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Equações diferenciais ordinárias

Referências - Boyce e DiPrima (2006); Simmons Krantz (2008); Zill e Cullen (2009)

Agora, vamos considerar os seguintes casos:

Caso 1: Tomemos o seguinte PVI:

𝑑𝑦 1
=
{ 𝑑𝑥 𝑥
𝑦(0) = 0

Esse PVI não admite solução, pois a solução da EDO

𝑦 = ln|𝑥 | + 𝐶
Não está definida para 𝑥 = 0, logo a solução não pode satisfazer a condição inicial 𝑦(0) = 0.

1
𝑑𝑦
Caso 2: Vamos considerar a seguinte ED: = 𝑥𝑦 2 e a condição inicial 𝑦(0) = 0.
𝑑𝑥
2
𝑥2
Ao resolvermos a ED, chegamos em 𝑦 = ( + 𝐶) . Para a condição inicial 𝑦(0) = 0, temos que
4
𝐶 = 0 e temos a seguinte solução para o PVI:

𝑥4
𝑦=
16
Entretanto, esta não é a única solução para o PVI. Se pegarmos a função constante 𝑦 = 0, temos
que esta também é solução do PVI (Veja o gráfico abaixo, indicando as duas soluções que passam
pelo ponto (0,0).

Por mais que diversos problemas de valor inicial que discutimos até o momento tenham solução
e, aparentemente, essa solução é única, é interessante muitas vezes, saber, antes mesmo de
resolver um PVI, se ele possui solução e se essa solução é a única solução do problema. No caso
de uma equação diferencial linear de primeira ordem, o teorema abaixo nos fornece condições

1
suficientes para garantir a existência e a unicidade da solução de um PVI cuja equação diferencial
𝑑𝑦
é da forma + 𝑝(𝑥)𝑦 = 𝑔(𝑥):
𝑑𝑥

Teorema de existência e unicidade (equações diferenciai lineares de primeira ordem). Se as


funções 𝑝 e 𝑔 são contínuas em um intervalo aberto 𝐼: 𝛼 < 𝑥 < 𝛽 contendo 𝑥 = 𝑥0 , então
existe uma única função 𝑦 = 𝜙(𝑥) que satisfaz a ED:
𝑑𝑦
+ 𝑝(𝑥)𝑦 = 𝑔(𝑥)
𝑑𝑥
Para cada 𝑥 em 𝐼 e que também satisfaz a condição inicial 𝑦(𝑥0 ) = 𝑦0 onde 𝑦0 é um valor
inicial arbitrário prescrito.

Exemplo1. Vamos encontrar o intervalo no qual o PVI

𝑡𝑦´ + 2𝑦 = 4𝑡 2
{
𝑦(1) = 2
Tem uma única solução.

Solução. Reescrevendo a equação diferencial, temos:


2
𝑦´ = − 𝑦 + 4𝑡
𝑡
2 𝜕𝑓 2
Vemos que 𝑓(𝑡, 𝑦) = − 𝑦 + 4𝑡 e (𝑡, 𝑦) = − são contínuas para 𝑡 < 0 ou 𝑡 > 0. O intervalo
𝑡 𝜕𝑦 𝑡
𝑡 > 0 contém a condição inicial, portanto, pelo teorema, o PVI tem uma única solução no
intervalo 0 < 𝑡 < ∞.

Resolvendo essa equação linear de primeira ordem, temos:


2
𝑦´ = − 𝑦 + 4𝑡
𝑡
2
𝑦 + 𝑦´ = +4𝑡
𝑡
Seja 𝜇(𝑡) o fator integrante:
2
𝜇(𝑡) ( ) 𝑦 + 𝜇(𝑡)𝑦´ = 4𝑡. 𝜇(𝑡)
𝑡
𝑑 2
Temos que 𝜇(𝑡) = 𝜇(𝑡) ( ) ou seja, 𝜇(𝑡) = 𝑒 2 ln|𝑡| = 𝑡 2 . Assim:
𝑑𝑡 𝑡

2𝑡𝑦 + 𝑡 2 𝑦´ = 4𝑡 3

𝑡 2 𝑦 = ∫ 4𝑡 3 𝑑𝑡
𝑡4 𝐶
𝑦= +
𝑡2 𝑡2
𝐶
𝑦 = 𝑡2 + ,𝑡 > 0
𝑡2
Pela condição inicial, temos:

2 =1+𝐶

2
𝐶=1
1
Portanto, a única solução do PVI é 𝑦 = 𝑡 2 + , cujo intervalo de validade é (0, ∞).
𝑡2

Para o caso mais geral, incluindo equações diferenciais de primeira ordem não lineares, temos
o seguinte teorema de existência e unicidade.

