Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. INTRODUÇÃO
Leveduras do gênero Rhodotorula são reconhecidas por sua capacidade para a produção, em
grande quantidade, de compostos de alto valor comercial, como pigmentos carotenoides e lipídeos
(Cutzu, Coi, Rosso, & Bardi, 2013; Schneider et al., 2013).
No entanto, os custos do processo de fermentação microbiana para a obtenção da biomassa
ainda são elevados, inviabilizando a produção em escala industrial. Como alternativa para tornar este
processo economicamente viável, diversas fontes de carbono de baixo custo têm sido testadas,
destacando-se o uso de subprodutos ou de excedentes agroindustriais como substratos alternativos
para o cultivo microbiano (AKSU, 2007; CUTZU, 2013; CHANDI, 2010).
Diversos estudos têm apontado a boa capacidade de crescimento e de produção de biomassa de
Rhodotorula sp. em meios de cultura de baixo custo (BUZZINI; MARTINI, 1999; MALISORN;
SUNTORNSUK, 2008; MAROVA et al., 2012; PARK et al., 2005).
A indústria da mandioca é responsável pela geração de diversos resíduos, tais como a casca, o
farelo e a manipueira, que é o principal resíduo gerado no processamento da mandioca (Suman, et. al.,
2011). Para cada tonelada de mandioca processada, são gerados, aproximadamente, 300 L de
manipueira (Fernandes Junior & Takahashi, 1994).
A manipueira é um resíduo rico em carboidratos e sais minerais, sendo considerado um
substrato muito atrativo para processos biotecnológicos (Nitschke; Pastore, 2006). Apesar disto,
normalmente não é aproveitada pelos produtores, devido à falta de conhecimento sobre o seu
potencial de uso, tornando-se um dos principais problemas da cadeia produtiva da mandioca, em
função do impacto ambiental ocasionado pelo descarte inadequado deste resíduo na natureza (COSTA
et al., 2010).
Portanto, considerando o baixo custo e a grande quantidade de manipueira produzida no Brasil,
o presente estudo foi realizado com o objetivo de avaliar o potencial de uso da manipueira como meio
de cultura alternativo para o cultivo da levedura Rhodotorula mucilaginosa.
2. METODOLOGIA
2.1. Obtenção da matéria-prima
A manipueira utilizada foi fornecida por uma casa de farinha localizada no município de
Sobrado-PB e armazenada a -18º C. O cultivo e as análises da matéria-prima (manipueira) e do
produto obtido foram conduzidos no laboratório de bioengenharia do Departamento de Engenharia
Química (DEQ) da Universidade Federal da Paraíba, campus I.
Os meios foram incubados à temperatura de 30° C sob agitação constante de 180 rpm por 120
horas, ambos em duplicata. Durante o cultivo alíquotas, em duplicata, foram retiradas dos meios nos
tempos equivalentes a 0, 2, 4, 6, 8, 10, 12, 24, 36, 48, 72, 96 e 120 horas após o inóculo para
determinação da biomassa produzida.
2.4. Biomassa
Alíquotas foram retiradas em intervalos de tempo pré-estabelecidos e centrifugadas a 10000
rpm por 5min. Após a centrifugação, o sobrenadante foi descartado e a biomassa fresca foi colocada
na estufa sob temperatura de 105 ºC por 24 h. Por fim, a biomassa seca foi determinada por
gravimetria.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Damasceno et al. (2003), na utilização da manipueira para a produção de compostos voláteis por
Geotrichum fragrans, encontraram no substrato analisado 58,18 g/L de açúcares totais, sendo 37,96
g/L de açúcares redutores e 20,22 g/L de açúcares não-redutores.
O teor de açúcares redutores (12,8 g/L), encontrados por Nitschke e Pastore (2006) no uso da
manipueira para a produção de biossurfactante através do Bacillus subtilis foi bem abaixo, já o pH,
equivalente a 5,9, um pouco mais alcalino comparado a 5,26.
Observando-se a Figura 3, pode-se perceber também que quase não houve crescimento nas
primeiras 12 horas de cultivo, caracterizando a fase lag, segundo Schmidell e Faccioti (2001), nessa
fase de latência o crescimento celular é nulo devido à adaptação das células, seguida de um
crescimento exponencial, atingindo-se seu ponto máximo 96 horas após o inoculo, destaque para a
pequena fase estacionária, durando poucas horas, seguida da fase de declínio ou morte celular.
4. CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos pode-se concluir que a manipueira, devido a sua composição
nutricional favorável, apresenta potencial para uso como substrato no processo biotecnológico de
produção de lipídeos e carotenoides, desde que não seja utilizada pura.
A levedura Rhodotorula mucilaginosa mostrou-se promissora para a produção de biomassa,
cresceu bem em meio sintético atingindo altas concentrações de células em poucos dias.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AOAC. Official methods of analysis. MD, USA: Association of Official Analytical Chemists, 18th
ed., 2005.
AKSU, Z.; EREN, A. T. Carotenoids production by the yeast Rhodotorula mucilaginosa: Use of
agricultural wastes as a carbon source. Process Biochemistry. p 2985–2991, 2005.
AKSU, Z.; EREN, A. T. Production of carotenoids by the isolated yeast of Rhodotorula glutinis.
Biochemical Engineering Journal, v. 35, p. 107-113, 2007.
CHANDI, G. K.; SINGH, S. P.; GILL, B. S.; SOGI, D. S.; SINGH, P. Optimization of Carotenoids by
Rhodotorula glutinis. Food Science and Biotechnology, v. 19, p. 881-887, 2010.
COSTA, S. G. V. A. O.; NITSCHKE, M.; LÉPINE, F.; DÉZIEL, E.; CONTIERO, J. Structure,
properties and applications of rhamnolipids produced by Pseudomonas aeruginosa L2-1 from
cassava wastewater. Process Biochemistry, v. 45, p. 1511-1516, 2010.
CUTZU, R.; COI, A.; ROSSO, F.; BARDI, L.; CIANI, M.; BUDRONI, M.; ZARA, G.; ZARA, S.;
MANNAZZU, I. From crude glycerol to carotenoids by using a Rhodotorula glutinis mutant. World
Journal of Microbiology and Biotechnology, v. 29, p. 1009-1017, 2013.
DAMASCENO, S.; CEREDA, M. P.; PASTORE, G. M.; OLIVEIRA, J. G. Compostos de aroma por
Geotrichum fragans cultivado em manipueira. In: CEREDA, M. P. (Ed.). Manejo, uso e tratamento
de subprodutos da industrialização da mandioca. São Paulo: Fundação Cargill, 2001. v. 4, p. 96-106.
LEONEL, M., CEREDA, M. P. Manipueira como substrato na biossíntese de ácido cítrico por
Aspergillus niger. Sci. agric., 52(2): 299-304, 1995.
MAROVA, I.; CARNECKA, M.; HALIENOVA, A.; CERTIK, M.; DVORAKOVA, T.;
HARONIKOVA, A. Use of several waste substrates for carotenoid-rich yeast biomass production.
Journal of Environmental Management, v. 95, p. 338-342, 2012.
MOLINÉ, M.; LIBKIND, D.; BROOCK, M. Production of torularhodin, torulene, and β-carotene by
Rhodotorula yeasts. Methods in Molecular Biology, v. 898, p. 275-283, 2012.
NIIZU, P. Y.; Fontes de carotenoides importantes para a saúde humana. Dissertação de Mestrado,
Universidade Estadual de Campinas, Brasil, 2003.
NITSCHKE, M.; PASTORE, G. M. Production and properties of a surfactant obtained from Bacillus
subtilis grown on cassava wastewater. Bioresource technology, v. 97, n. 2, p. 336–41, jan. 2006.
PARK, P. K.; CHO, D. H.; KIM, E. Y.; CHU, K. H. Optimization of carotenoid production by
Rhodorula glutinis using statistical experimental desing. World Journal of Microbiology and
Biotechnology, v. 21, p. 429-434, 2005.
SCHNEIDER, T., GRAEFF-HÖNNINGER, S., FRENCH, W. T., HERNANDEZ, R., MERKT, N.,
CLAUPEIN, W., PHAM, P. (2013). Lipid and carotenoid production by oleaginous red yeast
Rhodotorula glutinis cultivated on brewery effluents. Energy, 61, 34-43.
http://doi.org/10.1016/j.energy.2012.12.026