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ANÁLISE

DE CIRCUITOS
ELÉTRICOS

Lucas Araujo da Costa


Circuitos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer as características dos circuitos RC.


 Determinar as características dos circuitos RL.
 Analisar circuitos RLC série e paralelo.

Introdução
Os circuitos RC, RL e RLC são constituídos, respectivamente, de um resistor
associado a um capacitor, de um resistor associado a um indutor e de
um resistor associado a um indutor e a um capacitor. Se houver mais de
um resistor, capacitor e/ou indutor nesses circuitos, estes devem estar
conectados entre si, de modo que se possa realizar suas respectivas
combinações por associação em série ou em paralelo, substituindo-os
por um resistor, capacitor e/ou indutor equivalente. Quando há uma
fonte excitando o circuito, a forma como se dá a associação desta com
os demais elementos do circuito faz com o que o circuito possa ser clas-
sificado como série ou paralelo. Embora os circuitos RC, RL e RLC sejam
as topologias mais básicas que podem ser formadas pela associação de
resistores, capacitores e indutores, eles são muito importantes e presentes
em muitas aplicações reais com excitação em corrente alternada (CA),
devido às suas características de seleção de frequências.
Tanto no domínio do tempo como no domínio da frequência, os
circuitos RC, RL e RLC podem ser analisados pelas leis de Kirchhoff da
tensão (LKT) e da corrente (LKC). Na análise no domínio do tempo, são
obtidas equações diferenciais em relação ao tempo, sendo suas soluções
compostas de um termo transiente e outro estacionário, quando na apli-
cação repentina de uma fonte CA. Na análise no domínio da frequência,
são obtidas equações que são funções da frequência de excitação do
circuito. Essas características se devem às relações entre tensão e corrente
impostas pelo capacitor ou indutor, dependendo do tipo de circuito.
2 Circuitos

As grandezas elétricas podem ser interpretadas como sinais elétricos.


Os circuitos RC, RL e RLC constituem os denominados filtros passivos de
sinais, pois as grandezas elétricas que são obtidas dos circuitos, para fre-
quências diferentes da fonte de excitação, sofrem ou não uma atenuação.
Dependendo do tipo de circuito, da forma como os elementos estão
conectados entre si, do elemento do qual é obtido o sinal desejado e
da própria grandeza elétrica que constitui esse sinal, obtém-se equações
que proporcionam uma atenuação de sinais senoidais de frequências
baixas, altas ou pertencentes a uma ou duas faixas de frequência. Os
circuitos RC e RL podem, assim, constituir filtros de sinais de baixas ou
altas frequências, enquanto os circuitos RLC podem constituir filtros que
permitem ou rejeitam a passagem de sinais de determinadas frequências,
sendo que os valores de seus componentes determinam essas faixas de
passagem e rejeição.
Neste capítulo, você vai estudar o comportamento dos circuitos RC,
RL e RLC na aplicação de uma excitação senoidal CA, analisando-os nos
domínios do tempo e da frequência em regime permanente.

Características dos circuitos RC


Os circuitos denominados RC são formados pela associação de um resistor
com um capacitor, sendo que tanto o resistor quanto o capacitor podem ser o
equivalente da associação de muitos resistores ou capacitores, respectivamente.
A energia presente no circuito pode ser proveniente:

 unicamente da energia armazenada no capacitor, quando não há uma


fonte independente conectada à associação, seja de tensão ou corrente;
 unicamente da fonte, quando há uma fonte independente conectada, e
o capacitor está descarregado; ou
 de ambos os meios, quando há uma fonte independente conectada e há
energia armazenada no capacitor.

Se houver uma fonte de tensão independente conectada, o circuito RC


deverá ter o resistor e o capacitor em série com a fonte de tensão, e o circuito
é chamado de circuito RC série. Se houver uma fonte de corrente independente
conectada, o circuito RC deverá ter o resistor e o capacitor em paralelo com
a fonte de corrente, e o circuito é chamado de circuito RC paralelo. Circuitos
RC sem fonte, RC série e RC paralelo são apresentados nas Figuras 1a, 1b e
Circuitos 3

1c, respectivamente, sendo que as fontes são aplicadas aos circuitos em um


instante t = t0, pelo fechamento de uma chave.
Deve-se observar que os conceitos de transformação de fontes e os teoremas
de Thévenin e Norton são válidos para esses circuitos, e, assim, um circuito
RC série pode ser representado como um circuito RC paralelo, por exemplo.

Figura 1. Circuitos RC: a) sem fonte; b) série; c) paralelo.

