 2
3 7 25 3
1 7 25 5
1 7 5 5
1 7 1 7
1 1 1 23×3×52×7 = 4.200

2.7 – Equações Diofantinas Lineares

Você já teve a oportunidade de estudar equações diofantinas? Se a resposta


for negativa, já ouvir falar sobre tais equações? Nesta subseção você aprenderá um
pouco sobre as mesmas, que são de grande importância na resolução de problemas
com soluções inteiras. As equações diofantinas são escritas em função de duas
variáveis x e y da forma ax  by  c com a, b, c . Uma solução dessa equação é

um par de números inteiros x0 e y0 satisfazendo ax0  by0  c . Nem sempre existe


solução para ax  by  c ; em contrapartida, pode existir uma infinidade de
soluções para ela.

Um resultado que trata das soluções de uma equação diofantina é dado a


seguir:
Teorema - Sejam a, b, c  e d  mdc a ,b  . A equação diofantina

ax  by  c tem soluções se, e somente se, d | c .

Demonstração: () Supondo que a equação ax  by  c possua uma

solução x0 e y0: ax0  by0  c . Como d | a e d | b , então, pelo Item v) da

Propriedade 1 d | ax0  by0 , isto é, d | c .


() Se d | c então existe q  tal que c  qd . Como d | a e d | b , pelo Lema de

Bézout, existem inteiros u, v tal que au  bv  d . Multiplicando-se esta última

equação por q , segue que a  uq   b  vq   qd , e como c  qd , obtém-se


63

a  uq   b  vq   c , donde a equação ax  by  c é solúvel e as soluções são dadas

por x  uq e y  vq .

Dessa forma, para tentar encontrar soluções de uma equação diofantina


você pode utilizar o cálculo do mdc entre dois inteiros, pois se o mdc divide o
termo c, então a equação possui solução. Acompanhe os exemplos a seguir.

Exemplo Calcular soluções (se existir) da equação diofantina 15x +12y = 96.
15 12 3 0
1 4
Sabe-se que mdc 12,15  3 ; como 3|96, então a equação dada possui solução.

Para determinar uma solução dessa equação procede-se da seguinte forma:


3 = 15 – 12.1  3  15.1  12.  1 . Multiplicando-se por 32 (que é o resultado de

96 / 3 ): 96  15.96  12.  96  . Consequentemente, uma solução para 15x +12y =

96 é  32,32  .

Exemplo Calcular as soluções (se existirem) da equação diofantina 2x – 4y = 5.


O mdc  2,4   2 , mas 2 não divide 5, o que significa que a equação dada não é

solúvel.

Exemplo Calcular as soluções (se existirem) da equação diofantina 172x + 20y =


1.000.
Calculando o mdc  20,172  :

172 20 12 8 4 0
8 1 1 2

Sabe-se que mdc  20,172  4 e que 4 |1.000 . Para se determinar uma solução

para 172x + 20y = 1.000 procede-se da seguinte maneira:


4 = 8.2 – 12; 8 = 20 – 12.1; 12 = 172 – 20.8 e:
4 = 8.2 – 12 = (20.1 – 12).2 – 12 = 20.2 – 12.2 – 12 = 20.2 – 12.3
4 = 20.2 – (172 – 20.8).3 = 20.2 – 172.3 +20.24 = 20.26 – 172.3
1.000
4 = 172.(–3) + 20.26, multiplicando por  250 :
4
64

1000 = 172.(–750) + 20.(6500), uma solução para 172x + 20y = 1.000 é


 750,6.500 .

2.8 – Números primos


Nesta subseção, você estudará o conjunto dos números primos, números
esses que fascinam os matemáticos desde os tempos antigos. Os números primos
são de essencial importância para nossa vida cotidiana, pois a maioria das senhas
de bancos, a codificação de diversas naturezas, dentre outras, são construídas
mediante a utilização de números primos. Isso ocorre devido ao fato de não se
saber se existe uma função que gere somente números primos (na verdade, este é
um dos problemas que valem $1.000.000,00 (um milhão de dólares)), e assim não
se sabe como decodificar as respectivas senhas. Se alguma pessoa descobrir uma
função que produza somente números primos, as nossas senhas estarão
comprometidas. Baseados em todos esses comentários, você pode imaginar a
importância que representa, não somente para a matemática, o conjunto dos
números primos. Deste modo, introduziremos os números primos, bem como
algumas propriedades relativas a eles. (Ah, uma observação! Se você conseguir
construir tal função, nos avise para que possamos dividir o prêmio!!! ).

Definição - Dado p  . Diz-se que p é um número primo se p  1, 0,1


e os únicos divisores de p forem  p, 1,1, p .

Utilizando-se esta definição, pode-se demonstrar a seguinte proposição:

Proposição - Se p  é primo e p | ab , então p | a ou p | b .


Demonstração: Suponha que não seja divisor de a . Portanto, os divisores
comuns de p e a são apenas -1 e 1, donde mdc  a, p   1 . Então, existem u, v 

tal que au  pv  1 . Assim, b  au   b  pv   b   ab  u  p bv   b . Como p | ab

e p | p , p |  ab u  p  bv , isto é, p | b .

Observação - É fácil verificar que se p  é primo e se p | a1a2 ...an , então

p | a1 ou p | a2 ou ... ou p | an . A demonstração é feita por simples aplicação do


Princípio da Indução.
65

Você já sabe que qualquer inteiro z  2 pode ser representado como um


produto de números primos. Por exemplo, 24=23  3 , 52  22  13 , 735=3 5  72 e
assim por diante. Este resultado é denominado Teorema Fundamental da
Aritmética. Acompanhe-o a seguir:

Teorema - Seja z  tal que z  1, 0,1 . Então, existem números primos

positivos p1  p2  ...  pr e inteiros positivos n1 , n2 , ... , nr tais que

z  Ep1n1 p2n2 ... prnr , com E  1 ou E  1 , caso z seja positivo ou negativo. Além
disso, essa decomposição em fatores primos é única.
Demonstração: Veja MILIES, C. P., COELHO, S. P. NÚMEROS - Uma
Introdução à Matemática. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2001.

Veja como demonstrar algumas proposições, para que você possa obter
mais familiaridade com a Álgebra.

Proposição - Sejam a, b, c  . Se a | bc e mdc  a, b   1 então a | c .

Demonstração: Como a | bc , então existe q  tal que bc  qa . Como

mdc  a, b   1 , existem u, v  tal que au  bv  1 . Multiplicando-se a última

equação por c:  au  c  bv c  c  ac u  bc v c . Substituindo-se bc  qa na

equação anterior obtém-se acu  qav  c  c   cu  qv  a . Então a | c , pois

 cu  qv   , concluindo-se a demonstração.

Proposição - Sejam a, b com mdc  a, b   1 . Se c  é tal que a | c e

b | c , mostre que ab | c .

Demonstração: Como a | c e b | c então existem q, q  tal que c  qa

e c  qb . Além disso, como mdc  a, b   1 então existem u, v  tal que

au  bv  1 . Multiplicando-se essa equação por c:

 au  c   bv c  c   ac u   bc v  c   . Multiplicando-se a equação c  qa

por b e a equação c  qb por a: bc  b qa  ; ac  a  qb  . Substituindo os valores

de bc e de ac em   segue que

a  qb  u  b  qa  v  c   ab  qu   ab  qv  c  c   qu  qv  ab , com

 qu  qv   , isto é, ab | c .
66

Proposição - Se mdc  a, b   1 , então mmc  a, b   ab .

ab
Demonstração: Utilizando-se a equação m  , como d  mdc  a, b   1 ,
d
o resultado está provado.

Todo número inteiro que não é primo é denominado composto, ou seja, ou


é múltiplo de um ou de vários números primos.

Teorema - O conjunto dos números primos é infinito.


Demonstração: A demonstração será por absurdo. Com efeito, suponha
que exista somente um número finito de números primos, a saber, p1 , p2 ,..., pn .

Considere o número p  p1  p2 ... pn  1 . Vamos provar que p também é um


número primo e que p é diferente de todos os primos p1 , p2 ,..., pn , o que é um
absurdo, porque supusemos que os únicos primos eram p1 , p2 ,..., pn . De fato, se

existisse algum pi , com i  1, 2,..., n , tal que pi | p , como pi | p1  p2 ... pn então

teríamos pi | p  ( p1  p2 ... pn )  pi |1 , e assim pi  1 ou pi  1 , o que é um


absurdo, pois pi é primo. Então p  p1  p2 ... pn  1 também é primo.

Provaremos agora que p  pi , i  1, 2,..., n . Novamente, suponha que p  p j

para algum j {1, 2,..., n} ; então p j  p1  p2 ... p j 1  p j  p j 1  ...  pn  1 . Como

pj | pj e p j | p1  p2 ...  p j 1  p j  p j 1 ...  p n implica que

p j | ( p j  p1  p2 ... p j 1  p j  p j 1  ...  pn ) , isto é, p j |1 , e assim p j  1 ou

p j  1 , o que é um absurdo, pois p j é primo. Dessa forma, conclui-se que o

conjunto dos números primos é infinito, e a demonstração está completa.

A seguir, acompanhe a demonstração do Pequeno Teorema de Fermat.

Teorema (pequeno Teorema de Fermat) - Se p é primo, e a  , a  0 ,

então p  a p  a  .

Demonstração: Utilizaremos o Princípio da Indução Completa (PIC). Para

a = 1 a proposição é verdadeira pois p 1p  1  p | 0 .


67

Suponha que p |  a p  a  seja verdadeira (H.I.). Devemos mostrar que

p  a  1   a  1 . Desenvolvendo o binômio  a  1 :


p p
 
p! p! p!
 a  1  ap  a p1  a p2  ...  a 1 .
p

1! p  1! 2! p  2 !  p  1! p   p  1 !


Então,
p! p!
 a  1   a  1 = a p  a p 1  a p  2  ...  pa  1   a  1 
p

1! p  1! 2! p  2 !

  a  1 =  a p  a  
p! p!
 a  1 a p 1  a p  2  ...  pa 
p

1! p  1! 2! p  2 !

p 1  
  a  1 =  a p  a    
p!
 a  1 a p r  .
p

 r ! n  r !
r 1  

p 1  p!  p 1 
 p  1! p r  , pois cada termo da
O primo p divide  
 r ! n  r !
a pr
  p   
 r ! n  r !
a 
r 1   r 1  

adição possui o fator p. Por H.I. segue que p |  a p  a  , e assim

p  a  1   a  1 .
p
 
Até agora, utilizaram-se apenas valores de a  1 . Para o caso de a < 0 e com

p | a p  a 2   a     a    2  a 2  a  .
2
p2 a relação se torna
 

Como a 2  a  a(a  1) , então a 2  a é sempre par: se a é par, então o produto

a  a  1 é sempre par; se a é ímpar, então a  1 é par e assim a2  a  a(a  1) é

sempre par. Com essa conclusão, pode-se afirmar que 2  a 2  a  .

Supondo agora que p  2 , os primos restantes são todos ímpares e pode-se

concluir que p  a    a   p  a p  a   p |   a p  a   p |  a p  a  .
p
 

Corolário - Se p é primo e mdc(a, p)  1 , então p  a p 1  1 .

Demonstração: Como p |  a p  a   a(a p 1  1) e como mdc(a, p)  1 ,

conclui-se que p  a p 1  1 .
68

Como foi comentado no início desta seção, não existe uma fórmula que
gere números primos, mas existem várias formas de se determinar se um dado
número inteiro é primo ou não.
Existe um método antigo para se encontrarem os números primos numa
dada sequência de números inteiros: esse método se chama Crivo de Eratóstenes.
Suponha que queira determinar os primos de 1 a 150.
Primeiramente você monta uma tabela com esses números e começa a
riscá-los segundo suas multiplicidades, ou seja, múltiplos de 2, de 3, de 5 e assim
por diante:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
62 62 63 64 65 66 67 68 69 70
71 72 73 74 75 76 77 78 79 80
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90
91 92 93 94 95 96 97 98 99 100
101 102 103 104 105 106 107 108 109 110
112 112 113 114 115 116 117 118 119 120
121 122 123 124 125 126 127 128 129 130
131 132 133 134 135 136 137 138 139 140
141 142 143 144 145 146 147 148 149 150

Primeiramente você risca o número 1 e os múltiplos de 2, o que é muito


fácil:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
61 62 63 64 65 66 67 68 69 70
71 72 73 74 75 76 77 78 79 80
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90
91 92 93 94 95 96 97 98 99 100
101 102 103 104 105 106 107 108 109 110
112 112 113 114 115 116 117 118 119 120
121 122 123 124 125 126 127 128 129 130
131 132 133 134 135 136 137 138 139 140
141 142 143 144 145 146 147 148 149 150

Agora se riscam os múltiplos de 3:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
69

21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
61 62 63 64 65 66 67 68 69 70
71 72 73 74 75 76 77 78 79 80
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90
91 92 93 94 95 96 97 98 99 100
101 102 103 104 105 106 107 108 109 110
111 112 113 114 115 116 117 118 119 120
121 122 123 124 125 126 127 128 129 130
131 132 133 134 135 136 137 138 139 140
141 142 143 144 145 146 147 148 149 150

Riscando os múltiplos de 5:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
61 62 63 64 65 66 67 68 69 70
71 72 73 74 75 76 77 78 79 80
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90
91 92 93 94 95 96 97 98 99 100
101 102 103 104 105 106 107 108 109 110
111 112 113 114 115 116 117 118 119 120
121 122 123 124 125 126 127 128 129 130
131 132 133 134 135 136 137 138 139 140
141 142 143 144 145 146 147 148 149 150

Riscando os múltiplos de 7 (observe aqui que basta procurar o 7.7, 7.11,


7.13 e assim por diante, pois os demais são múltiplos de 2, 3 e 5):

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
61 62 63 64 65 66 67 68 69 70
71 72 73 74 75 76 77 78 79 80
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90
91 92 93 94 95 96 97 98 99 100
101 102 103 104 105 106 107 108 109 110
111 112 113 114 115 116 117 118 119 120
121 122 123 124 125 126 127 128 129 130
131 132 133 134 135 136 137 138 139 140
141 142 143 144 145 146 147 148 149 150
70

Riscando os múltiplos de 11 (observe aqui que basta procurar 11.11, 11.13


e assim por diante, pois os demais são múltiplos de 2, 3, 5 e 7):

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
61 62 63 64 65 66 67 68 69 70
71 72 73 74 75 76 77 78 79 80
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90
91 92 93 94 95 96 97 98 99 100
101 102 103 104 105 106 107 108 109 110
111 112 113 114 115 116 117 118 119 120
121 122 123 124 125 126 127 128 129 130
131 132 133 134 135 136 137 138 139 140
141 142 143 144 145 146 147 148 149 150

Riscando os múltiplos de 13 (observe aqui que basta procurar 13.13, 11.17 e


assim por diante, pois os demais são múltiplos de 2, 3, 5, 7 e 11. Mas como a tabela
só vai até 150 e 13.13 = 169, os números restantes são primos):
Ou seja: 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, 31, 37, 41, 43, 47, 53, 59, 61, 67,
71, 73, 79, 83, 89, 97, 101, 103, 107, 109, 113, 127, 131, 137 e 149.

2.9 – Números Racionais, Irracionais e Reais

Ao se trabalhar com o conjunto dos números inteiros encontram-se


inúmeras possibilidades de aplicações. Entretanto, se tal conjunto for considerado,
muitos problemas permanecem sem solução, problemas esses que resultam em
soluções não inteiras. Aliado a diversos estudos matemáticos, tudo isso conduziu à
utilização e à descoberta de outros conjuntos numéricos. Nesta subseção, você
estudará o conjunto dos números racionais, que é definido a partir dos números
inteiros. Você aprenderá sua definição e as respectivas propriedades.

Definiremos, a seguir, o conjunto dos números racionais.


Considere, sobre   *   a, b  a  , b   * (onde

*  z   z  0 ), a relação ~ definida da seguinte maneira:

 a, b  ~  c, d  se, e somente se, ad  bc .


71

Demonstraremos que a relação ~ é uma relação de equivalência, isto é, ~ é


reflexiva, simétrica e transitiva:
Teorema - Sejam a, c, e e b, d , f  * . Então, a relação ~ satisfaz as
seguintes propriedades:
i) Reflexiva:  a, b  ~  a, b  , para todo  a, b      * ;

ii) Simétrica: se  a, b  ~ c, d  então  c, d  ~  a, b  ;

iii) Transitiva: se  a, b  ~ c, d  e  c, d  ~ e, f  então  a, b  ~  e, f  .

Demonstração:
i) Pela definição, como ab  ba obtém-se  a, b  ~  a, b  .

ii) Suponha que  a, b  ~  c, d  . Pela definição de ~ resulta em ad  bc ,

que pode ser escrito como cb  da , o que implica que  c, d  ~  a, b  .

iii) Suponha que  a, b  ~  c, d  e  c, d  ~ e, f  . Pela definição de ~ ,

sabe-se que
ad  bc e cf  de . Desta forma,  ad  f   bc f e b cf   b de  , o que implica

adf  bde  d  af  be   0 . Como d  0 , deduz-se que af  be  0  af  be ,

donde  a, b  ~  e, f  .

a
A classe de equivalência, indicada por , é definida da seguinte forma:
b
a
b
  x, y      *  x, y  ~  a, b  , ou ainda,
a
b
  x, y      * xb  ya .

m
Assim, cada elemento r  admite infinitas representações do tipo , em que
n
m e n * . Em cada uma destas representações, m é o numerador e n o
denominador.
Por exemplo,
3  9 6  3 3 6 9 
 ..., , , , , , ,... .
5  15 10 5 5 10 15 
Dessa forma, o conjunto dos números racionais  é definido por:

a
  a, b      * .
b 
Entre quaisquer dois números racionais sempre existe outro número racional.
Isso será verificado a seguir.
72

Teorema - Quaisquer que sejam m, n , com m  n , existe q  tal


que m  q  n .
Demonstração: Como m  n , adicionando-se m em ambos os lados da
mn
inequação, fica m  m  n  m  2m  m  n , ou seja, m  .
2
Analogamente, adicionando-se n em ambos os lados da inequação m  n ,
mn mn
deduz-se que m  n  n  n  m  n  2n , ainda n  . Como é um
2 2
mn
número racional, basta tomarmos q  e assim teremos m  q  n .
2
a c
Definição - Sejam ,  . A adição de números racionais é definida
b d
a c ad  bc
como sendo o número racional dado pela classe de equivalência   .
b d bd
Você verá aqui que tal definição independe dos representantes das classes de
equivalências considerados. Acompanhe a verificação a seguir.
Sejam  a, b  ,  a, b representantes de uma classe de equivalência e

a a
 c, d  ,  c, d  representantes de outra classe de equivalência, isto é,  e
b b
c c
 . Por definição tem-se ab  ab e cd   c d . Multiplicando-se ab  ab
d d
por dd  e cd   cd por bb (note que dd   0 e bb  0 ) e adicionando-se tais
expressões obtém-se ab  dd   bb  cd   ab  dd    bb  cd  . Fatorando-se e

utilizando o fato de que bd  0 e bd   0 segue que


ad  bc ad   bc
 ad  bc    bd    ad   bc  bd    .
bd bd 
Isso significa que a adição de números racionais independe do representante
da classe de equivalência considerado. Mais precisamente, ao somarmos dois
a c
racionais ,  , independentemente da escolha do representante da classe de
b d
a c
equivalência e da classe de equivalência , o número racional obtido é sempre
b d
o mesmo. Em outras palavras, a adição de números racionais está bem definida.
As propriedades da adição são as mesmas já demonstradas para os números
inteiros. Acompanhe o teorema a seguir.
73

a c e
Teorema - Sejam , ,  . A adição de números racionais satisfaz as
b d f
seguintes propriedades:

a c e a c e 
i) Associativa:          ;
b d  f b d f 
a c c a
ii) Comutativa:    ;
b d d b
0  0 0 0 0 0 0 
iii) Elemento neutro: existe  ... , , , , , ,... , k  * , tal que
k  2 1 1 2 3 4 
a 0 ak  0b ak a
    ;
b k bk bk b
0 a 0b  ka ka a
    .
k b kb kb b
a a
iv) Elemento simétrico: para todo racional existe um racional  (define-se
b b
a a a a
  ou, equivalentemente,   ) tal que
b b b b
a  a  a  a  ab  ab 0  a  a ab  ab 0
        0 e       0.
b  b b  b  bb k  b b bb k
Demonstração: Para se demonstrarem os Itens i) e ii), basta utilizar a
definição de adição de números racionais. Os Itens iii) e iv) já estão demonstrados.

a c
Definição - Define-se a diferença de dois números racionais e como
b d
sendo o número racional dado pela classe de equivalência
a  c  a  c  ad  cb
       . Note, caro(a) aluno(a), que a diferença entre dois
b d  b  d bd
a c
racionais e é, simplesmente, definida como sendo a adição do número
b d
a c c
racional com o simétrico  do número racional .
b d d
a c e
Propriedades - Sejam , ,  . A diferença de números racionais
b d f

satisfaz as seguintes propriedades:


a c  a c
i)        ;
 b d  b d

a c c a
ii)      ;
b d  d b
74

a c c a
iii)  x  se, e somente se, x   ;
b d d b
a c a e c e
iv) se    , então  .
b d b f d f
Demonstração:
a c ad  bc
i) Sabemos que   . Então
b d bd

 a c    ad  bc  ad  bc
     . Repare que na última equação foi utilizada a
b d  bd bd
distributiva da multiplicação com relação à adição (em  ). Agora, calcularemos
a c a c a  c   a  d   c b ad  cb
  :       . Repare que na
b d b d b d  bd bd
última equação foram utilizadas as regras de sinal de números inteiros.
a c c
ii) Calculemos    :
b d  d

 a c  c ad  cb c  ad  cb  d  c  bd  add  cbd  bdc add a


         .
b d  d bd d bdd bdd bdd b
add a
Note que na última equação  foi utilizado o fato de que
bdd b
 add  b  bdd  a .
iii) Deixado para você, aluno(a).
a c a e
iv) Suponha que    , isto é,
b d b f

a c a e ad  bc af  be
     . Por definição,
b d b f bd bf

 ad  bc  bf   af  be bd   ad  bf  bc  bf   af  bd  be  bd . Utilizando-se a


comutativa da multiplicação (em  ) e a lei do corte (em  ) segue que
bc  bf  be bd , ou ainda,  cf  bb   de  bb   cf  de  bb  0 . Como b  0 ,

c e
obtém-se cf  de  0  cf  de   , como desejado.
d f
75

a c
Definição - Sejam ,  . Define-se a multiplicação de números
b d
a c
racionais , como sendo o número racional dado pela classe de equivalência
b d
a c ac
  .
b d bd
Assim como foi feito para a adição de números racionais, provaremos aqui
que a multiplicação de números racionais é bem definida. Acompanhe o
desenvolvimento: sejam  a, b  ,  a, b representantes de uma classe de

equivalência e  c, d  ,  c, d  representantes de outra classe de equivalência, isto é,

a a c c
 e  . Por definição tem-se ab  ab e cd   c d . Multiplicando-se a
b b  d d
equação ab  ab por cd  e a equação cd   cd por ab , isto é,
ab(cd )  ab(cd ) e ab cd    a b c d  , deduz-se que

ab  cd   ab  cd    ac bd    ac bd  , com bd  0 e bd   0 . Assim

ac ac
segue que  , como requerido.
bd bd 
a c e
Propriedades - Sejam , ,  . A multiplicação de números
b d f

racionais satisfaz as seguintes propriedades:

a c e a c e 
i) Associativa:          ;
b d  f b d f 
a c c a
ii) Comutativa:    ;
b d d b
k  2 1 1 2 3 4 
iii) Elemento neutro: existe  ..., , , , , , ,... , com k  *
k  2 1 1 2 3 4 
tal que
a k ak a a
   , para todo número racional ;
b k bk b b
b a b ab
iv) Elemento inverso: existe   , a   , tal que   1 e
a b a ba
1
b a ba a a
   1 . O inverso de , denotado por   , é definido como sendo o
a b ab b b
76

1
a
1
b  a 1  a
número racional    . É fácil verificar que     e que
b a  b   b

1 1 1
a c a  c 
        .
b d  b d 

a c e a c a e
v) Distributiva:        .
b d f  b d b f

Demonstração: Os Itens i) e ii) são simples aplicações da definição de


multiplicação de números racionais. Os Itens iii) e iv) estão demonstrados.

a  c e  a  cf  ed  a  cf   a  ed  b
Demonstremos o Item v):        
b  d f  b  df  b  df  b

 ac bf    ae  bd  ac ae a c a e .
     
 bd  bf  bd bf b d b f

Propriedades - Sejam x, y, z  . Então são verdadeiras as seguintes


propriedades:
i) x  y  z   xy  xz ;

ii) 0 x  x0  0 ;
iii) x   y     x  y    xy  .

Demonstração:
a c e
i) Sejam x , y , z números racionais. Então
b d f

a  c e  a  cf  ed  a  cf   a  ed 
x y  z        . Multiplicando-se pelo
b  d f  b  df  bdf

b ac  bf   ae  bd  ac ae
racional segue que   . Portanto, x  y  z   xy  xz .
b  bd  bf  bd bf

a
ii) Seja x   . Então,
b
a 0 a0 0 0 a 0a 0
x0      0; 0x      0.
b k bk bk k b kb kb
iii) Sabe-se que   xy  é o simétrico de xy ; se provarmos que x   y    xy   0 ,

como o simétrico é único, provaremos assim que x   y     xy  . Mas

x   y   xy  x   y  y   x0  0 . Logo, x   y     xy  . Analogamente, conclui-

se que   x  y    xy  , e assim também teremos x   y     x  y .