Existência e Unicidade de soluções (caso geral). Considere o problema de valor inicia (PVI)
𝑑𝑦
= 𝑓(𝑡, 𝑦)
{ 𝑑𝑡
𝑦(𝑡0 ) = 𝑦0

𝜕𝑓
Se 𝑓(𝑡, 𝑦) e forem contínuas no retângulo
𝜕𝑦
𝑅 = {(𝑡, 𝑦) ∈ ℝ2 | 𝛼 < 𝑡 < 𝛽, 𝛿 < 𝑦 < 𝛾}

Contendo (𝑡0 , 𝑦0 ), então o PVI tem uma única solução em um intervalo contendo 𝑡0 .

Exemplo2. Considere o PVI:

𝑦´ = 2√𝑦
{
𝑦(0) = 0

𝜕𝑓 1
Resolução. Temos que 𝑓(𝑡, 𝑦) = 2√𝑦 e (𝑡, 𝑦) = , sendo esta última descontinua na reta
𝜕𝑦 √𝑦
𝑦 = 0. Portanto, as hipóteses do teorema não são satisfeitas e o teorema não pode ser aplicado.

Se buscarmos a solução dessa equação separável, chegamos em

𝑦 = 𝑡2
Por outro lado, 𝑦 = 0 também é solução do PVI.

Esse exemplo 2 acima nos dá uma importante informação. Enquanto a equação diferencial do
primeiro exemplo é linear, a do segundo exemplo não. Para uma equação linear de primeira
ordem, pode-se obter uma solução contendo uma constante arbitrária, a partir da qual obtêm-
se todas as soluções possíveis atribuindo-se valores a essa constante. Para uma equação não
linear, por outro lado, isso pode não acontecer. O exemplo 2 nos mostrou uma solução (𝑦 = 0)
para a equação não linear que não foi obtida a partir de um valor da equação 𝑦 = (𝑡 + 𝐶)2 ,
atribuindo um valor para 𝐶.

Outra característica importante das equações não lineares é que as singularidades da solução
podem depender, de modo essencial, tanto das condições iniciais quanto da equação
diferencial.

3
Exemplo3. Resolva o PVI:

𝑦´ = 𝑦 2
{
𝑦(0) = 1
Resolução. É fácil chegar que a solução desse PVI é:
1
𝑦=
1−𝑡
Chamamos a atenção para o fato de que essa solução torna-se ilimitada quando 𝑡 → 1. Portanto,
a solução existe apenas no intervalo (−∞, 1) (lembrando que (𝑥0 , 𝑦0 ) = (0,1)).

Se a condição inicial fosse substituída por 𝑦(0) = 𝑦0 , então a constante 𝐶 tem que ser escolhida
1
como 𝐶 = − e a solução do PVI fica:
𝑦0

𝑦0
𝑦=
1 − 𝑦0 𝑡
1
Notemos que essa solução torna-se ilimitada quando 𝑡 → , de modo que o intervalo de
𝑦0
existência dessa solução é:
1
−∞ < 𝑡 < se 𝑦0 > 0
𝑦0


1
< 𝑡 < ∞ se 𝑦0 < 0
𝑦0

(lembrando que, pela condição inicial 𝑦(0) = 𝑦0 , temos que 𝑡 = 0 tem que estar no intervalo
de existência)

Outra questão importante sobre as diferentes características entre uma equação linear e uma
equação não linear é que uma equação linear de primeira ordem fornece uma fórmula explícita
para 𝑦 = 𝜙(𝑡), enquanto que para as equações não lineares essa situação não é tão simples.
Em geral, o melhor que vamos obter vai ser uma equação 𝐹(𝑡, 𝑦) = 0 envolvendo 𝑡 e 𝑦. Já vimos
um exemplo desse caso.

Exercícios.

1) Determine, sem resolver o problema, um intervalo no qual a solução do PVI dado


certamente existe.
a) 𝑡(𝑡 − 4)𝑦´ + 𝑦 = 0, 𝑦(2) = 1
2 2
b) (4 − 𝑡 )𝑦´ + 2𝑡𝑦 = 3𝑡 , 𝑦(−3) = 1
2) Determine a região do plano 𝑡𝑦 em que as hipóteses do Teorema da Existência e
Unicidade são satisfeitas.
1
a) 𝑦´ = (1 − 𝑡 2 − 𝑦 2 )2
3
b) 𝑦´ = (𝑡 2 − 𝑦 2 )2
3) Resolva o PVI dado e determine de que modo o intervalo no qual a solução existe
depende do valor inicial 𝑦0 .

