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Universidade Federal de Minas Gerais


Escola de Engenharia
Departamento de Engenharia Elétrica

Disciplina: ELE 065 – Análise de Circuitos Elétricos II


1o semestre – 2023 – Turma EA

Instrutor: Williams L. Nicomedes

wnwlnico@gmail.com

wnicomedes@eng-ele.grad.ufmg.br

Notas de Aula 07 e Questionário 07

Transitórios em circuitos de segunda ordem. Circuitos RLC série.

1. Circuitos de segunda ordem


Um circuito de segunda ordem é caracterizado por dois elementos armazenadores de
energia. Sua resposta transitória é descrita por equações diferenciais de segunda ordem,
daí o nome. Os elementos armazenadores podem ser de tipos diferentes (um indutor e
um capacitor) ou do mesmo tipo (dois capacitores ou dois indutores, desde que não
possam, respectivamente, ser substituídos por um único capacitor ou um único indutor
equivalente). O assunto destas notas de aula será restrito à configuração RLC série (Fig.
1).

Além dos elementos armazenadores de energia, o circuito apresenta perdas,


caracterizadas pela presença de um ou mais resistores. Na análise de transitórios em
circuitos de segunda ordem, estamos interessados na resposta (um sinal de tensão ( )
ou corrente ( )) quando alguma fonte DC é repentinamente ligada ou desligada no
circuito.
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Fig. 1. Exemplo de um circuito na configuração RLC série.

A ligação repentina da fonte se dá por meio de chaveamento (i.e., através do uso de


chaves, ou switches). De maneira geral, as tensões e correntes nos elementos
armazenadores de energia (capacitores e indutores) não admitem variações instantâneas.
Quando uma chave muda de estado (e a configuração do circuito muda), os sinais de
tensão e corrente se acomodam à mudança de uma forma ‘suave’. Esta ‘transição suave’
pela qual passam os sinais de tensão e corrente recebe o nome de resposta transitória.

A resposta transitória (que se dá quando há alguma mudança de configuração no circuito)


tem uma duração mais ou menos ‘limitada’. Sua ocorrência (e seus efeitos) geralmente só
são significativos nos instantes subsequentes à mudança de configuração do circuito (daí
o nome, ‘transitória’). Ou seja, a resposta transitória desaparece (ou ‘morre’) pouco depois
do chaveamento.

Em síntese, a resposta transitória em circuitos de segunda ordem – RLC série – se dá em


circuitos com:

1. Dois elementos armazenadores de energia – um capacitor e um indutor;

2. Resistores;

3. Fontes (de tensão ou corrente) DC;

4. Chaves (mudanças abruptas).

No estudo da resposta transitória, podemos empregar uma linha do tempo como aquela
da Fig. 6, Notas de Aula 02, reproduzida na Fig. 2 abaixo. Observe que em essência
temos um estado DC antes do chaveamento e outro estado DC um pouco depois do
chaveamento. A resposta transitória é a ‘transição suave’ entre estes dois estados DC.

A tensão ( ) no capacitor deve ser contínua para todo , em particular para o


instante de chaveamento . Matematicamente,

( ) ( ) ( )

i.e., os limites à esquerda e à direita de são iguais. Visto que os limites à esquerda e à
direita são iguais, podemos definir o valor da tensão em como um dos limites acima,
i.e.,
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Fig. 2. Instantes de tempo relevantes para a descrição (aproximada) dos estados do circuito durante o
chaveamento.

( ) ( ) ( ) ( )

A corrente ( ) no indutor deve ser contínua para todo , em particular para o


instante de chaveamento . Matematicamente,

( ) ( ) ( )

i.e., os limites à esquerda e à direita de são iguais. Definimos então o valor da corrente
em como um dos limites acima, i.e.,

( ) ( ) ( ) ( )

A análise dos circuitos de segunda ordem é bastante similar àquela dos circuitos de
primeira ordem. Para o cálculo dos limites à esquerda (antes do instante de chaveamento
), basta lembrarmos que:

1. No regime DC, o capacitor se comporta como um circuito aberto – Se o nosso circuito


de segunda ordem contiver um capacitor, basta substituí-lo por um circuito aberto na
configuração 1. Ao usar as técnicas de análise DC (curso de Circuitos I), calculamos a
tensão nos terminais do circuito aberto. Obtemos assim a tensão ( ) para os instantes
anteriores ao chaveamento, que será um valor constante. O limite à esquerda em (1) é
precisamente este valor.