77

a c a c
Definição - Sejam ,  . Define-se a divisão de por como
b d b d
a d ad
sendo o número racional dado pela classe de equivalência   . Além disso,
b c bc
a c
se x  e y são números racionais, então denotaremos a classe de
b d
a
equivalência por a  b1 .
b
São muitas ainda as propriedades dos racionais, mas uma das mais
importantes é a relação de ordem. Para tanto, você precisa conhecer a propriedade
a seguir.

a
Proposição - Para cada número racional , existem a, b  , com
b
a a
b  0 , tal que mdc  a, b  1 e  .
b b
Demonstração: Suponha que mdc  a, b   d ; então se conclui que

a b a b a
mdc  ,   1 . Portanto, tomando-se a  e b  segue que d  e
 d d  d d a 
b a b a a
d , o que implica que  , ou ainda  . Além disso,
b a  b b b
a b
mdc  a, b   mdc  ,   1 , completando-se a demonstração.
d d
a
Antes de passarmos para a próxima definição, note que se   , então,
b
a a
por definição, segue que  , pois a  b   b  a  (em  ). Deste modo,
b b
podemos considerar que o denominador é sempre positivo, pois se b  0 , considere
a a
o número racional ; se b  0 , considere o número racional . Acompanhe a
b b
definição de relação de ordem em  .
a c a c
Definição - Sejam ,  , em que b, d  0 . Diz-se que  se, e
b d b d
somente se, ad  bc .
78

Em outras palavras, define-se uma relação  em  mediante a relação

a c a c a c
de ordem total  em  . Se  mas  , então se denota  .
b d b d b d
e g e g g e
Além disso, se ,  , denota-se  para indicar que  .
f h f h h f

Devemos provar que  é, de fato, uma relação de ordem total em  , ou

seja,  é reflexiva, antissimétrica, transitiva, e quaisquer dois elementos em 

são comparáveis segundo  . Acompanhe o teorema dado a seguir.

a c e
Teorema - Sejam , ,  e considere a relação  sobre 
b d f
definida acima. Então  é relação de ordem total em  .

Demonstração:
a a
i) Reflexiva: como ab  ba , resulta imediatamente que  .
b b
a c c a
ii) Antissimétrica: supondo que  e  , tem-se ad  bc e
b d d b
cb  da . Pela comutativa da multiplicação em  e pela lei da tricotomia de 

a c
segue que ad  bc (em  ), donde  , o que demonstra a antissimetria.
b d
a c c e
iii) Transitiva: suponha que  e  , isto é, ad  bc e
b d d f

cf  de . Multiplicando-se as duas últimas inequações por f ,b 0,

respectivamente, segue que  ad  f   bc  f , b  cf   b  de . Utilizando-se a

transitividade e a lei do corte (em  ) conclui-se que  ad  f  bd  e . Como

a e
d  0 , segue que af  be   .
b f

iv) Ordem Total: segue imediatamente, pois  é relação de ordem total


a c a c
em  . Assim, quaisquer que sejam ,  , ou a inequação  é
b d b d
c a
verdadeira ou então a inequação  é verdadeira.
d b

Proposição - A relação  é compatível tanto com relação à adição

quanto com relação à multiplicação de números racionais.


79

Demonstração: Demonstraremos, primeiramente, para a adição. Suponha


a c a c
que  ,  , isto é, ad  bc , ad   bc . Devemos mostrar que
b d b d
a a c c
   . Multiplicando-se a inequação ad  bc por bd  e a inequação
b b d d
ad   bc por bd : ad bd    bc b d   , ad   bd   bc bd  . Adicionando-se

as duas inequações ad  bd   ad  bd   bc bd    bc bd  e multiplicando-se

essa última inequação por dd   0 tem-se que


ad  bd  dd   ad  bd  dd    bc bd   dd    bc bd  dd   .

Reagrupando:
 ab dd  dd    ab  dd  dd    cd bb dd    cd bb dd  .
Fatorando:  ab  ab dd  dd    cd  c d bb  dd   .

Utilizando a lei do corte, segue que  ab  ab  dd    cd   cd bb e,

ab  ab cd   cd a a c c


finalmente,      .
bb dd  b b d d
a c a  c
Provemos, agora, para a multiplicação. Suponha que  ,  , isto
b d b d 
a a c c
é, ad  bc , ad   bc . Devemos mostrar que    . Multiplicando-se
b b d d
a inequação ad  bc por ad  e a inequação ad   bc por bc :

 ad  ad   bc  ad    aa dd    ab cd  ;


 ad bc   bc bc    ab cd   bbcc .
aa cc a a c c
Pela transitividade,  aa  dd     bb  cc        .
bb dd  b b d d

Com os conhecimentos adquiridos, acompanhe o exemplo a seguir.

1 1 1 1 1 1
Exemplo [Mostre que    ...    , em que
n 1 n  2 n  3 n   n  1 2n 2

n  , n  2 .

1 1 7 1
Utilizaremos Indução sobre n . Para n  2 tem-se    . Assim a
3 4 12 2
proposição é verdadeira para n  2 .
80

1 1 1 1 1 1
Suponha que    ...    seja verdadeira
n 1 n  2 n  3 n   n  1 2n 2

(hipótese de indução H.I.). Devemos mostrar que a inequação


1 1 1 1 1 1
  ...     é verdadeira.
n 1 n  2 n   n  1  1 n   n  1 2  n  1 2

De fato,
1 1 1 1 1
  ...    
n 1 n  2 n   n  1  1 n   n  1 2  n  1
 1 1 1  1 1 1 1 1 1
 n  1  n  2  ...  2n   n   n  1  2  n  1  2  n   n  1  2  n  1  2 ,
 
em que foi utilizada H.I. na penúltima inequação. Pelo Princípio da Indução
1 1 1 1 1 1
Completa, a inequação    ...    é verdadeira
n 1 n  2 n  3 n   n  1 2n 2

para todo n  , n  2 .]

O conjunto dos números reais, denotado por  , é o conjunto numérico que


contém o conjunto dos naturais, inteiros, racionais e também o conjunto dos
números irracionais. Como você já sabe, o conjunto dos números racionais possui
interseção vazia com o conjunto dos números irracionais, e a união destes dois
últimos conjuntos numéricos forma o conjunto  .
Uma forma clara de detectar a existência do conjunto dos irracionais é
mediante a análise do valor numérico da diagonal de um quadrado. Hoje você sabe
que esse valor não é racional. Vamos à respectiva demonstração? Para mostrar que
a diagonal de um quadrado de lado 1 não mede um valor racional, suponha, por
p
absurdo, que a mesma seja racional, isto é, D  , em que p, q  , q  0 , e
q

mdc  a, b   1 .

D
1

Aplicando-se o Teorema de Pitágoras, segue que


2
 p
D  1  1     2  p 2  2q 2 .
2 2 2

q
81

Como p2 é par, então p também o é, donde p  2 z , z  ; assim

 2z 2  2q2  4z 2  2q2  q2  2z 2 . Como q 2 é par, então q também o é,

contradizendo o fato de mdc  a, b   1 . Assim, D não é um número racional; D é

um número irracional. O conjunto dos números irracionais é denotado por  .


Como posto, você sabe que      .

Alguns irracionais famosos são: 2  1, 414213562... , e  2,718281828...,


  3,141592654...e   1,618033988... .

A 2 surge no cálculo da diagonal de um retângulo, e é o resultado do


x
 1
limite lim 1   com x > 0,  é a relação entre o comprimento de uma
x   x

sc 1 5
semicircunferência pelo seu raio, isto é, e  é o resultado da expressão
r 2
que surge, por exemplo, da relação entre os lados de um retângulo áureo.
Para que você possa diferenciar um número racional na sua forma decimal
de um número irracional, basta observar se nas suas casas decimais existem
períodos, isto é, sequências que se repetem.
1
Por exemplo:  0,142857142857... , em que o período é 142857. Outro
7
13
exemplo:  1,0833333... , em que o período é o número 3.
12
Acompanhe a seguir como você poderia realizar esses cálculos.
Exemplo [Dada uma dízima, você pode calcular qual é a fração Q correspondente,
da seguinte forma: 1,083333...  108,3333...  Q.102 .
Por que dessa forma?
Porque você multiplica pela potência de 10, que muda a vírgula até onde
inicia a dízima, no caso aqui em 3, ou seja, duas casas decimais,
108,3333...  108  0,3333... .
Como 108 é inteiro, então você trabalha com o número 0,3333... e repete o
processo: N  0,3333...  3,3333...  N.10
Para eliminar a dízima após a vírgula, você faz a diferença N .10  N , que
é:
3 1
N.10  N  3,3333...  0,3333...  N.10  N  3  9 N  3 e N   .
9 3
1 324  1 325
O número Q.102 é: 108 + N = 108    .
3 3 3
82

325 325 13
Então, Q.102  .: Q   , que é a fração procurada.]
3 300 12
Exemplo [Dada uma dízima você pode calcular qual é a fração Q correspondente,
da seguinte forma: 0,142857142857...  142857,142857...  Q.106 .
Como o inteiro 142875 é igual à dízima, você não precisa repetir o processo, basta
fazer: Q.106  Q  142857,142857...  0,142857...  142857 .

Q106  Q  142857  1.000.000Q  142857 

142857 1
999999Q  142857.: Q   , que é a fração procurada.]
999999 7

Esses exemplos também mostram que é impossível representar um número


decimal que não possui nenhum período nas casas decimais em um número
racional.

Síntese
A princípio, foram apresentadas diversas bases numéricas, conjuntamente
com as respectivas operações de adição e multiplicação em cada base.
Com relação à teoria dos números, o conjunto dos números naturais e o
conjunto dos números inteiros, estes foram estudados com base nas propriedades
(da adição, multiplicação e diferença) e teoremas que os definem. O Princípio da
Indução Completa apresenta-se como uma ferramenta muito útil para a
demonstração de teoremas e validade de expressões. Com relação à divisibilidade,
o algoritmo de divisão de Euclides indica como encontrar múltiplos de números
inteiros e critérios de divisibilidade desses números. Além disso, estudou-se o
máximo divisor comum e o mínimo múltiplo comum, bem como a relação
existente entre os mesmos.
O conjunto dos números primos recebeu destaque especial, por possuir
características importantes não só na Álgebra, mas também em nossa vida
cotidiana.
A subseção sobre equações diofantinas lineares forneceu uma forma de
determinar, quando existe(m), sua(s) solução(ões).
No que concerne ao conjunto dos números racionais, foram estudadas e
investigadas suas respectivas estruturas e propriedades.
Com respeito ao conjunto dos números reais, foi demonstrado que o número
2 é um número real que não é racional. Foi lembrado, também, que      .
83

ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
Seção 1
1. Quais são os equivalentes a seguir:
a) Decimal de 1010101112 ; b) Hexadecimal de 34310 ; c) Octal de 15716 ; d)

Binário de 5278

2. Efetue a adição e a multiplicação dos números:


a) Binários 1000101 e 11011; b) Octais 472 e 1023; c) Hexadecimais A026 e
BCF1.

Seção 2.1
1. Mostre que, para qualquer natural a e b:

b)  a  2b   a 2  4ab  4b2 .
2
a) a + a = 2a;

2. Prove que o produto de quatro números naturais consecutivos somado com 1 é


sempre igual a um quadrado perfeito.
3. Sendo a, b, c, d e e números naturais, prove as expressões a seguir:
a) Se a < b e b  c  a  c ; b) Se a  b e c < d  a  c  b  d ; c) a  b  c ,
c  d eac bd ce

Seção 2.2
1. Prove que, em  , a  b  c   0  a  0 ou b  c .

2. Demonstre que todo inteiro ímpar é a diferença entre quadrados de dois


números inteiros.
3. Para a, b , mostre que  a  b  a  b   a 2  b2 .

4. Demonstre que se ac  bc e c < 0, então a  b .

Seção 2.3
1. Dadas as expressões a seguir, utilize o método da indução para prová-las.
1 1 1 1 n
a)    ...   ;
1 2 2  3 3  4 n   n  1 n  1

b) Desigualdade de Bernoulli 1  a   1  na , com a  1 ;


n

c) 2n3  3n2  3n  1 ;

d) an  bn   a  b   a n1  a n2b  a n3b2  ...  a 2bn3  abn2  bn1  ;


84

 1  1   1  1 
e) 1  1   ... 1  1    n  1 .
 1  2   n  1  n 

Seção 2.4
1) Resolva as expressões a seguir:
5 6
a)   i  2 i  3 ; b)   i  3 2i .
i 2 i 1

2) Prove por indução:


n1
xn  1 n1
a)  b.xi  b
i 0 x 1
, sendo n  N e b, x  ; b) m
i 0
i
 n , sendo m, n e

m  1.
3) Resolva os produtórios:
4 3 2  3 
 3  2i ; b)  4  2i  3 ; c)    2  i   .
i
a)
i 0 i 0 i 0  j 0 
Seção 2.5
1) Determine o critério de divisibilidade por 4.
2) Determine o critério de divisibilidade por 7.

Seção 2.6
1) Verifique que, se mdc  396,84  12 e 84 p  60  396 , então

mdc  396, 84  mdc 84, 60 .

2) Verifique que, se mdc  396,84  12 , então mdc  396  3, 84  3  12  3 .

3) Verifique que, se d  mdc  396,84  12 e m  mmc  396,84   6.216 , então

396  84
m .
d
4) Prove que, se m  mmc  a, b  , então mq  mmc  aq, bq  , com q   .

5) Se a, b e c são números inteiros e a e b são primos entre si, mostre que


mdc  b, c   mdc  ab, c  .

Seção 2.7
1) Caso seja possível, determine uma solução (em  ) para cada equação linear a
seguir:
a) 56 x  72 y  40 ; b) 57 x  99 y  78 ; c) 5x  11y  29 ; d) 6 x  15 y  51
2) Encontre (em  ), se possível, todas as soluções positivas das seguintes
equações:
85

a) 12 x  27 y  33 ; b) 24 x  138 y  18 ; c) 32 x  55 y  771 ; d) 62 x  11y  788

Seção 2.8
1) Verifique que  n  1! 1 e  n!  1 são primos entre si.

2) Determine os números primos entre 150 e 250.


3) Sejam a, b, p  . Prove que se p é primo e p | ab então p divide a ou p divide
b.
4) Demonstre que 7 é o único primo que pode ser escrito da forma n3 – 1.
5) Mostre que existem infinitos números primos da forma 6n + 5.
6) Prove que, se 2n  1 for primo, então n também é primo.

Seção 2.9
a c
1) Sabendo que  , a, b, c, d  e b, d  0 , mostre que:
b d
a b c d ac c p r
a)  ; b)  ; c) Seja ,  , mostre que
b d bd d q s
1 1
p r r  p
 0    0
q s s q
a ap  cq
d)  , com p, q  .
b bp  dq
1 1
p r p r r  p
2) Seja ,  , mostre que   0        0 .
q s q s s q

3) Prove que 10 é irracional.


4) Determine a forma racional das dízimas:
a) 0,8181818181... b) 1,047619047619... c) 1,07407407...
86

UNIDADE 2 – RELAÇÕES

Objetivo da Aprendizagem
Atingir a compreensão da definição e propriedades das relações para poder
trabalhar matematicamente com as relações de equivalência, classe de
equivalência, partição, conjunto quociente, relação de ordem e congruência.

Roteiro de Estudos
Seção 1 – Propriedades, Relação de Equivalência
Seção 2 – Classe de Equivalência
Seção 3 – Partição e Conjunto Quociente
Seção 4 – Relação de Ordem
Seção 5 – Congruência

Para início de conversa


Na matemática sempre há situações em que dois elementos quaisquer são
comparados entre si, principalmente em conjuntos, seja por suas semelhanças, ou
por suas diferenças.
De um jeito formal essa comparação pode ser tratada como uma relação de
equivalência, sendo esse o tópico principal desta unidade.
Continue, então, seus estudos nessa imprescindível área da matemática, a
Álgebra, e descubra por que ela é tão importante.
87

Seção 1 – Propriedades, Relação de Equivalência


A relação de equivalência já foi anteriormente estudada, quando você
estudou o conjunto dos números racionais. Entretanto, aqui você estudará este
tópico de forma mais aprofundada.
Uma relação de equivalência é reflexiva, simétrica e transitiva. Essas
propriedades já foram demonstradas anteriormente. Acompanhe a seguir alguns
exemplos sobre relação de equivalência.

Exemplo
[A relação de paralelismo de retas r ~ s  r // s é uma relação de equivalência,
pois: r ~ r ; r ~ s e s ~ r ; r ~ s e s ~ t  r ~ t .]
Exemplo [Mostre que a relação  m, n  ~  p, q   m  q  n  p , definida no

conjunto    , é relação de equivalência: De fato,


Reflexiva:   m, n        m, n  ~  m, n  , pois m  n  n  m .

Simétrica: sejam  m, n  ,  p, q      e suponha que  m, n  ~  p, q  . Devemos

mostrar que  p, q  ~  m, n  . Como  m, n  ~  p, q  é verdadeira, por definição tem-

se que m  q  n  p  p  n  q  m , em que a última equação foi utilizada a

comutativa da adição de números naturais. Portanto,  p, q  ~  m, n  .

Transitiva: sejam  m, n  ,  p, q  ,  r, s      tal que  m, n    p, q  e

 p, q    r, s  . Devemos mostrar que  m, n    r, s  . Como  m, n    p, q  e

 p, q    r, s  são verdadeiros, então m  q  n  p e p  s  q  r . Somando-se

s na equação mq n p e n na equação psqr segue que

m  q  s  n  p  s e  p  s   n  q  r  n . Igualando ambas as equações


e utilizando as propriedades comutativa e associativa da adição de  , deduz-se

que m  q  s  q  r   n  m  s  q  n  r   q  m  s  n  r .
Consequentemente, obtém-se  m, n  ~  r , s  , como requerido. Como a relação ~ é

reflexiva, simétrica e transitiva, ~ é relação de equivalência. ]

Seção 2 – Classe de Equivalência


O conceito de classe de equivalência é de fácil compreensão. Na verdade,
dada uma relação de equivalência ~ sobre um conjunto A, a classe de equivalência
88

de um dado elemento a  A é, simplesmente, o conjunto que consiste dos


elementos x  A que estão relacionados com a  A . Mais precisamente:

Definição - Seja A um conjunto, a  A , e seja ~ uma relação de


equivalência em A. A classe de equivalência de a segundo ~ é o conjunto
a  x  A | x ~ a .

Definição - Seja A um conjunto, a  A , e seja ~ uma relação de


equivalência em A. O conjunto de todas as classes de equivalência de ~ é dado por
A / ~  a | a  A , e é denominado conjunto quociente de A segundo a relação ~.

Proposição - Seja A conjunto e a e b classes de equivalência de uma


relação de equivalência ~ em A. Então são válidas as seguintes condições:
i) a  a ;

ii) a  b se e somente se a ~ b ;

iii) Se a  b , então a  b   .
Demonstração:
i) De fato, pois a ~ a .
ii) () Suponha que a  b . Pelo Item i), a  a e a  b , ou seja, a ~ b .
() Reciprocamente, assuma que a ~ b . Supor que x  a ; então x ~ a e, por

transitividade, x ~ b , dessa forma, x  b . Analogamente, supor que x  b ; então


x ~ b . Como a ~ b , por simetria tem-se b ~ a ; por transitividade segue que

x ~ a . Portanto, a  b .
iii) Suponha que a  b   . Então existe x  a e x  b , isto é,
x ~ a, x ~ b . Pela simetria tem-se que a ~ x e, pela transitiva, obtém-se a ~ b .

Pelo Item ii) tem-se a  b , contradizendo a hipótese.

Seção 3 – Partição e Conjunto Quociente


Você já ouviu falar de partição de um conjunto? Ainda não? O conceito de
partição é um conceito bem intuitivo. Existe uma forte relação entre tais conceitos,
isto é, o conceito de partição de um conjunto e o conceito de conjunto quociente,
que você estudará a seguir.
89

Definição - Seja A um conjunto não vazio. Denomina-se partição de A a


todo conjunto  A cujos elementos são subconjuntos não vazios de A tal que:

i) Se a, b  A e a  b , então a  b   ;

ii) A união dos elementos de  A é o conjunto A, isto é, C  A.


CP

Exemplo Se A   1, 2, 3, 4,5  , uma partição  A de A é dada por

A 2
1
3
4
5
 A  1, 2 , 3 , 4,5 .

Exemplo
Se P = { x  | x é primo} e C = { x  | x é composto}, então     P, C é

uma partição de  .


P

Teorema (Conjunto Quociente) - Se ~ é uma relação de equivalência sobre


um conjunto A, então o conjunto A / ~ das classes de equivalência é uma partição
de A.
Demonstração: Seja a  A / ~ . Como a relação ~ é reflexiva, tem-se que a
~ a, e assim a  a . Portanto, a   para todo a  A .

Sejam a , b  A / ~ de forma que a  b   , isto é, existe 


x a b . 
Como x  a segue que x ~ a e pela simetria a ~ x . Da mesma forma:

x  b  x ~ b e tem-se que a ~ b  a  b .
Para finalizar, basta provar que  a  A . Para cada
aP
a  A tem-se que a  A , e

assim a  A.
aP
Suponha x  A ; então x  x  x   a e A   a . Como
aP aP

a  A e
aP
A   a , então
aP
a  A.
aP

Exemplo
90

Dado A  1, 2, 3,4 e a relação ~  1,1 , 1,2  ,  2,1 ,  2,2  , 3,3 ,  4,4  , então

segue que A / ~  1,2 ,3 ,4 . Veja a ilustração:

A 2
1
3
4

Seção 4 – Relação de Ordem


Você certamente já conhece o que significa ordem definida nos conjuntos
, , ,  . Agora, generalizaremos este conceito para um conjunto não vazio

qualquer. Acompanhe a definição a seguir.


Definição - Uma relação de ordem parcial  A sobre um conjunto não
vazio A é uma relação reflexiva, antissimétrica e transitiva.

Relembremos os conceitos que foram citados:


1) Reflexiva:  x  A  x  A x ;
2) Antissimétrica:  x, y  A , se x  A y e y  A x então x  y ;

3) Transitiva:  x, y, z  A , se x  A y e y  A z então x  A z .

Se a  A b mas a  b escreve-se a  A b . A notação a  A b significa que b  A a e


a notação a  A b significa que b  A a .
Se quaisquer dois elementos a, b  A são comparáveis segundo  A , isto é, a  A b

ou b  A a , então se diz que a relação  A é relação de ordem total sobre A e que


A é totalmente ordenado.

Exemplo
A relação  x, y  , x  y  x  y é denominada relação de ordem habitual
(usual) em  e satisfaz as seguintes propriedades:
 x    x  x (reflexiva);
Sejam x, y  . Se x  y e y  x , então x  y (antissimétrica);
Sejam x, y, z  . Se x  y e y  z , então x  z (transitiva).

Exemplo
91

Mostre que a relação  A sobre A     tal que  a, b   A  c, d  se, e somente se,

a | c , b | d é uma relação de ordem parcial.

Devemos mostrar que  A é reflexiva, antissimétrica e transitiva. De fato,

Reflexiva:   a, b      ,  a, b   A  a, b  , pois a | a e b | b .

Antissimétrica: suponha que  a, b  ,  c, d      tal que  a, b   A  c, d  e

 c, d   A  a, b  . Devemos mostrar que  a, b    c, d  . Então, por definição,

a | c , b | d e c | a , d | b . Como a, b, c, d  , de a | c e c | a segue que a  c , e de

b | d e d | b segue que b  d , isto é,  a, b    c, d  .

Transitiva: suponha que  a, b  ,  c, d  ,  e, f      tal que  a, b   A  c, d  e

 c, d   A  e, f  . Devemos provar que  a, b   A  e, f  . De fato, como

 a, b   A  c, d  e  c, d   A  e, f  obtém-se que a | c e c | e ; b | d e d | f . Como já

foi demonstrado anteriormente, a divisibilidade satisfaz a propriedade transitiva,


donde a | e e b | f , ou seja,  a, b   A  e, f  , demonstrando-se, deste modo, que a

relação  A sobre    é relação de ordem parcial. Repare que tal ordem não é
total, visto que se m, n , nem sempre ocorre m | n ou n | m .

Definição - Seja A conjunto não vazio, parcialmente ordenado, com


relação de ordem  A , e seja S  A . Se existe b  S tal que s  A b,  s  S , então
b é um limite superior para S. Se existe c  S tal que c  A s,  s  S , então c é um
limite inferior para S.

Definição - Seja A um conjunto não vazio, parcialmente ordenado, com


relação de ordem  A , e seja S  A . Se existem m, M  S , tal que,  s  S e

relações m  A s , s  A M são verdadeiras, então m é um mínimo de S e M é um


máximo de S.

Observação - Da definição anterior pode-se concluir que m é um limite


inferior de S e M é um limite superior de S. Além disso, quando existem, o máximo
e o mínimo são únicos.

Definição - Seja A conjunto não vazio, parcialmente ordenado, e seja


S  A . O ínfimo de S é o máximo do conjunto dos limites inferiores de S, caso
92

exista, e o supremo de S é o mínimo do conjunto dos limites superiores de S, caso


exista.

