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Equações não-homogêneas

Nesta semana estudaremos a equação não-homogênea

y 00 + p(t)y 0 + q(t)y = g(t). (1)

Sejam y (x ) e Yp (x ) duas soluções quaisquer de (1), então

(y − Yp )00 + p(y − Yp )0 + q(Y − Yp )


= (y 00 + py 0 − qy ) − (Yp00 + pYp0 − qYp )
= g(t) − g(t) = 0.

Logo, y − Yp é solução da equação homogênea

y 00 + p(t)y 0 + q(t)y = 0. (2)


A forma da solução geral

Portanto, se y1 e y2 são duas soluções linearmente independentes


de (2), temos
y − Yp = C1 y1 (t) + C2 y2 (t)
ou seja,

y = C1 y1 (t) + C2 y2 (t) + Yp . (3)

Como y é uma solução qualquer de (1), segue que toda solução de


(1) é da forma (3), ou seja, esta é a solução geral de (1). Por-
tanto, para encontrarmos a solução geral de (1) precisamos de duas
soluções linearmente independentes de (2) (o que já foi estudado)
e de uma solução particular de (1). Portanto a única novidade em
(3) é saber como encontrar uma solução particular Yp de (1), o que
veremos a seguir.
Superposição de soluções de equações com diferentes gi ’s

Exercı́cio
Mostre que se Yi for uma solução particular de

y 00 + p(t)y 0 + q(t)y = gi (t),

i = 1, . . . , k, então Y = Y1 + . . . + Yk é uma solução particular de

y 00 + p(t)y 0 + q(t)y = g1 (t) + . . . + gk (t).


Obtendo uma solução particular Yp

Suponha que y1 e y2 sejam soluções linearmente da equação ho-


mogênea (2). Vamos tentar encontrar uma solução particular da
seguinte forma

Yp = u1 y1 + u2 y2 (4)

onde u1 e u2 serão determinadas.

Yp0 = u10 y1 + u1 y10 + u20 y2 + u2 y20

Forçaremos que

u10 y1 + u20 y2 = 0. (5)


Aula 12 - Equações Lineares de segunda ordem não-homogêneas

Com isso temos

Yp0 = u1 y10 + u2 y20 (6)

Portanto,

Yp00 = u10 y10 + u1 y100 + u20 y20 + u2 y200 (7)

Substituindo (4), (6) e (7) em (1), temos

u10 y10 + u1 y100 + u20 y20 + u2 y200 + p(u1 y10 + u2 y20 ) + q(u1 y1 + u2 y2 ) = g

ou seja,

u10 y10 + u20 y20 + (y100 + qy10 + qy1 ) u1 + (y200 + qy20 + qy2 ) u2 = g,
| {z } | {z }
=0 =0

Paulo Cupertino de Lima Curso online de EDA


logo,

u10 y10 + u20 y20 = g (8)

Portanto, de (5) e (8), u1 e u2 devem satisfazer o sistema

u10 y1 + u20 y2 = 0 (9)


u10 y10 + u20 y20 = g (10)

ou, equivalentemente,

! ! !
y1 y2 u10 0
= . (11)
y10 y20 u20 g
Como W (y1 , y2 )(t) 6= 0, o sitema acima tem solução única

y2 (t)g(t)
u10 (t) = − (12)
W (y1 , y2 )(t)
y1 (t)g(t)
u20 (t) = . (13)
W (y1 , y2 )(t)

Integrando as duas equações, obtemos

−y2 (t)g(t)
Z
u1 (t) = dt ≡ H1 (t) + C1 (14)
W (y1 , y2 )(t)
y1 (t)g(t)
Z
u2 (t) = dt ≡ H2 (t) + C2 . (15)
W (y1 , y2 )(t)
Portanto,

u1 (t)y1 (t) + u2 (t)y2 (t)


= C1 y1 (t) + C2 y2 (t) + H1 (t)y1 (t) + H2 (t)y2 (t) .
| {z }
Yp (t)

com isso obtemos a solução geral de (1), desde que mantivemos


as duas constantes de integrações C1 e C2 . Se fizermos C1 = 0 e
C2 = 0 teremos uma solução particular de (1).
Note que se tivermos uma solução y1 (t) de (2) então, pelo método
da redução de ordem, encontramos uma segunda solução y2 (t),
tal que y1 e y2 sejam linearmente independentes. Com estas duas,
a partir do método da variação dos parâmetros, obtemos uma
solução particular (ou a solução geral, se mantivermos as duas cons-
tantes de integrações) da equação não-homogênea (1).
Exercı́cio
Encontre a solução geral das equações abaixo;
1 y 00 − 5y 0 + 6y = 2e t .
2 y 00 + y = tan t 0 < t < π/2.
et
3 y 00 − 2y 0 + y = 1+t 2
.