Circuitos RC com fonte senoidal CA aplicada: análise no


domínio do tempo
Para um circuito RC sem fonte independente, como o dado na Figura 1a, o
capacitor deve ter uma tensão sobre ele no instante inicial da análise para que
haja energia no circuito. A resposta da tensão v(t) é dada somente pela energia
inicial armazenada no capacitor, sendo essa resposta conhecida como resposta
natural, segundo Nilsson e Riedel (2008) e Alexander e Sadiku (2013).
Se uma fonte senoidal CA independente (vS (t) =Vm cos (ωt + ϕ) ou (iS (t) =Im
cos (ωt + ϕ)) for aplicada repentinamente em um circuito RC, este apresentará
uma resposta com uma característica senoidal CA. A resposta é obtida, as-
sim, pelo chaveamento (fechamento de uma chave do circuito) de uma fonte
senoidal CA de tensão a um circuito RC série, ou de uma fonte senoidal CA
de corrente a um circuito RC paralelo, que cria a conexão da fonte ao circuito
em um instante t0. Assim, t0 é um instante de transição nesse circuito RC. (As
representações dos circuitos RC série e paralelo com a aplicação de uma fonte
em t = t0 foram dadas nas Figuras 1b e 1c, respectivamente).
O capacitor do circuito RC excitado por fonte pode ou não ter energia
armazenada no instante inicial da análise; se tiver, há uma tensão inicial
diferente de zero sobre ele no instante t0, ou seja, v(t0) ≠ 0, e a resposta obtida
para v(t) é denominada de resposta completa ou total. Se não houver energia
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armazenada no instante inicial da análise, então v(t0) = 0, e a resposta obtida


para v(t) é denominada de resposta forçada.
A resposta completa do circuito RC é dada por uma soma das respostas
natural e forçada. Assim, na resolução de um circuito RC, você pode obter
ambas as respostas separadas e, então, somá-las para obter a resposta completa,
como indica a Equação (1) e conforme Alexander e Sadiku (2013).

(1)

Considerando que para o circuito da Figura 1b há uma tensão inicial


sobre o capacitor, pela aplicação da LKT após a chave do cir-
cuito fechar (ou seja, para t ≥ t0), temos que

que é uma equação diferencial de primeira ordem para a resposta v(t). Por
isso, o circuito RC é classificado como circuito de primeira ordem.
A solução da equação diferencial de primeira ordem não será detalhada
aqui; para os casos em que seus coeficientes são constantes, suas possíveis
soluções são conhecidas. No caso de um circuito RC cujos elementos não variam
com as grandezas elétricas, a equação diferencial obtida para sua resposta é
justamente uma equação diferencial ordinária com coeficientes constantes,
segundo Nilsson e Riedel (2008). Assim, chamando-se a resposta natural de
vN (t) e a resposta forçada de vF (t), as formas de ambas são dadas nas Equações
(2) e (3), segundo Thomas, Rosa e Toussaint (2011).

(2)

(3)

Pela aplicação da resposta forçada da Equação (3) na equação diferencial


dada, obtém-se os valores de a e b como dados nas Equações (4) e (5),

(4)

(5)
Circuitos 5

obtendo-se a Equação (6) para a resposta forçada:

para t ≥ t0 (6)

A resposta forçada da Equação (6) também pode ser escrita de outra forma,
como dado na Equação (7):

, para t ≥ t0 (7)

O ângulo θ é dado pela Equação (8):

(8)

A partir do conhecimento da condição inicial , obtém-se o


valor de K com o cálculo da soma das respostas natural e forçada no instante
t0, dado na Equação (9):

(9)

Tem-se, assim, a Equação (10) para a resposta completa:

,
para t ≥ t0 (10)

O termo , presente na função exponencial da resposta natural, deter-


mina sua velocidade de decaimento. O inverso desse termo é denominado de
constante de tempo, representada pela letra grega tau (τ), sendo um conceito
utilizado comumente para indicar a velocidade de decaimento do valor da
resposta natural em um circuito de primeira ordem. Quanto mais alto o valor de
, mais lento será o decaimento de vN (t); já quanto mais baixo o seu valor, mais
veloz o decaimento. Observe que, para o circuito RC, τ é dada pela Equação
(11), possuindo uma dimensão de tempo: é dada em segundos, conforme
Nilsson e Riedel (2008) e Alexander e Sadiku (2013).

(11)
O conceito de constante de tempo também é importante para o circuito
RC quando ele é excitado por uma fonte senoidal CA: após cinco constantes
de tempo, a contribuição da componente da resposta natural na resposta
6 Circuitos

completa praticamente se anula. Diz-se, então, que o circuito atingiu o regime


permanente ou estacionário, quando não há mais alterações significativas nas
grandezas elétricas do circuito com o tempo: todas elas atingiram seu estado
final. Assim, a resposta forçada se torna a única responsável pela resposta
em regime permanente do circuito. A resposta completa pode ser, portanto,
vista como a soma de uma resposta transitória com uma resposta estacionária.
Essas relações são dadas na Equação (12), segundo Alexander e Sadiku (2013).

