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Acta Scientiarum
http://www.uem.br/acta
ISSN impresso: 1679-9275
ISSN on-line: 1807-8621
Doi: 10.4025/actasciagron.v37i3.19392
José Flávio Neto, Eduardo da Costa Severiano* , Kátia Aparecida de Pinho Costa, Wellington
Silva Guimarães Junnyor, Wainer Gomes Gonçalves and Renata Andrade
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Rod. Sul Goiana, Km 01, 75901-970, Campus Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil.
*Autor para correspondência. E-mail: severianoec@yahoo.com.br
ABSTRATO. A compactação do solo associada à degradação das pastagens pode diminuir a produtividade animal,
a longevidade da forragem e comprometer a sustentabilidade ambiental. Para enfrentar esse grave problema, o
potencial de soltura das forrageiras deve ser reconhecido. Avaliamos o intervalo hídrico menos limitante como
indicador do potencial de soltura biológica em relação ao cultivo de gramíneas do gênero Brachiaria em integração
lavoura-pecuária. Também avaliamos a disponibilidade hídrica para a cultura da soja que sucedeu essas gramíneas.
Nossos estudos foram realizados em duas etapas. Na primeira etapa, foram divididas 32 parcelas em quatro blocos
casualizados nos quais foram cultivados milho combinado com os seguintes tratamentos: 1 - Brachiaria brizantha
cultivar Marandu; 2 - Xaraés; 3 - Piata; 4 - MG4; 5 - B. decumbens; 6 - B. ruziziensis; 7 - Plantas invasoras; e 8 - solo descoberto.
Avaliamos o solo, para quantificar o afrouxamento biológico do solo, e também as forrageiras. Na segunda etapa,
cultivamos soja e adicionamos: 9 - preparo convencional como controle, aumentando o número de parcelas para 36.
Nossos resultados sugerem que é possível cultivar Brachiaria brizantha ou Brachiaria decumbens como estratégia
de manejo para auxiliar na recuperação edáfica. Os capins Xaraés e Piatã proporcionam maior soltura do solo e
aumentam a disponibilidade hídrica para sucessivas safras de soja.
Palavras-chave: recuperação de pastagem, qualidade estrutural do solo, intervalo hídrico mínimo limitante.
RESUMO. A compactação do solo associada à degradação das pastagens reduz a produtividade animal e da
forrageira e compromete a sustentabilidade ambiental. No enfrentamento desta grave questão, faz-se necessário o
conhecimento do potencial de descompactação do solo promovido por algumas forrageiras.
Este trabalho objetivou avaliar o intervalo hídrico ótimo como indicador da descompactação biológica do solo
decorrente do cultivo de capins do gênero Brachiaria em integração agrícola-pecuária, bem como a disponibilidade
hídrica à soja cultivada em sucessão. O estudo foi realizado em duas etapas. Inicialmente foram implantadas 32
parcelas em quatro blocos casualizados, cultivando milho consorciado com os seguintes tratamentos: 1 - Brachiaria
brizantha cultivares Marandu, 2 - Xaraes, 3 - Piata e 4 - MG4, 5 - B. decumbens, 6 - B. ruziziensis , 7 - Plantas
invasoras e, 8 - Solo descoberto. Foi avaliando o solo para quantificação da descompactação biológica, e também
como forragens. Na segunda etapa cultivou-se soja, acrescentando-se como tratamento testemunha: 9 - plantio
convencional, totalizando 36 parcelas. Os resultados sugerem o cultivo de B. brizantha ou B. decumbens na
recuperação edáfica. Destacam-se os capins Xaraes e Piata que fornecem maior descompactação do solo e,
consequentemente, aumento da disponibilidade hídrica à soja em sucessão.