Solução de (2). Note que as equações homogêneas associadas as


equações acima são todas de coeficientens constantes. Note que a
equação homogênea é
y 00 + y = 0,
sendo que
y1 = cos t e y2 = sin t
são duas soluções l.i da mesma, com W (cos t, sin t) = cos2 t +
sin2 t = 1, para todo t. Portanto,
− sin t tan t − sin2 t −1 + cos2 t
Z Z Z
u1 (t) = dt = dt = dt
Z 1 cos t cos t
= (− sec t + cos t)dt = − ln | sec t + tan t| + sin t +C1
| {z }
H1 (t)
cos t tan t
Z Z
u2 (t) = dt = sin tdt = − cos t +C2 .
1 | {z }
H2 (t)

Logo a solução geral é

u = C1 cos t + C2 sin t (ln | sec t + tan t|) cos t .


| {z }
Yp
Exercı́cio
Dadas duas soluções da equação homogênea, encontre a solução
geral da não-homogêna.
1 t 2 y 00 − 2y = 3t 2 − 1, t > 0, y1 (t) = t 2 , y2 (t) = t −1 .
2 (1 − t)y 00 + ty 0 − y = 2(t − 1)2 e −t , 0 < t < 1, y1 (t) =
e t , y2 (t) = t.
O método dos coeficientes indeterminados
A seguir mostraremos que uma solução particular da equação


 cos(γt)

ay 00 + by 0 + cy = e δt Qn (t) × ou (16)

 sin(γt)

onde a, b e c são constantes e a 6= 0 é da forma

Y (t) = t s e δt (P
en (t) cos(γt) + Q
e n (t) sin(γt)),

onde

P
en (t) e Q
e n (t) são polinômios de grau n e

 0,
 se δ + iγ não é raiz da EC aλ2 + bλ + c = 0
s= 1, se δ + iγ é raiz simples da EC aλ2 + bλ + c = 0 .
se δ + iγ é raiz dupla da EC aλ2 + bλ + c = 0

 2,
O primeiro caso δ = 0 = γ

A seguir mostraremos (20) no caso em que δ = 0 = γ, neste caso


temos a equação

ay 00 + by 0 + cy = an t n + . . . + a1 t + ao . (17)

Vamos primeiro supor que c 6= 0. Neste caso tentaremos uma


solução particular

Y = An t n + . . . + A1 t + Ao ,

onde os coeficientes An , . . . , Ao serão determinados.


Usaremos o seguinte resultado: dados dois polinômios de grau n,
P(t) = An t n + . . . + A1 t + Ao e Q(t) = Bn t n + . . . + B1 t + Bo ,
temos que
P(t) = Q(t)
para todo t, se, e somente se, Ai = Bi , i = 0, 1, . . . , n.
Substituindo Y , Y 0 e Y 00 na equação, temos

a(n(n − 1)An t n−2 + . . . + A2 ) + b(nAn t n−1 + . . . + A2 t + A1 )


+ c(An t n + An−1 t n−1 + . . . + A1 t + Ao )
= an t n + . . . + a 1 t + ao . (18)

Como c 6= 0, então em ambos os lados da equação cima temos um


polinômio de grau n e, por igualdade dos dois polinômios. obtemos
os coeficientes Ao , . . . , An , resolvendo o sistema

cAn = an ,
cAn−1 + bnAn = an−1
..
.
aA2 + bA1 + cAo = ao .
Suponha agora que c = 0 e b 6= 0, se Y fosse um polinômio
de grau n, o lado esquerdo de (18) seria um polinônmio de grau
n − 1 enquanto que no lado direito temos um polinômio de grau n,
então Y tem que ser um polinômio de grau n + 1. Não conseguimos
determinar o termo constante (ele é aniquilado pelas derivadas),
mas não tem problema, pois constantes são soluções da equação
homogênea associada, portanto, ela aparece na solução geral da
mesma. Ao fazermos o termo constante igual a zero no polinômio
de grau n + 1 ele poderá ser escrito da forma