(12)

Uma observação importante é que a energia inicial armazenada no capacitor


tem sua origem em um carregamento deste por uma fonte CC em instantes
anteriores ao instante inicial da análise, nos quais o resistor não está conectado
ao capacitor. Considera-se que o instante inicial é dado pelo instante em que
o capacitor é desconectado dessa fonte CC que o carregou e conectado ao
resistor, conforme Nilsson e Riedel (2008).

Circuitos RC com fonte senoidal CA aplicada: análise no


domínio da frequência
Nas análises no domínio da frequência, considera-se que o circuito está em
regime permanente. Nesse caso, a resposta obtida não é influenciada pela
energia que inicialmente poderia estar armazenada no capacitor. Um circuito
RC série no domínio da frequência é dado na Figura 2, onde s é uma frequência
qualquer.

Figura 2. Circuito RC série no domínio da frequência.

Pela aplicação da LKT, tem-se que:


Circuitos 7

Sendo e .

Denomina-se sinal de entrada o sinal da fonte aplicada, que nesse caso é


Vi(s), e sinal de saída o sinal de uma grandeza elétrica qualquer do circuito,
que será utilizada para algum fim. Considerando-se o sinal de saída, Vo(s),

dado por Vc(s), tem-se a relação , chamada de função de transferência,


H(s), como dada na Equação (13), segundo Nilsson e Riedel (2008):

(13)

Obtém-se a resposta em frequência, em regime permanente, calculando-se


s = jω, e, assim, obtém-se a Equação (14):

(14)

Como H( jω) é uma grandeza complexa, ela possui um módulo, |H( jω)|, e
um ângulo, θ( jω). Estes são dados pelas Equações (15) e (16):

(15)

(16)

Pela Equação (15), observa-se que, se o sinal de saída de um circuito RC


série for a tensão sobre o capacitor, esse sinal é atenuado para altas frequ-
ências do sinal de entrada, ou seja, para altas frequências da tensão senoidal
CA aplicada ao circuito, representada por Vi(s). Nesse caso, tem-se um filtro
passa-baixas, pois são os sinais com as frequências de menor valor que passam
sem ser atenuados.
Se o sinal de saída for dado por VR (s), tem-se a função de transferência,
H(s), dada na Equação (17):

(17)

A resposta em frequência, em regime permanente, é dada na Equação (18),

(18)

cujo módulo, |H( jω)|, e o ângulo, θ( jω), são dados pelas Equações (19) e (20):
8 Circuitos

(19)

(20)

Observando-se a Equação (19), observa-se que, se o sinal de saída de um


circuito RC série for a tensão sobre o resistor, esse sinal é atenuado para baixas
frequências do sinal de entrada. Nesse caso, tem-se um filtro passa-altas, pois
são os sinais com frequências de maior valor que passam sem ser atenuados.

Características dos circuitos RL


Os circuitos denominados RL são formados pela associação de um resistor
com um indutor, sendo que, assim como para os circuitos RC, tanto o resistor
quanto o indutor podem ser o equivalente da associação de muitos resistores
ou indutores, respectivamente. Em analogia ao circuito RC, a energia presente
no circuito RL pode ser dada unicamente pela energia armazenada no indutor,
quando não há uma fonte independente conectada à associação; pode ser
dada unicamente pela fonte, quando há uma fonte independente conectada,
e o indutor está descarregado; ou por ambos os meios, quando há uma fonte
independente conectada e há energia armazenada no indutor, conforme Nilsson
e Riedel (2008) e Alexander e Sadiku (2013).
Também de modo análogo aos circuitos RC, se houver uma fonte de tensão
independente conectada, o circuito RL deverá ter o resistor e o indutor em
série com a fonte de tensão, e o circuito é chamado de circuito RL série. Se
houver uma fonte de corrente independente conectada, o circuito RL deverá
ter o resistor e o capacitor em paralelo com a fonte de corrente, e o circuito é
chamado de circuito RL paralelo. Circuitos RL sem fonte independente, RL
série e RL paralelo são dados nas Figuras 3a, 3b e 3c, respectivamente, sendo
que as fontes são aplicadas aos circuitos em um instante t = t0, por chaveamento.
Como nos circuitos RC, os conceitos de transformação de fontes e os teoremas
de Thévenin e Norton são válidos para os circuitos RL.
Circuitos 9

Figura 3. Circuitos RL: a) sem fonte; b) série; c) paralelo.

