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Introdução
Neste capítulo, você aprenderá a identificar espaços vetoriais não ne-
cessariamente n-dimensionais (como ℝ n), seus subespaços vetoriais,
as condições necessárias às operações que definem o espaço e seus
subespaços, as propriedades básicas dos espaços e subespaços, assim
como verá exemplos principais de espaços e subespaços vetoriais.
É natural que o primeiro contato do aluno com a álgebra linear seja
por meio de matrizes e vetores do ℝ n. Nesse ambiente, é mais fácil visuali-
zarmos os resultados e as propriedades desses espaços, as operações e as
relações de ângulo e medida. Agora que temos uma visão mais aguçada
do assunto, podemos generalizar esses conceitos a fim de percebermos
essa estrutura (linear) em outros sistemas, conjuntos ou aplicações.
2 Espaços vetoriais: exemplos e propriedades básicas
Os espaços vetoriais
Um espaço vetorial E é um conjunto de vetores, no qual estão definidas ope-
rações de soma e de multiplicação por um número real, de modo que dados
vetores u, v ∈ E e α ∈ ℝ:
a) Comutatividade: u + v = v + u.
b) Associatividade: (u + v) + w = u + (v + w) e (αβ) u = α(βu).
c) Vetor nulo: existe 0 ∈ E, dito vetor nulo, tal que, para todo v ∈ E:
v + 0 = 0 + v = v;
– u + u = u + (–u) = 0;
Uma curiosidade é reparar que usamos o símbolo “0” tanto para o nú-
mero real zero quanto para o vetor nulo. Isso não será problema, pois uma
consequência desses axiomas é que 0 ⋅ u = 0.
Espaços vetoriais: exemplos e propriedades básicas 3
Num espaço vetorial qualquer, os elementos que compõem E não são necessariamente
n-uplas de números reais representando um segmento orientado. Logo, não usamos
→
a notação u para os elementos d e E como fazíamos no espaço vetorial ℝ n.
u = an xn + ⋯ + a1x + a0
v = bn xn + ⋯ + b1x + b0,
onde an, … , a1, a0, bn, … , b1, b0 ∈ ℝ. Nesse espaço, definimos as operações de
modo que:
0 = 0xn + ⋯ + 0x + 0
E o inverso aditivo de u é:
– u = – an xn – … – a1x – a0.
4 Espaços vetoriais: exemplos e propriedades básicas
u = u(x)
v = v(x).
u + v = u(x) + v(x),
αu = α ⋅ u(x).
0 = 0(x) = 0
E o inverso aditivo de u é:
– u = – u(x).
Espaços vetoriais: exemplos e propriedades básicas 5
Subespaços vetoriais
Seja E um espaço vetorial. Um subespaço vetorial (ou apenas subespaço)
de E é um subconjunto F ⊂ E que ainda é um espaço vetorial em relação às
operações de E. Isto é, F apresenta as seguintes propriedades.
i. Se u, v ∈ F, então u + v ∈ F.
ii. Se u ∈ F, então, para todo α ∈ ℝ, αu ∈ F.
Subespaços gerados
Dado um conjunto de vetores B = {u1, u2, … , un } contido no espaço vetorial
E, dizemos que u ∈ E é combinação linear de u1, u2, … , un, se existem α1, α2,
…, αn ∈ ℝ:
onde n = 1, …, + ∞.
Assim, podemos afirmar que o gerado de B é um subespaço de C0 (I) no qual, para
todo u ∈ ger (B), existem α1, α2, … ∈ ℝ, tal que:
Podemos entender esse conjunto como sendo o das cordas tensionadas e vibrantes
entre os pontos fixos (0,0) e (1,0), onde cada ui representa uma frequência de u.
Veja, a seguir, a Figura 1.
a11 a12
Considere o conjunto F das matrizes 2 × 2 da forma u = a
21
a22 , onde aij ∈ ℝ para
todo i,j = 1,2.
a a b b
Dados u = a11 a12 , v = b11 b12 e α є ℝ , definimos a soma e a multiplicação
21 22 21 22
αa11 αa12
αu =
αa21 αa22
a11 + b11 a12 + b12 c11 c12 a11 + b11 + c11 a12 + b12 + c12
b) (u + v) + w = a + b
21 21
a22 + b22 + c21 c22 = a21 + b21 + C21 a22 + b22 + c22 =
0 0
c) Tomando 0 = , então, para todo v ∈ E:
0 0
0 0 b b b b12
0+v= + b11 b12 = b11 b22 = v;
0 0 21 22 21
–a11 –a12
d) Para cada u ∈ E tomando –u = (–1)u = , temos:
–a21 –a22
a11 a12 –a11 –a12 0 0
u + (–u) = + = ;
a21 a22 –a21 –a22 0 0
a a (α + β)a (α + β)a
e) (α + β)u = (α + β) a11 a12 = (α + β)a11 (α + β)a12 e
21 22 21 22
1a11 1a12
1·u= u.
