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EDOs lineares e separáveis

Dalton Couto - Álgebra Linear e Equações Diferenciais EDOs lineares e separáveis


EDOs de Primeira Ordem Lineares

Comecemos por observar que, em geral, uma EDO linear de primeira ordem pode ser escrita da
seguinte forma, chamada forma padrão:
dy
+ p(t)y = g (t),
dt
onde p(t) e g (t) são funções dadas na variável independente t. Para resolver esse tipo de
EDO, vamos utilizar um método devido à Leibniz.
Esse método envolve a multiplicação da EDO por uma função µ(t), escolhida de modo que a
equação resultante seja facilmente integrável. A função µ(t) é chamada fator integrante.

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Dedução do método

Seja uma EDO linear de primeira ordem


dy
+ p(t)y = g (t).
dt
Vamos deduzir uma fórmula para o fator integrante µ(t). Queremos que, multiplicando por
µ(t), tenhamos
dy
(1) µ(t) + p(t)µ(t)y = µ(t)g (t),
dt
dy d d dy dµ
com µ(t) + p(t)µ(t)y = (µ(t)y ). Como (µ(t)y ) = µ(t) + y , devemos ter
dt dt dt dt dt
dµ dµ/dt
= p(t)µ(t) ⇒ = p(t).
dt µ(t)

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Dedução do método

Integrando dos dois lados, obtemos

ln µ(t) = ∫ p(t)dt ⇒ µ(t) = e ∫ p(t)dt

e essa é a fórmula procurada para µ(t).


Voltando na equação (1), temos:

d
(µ(t)y ) = µ(t)g (t),
dt
e assim,
µ(t)y = ∫ µ(t)g (t)dt + c

É claro que, para resolver uma EDO linear de primeira ordem, não é necessário realizar todos
os passos anteriores. Vejamos alguns exemplos na prática.

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Exemplos
a) Resolver o PVI


⎪ty ′ + 2y = 4t 2


⎪y (1) = 2

Solução: Passo 1: Identificar a função p(t) e calcular µ(t). Para isso, temos que reescrever a
equação em sua forma padrão:
2
ty ′ + 2y = 4t 2 ⇒ y ′ + y = 4t.
t
2
Logo, p(t) = . Lembremos que µ(t) = e ∫ p(t)dt
, ou seja,
t
2 2
µ(t) = e ∫ t dt = e 2 ln ∣t∣ = e ln ∣t∣ = t 2 .

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Continuação do exemplo anterior
Passo 2: Multiplicar o fator integrante na EDO:
d 2
t 2 y ′ + 2ty = 4t 3 ⇒ (t y ) = 4t 3 .
dt
Integrando ambos os lados, temos
d 2
∫ (t y )dt = ∫ 4t 3 dt + c,
dt
ou seja,
c
t 2y = t 4 + c ⇒ y = t2 +
t2
Essa é a solução da EDO. Como temos um PVI, temos de encontrar um valor de c que
satisfaça a condição inicial.

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Continuação do exemplo anterior
Passo 3: Encontrar o valor de c.
c
Como y = t 2 + 2 e y (1) = 2, temos
t
c
2 = 12 + ⇒ c =1
12
Portanto,
1
y (t) = t 2 +
t2

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Exemplos
b) Resolver a EDO y ′ − 3y = 6.
Solução: Passo 1: Identificar p(t) e calcular µ(t):

p(t) = −3 e µ(t) = e ∫ −3dt


= e −3t .

Passo 2: Multiplicar o fator integrante na EDO:


dy d −3t
e −3t − 3e −3t y = 6e −3t ⇒ (e y ) = 6e −3t .
dt dt
Integrando, temos:

e −3t y = ∫ 6e −3t dt + c ⇒ e −3t y = −2e −3t + c

⇒ y = −2 + ce 3t

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Exemplos
c) Resolva o PVI

⎪ dy

⎪x − 4y = x 6 e x
⎨ dx


⎩y (1) = 2

Solução: Passo 1: Identificar p(x) e calcular µ(x):

dy 4 4
− y = x 5e x ⇒ p(x) = −
dx x x

− x4 dx
µ(x) = e ∫ = e −4 ln ∣x∣ = e ln ∣x∣ = x −4 .
−4

Passo 2: Multiplicar o fator integrante na EDO:


dy d −4
x −4 − 4x −5 y = xe x ⇒ (x y ) = xe x
dx dx
x −4 y = ∫ xe x dx + c

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Continuação do exemplo anterior
Vamos calcular ∫ xe x dx por partes. Sendo u = x, dv = e x dx, então du = dx, v = e x e assim,

∫ xe dx = xe − ∫ e dx = xe − e .
x x x x x

Assim,
x −4 y = xe x − e x + c ⇒ y = x 5 e x − x 4 e x + cx 4 .
Passo 3: Encontrar o valor de c. Como y (1) = 2, temos

2 = 15 e 1 − 14 e 1 + c14 ⇒ c = 2.