Circuitos RL com fonte senoidal CA aplicada: análise no


domínio do tempo
Para um circuito RL sem fonte independente, como o dado na Figura 3a,
tem-se que o indutor deve ter uma corrente percorrendo-o no instante inicial
da análise para que haja energia no circuito. A resposta da corrente i(t) é dada
somente pela energia inicial armazenada no indutor, sendo esta a sua resposta
natural. Se uma fonte senoidal CA independente ou
for aplicada repentinamente (pelo chaveamento em
t0) em um circuito RL, este, como o circuito RC, apresentará uma resposta com
uma característica senoidal CA. (As representações dos circuitos RL série e
paralelo com a aplicação de uma fonte em t = t0 foram dadas nas Figuras 3b
e 3c, respectivamente).
O indutor do circuito RL excitado por fonte pode ou não ter energia arma-
zenada no instante inicial da análise; se tiver, há uma corrente inicial diferente
de zero sobre ele no instante t0, ou seja, i(t0) ≠ 0, e a resposta completa é obtida
para i(t). Se não houver energia armazenada no instante inicial da análise,
i(t0) = 0, e a resposta forçada é obtida para i(t). De modo análogo ao circuito
RC, a resposta completa é dada pela soma da resposta natural com a resposta
forçada.
Considerando que para o circuito da Figura 3b há uma corrente inicial
percorrendo o indutor, pela aplicação da LKT após a chave do circuito
fechar (ou seja, para t ≥ t0), temos que

que também é uma equação diferencial de primeira ordem para i(t). Você
pode observar que essa equação possui o mesmo formato que a obtida para a
tensão v(t) no circuito RC: assim, sua solução é análoga. Resolvendo-a como
10 Circuitos

feito antes para a tensão v(t) do circuito RC, a resposta natural de iN (t) e a
resposta forçada de iF (t) são dadas nas Equações (21) e (22):

, para t ≥ t0 (21)

, para t ≥ t0 (22)

O ângulo θ é dado pela Equação (23):

(23)
Já o valor de K é dado na Equação (24), sabendo-se da condição inicial
.

(24)

Tem-se, assim, a Equação (25) para a resposta completa:

para t ≥ t0 (25)

O conceito de constante de tempo também pode ser utilizado para um


circuito RL: nesse caso, tem-se que τ é dado pela Equação (26), também
determinando a velocidade do decaimento da resposta natural, conforme
Nilsson e Riedel (2008) e Alexander e Sadiku (2013).

(26)

Como para o circuito RC, para o circuito RL excitado por uma fonte se-
noidal CA, após cinco constantes de tempo, a contribuição da componente da
resposta natural na resposta completa praticamente se anula, e o circuito atinge
o regime permanente, tendo-se somente a resposta forçada na resposta em
regime permanente do circuito. A resposta completa do circuito RL também
é, portanto, a soma de uma resposta transitória com uma resposta estacionária.
A energia inicial armazenada no indutor tem sua origem em um carre-
gamento deste por uma fonte CC em instantes anteriores ao instante inicial
da análise, nos quais o resistor conectado ao indutor não influenciava nas
grandezas elétricas do circuito (porque o indutor, estando em paralelo com ele,
torna-se equivalente a um curto-circuito). Considera-se que o instante inicial da
análise é o instante em que a fonte CC que carregou o indutor é desconectada.
Circuitos 11

A aplicação de uma fonte senoidal por chaveamento pode ser representada matemati-
camente com a função degrau unitário, u(t), como é feito em alguns casos. No caso de
uma fonte aplicada no instante t0, o lado direito da equação dife-
rencial obtida é dado, na verdade, por .

Circuitos RL com fonte senoidal CA aplicada: análise no


domínio da frequência
Como para o circuito RC, considera-se que o circuito RL está em regime
permanente nas análises no domínio da frequência, e a resposta obtida não
é influenciada pela energia que inicialmente poderia estar armazenada no
indutor. Um circuito RL série no domínio da frequência é apresentado na
Figura 4, onde s é uma frequência qualquer.

Figura 4. Circuito RL série no domínio da frequência.

Pela aplicação da LKT, tem-se que:

Sendo e .

Considerando-se o sinal de saída, Vo(s), dado por VR(s), tem-se a função de


transferência, H(s), dada na Equação (27), segundo Nilsson e Riedel (2008):

(27)
12 Circuitos

A resposta em frequência, em regime permanente, é dada na Equação (28),

(28)

cujo módulo, |H( jω)|, e o ângulo, θ( jω), são dados pelas Equações (29) e (30).

(29)

(30)
Observando-se a Equação (29), observa-se que, se o sinal de saída de um
circuito RL série for a tensão sobre o resistor, esse sinal é atenuado para altas
frequências do sinal de entrada. Nesse caso, tem-se também um filtro passa-
-baixas, pois são os sinais com as frequências de menor valor que passam
sem ser atenuados.
Se o sinal de saída for dado por VL(s), tem-se a função de transferência,
H(s), dada na Equação (31):

(31)

A resposta em frequência, em regime permanente, é dada na Equação (32),

(32)

cujo módulo, |H( jω)|, e o ângulo, θ( jω), são dados pelas Equações (33) e (34).