2. No regime DC, o indutor se comporta como um curto-circuito – Se o nosso circuito de


segunda ordem contiver um indutor, basta substituí-lo por um curto-circuito na
configuração 1. Ao usar as técnicas de análise DC, calculamos a corrente através do
curto-circuito. Obtemos assim a corrente ( ) para os instantes anteriores ao
chaveamento, que será um valor constante. O limite à esquerda em (2) é precisamente
este valor.

Observação: Em alguns casos mais simples, a tensão inicial no capacitor e a corrente


inicial no indutor são simplesmente dadas, i.e., não há referência à configuração do
circuito antes do fechamento da chave (configuração 1).
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(a)

(b)

(c)

Fig. 3. Circuito relativo ao Exemplo 1.

Exemplo 1: A chave no circuito da Fig. 3a esteve fechada por um longo período, e é


aberta em . Encontre:

( ) ( )

( ) ( )

( ) ( )

( ) ( )

(Solução) Observe da Fig. 3a que é a tensão no capacitor (i.e., ), e é a corrente


no indutor (i.e., ). O instante de chaveamento é .
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Antes do chaveamento ( ), o indutor se comporta como um curto-circuito, enquanto o


capacitor se comporta como um circuito aberto. O circuito na configuração 1 se torna
aquele da Fig. 3b. É fácil perceber (empregando a lei de Ohm e a propriedade do divisor
de tensão) que

( ) ( )

Usando (1) e (2), encontramos as respostas para os itens (a) e (b):

( ) ( )

( ) ( )

Após a abertura da chave em , obtemos o circuito na configuração 2, i.e., para


(Fig. 3c). A corrente atravessa o indutor e o capacitor (visto que estão em série), i.e.,

( ) ( )

( ) ( )

( ) ( )

para . Tomando o limite à direita, segue que

( ) ( )

( ) ( )

( ) ⁄

o que constitui a resposta ao item (d). De volta ao circuito da Fig. 3c, aplicamos a LKT e
descobrimos que:

( ) ( ) ( )

para . Usando a lei de Ohm e a expressão para a tensão no indutor, a expressão


acima se torna

( ) ( ) ( )

para . Tomando o limite à direita, segue que

( ) ( ) ( )
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Basta substituir os valores já encontrados:

( )

( )

( ) ⁄

o que constitui a resposta ao item (c).

2. Dinâmica dos circuitos RLC série


Dada a linha do tempo (Fig. 2), a obtenção da resposta transitória para um dado circuito
RLC pode ser descrita pelo processo ilustrado abaixo (assumindo que o chaveamento
ocorra no instante ):

O primeiro passo é analisar o circuito no regime DC antes do chaveamento


(configuração 1), i.e., para . No regime DC, o indutor se comporta como um curto-
circuito e o capacitor se comporta como um circuito aberto.

O segundo passo é o cálculo dos limites. A tensão no capacitor e a corrente no indutor


devem ser contínuas. Usar as equações (1) e (2).

O terceiro passo é a obtenção do circuito após o chaveamento (configuração 2), i.e., o


circuito para . Fazemos a pergunta: Este circuito pode ser reduzido a um circuito
RLC série (Fig. 4)? Caso afirmativo, procedemos ao quarto passo.

O quarto passo é a obtenção do circuito RLC série equivalente (Fig. 4), i.e., obtemos os
valores de e de .

Fig. 4. Circuito equivalente RLC série.


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O quinto passo é o cálculo das constantes e :

TABELA 1
Constantes Unidade Expressão

Frequência de ressonância rad/s


Frequência de Neper ou fator de


Np/s
amortecimento (damping factor)

Obs.: O neper (Np) é uma grandeza adimensional.

O sexto passo é a determinação do caso específico (a partir da comparação entre e


) e a substituição na fórmula correspondente:

TABELA 2
Caso Condição Fórmula

Superamortecido ( )

Criticamente
( ) ( )
amortecido

Subamortecido ( ) ( )

As quantidades auxiliares , e são dadas por:

TABELA 3
Quantidade Unidade Expressão


Frequências naturais Np/s

Frequência natural amortecida rad/s √

As constantes e são obtidas a partir das condições iniciais ( ) (tensão no


capacitor no instante de chaveamento )e ( ), geralmente obtido a partir
da corrente no indutor.

