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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

Autorizada pelo Decreto Federal no 77.496 de 27/04/76


Recredenciamento pelo Decreto n°17.228 de 25/11/2016
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENAÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

XXVI SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UEFS


SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA - 2022

Princípios agroecológicos no manejo do solo: análise da experiência


“Agrofloresta SAF CEARIS”

Nicole Marques Ribeiro; Marina Siqueira de Castro2; Gleidane de Freitas Souza3 e


Matheus Eduardo Trindade dos Santos4
1. Bolsista PIBIC/CNPq, Graduando em Agronomia, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail:
ribeirocoll01@gmail.com
2. Orientador, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, Centro de
Agroecologia Rio Seco e-mail:
marinacastro@uefs.br
3. Vice Coordenadora do Núcleo de estudos em Agroecologia, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail:
gleidane@live.com
4. Pesquisador do Núcleo de estudos em Agroecologia, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail:
mthtrindade@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: sistemas agroflorestais biodiversos; conservação dos solos;


agroecologia.

INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca analisar as particularidades do Sistema Agroflorestal
(SAF) CEARIS-SUCUPIRA construído e mantido através das diretrizes agroecológicas,
objetivando a manutenção do sistema, bem como a análise de sua interferência na saúde
do solo, especificamente na disponibilidade dos macronutrientes primários (potássio e
fósforo), na taxa de matéria orgânica (MO) e na quantidade de alumínio presente no solo
e sua relação com o manejo adotado. De forma que seja possível analisar a interferência
do manejo ecológico na qualidade e nas propriedades do solo.
O SAF tenta se aproximar do próprio processo natural que são as florestas,
possibilitando através da alta biodiversidade promover a sustentabilidade local e de
produção, conjuntamente a independência de insumos externos. O Sistema Agroflorestal
é baseado na interação entre árvores, arbustos e demais plantas, que se relacionam de
forma sistêmica e ecológica entre si e entre outros constituintes. (YOUNG. 1991)
Um solo sadio apresenta uma gama de características que garantem o equilíbrio
na estrutura física, química e biológica, possibilitando interações planta- solo-
microrganismos e promovendo um solo nutrido e bem agregado. (PRIMAVESI, A.M. 9-
10p)

MATERIAL E MÉTODOS
O Centro de Agroecologia Rio Seco (CEARIS) está localizado no município de
Amélia Rodrigues- Ba, é situado em uma região de ecótono entre Mata Atlântica e
Caatinga, o que confere suas características mistas de solo e vegetação. O Centro é uma
unidade extra campus pertencente à Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).
As amostragens do solo foram realizadas nos meses de outubro e janeiro, com
auxílio de um cavador, retirando a camada de 0 – 20 cm de profundidade. Foram retiradas
10 amostras seguindo a metodologia para coleta de solo proposta por Arruda (2014), as
amostras foram encaminhadas para análise ao Centro Tecnológico Agropecuário do
Estado da Bahia (CETAB).
Para a manutenção do SAF CEARIS-SUCUPIRA foi realizado o manejo
frequente do sistema. Os resultados encontrados foram tabulados em planilha no Excel,
analisado com base em dados presentes na literatura e comparados a análises realizadas
em anos anteriores. O aporte de conhecimento a respeito dos SAFs e sua relação com o
solo, a interpretação dos resultados da análise se deu através de apoio bibliográfico,
principalmente aqueles disponíveis no portal Capes, tratando preferencialmente da
fertilidade do solo em um contexto geral e as mudanças encontradas no solo manejado
com o SAF. As práticas agroecológicas identificadas como frequentes no manejo do SAF
CEARIS SUCUPIRA foram levantadas por meio dos trabalhos realizados anteriormente
e sistematizadas.
RESULTADOS E/OU DISCUSSÃO
Os sistemas agroflorestais são uma excelente ferramenta para alcançar a melhoria das
características físicas, químicas e biológicas do solo, possuem a capacidade de recuperar
áreas antes degradadas, tornando sua implantação uma alternativa às áreas com solo pobre
e desgastado. A boa saúde química do solo garante sua atuação como um organismo vivo
e gerador de vida, através da constante deposição de material orgânico, que proporciona
a ciclagem de nutrientes e garantia da vida dos organismos. É esperado que em presença
de maiores taxas de matéria orgânica exista a variedade e um bom desenvolvimento dos
micros e macroorganismos do solo, compreendendo o papel da MO em algumas
características que garantam boas condições, como a melhor agregação que resulta em
uma maior taxa de aeração e retenção de umidade, fatores limitantes no crescimento de
alguns organismos. (D’ANDRÉA, 2002; MELLONI et al., 2018)
Os manejos adotados em SAFs, como a adubação verde, não revolvimento do solo e
o uso de cobertura morta, possibilitam o desenvolvimento de habitats propícios aos
organismos invertebrados benéficos ao solo, favorecendo a sustentabilidade ecológica do
local. O monitoramento das atividades de organismos no solo pode ser um importante
indicador de qualidade, no SAF CEARIS SUCUPIRA é visível a existência da riqueza de
macroorganismos responsáveis pela manutenção do equilíbrio ecológico. Santos et al
(2018) realizaram um levantamento na área onde foi implantado o SAF CEARIS
SUCUPIRA, quando ainda era um pomar de limão tahiti (Citrus latifolia) tratada com
fertilizantes sintéticos e agrotóxicos até o ano de 2012. No entanto, faz-se necessário o
levantamento atualizado após a implantação do SAF e seu manejo para comprovar a
observação da riqueza de microorganismos existente no solo.

