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V SIMPA-Simpósio da Pós-Graduação em Agroecologia da Universidade Federal de Viçosa

10 e 11 de novembro de 2016, Viçosa - MG

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO SOB DIFERENTES SISTEMAS


DE COBERTURA VEGETAL 1

Victor Marques dos Santos Souza 2, Denise Bittencourt Amador3, Anice Garcia 4, Rodrigo
Junqueira Barbosa de Campos5
1
Trabalho executado com apoio da Fazenda São Luiz e FAFRAM/FEI.
2
Graduando em Agronomia. FAFRAM, Ituverava, SP. E-mail: victormarques94@rocketmail.com
3
Professora Doutora da Faculdade de Agronomia “Dr. Francisco Maeda”- FAFRAM/FEI, Ituverava,SP. E-
mail: anicegarcia@fcav.unesp.br
4
Professora Mestre da Faculdade de Agronomia “Dr. Francisco Maeda”- FAFRAM/FEI, Ituverava,SP. E-
mail: denise@fazendasaoluiz.com
5
Engenheiro agrônomo e produtor rural - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ. E-mail:
rodrigo@fazendasaoluiz.com

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar as propriedades químicas, para determinar a
fertilidade do solo sob diferentes sistemas de cobertura vegetal. As análises foram realizadas em
quatro ambientes, sendo: 1) uma área com onze anos de cultivo de sistema agroflorestal (SAF); 2)
corredor ecológico cujo plantio foi efetuado há quatro anos; 3) pastagem com quinze anos de
cultivo com Brachiaria spp.; 4) e uma área de preservação permanente (APP) reflorestada há seis
anos com praticas agroflorestais. O experimento foi composto de quatro tratamentos com cinco
repetições cada, sendo que vinte sub-amostras representam uma amostra composta. Com base nos
resultados obtidos, conclui-se que todas as áreas apresentam um alto nível de fertilidade.

Palavras-chave: Sistema agroflorestal, Pastagem, Fertilidade, Sustentabilidade.

INTRODUÇÃO

A retirada da vegetação nativa e o cultivo intenso, principalmente na camada arável,


modificam bastante as propriedades químicas dos solos, diminuindo sua fertilidade, tal fato ocorre
possivelmente como consequência do declínio da matéria orgânica e pela deficiência de ciclagem
de nutrientes no solo (Queiroz et al., 2007). Estas alterações dependem de vários fatores, como o
comportamento físico-químico de cada nutriente, o tipo de cultura implantada, o manejo adotado, a
classe e a fertilidade inicial do solo (Maia & Ribeiro, 2004).
As modificações feitas em solos cultivados, em relação às condições naturais, eleva o pH e
os teores de cátions (Goldin & Lavkulich, 1988 apud Maia & Ribeiro, 2004). Solos sob cultivo
intenso geralmente perdem a capacidade de troca de cátions (CTC), isso ocorre em decorrência da
diminuição da matéria orgânica na superfície (Maia & Ribeiro, 2004). No Brasil, os solos sob
pastagens geralmente apresentam baixa fertilidade, e como consequência, baixa disponibilidade de
nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, e alta saturação por alumínio, que são fatores
químicos que limitam a produção e a qualidade de forragens (Lopes et al., 2011, apud Silva et al
2013).
Os sistemas agroflorestais (SAF’s) proporcionam uma alternativa de produção que minimiza
os efeitos causados pela degradação dos sistemas convencionais. A utilização de leguminosas
arbóreas ou arbustivas é uma forma de melhorar a fertilidade do solo (Queiroz et al., 2007), de
forma que os processos microbiológicos aumentam a disponibilidade de nutrientes, principalmente
com relação ao nitrogênio que é beneficiado com a implantação de diversas espécies de
leguminosas. Solos sob sistemas agroflorestais em geral apresentam uma menor densidade, maior
porosidade, menor resistência à penetração e maior estabilidade de agregados, em comparação ao
mesmo solo, porém sob sistema de plantio convencional (Carvalho et al., 2004).
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Segundo Corrêa et al (2001), a remoção da vegetação nativa, juntamente com aplicação de


fertilizantes sintéticos e corretivos de acidez, alteram as propriedades do solo interferindo
diretamente no rendimento das culturas, assim como na conservação do solo. A vegetação nativa
tende a manter o solo com os níveis altos de acidez, em decorrência do teor de alumínio (CORRÊA
et al., 2001)
Com base nos conhecimentos das áreas em questão, objetivo deste trabalho foi estudar as
propriedades químicas do solo para determinar a fertilidade de cada ambiente proposto.