4
a) 𝑦´ = 2𝑡𝑦 2 , 𝑦(0) = 𝑦0

4) Resolva o PVI:
𝑦 ′ + (1 − 2𝑥)𝑦 = 𝑥𝑒 −𝑥
{
𝑦(0) = 2
5)

a) Encontre a solução do PVI


𝑑𝑦 (2𝑥 − 1)
=
{𝑑𝑥 3𝑦 2 − 3
𝑦(1) = 0

b) Determine o intervalo de validade da solução, ou seja, o maior intervalo contendo 𝑥0 = 1


𝑑𝑦
para o qual a solução 𝑦(𝑥) e sua derivada estão definidas.
𝑑𝑥

* Equações Exatas e fatores integrantes

Vamos estudar, agora, uma classe de equações diferenciais de primeira ordem que, assim como
as lineares e as separáveis, possui um método bem definido.

Vamos tomar a equação diferencial

2𝑥 + 𝑦 2 + 2𝑥𝑦𝑦´ = 0
Não se trata de uma equação de variáveis separáveis, nem de uma equação linear de primeira
ordem. Mas, podemos notar que a função ℎ(𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 + 𝑥𝑦 2 tem a propriedade:
𝜕ℎ 𝜕ℎ
= 2𝑥 + 𝑦 2 e = 2𝑥𝑦
𝜕𝑥 𝜕𝑦

Assumindo 𝑦 = 𝜙(𝑥):
𝜕ℎ 𝜕ℎ 𝑑𝑦
(2𝑥 + 𝑦 2 ) + (2𝑥𝑦)𝑦´ = + . =0
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝑑𝑥
𝑑ℎ 𝑑 2
= (𝑥 + 𝑥𝑦 2 ) = 0
𝑑𝑥 𝑑𝑥
Assim, integrando ambos os lados, temos:

𝑥 2 + 𝑥𝑦 2 = 𝐶
Onde 𝐶 é uma constante arbitrária e a equação acima é uma equação que define implicitamente
as soluções da equação diferencial 2𝑥 + 𝑦 2 + 2𝑥𝑦𝑦´ = 0.

O passo importante na discussão acima foi o reconhecimento de que existe uma função 𝜓(𝑥, 𝑦)
tal que, dada a equação diferencial,

𝑀(𝑥, 𝑦) + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑦´ = 0

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𝜕𝜓 𝜕𝜓
Temos (𝑥, 𝑦) = 𝑀(𝑥, 𝑦) e (𝑥, 𝑦) = 𝑁(𝑥, 𝑦). Nesse caso, 𝜓(𝑥, 𝑦) = 𝐶 define 𝑦 = 𝜙(𝑥)
𝜕𝑥 𝜕𝑦
implicitamente como uma função diferenciável de 𝑥. Assim:
𝜕ℎ 𝜕ℎ 𝑑𝑦 𝑑
𝑀(𝑥, 𝑦) + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑦´ = + . = 𝜓(𝑥, 𝑓(𝑥))
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝑑𝑥 𝑑𝑥
E a equação diferencial torna-se:
𝑑
𝜓(𝑥, 𝑓(𝑥)) = 0
𝑑𝑥
Nesse caso, a equação 𝑀(𝑥, 𝑦) + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑦´ = 0 é dita exata.

Definição. Uma expressão diferencial 𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 é uma diferencial exata em
uma região 𝑅 do plano 𝑥𝑦 se ela corresponder ao diferencial de alguma função 𝑓(𝑥, 𝑦).
Uma equação diferencial de primeira ordem da forma
𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 = 0
é dita ser uma equação exata se a expressão do lado esquerdo for uma diferencial exata.

O teorema a seguir nos fornece um critério para saber se a equação 𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 =
0 é uma equação diferencial exata.