Tabela 1. Práticas realizadas no SAF CEARIS-SUCUPIRA no período de 2017-2022.

Práticas 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Adubação Orgânica
Capina seletiva
Cobertura Morta
Compostagem
Consórcio de culturas
Controle alternativo de pragas
Poda
Quebra vento
Rotação de culturas
Plantio diversificado
Plantio seguindo os ritmos
astronômicos e o calendário
biodinâmico
Fonte. Autores (2022)

As práticas Agroecológicas (Tabela 1) buscam promover a sustentabilidade nos


agroecossistemas, objetivando causar impactos positivos como a redução da erosão e
compactação do solo, melhor infiltração de água, redução da toxidez, aumento da
população de organismos benéficos, incluindo polinizadores, entre outros. Algumas
práticas agroecológicas realizadas no SAF CEARIS SUCUPIRA, também estão presente
no cotidiano de produtores em transição agroecológica, como observado por Sanches e
Castro (2019), em análise ao manejo agroflorestal realizado nas comunidades rurais
Fazenda Campos 1 e 2, no município de Amélia Rodrigues/BA. A definição destes
quintais produtivos como agroflorestais, bem como a sistematização da experiência SAF
CEARIS, possibilita a troca de saberes acerca do manejo agroflorestal, fomentando a
ampliação da adoção deste sistema que trabalha de forma benéfica e eficiente o viés
econômico, social e ambiental. (SANCHES, CASTRO, 2021)
A cobertura morta, principalmente com o material proveniente da poda e da
capina, é uma prática essencial na redução da erosão do solo, evitando perdas por
lixiviação e favorecendo a manutenção dos recursos hídricos, com uma infiltração
eficiente da água e redução das perdas por evaporação. (PACHECO; MARINHO, 2001)
A rotação de culturas e o plantio consorciado visam a alternância do cultivo, propiciando
um uso racional dos nutrientes do solo, além de evitar a reprodução desenfreada de
organismo predadores e/ou causadores de doenças, que são específicos de determinadas
famílias. (AMARO et al., 2007)

Tabela 1- Resultados das análises de solo realizadas no SAF CEARIS SUCUPIRA,


fornecidos pelo Centro Tecnológico Agropecuário do Estado da Bahia (CETAB).
Ano MO P K Al CTC Ca SB Mg Ph
(dag/kg) (mg/dm3) (cmolc/dm3) (em H20)
2019 1,68 72 89,5 0,16 8,96 2,32 3,85 1,22 6,05
2021 2,18 35 141 0,00 13,11 3,02 5,18 1,67 6,6
2022 2,14 85 40 0,00 5,63 1,84 3,46 1,50 5,7
Fonte: Autora (2022)
A matéria orgânica opera na retenção de grande parte dos nutrientes, seu aumento
é proporcional ao aumento nas taxas de cálcio, potássio e magnésio trocáveis nas camadas
superficiais, além de atuar na redução do teor de alumínio presente no solo devido a
complexação do material orgânico, como também descrito por Iwata et al. (2012). A taxa
de MO encontrada no SAF (Tabela 2) foi classificada como baixa em 2019 e média nos
demais anos. (COELHO; VERLENGIA, 1973; JUNQUEIRA et al. 2013)
Em 2019 e 2022 a CTC foi considerada boa, já em 2021 pôde ser definida como
muito boa. Nota-se que em 2021, quando ocorreu a maior taxa da CTC, já não havia
presença de alumínio trocável e houve o aumento nas taxas de Ca2+, Mg2+ e K+, cátions
essenciais a nutrição das plantas. O maior teor de Ca e Mg foi em 2021, provavelmente
devido ao uso de calcário realizado no mês de junho deste ano. Os maiores teores de
fósforo encontrados foram em 2019 e 2022, o que pode ser associado à realização de
podas e o uso de cobertura com restos culturais. (COELHO; VERLENGIA, 1973;
IWATA et al. 2012)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1- Apesar de não haver alta quantidade de matéria orgânica, os resultados referentes
aos teores de macronutrientes, a CTC e a redução do alumínio trocável, indicam
que a MO está sendo eficiente na melhoria da qualidade do solo, demonstrando
ganhos na qualidade do solo através do manejo ecológico;
2- Os SAFs são sistemas economicamente viáveis e ambientalmente corretos,
possibilitam uma gama de benefícios associando a recuperação natural e a
produção diversificada.