Y = t(An t n + . . . + A1 t + Ao ).
Substituimos o polinômio Y na equação (17), determinamos os seus
coeficientes como anteriormente, pela igualdade de polinômios.
Suponha que b = 0 = c, pelo mesmo argumento de antes, devemos
tomar Y um polinômio de grau n + 2 e não conseguimos determinar
os termos constate e linear de Y , que são eliminados pela derivada
segunda. Por isso omitiremos estes termos no nosso polinômio de
grau n + 2, o que não acarreta problemas, pois a solução geral da
equação homogênea é C1 + C2 t e não estaremos jogando nada fora.
Portanto, podemos tomar Y da seguinte forma

Y = t 2 (An t n + . . . + A1 t + Ao ).

Substituimos esta expressão na equação (17) e obtemos os coefici-


entes.
Exemplo
Encontre uma solução particular de

y 00 + 2y 0 = 2t 2 + 1.

Note que c = 0, b = 2 6= 0 e n = 2. Portanto, uma solução


particular da equação acima é da forma

Y = t(At 2 + Bt + C ) = At 3 + Bt 2 + Ct.

Substituindo esta expressão na equação, temos

6At 2 + (6A + 4B)t + 2B + 2C = 2t 2 + 1

ou seja,
6A = 2, 6A + 4B = 0, 2B + 2C = 1
Logo,
A = 1/3, B = −1/2, C = 1,
portanto, uma solução particular é

Y = t 3 /3 − t 2 /2 + t.

Note que a solução geral da equação é

y = C1 + C2 e −2t + t 3 /3 − t 2 /2 + t.
O segundo caso δ 6= 0 e γ = 0
Neste caso a equação é da forma

ay 00 + by 0 + cy = e δt Pn (t), (19)

onde Pn (t) é um polinômio de grau n. Faremos

Y = e δt u(t).

Substituindo esta expressão na equação (19), temos

au 00 + (2δa + b)u 0 + (aδ 2 + bδ + c)u = Pn (t),

que é o caso anterior com novos coeficientes, ou seja,

u(t) = t s P
en (t),

onde P
en é u polinômio de grau n e

 0,
 se δ não é raiz de aλ2 + bλ + c = 0
s= 1, se δ é raiz simples de aλ2 + bλ + c = 0 .
se δ é raiz dupla de aλ2 + bλ + c = 0

 2,
Logo,
Y = ts P
en (t)e δt .

Exemplo
Encontre uma solução particular de

y 00 − 3y 0 − 4y = 3e 2t .

Note que δ = 2 e n = 0. A equação caracterı́stica da equação


homogênea é
(λ + 1)(λ − 4) = 0.
Portanto δ = 2 não é raiz desta equação. Logo s = 0 e uma solução
particular é
Y = Ae 2t .
Subsitituindo esta expressão na equação temos

4Ae 2t − 6Ae 2t − 4Ae 2t = 3e 2t ⇐⇒ −6A = 3 ⇐⇒ A = −1/2.

Logo uma solução particular é

Y = −1/2e 2t .

Note que a solução geral da equação é

y = C1 e −t + C2 e 4t − 1/2e 2t .
O terceiro caso

Agora vamos considerar o caso


 cos(γt)

ay 00 + by 0 + cy = e δt Qn (t) ou (20)

 sin(γt)

onde Qn (t) é um polinômio de grau n e γ 6= 0. Estes dois ca-


sos reduzem-se ao caso anterior, visto que a partir da fórumla de
Euler podemos expressar cos(γt) e sin(γt) em termos da exponen-
ciais complexas e iγt e e −iγt e caimos no segundo caso. Então uma
solução particular é da forma

Y (t) = t s e δt (Pn (t) cos(γt) + P


en (t) sin(γt)),

onde Pn (t) e P
en (t) são polinômios de grau n.
Onde temos s = 0 se δ + iγ não for raiz de aλ2 + bλ + c = 0,
s = 1 se δ + iγ for raiz simples de aλ2 + bλ + c = 0 e s = 2 se
δ + iγ for raiz dupla de aλ2 + bλ + c = 0. Este último caso não
acontece se γ 6= 0, pois as raı́zes de um polinômio de segundo grau
com coeficientes reais aparecem aos pares conjugados.
Exemplo
Encontre uma solução particular de

y 00 + y = 2 sin t.