Exemplo Seja A   e S  (0,1] . Geometricamente:

0 1

Os limites superiores de S são todos os números a  tal que a  1 ; os limites


inferiores de S são todos os números a  tal que a  0 ; o máximo de S é 1 e S
não possui mínimo; o ínfimo de S é 0 e o supremo de S é 1.

Exemplo
Seja A = {1, 2, 3, 4, 6, 9, 12, 16, 18, 36, 48, 81, 144, 162, 324, 1296} e S = {3, 6, 9,
12, 18, 36, 81}, em que a relação de ordem é dada por ― a está relacionado com b
se, e somente se a | b ’’. Para análise da situação, veja o gráfico a seguir.

1.296

144 324

48 162
36
S
16 12 18 81

4 6 9

2 3

Em relação a S: os limites superiores são 324 e 1.296; os limites inferiores são 1 e


3; o mínimo é 3; não possui máximo; o ínfimo é 3 e o supremo é 324.

Exemplo Seja A = {a, b, c, d, e, f, g, h, i, j} e S = {e, f}.

h i j

f g

d e
S

a b c
93

Em relação a S: os limites superiores são g, i, j; o limite inferior é b; não possui


máximo nem mínimo; o ínfimo é b e o supremo é g;

Seção 5 – Congruência

Definição - Seja m  1 um número inteiro. Dados a, b , diz-se que a é

côngruo a b módulo m , denotado a  b  mod m  , se m |  a  b  .

A congruência é uma relação de equivalência, ou seja, é reflexiva,


simétrica e transitiva.

Proposição - Para quaisquer que sejam a, b, c, m , com m  1 , tem-se


as propriedades:
i) Reflexiva: a  a  mod m  ;

ii) Simétrica: se a  b mod m  então b  a  mod m  ;

iii) Transitiva: se a  b mod m  e b  c mod m  , então a  c  mod m  .

Demonstração:
i) Se a  , então é claro que a  a  mod m  , pois m |  a  a  , isto é, m |0 .

ii) Suponha que a  b  mod m  ; então m |  a  b  . Portanto,

m |   a  b   m |  b  a  , isto é, b  a  mod m  .

iii) Suponha que a  b  mod m  e b  c mod m  sejam verdadeiras. Então

m |  a  b e m | b  c  . Por iv) da Propriedade 1,

m |  a  b    b  c   m |  a  c  , isto é, a  c  mod m  .

Proposição - Para quaisquer valores de a, b, c, d , m , com m  1 :

i) Se a  b  mod m  e c  d mod m  , então  a  c    b  d  mod m  e

 ac   bd mod m  ;
ii) Se a  b  mod m  , para qualquer k  tem-se que

 a  k    b  k  mod m e  ak   bk mod m  .


iii) Se a  b  mod m  , para qualquer k 1 tem-se que

 ak    bk [mod  mk ] .
94

iv) Se n é um inteiro positivo e se a  b  mod m  então a n  bn  mod m  .

Demonstração:
i) Suponha que a  b  mod m  e c  d mod m  ; então m |  a  b

e m | c  d  . Por iv) da Propriedade 1,

m |  a  b    c  d   m |  a  c   b  d  , ou seja,  a  c    b  d  mod m  .

ii) Suponha que a  b  mod m  ; então m |  a  b  . Por v) da Propriedade 1,

segue que m | k  a  b  , k  , isto é, m |  ak  bk  , k  . Portanto,

 ak   bk  mod m para qualquer k  .

iii) Suponha que a  b  mod m  ; assim m |  a  b  . Então existe q  tal

que a  b  qm . Multiplicando-se esta última equação por k  1 segue que

 a  b  k   qm k  ak  bk  q  mk  . Portanto,  ak    bk [mod (mk )] , como

requerido.
iv) Assuma que m seja um inteiro positivo e a  b  mod m  ;

então m |  a  b  . Como a n  bn   a  b   a n1  a n2b  ...  abn2  bn1  , segue

imediatamente que m |  a n  bn  , ou seja, a n  bn  mod m  .

Proposição - Sejam m, n , onde m > 1, n > 1 e a, b, c, d  .

i) Se a  b  mod n  e m | n então a  b  mod m  ;

ii) Se ac  bc  mod n  e mdc  c, n   1 , então a  b  mod n  ;

iii) Se ab  cd  mod n  , a  c  mod n  e mdc  a, n   1 , então

b  d  mod n  .

Demonstração:
i) Como a  b  mod n  , então n |  a  b  . Como m | n , por transitividade

segue que m |  a  b  , e assim a  b  mod m  .

ii) Como ac  bc  mod n  , tem-se que  n |  a  b  c . Como mdc(c, n) = 1,

sabe-se que n |  a  b  , donde a  b  mod n  .

iii) Se ab  cd  mod n  e a  c mod n  tem-se que n |  cd  ab  e

n |  a  c  , ou seja, existem inteiros z, w tais que: cd – ab = zn e a – c = wn.

Fazendo c = a – wn e substituindo em cd – ab = zn: (a – wn)d – ab = zn  ad –


95

wdn – ab = zn  ad – ab = zn – wdn  a  d  b    z  wd  n  n | a  d  b  .

Como mdc  a, n   1 , então n |  d  b  , ou seja, b  d  mod n  .

Conheça algumas aplicações da relação de congruência como, por


exemplo, os critérios de divisibilidade.

Exemplo a) Critério de divisibilidade por 2:


Um número inteiro pode ser escrito como soma de potências de 10. Na
divisão de 10 por 2 o resto é 0, que é representando na forma de congruência por
10  0  mod 2  . Pelas propriedades sobre congruência anteriormente estudadas essa

relação pode ser escrita como am10m  am 0m  mod 2 ,

am110m1  am1 0m1  mod 2 ,..., a110  a1 0  mod 2  e

a010.101  a0 0.101  mod 2  a0  0  mod 2 . Adicionando-se todas as parcelas

segue que am10m  am110m1  ...  a110  a0  0  mod 2 . Como todas as potências

de 10 são divisíveis por 2, para que o inteiro N  am10m  am110m1  ...  a110  a0

seja divisível por 2, basta que a0 seja divisível por 2, ou seja, a0  0  mod 2 .

b) Critério de divisibilidade por 3:


Dividindo-se 10 por 3 o resto é igual a 1; representando-se na forma de
congruência tem-se 10  1 mod 3 . Pelas propriedades estudadas sobre

congruência essa relação pode ser escrita como: am10m  am1m  mod 3 ,

am110m1  am11m1  mod 3 , ..., a110  a1.1 mod 3 e a0100  a010  mod 3 .

Adicionando-se todas as parcelas segue que


am10m  am110m1  ...  a110  a0   am  am1  ...  a1  a0  mod 3 . Dessa forma,

para que um número N seja divisível por 3, a soma de seus algarismos deve ser
divisível por 3.
c) Critério de divisibilidade por 11:
Quando se divide 10 por 11 o resto é igual a –1; representando-se isso na
forma de congruência obtém-se 10  1 mod 11 . Pelas propriedades estudadas

sobre congruência essa relação pode ser escrita como: am10m  am  1  mod 11 .
m

Se m é ímpar resulta em am10m  am  mod 11 , e se m é par a congruência se torna

am10m  am  mod 11 .


96

Sabendo que as potências de 10 possuem expoentes alternados em ímpar e


par, você pode escrever a seguinte congruência:
am10m  am110m1  ...  a110  a0   am  am1  ...  a1  a0  mod 11 , para m par e

am10m  am110m1  ...  a110  a0   am  am1  ...  a1  a0  mod 11 , para m

ímpar. Portanto, para que um número N seja divisível por 11, a soma de seus
algarismos com sinais alternados deve ser divisível por 11.

Exemplo Com a utilização das congruências você pode determinar qual é o resto da
divisão de 220 por 9, por exemplo.
a) Você inicia esse cálculo encontrando-se a potência de 2 mais próxima de
8 9
9: 2  1  mod 9  . Aqui você vê que: 9
3
1 .
1

O próximo passo é elevar ambos os membros da congruência 23  1  mod 9  a

um valor de tal forma que 23 se aproxime de 220 (que no caso é 6):

 2    1  mod 9 e 2
3 6 6 18
 1  mod 9 . Para encontrar 220, multiplicam-se ambos

os membros da congruência 218  1 mod 9 por 22, ou seja,

218  22  1 22  mod 9  220  4  mod 9  . Portanto, o resto da divisão de 220 por 9

é 4.
Exemplo Calcule o resto da divisão de 7123 por 15.
Sabemos que 72 = 49 e 49 = 3.15 + 4, ou seja, dividindo-se 49 por 15 encontra-se
que o resto é 4, permitindo escrever a congruência da forma 72  4  mod 15 .

Como 42 = 16 difere em 1 unidade de 15, então 7 2 2


 42  mod 15 e

74  16  mod 15  74  1  mod 15 .

Como o resultado é igual a 1, os cálculos se tornam mais fáceis, O próximo passo é


encontrar o valor que, multiplicado por 4, resulte em 123, ou o mais próximo disso,

isto é:  74   130  mod 15  7120  1  mod 15 .


30

Como você pode ver, faltam 3 unidades no expoente do 7 para alcançar 123, e você
já sabe que 72  4  mod 15 . Então você faz 7120  72  1 72  mod 15 , resultando

em 7122  4  mod 15 . O próximo passo é multiplicar cada membro da

congruência 7122  4  mod 15 por 7:


97

7122  7  (4  7)  mod 15  7123  28  mod 15 . O resto da divisão de 28 por 15 é 13

e a congruência fica: 7123  13 mod 15 , e assim, o resto da divisão de 7123 por 15 é

13.

Exemplo Calcule o resto da divisão de 536 por 3:


Seguindo o raciocínio do Exemplo b) anterior: 52  1 mod 3 , porque 52 é 25 que

dividido por 3 dá um resto 1. Assim, encontra-se facilmente o resultado final:


52  118  mod 3  536  1 mod 3 , em que 1 é o resto da divisão de 536 por 3.

Definição - Seja n , n  0 . O sistema completo de restos módulo n é o


conjunto S  0, 1, 2,..., n  1 de n inteiros, tal que a  é congruente módulo n

a um único elemento de S.

Como um exemplo, na relação de congruência a  b  mod 5 , b pode ser 0,

1, 2, 3 ou 4: se a for múltiplo de 5: 10  0  mod 5 ; se a for par não múltiplo de 5:

6  1 mod 5 , 12  2  mod 5 , 8  3  mod 5 , 14  4  mod 5 .

O conceito de classe de equivalência, definida na Seção 2, é utilizado na


relação de congruência, por esta ser uma relação de equivalência. As classes de
equivalência da relação de congruência são chamadas de classes residuais módulo
n.
Por exemplo, o sistema completo de restos módulo 3 é {0, 1, 2} e essas são
as classes residuais módulo 3, que são escritas como 0 , 1 e 2 , em que
0  ..., 6, 3,0,3,6,9,... , 1  ..., 7, 4,  1,1, 4,7,... e 2  ..., 5, 2,2,5,8,... .
Generalizando, o conjunto das classes residuais módulo n é representado por

 
 n  0, 1, 2,..., n  1 e é denominado conjunto dos inteiros módulo n. Qualquer

inteiro b tal que a  b é um representante da classe residual a .

Proposição - Existem exatamente n classes de resíduos módulo n.


Demonstração: Primeiramente é preciso demonstrar que as classes
residuais são diferentes entre si, ou seja, se 0  a  n e 0  b  n e a  b , e isso

implica que a  b .

Demonstraremos por contradição. Suponha que a b , isto é,


a  b  mod n  , em que b é o resto da divisão de a por n , isto é 0  b  n . O
98

mesmo raciocínio pode ser utilizado para a , e assim conclui-se que a é o resto da
divisão de b por n , donde a = b, contrariando a hipótese.
Seja a  ; pelo algoritmo de Euclides, existem q, r  tal que a  qn  r , com

0  r  n . Como a  r  qn  n |  a  r  , e assim a  r  mod n  , donde a  r .

Para 0  r  n , a é uma das classes 0, 1, 2,...,  n  1 .

Definição - As operações de adição e multiplicação para as classes


residuais módulo n são definidas como sendo:

i) Adição:  a , b  n  a  b   a  b  ;

ii) Multiplicação:  a , b  n  a  b   a  b  .

Note que as operações  e  são a adição e a multiplicação de elementos de  n ,


respectivamente, enquanto que as operações + e  são a adição e a multiplicação de
números inteiros, respectivamente.
É necessário verificar que tais operações são bem definidas. Para tanto,

deve-se provar que, se x  a e y  b então  x  y    a  b  e  x  y   a  b  , isto

é, a classe de equivalência independe do representante escolhido para representá-la.


Com efeito, se x  a e y  b , então x  a  mod n  e y  b mod n  . Como já foi

demonstrado anteriormente, as relações de congruência  x  y    a  b  mod n  e

 x  y    a  b mod n  são válidas, e, assim, deduz-se que  x  y    a  b e

 x  y    a  b  , como requerido.
Proposição - Sejam  a , b, c n . As operações de adição e

multiplicação em  n satisfazem as seguintes propriedades:


Adição:
i) Comutativa: a  b  b  a ;

ii) Associativa: a   b  c    a  b   c ;

iii) Elemento Neutro: a  0  0  a  a ;

iv) Simétrico: a  (a)  a  (n  a)  0 ;


Multiplicação:
v) Comutativa a  b  b  a ;

vi) Associativa: a   b  c    a  b   c ;
99

vii) Elemento Neutro: 1  a  a  1  a

viii) Distributiva: a   b  c    a  b    a  c  .

Demonstração: Adição:

i) a  b   a  b   b  a   b  a .

ii)  
a  b  c  a   b  c   a   b  c    a  b   c    a  b   c 


 a b c .
iii) a  0   a  0  a ; 0  a   0  a   a.

iv) a   a   a   n  a   a   n  a   n  0

Multiplicação:

v) a  b   a  b    b  a   b  a .

 
vi) a  b  c  a   b  c   a   b  c    a  b   c    a  b   c 


 a b c .
vii) a  1   a 1  a ; 1  a  a . .

Adição e Multiplicação:
viii)

 
a  b  c  a   b  c   a   b  c    a  b  a  c    a  b    a  c  

 
 a  b   a  c .

Com base nessas propriedades você pode montar as tabelas de adição e


multiplicação de, por exemplo, 12  0,1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9,10,11 (repare que na
tabela, para facilitar a notação, não colocamos a barra acima dos elementos de
12 ):
 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 0
2 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 0 1
3 3 4 5 6 7 8 9 10 11 0 1 2
4 4 5 6 7 8 9 10 11 0 1 2 3
5 5 6 7 8 9 10 11 0 1 2 3 4
6 6 7 8 9 10 11 0 1 2 3 4 5
7 7 8 9 10 11 0 1 2 3 4 5 6
8 8 9 10 11 0 1 2 3 4 5 6 7
9 9 10 11 0 1 2 3 4 5 6 7 8
10 10 11 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
100

11 11 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0

 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
2 0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10
3 0 3 6 9 0 3 6 9 0 3 6 9
4 0 4 8 0 4 8 0 4 8 0 4 8
5 0 5 10 3 8 1 6 11 4 9 2 7
6 0 6 0 6 0 6 0 6 0 6 0 6
7 0 7 2 9 4 11 6 1 8 3 10 5
8 0 8 4 0 8 4 0 8 4 0 8 4
9 0 9 6 3 0 9 6 3 0 9 6 3
10 0 10 8 6 4 2 0 10 8 6 4 2
11 0 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1

Os elementos da tabela da adição são calculados segundo a diferença entre


12, e o resultado da adição, quando o valor passa de 11, ou seja:
11  9  20  20 12  8 , 11  1  12  12 12 = 0 , etc.
Para que você possa determinar os elementos da tabela da multiplicação,
basta calcular o resto r  r  ab,12 , ou seja, se fizer 11 9  99 e dividir 99 por 12:

99 12
96 8 , o resto 3 é o resultado que deve ser colocado na tabela.
3

Exemplo Efetuando-se as oito propriedades para os elementos 1, 7 e 11 de 12 :


Adição:

i) 1  7  1  7   8 , 7  1   7  1  8 .

7  11   7  11  6 , 11  7  11  7  6 . Obs: 7 + 11 = 18 e 18 – 12 = 6.

1  11  1  11  0 , 11  1  11  1  0 .

 
ii) 1  7  11  1   7  11  1  6  1  6   7

 1  7  11  1  7  11  8 11  8  11  7 . Obs: 8 + 11 = 19 e 19 – 12 = 7.


iii) 1  0  1  0   1 , 7  0   7  0  7 e 11  0  11  0  11 .
101

iv) 1  12  1  1  11  1  11  0 , 7  12  7   7  5   7  5  0 e

11  12 11  11  1  11 1   0

Multiplicação:

v) 1  7  1  7   7 , 7  1   7  1  7 .

77 12
7  11   7 11  5 , 11  7  11 7  5 . Obs: 7  11  77   72 6
5

1  11  1 11  11 , 11  1  11 1  11.

 
vi) 1  7  11  1   7 11  1  5  1  5  5 ,

 1  7   11  1 7  11  7  11  7  11  5 .


vii) 1  1  1 1  1 , 7  1   7  1  7 e 11  1  11 1  11

Adição e Multiplicação:

 
viii) 1  7  11  1   7  11  1  6  1  6   6

 1  7    1 11  1 7   111  7 11  7  11  6 .

Quando ocorre a  b  1 , diz-se que a e b são invertíveis e um é o


inverso do outro. Observe na tabela da multiplicação de 12 que nem todos os

elementos são invertíveis; apenas os elementos 1 , 5 , 7 e 11 o são, em que cada


qual é seu próprio inverso. Observe as tabelas de adição e multiplicação de

 
 4  0,1, 2, 3 (repare que nesta tabela, para facilitar a notação, não colocamos a

barra acima dos elementos de  4 ):


 0 1 2 3
0 0 1 2 3
1 1 2 3 0
2 2 3 0 1
3 3 0 1 2

 0 1 2 3
0 0 0 0 0
1 0 1 2 3
2 0 2 0 2
3 0 3 2 1
102

Nesse caso, os elementos invertíveis são 1 e 3 .

Teorema - Seja a  n um elemento não nulo. Então a  n é invertível

se, e somente se, mdc  a, n   1 .

Demonstração:    Se a  n possui inverso b  n , então a  b  1 ,

isto é, ab  1  mod n   n |  ab  1 . Portanto, existe q  tal que ab  1  qn ,

isto é, ab  qn  1. Seja d  mdc  a, n  ; então d | a e d | n . Pela Propriedade 1,

Item v), d |  ab  qn   d |1 . Como d  0 , tem-se que d  1 . Portanto,

mdc  a, n   1
.
  Seja a  n . Como, por hipótese, mdc  a, n   1 , pelo Teorema de Bézout,

existem b, c  tal que ab  nc  1  ab  1  nc  ab  1  mod n   a  b  1 .

Desta forma, o inverso da classe a é a classe b , e assim a é invertível.


Vamos aplicar tal proposição para saber se um dado elemento é invertível?

74 17 6 5 1
Exemplo [ 17 em  74 é invertível, pois mdc 17,74  1 :
4 2 1

O inverso de 17 é 61 pois 1 = 6.1 – 5  1 = 6.1 – (17 – 6.2)  1 = – 17 + 6.3  1 =


– 17 + (74 – 17.4).3  1 = 3.74 – 13.17. Como – 13 multiplica 17 e sabendo que n
= 74: 74 – 13 = 61
Calculando-se 17.61 = 1037 e dividindo por 74 para determinar o resto:
1037 74
1036 14
1

Então, de acordo com a proposição: ab  1 mod n   17  61  1  mod 74  .]

Exemplo [O número 8 em 149 é invertível, pois mdc 149,8  1 :

149 8 5 3 2 1
18 1 1 1

Calculando-se o inverso de 8:
1 = 3 – 2.1  1 = 3 – (5 – 3.1).1  1 = – 5.1 + 3.2  1 = – 5.1 + (8 – 5.1).2 
1 = 8.2 – 5.3  1 = 8.2 – (149 – 8.18).3  1 = – 149.3 + 8.56.
O inverso de 8 é 56 e 8  56  1 (mod 149) .]
103

Síntese
A Unidade 2 tratou da relação de equivalência, sua definição e
propriedades. Esse estudo foi estendido para classe de equivalência, partição e
conjunto quociente. Além disso, abordou-se o conteúdo relação de ordem, em que
foi definido limite superior, limite inferior, máximo, mínimo, ínfimo e supremo.
Finalmente, definiu-se congruência, que é uma relação de equivalência, e é de
vasta utilização e aplicação não somente na matemática, mas também em diversas
áreas correlatas.
ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
Seção 1
1) Verifique que  a, a  , b, b  ,  c, c  ,  a, c  ,  c, a  é uma relação de equivalência

em A  a, b, c .

2) Verifique que  a, a  ,  a, b  , b, a  , b, b  , b, c  não é uma relação de

equivalência em A  a, b, c .

3) Determine se  x, y   | x  y  8 é uma relação de equivalência em  .

3) Determine se x, y   | x  y  p, p primo é uma relação de equivalência em

.

Seção 3
1) Dado A  x   | 0  x  12 e x ~ y  x  y  3k , k  , determine A/~.

2) Dado A  x   | 4  x  4 e x ~ y  x2  2 x  y 2  2 y , determine ~ e A/~.

3) Determine a relação ~ dado o conjunto A / ~  1, 2,3 , 4 , 5,6 .

4) Observe a partição A/~ dada a seguir e determine a relação ~ e A/~:

0 A

1 2

Seção 4
104

O conjunto A  2,6,12 é totalmente ordenado, pois 2  6  12 , ou seja, 2

divide 6 e 12 e 6 divide 12.


15
Se considerarmos A  3,5,15 , você tem que , sendo que 3 divide 15 e 5
3 5
divide 15, mas 3 não divide 5. Então, o conjunto é parcialmente ordenado. Com
base nisso, identifique quais dos conjuntos a seguir são parcialmente ordenados (p)
ou totalmente ordenados (t):
( )   a, b  ,  b, b  ,  c, c  ,  a, b  ,  b, c  ,  a, c  sobre A  a, b, c

( ) relação de divisão sobre A  {1, 2, 3, 4, 6, 9, 12, 16, 18, 36, 48, 81, 144, 162,
324, 1296}

( ) ordem habitual sobre A  1, 2,3,5,7,8,11

( ) A = {a, b, c, d, e, f, g, h, i, j}

h i j

f g

d e

a b c

2) Determine o limite superior, inferior, o ínfimo, supremo, máximo e mínimo de


A  x   | 0  x 2  3 , em que a relação de ordem é a usual.

3) Seja A   e S  [1,2) , onde se considera a ordem usual. Determine os limites


superiores, limites inferiores, ínfimo, supremo, máximo e mínimo.
4) Dado A  2,3,5,6,10,15,30 , em que a relação de ordem é a divisão.

Determine o limite superior, limite inferior, ínfimo, supremo, máximo e mínimo do


subconjunto S  6,15 .

Seção 5
1) Utilizando a relação de congruência, estabeleça o critério de divisibilidade por 4,
5 e 9.
2) Dados a, b, c, n   | b, c, n  1 e d  mdc b ,c  , prove que se ab  1 mod n  e

ac  1 mod n  , então a d  1 mod n  .

3) Encontre o resto da divisão de:


a) 1127 por 12; b) 720 por 20; c) 5162 por 29.
105

4) Qual é o sistema completo de restos módulo 4, quais são suas classes residuais e
como são?
5) Construa as tabelas de adição e multiplicação de  5 e identifique quais são os
elementos invertíveis.
6) Verifique em cada caso se os elementos são invertíveis; caso sejam determinar
seus respectivos inversos:
a) 34 em  97 ; b) 36 em 180 ; c) 83 em  321 ;

7) Mostre que se a  b em  n então mdc  a, n   mdc  b, n  .

UNIDADE 3 – LEIS DE COMPOSIÇÃO INTERNA - OPERAÇÕES

Objetivos da Aprendizagem
- Compreender a definição, propriedades e elementos das operações ou leis de
composição internas.
- Operacionalizar as propriedades das leis de composição interna e identificar se
dois elementos de um dado conjunto, quando operados entre si, resultam num outro
elemento que ainda pertença ao mesmo conjunto dado.

Roteiro de Estudos
Seção 1 – Definição e Propriedades
Seção 2 – Propriedade Associativa
Seção 3 – Propriedade Comutativa
Seção 4 – Elemento Neutro
Seção 5 – Elementos Simetrizáveis
Seção 6 – Elementos Regulares
Seção 7 – Propriedade Distributiva
Seção 8 – Parte Fechada para uma Operação

Para início de conversa


Bem vindo, caro(a) estudante, ao estudo do assunto operações, também
denominado leis de composição internas. Tal assunto é simples e de fácil
compreensão. Um exemplo de uma operação sobre um conjunto é a adição em  ,
em que  denota o conjunto dos números naturais, isto é, a aplicação
 :    
  , que associa a cada par de números naturais sua respectiva soma:

( x, y)   x  y . Outro exemplo sobre uma operação que você já está

acostumado(a) a realizar é a multiplicação de números inteiros  :    


 ,
106

que associa a cada par de números inteiros seu respectivo produto:



( x, y)  x y .
De uma forma natural, podemos pensar que uma dada operação (ou lei de
composição interna) definida sobre um conjunto não vazio A é uma aplicação
f : A  A 
 A . Desta forma, se operamos dois elementos de um conjunto não
vazio A resultará ainda em um elemento pertencente ao conjunto A.