(33)

(34)
Observando-se a Equação (33), observa-se que, se o sinal de saída de
um circuito RL série for a tensão sobre o indutor, esse sinal é atenuado para
baixas frequências do sinal de entrada. Nesse caso, tem-se também um filtro
passa-altas, pois são os sinais com frequências de maior valor que passam
sem ser atenuados.
Circuitos 13

Circuitos RLC série e paralelo


Os circuitos denominados RLC são formados pela associação de um resistor
com um capacitor e um indutor, sendo que cada um desses elementos pode ser
o equivalente da associação de muitos outros elementos de seu tipo respectivo.
A energia presente no circuito pode ser proveniente:

 unicamente da energia armazenada no capacitor e/ou no indutor, quando


não há uma fonte independente conectada à associação;
 unicamente da fonte, quando há uma fonte independente conectada, e
ambos, capacitor e indutor, estão descarregados; ou
 de ambos os meios, quando há uma fonte independente conectada e há
energia armazenada no capacitor e/ou no indutor.

Um circuito RLC pode ter o resistor, o capacitor e o indutor em série entre


si, sendo assim chamado de circuito RLC série. Nesse caso, se houver uma
fonte independente excitando o circuito, ela deve ser uma fonte de tensão e
estar conectada em série com os elementos para que o circuito seja designado
como RLC série. De outra forma, um circuito RLC pode ter o resistor, o
capacitor e o indutor em paralelo entre si, sendo, assim, chamado de circuito
RLC paralelo. Nesse caso, se houver uma fonte independente excitando o
circuito, ela deve ser uma fonte de corrente e estar conectada em paralelo com
os elementos para que o circuito seja designado como RLC paralelo. Circuitos
RLC série e paralelo, com e sem fonte, são apresentados na Figura 5, sendo
que as fontes independentes são aplicadas aos circuitos em um instante t =
t0 por chaveamento.

Figura 5. Circuitos RLC: a) série, sem fonte; b) série, com fonte; c) paralelo, sem fonte; d)
paralelo, com fonte.
14 Circuitos

Circuitos RLC série e paralelo com fonte senoidal CA


aplicada: análise no domínio do tempo
Para um circuito RLC sem fonte independente, como aqueles das Figuras 5a
e 5c, tem-se que o capacitor ou o indutor deve ter energia inicial armazenada,
pelo menos; sendo o capacitor, haverá uma tensão sobre ele no instante inicial
da análise; se for o indutor, haverá uma corrente percorrendo-o no instante
inicial. Obviamente, pode-se ter energia inicial armazenada em ambos os
elementos. Chama-se de a tensão inicial sobre o capacitor e de a corrente
inicial que percorre o indutor, sendo t0 o instante inicial, conforme Nilsson e
Riedel (2008) e Alexander e Sadiku (2013).
A energia inicial armazenada no capacitor ou no indutor, ou em ambos,
tem sua origem em um carregamento destes por uma fonte CC em instantes
anteriores ao instante inicial. Considera-se que o instante inicial da análise
é justamente o instante em que a fonte CC que carregou esses elementos é
desconectada. É obtida, nesses casos, a resposta natural do circuito RLC
série ou paralelo.
Como nos circuitos RC e RL, se uma fonte senoidal CA independente
ou for aplicada re-
pentinamente (pelo chaveamento em t0) em um circuito RLC, este também
apresentará uma resposta com uma característica senoidal CA. As represen-
tações dos circuitos RLC série e paralelo com a aplicação da fonte em t = t0
foram dadas nas Figuras 5b e 5d, respectivamente.
Pode ou não haver energia armazenada no instante inicial da análise no
capacitor ou no indutor, ou em ambos; se haver no indutor, há uma corrente
inicial diferente de zero percorrendo-o no instante t0, ou seja, iL(t0) ≠ 0; se houver
no capacitor, há uma tensão inicial diferente de zero sobre ele no instante t0,
ou seja, vC(t0) ≠ 0. Quando há energia inicial armazenada, é obtida a resposta
completa, sendo dada para vC(t) para o circuito RLC série e para iL(t) para o
circuito RLC paralelo. Se não houver energia armazenada no instante inicial
da análise, tem-se que iL(t0) = 0 e vC(t0) = 0, e a resposta forçada é obtida em
ambos os circuitos. A resposta completa para ambos os tipos de circuito RLC,
como nos circuitos RC e RL, é dada pela soma das respostas natural e forçada.
Para a configuração em série, como o circuito da Figura 6b, considerando
que há uma corrente inicial percorrendo o indutor e uma tensão
inicial , pela aplicação da LKT após a chave do circuito fechar
(ou seja, para t ≥ t0), temos que:
Circuitos 15

Sendo .
Tem-se, então, a Equação (35),

(35)

que é uma equação diferencial ordinária de segunda ordem para e vC(t).