Teorema. Suponha que as funções 𝑀(𝑥, 𝑦), 𝑁(𝑥, 𝑦) e suas derivadas parciais de primeira
ordem são contínuas na região retangular 𝑅: 𝛼 < 𝑥 < 𝛽, 𝛾 < 𝑦 < 𝛿. Então, a equação
𝑀(𝑥, 𝑦) + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑦´ = 0 é uma equação diferencial exata em 𝑅 se, e somente se,
𝑀𝑦 (𝑥, 𝑦) = 𝑁𝑥 (𝑥, 𝑦)
Em cada ponto de 𝑅.
𝜕𝜓 𝜕𝜓
Isto é, existe uma função 𝜓 que satisfaz (𝑥, 𝑦) = 𝑀(𝑥, 𝑦) e (𝑥, 𝑦) = 𝑁(𝑥, 𝑦) se, e
𝜕𝑥 𝜕𝑦
somente se, 𝑀 e 𝑁 satisfazem 𝑀𝑦 (𝑥, 𝑦) = 𝑁𝑥 (𝑥, 𝑦).

Uma explicação para esse teorema. Considerando que 𝑀(𝑥, 𝑦) e 𝑁(𝑥, 𝑦) têm derivadas parciais
de primeira ordem contínuas para todo (𝑥, 𝑦).

Agora, se a expressão 𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 = 0 for exata, existem funções 𝑓 de modo que,
para todo 𝑥 em 𝑅,
𝜕𝑓 𝜕𝑓
𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 = 𝑑𝑥 + 𝑑𝑦
𝜕𝑥 𝜕𝑦

𝜕𝑓 𝜕𝑓
Portanto, 𝑀(𝑥, 𝑦) = , 𝑁(𝑥, 𝑦) =
𝜕𝑥 𝜕𝑦

𝜕𝑀 𝜕 𝜕𝑓 𝜕2𝑓 𝜕 𝜕𝑓 𝜕𝑁
= ( )= = ( )=
𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥

6
Igualdade das derivadas parciais mistas é uma consequência da continuidade das derivadas
parciais de primeira ordem de 𝑀(𝑥, 𝑦) e 𝑁(𝑥, 𝑦).

A continuidade da demonstração do teorema consiste em mostrar que existe uma função 𝑓 para
𝜕𝑓 𝜕𝑓
a qual 𝑀(𝑥, 𝑦) = e 𝑁(𝑥, 𝑦) = sempre que a igualdade 𝑀𝑦 (𝑥, 𝑦) = 𝑁𝑥 (𝑥, 𝑦) for válida. A
𝜕𝑥 𝜕𝑦
construção dessa função 𝑓 na verdade reflete um procedimento básico para solucionar
equações exatas.

Exemplo. Use o método das equações exatas para resolver a equação diferencial
𝑑𝑦
𝑒 𝑦 + (𝑥𝑒 𝑦 + 2𝑦) =0
𝑑𝑥
Resolução.

Notemos que 𝑀𝑦 (𝑥, 𝑦) = 𝑒 𝑦 e 𝑁𝑥 (𝑥, 𝑦) = 𝑒 𝑦 , ou seja, 𝑀𝑦 = 𝑁𝑥 . Logo, a equação diferencial é


exata.
𝜕𝜓
= 𝑀 = 𝑒𝑦
𝜕𝑥
Ou seja,

𝜓(𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑒 𝑦 + 𝜙(𝑦)
Mas, então,
𝜕𝜓
= 𝑥𝑒 𝑦 + 𝜙´(𝑦)
𝜕𝑦
𝜕𝜓
Comparando com = 𝑁 = 𝑥𝑒 𝑦 + 2𝑦, temos:
𝜕𝑦

𝜙´(𝑦) = 2𝑦

𝜙(𝑦) = 𝑦 2 + 𝐶
Assim,

𝜓(𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑒 𝑦 + 𝑦 2 + 𝐶
Assim, as soluções da equação diferencial são dadas implicitamente por:

𝑥𝑒 𝑦 + 𝑦 2 + 𝐶 = 𝑐

𝑥𝑒 𝑦 + 𝑦 2 = 𝐾
Exercícios.

1) Resolva a equação diferencial:

(𝑦𝑐𝑜𝑠(𝑥) + 2𝑥𝑒 𝑦 ) + (𝑠𝑒𝑛(𝑥) + 𝑥 2 𝑒 𝑦 − 1)𝑦´ = 0

2) Resolva o PVI:

7
𝑑𝑦 (𝑥𝑦 2 − 𝑐𝑜𝑠(𝑥)𝑠𝑒𝑛(𝑥))
=
{𝑑𝑥 𝑦(1 − 𝑥 2 )
𝑦(0) = 2

Exemplo. Resolva a equação diferencial:

(3𝑥𝑦 + 𝑦 2 ) + (𝑥 2 + 𝑥𝑦)𝑦´ = 0

Resolução.