MATERIAL E MÉTODOS

As amostras foram retiradas em outubro de 2015 em áreas localizadas na Fazenda São Luiz,
situada no município de São Joaquim da Barra, São Paulo, cujas coordenadas são 20,53º S; 48,10º
W; 570 m. A propriedade possui solo de textura argilosa sendo um Latossolo Vermelho, sendo
período seco entre os meses de maio a setembro, e a precipitação media de 1200mm.
As áreas amostradas foram separadas de acordo com a vegetação presente, sendo: 1) uma
área com onze anos de cultivo de sistema agroflorestal (SAF) cuja vegetação anterior era pastagem
(Brachiaria spp.), a área é manejada através da poda das árvores nativas, com a finalidade de gerar
acumulo de matéria orgânica sobre a superfície do solo promovendo a ciclagem dos nutrientes
constantemente; 2) corredor ecológico, com o plantio efetuado há quatro anos, onde a cultura
anterior era cana de açúcar, 3) quinze anos de cultivo com pastagem (Brachiaria spp.), onde o
sistema de produção é o pastejo rotacionado com baixa capacidade de suporte e período de
reentrada com aproximadamente 42 dias; 4) e uma área de preservação permanente (APP)
reflorestada há seis anos com praticas agroflorestais.
Como auxilio de um trado holandês, as amostras foram retiradas na profundidade de 0-20
cm, de forma que na área de agrofloresta os pontos foram amostrados nas entrelinhas de plantio, já
nas demais áreas, em área total. Todas as áreas foram coletadas cinco amostras compostas, sendo
cada constituída de vinte sub-amostras. Após coletadas, as amostras foram encaminhadas ao
Laboratório de Solos da Faculdade Dr. Francisco Maeda (FAFRAM). As amostras foram analisadas
quimicamente seguindo a metodologia de Raij & Quaggio (1983).
Foi utilizado o delineamento experimental inteiramente casualizado (DIC). Os resultados
das analises de solo foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as médias foram
comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Comparando os ambientes, o solo menos ácido foi aquele sob agrofloresta, seguido pelo
corredor ecológico, pastagem e área de preservação permanente. Os resultados ocorreram de acordo
com o esperado, uma vez que as dinâmicas aplicadas aos sistemas agroflorestais proporcionam uma
rápida ciclagem dos nutrientes, o que mantem o pH elevado. Segundo a classificação de Raij et al.
(1996) os resultados não diferem entre si, uma vez que o solo esteja com o pH de 4,4 a 5,0, é
considerado um solo com acidez alta
O menor teor de matéria orgânica (MO) encontrado foi o da área de preservação
permanente, com 30,6 g/dm3, o que diferiu dos demais ambientes. De acordo com Raij et al. (1996)
os teores médio para matéria orgânica são de 15 a 20 mg/dm3, o que classifica todos os ambiente
como de alto nível de fertilidade. Porem observa-se uma superioridade incomum da pastagem que
pode estar ocorrendo por diversos fatores. Rezende et al. (1999) afirmam que pastagem bem
manejadas, tem grande potencial para enriquecer o solo com matéria orgânica, e as forrageiras do
gênero Brachiaria podem acumular matéria orgânica igual ou até superior a mata nativa. Outro fator
importante é a capacidade de suporte que ocorre na pastagem, a baixa capacidade de suporte faz
com que ocorra um acumulo de biomassa na superfície do solo, e isso se explica provavelmente
pelo fato de que a forragem produz uma quantidade excedente à necessidade diária do animal.
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10 e 11 de novembro de 2016, Viçosa - MG