Por isso, um circuito RLC é classificado como circuito de segunda ordem,
conforme Nilsson e Riedel (2008) e Alexander e Sadiku (2013).
Como feito antes para as equações diferenciais de primeira ordem obtidas
para os circuitos RC e RL, a solução da equação diferencial de segunda ordem
não será detalhada aqui; para os casos em que seus coeficientes são constantes,
que é o caso de um circuito RLC cujos elementos não variam com as grandezas
elétricas, as possíveis soluções também são conhecidas.
As soluções possíveis para a resposta natural, , do circuito RLC
série são dadas nas Equações (36), (37) e (38).

, para t ≥ t0 (36)

, para t ≥ t0 (37)

, para t ≥ t0 (38)

Sendo que s1 e s2 são dados pelas Equações (39) e (40),

(39)

(40)

Sendo e .
Quando s1 e s2 são reais e diferentes, a resposta para vC (t) é chamada de
superamortecida, e é válida a Equação (36). Quando s1 e s2 são reais e iguais, a
resposta para vC (t) é chamada de criticamente amortecida, e é válida a Equação
(37). Quando s1 e s2 formam um par complexo conjugado, a resposta para
16 Circuitos

vC (t) é chamada de subamortecida, e é válida a Equação (38), na qual se faz


e , onde .

A resposta forçada de , como para o circuito RC, possui a forma


dada na Equação (41):

(41)

Pela aplicação da resposta forçada da Equação (41) na equação diferencial


dada, obtém-se os valores de a e b a partir das Equações (42) e (43):

(42)

(43)

Obtém-se, então, a Equação (44) para a resposta forçada:

,
para t ≥ t0 (44)

A resposta forçada da Equação (44) também pode ser escrita de outra


forma, como dado na Equação (45):

, para t ≥ t0 (45)

O ângulo θ é dado pela Equação (46):

(46)

Tem-se, assim, as Equações (47) a (49) para as soluções possíveis para a


resposta completa, , de um circuito RLC série com uma
excitação senoidal, para os casos superamortecido, criticamente amortecido
e subamortecido, respectivamente:
Circuitos 17

,
para t ≥ t0 (47)

,
para t ≥ t0 (48)

,
para t ≥ t0 (49)

Você deve determinar primeiro se a resposta completa é superamortecida,


criticamente amortecida ou subamortecida, para então determinar o valor das
constantes A1 e A2 ou B1 e B2. Essas constantes são dependentes das condições

iniciais, dadas no instante t0, por e .

No caso do circuito da Figura 5b, se a resposta for superamortecida, A1 e


A2 são determinadas resolvendo-se o sistema dado pelas condições iniciais
explicitadas nas Equações (50) e (51):

(50)

(51)

Já se a resposta for criticamente amortecida, A1 e A2 são determinadas


resolvendo-se o sistema dado pelas condições iniciais explicitadas nas Equa-
ções (52) e (53):

(52)

(53)
18 Circuitos

Por fim, se a resposta for subamortecida, B1 e B2 são determinadas resol-


vendo-se o sistema dado pelas condições iniciais explicitadas nas Equações
(54) e (55):

(54)

(55)

Para a configuração em paralelo, como o circuito da Figura 5d, com as


mesmas considerações sobre as condições iniciais, pela aplicação da LKC
após a chave do circuito fechar (ou seja, para t ≥ t0), temos que:

Sendo . Tem-se, então, a Equação (56),

(56)

que é uma equação diferencial ordinária de segunda ordem para .

As soluções possíveis para a resposta natural, , nesse caso, são dadas


nas Equações (57), (58) e (59):

, para t ≥ t0 (57)

, para t ≥ t0 (58)

, para t ≥ t0(59)

Sendo que s1 e s2 são dados pelas mesmas Equações (39) e (40), sendo
e .