Seção 1 – Definição e Propriedades


Salvo menção em contrário, será assumido, nesta unidade, que A seja um
conjunto não vazio e que  é uma operação sobre A, isto é,  : A  A 
 A é uma
aplicação. Formalizando, então, o conceito acima mencionado, temos:

Definição - Se A é um conjunto não vazio, uma aplicação f : A  A 


A
é uma operação sobre A ou lei de composição interna em A.

Para simplificar a notação, ao invés de se utilizar a denominação ―lei de


composição interna‖ será utilizada a denominação ―operação‖. Ainda, para
simplificação da notação, se a operação f : A  A 
 A associar ao par ordenado

 x, y  o elemento x  y , tal notação pode ser utilizada para indicar o elemento

f  x, y  , isto é, f  x, y   x  y , e diz-se que a operação é  . Além disso, pode-se

trabalhar com a notação aditiva f  x, y   x  y , ou mesmo com a notação

multiplicativa f  x, y   x  y . Nestes casos a operação  é indicada por  e  ,

respectivamente. Repare, caro(a) estudante, que mesmo que as notações aditiva e


multiplicativa estiverem sendo adotadas, isso não significa que estaremos
trabalhando com a adição e multiplicação usuais de um dado conjunto numérico.
Nestes casos, as operações  e  podem ser qualquer operação sobre qualquer
conjunto não vazio considerado. Acompanhe os exemplos dados a seguir.

Exemplo [Considere a potenciação em  dada por f :    


 ,

f  x, y   x y . Evidentemente, esta aplicação é uma operação sobre  , pois se x e y

são números naturais, então x y também será um número natural. Entretanto, ao se


considerar o conjunto dos números inteiros  ao invés de  , esta operação não
poderia ser estendida, pois a imagem do par  5, 2 mediante a aplicação
107

1
  dada por f  x, y   x y é o elemento
f :     , mas este elemento não
25
pertence a  .]

Exemplo [Seja a radiciação em  dada por f  x, y   x  y . Ao considerar-se o

conjunto dos naturais, esta aplicação não é uma operação. De fato, como
contraexemplo, tome o par ordenado de números naturais  3, 4  cuja imagem é o

elemento 3  4  12  2 3 . Como o elemento 2 3  , a radiciação não pode


ser definida em  .]

Exemplo [Considere o conjunto de matrizes quadradas 2  2 com entradas reais,


denotado por 2    , munido da adição usual de matrizes:

f : 2     2    
 2    tal que se A, B  2    , então

 f ( A, B)  A  B . Como A  B  2    , a adição de matrizes é uma operação

sobre o conjunto 2    .]

Seção 2 – Propriedade Associativa


Nesta seção você estudará a propriedade associativa de uma operação 
sobre um conjunto não vazio A . Você se recorda de que no ensino fundamental os
professores ensinavam que não importa qual a ordem da resolução dos parênteses
quando se efetua a adição de números naturais? Por exemplo, ao calcular-se
5   4  11 e  5  4  11 , as expressões resultarão em um mesmo número natural,

a saber, 20. Mais precisamente, você pode tanto calcular primeiramente a


expressão  4  11 e depois somar 5 a esse resultado quanto calcular a expressão

 5  4 e somar 11 a esse último resultado que chegará ao mesmo número natural

20.
Isso significa que a ordem em que os parênteses aparecem na expressão é
irrelevante, ou seja, não importa se você resolve primeiramente a adição dos dois
últimos números  4  11 e depois adiciona 5, ou se efetua primeiro  5  4  e

depois soma 11. Esta propriedade simples de ser compreendida é denominada


propriedade associativa. Formalmente, define-se tal propriedade do seguinte
modo:
108

Definição - Diz-se que a operação  tem a propriedade associativa se é


válida a implicação lógica  x, y, z  A   x  y   z  x   y  z  .

Você entendeu o conceito de associatividade? Ao final da unidade


listaremos alguns exemplos triviais e alguns menos triviais sobre operações
associativas, para que você possa compreender o conceito em profundidade.

Exemplo [As adições usuais em , , ,  e  são operações associativas, como


você bem sabe. Da mesma forma, as multiplicações usuais em , , ,  e 

também são operações associativas. Se n    denota o conjunto das matrizes

quadradas de ordem n com entradas reais, a adição e a multiplicação usuais de


matrizes em n    também são operações associativas.]

Exemplo [Um exemplo de uma operação que não é associativa é a divisão em  :


de fato,  40 :8 : 5  1 , enquanto que 40 : 8: 5  25 .]

Exemplo [Outro contraexemplo trivial é a potenciação em  : tomando-se x  3 ,

y2 e z4 tem-se que  x   3 


y z 2 4
 6561 , enquanto que

y 
z
2 4

x 3  43046721 .]

Seção 3 – Propriedade Comutativa


Assim como foi definido o conceito de associatividade, definiremos
comutatividade de uma operação  sobre um conjunto não vazio A. O conceito de
comutatividade também é um conceito simples de ser entendido e aplicado.
Apresentamos um exemplo para que você possa relembrá-lo.
Exemplo [Considere a operação de multiplicação dos números inteiros  4   8 e

8   4  . Evidentemente, o produto destes números resulta em um mesmo número

inteiro, a saber, -32. Então, neste caso, não importa a ordem com que você efetue a
operação, isto é, tanto faz multiplicar (– 4) por 8 ou 8 por (– 4). Em resumo, se uma
operação  é comutativa é válida a definição a seguir.]

Definição - Diz-se que a operação  tem a propriedade comutativa se é


válida a implicação lógica  x, y  A  x  y  y  x.
109

Como você perceberá, nem todas as operações sobre um dado conjunto são
comutativas. No caso em que a operação não é comutativa, você deve exibir um
contraexemplo, isto é, um exemplo no qual a comutatividade não se aplica. Estude
com bastante atenção os exemplos que são apresentados.

Saiba mais (Você está familiarizado com a lógica matemática? Caso não esteja,
recomendamos o livro FILHO, E.A., Iniciação à Lógica Matemática. 2 ed. São
Paulo: Nobel, 2002.)

Exemplo [As adições usuais em , , ,  e  são operações comutativas. Da


mesma forma, as multiplicações usuais em , , ,  e  também são operações
associativas.]

Exemplo [A adição em n    é uma operação comutativa (prove!). Entretanto, a

multiplicação usual de matrizes em n    não o é: basta considerarmos o

1 0  1 0
conjunto n    e as matrizes M    e N   em n    . Assim,
1 1   1 0

1 0   1 0
tem-se que M  N    , mas N  M    , donde N  M  M  N .]
 2 0  1 0

Exemplo [Considere o conjunto das funções de  em  denotado por   . Se


considerarmos, em   , a operação de composição de funções, tal operação não é
comutativa: como contraexemplo, sejam f  x   x  2 e g  x   x 3 . Então

 f  g  x   f  g  x    x3  2  g  f  x   g  f  x     x  2 2
3
e

 x3  6 x2  12 x  10 , isto é, f  g  g  f .]

Seção 4 – Elemento Neutro


Quando se pensa em elemento neutro, automaticamente vem à nossa mente
um elemento que não ―altera‖ a estrutura que está sendo estudada. Você poderia
dar um exemplo de uma operação e de seu respectivo elemento neutro? Se você
lembrou da adição em  (ou , , ,  ) e verificou que o número zero é o
elemento neutro, ou mesmo se você considerou a multiplicação em  (ou
, , ,  ) e constatou que o número 1 é o elemento neutro para esta operação,

você seguramente acertou. Parabéns!


110

É claro que você poderia pensar em muitas outras operações com seus
respectivos elementos neutros. Mas cuidado: nem sempre uma operação possui
elemento neutro, como será investigado no decorrer desta seção. Formalizando-se
esta ideia, veja a definição a seguir.

Definição - Diz-se que e  A é um elemento neutro à esquerda para a


operação  quando é válida a seguinte implicação lógica:  x  A  e  x  x .
Analogamente, diz-se que e  A é um elemento neutro à direita para a operação 
quando é válida a seguinte implicação lógica:  x  A  x  e  x . Se e  A é
elemento neutro à esquerda e à direita para a operação  , então se diz que e é
elemento neutro para esta lei de composição interna.

Provavelmente você já estudou o conceito de elemento neutro, mesmo que


não profundamente. Exibiremos alguns exemplos para que você relembre tal
conceito.

Exemplo [Considerando as adições usuais em , , , ,  , sabemos facilmente


que o elemento neutro é o número zero, pois:  x    x  0  0  x  x (aqui só
foi apresentado para  , mas evidentemente nos casos em que se considera
, , ,  , o raciocínio é o mesmo).]

Um fato importante que você pode verificar facilmente é o seguinte: se a


operação  em questão é comutativa, e se a operação possuir elemento neutro à
direita (esquerda), então este será o elemento neutro da operação.

Exemplo [Considerando as multiplicações usuais em , , , ,  , você verifica


que o elemento neutro é o número 1, pois:  x    x 1  1 x  x (aqui só foi
feito para  , mas evidentemente nos casos em que se considera , , ,  , o
raciocínio é o mesmo).]

Exemplo [O elemento neutro para a operação de adição em mn    é a matriz

nula do tipo 0mn , em que o conjunto mn    denota o conjunto de matrizes com

m linhas e n colunas, cujos elementos pertencem a  .]


111

Exemplo [A operação de subtração em  admite um elemento neutro à direita, a


saber, o número 0, pois  x    x  0  x . Entretanto, tal operação não possui
elemento neutro à esquerda (logo, não possui elemento neutro), pois não existe
nenhum número inteiro e que satisfaça a implicação lógica  x    e  x  x .]

Exemplo [O elemento neutro da operação composição de funções em   é a


função identidade de , denotada por i  x   x,  x   , pois

i  f  f  i ,  f   .]

Agora que você já está familiarizado com o conceito de elemento neutro,


acompanhe uma propriedade desse elemento:

Proposição - Se o elemento neutro de uma dada operação  existe, então


este é único.
Demonstração: Exibiremos uma técnica muito utilizada em matemática
para se demonstrar que um dado elemento (conjunto etc.) é único: para se
demonstrar que um dado elemento (conjunto etc.) é único, basta tomarmos dois
elementos neutros quaisquer e demonstrar que eles são iguais.
Com efeito, sejam e1 e e2 dois elementos neutros quaisquer de uma dada
operação  . Como e1 é elemento neutro de  segue que e2  e1  e2 .

Analogamente, como e2 é elemento neutro de  segue que e2  e1  e1 . Assim,

tem-se que e1  e2 , concluindo-se a demonstração.

Seção 5 – Elementos Simetrizáveis


Dentre as propriedades anteriormente estudadas de uma operação  sobre
um conjunto não vazio, o estudo de elementos simetrizáveis pode parecer, à
primeira vista, um assunto mais complexo de ser compreendido. Felizmente esta
impressão não é verdadeira.
Você verá inicialmente, mediante um exemplo, a simplicidade desta
propriedade.
Vejamos: considere o conjunto dos números inteiros  munido com a
operação de adição. Então, o elemento 5 é simetrizável para esta operação, pois
existe 5  tal que  5  5  5   5  0  . Pode-se generalizar este
112

conceito: todo número inteiro é simetrizável para esta operação, pois


 z  ,    z    tal que   z   z  z    z   0  .

Veja mais um exemplo simples: considerando ainda o conjunto  munido


com a operação de multiplicação, o número –1 é simetrizável, pois existe 1
tal que  1   1   1   1  1 , porém o número 8 não o é, porque não existe

nenhum número inteiro z que satisfaça a equação 8  z  z  8  1 .


Tendo como base tais exemplos, você pode perceber alguns fatos
importantes. O primeiro fato é a necessidade da existência do elemento neutro da
operação, ou seja, para que um elemento (de um dado conjunto não vazio qualquer
A, munido com uma operação  ) seja simetrizável, é necessário que a operação
possua elemento neutro. Em outras palavras, se A (com  ) não admite elemento
neutro, então A não possui nenhum elemento simetrizável. Entretanto, mesmo que
o conjunto A (com  ) possua elemento neutro, pode haver algum elemento de A
que não seja simetrizável. Formalizando todos estes conceitos, segue a definição.

Definição - Diz-se que x  A é um elemento simetrizável para uma


operação  , que tem elemento neutro e, se existe x  A tal que x  x  x  x  e .
O elemento x é denominado simétrico de x para a operação  .

Atenção: Se a notação utilizada é a notação aditiva    , o simétrico de x

também será denominado oposto de x e denotado por –x. Se a notação adotada é a


multiplicativa  , o simétrico de x também será denominado inverso de x e

denotado por x 1 .

Exemplo [Considere o conjunto 23    munido com a operação de adição de

 a b c
matrizes e seja M   .
d e f 
Então M é simetrizável para esta operação, pois existe
 a b  c  0 0 0
M     23    tal que M  M   M   M    , onde
  d e  f  0 0 0 23
M  é o simétrico de M.]
113

Exemplo [Considere o conjunto 22    munido com a operação de

a b 
multiplicação de matrizes e seja M    uma matriz tal que a  d  b  c  0 .
c d 
Então M não é simetrizável, pois como seu determinante é igual a zero tal matriz
não é invertível (simetrizável).
Baseados em tal fato, podemos afirmar que toda matriz pertencente a
nn    , cujo determinante é diferente de zero, possui inversa (simétrico) e toda

matriz pertencente a nn    , cujo determinante é igual a zero, não possui

inversa (simétrico).]

Exemplo [Considere o conjunto das funções em  ,   munido com a operação


de composição de funções. Então a função f :  
 dada por

f  x   x  1,  x  é simetrizável, pois existe g :  


 dada por

g  x   x  1,  x  tal que  g  f  x   g  f  x   g  x  1   x  1  1 
 x  i ( x) e  f  g  x   f g x   f x  1  x  1 1 x  i  x  , ou seja, a

função g é o simétrico da função f. Mais geralmente, toda função bijetora (injetora


e sobrejetora) é invertível, donde existe sua respectiva inversa (ou simétrico) para a
operação composição de funções. Porém, se a função não é bijetora, a mesma não
possui inversa (simétrico) para tal operação.]

Depois de você ter estudado vários exemplos, acompanhe duas proposições


com respeito ao elemento simetrizável.

Proposição - Seja  uma operação sobre A , em que  é associativa e


possui elemento neutro e. Se x  A é simetrizável, então o simétrico de x é único.
Demonstração: Como de costume, suponha que existam dois simétricos
x e x de x. Então, por definição e por hipótese, segue que
x  x  e  x   x  x    x  x   x  e  x  x . Assim, o simétrico de x é único.

Proposição - Seja  uma operação sobre A com elemento neutro e. Então


são válidas as seguintes condições:
a) Se x  A é simetrizável com simétrico x , então x também é simetrizável e

 x  x .
114

b) Se  é associativa e se x, y  A são simetrizáveis, então x  y também é

simetrizável e  x  y   y  x .

Demonstração:
a) Como x é o simétrico de x, tem-se que x  x  x  x  e . Isto significa que x é

o simétrico de x , ou seja,  x   x .

b) Com efeito, tem-se:

 y  x   x  y    y  x  x  y   y   x  x   y   y  e   y  y  y  e


Analogamente, segue que:

 x  y    y  x   x  y   y  x   x   y  y  x   x  e   x  x  x  e.

Atenção: Lembre que é imprescindível a resolução de exercícios para o


sucesso de seu aprendizado matemático, então realize todas as atividades propostas
neste livro didático.

Seção 6 – Elementos Regulares


Assim como você estudou o conceito de elementos simetrizáveis, você
também estudará o conceito de elementos regulares. Na verdade, informalmente,
tal conceito está diretamente relacionado com a propriedade da lei do
cancelamento. É um conceito importante que nem sempre é válido para qualquer
operação  sobre um conjunto não vazio A. Como de costume, começaremos a
seção com um exemplo, para que você possa ter uma ideia geral do assunto.
Considere o conjunto dos números naturais  munido com a operação
usual de adição. Se tomar a equação 20  x  20  y , onde x, y  , é claro que
resultará em x  y . Em outras palavras, pode-se cancelar o elemento 20 da
equação inicial. Assim, pode-se dizer que o número 20 é regular (ou simplificável)
em relação à adição em  .
Seja agora  munido com a operação de multiplicação usual e considere a
3 3
seguinte equação:    x     y , onde x, y  . Evidentemente, você pode
4 4
3 3
cancelar a fração resultando na equação x  y . Portanto, é dito que é regular
4 4
em relação à multiplicação em  .
Se você, de outra forma, escolher o número zero, verificará que este não é
regular para a multiplicação em  . Para verificar este fato, apresentamos um
115

contraexemplo: 0  5  0   2  , mas 5  2 . Isto significa que não se pode cancelar

o zero quando se considera a multiplicação em  , pois resultaria em um erro


lógico.
Você entendeu o conceito de elemento regular? Veja a seguir sua definição
formal.

Definição - Diz-se que um elemento a  A é um elemento regular à


esquerda (ou simplificável) em relação à operação  se a seguinte implicação
lógica é verdadeira:  x, y  A, a  x  a  y  x  y.
Analogamente, diz-se que um elemento a  A é um elemento regular à
direita (ou simplificável) em relação à operação  se é verdadeira a seguinte
implicação lógica:  x, y  A, a  x  a  y  x  y.
Se um elemento a  A é, ao mesmo tempo, regular à esquerda e à direita,
diz-se que a  A é regular em relação à operação  .

Observação - Se a operação  for comutativa, o conceito de regular à


esquerda e o conceito de regular à direita coincidem, isto é, se a é regular à
esquerda então a é regular à direita e vice-versa.

Exemplo [Considere o conjunto das funções em  , denotado   , munido com a


operação de adição de funções. Então a função f :  
  dada por

f  x   x4  1,  x  é regular, pois quaisquer que sejam g, h em   tem-se que

f  g  f  h  g  h e g  f  h  f  g  h .]

Exemplo [Considere o conjunto 23    munido com a operação de adição de

 a b c
matrizes e seja A    uma matriz fixa. Então A é regular para esta
d e f 
 x11 x12 x13 
operação, pois para toda matriz X    23    e
 x21 x22 x23 

 y11 y12 y13 


Y    23    segue que A X  AY 
 y21 y22 y23 

 a b c   x11 x12 x13   a b c   y11 y12 y13 


d e f    x   
   21 x22 x23   d e f   y21 y22 y23 

a  x11  a  y11  x11  y11; b  x12  b  y12  x12  y12 ; c  x13  c  y13  x13  y13 ;
116

d  x21  d  y21  x21  y21; e  x22  e  y22  x22  y22 ; f  x23  f  y23  x23  y23 ;
a b c
isto é, X  Y , demonstrando-se desta forma que a matriz A  
f 
é
d e
regular em relação à adição de matrizes.]

Exemplo [Seja o conjunto 22    munido com a operação de multiplicação de

 4 0
matrizes e seja A    . Afirmamos que A não é regular em relação à
 0 0

 4 0  0 0  4 0  0 0
multiplicação de matrizes, pois a equação      é
 0 0  1 1   0 0  2 3

0 0   0 0 
verdadeira, entretanto    .]
1 1   2 3

Para finalizar esta seção, apresentamos uma propriedade de elementos


regulares.

Proposição - Seja  uma operação sobre A, em que  é associativa e


possui elemento neutro e. Se a  A é simetrizável, então a é regular.
Demonstração: Considere x, y  A elementos quaisquer. Assuma que

a  x  a  y . Como a é simetrizável, então existe a  A tal que a  a  a  a  e .

Utilizando-se a associatividade de  e como a é o simétrico de a tem-se que


a   a  x   a   a  y    a  a   x   a  a   y  e  x  e  y  x  y .

Analogamente, suponha que x  a  y  a . Então  x  a   a   y  a   a  


 x   a  a  y   a  a  x  e  y  e  x  y , demonstrando que é a regular,

como requerido.

Seção 7 – Propriedade Distributiva


Você se lembra da propriedade distributiva? Como o próprio nome sugere,
o significado é de ―distribuir‖. Para o estudo desta propriedade, deve-se munir o
conjunto não vazio A com duas operações  e  . Vamos considerar um exemplo
simples para seu melhor aprendizado, caro(a) estudante: Seja  o conjunto dos
naturais munido com as operações de adição e multiplicação usuais, ou seja,   
e   . É claro que  x, y, z    x   y  z   x  y  x  z,
117

 x, y, z     x  y   z  x  z  y  z. Isto significa que a multiplicação em  é

distributiva em relação à adição em  .


Relembrou agora tal propriedade? Então, veja a definição formal.

Definição - Sejam  e  duas operações sobre um conjunto não vazio A.


Diz-se que  é distributiva à esquerda em relação à  se
 x, y, z  A  x   y  z    x  y    x  z  .

Analogamente, diz-se que  é distributiva à direita em relação à  se


 x, y, z  A   y  z   x   y  x    z  x  .

Se a operação  é, ao mesmo tempo, distributiva à direita e à esquerda em relação


à  , diz-se que  é distributiva em relação à  .

Observação - Se a operação  for comutativa, o conceito de distributiva à


esquerda e o conceito de distributiva à direita coincidem.

Acompanhe mais alguns exemplos para que você possa se familiarizar com
o tópico em questão.

Exemplo [A multiplicação em  (ou , ,  ) é distributiva em relação à adição


em  (ou , ,  ), como você bem sabe.]

Exemplo [Seja n    o conjunto das matrizes quadradas de ordem n. Sabemos

que a multiplicação de matrizes é distributiva em relação à adição de matrizes, pois


 A, B, C  n     A   B  C    A  B    A  C  e

 A, B, C  n      B  C   A   B  A  C  A .]

Seção 8 – Parte Fechada para uma Operação


Nesta seção você estudará a parte fechada de uma dada operação sobre um
conjunto não vazio. A ideia principal, informalmente falando, é a seguinte: quando
se operam dois elementos de um dado conjunto, o resultado desta operação ainda é
um elemento do mesmo conjunto? Como um exemplo, considere dois números
inteiros quaisquer z1 , z2  , em que  está munido com a adição usual de

números inteiros. Você já sabe que a soma z1  z2 também é um elemento de  .


Isso significa que somar quaisquer dois números inteiros o resultado também será
118

um número inteiro, ou seja, o conjunto  é parte fechada para a adição sobre o


próprio conjunto  .
Da mesma forma, se considerar  munido com a multiplicação usual de
números inteiros, este será parte fechada para a multiplicação sobre o próprio
conjunto  .
Você entendeu o conceito? Se não entendeu, preste bastante atenção na
definição dada a seguir.

Definição - Seja  uma operação sobre um conjunto não vazio A. Seja C


um subconjunto não vazio de A. Diz-se que C é parte fechada de A para a operação
 se é verdadeira a seguinte implicação lógica:  x, y  C  x  y  C .

A seguir, veja alguns exemplos ilustrativos.

Exemplo [O conjunto C das funções injetoras de  em  são um subconjunto


fechado (parte fechada) de   para a composição de funções, pois C  , C  
e  f , g  C  f  g  C , pois a composta de duas funções injetoras também é
injetora.
Raciocinando de forma similar, note que o conjunto D das funções sobrejetoras de
 em  também é um subconjunto fechado (parte fechada) de   para a
composição de funções, donde o conjunto E das funções bijetoras de  em 
também é um subconjunto fechado (parte fechada) de   para a composição de
funções.]

Exemplo [O conjunto n    das matrizes de ordem n com coeficientes reais,

cujo determinante é igual a 1, é uma parte fechada de n    para a operação de

multiplicação usual de matrizes. De fato, sejam A, B  n    , ou seja,

det  A  det  B   1. Como det  A  B   det  A  det  B   1 , e como A  B é

matriz de ordem n com coeficientes reais, conclui-se que A, B  n    , isto é,

n    é uma parte fechada de n    para a operação de multiplicação de

matrizes.]

Exemplo [O conjunto das matrizes de ordem n com coeficientes reais, cujo


determinante é diferente de zero, também é uma parte fechada de n    para a
119

operação de multiplicação de matrizes. Claramente, este conjunto coincide com o


conjunto das matrizes de ordem n (com coeficientes reais) invertíveis (em relação à
multiplicação de matrizes).]

Exemplo [O conjunto dos números pares positivos é uma parte fechada de  para
a adição usual de números naturais, pois somando-se dois números pares resulta
em um número par. Entretanto, o conjunto dos números ímpares não o é, pois
somando-se dois números ímpares resulta em um número par.]

Síntese
Nesta unidade, você estudou as leis de composição interna (operações)
num dado conjunto qualquer, não vazio. Num primeiro momento você conheceu as
definições e propriedades, sendo as propriedades: associativa, comutativa e
distributiva. Complementando este estudo, foram apresentados os principais
elementos das operações: o neutro, os simetrizáveis e os regulares.
Finalizando a unidade, foi apresentado o estudo sobre parte fechada para
uma dada operação, que determina se um conjunto é fechado ou não para esta
operação.

ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
Seção 1
1) Dê exemplo de uma operação sobre  .
2) Dê exemplo de uma operação sobre  .
3) A radiciação definida em  é uma operação sobre  ?

4) Determinar todas as operações sobre o conjunto A  a, b . E quantas são as

operações sobre o conjunto A  a, b, c ?