Nesse caso,

𝑀𝑦 (𝑥, 𝑦) = 3𝑥 + 2𝑦

𝑁𝑥 (𝑥, 𝑦) = 2𝑥 + 𝑦

Como 𝑀𝑦 ≠ 𝑁𝑥 , a equação diferencial não é exata. Vamos ver que ela não seria resolvida pelo
método acima. Vamos procurar uma função ℎ(𝑥, 𝑦) tal que:

ℎ𝑥 (𝑥, 𝑦) = 3𝑥𝑦 + 𝑦 2

ℎ𝑦 (𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 + 𝑥𝑦

De ℎ𝑥 (𝑥, 𝑦), temos:


3 2
ℎ(𝑥, 𝑦) = 𝑥 𝑦 + 𝑥𝑦 2 + 𝑔(𝑦)
2
derivando em relação a y e comparando, temos:
3 2
𝑥 + 2𝑥𝑦 + 𝑔´(𝑦) = 𝑥 2 + 𝑥𝑦
2
1
Ou seja, 𝑔´(𝑦) = − 𝑥 2 − 𝑥𝑦
2

Como 𝑔´ depende tanto de x como de y, é impossível resolver essa equação para 𝑔(𝑦).

--------- ------------ ---------- --------

Entretanto, se multiplicarmos a equação diferencial


(3𝑥𝑦 + 𝑦 2 ) + (𝑥 2 + 𝑥𝑦)𝑦´ = 0

Por 𝑥, obtemos:

(3𝑥 2 𝑦 + 𝑥𝑦 2 ) + (𝑥 3 + 𝑥 2 𝑦)𝑦´ = 0

Essa última equação é exata, o que nos permite mostrar que suas soluções são dadas
implicitamente por
1
𝑥 3 𝑦 + 𝑥 2𝑦 2 = 𝐶
2

Mas, porque multiplicamos por 𝑥? Vejamos a explicação a seguir sobre fatores integrantes
especiais.

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Fatores integrantes. Relembre que, para resolvermos uma equação linear 𝑦´ + 𝑝(𝑡)𝑦 = 𝑔(𝑡),
utilizamos a ideia de fator integrante para tornar o lado esquerdo mais facilmente integrável. A
ideia aqui será parecida, também utilizaremos um fator integrante para tornar uma equação
não-exata em uma equação exata (nem sempre isso será possível, às vezes apenas). Isto significa
que algumas vezes conseguiremos determinar 𝜇(𝑥, 𝑦) tal que, multiplicando a equação
𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 = 0, teremos que

𝜇(𝑥, 𝑦)𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝜇(𝑥, 𝑦)𝑁(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 = 0 (1)


é uma equação exata (isto é, o lado esquerdo da equação é uma diferencial exata).

Bom, vamos verificar como faremos isso. Pelo critério da exatidão, temos que a equação (1)
acima é exata se, e somente se, (𝜇. 𝑀)𝑦 = (𝜇. 𝑁)𝑥

Pela regra do produto e lembrando que 𝜇, 𝑀 e 𝑁 são funções de 𝑥 e 𝑦, temos:

𝜇𝑀𝑦 + 𝜇𝑦 𝑀 = 𝜇𝑁𝑥 + 𝜇𝑥 𝑁

𝜇𝑦 𝑀 − 𝜇𝑥 𝑁 = 𝜇𝑁𝑥 − 𝜇𝑀𝑦

𝜇𝑦 𝑀 − 𝜇𝑥 𝑁 = (𝑁𝑥 − 𝑀𝑦 )𝜇

Se for possível encontrar um fator integrante 𝜇 que satisfaça a equação acima, então a equação
diferencial 𝜇(𝑥, 𝑦)𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝜇(𝑥, 𝑦)𝑁(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 = 0 será exata e sua solução poderá ser
obtida pelo método visto anteriormente.