Obs.: O valor de tensão é às vezes denominado ‘resposta de estado estacionário’


(steady state response), porque caracteriza o estado DC atingido alguns instantes após o
chaveamento (ao tomar o limite de para , descobre-se que tende a , para os
três casos descritos na Tabela 2).
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(a)

(b)

(c)

Fig. 5. Circuito relativo ao Exemplo 2.

Exemplo 2: Seja o circuito da Fig. 5a. Encontre a tensão no capacitor e a corrente no


indutor para .

(Solução) Vamos aplicar o processo de seis passos descrito acima.

Primeiro passo: Configuração 1, regime DC ( ). O indutor se comporta como um


curto-circuito e o capacitor se comporta como um circuito aberto. O circuito na
configuração 1 é aquele da Fig. 5b. Temos uma fonte de 24 V em série com um resistor
de e outro resistor de . Obtemos então ( ) ⁄ , para . O capacitor
está em paralelo com o resistor de ; descobre-se que ( ) , para (divisor
de tensão).

Segundo passo: Cálculo dos limites. Usando (1) e (2), obtemos:


( ) ( )
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( ) ( )

Uma vez que a tensão no capacitor e a corrente no indutor devem ser contínuas,
podemos definir ( ) e ( ) .
Terceiro passo: Configuração 2, após o chaveamento ( ). Ao se abrir a chave, o
resistor de fica desconectado do circuito. O circuito para é aquele da Fig. 5c. A
inspeção desta figura nos revela que o circuito em questão pode ser reduzido a um
circuito RLC série (de fato, ele já se apresenta na configuração RLC série).
Quarto passo: Obtenção do circuito RLC série equivalente. A partir da Fig. 5c,
obtemos e .
Quinto passo: Cálculo das constantes. Da Tabela 1,


√ √

Sexto passo: Determinação do caso específico. Uma vez que e ,


concluímos que o caso a se considerar é o superamortecido (ou regime superamortecido,
ou resposta superamortecida). De acordo com a Tabela 2, a tensão é dada pela fórmula:

( )

As quantidades auxiliares e podem ser calculadas com o auxílio da Tabela 3:

√ √ ⁄

√ √ ⁄

Substituindo estes valores na expressão para , obtemos

( )

Do segundo passo, segue que

( )

ou . Após o chaveamento, a corrente pelo indutor é a mesma corrente que


percorre o capacitor, visto que estão em série, i.e., ( ) ( ), para . (A corrente no
capacitor é descontínua em , e portanto não é rigorosamente definida em .)
Obtemos:

( ) ( )

( ) ( )
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( ) ( )

( )

( )

( )

( )

ou . Somando as duas equações algébricas, obtemos , ou


⁄ . Segue que ⁄ . A tensão no capacitor é finalmente dada por

( )

Vimos acima que:

( ) ( )

( ) ( )

( ) ( )

( ) ( )

( )

Esta última expressão fornece

( )

em total conformidade como o segundo passo, pois sabemos que o limite à esquerda
(antes do chaveamento) também é igual a , o que nos permitiu definir (no segundo
passo) a corrente no indutor em como sendo ( ) . A corrente no indutor é
finalmente dada por

( )

Questionário 07
Maiores detalhes sobre o assunto tratado nestas notas de aula podem ser encontrados na
Seção 8.4 do livro-texto.
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Além disso, recomendamos fortemente ao estudante a leitura dos exemplos resolvidos:

Exemplo 8.11;

Exemplo 8.12.

Após estudar os exemplos, proceder à solução das questões listadas abaixo:

Questão 01 – A chave no circuito da Fig. 6 esteve na posição ‘a’ por um longo período,
quando em ela se moveu para a posição ‘b’. Encontre a tensão no capacitor ( )
para e a tensão ( ) no resistor de para .

Fig. 6. Circuito relativo à Questão 01.

Questão 02 – Considerando o circuito da Fig. 7, encontre a corrente no indutor ( ) para


.

Fig. 7. Circuito relativo à Questão 02.

Observações:

- Gerar um arquivo .pdf da solução e realizar o upload no Moodle (Tarefa ‘Questionário


07’, ‘Aula 07 – 21/04/2023’) até 29/04/2023;
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- Resolver em uma folha de papel (a lápis ou à caneta), escanear (ou fotografar), e enviar
o arquivo .pdf;

- Cada aluno(a) deverá entregar a sua própria solução;

- A imagem deve ser legível.

- A identificação do aluno(a) e de sua respectiva turma deve ser nítida;

Realizar o upload completo; não deixar a tarefa como


‘rascunho’.

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