Seção 2
1) Em cada caso abaixo, considere a operação  sobre A   . Verifique quais
destas são associativas:
a) A   e  x, y    x  y  xy .

b) A   e  x, y    x  y  x2  y 2 .

c) A   e  x, y    x  y  2  x  y  .

d) A   e  x, y    x  y  x  xy  y .
120

e) A   e  x, y    x  y  min x, y  .

f) A   e  x, y    x  y  mdc x ,y  mmc x ,y  .

g) A   e  x, y    x  y  x  y .

2) Em cada caso abaixo, está definida uma operação sobre    . Verifique quais
delas são associativas:
a)  a, b    c, d    a  c, b  d 

b)  a, b    c, d    a  c, 0 .

c)  a, b    c, d    ac, b  d  .

d)  a, b    c, d    ac  bd , ad  bc  .

3) Considere a operação  sobre  definida por x  y  ax  by  cxy, onde a, b e


c são números reais dados. Determinar as condições para a, b e c de modo que 
seja associativa.

Seção 3
1) Em cada caso abaixo, considere a operação  sobre A   . Verifique quais
delas são comutativas:
a) A   e  x, y    x  y  xy .

b) A   e  x, y    x  y  x2  y 2 .

c) A   e  x, y    x  y  2  x  y  .

d) A   e  x, y    x  y  x  xy  y .

e) A   e  x, y    x  y  min x, y 

f) A   e  x, y    x  y  mdc x ,y  mmc x ,y  .

g) A   e  x, y    x  y  x  y .

2) Em cada caso abaixo, está definida uma operação sobre    . Verifique quais
delas são comutativas:
a)  a, b    c, d    a  c, b  d  .

b)  a, b    c, d    a  c, 0 .

c)  a, b    c, d    ac, b  d  .

d)  a, b    c, d    ac  bd , ad  bc  .

3) Em que condições, sobre m, n a operação dada por x  y  mx  ny , sobre


 é comutativa?
121

Seção 4
1) Em cada caso abaixo, considere a operação  sobre A   . Verifique quais
delas admitem elemento neutro:
a) A   e  x, y    x  y  xy .

b) A   e  x, y    x  y  x2  y 2 .

c) A   e  x, y    x  y  2  x  y  .

d) A   e  x, y    x  y  x  xy  y .

e) A   e  x, y    x  y  min x, y  .

f) A   e  x, y    x  y  mdc x ,y  mmc x ,y  .

g) A   e  x, y    x  y  x  y .

2) Em cada caso abaixo, está definida uma operação sobre    . Verifique quais
delas possuem elemento neutro:
a)  a, b    c, d    a  c, b  d  .

b)  a, b    c, d    a  c, 0 .

c)  a, b    c, d    ac, b  d  .

d)  a, b    c, d    ac  bd , ad  bc  .

3) Em que condições, sobre m, n a operação dada por x  y  mx  ny , sobre


 admite elemento neutro?
4) Determinar todos os elementos neutros à esquerda no conjunto
 a b  
A    a, b    para a operação de multiplicação de matrizes.
 0 0  

Seção 5
1) Em cada caso abaixo, considere a operação  sobre A   . Determine, se
existirem, os elementos simetrizáveis para  :
a) A   e  x, y    x  y  xy .

b) A   e  x, y    x  y  x2  y 2 .

c) A   e  x, y    x  y  2  x  y  .

d) A   e  x, y    x  y  x  xy  y .

e) A   e  x, y    x  y  min x, y  .

f) A   e  x, y    x  y  mdc x ,y  mmc x ,y  .
122

g) A   e  x, y    x  y  x  y .

2) Em cada caso abaixo, está definida uma operação sobre    . Determine, se


existirem, os elementos simetrizáveis para cada uma das operações:
a)  a, b    c, d    a  c, b  d  .

b)  a, b    c, d    a  c, 0 .

c)  a, b    c, d    ac, b  d  .

d)  a, b    c, d    ac  bd , ad  bc  .

Seção 6
1) Em cada caso abaixo, considere a operação  sobre A   . Determine, se
existirem, os elementos regulares para  :
a) A   e  x, y    x  y  xy .

b) A   e  x, y    x  y  x2  y 2 .

c) A   e  x, y    x  y  2  x  y  .

d) A   e  x, y    x  y  x  xy  y .

e) A   e  x, y    x  y  min x, y  .

f) A   e  x, y    x  y  mdc x ,y  mmc x ,y  .

g) A   e  x, y    x  y  x  y .

2) Em cada caso abaixo, está definida uma operação sobre    . Determine, se


existirem, os elementos regulares para cada uma das seguintes operações:
a)  a, b    c, d    a  c, b  d  .

b)  a, b    c, d    a  c, 0 .

c)  a, b    c, d    ac, b  d  .

d)  a, b    c, d    ac  bd , ad  bc  .

Seção 7
1) Dê um exemplo de duas operações em que uma destas é distributiva em relação
à outra.
2) Dê um exemplo de duas operações em que nenhuma destas é distributiva em
relação à outra.
3) Verifique se a operação dada por  a, b    c, d    ac, ad  bc  é distributiva em

relação à lei  a, b    c, d    a  c, b  d  , ambas consideradas em    .


123

4) Encontre m de modo que a operação definida por x  y  x  my (sobre  )


seja distributiva em relação à x  y  x  y  xy (sobre  ).

Seção 8
1) Dê um exemplo de um subconjunto fechado em  para a operação de adição.
2) Quais dos seguintes subconjuntos de  são fechados para a multiplicação:
a)   .
b) o conjunto dos números pares.
c) o conjunto dos números ímpares.
d) o conjunto dos números primos.
e) os múltiplos de 3.
f) as potências de 4.

 cos a sen a  

3) Mostre que o conjunto A    a    é subconjunto de 2   

  sen a cos a  

fechado para a operação de multiplicação de matrizes.
4) Mostre que A  z   z  cos  i  sen  é subconjunto de  fechado para a

multiplicação (em  , evidentemente).


124

UNIDADE 4 – GRUPOS

Objetivo
Ampliar o conhecimento algébrico através do estudo de Grupos e suas
peculiaridades.

Roteiro de estudos
Seção 1 – Definição e Propriedades
Seção 2 – Subgrupos
Seção 3 – Homomorfismo de Grupos
Seção 4 – Núcleo de um Homomorfismo
Seção 5 – Isomorfismo de Grupos
Seção 6 – Grupos Cíclicos
Seção 7 – Teorema de Lagrange
Seção 8 – Teorema do Homomorfismo

Pra início de conversa


Bem vindo, caro(a) estudante, a esta nova unidade, na qual você estudará o
tópico grupo.
Desejamos e esperamos proporcionar a você um objeto significativamente
proveitoso de estudo, onde constam os três principais conceitos estudados em um
curso de Álgebra: grupos, anéis e corpos.
Como você já sabe, esta área da matemática, a Álgebra, consiste em quase
sua totalidade do raciocínio abstrato, em que também se utiliza a criatividade nas
deduções lógicas bem como em demonstrações e construções algébricas. Em casos
em que os resultados são de fácil compreensão, apresentaremos as respectivas
demonstrações sem antes dar maiores detalhes ou explicações com respeito ao
enunciado destes.

Seção 1 – Definição e Propriedades


Iniciaremos esta unidade com a definição de grupo:
125

Definição - Um grupo consiste de um conjunto não vazio G juntamente


com uma operação binária (como já foi estudado na Unidade 3) sobre G, isto é,
 : G  G 
 G tal que as seguintes condições se verificam:
i) A operação  é fechada, como já está explicitado acima, isto é:
 a, b  G  a  b  G ;

ii) A operação  é associativa:  a, b, c  G   a  b   c  a  b  c  ;

iii) A operação  possui um elemento neutro e:  a  G,  e  G tal que


ea  a e  a ;
iv) Cada a  G possui um inverso:  a  G,  a 1  G tal que a  a1  a1  a  e .
Se, além disso, a operação  for comutativa, isto é,
v)  a, b  G  a  b  b  a , diz-se que o grupo G é abeliano.

Antes de prosseguirmos com o estudo sobre grupos, é interessante que você


observe algumas propriedades derivadas de sua definição (de grupos).

Propriedade - O elemento neutro de um grupo é único.


Demonstração: Considere um grupo contendo dois elementos neutros e1 e

e2 . Devemos mostrar que e1  e2 . De fato, pelo Item iii) da definição anterior,

como e1 é elemento neutro da operação  , sabe-se que e1  e2  e2 . De forma

análoga, como e2 também é elemento neutro de  segue que e1  e2  e1 , donde se

conclui que e1  e2 . Assim, o elemento neutro de um grupo é único.

Para facilitar o entendimento do texto, em todo contexto denotaremos o


elemento neutro de um grupo G pela letra e. Assim como o elemento neutro de um
grupo é único, também o é o inverso de um dado elemento do grupo, como mostra
a próxima propriedade:

Propriedade - O inverso de um dado elemento pertencente ao grupo é


único.
Demonstração: Seja G um grupo e considere um elemento a  G .
Suponha que a possua dois inversos a1 e a2 . Devemos provar que a1  a2 . Perceba
que esta demonstração é similar à anterior. Utilizando o Item iv) da definição e
sabendo que a1 e a2 são inversos de a, tem-se que a1  a1  e  a1   a  a2  . Pela
126

associativa (Item ii), definição) pode-se escrever a1   a1  a   a2  e  a2  a2 ,

donde a1  a2 .

Acompanhe o resultado a seguir, com sua respectiva demonstração:

Propriedades - Seja G um grupo e a, b  G . Então são válidas as


seguintes propriedades:

a)  a  b   b1  a 1 ;
1

b)  a 1   a ;
1

c) A equação a  x  b , em que x  G , admite solução única em G, a saber,


a 1  b .
Demonstração: Para demonstrar o Item a) deve-se calcular as expressões

b 1
 a 1    a  b  e  a  b   b1  a1  . Deixaremos para você a verificação

imediata que o cálculo de ambas as equações resultarão no elemento neutro e do


grupo G. Pela propriedade anterior, o inverso de cada elemento é único, donde se

conclui que  a  b   b1  a 1 .


1

b) Sabe-se que a  a 1  e , pois a 1 é o (único) inverso de a. Calculando-se o

inverso em ambos os membros, tem-se a seguinte equação  a  a 1   e1  e .


1

Pelo Item a) segue que a 1 1


 a 1  e . Como o inverso de um elemento

pertencente a um grupo é único, conclui-se imediatamente que (a 1 )1  a , como


desejado.
c) É claro que a   a 1  b    a  a 1   b  e  b  b , ou seja, a 1  b é solução da

equação dada. Devemos mostrar que tal solução é única. De fato, se x0 também é

solução de a  x  b deve-se ter x0  e  x0   a 1  a   x0  a 1   a  x0   a 1  b , e

assim, a solução a 1  b é única.

Você está percebendo como as demonstrações são feitas? Notou o raciocínio


matemático empregado? Não se esqueça: antes de começar a resolver os exercícios,
assegure-se que entendeu perfeitamente (ou pelo menos grande parte dos) os
resultados estabelecidos, juntamente com suas respectivas demonstrações. Em
seguida, acompanhe alguns exemplos de grupos que são familiares a você.
127

Exemplo [O conjunto dos números inteiros  ,   munido com a operação usual

de adição é um grupo abeliano. De fato, se a, b, c  , então são válidas as


seguintes propriedades:
i) Fechamento:  a, b    a  b   ;

ii) Associativa:  a  b   c  a   b  c  ;

iii) Elemento neutro:  0  tal que  a    a  0  0  a  a ;

iv) Simétrico Aditivo:  a  ,  (a)   tal que a   a    a   a  0 ;

v) Comutativa:  a, b    a  b  b  a .]

Exemplo [O grupo multiplicativo dos números racionais positivos   ,  .


Considere a, b, c  .

i) A multiplicação de racionais positivos é fechada, pois se a, b  então

a  b  ;

ii) Associativa:  a, b    a   b  c    a  b   c ;

iii) Elemento neutro:  a   , 1  tal que a 1  1 a  a ;

iv) Inverso Multiplicativo:  a   ,  a1   tal que a  a1  a1  a  1 ;

v) Comutativa:  a, b  *  a  b  b  a .]

Exemplo [Antes de enunciar este exemplo, sugerimos que você relembre o


conceito de matrizes bem como a operação de adição das matrizes. O conjunto das
matrizes n  m com coeficientes (entradas) reais, munido com a operação usual de
adição de matrizes, é um grupo abeliano. Deixamos para você verificar a validade
dos itens da definição de grupo abeliano.]

Você percebeu que a noção de grupos já está inserida em seu conhecimento?


Agora, iremos dar alguns exemplos de grupos que, provavelmente, você ainda não
conheça. Caso você já esteja familiarizado com tais exemplos, aproveite a
oportunidade para fazer uma revisão de tais conteúdos.

Exemplo [(Grupos de permutações)


128

Seja E um conjunto não vazio. Denotaremos por S  E  o conjunto de todas as

bijeções de E  note que S  E  e evidentemente um conjunto nao


 vazio, pois a

 identica
aplicaçao ˆ pertence a S  E   . Sabemos que a operação composição de

bijeções  f , g  
 f g também é uma bijeção (donde a operação é fechada), a

operação é associativa, possui um elemento identidade, a saber, a aplicação


idêntica iE : E 
 E dada por iE ( x)  x e também possui elemento inverso, isto
é, dada uma bijeção f, o inverso de f mediante a operação composição de aplicações
é simplesmente a aplicação inversa f 1 de f. Portanto, o conjunto S  E  munido

com a operação composição  é um grupo. Este grupo será denotado por

 S  E  ,  , e será denominado grupo de permutações de E. ]

No caso em que S  E   1, 2, ..., n , em que n  1 , denotaremos o conjunto

S  E  por S n .

Você não acha que a Matemática, mais especificamente a Álgebra, possui


uma beleza extraordinária? Esperamos que este material possa auxiliá-lo(a) a
aprender e a desenvolver uma relação de proximidade e entendimento com a
Álgebra.

Seção 2 – Subgrupos
Outro conceito importante é o conceito de subgrupos. Na verdade, um
subgrupo é um subconjunto de um grupo em que este ainda é um grupo. Nesta
seção você estudará profundamente o conceito de subgrupos. Bons estudos!

Definição - Seja  G,  um grupo. Diz-se que um subconjunto não vazio

H  G é um subgrupo de G se, e somente se, valem as seguintes propriedades:


i)  a, b  H  a  b  H , ou seja, H é fechado em relação à operação  ;

ii)  H ,  também é um grupo. Em outras palavras, o subconjunto H juntamente

com a operação  restrita a H também formam um grupo.

Deste modo, para verificar se um subconjunto H de um grupo G é um grupo,


você deve verificar se as condições i) e ii) da definição anterior são satisfeitas.
129

Entretanto, existem condições mais simples para se verificar quando um dado


conjunto é um subgrupo. Acompanhe a proposição a seguir.

Proposição - Seja  G,  um grupo. Um subconjunto não vazio H  G é

um subgrupo de G se, e somente se,  a, b  H  a  b1  H .


Demonstração: Primeiramente, relembre que como a proposição em questão é uma
equivalência lógica (isto é, ―se, e somente se,‖), devemos demonstrar as
implicações lógicas    e    .

   Suponha que e seja o elemento neutro de G e que eH seja o elemento neutro

de H. Sabemos que as equações eH  eH  eH  eH  e são válidas. Operando-se

 eH 
1
ambos os lados da equação por tem-se que

 eH    eH  eH    eH    eH  eH    eH 1  eH   eH   eH 1  eH   e 
1 1
   
e  eH  e  e  eH  e .
Assim, o elemento neutro de G e H é o mesmo. Provaremos agora que, dado

um elemento b  H , o inverso b 1 de b em G e o inverso  bH 


1
de b em H são

iguais.

 bH 
1
De fato, tem-se que  b  eH  e  b1  b , donde se conclui que

 bH   b1 . Assim, pode-se afirmar que a, b  H  a   bH   H  a  b1  H .


1 1

  Como H é não vazio, existe x0  H e, por hipótese, segue que

x0   x0   e  H . Dado b  H , utilizando-se a hipótese e como e  H , conclui-


1

se que e  b1  b1  H . Considere agora a, b  H . Como b1  H então, por

hipótese, a   b1   a  b  H , isto é, H é fechado para a operação  de G.


1

Para finalizar a demonstração, considere a, b, c  H . Então, tem-se que

a, b, c  H  a, b, c  G   a  b   c  a  b  c  , o que mostra, juntamente com o

fechamento de H, a associatividade da operação  x, y  


 x  y em H.

Seção 3 – Homomorfismo de grupos


Nesta seção estudaremos homomorfismo e isomorfismo de grupos. Se
 G1 ,  e  G2 ,   são dois grupos quaisquer, um homomorfismo de grupos é uma
130

aplicação entre  G1 ,  e  G2 ,   tal que a aplicação preserva as respectivas

operações em um sentido que será descrito a seguir.


Com respeito ao isomorfismo, podemos dizer que grupos isomorfos são
grupos algebricamente iguais, isto é, propriedades algébricas que ocorrem com
 G1 ,  também ocorrerá com o grupo  G2 ,   . Repare que, em termos de teoria de

conjuntos, dois grupos podem ser distintos, porém isomorfos.


Deixamos claro também que, mesmo que o conteúdo deste livro didático
apresente diversas demonstrações, é importante que você, estudante, consiga
absorver as mais significantes. É importante que você perceba também que, sendo
a Álgebra uma área da matemática que contém, em quase sua totalidade, conceitos
abstratos, procuraremos retratar este formalismo no texto.

Definição - Sejam  G1 ,  e  G2 ,   dois grupos. Diz-se que uma aplicação

f : G1 
 G2 é um homomorfismo de G1 em G2 se, e somente se, a seguinte

condição é satisfeita:   a, b  G    f  a  b   f  a   f b   .

Em outras palavras, operando-se dois elementos de G1 mediante a operação

de G1 , a saber,  e, posteriormente, computando-se a imagem f  a  b  , tem-se

como resultado o elemento f  a   f  b  de G2 .

Definição - Um homomorfismo de um dado grupo G nele próprio é


denominado endomorfismo. Se f : G1 
 G2 é um homomorfismo de G1 em G2

e se a aplicação f é injetora, então se diz que f é um monomorfismo de G1 em G2 .

Se f é sobrejetora, f é uma aplicação denominada epimorfismo de G1 em G2 .

A seguir, são dados alguns exemplos que ajudarão você a entender melhor o
conceito de homomorfismo.

  dada por f  x   log  x  ,  x  , é um


Exemplo [A aplicação f :  

homomorfismo de   , 

 em  ,   , pois  a, b    

  f  ab   log  a   log  b   f  a   f  b   .]
131

  (  denota o conjunto dos


Exemplo [Considere agora a aplicação f :  

números complexos sem o zero) dada por f  z   z é um epimorfismo, pois

 z , z
1 2      f  z1z2   z1z2  z1 z2  f  z1  f  z2   . Falta mostrar que f é

sobrejetora: de fato, para todo x   considerando-se z   x, 0  tem-se,

claramente, que f  z   x  x , donde f é sobrejetora. ]

Depois de exemplificar o conceito de homomorfismo de grupos, acompanhe


duas proposições com suas respectivas demonstrações:

Proposição - Sejam  G1 ,  e  G2 ,   dois grupos cujos elementos neutros

são denotados por e1 e e2 , respectivamente, e seja f : G1 


 G2 homomorfismo
de G1 em G2 . Então são válidas as seguintes propriedades:

a) f  e1   e2 ;

b)  a  G  f  a 1    f  a  .
1

Demonstração:
a) Segue imediatamente: e2 f  e1   f  e1   f  e1e1   f  e1  f  e1   e2  f  e1  .

b) A demonstração deste item também é direta:

f  a   f (a)  e2  f  e1   f  a a 1   f  a  f  a 1    f  a    f  a 1  .
1 1

Proposição - Sejam  G1 ,  e  G2 ,   dois grupos, H um subgrupo de G1 e

 G2 homomorfismo de G1 em G2 . Então f  H  é um subgrupo de G2 .


f : G1 

Em outras palavras, um homomorfismo transforma subgrupos de G1 em subgrupos


de G2 .

Demonstração: Por definição tem-se que f  H    f  x : x  H  .

Claramente f H    , pois e1  H  f  e1   e2  f  H  . Considere

c, d  f  H  . Pela definição de f  H  tem-se que  a, b  H tal que c  f  a  e

d  f b  . Assim, segue que cd 1  f  a   f  b   f  a  f  b1   f  ab1  .


1

Como H é subgrupo de G1 , sabe-se que ab1  H , donde cd 1  f  H  .


132

A proposição dada na sequência estabelece que a composta de


homomorfismos é um homomorfismo:

Proposição - Sejam  G1 ,  ,  G2 ,   e (G3 , ) grupos quaisquer, e

considere f : G1 
 G2 e g : G2 
 G3 dois homomorfismos de grupos. Então a

composta g  f : G1 
 G3 também é um homomorfismo de G1 em G3 .

Demonstração: Sejam a, b  G1 . Então, segue que  g  f  ab   g  f  ab  


 g  f  a  f  b    g  f  a   g  f b     g  f  a  g  f b  , e o resultado está

provado.
Como consequência imediata da proposição anterior, pode-se concluir que a
composta de monomorfismos também é um monomorfismo, e a composta de
epimorfismos também é um epimorfismo.

Seção 4 – Núcleo de um Homomorfismo


Um conceito muito importante em Álgebra é o conceito de núcleo de um
homomorfismo f : G1 
 G2 . De uma maneira informal, pode-se dizer que o

núcleo de um homomorfismo é o conjunto dos elementos de G1 que são ―levados‖


no elemento neutro de G2 . O núcleo desempenhará papel fundamental no Teorema
do Homomorfismo, que será estudado ainda nesta unidade.
Vamos definir formalmente o conceito de núcleo:

Definição - Sejam  G1 ,  e  G2 ,   dois grupos e f : G1 


 G2 um

homomorfismo de G1 em G2 . Chama-se núcleo de f, denotado por N  f  ou

Ker  f  (do inglês, kernel), ao conjunto N  f   x  G1 : f  x   e2  , em que e2 é

o elemento neutro de G2 .

Exemplo [Considere o homomorfismo f :  


 dado por

f  x   log  x  ,  x  . É fácil verificar que N  f   x   : log  x   0  1 .]

  dado por f  z   z


Exemplo [Considerando-se o homomorfismo f :  

verificamos diretamente que N  f   z   : z  1}  { x  yi   : x2  y 2  1 .


133

Portanto, o núcleo de f é uma circunferência centrada no ponto  0, 0  com raio

igual a 1.]

Vamos estudar algumas propriedades do núcleo de um dado homomorfismo?


Acompanhe o próximo resultado.

Proposição - Sejam  G1 ,  e  G2 ,   grupos quaisquer, e

considere f : G1 
 G2 um homomorfismo de grupos. Então são válidas as
seguintes propriedades:
a) N  f  é um subgrupo de G1 ;

b) f é um monomorfismo se, e somente se, N  f   e1 , em que e1 é o elemento

neutro de G1 .
Demonstração: A demonstração do Item a) fica como exercício para você,
estudante. Demonstraremos, então, o Item b), lembrando que devemos mostrar
duas implicações lógicas.
 Se a  N ( f ) então f (a)  e2  f (e1 ) . Como f é injetora segue que a  e1 .

 e2  f  ab 1   e2 
1
   a, b  G, f  a   f (b)  f  a   f b 
 ab1  N  f   e1  ab1  e1  a  b , completando-se a demonstração.

Seção 5 – Isomorfismo de Grupos


Como mencionado anteriormente, um isomorfismo entre dois grupos
quaisquer estabelece uma ―igualdade algébrica‖, no sentido de que muitas
propriedades são preservadas mediante a aplicação deste. Portanto, é um conceito
extremamente importante e deve ser assimilado profundamente por você,
estudante.
Como de costume, enunciaremos formalmente sua definição:

Definição - Sejam  G1 ,  e  G2 ,  dois grupos quaisquer. Diz-se que

uma aplicação f : G1 
 G2 é um isomorfismo de G1 em G2 se, e somente se, f é
um homomorfismo de grupos e também uma aplicação bijetora. No caso em que
G1  G2  G , diz-se que o isomorfismo f é um automorfismo. Desta forma, um
automorfismo é simplesmente um isomorfismo definido entre um mesmo grupo G,
isto é, f : G 
G .
134

Exemplo [Considerando-se novamente o homomorfismo f :  


  dado por

f  x   log  x  ,  x  , constatamos facilmente que se trata de um isomorfismo

de  em  .]

Proposição - Sejam  G1 ,  e  G2 ,  grupos quaisquer, e

 G2 um isomorfismo. Então f 1 : G2 
considere f : G1   G1 também é um
isomorfismo de grupos.
Demonstração: Por se tratar de uma demonstração de rotina, não a
apresentaremos aqui. Recomendamos a você, estudante interessado, consultar um
livro de Álgebra para tal finalidade (Veja, por exemplo, IEZZI, G., DOMINGUES,
H. H.. Álgebra Moderna. 2. ed. São Paulo: Atual, 1982.).

Agora, trataremos de definir conceitos tais como a aplicação translação, que


será utilizada no famoso Teorema de Cayley.
Seja (G, ) um grupo. Para cada a  G a translação à esquerda definida por

a é a aplicação  a : G 
 G dada por  a ( x)  ax,  x  G .

Observação - Note que, de maneira totalmente análoga, poderíamos


definir translação à direita definida por um elemento qualquer do grupo. Observe
ainda que tais definições coincidem no caso em que o grupo é abeliano.