Entretanto, a equação 𝜇𝑦 𝑀 − 𝜇𝑥 𝑁 = (𝑁𝑥 − 𝑀𝑦 )𝜇 é uma equação diferencial parcial e não


temos ferramentas, nesse momento, para resolvê-la. Por isso, vamos adotar uma simplificação
aqui: vamos supor que 𝜇 seja uma função de uma variável, dependendo apenas de 𝑥.
𝑑𝜇
Nesse caso, 𝜇𝑥 = e a equação 𝜇𝑦 𝑀 − 𝜇𝑥 𝑁 = (𝑁𝑥 − 𝑀𝑦 )𝜇 pode ser escrita como:
𝑑𝑥

𝑑𝜇
0. 𝑀 − 𝑁 = (𝑁𝑥 − 𝑀𝑦 )𝜇
𝑑𝑥
𝑑𝜇
𝑁 = (𝑀𝑦 − 𝑁𝑥 )𝜇
𝑑𝑥
𝑑𝜇 (𝑀𝑦 − 𝑁𝑥 )
= 𝜇
𝑑𝑥 𝑁
(𝑀𝑦 −𝑁𝑥 )
Porém, pode ser que o quociente dependa tanto de 𝑥 como de 𝑦. Se após serem feitas
𝑁
(𝑀𝑦 −𝑁𝑥)
todas as simplificações algébricas possíveis, o quociente se tornar dependente apenas
𝑁
da variável 𝑥, então

𝑑𝜇 (𝑀𝑦 − 𝑁𝑥 )
= 𝜇
𝑑𝑥 𝑁
é uma equação diferencial ordinária de primeira ordem. Neste caso, podemos encontrar 𝜇, pois
a equação acima é uma equação separável bem como uma equação linear.
𝑀𝑦 −𝑁𝑥
∫( )𝑑𝑥
Disso, chegamos que: 𝜇(𝑥) = 𝑒 𝑁 .

9
De maneira análoga, se, na equação 𝜇𝑦 𝑀 − 𝜇𝑥 𝑁 = (𝑁𝑥 − 𝑀𝑦 )𝜇, o fator integrante procurado
𝜇 for uma função de uma variável, dependendo apenas de 𝑦, teremos
𝑑𝜇
𝑀 − 0 = (𝑁𝑥 − 𝑀𝑦 )𝜇
𝑑𝑦
𝑑𝜇
𝑀 = (𝑁𝑥 − 𝑀𝑦 )𝜇
𝑑𝑦
𝑑𝜇 𝑁𝑥 − 𝑀𝑦
= 𝜇
𝑑𝑦 𝑀
𝑁𝑥 −𝑀𝑦 𝑑𝜇 𝑁𝑥 −𝑀𝑦
Se for uma função de 𝑦 sozinho, então um fator integrante 𝜇 para a equação = 𝜇
𝑀 𝑑𝑦 𝑀

será:
𝑁𝑥 −𝑀𝑦
∫(
𝜇(𝑦) = 𝑒 𝑀 )𝑑𝑦

Assim, retomando o exemplo da equação diferencial (3𝑥𝑦 + 𝑦 2 ) + (𝑥 2 + 𝑥𝑦)𝑦´ = 0, temos:

𝑀𝑦 − 𝑁𝑥 ((3𝑥 + 2𝑦) − (2𝑥 + 𝑦)) (𝑥 + 𝑦) (𝑥 + 𝑦) 1


= 2 = 2 = =
𝑁 (𝑥 + 𝑥𝑦) 𝑥 + 𝑥𝑦 𝑥(𝑥 + 𝑦) 𝑥
1
∫ (𝑥 )𝑑𝑥
𝜇(𝑥) = 𝑒 = 𝑒 ln 𝑥 = 𝑥
Na resolução do exemplo, foi exatamente esse fator integrante que utilizamos: 𝜇(𝑥) = 𝑥.

E se tivéssemos tentado encontrar 𝜇(𝑦)?

𝑁𝑥 − 𝑀𝑦 ((2𝑥 + 𝑦) − (3𝑥 + 2𝑦)) (−𝑥 − 𝑦) (𝑥 + 𝑦)


= 2 = 2 =−
𝑀 (3𝑥𝑦 + 𝑦 ) (3𝑥𝑦 + 𝑦 ) 𝑦(3𝑥 + 𝑦)
Que é uma função de 𝑥 e 𝑦 e não nos ajuda, neste caso.

Exercício. Torne a equação não-exata abaixo em uma equação diferencial exata e resolva-a.

𝑥𝑦𝑑𝑥 + (2𝑥 2 + 3𝑦 2 − 20)𝑑𝑦 = 0


1 1
Resposta. 𝑥 2 𝑦 4 + 𝑦 6 − 5𝑦 4 = 𝑐 (o fator integrante usado foi: 𝜇(𝑦) = 𝑦 3 )
2 2

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