Portanto,
y (x) = x 5 e x − x 4 e x + 2x 4

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Variáveis separáveis

Veremos agora um método para resolver as EDOs mais simples: EDOs de primeira ordem com
variáveis separáveis.
Definição
Uma EDO de primeira ordem é dita de variáveis separáveis se puder ser escrita da forma
dy
= g (x)h(y ).
dx
Por exemplo,
● dydx
= y 2 xe 3x+4y é de variáveis separáveis, pois podemos escrevê-la como dy
dx
= (y 2 e 4y )(xe 3x ).
● dydx
= y + senx não é de variáveis separáveis, pois não há como fatorar y + senx como
produto de uma função de x por uma função de y .

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Procedimentos para resolver uma EDO de variáveis separáveis
Seja dy
dx
= g (x)h(y ). Separe os termos que envolvem x dos termos que envolvem y :

dy 1
= g (x)dx ou p(y )dy = g (x)dx com p(y ) = .
h(y ) h(y )

Integre ambos os lados, com respeito às variáveis correspondentes:

∫ p(y )dy = ∫ g (x)dx ⇒ H(y ) = G (x) + c

e assim, obtemos uma famı́lia de soluções a um parâmetro da EDO.

Observação: Ao integrar ambos os lados, não há necessidade de colocar constantes em ambos
os lados:
H(y ) + c1 = G (x) + c2 ⇒ H(y ) = G (x) + (c2 − c1 ) .
´¹¹ ¹ ¹ ¹ ¹ ¹ ¹ ¸¹ ¹ ¹ ¹ ¹ ¹ ¹ ¶
c

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Exemplos
dy
a) Resolver a EDO (1 + x) = y.
dx
Seguindo os passos vistos anteriormente, obtemos:
dy dx 1 1
= ⇒∫ dy = ∫ dx
y 1+x y 1+x

ln∣y ∣ = ln∣1 + x∣ + c1 lembrar que ∫ 1


x
dx = ln∣x∣ + c
∣y ∣ = e ln∣1+x∣+c1
∣y ∣ = ∣1 + x∣e c1
y = ±e c1 (1 + x) trocando e c1 por c
y = c(1 + x) definida em R.

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Exemplos
dy x
b) Resolver o PVI = − , y (4) = −3.
dx y
Seguindo os passos vistos, temos ydy = −xdx, e assim,

y2 x2
∫ ydy = − ∫ xdx ⇒ = − + c ⇒ x 2 + y 2 = c1 .
2 2
Neste caso, obtivemos uma famı́lia de soluções implı́citas para a EDO. Como y (4) = −3, temos

42 + (−3)2 = c1 ⇒ c1 = 25.

√a solução implı́cita para o PVI é x + y = 25, e uma solução explı́cita pode ser dada por
2 2
Assim,
y = − 25 − x , x ∈ (−5, 5).
2

Pergunta: Por que y = 25 − x 2 não é uma solução para esse PVI?

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Exemplos
dy
c) Resolver o PVI (e 2y − y ) cos x = e y sen(2x), com y (0) = 0.
dx
Separando as variáveis, temos
e 2y − y sen(2x)
y
dy = dx.
e cos x
Lembremos que 1
ey
= e −y e sen(2x) = 2senx cos x. Então

∫ e − ye dy = 2 ∫ senxdx.
y −y

Do lado direito da igualdade, temos que

2 ∫ senxdx = −2 cos x + c.

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Continuação do exemplo c)

∫ e − ye dy = ∫ e dy − ∫ ye dy = e − ∫ ye dy ,
y −y y −y y −y

e vamos utilizar integração por partes nesta última integral. Tomando u = y e dv = e −y dy ,


obtemos du = dy e v = −e −y , logo

e y − ∫ ye −y dy = e y − (−ye −y + ∫ e −y dy ) = e y + ye −y + e −y .

Logo, a famı́lia de soluções da EDO é dada por:

e y + ye −y + e −y = −2 cos x + c.

Como y (0) = 0, obtemos que c = 4. Portanto, a solução do PVI é dada (implicitamente) por

e y + ye −y + e −y = −2 cos x + 4, x ∈ R.

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