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Equações Diferenciais Ordinárias

Aula 02

Everaldo de Mello Bonotto

Universidade de São Paulo, São Carlos

ICMC - EDO
Teoremas de Existência e Unicidade

ICMC - EDO
Equações Diferenciais Ordinárias de 1a Ordem

Sejam I ⊂ R um intervalo aberto e f : I × R → R uma função.


Vamos estudar a existência e unicidade de solução da seguinte
equação diferencial ordinária:

y 0 = f (t, y ).

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Definição 1 (Problema de Valor Inicial)
Um problema de valor inicial (PVI) para a equação

y 0 = f (t, y ), (1)

com dado inicial (t0 , y0 ) ∈ I × R, é representado por



 y 0 = f (t, y )
 y (t0 ) = y0 ,

e consiste em determinar uma solução y (t) da EDO (1) definida


num intervalo J ⊂ I com t0 ∈ J tal que y (t0 ) = y0 .

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Seja (t0 , y0 ) ∈ I × R. A EDO y 0 = f (t, y ) possui quantas soluções
que passam pelo ponto (t0 , y0 )?

Possui apenas uma solução y (t)?


(t, y (t))

y0

t0

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Possui duas soluções y1 (t) ou y2 (t)?


(t, y1 (t))

y0 (t, y2 (t))

t0

Possui infinitas soluções?

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O nosso objetivo é garantir a existência e a unicidade de
solução para um PVI.

Teorema 2 (Peano)
Sejam I ⊂ R um intervalo aberto e f : I × R → R uma função
contı́nua. Então para qualquer (t0 , y0 ) ∈ I × R, existe pelo menos
uma solução y : J ⊂ I → R do PVI

 y 0 = f (t, y )
 y (t0 ) = y0 .

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Exemplo 3
Considere o PVI

 y 0 = |y |1/2
(f (t, y ) = |y |1/2 )
 y (0) = 0

Note que y1 (t) = 0 é uma solução do PVI. Por outro lado, note
que 
t2

4 se t > 0,
y2 (t) =
 0 se t ≤ 0,
também é uma solução do PVI. Assim, o PVI possui solução mas
ela não é única.

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Teorema 4 (Teorema de Existência e Unicidade - T.E.U.)
Sejam I ⊂ R um intervalo aberto e f : I × R → R uma função.
∂f
Suponha que f (t, y ) e (t, y ) sejam contı́nuas em I × R. Então
∂y
para todo (t0 , y0 ) ∈ I × R, existe uma única solução y : J ⊂ I → R
do PVI 
 y 0 = f (t, y )
.
 y (t0 ) = y0

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Exemplo 5

 y 0 = t cos(y )
Verifique se o PVI admite uma única solução.
 y (0) = 1,
Solução Note que

∂f
f (t, y ) = t cos(y ) e (t, y ) = −t sin(y )
∂y

são funções contı́nuas em R2 . Segue do T.E.U. que o PVI admite


uma única solução.

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Equações Diferenciais de Primeira Ordem

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Equações Separáveis

Sejam h : I ⊂ R → R e g : R → R duas funções contı́nuas. A


EDO  
0 dy
y = h(t)g (y ) = h(t)g (y )
dt
é chamada de equação diferencial ordinária separável.

Obs.: A função f (t, y ) = h(t)g (y ) é o produto de uma função


da variável independente (h(t)) por uma função da variável depen-
dente (g (y )).

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Definição 6
Dizemos que y (t) = c é uma solução constante da EDO

y 0 = h(t)g (y )

se g (y (t)) = g (c) = 0.

Exemplo 7
Determine as soluções constantes da EDO y 0 = 2y 2 + 3y .

Solução: Note que g (y ) = 2y 2 + 3y e h(t) = 1. Daı́

3
2y 2 + 3y = 0 ⇔ y (2y + 3) = 0 ⇔ y = 0 ou y = − .
2

Portanto, as soluções constantes são dadas por y (t) = 0 e y (t) =


3
− , t ∈ R.
2
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Exemplo 8
Determine as soluções constantes das seguintes EDOs.

a) y 0 = e y t.

b) z 0 = (1 − t 2 )cos(z).