A extensa e contínua atividade de pastoreio da físicas do solo são alcançadas pela reversão desse processo de
pecuária brasileira é a principal causa da degradação. Combinando técnicas para amortizar custos
degradação das pastagens. A degradação física operacionais e aumentar a sustentabilidade, como é o caso da
do solo ocorre devido à compactação causada pelo Integração Lavoura Pecuária (CLI) (COSTA et al., 2010), as
pisoteio de animais e tráfego de máquinas em propriedades químicas, físicas e biológicas do solo podem ser
condições desfavoráveis quanto ao teor de água melhoradas. Além disso, os sistemas de plantio direto podem
do solo (LANZANOVA et al., 2007). Essa possibilitar a formação de palha (PETTER et al., 2011).
degradação resulta em uma diminuição acelerada Embora muitos agricultores relutem em adotar
da produtividade e longevidade das pastagens (IMHOFFesse
et al., 2000).devido aos possíveis efeitos negativos
sistema
Acta Scientiarum. Agronomia Maringá, v. 37, n. 3, pág. 375-383, julho-setembro de 2015
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de pisoteio animal (BAVOSO et al., 2010; FLORES et al., precipitação ocorrendo em janeiro e o mínimo ocorrendo
2007), o uso de plantas forrageiras oferece uma alternativa em junho, julho e agosto (< 50 mm mês-1).
para a recuperação física do solo.
Diferentemente da lavoura realizada por equipamentos Uma área de 2.016 m2 foi plantada com milho (Zea
agrícolas, a lavoura por plantas ocorre uniformemente ao mays) em 19 de novembro de 2010 e foi destinada à silagem.
longo das camadas do solo pelas raízes e forma bioporos O espaçamento entre linhas foi de 0,88 m (população de
favoráveis ao crescimento radicular, infiltração de água e 55.000 plantas ha-1). A adubação foi realizada no plantio
difusão de gases (SEVERIANO et al., 2010). de acordo com os resultados da análise de solo (Tabela 2)
Consequentemente, o cultivo de plantas atenua os efeitos com 30 kg ha-1 de N, 200 kg ha-1 de P2O5, 60 kg ha-1 de
deletérios e proporciona um ambiente favorável para K2O, 2 kg ha-1 de B e 0,4 kg ha-1 de Mo. Foram utilizadas
culturas sucessivas (CHIODEROLI et al., 2012; GUIMARÃES et al.,as 2009).
seguintes fontes de fertilizantes: superfosfato simples,
Embora algumas plantas sejam conhecidas por penetrar cloreto de potássio, ácido bórico e molibdato de sódio,
em camadas compactadas do solo (LIMA et al., 2012), seguindo as recomendações de Sousa e Lobato (2004).
pouco se sabe sobre o potencial de cultivo da Brachiaria
(Trin.) Griseb. spp. (syn. Urochloa P. Beauv. spp.), Após a emergência da cultura, foi realizado o desbaste
especialmente suas novas cultivares. Esse conhecimento é das plantas, sendo definidas 36 parcelas de 5,4 × 6 m (32,4
relevante quando se considera a significativa área ocupada m2 ), dispostas aleatoriamente em quatro blocos.
pelo gênero (aproximadamente 85% das pastagens A adubação de cobertura, que consistiu na aplicação de 30
cultivadas no Brasil), tanto pelo seu valor nutricional quanto kg ha-1 de N de sulfato de amônio e 90 kg ha-1
pela sua alta resistência ao estresse (ARROYAVE et al., K2O a partir de cloreto de potássio, foi realizado trinta dias
2011) e sua crescente adoção na produção integrada em após a emergência do milho. A sobressemeadura de capim
regiões tropicais (PACHECO et al., 2008), dada a sua foi realizada com 9 kg ha-1 de sementes puras viáveis do
viabilidade de consorciação com culturas anuais gênero Brachiaria para implantação do sistema CLI de
(CALONEGO et al., 2011). acordo com os seguintes tratamentos: 1. Brachiaria
brizantha cv. Marandu; 2. Brachiaria brizantha cv.
O objetivo do presente estudo foi avaliar a faixa hídrica Xaraés; 3. Brachiaria brizantha cv. Piata; 4. Brachiaria
menos limitante do solo como um indicador de seu potencial brizantha cv. MG4; 5. Brachiaria decumbens e, 6.
Brachiaria ruziziensis.
biológico de afrouxamento do solo para o cultivo de
gramíneas do gênero Brachiaria no CLI e sua disponibilidade Para efeito de comparação, foram adotados os seguintes
hídrica para uma cultura de soja sucessora. tratamentos testemunhas: 1. Recuperação mecânica por
preparo do solo com subsolagem e deslumbramento com
material e métodos enxada rotativa (areio convencional); 2. solo em pousio na
ausência de cobertura vegetal; e 3. comunidade vegetal
Nosso estudo foi realizado na área experimental do (plantas invasoras) em densidade e diversidade com
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, predominância de copa de plantas dicotiledôneas das
Câmpus Rio Verde, no município de Rio Verde-Goiás, 17° seguintes espécies: Amaranthus spinosus L. (caruru-de-
48' 34,25” S e 50° 54' 05,36” W, a 731 m de altitude e em espinho), Nicandra physalodes (L.) Gaertn. (joá-de-capote),
área coberta por Latossolo Vermelho Distroférrico Crotalaria incana L. (xique-xique), Sida spinosa L.