Tabela 1. Resultado analítico do solo com amostragem 0-20 cm, sob diferentes tipos de cobertura
vegetal, São Joaquim da Barra, SP, 2015.
CORREDOR
APP PASTAGEM AGROFLORESTA
ECOLOGICO
pH 4,7 d 4,8 c 5,0 b 5,5 a
MO 30,6 b 37,6 a 37,6 a 36,2 a
C 17,8 b 22,0 a 22,0a 28,2 a
P 122,4 b 23,0 d 54,0 c 210,8 a
K 6,4 b 3,2 c 4,2 c 12,3 a
Ca 54,0 b 25,6 d 44,4 c 95,8 a
Mg 24,6 a 9,8 c 18,0 b 27,4 a
Al 1,0 a 0,8 a 0b 0b
H+Al 59,2 a 46,2 b 49,8 b 37,2 c
SB 85,2 b 38,6 d 66,8 c 135,6 a
CTC 144,4 b 84,8 d 116,6 c 172,8 a
V% 59,0 b 45,4 c 57,0 b 78,2 a
S 7,2 b 10,4 a 7,2 b 3,4 c
B 0,20 ab 0,15 b 0,19 ab 0,25 a
Cu 12,0 b 7,5 c 6,6 c 14,0 a
Fe 160,8 a 40,8 c 37,2 c 76,8 b
Mn 41,2 a 14,8 b 12,3 b 37,2 a
Zn 4,2 b 5,9 a 6,2 a 4,2 b
*Potencial Hidrogeniônico - pH; matéria orgânica – MO (g/dm3); Potássio - K , Cálcio - Ca, Magnésio - Mg,
Acidez potencial - H+Al, Alumínio – Al, Capacidade de troca catiônica - CTC (mmolc/dm3), Saturação por
bases - V% (%); Fósforo - P, Enxofre - S, Boro - B , Cobre - Cu, Ferro - Fe, Manganês - Mn e Zinco – Zn
(mg/dm3). Media seguidas da mesma letra na linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%de
probabilidade.
Fonte: Elaborado pelo autor.
.
A quantidade superior de fósforo (P) presente nos ambientes ocorreu na área de agrofloresta,
com o valor de 210,8 mg/dm3. Segundo a classificação de Raij et al. (1996), o teor médio está entre
16 a 40 mg/dm3, o que emprega a todos os ambientes onde o numero de espécies dominante são
nativas, a serem classificadas com muito alto, porem na pastagem, o teor de fósforo se enquadra
como médio. O mesmo se aplica para os teores de Ca,Mg, CTC, SB , V% e os maiores valores de
acidez potencial (H+Al)
O valor de potássio (K) encontrado no ambiente agroflorestal foi superior a todos os
ambientes, diferindo-se estatisticamente dos demais. Os resultados apresentados para as áreas de
pastagem e corredor ecológico não tiveram diferença significativa. Seguindo a classificação de Raij
et al. (1996) os valores 12,3; 6,4; 4,2 e 3,2 pertencentes a agrofloresta, área de preservação
permanente, corredor ecológico e pastagem, respectivamente são todos tidos como teores muito
alto, muito alto ( > 6,0 mmolc/dm3), alto e alto ( > 3,0 mmolc/dm3).
Malavolta (2006) classifica os solos como subtróficos com V% menor que 35% e distróficos
com V% de 30 a 50%, e eutrofico com V% ≥ 50%, oque classifica os ambientes de corredor
ecológico, área de preservação permanente e sistema agroflorestal como eutróficos com V% de 57;
59 e 78,2 respectivamente, e a pastagem sendo distrófico pois o V% é de 45,4.
O solo com cultivo de pastagem apresentou uma maior disponibilidade de enxofre (S),
diferindo estatisticamente dos demais ambientes. O inverso se aplica ao sistema agroflorestal, onde
o teor de S foi o menor. Os teores de enxofre foram classificado com alto (>10 mg/dm3), médio (>4
- <10 mg/dm3), e baixo (<4 mg/dm3), para a pastagem, área de preservação permanente, corredor
ecológico e sistema agroflorestal respectivamente.
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Em relação ao micronutriente Boro (B), a maior quantidade ocorreu no solo sob


agrofloresta, e o menor na área de preservação permanente. As medias diferem em si, porem entre a
pastagem e corredor ecológico não ocorreram diferença, uma vez que os mesmos são semelhantes
estatisticamente. Classificou-se o teor de boro nos ambientes como médio para o sistema
agroflorestal e baixo para os demais ambientes. Segundo Raij et al. (1996), os teores de cobre (Cu)
e Ferro (Fe) no solo para todos os ambientes é classificado com alto.
O manganês (Mn) e o zinco (Zn) ocorreram em menores quantidades de manganês
ocorreram no corredor ecológico e a pastagem, já para o zinco, a menor quantidade foi no sistema
agroflorestal e área de preservação permanente. Segundo a classificação de Raij et al., (1996), os
teores de zn e mn são classificados com alto para todos os ambientes avaliados.

CONCLUSÕES

Devido às condições de manejo nas áreas estudadas, todas elas apresentam um alto nível de
fertilidade, embora a área de sistema agroflorestal apresente fertilidade mais alta devido o maior
aporte de biomassa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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