1a21 1a22
a a
u = a11 λ12
21
a +b a12 + b12 c11 c12 a11 + b11 + c11 a12 + b12 + c12
b) (u + v) + w = a11 + b11 + c
21 21
λ 21
λ = a21 + b21 + c21 λ
0 0
c) Tomando 0 = , então, para todo v ∈ E:
0 λ
0 0 b b12 b b12
0+v= + 11 = 11 = v;
0 λ b21 λ b21 λ
Espaços vetoriais: exemplos e propriedades básicas 11
–a11 –a12
d) Para cada u ∈ E tomando –u = (–1)u = –a λ , temos:
21
a a –a –a12 0 0
u + (–u) = a11 λ12 + –a11 λ = 0 ;
21 21 λ
e) a a (α + β)a11 (α + β)a12
(α + β)u = (α + β) a11 λ12 = =
21 (α + β)a21 λ
a a
u = a11 a12
21 22
escalar em H, como:
a11
2
+ b112 a122 + b122
u + v = a2 + b 2 a 2 + b 2
21 21 22 22
αa11 αa12
αu =
αa21 αa22
Dessa forma, as condições (i) e (ii) funcionam igual aos demais exemplos, assim como
a condição (a). Contudo, a condição (b) não é verificada, pois:
2 2
a112 + b112 a122 + b122 c11 c12 (a11
2
+ b11
2
) + c112 (a122 + b122 ) + c122
(u + v) + w = a 2 + b 2 a 2 + b 2 + c c22 = (a21
2
+ b21
2
2
) + C212 (a222
2
+ b222 ) + c222
21 21 22 22 21
Enquanto que:
2 2
a a b112 + c112 b122 + c122 a112 + (b112 + c112 ) a122 + (b122 + c122 )
u + (v + w) = a11 a12 + 2 = 2 2 2
21 22 b21 + c21 b22 + c22
2 2 2
a21 + (b212 + c212 ) a222 + (b222 + c222 )
u = [aij],
v = [bij]
u + v = [cij ],
0 = [0]
E o inverso aditivo de u é:
– u = [– aij].
Outro exemplo são as sequências ordenadas de infinitos números reais, o ℝ∞. Nesse
conjunto, os elementos de ℝ∞ são:
onde a1, b1, a2, b2, a3, b3, …∈ ℝ. Nesse espaço, definimos as operações de modo que:
0 = (0, 0, 0,…)
E o inverso aditivo de u é:
Se u, v ∈ F, então u + v ∈ F.
Se u ∈ F , então, para todo α ∈ ℝ, α u ∈ F.
Lembrando que uma matriz A = [aij], n × n é dita simétrica se, para todo i,j = 1, …, n,
aij = aji, isto é, se A coincide com a sua transposta (A = AT ).
Nessas condições, verificamos que Sn é um subespaço de Mn × n(ℝ), pois:
Espaços vetoriais: exemplos e propriedades básicas 15
αaij = αaji
F = M2×2(ℝ).
Gλ =
{ a11 a12
a21 λ
; a11, a12, a21 є ℝ
{
Com as operações de soma e multiplicação por número real, de forma que:
αa11 αa12
αu =
αa21 λ
Essa comparação ilustra o fato que os espaços e subespaços são formados por
uma terna de um conjunto e duas operações, e que um subconjunto só é subespaço
quando usa as mesmas operações do espaço que o contém.
Gx0 = {u ∈ E; u(x0) = 0}
das funções contínuas em I e que contém um ponto fixo em (x0,0). Tomando as opera-
ções naturais de soma de funções e multiplicação por número escalar, verificamos que:
1. dadas as funções u, v ∈ Gx0, então u + v = u(x) + v(x) é uma função contínua, de
forma que (u + v)(x0 ) = u(x0 ) + v(x0 ) = 0 + 0 = 0, logo u + v ∈ Gx0;
2. dada a função u ∈ Gx0 e α ∈ ℝ, então αu = αu(x) é uma função contínua, de forma
que (αu)(x0 ) = αu(x0 ) = α0 = 0, logo αu ∈ Gx0.
Isso mostra que Gx0 é um subespaço de C0 (I).
Espaços vetoriais: exemplos e propriedades básicas 17
das funções contínuas em I e que contém um ponto fixo em (x0,λ). Esse não é subes-
paço vetorial de C0 (I) porque a soma de funções em Hx0 não é fechada Hx0.
Dadas as funções u, v ∈ Hx0, então u + v = u(x) + v(x) é uma função contínua, de
forma que (u + v)(x0 ) = u(x0) + v(x0 ) = λ + λ = 2λ ≠ λ, logo u + v ∉ Hx0.
Isso mostra que Hx0 não é um subespaço de C0 (I).
Seja M3×2(ℝ) o espaço vetorial das matrizes 3 × 2 de coeficientes reais com as operações
naturais de soma de matrizes e multiplicação por número real. Definindo subconjunto:
a11 a12
G= u = a21 a22 є M3×2 (ℝ); a11 ≥ 0
a31 a32
Verificamos o seguinte.
1. Dadas as matrizes:
então:
2 3 –2 –3
2. Dados α = – 1 e u = 3 4 então α ∈ ℝ, u ∈ G , enquanto que: αu = –3 –4 є G.
4 5 –4 –5
Logo G não é fechado para a multiplicação por número real.
Portanto, G não é subespaço de M3×2(ℝ).
Seja M2×2(ℝ) o espaço vetorial das matrizes 2 × 2 de coeficientes reais com as operações
naturais de soma de matrizes e multiplicação por número real. Definindo subconjunto:
2 3 v= 0 0
Verificamos que G não é fechado para a soma, pois, dados u = e ,
0 0 1 0
temos que u, v ∈ G . Os determinantes de u e v são nulos (logo, não contêm inversa),
2 3
enquanto que u + v = , cujo determinante é diferente de zero (logo, contém
1 0
inversa). Portanto, u + v ∉ G e G não é subespaço de M2×2(ℝ).
Referência
ANTON, H.; RORRES, C. Álgebra linear com aplicações. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.
Leituras recomendadas
ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. v. 1.
LAY, D.; LAY, S.; MACDONALD, J. Álgebra linear e suas aplicações. 5. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2018.