(EMBRAPA, 2006). Uma caracterização química e física do (guanxuma), Waltheria indica L. (malva-veludo), (L.), Conysa
solo é apresentada na Tabela 1. canadensis (L.) Cronquist (buva ), Spermacoce latifolia
Aubl. (erva-quente), Ageratum conyzoides L. (mentrasto),
Segundo a classificação de Köppen, o clima é Stellaria media (L.) Vill. (erva de-passarinho). As
megatérmico ou tropical úmido (Aw) do subtipo savana monocotiledôneas, que estiveram presentes em menor
tropical, com invernos secos e verões chuvosos. A número, foram identificadas como: Digitaria insularis (L.)
temperatura média anual na região é de 25°C, e a Fedde (capim-amargoso), Eleosine indica
precipitação média anual é de aproximadamente 1.600 mm, (L.) Gaertn., (capim-pé-de-galinha) e Commelina
com máxima benghalensis L. (trapoeraba).
Tabela 1. Caracterização física e química do Latossolo Vermelho Distroférrico utilizado para cultivo em sistemas de integração lavoura-pecuária, no
município de Rio Verde, Goiás.
0,78 5,65 2
= 0,34 ÿ Bd R ; = 0,82** (2)
dentro de cada parcela e cortando 20 cm de altura, cujo
relações públicas
Tabela 2. Complexo de sorção do Latossolo Vermelho Distroférrico utilizado para cultivar sistemas de integração lavoura-pecuária durante a semeadura de
capim braquiária consorciado com milho (safra 2010/2011) e soja (safra 2011/2012) no município de Rio Verde, Goiás .(1)
Ca mg Al H + Al P k m(3) OM(4)
---------- cmolc dm-3 ---------- pH (CaCl2)
----- mg dm-3 ----- V(2) ----- % ----- g kg-1
Safra 2010/2011 2,9
3.2 1.3 0,0 5.6 104,0 Safra 2011/2012 46,6 0,0 27.3 5.2
2,12
2.76 1.41 0,03 5.34 138,33 45,8 0,74 45,49 5.21
(1) 20 cm de profundidade; (2)V: saturação de base; (2)m: saturação de alumínio; (4): MO: matéria orgânica. P: determinado por extração de Mehlich.
O monitoramento diário do teor de água do solo (ÿ) foi A produção de matéria seca do capim -braquiária foi
iniciado na época do plantio da cultura da soja e estendido submetida à análise de variância em delineamento em
até a maturidade fisiológica, que ocorreu entre 08/12/2011 blocos ao acaso e, quando significativa, as médias foram
e 23/03/2012 na camada de solo de 0 a 20 cm. As comparadas pelo teste de Tukey (p < 0,05).
amostragens foram realizadas com amostrador de solo
Resultados e discussão
semiautomático Saci, modelo S-20, sendo a maioria das
coletas no período da manhã. As amostras foram A variação no teor de água do solo com o aumento de
embaladas e enviadas ao laboratório para determinação D e uma ênfase no IHO são representadas pela área
de umidade por técnica gravimétrica conforme Embrapa sombreada na Figura 2. A retenção de água aumenta com
(2011a). o aumento de Bd tanto para a capacidade de campo (FC)
quanto para o ponto de murcha permanente (PWP), que
Estabelecemos uma frequência de ÿ dentro da pode ser atribuída à mudança no tamanho dos poros
decorrente da compactação do solo (OLIVEIRA et al.,
amplitude hídrica disponível durante o ciclo da soja
2007), especialmente a redução da porosidade preenchida
(Fwithin) segundo Silva e Kay (1997) para avaliar a
por ar com o aumento da densidade comumente
disponibilidade hídrica do afrouxamento biológico do solo
observada em sistemas de integração lavoura-pecuária (SPERA et al., 2004).