REFERÊNCIAS
AMARO G. B.; SILVA D. M.; MARINHO A. G.; NASCIMENTO W. M.
Recomendações técnicas para o cultivo de hortaliças em agricultura familiar. Brasília,
Embrapa, 2007, 16 p. (Circular Técnica, 47). Disponível em:
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/781607
ARRUDA, M. R. Amostragem e cuidados na coleta de solo para fins de fertilidade/
Murilo Rodrigues Arruda... [et al.] – Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 2014. 18
p. – (Documentos / Embrapa Amazônia Ocidental, ISSN1517-3135; 115).
COELHO, F. S.; VERLENGIA, F. Fertilidade do solo. Campinas: Instituto
Campineiro de Ensino Agrícola, 1973.
D’ANDRÉA, A. F.; SILVA, M. L. N.; CURI, N.; SIQUEIRA, J. O.; CARNEIRO, M.
A. C. Atributos biológicos indicadores da qualidade do solo em sistemas de manejo na
região do Cerrado no sul do estado de Goiás. R. Bras. Ci. Solo, v. 26, n. 4, p. 923-923,
dez. 2002. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-06832002000400008
IWATA, B. F.; LEITE, L. F. C.; ARAÚJO, A. S. F.; NUNES, L. A. P. L.; GEHRING,
C.; CAMPOS, L. P. Sistemas agroflorestais e seus efeitos sobre os atributos químicos
em Argissolo Vermelho-Amarelo do Cerrado piauiense, R. Bras. Eng. Agríc.
Ambiental, v. 16, n. 7, p. 730–738, 2012. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbeaa/a/896JCprfHvQjNy5cmMg7jmJ/?lang=pt&format=pdf
JUNQUEIRA, A. da C.; SCHLINDWEIN, M. N.; CANUTO, J. C.; NOBRE, H. G.;
SOUZA, T. de J. M. Sistemas agroflorestais e mudanças na qualidade do solo em
assentamento de reforma agrária. Revista Brasileira de Agroecologia, [S. I.], v. 8, n. 1,
2013. Disponível em:
https://revistas.abaagroecologia.org.br/rbagroecologia/article/view/12808.
MELLONI, R.; COSTA, N. R.; MELLONI, E. G. P.; LEMES, M. C. S.;
ALVARENGA, M. I. N.; NUNES NETO, J. Sistemas agroflorestais cafeeiro-araucária
e seu efeito na microbiota do solo e seus processos. Ciência Florestal, v. 28, n. 2,
p.784-795, abr.- jun., 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5902/1980509832392
PACHECO, E. P.; MARINHO, J. T. de S. Plantio direto: uma alternativa para
produção de grãos no estado do Acre. Rio Branco, AC: Embrapa Acre, 2001, 5 p.
(Embrapa Acre. Comunicado Técnico, 131.) Disponível em:
https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/500859/plantio-direto-uma-
alternativa-para-producao-de-graos-no-estado-do-acre
PRIMAVESI, A. M. Agroecologia e Manejo do Solo. Agriculturas: Experiências em
Agroecologia. Rio de Janeiro. Vol.5, n°3, 5p, set. 2008.
RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P. T. G.; ALVAREZ, V. H. (ed.). Recomendações
para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais, 5ª aproximação. Viçosa, MG:
Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999. 359p.

SANCHES, R. S. O.; CASTRO, M. S. Mapeamento de sistemas agroflorestais e


práticas de manejo adotadas pelos agricultores familiares nas comunidades Fazenda
Campos 1 e 2, no município de Amélia Rodrigues/Ba. Anais do XXIII Seminário de
Iniciação Científica da UEFS. Semana Nacional de Científica e Tecnológica. 2019

SANCHES, R. S. O.; CASTRO, M. S. O sistema agroflorestal agroecológico do


CEARIS/ UEFS como promotor de diálogos e trocas de saberes entre as comunidades
rural e acadêmica. 15ª Jornada de Extensão. Extensão Universitária no contexto da
pandemia: reinvenções, aprendizagens e perspectivas da curricularização. 2021

SANTOS, I. J.; SOUZA, G. F.; SOUZA, C. A.; TRINDADE-SANTOS, M. E.;


NUNES, F. O.; CASTRO, M. S. Invertebrados bioindicadores de qualidade do solo no
Centro de Agroecologia Rio Seco, Amélia Rodrigues, Bahia. Anais do VI Congresso
Latinoamericano de Agroecologia X Congresso Brasileiro de Agroecologia V
Seminário de Agroecologia do Distrito Federal e Entorno. 12 a 15 de setembro de 2017
Brasília DF v. 13 n. 1. 2018

YOUNG, A. Agroforestry for soil conservation. 11-12p. CAB Internatonal (ICRAF


Science and Praticc of Agroforestry), 1991.

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