Considere T  G  como sendo o conjunto de todas as translações à esquerda

definidas em G, isto é, selecionamos todos os elementos de G com as respectivas


translações definidas por estes elementos. É tarefa rotineira mostrar que cada
translação à esquerda (respectivamente, à direita) é uma aplicação bijetora, donde
se conclui que T  G   S  G  , em que S  G  denota o conjunto (na verdade,

S  G  é, de fato, um grupo!!!!! Verifique este resultado como exercício) de todas

as permutações sobre G . Além disso, T (G) é um subgrupo de S (G) (Veja


IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna. 2. ed. São Paulo: Atual,
1982, para maiores detalhes).

Teorema (Cayley) - Todo grupo G é isomorfo a T  G  mediante a

 a ,  a  G .
aplicação a 
135

Observação - Note que o Teorema de Cayley estabelece que todo grupo G


é isomorfo a um subgrupo do grupo das permutações sobre G, pois T  G  é um

subgrupo de S  G  .

Seção 6 – Grupos Cíclicos


Uma importante classe de grupos é a classe dos grupos cíclicos. Grupos
cíclicos são grupos gerados por um elemento num sentido que será especificado
mais adiante. Tais grupos são abelianos e possuem propriedades interessantes,
como será estudado ao longo desta seção.
Iniciaremos esta seção com as definições de potências e múltiplos definidos
em um grupo multiplicativo. Observe que a notação multiplicativa é adequada para
que se possam definir tais conceitos.

Definição - Seja  G,  um grupo multiplicativo (ou seja, um grupo cuja

operação é denotada pelo sinal da multiplicação). Dado a  G , define-se potência


m-ésima de a, para todo m , do seguinte modo:
am  e ;
1º) Caso: m  0 : (e denota o elemento neutro de G).
a m  a m1 a, m  1;

2º) Caso: m  0 : a m   a  m  .
1

Observação - Se ao invés de um grupo multiplicativo tivermos um grupo


aditivo (ou seja, um grupo cuja operação é denotada pelo sinal da adição), define-
se múltiplo (ao invés de potência) de um elemento a  G do seguinte modo:
0a  e;
1º) Caso: m  0 :
ma   m  1 a  a, se m  1;

2º) Caso: m  0 : ma   m  a  .

Evidentemente, tanto a notação multiplicativa quanto a notação aditiva são


utilizadas para propósitos especificados no problema em questão. Em outras
palavras, em algumas situações utilizaremos preferencialmente uma dessas
notações ao invés da outra e vice-versa.
136

Tendo como base a definição dada, pode-se demonstrar a propriedade a


seguir. Acompanhe sua demonstração em IEZZI, G., DOMINGUES, H. H..
Álgebra Moderna. 2. ed., São Paulo: Atual, 1982.

Propriedade - Seja  G,  um grupo multiplicativo, a  G e n, m . Então, são

válidas as seguintes propriedades:


a) an am  anm ,  a  G,  n, m  ;

b)  a n   a n.m ,  a  G,  n, m  ;
m

c) a  m   a m    a 1  ,  a  G,  m  .
1 m

Demonstração: As demonstrações desta propriedade são deixadas como


exercício para você.

Definição - Seja  G,  um grupo multiplicativo. Diz-se que G é um grupo

cíclico se existe um elemento a  G tal que G  a n : n  . Utiliza-se a notação

G   a  para indicar que G é cíclico gerado por a ; a é dito ser um gerador de G.

Dado  G,  um grupo multiplicativo (aqui não estamos supondo que G é

cíclico) e a  G um elemento qualquer de G, o subconjunto H  a n : n  é um

subgrupo de G (prove!). Desta forma, todo elemento de G gera um subgrupo


cíclico de G, mesmo que G não seja cíclico.
Note, caro(a) estudante, que a Álgebra possui um alto grau de detalhes e
abstrações, necessitando muito estudo e empenho para o seu entendimento.
Sugerimos que você leia e releia as definições, teoremas, proposições etc.,
até que possa assimilar de forma substancial tais conceitos. Recomendamos
também que você faça os exercícios propostos de forma a sedimentar os conteúdos
deste (e também dos demais) livro didático. Exibiremos, a seguir, alguns exemplos
ilustrativos.

Exemplo [O grupo multiplicativo G  1,1 é cíclico, pois

 1 : n    1,1  G . O gerador deste grupo é o elemento – 1.]


n
137

Exemplo [O grupo  ,   é cíclico, gerado por 1 ou por – 1. Note que neste

exemplo a notação é aditiva, portanto o conjunto a n : n  é escrito como sendo

o conjunto na : n     a  , em que  a  denota o grupo gerado pelo elemento

a  G em notação aditiva.]

Quando você estuda grupos cíclicos, uma pergunta natural que surge é a
seguinte: será que todo grupo cíclico é comutativo (abeliano)?
A resposta é simples: sim, todo grupo cíclico é comutativo.
Para verificar esta asserção, seja G é um grupo (multiplicativo) cíclico
gerado por a  G e sejam x, y  G . Então, existem m, n tal que a m  x e

a n  y . Deste modo tem-se que xy  aman  amn  anm  a n a m  yx , isto é, os


elementos de G comutam entre si, donde G é abeliano.
Com respeito à recíproca, será que é válida? Mais claramente, será que todo
grupo abeliano é cíclico? A resposta para esta pergunta é negativa. Nem todo grupo
abeliano é cíclico. Um contraexemplo trivial para esta questão é o grupo
multiplicativo   ,  dos números racionais sem o zero.   ,  , que é claramente

um grupo abeliano mas não é cíclico, pois não existe nenhum número racional
p
x onde p, q  , q  0 , de forma a gerar todo o conjunto  .
q

Enunciaremos a proposição a seguir, mas não a demonstraremos, pois sua


demonstração foge ao propósito deste livro didático. No entanto, você pode
consultar IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna. 2. ed. São Paulo:
Atual, 1982, para ver a demonstração desta proposição.

Proposição - Seja G um grupo cíclico finito contendo n elementos. Então


G é isomorfo a  n ,   .

Neste momento, definiremos o conceito de grupos gerados por conjuntos. Se


um dado grupo é cíclico, podemos facilmente manipular e operar seus elementos,
pois todos estes são potências de um dado gerador. Tais fatos propiciam uma
investigação profunda desta classe particular de grupos.
138

Como esta classe particular de grupos apresenta inúmeras vantagens, por que
não a generalizarmos? O objetivo desta seção é generalizar a classe dos grupos
cíclicos.
Para isso, considere G um grupo multiplicativo e seja S  G um
subconjunto não vazio de G. Construiremos outro subconjunto de G, denotado por
S  , em que S  é dado por

 S   a1 a2 ... an


1 2 n

: n  1; a1 , a2 ,..., an  S ; 1,  2 ,...,  n   . Pode-se verificar que

 S  é um subgrupo de G;  S  é o menor subgrupo de G que contém S. O subgrupo


 S  é denominado subgrupo gerado por S.

O conceito de grupo cíclico finito é muito importante; você o estudará aqui.


Estudará também o conceito de ordem de um elemento bem como ordem de um
grupo. Como você perceberá, enunciaremos os resultados, mas não os
demonstraremos. No entanto, referenciaremos a bibliografia adequada na qual se
encontram as respectivas demonstrações.

Definição - O menor número inteiro h  0 tal que a h  e chama-se


período ou ordem do elemento a. Denotaremos a ordem de um elemento a  G por
o a  h .

Considere, por exemplo, o elemento i  . Sabemos que este elemento tem
ordem 4 , pois i  4  1 e, além disso, nenhuma potência de i com expoente menor
que 4 resulta na unidade do conjunto dos números complexos.

Outro exemplo a se considerar é o elemento 2   16 ,   . Este elemento tem

ordem 8, pois 2  2  2  2  2  2  2  2  0 e nenhuma soma com menos de


oito termos resulta na unidade.

Proposição - Seja a um elemento de um grupo multiplicativo G. Se


o(a)  h  0 então a é um grupo finito de ordem h dado por

a  e, a, a2 , ..., ah1 .


Demonstração: A demonstração desta proposição foge ao escopo deste
livro didático. Sugerimos a você consultar IEZZI, G., DOMINGUES, H. H..
Álgebra Moderna. 2. ed. São Paulo: Atual, 1982, para este propósito.
139

Repare que o resultado exibido na proposição anterior estabelece que


o  a   o  a  , isto é, a ordem do elemento a é igual à ordem do subgrupo gerado

por a.

Definição - Seja G   a  um grupo cíclico. Diz-se que G é um grupo

cíclico finito se a ordem de a for um número natural h  0 . Neste caso é claro que

G  e, a, a 2 , ..., a h1 .

A proposição dada na sequência mostra que, se a potência m de um elemento


pertencente a um grupo G resulta no elemento neutro deste grupo, então a ordem
deste elemento divide m:

Proposição - Seja a um elemento de ordem h  0 de um grupo G. Então


am  e  h m .

Demonstração: Veja IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna.


2. ed. São Paulo: Atual, 1982.

Proposição - Seja G um grupo cíclico finito de ordem h. Então G é


isomorfo ao grupo aditivo  h .
Demonstração: Veja IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna.
2. ed. São Paulo: Atual, 1982.

Você percebeu um fato importante com respeito à proposição dada? Ela


relata que qualquer grupo cíclico finito de uma ordem dada é isomorfo ao
respectivo grupo de classes de restos. Desta forma, o estudo de grupos cíclicos
finitos se resume ao estudo do respectivo grupo de classes de restos  n , para certo
n conveniente.

Seção 7 – Teorema de Lagrange


Um dos mais importantes resultados da Álgebra é o Teorema de Lagrange.
Informalmente, o significado deste teorema é que a ordem de um dado subgrupo
divide a ordem do grupo.
Tomara que você aprecie o estudo desta seção!
140

Definição - Seja H um subgrupo de um grupo  G,  . Dado a  G , a

classe lateral à esquerda (respectivamente à direita), módulo H, definida por a,


denotada a  H (respectivamente H  a ), é definida como sendo o subconjunto de
G dado por a  H  a  x : x  H  (respectivamente H  a  x  a : x  H  ).

Como você pode facilmente notar, se o grupo G é abeliano então estes


conjuntos coincidem, isto é, a  H  H  a,  a  G , mas se G não é abeliano não
se tem garantia que valha esta igualdade. Sugerimos a você, estudante, encontrar
um grupo em que a classe lateral à esquerda de um dado elemento é diferente de
sua respectiva classe lateral à direita (é claro que você deve procurar por um grupo
que não seja abeliano).

Exemplo [Considere o grupo aditivo G   8 ,   e seja H  0, 4   um subgrupo


de G. Listaremos todas as classes laterais à esquerda, módulo H:

       
0  H  0  0, 0  4  0, 4  H  0 ; 1  H  1  0,1  4  1, 5  H  1 ;

 
2  H  2  0, 2  4  { 2, 6 }  H  2 ; 3  H  { 3  0, 3  4 }  { 3, 7 }  H  3 ;

4  H  4  0, 4  4   0, 4   H  4 ; 5  H  5  0, 5  4  1, 5  H  5 ;

6  H  6  0, 6  4   2, 6  H  6 ; 7  H  7  0, 7  4  3, 7  H  7 .

Note ainda que:


0  H  4  H ; 1  H  5  H ; 2  H  6  H ; 3  H  7  H .]

Você notará que o estudo das classes laterais é essencial para a formulação
de um dos teoremas mais importantes da Teoria de Grupos, a saber, o Teorema de
Lagrange. Informalmente, o Teorema de Lagrange nos diz que a ordem de todo
subgrupo H de um grupo G qualquer divide a ordem de G. Acompanhe alguns
resultados sobre classes laterais:

Proposição - Seja H um subgrupo de um grupo  G,  . Então são válidas

as seguintes propriedades:
a) A união de todas as classes laterais módulo H é igual a G, isto é,
G   a  H  ;
aG

b)  a, b  G tem-se que a  H  b  H  a1  b  H ;


141

c) Se aH e bH são duas classes laterais módulo H então

 a  H   b  H    ou a  H  b  H , isto é, duas classes laterais ou são iguais

ou possuem interseção vazia;


d) Para toda classe lateral a  H , em que a  G , existe uma bijeção
f : H 
a  H .
Demonstração: Veja IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna.
2. ed. São Paulo: Atual, 1982.

Dos Itens a) e c) da proposição anterior pode-se concluir que o conjunto das


classes laterais à esquerda (respectivamente à direita), módulo H, forma uma
partição de G (para um estudo mais detalhado do assunto ―partição de um
conjunto‖, sugerimos a você a referência IEZZI, G., DOMINGUES, H. H..
Álgebra Moderna. 2. ed. São Paulo: Atual, 1982.). Além disso, é fácil verificar
que o número de classes laterais à esquerda, módulo H, é igual ao número de
classes laterais à direita, módulo H.

Definição - Seja H um subgrupo de um grupo  G,  . Define-se o índice

de H em G como sendo o número de classes laterais módulo H em G. Denota-se tal


número por  G : H  .

Neste momento, você já está preparado para estudar o famoso Teorema de


Lagrange. Como já foi mencionado anteriormente, é um teorema de suma
importância no estudo da Teoria de Grupos. A seguir, enunciaremos e provaremos
esse teorema.

Teorema (Lagrange) - Seja H um subgrupo de um grupo finito  G,  .

Então se tem que o  H  o  G  e o G   o H G :H  . Em palavras: a ordem de

qualquer subgrupo divide a ordem do grupo; além disso, a ordem de G é igual à


ordem de H multiplicado pelo índice de H em G.
Demonstração: Suponha, primeiramente, que  G : H   c e considere o

conjunto das classes laterais à esquerda, módulo H, dado por


a1  H , a2  H ,..., ac  H  . Pelo Item a) da proposição anterior, sabe-se que

 a1  H    a2  H   ...   ac  H   G . Como cada elemento de G pertence a uma


única classe lateral à esquerda, módulo H e, como pelo Item d) da proposição
142

anterior, o número de elementos de cada classe lateral é igual a o  H  (pois existe

uma bijeção entre os conjuntos a  H e H), então c  o  H   o  G  . Como

 G : H   c , o resultado segue.

Como consequência imediata da aplicação deste poderoso teorema, pode-se


deduzir o seguinte resultado:

Corolário - Todo grupo finito com p elementos, em que p é um número


primo, é cíclico, e seus únicos subgrupos são G e e .

Demonstração: Veja IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna.


2. ed. São Paulo: Atual, 1982.

Seção 8 – Teorema do Homomorfismo


Nesta seção apresentaremos o Teorema do Homomorfismo, que é, em nosso
ponto de vista, um dos resultados mais importante da Teoria de Grupos, juntamente
com o Teorema de Lagrange, que foi investigado na seção anterior.
Para o estudo deste teorema, você precisará entender os conceitos de
subgrupo normal e grupo quociente.
Iniciaremos com o estudo de subgrupos normais.

Definição - Seja H um subgrupo de um grupo  G,  (com a notação

multiplicativa). Diz-se que H é um subgrupo normal de G se xH  Hx,  x  G ,

em que os conjuntos xH e Hx são dados por xH  xh : h  H  e

Hx  hx : h  H  .

Para denotar que um subgrupo H de G é normal utilizaremos o símbolo


H  G . Se H  G , indicaremos o conjunto G / H como sendo o conjunto das
classes laterais à esquerda, módulo H, em G. Apresentamos, a seguir, a próxima
proposição. Sua demonstração foge aos propósitos deste livro, então não a
apresentaremos aqui. Para maiores detalhes você pode consultar IEZZI, G.,
DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna. 2. ed. São Paulo: Atual, 1982.

Proposição - Seja H é um subgrupo normal de  G,  . Então são válidas as

seguintes propriedades:
143

a)  xH  yH    xy  H ,  x, y  G (fechamento);

b)  xH  yH   zH    xH   yH  zH  ,  x, y  G (associativa);

c)  x  G   xH  eH    eH  xH   xH (elemento neutro);

d)  x  G   xH   x 1H    x 1H   xH   eH  H (simétrico).

Em outras palavras, o conjunto  G / H ,  é um grupo.

Isso nos motiva a enunciar a definição a seguir.

Definição - O grupo  G / H ,  obtido mediante a proposição anterior, é

denominado grupo quociente de G por H.

Note que estamos supondo que a existência do grupo G / H pressupõe que o


subgrupo H seja normal. Relembre que se f : G 
 J é um homomorfismo do

grupo G no grupo J, então o conjunto N  f   x  G : f  x   e2  , em que e2 é o

elemento neutro de J, é chamado núcleo de G e é um subgrupo de G. O lema dado


em seguida nos diz que N  f  é um subgrupo normal de G.

Lema - Se f : G 
 J é um homomorfismo do grupo G no grupo J,

então o conjunto N  f  é um subgrupo normal de G.

Demonstração: Veja IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna.


2. ed. São Paulo: Atual, 1982.

Para finalizar esta seção, enunciaremos o Teorema do Homomorfismo e,


posteriormente, apresentaremos alguns exercícios para fixar seus conhecimentos,
caro(a) estudante. Sua respectiva demonstração pode ser encontrada em qualquer
livro que trata da Teoria de Grupos.

Teorema (do Homomorfismo) - Se f : G 


 J é um homomorfismo

sobrejetor do grupo G no grupo J. Se N  N  f  , então G / N  J , em que o

símbolo  denota isomorfismo de grupos.


Demonstração: Veja IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna.
2. ed. São Paulo: Atual, 1982.
144

Nesta seção não serão apresentados exercícios de fixação, devido ao fato de


apresentarem um alto grau de abstração, que foge ao propósito deste livro texto.

Síntese
Você entrou em contato com a definição e as propriedades necessárias para a
compreensão da estrutura de grupo, subgrupos e as relações existentes entre eles,
bem como resultados importantes desse estudo, tais como o teorema de Lagrange e
do Homomorfismo.

ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
Seção 1

 
1) Mostre que o conjunto E  a  b 2   a, b   é um grupo multiplicativo

abeliano.
2) Se G é um grupo multiplicativo e x  x  1,  x  G , então G é abeliano.
3) Se G é um grupo multiplicativo e se a, b, c  G , mostre que

a  b  c
1
 c 1b1a 1 . Obter tal que a  b  c  x  b  c .

4) Construir a tábua do grupo diedral de ordem 8.


(Dica: Veja, por exemplo, IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna. 2.
ed. São Paulo: Atual, 1982.)
5) Construir a tábua do grupo de rotações R4 .
(Dica: Veja, por exemplo, IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna. 2.
ed. São Paulo: Atual, 1982.)
6) Note que o grupo  S  E  ,   não é abeliano, pois a composição de bijeções não

é comutativa. Encontre duas bijeções sobre um conjunto E tal que a aplicação


f  g seja diferente de g  f .

Seção 2
1) Seja F um grupo finito. Mostre que H  G, H   é um subgrupo de G se, e
somente se a, b  H  a  b  H .

2) Determinar todos os subgrupos do grupo aditivo  4 .

3) Provar que se H1 e H 2 são subgrupos de um grupo G, então H1  H 2 também é


um subgrupo de G.
Seção 3
1) Verificar, em cada caso, se f é um homomorfismo.
145

a) f :  ,   
  ,   dada por f  x   kx onde k é um número inteiro fixo.

(  ,   é o conjunto dos números inteiros munido com a operação de adição);

b) f :   ,  
   ,  definida por f  x   x , onde  é o conjunto dos

números reais sem o zero;


c) f :  ,   
  ,   definida por f  x   x  5 ;

d) f :    ,   
  ,   definida por f  x, y   y ;

   ,  cuja lei de formação é dada por f  x   5x , onde  é o


e) f :  ,   

conjunto dos números reais positivos sem o zero.


2) Prove que se o grupo G é abeliano se, e somente se, f : G 
 G definida por

f  x   x 1 é um homomorfismo de grupo.

Seção 4
1) Em cada item abaixo, determinar o núcleo caso f seja um homomorfismo .
a) f :  ,   
  ,   dada por f  x   kx onde k é um número inteiro fixo.

(  ,   é o conjunto dos números inteiros munido com a operação de adição);

b) f :   ,  
   ,  definida por f  x   x , onde  é o conjunto dos

números reais sem o zero;


c) f :  ,   
  ,   definida por f  x   x  5 ;

d) f :    ,   
  ,   definida por f  x, y   y ;

   ,  cuja lei de formação é dada por f  x   5x , onde  é o


e) f :  ,   

conjunto dos números reais positivos sem o zero.


2) Seja G grupo abeliano e considere o homomorfismo f : G 
 G definido por

f  x   x 1 . Calcule seu núcleo.

Seção 5
1) Verificar, em cada caso, se f é um isomorfismo.
(, ) dada por f  x   kx onde k é um número inteiro fixo.
a) f : (, ) 

(  ,   é o conjunto dos números inteiros munido com a operação de adição);

b) f :   ,  
   ,  definida por f  x   x  2 , onde  é o conjunto dos

números reais sem o zero;


c) f :  ,   
  ,   definida por f  x   3x  8 ;

d) f :    ,   
  ,   definida por f  x, y   y ;
146

   ,  cuja lei de formação é dada por f  x   4 x , onde  é o


e) f :  ,   

conjunto dos números reais positivos sem o zero.


2) Construir a tábua de um grupo G   e, a, b, c de forma que este seja isomorfo

ao grupo multiplicativo H  1,  1, i,  i , onde i é o número complexo tal que

i 2  1 .
(Dica: Veja IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna. 2.ed. São Paulo:
Atual, 1982).
3) Seja a um elemento fixo do grupo G. Mostre que a aplicação f : G 
G

definida por f  x   axa1 é um isomorfismo de G.

4) Mostre que existem pelo menos dois endomorfismos em cada grupo e ao menos
um isomorfismo.
Seção 6
1) Mostre que todo grupo de ordem 2 ou 3 é cíclico.
2) Construa os seguintes grupos:
a)  1 em  ,   ;

b)  2 em  ,   ;

c) 5 em   ,  .

2) Mostre que o único elemento de um grupo G que possui ordem um é o elemento


neutro.
3) Seja a  e um elemento do grupo G. Prove que o  a   2  a  a 1 .

4) Seja G um grupo multiplicativo e considere x  G . Mostre que, se existe um


inteiro n, n  1 tal que x n  e , então existe um inteiro m  1 tal que x1  xm .
5) Mostre que se os elementos a, b, ab  G de um grupo G têm ordem 2, então
ab  ba .
6) Seja G um grupo multiplicativo e considere a  G . Mostre que

o  a   o  a 1   o  xax 1  ,  x  G .

7) Prove que todo subgrupo de um grupo cíclico também é cíclico.


Seção 7
1) Determinar todas as classes laterais do subgrupo 7 do grupo  ,   .

2) Seja H um subgrupo de um grupo finito  G,  tal que  G : H   2 . Mostre que

a  H  H  a,  a  G .
147

3) Sejam H e K subgrupos de um grupo finito G. Se o  H   p e o  K   q , onde p

e q são números primos distintos, então H  K  e .

4) Seja f : G 
 J um homomorfismo de grupos. Se K é um subgrupo de J,

prove que o conjunto f 1  K   x  G : f  x   K  é um subgrupo de G.

UNIDADE 5 – ANÉIS E CORPOS

Objetivo
Estender e aprofundar a Teoria de Anéis e Corpos, que é uma extensão natural da
Teoria de Grupos, bem como abstrair matematicamente conceitos que contemplam
conjuntos numéricos, tais como o conjunto dos números inteiros, racionais, reais e
complexos.

Roteiro de estudo
Seção 1 – Anéis
Seção 2 – Subanéis
Seção 3 – Anéis de Integridade
Seção 4 – Corpos
Seção 5 – Subcorpos
Seção 6 – Homomorfismo e Isomorfismo de Anéis

Pra início de conversa


Na Unidade 4, você estudou o conceito de grupos bem como suas
propriedades. Nesta unidade você estudará o conceito de anel e suas respectivas
propriedades.
Informalmente falando, um anel consiste de um conjunto não vazio, munido
com duas operações, que satisfazem algumas propriedades convenientes. É uma
extensão da Teoria de Grupos, como veremos na sequência.
Você deve ter em mente, caro(a) estudante, que tanto o conceito de grupo
quanto os conceitos de anéis e corpos são abstrações (ou generalizações)
matemáticas que contemplam conjuntos bem conhecidos, como, por exemplo, os
148

conjuntos , ,  e  , conjunto de matrizes m  n definidas sobre , ,  e  ,


dentre muitos outros.
Desejamos que, assim como foi dito na unidade anterior, você aproveite
sobremaneira e retenha o máximo de conhecimento que puder extrair deste livro
didático.
Lembre-se sempre de que é fundamental que você faça e refaça algumas
vezes as atividades e exercícios propostos, pois a Álgebra é assimilada com muito
treino, esforço e suor!
Bons estudos e boa aprendizagem!

Seção 1 – Anéis
Começaremos com o estudo de definições e propriedades importantes.
 : A  A 
A  : A  A 
A
Definição - Sejam e duas operações
 x, y  
x  y  x, y  
 xy

num conjunto A   (para uma operação estamos utilizando a notação aditiva e


para a outra, a notação multiplicativa). Suponha que sejam válidas as seguintes
condições:
i) A operação  é fechada, como já está explicitado acima, isto é:
 a, b  G  a  b  G ;

ii) A operação  é associativa:  a, b, c  G   a  b   c  a  b  c  ;

iii) A operação  possui um elemento neutro 0A :

 a  G,  0A tal que  0A  a  a  0A  a ;
iv) Cada a  G possui um simétrico aditivo:  a  G, existe o elemento a  G

tal que a   a    a   a  0 A ;

v) A operação  é comutativa:  a, b  G  a  b  b  a ;
vi) A segunda operação, isto é, a operação  é associativa:
 a, b, c  G   a  b   c  a   b  c  ;

vii) A multiplicação  é distributiva em relação à adição :


 a, b, c  G  a   b  c   a  b  a  c,  a, b, c  G   a  b   c  a  c  b  c.

