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Universidade de Brasília

Departamento de Matemática
Cálculo 2

Turma J

Professora Gláucia L. Dierings


Módulo 2 - Semana 10

2. Equações Diferenciais Ordinárias Lineares de 2a ordem

2.2 O Método de Redução de Ordem

O Método de Redução de Ordem é um método para converter uma equação diferencial


linear para uma equação diferencial linear de ordem inferior e, em seguida, construir a solução
geral da equação diferencial original usando a solução geral da equação de ordem inferior.
Vamos ilustrar o método de redução de ordem para equações diferenciais lineares homo-
gêneas de segunda ordem.
Considere a equação linear homogênea de segunda ordem

y 00 + p(t)y 0 + q(t)y = 0, (1)

onde as funções p e q são contínuas em um intervalo (a, b).


Dadas duas soluções y1 e y2 linearmente independentes desta equação, é fácil escrever a
sua solução geral:
y(t) = c1 y1 (t) + c2 y2 (t)

Porém, infelizmente não existe um método geral para encontrar estas soluções l.i. da
equação diferencial (1) no seu caso geral. Suponha, no entanto, que conhecemos uma das
soluções y1 da equação homogênea. O que podemos fazer para encontrar uma segunda solução
y2 tal que o conjunto {y1 , y2 } seja um conjunto fundamental de soluções?
Para responder a essa pergunta, vamos utilizar o Método de D'Alembert.
Seja y1 (t) uma solução da equação (1) diferente de zero e assim, c1 y1 (t) é também uma
solução para qualquer constante c1 . Procuramos a segunda solução y2 de tal forma a garantir
y2
a independência linear das duas soluções y1 e y2 , isto é, que 6= c, onde c é uma constante.
y1
y2
Daí, existe uma função v(t) tal que = v(t) e a solução y2 será escrita na forma:
y1

y2 (t) = v(t)y1 (t)

1
Precisamos então determinar v(t) de tal forma que y2 = vy1 seja solução da equação (1).
Veremos este procedimento no seguinte exemplo:

Exemplo 1 Seja y1 = t uma solução da equação diferencial homogênea de segunda ordem

t2 y 00 + ty 0 − y = 0, t > 0

Encontre a sua solução geral.


Primeiramente, dividimos a equação diferencial por t2 , obtendo

1 1
y 00 + y 0 − 2 y = 0
t t

Agora, fazemos y2 = vy1 , que será uma solução da equação diferencial. O próximo passo é
calcular as derivadas de y2 :
y20 = v 0 y1 + vy10

y200 = v 00 y1 + v 0 y10 + v 0 y10 + vy100

Como y1 = t, temos y10 = 1 e y100 = 0, substituindo esses valores nas equações acima, obtemos

y2 = vt

y20 = v 0 t + v

y200 = v 00 t + v 0 + v 0 =⇒ y200 = v 00 t + 2v 0
1 1
Agora, vamos substituir esses valores na equação y 00 + y 0 − y = 0:
t t2

1 1 v v
v 00 t + 2v 0 + (v 0 t + v) − 2 (vt) = 0 =⇒ v 00 t + 2v 0 + v 0 + − = 0
t t t t

3
v 00 t + 3v 0 = 0 =⇒ v 00 + v 0 = 0
t
Chamando u = v 0 , segue que
3 u0 3
u0 + u = 0 =⇒ =−
t u t
Note que temos uma equação separável. Integrando em ambos os lados obtemos

u0
Z Z
3
= − dt =⇒ ln u = −3 ln t + C1 =⇒ ln u = ln t−3 + C1 =⇒ u = Ct−3 ,
u t

2
1
onde C = eC1 . Assim, v 0 = Ct−3 . Integrando em ambos os lados, obtemos v = −C . Fazendo
2t2
C = 1, segue que
1 1
y2 = vt = − t = −
2t2 2t
e a solução geral da equação inicial será

1
y(t) = c1 t − c2
2t

2.3 Equações Não-Homogêneas e o Método dos Coecientes Indeterminados

Considere a equação linear não-homogênea de segunda ordem

y 00 + p(t)y 0 + q(t)y = g(t), (2)

onde g(t) 6= 0.

Teorema 1 Dada uma solução particular yp (t) da equação linear não-homogênea (2), então a
solução geral dessa equação pode ser escrita como

y(t) = yp (t) + c1 y1 (t) + c2 y2 (t),

onde y1 e y2 são duas soluções linearmente independentes da equação diferencial homogênea


correspondente
y 00 + p(t)y 0 + q(t)y = 0 (3)

Chamamos yc (t) = c1 y1(t) + c2 y2 (t) a solução complementar e yp (t) uma solução


particular. Portanto a solução geral da equação (2) é da forma

y(t) = yc (t) + yp (t)

Isto é, para determinar a solução geral da equação linear não-homogênea, seguimos os 3 passos:

1. Determine a solução geral yc (t) = c1 y1 (t)+c2 y2 (t) da equação homogênea correspondente.

2. Determine uma solução particular yp (t) da equação diferencial não-homogênea.

3. Escreva a solução geral da equação (2):

y(t) = yc (t) + yp (t)

3
Agora, vamos estudar um método para determinar uma solução particular yp da equa-
ção diferencial linear não-homogênea de segunda ordem, que é o Método dos coecientes
Indeterminados.
Esse método nos ajudará a determinar a solução particular yp da equação diferencial linear
não-homogêneas de coecientes constantes

y 00 + py 0 + qy = g(t)

quando g(t) tem uma forma especial, envolvendo somente polinômios, exponenciais, senos e
cossenos.