A resposta forçada, , é dada na Equação (60):


Circuitos 19

, para t ≥ t0 (60)

O ângulo θ é dado pela Equação (61):

(61)

Tem-se, assim, as Equações (62) a (64) para as soluções possíveis da resposta


completa :

para t ≥ t0 (62)

para t ≥ t0 (63)

, para t ≥ t0 (64)
Como no caso do circuito RLC série, quando s1 e s2 são reais e diferentes,
a resposta para iL(t) é chamada de superamortecida, e é válida a Equação (62).
Quando s1 e s2 são reais e iguais, a resposta para iL(t) é chamada de critica-
mente amortecida, e é válida a Equação (63). Quando s1 e s2 formam um par
complexo conjugado, a resposta para iL(t) é chamada de subamortecida, e é
válida a Equação (64), na qual se faz faz e .
Assim, as Equações (62), (63) e (64) são os tipos possíveis de resposta completa
com uma excitação senoidal de um circuito RLC paralelo.
O valor das constantes A1 e A2 ou B1 e B2 são obtidos das condições ini-
ciais dadas, no instante t0, por e . Para o circuito
da Figura 5d, se a resposta for superamortecida, A1 e A2 são determinadas
resolvendo-se o sistema dado pelas condições iniciais explicitadas nas Equa-
ções (65) e (66):
20 Circuitos

(65)

(66)

Já se a resposta for criticamente amortecida, A1 e A2 são determinadas


resolvendo-se o sistema dado pelas condições iniciais explicitadas nas Equa-
ções (67) e (68):

(67)

(68)

Por fim, se a resposta for subamortecida, B1 e B2 são determinadas resol-


vendo-se o sistema dado pelas condições iniciais explicitadas nas Equações
(69) e (70):

(69)

(70)

Como obtido para os circuitos RC e RL, você pode observar que as três
formas de resposta completa de ambos os tipos de circuito RLC são análogas,
possuindo o mesmo formato. Do mesmo modo, as três formas de resposta
completa de ambos os tipos de circuito RLC são a soma de uma resposta
transitória com uma resposta estacionária. A componente respectiva à resposta
Circuitos 21

natural constitui a resposta transiente, extinguindo-se com a passagem do


tempo; já a componente respectiva à resposta forçada é permanente, sendo
a única componente da resposta quando é atingido o regime estacionário,
conforme Nilsson e Riedel (2008) e Alexander e Sadiku (2013).
Deve-se observar que as componentes permanentes presentes nas Equações
(47) a (49) e (62) a (64) são válidas para as resposta das grandezas vC (t) e iL(t),
respectivamente; em um caso geral da resposta completa de qualquer variável
de um circuito RLC, a componente permanente pode ser um pouco diferente.
Você deve observar, também, que dependendo da variável escolhida, o seu
valor é indefinido nos instantes de transição de um circuito (os quais estão
representados por t0, o início da análise): por exemplo, a tensão sobre o indutor
e a corrente no capacitor são indefinidos quando ocorre o fechamento da chave
nos circuitos das Figuras 5b e 5d (devido à derivada temporal).

As fontes de tensão nos circuitos RC, RL e RLC série, bem como as fontes de corrente
nos circuitos RC, RL e RLC paralelo, podem ser os equivalentes de Thévenin e Norton,
respectivamente, de um circuito que vai ser conectado por chaveamento ao circuito
com o capacitor e/ou indutor. Nesses casos, o resistor dos circuitos RC, RL ou RLC, série
ou paralelo, será dado pelo resistor equivalente entre a resistência de Thévenin ou
Norton com o resistor que possa já existir no circuito com o capacitor e/ou indutor. Um
exemplo é o circuito RC série da figura abaixo: conecta-se ao resistor e ao capacitor o
equivalente de Thévenin da fonte.

Circuitos RLC série e paralelo com fonte senoidal CA


aplicada: análise no domínio da frequência
Como para os circuitos RC e RL, considera-se que o circuito RLC está em
regime permanente nas análises no domínio da frequência, e a resposta obtida
22 Circuitos

não é influenciada pela energia que inicialmente poderia estar armazenada


no capacitor e/ou indutor, segundo Nilsson e Riedel (2008) e Alexander e
Sadiku (2013). Um circuito RLC série e o equivalente de Thévenin de um
circuito RLC paralelo no domínio da frequência são dados nas Figuras 6a e
6b, respectivamente, onde é uma frequência qualquer.

Figura 6. a) Circuito RLC série e b) equivalente de Thévenin de um circuito RLC paralelo,


ambos no domínio da frequência.

Pela aplicação da LKT no circuito RLC série, temos que:

Sendo ,

e .

Considerando-se o sinal de saída, Vo(s), dado por VR(s), tem-se a função de


transferência, H(s), como dada na Equação (71):

(71)

A resposta em frequência, em regime permanente, é dada na Equação (72),

(72)

cujo módulo, |H( jω)|, e o ângulo, θ( jω), são dados pelas Equações (73) e (74):

(73)

(74)
Circuitos 23

Você pode observar que a resposta no tempo para uma dada grandeza pode ser
obtida com o conhecimento do módulo e do ângulo da resposta em frequência
dessa grandeza. Em termos fasoriais, sendo o fasor do sinal de entrada Vi∠ϕ, o fasor
do sinal de saída Vo ∠ϕo será Vo ∠ϕo = |H(jω)|·Vi∠(ϕi + θ(jω)), por exemplo. Assim, no
tempo Vo(t) = |H(jω)|·Vi cos(ϕi + θ(jω)).