Se o conjunto A   , juntamente com as operações  e  , satisfazem as


condições i) — vii), diz-se que a terna ordenada  A,  ,  é um anel com respeito à

adição  e à multiplicação  .
Uma pergunta pertinente pode surgir a você, como, por exemplo: qual a
necessidade de se definirem duas sentenças lógicas para o item vii)? A resposta
149

para esta pergunta provém do fato de que a operação de multiplicação  pode não
ser comutativa, embora a operação  sempre seja comutativa. Note também que
não estamos supondo aqui que a operação de multiplicação  possua elemento
neutro.
Se a terna ordenada  A,  ,  satisfizer as condições i) — vii) e se o conjunto

A   possuir um elemento neutro para a multiplicação, denotado 1A , tal que

viii)  a  G  1A  a  a 1A  a , diz-se que  A,  ,  é um anel com unidade.

Se a terna ordenada  A,  ,  satisfizer as condições i) — vii) e se a

multiplicação é comutativa, isto é:


ix)  a, b  G  a  b  b  a , diz-se que  A,  ,  é um anel comutativo.

Se a terna ordenada  A,  ,  satisfizer as condições i) — ix), diz-se que

 A,  ,  é um anel comutativo com unidade.

Você pode notar que em um anel são definidas duas operações e não
somente uma, como é o caso de um grupo. Estamos utilizando tanto a notação
aditiva quanto a notação multiplicativa.

Exemplo [Como exemplos de anéis comuns a você listamos os seguintes:


•  ,  ,  , em que a adição e a multiplicação consideradas são as usuais de

números inteiros;
•  ,  ,  , em que a adição e a multiplicação consideradas são as usuais de

números racionais;
• (,  ,  ) , em que a adição e a multiplicação consideradas são as usuais de
números reais;
• (,  ,  ) , em que a adição e a multiplicação consideradas são as usuais de
números complexos.
Repare que, em todos esses casos, valem as seguintes propriedades:
• A adição e a multiplicação são fechadas.
• A adição é associativa, comutativa, possui elemento neutro e cada elemento
possui simétrico aditivo.
• A multiplicação é associativa, e a multiplicação é distributiva em relação à
adição.]

Exemplo [Anel de Matrizes


150

Considere o conjunto n    , das matrizes quadradas de ordem n, com

coeficientes reais (analogamente, podem-se formar os conjuntos n    , n    ,

n   ). Se relembrarmos as propriedades das matrizes, podemos afirmar que a

terna      ,  ,  ,
n (analogamente      ,  ,  ,
n     ,  ,   ,
n

   ,  ,  ), onde as operações de adição e multiplicação são as operações de


n

adição e multiplicação de matrizes, respectivamente, formam um anel.


Verifiquemos que as condições da definição de anel são satisfeitas.
As operações de adição e multiplicação de matrizes são fechadas, isto é, se
somarmos ou multiplicarmos duas matrizes de ordem n ainda resultará numa
matriz de ordem n.
A adição de matrizes é comutativa: Sejam ai j  , bi j   n    quaisquer
nn nn

duas matrizes quadradas de ordem n com coeficientes em  . Então segue que


ai j   bi j   ai j  bi j   bi j  ai j   bi j   ai j  , em que foi
nn nn nn nn nn nn

utilizado o fato de a adição dos números reais ser comutativa.


A adição de matrizes é associativa: Sejam ai j  , bi j  , ci j   n   
nn nn nn

quaisquer matrizes quadradas de ordem n.


Então segue que:

 a ij
  bi j 
nn

nn
 ci j    ai j  bi j   ci j    ai j  bi j   ci j  
nn nn nn nn

  nn   nn   nn 


ai j   bi j  ci j   ai j   [bi j  ci j ]nn  ai j   bi j   ci j 
  nn   nn ,  em

que foi utilizado o fato de a adição dos números reais ser associativa.
O elemento neutro da adição é a matriz nula de ordem n, denotada por 0n :

Para cada  ai j   n    tem-se que:


nn

ai j   0nn  ai j  0  ai j  ,


n n n n n n

0nn  ai j  nn  0  ai j  nn  ai j  nn , onde foi utilizado o fato de 0 ser o

elemento neutro da adição dos números reais.


Para cada  ai j   n    , existe a matriz simétrica   ai j    ai j  tal
nn nn nn

que
nn

ai j    ai j 
nn
  ai j    ai j   ai j   ai j   0nn
nn nn nn
e

também
151

  a ij
 
nn
 [ai j ]nn  ai j   ai j    ai j   ai j   0nn , em que
nn nn nn

foi utilizado o fato de que cada número real possui um simétrico aditivo.
A multiplicação de matrizes é associativa: como a demonstração desta propriedade
é um pouco longa e repleta de notação, não a apresentaremos aqui, pois foge ao
escopo deste livro didático. O mesmo se aplica para a demonstração da propriedade
distributiva.
Tais anéis possuem unidade, a saber, a matriz identidade de ordem n, denotada por
1 0 0  0
0 1 0  0 

I n  0 0 1  0 .
 
    
0 0 0  1  nn

Entretanto, n    não é anel comutativo, pois nem sempre a multiplicação é

comutativa. Um contraexemplo simples para tal condição é dado para o caso em


1 1 1 1   1 1 
que n  2 : Considere o produto das matrizes     e
 2 0  2 0  2 2

1 1  1 1 3 1 
 2 0   2 0   2 2  . Como você pode ver, os produtos destas matrizes
     
resultam em matrizes diferentes, donde a comutativa da multiplicação não é
válida.]

Exemplo [Anel de Funções

Considere o conjunto A    f f :  
   das funções cujo domínio e

contradomínio é o conjunto dos números inteiros (analogamente, poderíamos


considerar os conjuntos das funções  ,  ou  , definidas no conjunto dos
números racionais, reais e complexos, respectivamente). Vamos definir duas
operações no conjunto A   , isto é, deve-se definir uma adição e uma
multiplicação de funções. Para isso basta considerarmos a adição e a multiplicação
de funções usuais:
 f , g  , f  g :  
 ,
f  g  x   f  x   g  x  ,  x  
;
f  g :  
 ,
 f  g  x   f  x   g  x  ,  x  
.

Verifiquemos, então, que o conjunto   ,  ,  é, de fato, um anel:


152

Sabemos que a adição e a multiplicação de funções (como foram definidas acima)


são fechadas, isto é, se somarmos duas funções de  em  resultará em uma
função de  em  , e se multiplicarmos duas funções de  em  também
resultará em uma função de  em  .
A adição é comutativa, pois:  x  ,  f , g     f  g  x   f  x   g  x  

g  x   f  x    g  f  x   f  g  g  f , em que foi utilizado o fato de a adição

de números inteiros ser comutativa.


A adição é associativa, pois:
x  , f , g , h     f   g  h  x    f  x    g  h  x  

 f  x    g  x   h  x    f  x   g  x   h  x    f  g   h   x  

 f   g  h   f  g   h , em que foi utilizado o fato de a adição de números

inteiros ser associativa.


O elemento neutro da terna   ,  ,  é a função nula 0 :  
  dada por

f  x   0,  x  , pois toda função adicionada a 0 resulta nela própria.

O simétrico aditivo para cada função f :  


  é a função  f :  
  dada

por   f  x    f  x  ,  x  . Evidentemente tem-se que

 x  ,   f   f   x    f  x   f  x   0,
, onde foi utilizado o fato de 0 ser o
 x  ,  f    f   x   f  x     f  x    0

elemento neutro da adição de números inteiros.


A multiplicação é associativa, pois  x  ,  f , g , h   

  f   g  h  x   f ( x)   g  h  x   f  x    g  x   h  x    f  x   g  x   h  x  

  f  g   h   x   f   g  h   f  g   h , em que foi utilizado o fato de a

multiplicação de números inteiros ser associativa.


A multiplicação é distributiva em relação à adição:  x  ,  f , g , h   

 f   g  h  x   f  x    g  h x   f  x    g  x   h  x  


 f  x   g  x   f  x   h  x    f  g  x    f  h  x  

  f   g  h   f  g    f  h  , onde foi utilizado o fato de a multiplicação de

números inteiros ser distributiva em relação à adição de números inteiros.


Além disso, podemos verificar que se trata de um anel comutativo com unidade:
A multiplicação é comutativa, pois:  x  ,  f , g   
153

 f  g  x   f  x   g  x   g  x   f  x    g  f  x   f  g  g  f , onde foi

utilizado o fato de a multiplicação de números inteiros ser comutativa.


O elemento neutro da multiplicação é a função 1 :  
  dada por

1  x   1 , pois  x   ,  f    f  x  1  x   f  x   f 1  f e

 x   ,  f    1  x   f  x   f  x   1  f  f . ]

Considerando-se os três exemplos acima, esperamos que você já tenha se


familiarizado um pouco com o conceito de anel. Repare que tal conceito não é nada
muito estranho a você, uma vez que conjuntos anteriormente conhecidos
satisfazem tais propriedades.

Assim como no estudo da Teoria de Grupos, os anéis também possuem


propriedades interessantes que são importantes e precisam ser investigadas. Como
vimos na seção anterior, muitos exemplos de anéis já são conhecidos desde o
ensino fundamental. Como mencionamos anteriormente, tanto na Teoria de Grupos
quanto na Teoria de Anéis a tentativa dos matemáticos é essencialmente a
generalização de propriedades comuns aos conjuntos dos números inteiros,
racionais, reais, complexos, dentre outros.
Enfatizamos novamente que, embora no estudo da Álgebra a percepção
abstrata esteja quase que totalmente presente, tal conhecimento é importante para o
desenvolvimento do raciocínio lógico, característica fundamental a um matemático
ou a um professor de matemática.

Propriedades - Considere  A ,  ,  um anel. Então são válidas as

seguintes propriedades:
a) O zero do anel é único;
b) Para cada elemento de x  A existe um único simétrico aditivo  x  A ;
c) Para cada elemento de x  A tem-se    x   x ;

d) Sejam x1 , x2 , ..., xn  A . Então, segue que

  x1  x2  ...  xn     x1     x2   ...    xn  ;

e) A lei do cancelamento é válida:  a, x, y  A , x  a  y  a  x  y ;


f)  x  A  0  x  x  0  0 ;

g)  x, y  A , x    y     x   y    x  y  ;

h)  x, y  A , ( x)  ( y)  x  y .
154

Demonstração: Os Itens a)  e) seguem diretamente devido ao fato de a adição

de  A ,  ser um grupo abeliano, e já demonstramos estas propriedades para o

caso de grupos.
f)  x  A  0  x   0  0   x  0  x  0  x  0  x  0 x  0 x  0 x  0, onde

foram utilizadas as propriedades distributivas e a unicidade (isto é, o elemento


neutro é único) do elemento neutro da adição.
g) Deve-se mostrar que o simétrico do elemento x  y coincide com o elemento

  x   y , pois como o simétrico é único, segue a igualdade x    y     x  y  . De

fato, x  y     x  y   0  x  0  x   y    y   x  y  x    y  

   x  y   x    y  , onde foi utilizado o Item f) e a lei do cancelamento. A

demonstração  x, y  A ,   x   y    x  y  é inteiramente análoga à anterior.

h) Utilizando o Item g), sabe-se que  x, y  A ,   x     y      x   y  

  x  y   x  y , em que foi utilizado o Item c).


  

Para que você prossiga com o aprendizado de mais propriedades de um


anel, é necessário saber o que significa a diferença entre dois elementos de um
dado anel  A ,  ,   , como estabelece a definição a seguir:

Definição - Seja A,  ,  um anel. Dados dois elementos x, y  A ,

define-se a diferença entre x e y, denotado por x  y  A , como sendo o elemento

x  y  x   y A .

Assim como em um dado conjunto numérico, a noção de potenciação é


importante se considerarmos, da mesma forma, um anel qualquer.

Definição - Seja A,  ,  um anel. Dados x  A e n  , define-se o

elemento x n  A por recorrência do seguinte modo:  n  1  x1  x, xn  xn1  x .

Propriedades - Considere  A ,  ,   um anel. Então:

a)  x  A,  n, m    xn  xm  xnm ;

b)  x  A,  n, m     x n   x nm .
m
155

Demonstração: Veja IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna.


2. ed. São Paulo: Atual, 1982.

Seção 2 – SUBANÉIS
Nesta seção estudaremos o conceito de subanel. Na verdade, você pode
pensar que um subanel é o subconjunto de um anel em que este próprio é um anel.
Formalizaremos tal conceito e provaremos algumas propriedades interessantes
respectivas a ele.

Definição - Seja  A ,  ,  um anel. Diz-se que um subconjunto não vazio

S  A é um subanel de A se, e somente se,


i) S é fechado para ambas as operações de A, ou seja,
 x, y  S  x  y  S e x  y  S ;

ii)  S ,  ,  também é um anel, onde a adição e a multiplicação indicadas são as

mesmas do anel A.

Exemplo [Considere o conjunto n   n z : n   , onde n  0 é um número

natural fixado. Verifique que  n ,  ,  (onde a adição e a multiplicação são as

usuais de  ) é um subanel de  .
i) n  é fechado para a adição e para a multiplicação: Sejam x, y  n  ; logo

existem z1 , z2  tal que x  n z1 e y  n z2 . Então

x  y  n z1  n z2  n  z1  z2   n  , x  y   n z1    n z2   n  n z1z2   n
, pois

z1  z2  e n z1 z2 
.

ii) É fácil ver que  n ,  ,  também é um anel, pois todas as propriedades seguem

diretamente das propriedades que são satisfeitas no anel  ,  ,  .]

Para justificar que um subconjunto S de um dado anel  A ,  ,  é

realmente um subanel, devemos provar diversas condições. Mas será que não
existe um modo mais sucinto de se evidenciar tal asserção? É isso o que estabelece
a proposição a seguir.
156

Proposição - Sejam  A ,  ,  um anel e S   um subconjunto de A.

Então S é um subanel de A se, e somente se,  x, y  S  x  y  S e x  y  S , isto


é, S é fechado para a subtração e para a multiplicação de A.
Demonstração: Veja IEZZI, G., DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna.
2. ed. São Paulo: Atual, 1982.

Seja  A ,  ,  um anel com unidade e S um subanel de A. Uma curiosidade

que surge é a seguinte: será que o subanel S possui unidade? No caso afirmativo,
esta é igual à unidade do anel A? Estas três situações poderão ocorrer: S pode não
ter unidade, S pode ter unidade diferente da unidade do anel A, S pode ter unidade
igual à unidade do anel A.

1º Caso: Considere o subanel  n ,  ,  de  com n  1 , descrito no

exemplo anterior. Sabemos que 1 n  , ou seja, o subanel n  não possui unidade.


Neste caso, existe a unidade de  , mas não existe a unidade de n  .

2º Caso: Considere  , +,  como sendo um subanel de e  , +,  . Neste

caso ambos possuem a mesma unidade.


3º Caso: Considere o anel    , +,  , em que o símbolo  representa o

produto cartesiano, e a adição e a multiplicação são definidas da seguinte forma:


  x1 , x2  ,  y1 , y2        x1 , x2    y1 , y2    x1  y1 , x2  y2  ,
 x1 , x2    y1 , y2    x1  y1 , x2  y2 .
Este anel recebe o nome de produto direto externo de  em  . Se

considerarmos o conjunto 0  , +,  , onde as operações de adição e

multiplicação são as mesmas de    , +,  pode-se verificar que este conjunto é

um subanel de    , +,  . Entretanto, o elemento 1,1     é a unidade do

0   é a unidade do subanel 0   . Assim,


anel    , enquanto que  0,1 

temos um anel com unidade que contém um subanel com unidade, porém as duas
unidades são distintas.
Note que a definição de produto direto externo pode ser generalizada da
seguinte forma: Sejam  A,  A , A  e  B,  B , B  anéis quaisquer com suas

respectivas adições e multiplicações. Podemos gerar um novo anel mediante os


anéis A e B, como mostraremos aqui:
157

Considere dois pares ordenados pertencentes ao produto cartesiano de A por


B, ou isto é,  x1 , x2  ,  y1 , y2   A  B . Definamos duas operações sobre o conjunto

A B , uma adição e uma multiplicação da seguinte forma:

 x1, x2    y1, y2    x1  A y1 , x2  B y2  ,  x1 , x2    y1, y2   (x1 A y1 , x 2 B y 2 ) .

É fácil verificar que o conjunto A  B munido com tais operações é, de fato,


um anel (você poderá demonstrar essa afirmação). Em notação matemática
podemos escrever que a terna é um anel.

Seção 3 – ANÉIS DE INTEGRIDADE


Anéis de integridade ou domínios de integridade são classes especiais de
anéis comutativos com unidade em que vale uma propriedade que será estudada
mais adiante. Para que você não pense que se trata de um assunto complexo, tenha
em mente, caro(a) estudante, que o anel   , +,  , bem conhecido, é um anel de

integridade. Para continuarmos com mais detalhes, formalizemos o conceito


exposto.

Definição - Seja  A, +,  um anel comutativo com unidade. Diz-se que

 A, +,  é um domínio de integridade ou anel de integridade se a seguinte

condição é satisfeita:  x, y  A, x  y  0 A  x  0 A ou y  0 A , onde 0 A denota o


zero do anel A.

Exemplo [Como mencionado anteriormente, é claro que o anel comutativo com


unidade   , +,  satisfaz a condição exposta na definição, pois se o produto de

dois números inteiros é igual a zero, então pelo menos um desses números deve,
necessariamente, ser igual a zero.]

Exemplo [Neste exemplo, consideraremos o anel  


, +,  . Sabemos que este

anel é comutativo e possui unidade, porém não é anel de integridade. Para verificar
essa afirmação, considere as funções f , g :  
 definidas por

f  01; f  x   0,  x  0 ; g  0  0; g  x  1,  x  0 . Claramente, tanto f quanto

g são funções não nulas, entretanto o a função produto f  g é a função nula, pois

 f  g  0  f  0  g  0  1.0  0 e  x  , x  0   f  g  x   f  x   g  x  

 0.1  0  f  x   g  x   0.1  0 .]
158

Exemplo [Considere o anel comutativo com unidade  6 ,  ,   apresentado.

Note que 2  3  0 e 2  0 , 3  0 . Portanto, o anel considerado não é domínio de


integridade.]
Agora que você está mais acostumado com o conceito de anel de
integridade, apresentaremos uma proposição que caracteriza esta classe de anéis.

Proposição - Seja  A, ,  um anel comutativo com unidade. Então

 A, ,   é um domínio de integridade se, e somente se, todo elemento não nulo de

A satisfaz a propriedade descrita a seguir:


 x, y, z  A, x  0 e x  y  x  z  y  z.

Demonstração:  Considere x  0 e x y  x z . Então, pelas

propriedades de anel sabe-se que x  y  z   0 . Como, por hipótese,  A, +,  é um

anel de integridade e como x  0 , conclui-se que y  z  0 , isto é y  z .

  Reciprocamente, suponha que existam x, y  A, x  0, y  0 tal que

x  y  0 . Então x  y  x  0 e, por hipótese, teríamos y  0 , o que é um absurdo.

Seção 4 – Corpos
Você já aprendeu diversos conceitos algébricos, tais como os de grupos,
subgrupos, anéis e assim por diante. Nesta seção você estudará o conceito mais
completo em relação aos outros conceitos até agora estudados. Tal conceito é o de
corpo.
Exemplos conhecidos de corpos são o conjunto  , +,  dos números

racionais, munidos com a adição e a multiplicação usuais, o conjunto  , +,  dos

números reais, munidos com a adição e a multiplicação usuais e também o


conjunto  , +,  dos números complexos, munidos com a adição e a

multiplicação usuais de números complexos.


Como você pode perceber, o conceito de corpo é um conceito simples, mas
de grande importância para o estudo da Álgebra.
Vamos iniciar nosso trabalho? Esperamos que você acompanhe e
compreenda os assuntos investigados nesta unidade, assim como os textos
anteriormente estudados. Bons estudos!
159

Definição - Seja  , +,  um anel comutativo com unidade. Diz-se que

 , +,  é um corpo se todo elemento não nulo possui inverso multiplicativo, isto

é,  x  , x  0   y   x  y  1 , onde 1 denota a unidade de  .

Para cada x   , existe um único inverso multiplicativo: Suponha que

y1  e y2   sejam dois inversos multiplicativos de x. Devemos mostrar que

y1  y2 , provando-se, assim, a unicidade do inverso. Então,

y1  1 y1   y2  x   y1  y2   x  y1   y2 1  y2 , onde foram utilizados os fatos de

que y1 e y2 são inversos multiplicativos de x. Denotaremos por x 1 o (único)


inverso multiplicativo de x.

Exemplo [Exemplos de corpos que você certamente já conhece são  , +,  ,


 , +,  ,  , +,  . O anel  , +,  não é um corpo, pois somente os elementos -1

e 1 possuem inverso multiplicativo. Se considerarmos o elemento 2 , este


1
elemento não possui inverso, pois   .]
2

Exemplo [Se considerarmos o anel n    das matrizes quadradas de ordem n

com coeficientes reais, percebemos imediatamente que este anel não é corpo, pois
nem toda matriz possui inversa. De fato, para que uma matriz quadrada definida
sobre  possua inversa é necessário e suficiente que o determinante dela seja
diferente de zero (para maiores informações, recomendamos a você consultar a
referência BOLDRINI, J. L.;COSTA, S. I. R..; FIGUEIREDO, V. L.; WETSLER,
H. G. Álgebra Linear. 3. ed. São Paulo: Harbra Ltda, 1986). ]

Exemplo [Seja  n ,  ,   o anel da classe de restos módulo n. Têm-se dois casos

interessantes a serem considerados com respeito a este anel:


1º Caso: Se n é um número primo então  n ,  ,   é corpo;

2º Caso: Se n não é um número primo então  n ,  ,   não é corpo.

Podem-se escrever estas informações mais formalmente:


O anel  n ,  ,   é um corpo  n é um número primo.]
160

Você estudará, aqui, propriedades de um corpo. Iniciaremos com duas


propriedades que relacionam o conceito de anel de integridade com o conceito de
corpo. Acompanhe o resultado a seguir:

Proposição - Todo corpo é um anel de integridade.


Demonstração: Como todo corpo é um anel comutativo com unidade, resta
mostrar que a implicação lógica  x, y  , x  y  0  x  0 ou y  0 é
verdadeira. Suponha então que x  y  0 e x  0 sejam válidas. Devemos mostrar

que y  0 . De fato, como x  0 , existe x1  tal que x  x1  1 . Multiplicando-

se ambos os membros da equação x y  0 por x 1 , tem-se que

x1   x  y   x1  0  0    x1  x   y  0  1 y  0  y  0 . Portanto, todo

corpo é anel de integridade.

Como você viu na proposição anterior, todo corpo é um anel de


integridade. Será que a recíproca é verdadeira? Isto é, será que todo anel de
integridade também é um corpo? A resposta é negativa: como contraexemplo
trivial basta considerarmos o anel  , ,  onde as operações de adição e

multiplicação consideradas são as usuais. Sabemos que  , ,  é anel comutativo

com unidade e que satisfaz a condição  x, y  , x  y  0  x  0 ou y  0 .


Entretanto, se considerarmos o elemento 2 , tal elemento não possui inverso
multiplicativo, donde  , ,  não é corpo.

Embora nem todo anel de integridade seja corpo, se acrescentarmos à


hipótese o fato de tal anel ser finito, teremos o resultado desejado, como mostra a
proposição a seguir.

Proposição - Todo anel de integridade finito é um corpo.


Demonstração: Esta demonstração leva em conta um elevado grau de
abstração, como será visto por você. Sendo assim, sugerimos que a estude com
bastante cuidado e atenção, para que você possa entendê-la mais profundamente.
Seja   a1 , a2 , ..., an  um anel de integridade finito com operações

 , ,   , contendo n elementos. Devemos mostrar que  , ,   é, de fato, um

corpo. Para isso raciocinemos da seguinte forma: para todo a  , a  0 , a

aplicação f a :  
 dada por f a  ai   a  ai é injetora, pois se
161

f a  ai   f a  a j   a  ai  a  a j , e como, por hipótese,  , ,   é corpo e como

a  0 , existe um elemento a 1  tal que a  a1  a1  a  1 e assim,

a 1   a  ai   a 1   a  a j    a 1  a   ai   a 1  a   a j  1  ai  1  a j  ai  a j ,

onde foi utilizada a propriedade associativa da multiplicação e a propriedade do


elemento neutro 1 da multiplicação de  .

Além disso, como  é finito, a aplicação f a :  


  também é

sobrejetora (se f a não fosse sobrejetora, existiria um elemento x  que não

seria imagem de nenhum elemento de  segundo f a , contradizendo o fato de f a

ser injetora). Então, tem-se que a    a  a1 , a  a2 , ..., a  an    , isto é, a unidade

1 de  pode ser expressa como sendo 1  a  ar para algum elemento

conveniente ar  . Desta forma, o elemento ar  é o inverso de a  , a  0 .