Neste caso n = 0, δ = 0 e γ = 1. A equação caracterı́stica da


equação homogênea é λ2 + 1 = 0, portanto as suas raı́zes são
λ = ±i. Logo δ + iγ = 0 + i = i é raiz (simples) da equação
caracterı́stica, logo s = 1 e uma solução particular é

Y = t(A cos t + B sin t).


Substituindo esta expressão na equação diferencial, temos

2B cos t − 2A sin t = 2 sin t

portanto,

2B = 0, −2A = 2 ⇐⇒ B = 0, A = −1.

Logo
Y = −t cos t.
Note que a solução geral é

y = c1 cos t + c2 sin t − t cos t.


Exemplo
Encontre uma solução particular de

y 00 + y = 2 sin t − 4t ≡ g(t). (21)

Note g(t) acima não se enquadra em nenhum dos casos considera-


dos; contudo, podemos usar o exercı́cio anterior. Note que

g(t) = g1 (t) + g2 (g),

onde g1 (t) = 2 sin t e g2 (t) = −4t que correspondem ao terceiro e


primeiro casos, respectivamente. Portanto, se Y1 for uma solução
particular de
y 00 + y = 2 sin t
e Y2 (t) for uma solução particular de

y 00 + y = −4t,
vimos que Y = Y1 + Y2 será solução de

y 00 + y = g1 (t) + g2 (t) = 2 sin t − 4t.

Vimos que uma possı́vel escolha de Y1 = −t cos t e é fácil ver (veja


o primeiro caso) que Y2 = −4t é uma solução de y 00 + y = −4t.
Portanto,
Y = −t cos t − 4t
é uma solução particular de (21).
Exercı́cio
Dê uma forma de uma solução particular de cada das equações
abaixo sem calculá-la.
1 y 00 + 2y + y = e 2t + t 2 + t cos t + t 2 e −t .
2 y 00 + y = t cos t + e −t t 2 + sin t.
3 y 00 − y 0 = t 2 + e t + cos t.

Solução de (1). Sejam g1 (t) = e 2t , g2 (t) = t 2 , g3 (t) = t cos t e


g4 (t) = t 2 e −t e para i = 1, 2, 3, 4 deja Yi (t) uma solução particular
de
y 00 + 2y + y = gi (t).
Como a equação caracterı́stica da equação homogênea associada às
equações acima é

0 = λ2 + 2λ + 1 = (λ + 1)2 =⇒ λ1 = λ2 = −1.
Então (verifique isso)

Y1 (t) = Ae 2t , Y2 (t) = Bt 2 + Ct + D,

Y3 (t) = (Et + F ) cos t + (Gt + H) sin t,

Y4 (t) = t 2 (It 2 + Jt + L)e −t .


Logo, uma solução particular da equação dada em (1) é

Y (t) = Y1 (t) + Y2 (t) + Y3 (t) + Y4 (t).


Vimos que uma solução particular de

y 00 = 2y 0 = y = t cos t

era
Y (t) = (A + Bt) cos t + (C + Dt) sin t.
Vamos calcular os coeficientes. Note que

Y 0 = (B + C + Dt) cos t + (D − A − Bt) sin t

y 00 = (2D − A − Bt) cos t + (−2B − c − Dt) sin t.


Substituindo na equação diferencial, temos

(2D + 2B + 2C + 2Dt) cos t + (−2B + 2D − 2A − 2Bt) sin t = t cos t.

Igualando os coeficientes do cos t dos lados esquerdo e direito da


equação acima, temos
2D + 2B + 2C + 2Dt = t =⇒ 2D + 2B + 2C = 0, 2D = 1

o que nos dá (


D = 1/2
B+C = −1/2
de maneira análoga, igualando os coeficientes de sin t dos lados
esquerdo e e direito da equação acima, temos

−2B + 2D − 2A − 2Bt = 0 =⇒ −2B + 2D − 2A = 0, −2B = 0.

o que nos dá (


B = 0
.
D−A = 0
Logo,
B = 0, A = D = 1/2, C = −1/2.
Ou seja,

Y (t) = (1/2) cos t + (−1/2 + t/2) sin t.

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