1o caso: Quando g(t) = a0 + a1 t + a2 t2 + · · · + an tn .

Admitiremos como solução particular a função

yp (t) = A0 + A1 t + A2 t2 + · · · + An tn

Modicação: Se alguma parcela de yp coincide com termos de yc então a solução yp deverá


ser multiplicada por ts onde s é o menor inteiro positivo que elimina essa coincidência.

Exemplo 2 Encontre a solução geral de y00 − 5y0 + 6y = 2t2 − 1.

Cálculo de yc (t)

A equação linear homogênea correspondente é dada por y 00 − 5y 0 + 6y = 0. Então, temos


a equação característica r2 − 5r + 6 = 0, cujas raízes são r1 = 2 e r2 = 3. Logo, y1 = e2t e
y2 = e3t e
yc (t) = c1 e2t + c2 e3t

Cálculo de yp (t)

Como g(t) = 2t2 − 1, assumimos a solução particular

yp (t) = At2 + Bt + C

Como nenhum termo de yp coincide com termos de yc , não precisamos modicar yp . Para de-

4
terminar as constantes A, B, C, primeiro calculamos as derivadas de yp e depois as substituimos
na equação diferencial:
yp0 = 2At + B

yp00 = 2A

2A − 5(2At + B) + 6(At2 + Bt + C) = 2t2 − 1

=⇒ 6At2 + (6B − 10A)t + (2A − 5B + 6C) = 2t2 − 1

Comparando os coecientes obtemos

1 5 5
A= , B= , C=
3 9 27

Portanto,
t2 5t 5
yp (t) = + +
3 9 27
Logo, a solução geral é

y(t) = yc (t) + yp (t)


t2 5t 5
= c1 e2t + c2 e3t + + +
3 9 27

2o caso: Quando g(t) = ekt .

Admitiremos como solução particular a função

yp (t) = Aekt

Modicação: Se alguma parcela de yp coincide com termos de yc então a solução yp deverá


ser multiplicada por ts onde s é o menor inteiro positivo que elimina essa coincidência.

Exemplo 3 Encontre a solução geral de y00 − 7y0 + 10y = 8e2t .

Cálculo de yc (t)

A equação linear homogênea correspondente é dada por y 00 − 7y 0 + 10y = 0. Então, temos

5
a equação característica r2 − 7r + 10 = 0, cujas raízes são r1 = 2 e r2 = 5. Logo, y1 = e2t e
y2 = e5t e
yc (t) = c1 e2t + c2 e5t

Cálculo de yp (t)

Como g(t) = 8e2t , assumimos a solução particular

yp (t) = Ae2t

Mas esse termo de yp coincide com um termo de yc , então precisamos modicar yp multiplicando
por t e eliminando a coincidência. Logo,

yp (t) = Ate2t

Para determinar a constante A, primeiro calculamos as derivadas de yp e depois as subs-


tituimos na equação diferencial:
yp0 = Ae2t + 2Ate2t

yp00 = 2Ae2t + 2Ae2t + 4Ate2t = 4Ae2t + 4Ate2t

4Ae2t + 4Ate2t − 7(Ae2t + 2Ate2t ) + 10(Ate2t ) = 8e2t


8
=⇒ −3Ae2t = 8e2t =⇒ A = −
3
Portanto,
8
yp (t) = − te2t
3
Logo, a solução geral é

y(t) = yc (t) + yp (t)


8
= c1 e2t + c2 e5t − te2t
3

3o caso: Quando g(t) = sen (kt) ou g(t) = cos(kt).

6
Admitiremos como solução particular a função

yp (t) = A sen (kt) + B cos(kt)

Modicação: Se alguma parcela de yp coincide com termos de yc então a solução yp deverá


ser multiplicada por ts onde s é o menor inteiro positivo que elimina essa coincidência.

Exemplo 4 Encontre a solução geral da equação y00 − 4y0 + 3y = 3 sen(2t).

Cálculo de yc (t)

A equação linear homogênea correspondente é dada por y 00 − 4y 0 + 3y = 0. Então, temos


a equação característica r2 − 4r + 3 = 0, cujas raízes são r1 = 1 e r2 = 3. Logo, y1 = et e
y2 = e3t e
yc (t) = c1 et + c2 e3t

Cálculo de yp (t)

Como g(t) = 3 sen (2t), assumimos a solução particular

yp (t) = A sen (2t) + B cos(2t)

Como yp não coincide com nenhum termo de yc , não precisamos modicar yp .


Para determinar a constante A e B, primeiro calculamos as derivadas de yp e depois as
substituimos na equação diferencial:

yp0 = 2A cos(2t) − 2B sen (2t)

yp00 = −4A sen (2t) − 4B cos(2t)

−4A sen (2t) − 4B cos(2t) − 4(2A cos(2t) − 2B sen (2t)) + 3(A sen (2t) + B cos(2t)) = 3 sen(2t)

=⇒ (−A + 8B)sen (2t) + (−B − 8A) cos(2t) = 3 sen(2t)

7

−A + 8B = 3

=⇒
−B − 8A = 0

3 24
Resolvendo esse sistema, obtemos A = − e B = . Portanto,
65 65

3 24
yp (t) = − sen (2t) + cos(2t)
65 65

Logo, a solução geral é

y(t) = yc (t) + yp (t)


3 24
= c1 et + c2 e3t − sen (2t) + cos(2t)
65 65

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