Como a  0 é um elemento genérico de  , acabamos de provar que todo
elemento não nulo de  , ,  possui inverso multiplicativo, ou seja,  , ,  é

um corpo.

Seção 5 – Subcorpos
Da mesma forma como definimos anteriormente subgrupos e subanéis,
definiremos aqui o conceito de subcorpo de maneira natural. Informalmente
falando, subcorpos são subconjuntos não vazios de um dado corpo  , ,  tal

que, com as operações de  , estes próprios são corpos. Você pode perceber que a
ideia empregada é a mesma que foi desenvolvida para subgrupos e subanéis.

Definição - Dado um corpo  , ,  , diz-se que um subconjunto

C  , C   é um subcorpo de  , ,  se valem as seguintes propriedades:

a) 1 C ;
b) a, b  C  a  b  C ;

c) a, b  C, b  0  a  b1  C .

É fácil verificar que C é fechado para a adição e a multiplicação de  .


Além disso, é imediata a verificação que  C , ,  também é um corpo.

Exemplo [A terna ordenada  , ,  é um subcorpo de  , ,  .]


162

Exemplo [A terna ordenada  , ,  não é um subcorpo de  , ,  .]

Exemplo [A terna ordenada  7 , ,   é o único subcorpo de si mesmo.]

Seção 6 – Homomorfismo e Isomorfismo de Anéis


Relembremos, caro(a) estudante, que já estudamos homomorfismo e
isomorfismo de grupos. Como você já sabe, um homomorfismo preserva a
estrutura dos grupos envolvidos.
O fato principal é o de que, no caso de grupos, havia somente uma única
operação e, no caso de anéis, existem duas operações. Deste modo, para se definir
um homomorfismo de anéis, devem-se preservar ambas as operações, como você
verá na definição dada a seguir:

Definição - Sejam  A,  A , A  e  B,  B , B  dois anéis quaisquer. Uma

aplicação f : A 
 B é chamada homomorfismo de A em B se as seguintes
condições se verificam:
i)  x, y  A  f  x  A y   f  x   B f  y  ;

ii)  x, y  A  f  x A y   f  x  B f  y  .

Exemplo [Sejam A   , ,  e B     o produto direto externo de  em 

(note que, desta forma, já especificamos as respectivas operações em B     ).


 B dada por f  x    x,0 ,  x  , tem-se
Se definirmos a operação f : A 

um homomorfismo de anéis, pois


 x, y    f  x  y    x  y, 0   x, 0   y, 0  f  x   f  y  ;

 x, y    f  x  y    x  y, 0   x, 0   y, 0  f  x   f  y  .]

Exemplo [Dado um anel qualquer  A, ,  , a aplicação identidade de A,

 A , dada por iA  x   x,  x  A , é claramente um homomorfismo de


iA : A 

anéis, pois  x, y  A, iA  x  y   x  y  iA  x   iA  y  ;

 x, y  A, iA  x  y   x  y  iA  x   iA  y  ]
163

Exemplo [Se A  B   , ,  , a aplicação f :  


 dada por

f  x     x,  x  , em que   0,1 não é um homomorfismo de anéis, pois

embora a condição i) seja satisfeita


 x, y    f  x  y      x  y     x    y  f  x   f  y  , a condição ii) não

se verifica:
 x, y    f  x  y      x  y   f  x   f  y      x      y   2   x  y  

f  x  y   f  x   f  y     0 ou   1 .]

Exemplo [Seja A   , ,  e B   n , ,   e considere a aplicação

f :  
 n dada por f  x   x ,  x  . Mostraremos que f é um

homomorfismo de anéis. De fato:

 x, y    f  x  y    x  y   x  y  f  x   f  y  ,

 x, y    f  x  y    x  y   x  y  f  x   f  y  . ]

Assim como foi estudado núcleo de um homomorfismo de grupos, nesta


seção apresentaremos o conceito de homomorfismo de anéis.
Você vai reparar que o conceito de homomorfismo de anéis é, simplesmente,
uma extensão natural do conceito de homomorfismo de grupos, levando-se em
conta que agora existem duas operações que devemos considerar, a saber, a adição
e a multiplicação, definidas no anel em questão. Prosseguiremos então com a
definição propriamente dita:

Definição - Dado um homomorfismo de anéis f : A 


 B , define-se o

núcleo de f, denotado por N  f  ou Ker  f  (do inglês kernel, que significa

núcleo), como sendo o subconjunto de A dado por N  f   x  A f  x   0B .  

Acompanhe mais alguns exemplos, caro(a) estudante.

  o homomorfismo nulo, isto é,  x  , f  x   0 .


Exemplo [Seja f :  

Então, se calcularmos o núcleo de f resultará no próprio conjunto  :


N  f    x   f ( x)  0
  , pois todos os elementos de  são ―levados‖ ao

elemento 0 mediante a aplicação do homomorfismo nulo.]


164

Exemplo [Considere o homomorfismo: A   , ,  , B     e f : A 


B

dada por f  x    x,0 ,  x  . Calculando-se o núcleo de f tem-se que


N  f   x   f ( x)   0,0   x   x,0   0,0  x  0  N  f   0 .]

Exemplo [Seja f :  
 n o homomorfismo dado por f  x   x ,  x  .

Calculemos o núcleo de f:   
N  f   x   f  x   0  x  x  0  
N  f   x  n  z, z    n  .

Em palavras, o núcleo de f são exatamente os múltiplos de n, isto é, os


números inteiros que possuem resto igual a zero quando divididos por n.]

Fique atento(a) à definição a seguir:

Definição - Seja f : A 
 B um homomorfismo de anéis. Se f é
aplicação sobrejetora, diz-se que f é um homomorfismo sobrejetor ou epimorfismo
de anéis.

Um exemplo de um epimorfismo é o homomorfismo dado no exemplo


 n dado por f  x   x ,  x  . Para cada classe de
anterior, ou seja, f :  

equivalência  
n  0, 1, ...,  n  1 , o conjunto dos números inteiros que
j 

possuem resto j na divisão por n, isto é, todos os números da forma


j    j  z, z   , são ―levados‖ na classe j segundo o homomorfismo f.

Veja, agora, algumas propriedades interessantes sobre homomorfismo de


anéis.

Proposição - Seja f : A 
 B um homomorfismo de anéis. Então são
verdadeiras as seguintes propriedades:
a) f  0 A   0B ;

b)  a  A  f  a    f a  ;

c)  a, b  A  f  a  b   f  a   f b  ;
165

d) O homomorfismo de anéis f : A 
 B é injetor se, e somente se,

N  f   0 A ;

e) Seja f : A 
 B um epimorfismo de anéis. Então se A possui unidade o

mesmo ocorre com B e ainda f 1A   1B. Se existe unidade em A e se a  A é

invertível, então f  a  também é invertível e tem-se que f  a 1    f  a  .


1

Demonstração: Para demonstrar os Itens a), b) e c), basta lembrar que


 A,  A  e  B,  B  são grupos, e f : A 
 B é um homomorfismo de grupos

(com a operação de adição), e assim as demonstrações são as mesmas feitas para


grupos.
Provemos, então, o Item d):
 Se x  N  f  tem-se que f  x   0B  f  0 A  , em que foi utilizado o Item a)

já demonstrado. Como f é injetora segue que x  0 A . Como x é um elemento

qualquer e como provamos que x  0 A , então o único elemento pertencente ao

núcleo é o 0 A , donde N  f   0 A .

  Reciprocamente, suponha que N  f   0 A e sejam x, y  A e

f  x  f  y  . Então, como f é homomorfismo implica que

f  x   f  y   f  x   f  y   0B  f  x  y   0B  x  y  0 A  x  y ,
isto é, f é injetora, o que completa a demonstração do Item d).
e) Considere um elemento qualquer b  B . Como, por hipótese, f é sobrejetora,
segue que existe a A tal que f a  b . Disto decorre que

b  f 1A   f  a   f 1A   f  a 1A   f  a   b ,

f 1A   b  f 1A   f  a   f 1A  a   f  a   b , ou seja, b  f 1A   b  f 1A   b ,

donde f 1A   1B .

Para demonstrar a segunda parte do Item e), note que


 a  A  f  a   f  a 1   f  a  a 1   f 1A   1B e que  a  A  f  a 1   f  a  

 f  a 1  a   f 1A   1B são verdadeiras, onde foi utilizado o fato f 1A   1B .

f  a 1    f  a  , pois o elemento


1
Deste modo, segue imediatamente que

inverso, quando existe, é único.


166

Proposição - Seja f : A 
 B um homomorfismo de anéis e seja L um

subanel de A. Então a imagem direta de L segundo f, f  L  , também é um subanel

de B .
Demonstração: Como L   , pois é um subanel, segue que f  L    .

Mostraremos que f  L  é fechado tanto para a subtração como para a

multiplicação de B. De fato, tem-se que  x, y  L  f  x   f  y   f  x  y  ,

 x, y  L  f  x  f  y  f  x  y , e tanto o elemento x  y quanto o elemento

x  y pertencem a L , pois L é subanel de A . Consequentemente, conclui-se que

f  L  é fechado tanto para a subtração como para a multiplicação de B.

Assim como foi feito para grupos, apresentaremos também o conceito de


isomorfismo de anéis, que nada mais é que uma extensão do conceito de
isomorfismo de grupos. Informalmente, dizer que existe um isomorfismo entre dois
anéis A, B ou, em outras palavras, dizer que A e B são isomorfos é dizer que os
anéis A e B não apresentam diferenças algébricas. Mais especificamente, A e B são
anéis que possuem as mesmas propriedades algébricas, embora possam ser
diferentes em termos de conjuntos, isto é, embora os elementos de A e B possam
ser diferentes, ainda assim tais anéis possuem exatamente as mesmas propriedades
algébricas. De outro modo, pode-se dizer que o que ocorre com os elementos do
anel A mediante as operações de A, ocorre similarmente com os elementos do anel
B mediante as operações de B. Anéis (grupos, corpos) isomorfos são identidades
algébricas. Em seguida, segue a definição de isomorfismo de anéis.

Definição - Sejam  A,  A , A  e  B,  B , B  dois anéis quaisquer. Uma

aplicação f : A 
 B é chamada isomorfismo de A em B se as seguintes
condições se verificam:
i) f é bijetora;
 B um homomorfismo de anéis, isto é,  x, y  A  f  x  A y  
ii) f : A 

 f  x B f  y  ;  x, y  A  f  x A y   f  x  B f  y  . Se existe um

isomorfismo f : A 
 B diz-se que os anéis  A,  A , A  e  B,  B , B  são

isomorfos.
167

Antes de prosseguirmos com alguns exemplos, note, caro(a) estudante, que


se f : A 
 B é um isomorfismo de A em B, então a aplicação inversa

f 1 : B 
 A também será um isomorfismo de B em A.

Exemplo [Dado um anel qualquer  A, ,  , a aplicação identidade de A,

 A , dada por iA  x   x,  x  A é claramente um isomorfismo de anéis,


iA : A 

pois iA é bijetora e também é um homomorfismo de anéis:

 x, y  A  iA  x  y   x  y  iA  x   iA  y  ;

 x, y  A  iA  x  y   x  y  iA  x  iA  y  ]

Exemplo [Sejam  A,  A , A  e  B,  B , B  anéis arbitrários e considere o produto

direto A B . Primeiramente provaremos que o conjunto

A  0B    x, 0B  x  A é um subanel de A  B . Claramente se tem

A 0B    . Verifiquemos que A  0B  é fechado tanto para a subtração como

para a multiplicação de A B :   x, 0B  ,  y, 0B  A   0B  

 x, 0B    y, 0B    x  y, 0B   A   0B  ;
  x, 0B  ,  y, 0B  A   0B    x, 0B    y, 0B    x  y, 0B   A  0B  .

Considere agora a aplicação  A  0B 


f : A  dada por

f  x    x, 0B  ,  x  A . Verifiquemos que f é um isomorfismo de A em A  B :

a) f é injetora: f  x   f  y    x, 0B    y, 0B   x  y .

b) f é sobrejetora: Dado y  A   0B  , existe x0  A tal que y   x0 , 0B  . Basta

tomarmos x  x0 e teremos f  x   f  x0    x0 , 0B   y , donde f é sobrejetora.

c) f é homomorfismo de anéis:
 x, y  A  f  x  y    x  y, 0B    x , 0B    y , 0B   f  x   f  y  ;

 x, y  A  f  x  y    x  y, 0B    x , 0B    y , 0B   f  x   f  y  .

Como f é bijetora e homomorfismo de anéis, f é isomorfismo de anéis.]

Exemplo [Neste exemplo consideraremos f :  


 n como sendo o

homomorfismo dado por f  x   x ,  x  .Tal aplicação é um homomorfismo


168

mas não é um isomorfismo, pois como N  f   0  , f não é injetora, donde não

é bijetora.]

Depois de exibidos alguns exemplos, apresentamos a você uma observação


interessante. Suponha que  A,  A , A  e  B,  B , B  sejam anéis arbitrários e que

L seja um subanel de A. Seja f : A 


 B um homomorfismo injetor de A em B.

Então a aplicação restrição f L  f  L  é um isomorfismo de anéis


: L 

(verifique este fato como exercício).


Desta forma o anel f  L  é uma ―cópia‖ de L. Em outras palavras, se existir

um homomorfismo injetor de A em B, B conterá as cópias de todos os subanéis de


A.

Síntese
Nesta unidade foram estudadas a Teoria de Anéis e a Teoria de Corpos. Em
anéis, definiram-se e estruturaram-se os subanéis, anéis de integridade,
homomorfismo e isomorfismo de anéis. Do mesmo modo, em corpos, estruturas
análogas às anteriores foram definidas e investigadas.

ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
Seção 1
1) Dê um exemplo de anel que não foi exibido no texto.
2) Dê um exemplo de um conjunto que não é anel, que não foi citado no texto.
3) Mostre que o conjunto dos números racionais munido com as operações
definidas por x  y  x  y  1, x  y  x  y  xy formam um anel. (repare que as
operações  e  denotam a adição e a multiplicação consideradas,
respectivamente).
4) Considere o conjunto    munido com as operações definidas por
(a, b)  (c, d )  (a  c, b  d ); (a, b)  (c, d )  (a  c  bd , ad  bc) . Mostre que

   , +,  é um anel. (Note que esta multiplicação é exatamente a multiplicação

considerada quando se estuda o conjunto dos números complexos que já foi


estudado no Ensino Médio).
169

5) Consideremos as operações  e  definidas em  , definidas por


xy
x  y  x  y  3, x  y  x  y  . Mostre que  ,  ,   é um anel (antes de
3
começar o exercício, note que a operação  denota a ―adição‖ deste anel, enquanto
que a operação  denota a ―multiplicação‖ deste anel).
Seção 2
1) Considere o conjunto    munido com as operações definidas por

 a, b    c, d    a  c, b  d  ;  a, b   c, d    a  c  bd , ad  bc . Mostre que

   , +,  é um anel comutativo com unidade.

2) Consideremos as operações  e  definidas em  , definidas por


xy
x  y  x  y  3, x  y  x  y  . Mostre que  ,  ,   é um anel comutativo
3
com unidade.
3) Quais dos conjuntos abaixo são subanéis de 2    (relembre que 2    é o

anel das matrizes quadradas de ordem 2 com coeficientes em  ):


 a 0 
 

a) L1    a, b    ;

 b 0  


 a 0  

b) L2    a, b, c    ;

 b c  

 a 0 
 

c) L3    a, b    ;

 0 b  


 0 a  

d) L4    a, b, c    .

 c b  

4) Se B e C são subanéis de A, mostre que B  C também e subanel de A.

Seção 3
1) Dê um exemplo de um anel de integridade que não foi apresentado no texto.
2) Dê um exemplo de um anel que não é anel de integridade e que não foi
apresentado no texto.
3) O conjunto  , ,  é um anel de integridade?

4) Mostre que o conjunto  n , ,  , n  4 é número par, não é anel de

integridade.
(Dica: se n  2q , veja o que ocorre ao se multiplicar 2 por q).
170

Seção 4
1) Mostre que todo elemento a  0 de um corpo  , ,  é regular. (Dica: veja a

Unidade 2).
2) Dado um corpo  , ,  , quem são os elementos invertíveis de  ?

3) Dê exemplo de um corpo que não foi mencionado no texto.


4) Considere  , ,  o corpo dos números complexos com a adição e

multiplicação usuais de números complexos. Calcule o inverso dos seguintes


elementos:
a) 2  5i ;
1
b) ;
1  3i
c) a  bi , a, b  0 .

Seção 5
1) Dê um exemplo de um anel com unidade onde só a unidade é invertível.
2) Encontrar os elementos invertíveis dos seguintes anéis:
a)  20 ; b) 9 ; c) 31 ; d)  ; e)  ; f) 4    .

3) Mostre que se A é um anel de integridade, e a  A é um elemento de A tal que


a 2  1 então a  1 ou a  1 .
4) Verifique se são subcorpos:
a) C  0,1 de um corpo  qualquer;

b) C  1,0,1 de um corpo  qualquer;

c) C  a  bi a, b  do corpo dos números complexos  ;

d) C  { a  b 3 5 a, b } do corpo dos números reais  ;

 
e) C  a  b 11 a, b  do corpo dos números reais  .

5) Mostre que se A e B são subcorpos de um corpo  , então A  B também é


subcorpo de  .
Seção 6
1) Verifique se as aplicações f : A 
 B dadas a seguir são ou não
homomorfismos de anéis:
a) A  B   e f  x   x  3 ;

b) A  B   e f  x   5x ;
171

c) A     , B   e f  x, y   2 x  y ;

d) A   , B     e f  x    0, x  ;

e) A   , B     e f  x    x, x  1 ;

f) A  B     e f  x, y    3x, 4 y  ;

g) A  B   e f  a  bi   a bi .

2) Calcule o núcleo de cada homomorfismo dado no Exercício 2.


3) Quais das aplicações dadas no Exercício 2 são isomorfismos de anéis?
4) Calcule todos os homomorfismos de  em  . (Dica: Veja IEZZI, G.,
DOMINGUES, H. H.. Álgebra Moderna. 2. ed. São Paulo: Atual, 1982).
 a b 
 2    dada por f  a  bi   
5) Verifique se a aplicação f :    é
 b a 
homomorfismo de anéis. É isomorfismo?

PALAVRAS FINAIS

Somos extremamente gratos pela oportunidade de elaboração deste livro


didático, intitulado Fundamentos de Álgebra.
Sabemos da responsabilidade de promover o ensino da matemática e
tentamos criar um material que fosse importante recurso na sua formação de futuro
professor(a) e de matemático(a).
Para a elaboração deste livro tomamos o cuidado de não deixar de lado o
rigor necessário nas demonstrações, valorizando o método científico e, por outro
lado, promover uma linguagem mais acessível, que nos aproximasse de quem
estivesse concentrado e dedicado em sua leitura.
Preocupamo-nos, ainda, em apresentar vários exemplos que ilustrassem os
conteúdos abordados, de forma a esclarecer as respectivas definições, teoremas,
propriedades e assim por diante.
A Álgebra exige um elevado nível de abstração; devido a este fato,
procuramos apresentar raciocínios e demonstrações, de sorte a facilitar seu acesso a
tal abstração.
Agradecemos pela sua leitura e desejamos que seus estudos sigam além
destas páginas.
Arrisque-se e trilhe um caminho de grande aprendizado e realizações.
Sucesso!
172

REFERÊNCIAS

AVRITZER, D.; BUENO, H. P. et al. Fundamentos de Álgebra. Belo Horizonte:


UFMG, 1985.

BOLDRINI, J. L.; COSTA, S. I. R.. et al. Álgebra Linear. São Paulo: Harbra
Ltda., 1986.

DOMINGUES, H. H.: IEZZI, G. Álgebra Moderna. São Paulo: Editora Atual,


1982.

DOMINGUES, H. H. Fundamentos de Aritmética. São Paulo: Editora Atual,


1991.

EVARISTO, J.; PERDIGÃO, E. Introdução à Álgebra Abstrata. Maceió:


EDUFAL, 2002.

FILHO, E.A. Iniciação à Lógica Matemática. 2. ed. São Paulo: Nobel, 2002.
MILIES, C. P.; COELHO, S. P. NÚMEROS - Uma Introdução à Matemática. 3.
ed. São Paulo: Edusp, 2001.

NOTAS SOBRE OS AUTORES

Giuliano Gadioli La Guardia


Possui bacharelado em Matemática Pura pela Universidade Estadual de
Campinas - UNICAMP, mestrado em Matemática Pura pela Universidade Estadual
de Campinas - UNICAMP e doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade
Estadual de Campinas - UNICAMP. É professor adjunto da Universidade Estadual
de Ponta Grossa (Departamento de Matemática e Estatística - DEMAT). Suas áreas
de interesse são: Teoria de Codificação Clássica, Teoria de Codificação e
Informação Quântica e Teoria de Matróides.

Margarete Aparecida dos Santos


É graduada em Matemática pela Universidade Estadual de Ponta Grossa,
possui especialização em Educação, Metodologia do Ensino Superior pela
Universidade Estadual de Ponta Grossa e mestrado em Métodos Numéricos em
Engenharia, pela Universidade Federal do Paraná.
173

Atualmente é Professora Assistente da Universidade Estadual de Ponta


Grossa (Departamento de Matemática e Estatística - DEMAT). Tem experiência na
área de Matemática, com ênfase em Matemática Aplicada, atuando principalmente
na Avaliação, Data Envelopment Analysis (DEA) e Educação a Distância.

RESPOSTAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS


UNIDADE 1
Seção 1
1. a) 343; b) 157; c) 527; d) 101010111
2. a) 1100000, 11101000111; b) 1515, 505516; c) 15D17, 7632ABC6
Seção 2.1
2. Utilize: a  a  1 a  2 a  3  1

Seção 2.2

2. Utilize: 2n  1   n  1  n2 , para n  0
2

6. b) Utilize: 1  a   1  na , multiplicando por 1  a


n

Seção 2.3
1) a) 148; b) 264
3) a) 35.210; b) – 44.33; c) 0
Seção 2.4
1) Para um número ser divisível por 4, seus dois últimos algarismos devem ser
divisíveis por 4.
n
2) 7 |   1  ai2  3ai1  2ai  .
i

i 2

Seção 2.5
4) Utilize: d  mdc  a, b, c   au  bv  cw  d e a  pd , b  qd e c  rd .

ab
5) Utilize: mmc  a, b   .
mdc  a, b 

6) Utilize: se d = mdc(ab, c), então d | ab e d | c .


Seção 2.6
1) a) 4, – 3; b) 182, 104; d) – 34, – 17.
2) a)  x, y    5  9k ,1  4k  .

b) A equação não possui solução.


c) A equação possui solução, mas fazendo os testes para 1, 2,..., 14, 15, nenhum
desses valores resultou num valor inteiro para x.
174

d) (x, y) = (1, 66) e (x, y) = (12, 4).


Seção 2.7
2) 157, 163, 167, 173, 179, 181, 187, 191, 193, 197, 199, 211, 223, 227, 229, 233,
239 e 241.
3) Utilize o teorema fundamental da aritmética.
5) Utilize o teorema fundamental da aritmética.
7) Suponha que p seja primo e n seja composto.
Seção 2.8
9 22 29
4) a) ; b) ; c)
11 21 27

UNIDADE 2
Seção 1
3) Não
Seção 3
1) 0,3,6,9,12 ,2,5,8,11,1, 4,7,10
~   4, 4  ,  3, 3 ,  2, 2  ,  2, 4  ,  4, 2  ,  1, 1 ,  1,3 ,
2)
 3, 1 ,  0,0  ,  0, 2  ,  2,0  , 1,1 ,  2, 2  , 3,3 ,  4, 4 
A / ~ 2, 4 , 1,3 , 4 , 3 , 1

  1,1 , 1, 2  , 1,3 ,  2,1 ,  2, 2  ,  2,3 ,  3,1 ,


3)
 3, 2 ,  3,3 ,  4, 4  ,  5,5 ,  5,6  ,  6,5 ,  6,6 
4)   0,0 ,  0, 2 ,  2,0  ,  2, 2  , 1,1 , 1,3 , 3,1 , 3,3

A / ~  0, 2 , 1,3

Seção 4
1) (t), (p), (t) e (p)

2) Limite superior: l.s.  3 , limite inferior: l.i.  3 , não possui ínfimo, supremo,
máximo e mínimo.
3) Limite superior: l.s.  2 , limite inferior: l.i.  1 , ínfimo = 1, supremo = 2, não
tem máximo e mínimo = 1.
4) Limite superior: l.s. = 30, limite inferior: l.i.=3, ínfimo = 3, supremo = 30, não
possui máximo nem mínimo.
Seção 5
4) a)11 b) 1 c)22
175

5){0, 1, 2, 3}; 0, 1, 2 e 3; 0  ..., 8, 4,0, 4,8,12,... ,

1  ..., 9, 5, 1,1, 5, 9,...


 , 2  ..., 6, 2, 2,6,10,... e 3  ..., 7, 3,3,7,11,... 
6)
 0 1 2 3 4  0 1 2 3 4
0 0 1 2 3 4 0 0 0 0 0 0
1 1 2 3 4 0 1 0 1 2 3 4
2 2 3 4 0 1 2 0 2 0 1 3
3 3 4 0 1 2 3 0 3 1 4 2
4 4 0 1 2 3 4 0 4 3 2 1

1 e 1, 2 e 3, 4 e 4
7) a) 20 c) 263

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