Pela Equação (73), observa-se que, se o sinal de saída de um circuito RLC


série for a tensão sobre o resistor, esse sinal é atenuado para duas faixas de
frequência do sinal de entrada, permitindo a passagem com mínima atenuação
de sinais com frequências pertencentes a uma terceira faixa entre estas. Nesse
caso, tem-se um filtro passa-faixa, pois são os sinais com frequências dentro
de uma determinada faixa de valores que passam sem ser atenuados.
Se o sinal de saída for dado por VC(s) + VL(s), tem-se a função de transfe-
rência, H(s), dada na Equação (75),

(75)

e a resposta em frequência, dada na Equação (76),

(76)

cujo módulo, |H( jω)|, e o ângulo, θ( jω), são dados pelas Equações (77)
e (78):

(77)

(78)

Observando-se a Equação (77), observa-se que, se o sinal de saída de um


circuito RLC série for dado pela soma das tensões sobre o capacitor e sobre o
indutor, esse sinal é atenuado para uma faixa de frequência do sinal de entrada,
permitindo a passagem com mínima atenuação de sinais com frequências
entre duas outras faixas, estando a faixa com atenuação entre elas. Nesse
caso, tem-se um filtro rejeita-faixa, pois os sinais com frequências dentro de
24 Circuitos

uma determinada faixa de valores passam com atenuação, conforme Nilsson


e Riedel (2008) e Alexander e Sadiku (2013).

Define-se para os filtros passa-baixas e passa-altas a frequência de corte, ωC, na qual os


módulos da resposta em frequência valem (1/√2)Hmax, ou seja, . Para
o circuito RL em série, tem-se e, para o circuito RC série, tem-se
. Com a definição da frequência de corte, as funções de transferência para os filtros
passa-baixas e passa-altas ficam como e , respectivamente.
Note que para os circuitos que formam os filtros (RL e RC).
Para os filtros passa-faixa e rejeita-faixa, define-se a frequência central, ω0, as duas fre-
quências de corte, ωC1 e ωC2, a largura da faixa, β, e o fator de qualidade, Q. Para o circuito
RLC série, quando usado como filtro passa-faixa ou rejeita-faixa, tem-se ,
, ,
e . Para o circuito RLC para-
lelo, tem-se , ,

, e
. Há relações idênticas entre os parâmetros para os dois tipos
de circuitos, sendo: , e

.
Na Figura 7 a seguir, são mostrados os gráficos das respostas em frequência ideais de
cada tipo de filtro, nos quais são visualizadas as chamadas banda de passagem (faixa de
frequências onde não ocorre atenuação) e banda de atenuação (faixa de frequências
onde ocorre atenuação) dos sinais.
Circuitos 25

Figura 7. a) filtro passa-baixas; b) filtro passa-altas; c) filtro passa-faixa; d) filtro


rejeita-faixa
Fonte: Alexander e Sadiku (2013, p. 569).

Para o circuito da figura abaixo, a chave fecha no instante t0 = 0 s, quando o capacitor


está com uma tensão de 4 V e o indutor, com uma corrente de 2 A. Sendo vS2(t) = 10
cos(100t) V, quais serão as expressões para v(t) e i(t), com R = 100 Ω, L = 100 mH e
C = 100 μF?

Resolução:
Quando a chave fecha, tem-se o circuito RLC abaixo:
26 Circuitos

Tem-se que e . Assim, α > ω0. A resposta é, portanto,


superamortecida. Tem-se que e
. Tem-se também que

.
Utilizando-se vc (t) como a resposta do circuito RLC série, sabendo que a tensão inicial
no capacitor e a corrente inicial no indutor são dadas por vC (t0) e iL (t0), respectivamente,
obtém-se, com t0 = 0 s:

As constantes A1 e A2 são obtidas com :


e

Assim, A1 = 28,0 e A2 = 28,9. Então,


.
Pela relação do capacitor, obtém-se i(t):

E, pela relação do indutor, obtém-se v(t):


Circuitos 27

ALEXANDER, C. K.; SADIKU, M. N. O. Fundamentos de circuitos elétricos. 5 ed. McGraw


Hill, Porto Alegre, 2013.
NILSSON, J. W.; RIEDEL, S. A. Circuitos elétricos. 8. ed. Pearson, São Paulo, 2008.
THOMAS, R. E.; ROSA, J. A.; TOUSSAINT, G. J. Análise e projeto de circuitos elétricos lineares.
6. ed. Bookman, 2011.

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