Solução: a) Note que g (y ) = e y e h(t) = t. Como g (y ) = e y 6= 0


para todo y ∈ R, segue que a EDO não possui solução constante.

b) Neste caso temos g (z) = cos(z) e h(t) = 1 − t 2 . Logo,

π
cos(z) = 0 ⇔ z = + kπ, k ∈ Z.
2
π
Portanto, as soluções constantes são z(t) = 2 + kπ, k ∈ Z.

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Solução não constante

Suponhamos que y (t) seja uma solução da EDO separável

y 0 = h(t)g (y )
definida num intervalo I tal que g (y (t)) 6= 0 para todo t ∈ I . Como
y (t) é uma função derivável (pois é solução), segue da definição de
diferencial que:
dy = y 0 (t)dt,
ou
dy = h(t)g (y )dt.

Como g (y (t)) 6= 0, t ∈ I , podemos escrever:

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1
dy = h(t)dt.
g (y )
Integrando ambos os lados, temos:
Z Z
1
dy = h(t)dt.
g (y )

1
Se G (y ) for uma primitiva para e se H(t) for uma primitiva
g (y )
de h(t), teremos:
G (y ) = H(t) + c,

onde c é uma constante. Assim a solução y (t) é dada implicita-


mente pela equação G (y (t)) = H(t) + c. Caso G admita inversa,
temos y (t) = G −1 (H(t) + c), ∀ t ∈ I.

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Exemplo 9
Determine as soluções não constantes da EDO y 0 = te −y .

dy
Solução: A equação = te −y é separável. Pelo Método de
dt
Separação de Variáveis (usando a diferencial), podemos escrever

1
dy = tdt
e −y

Integrando Z Z
y
e dy = tdt

t2
ey = + c (c constante de integração).
2
 2 
Portanto, y (t) = ln t2 + c é solução não constante.

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Obs.: No exemplo anterior:
Z Z
y
e dy = tdt

t2
e y + c1 = + c2
2
2
t
ey = + c2 − c1
2
Basta renomear c = c2 − c1 e teremos

t2
ey = + c.
2

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Exemplo 10
Resolva as EDOs:

a) x 0 = e −x cos t
dz
b) = (1 + z 2 ) sec(x)
dx

Solução: a) Note que g (x) = e −x . Como g (x) = e −x 6= 0 para


todo x ∈ R, segue que a EDO não possui solução constante.
Agora, vamos determinar as soluções não constantes. Pelo
Método de Separação de Variáveis (usando a diferencial), podemos
escrever
1
dx = cos tdt
e −x
Z Z
1
Integrando −x
dx = cos tdt
e
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Z Z
1
dx = cos tdt
e −x
Z Z
x
e dx = cos(t)dt

e x = sin t + c

Assim, as soluções não constantes são:

x(t) = ln (sin t + c) .

ICMC - EDO
b) Note que g (z) = 1 + z 2 . Como g (z) = 1 + z 2 6= 0 para todo
z ∈ R, segue que a EDO não possui solução constante.
Agora, vamos determinar as soluções não constantes. Pelo
Método de Separação de Variáveis (usando a diferencial), temos:

1
dz = sec x dx
1 + z2

Integrando Z Z
1
dz = sec x dx
1 + z2
arctan(z) = ln | sec x + tan x| + c.

Assim, as soluções não constantes são:

z(x) = tan (ln | sec x + tan x| + c) .

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Exemplo 11

 x 0 = t 3 e −2x
Resolva o PVI .
 x(1) = 0

∂f
Solução: Como f (t, x) = t 3 e −2x e (t, x) = −2t 3 e −2x são
∂x
contı́nuas, segue do Teorema de Existência e Unicidade que o PVI
possui uma única solução.
Notemos que a EDO x 0 = t 3 e −2x não possui solução constante,
pois g (x) = e −2x 6= 0 para todo x real.
Vamos determinar a solução não constante que satisfaz o
PVI.

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Pelo Método de Separação de Variáveis (usando a diferencial), te-
mos: e 2x dx = t 3 dt. Integrando
Z Z
1 1 1
e dx = t 3 dt =⇒ e 2x = t 4 + c =⇒ e 2x = t 4 + 2c =⇒
2x
 2 4  2 
1 4 1 1 4
2x = ln t + 2c =⇒ x(t) = ln t + 2c .
2 2 2
Como x(1) = 0, temos
 
1 1 1 1
ln + 2c = 0 =⇒ + 2c = 1 =⇒ c = .
2 2 2 4
 4 
1 t 1
Portanto, x(t) = ln + é a solução do PVI.
2 2 2

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