para cada sistema, considerando as fases vegetativa e Se o aumento de Bd proporcionou maior superfície de
reprodutiva da cultura da soja. adsorção de água para as partículas sólidas (BLAINSKI et
al., 2009) com valor máximo de 0,15 dm3 dm -3 para o
A temperatura e a precipitação foram monitoradas IHO em um Bd igual a 1,15 kg dm-3, a impedância
durante o experimento, e os resultados são mostrados na mecânica causada pelo aumento da PR impediu que a
Figura 1. disponibilidade hídrica do solo atingisse seu máximo até
ultrapassar o valor de densidade crítica (Ddc) de 1,25 kg
(A) dm-3, momento em que o IHO tornou-se nulo. Esse
achado está de acordo com o valor obtido por Lima et al.
450 40 (2012). Nessas condições, o crescimento das plantas era
400 35 limitado em qualquer nível de umidade, o que sugere que
350 30 o solo estava fisicamente degradado (SILVA et al., 1994).
300 25 A amplitude do LLWR variou de 0,01 a 0,15 dm3
250
Precipitação
20 Temperatura
(B) 0,70
Semeadura Floração Colheita
0,60
100 0,40
25
0,30
80
Precipitação 20 Teor
0,20
60 Temperatura
15 0,10
40 0,00
20 10 0,85 0,95 1,05 1,15 1,25 1,35 1,45
A diminuição da porosidade do solo não limitou a oxigenação tanto para os componentes vegetais como animais e adaptabilidade
(Figura 2) em grande parte devido ao desenvolvimento de poros aos desafios climáticos em sistemas de produção de alto nível
estruturais nos Latossolos oxídicos (REATTO et al., 2007), que por tecnológico (COSTA et al., 2010; FLORES et al., 2008). Essa
sua vez favorecem sua aeração excessiva. capacidade mitigou os efeitos da sazonalidade na produção de
Segundo Severiano et al. (2011), problemas relacionados à anóxia forragem causados pela baixa pluviosidade e temperaturas noturnas
do solo ocorrem apenas quando a estrutura está extremamente durante o período de pousio (Figura 1).
degradada (Bd > Bdc), ou por um tempo relativamente curto após
chuvas intensas quando o teor de água do solo está acima da
capacidade de campo devido ao comportamento dinâmico da água B. brizantha cv. Xaraés
em solo. B. brizantha cv. piata
Segundo Blainski et al. (2008), a adoção de sistemas de B. brizantha cv. marandu
integração lavoura-pecuária pode ser uma alternativa para B. decumbens
0,06
(2011), que avaliando os efeitos da compactação do solo na
produtividade e nas características morfológicas dos capins Piatã e
0,03
Mombaça, verificaram que a compactação do solo não influenciou
na produção do capim Piatã. Esse achado sugere que essa planta 0,00
possui um sistema radicular mais agressivo relacionado a processos 17/02 21/03 5/11 7/4 12/0924/10 25/11
fisiológicos e interações ambientais que podem, por sua vez,
Periodo de avaliação
permitir que as raízes dessas cultivares quebrem as camadas
compactadas. Figura 3. Mudanças na faixa de água menos limitante (LLWR, dm3
dm-3) de Latossolo Vermelho Distroférrico cultivado em sistemas de
integração lavoura-pecuária no município de Rio Verde, Goiás, após o
Flores e cols. (2008) relataram que o capim-xaraés apresenta
corte das plantas forrageiras (a 1ª avaliação do IHO foi realizada na
vantagens em relação a outras cultivares de braquiária, como maior colheita da safra anterior de milho).
taxa de rebrota e maior produção de forragem, principalmente na
estação seca. Essa maior atividade metabólica parece ter Assim, mesmo com a redução drástica na produção de
contribuído para afrouxar a eficiência. forragem que ocorre no período seco, os maiores rendimentos das
cultivares foram observados no terceiro, quarto e quinto corte do
O capim Marandu e B. decumbens apresentaram um potencial capim em comparação com os cortes realizados no período
intermediário de rompimento das camadas compactadas, o que chuvoso (1º, 2º e 6º ) , conforme Tabela 3. Assim, sugerimos que o
está de acordo com os achados de Chioderoli et al. (2012) que acúmulo de reservas orgânicas nos colmos dessas gramíneas
observaram maiores produtividades na safra sucessora quando contribuiu para maior atividade metabólica e rebrota na retomada
essas duas forrageiras foram semeadas no momento da cobertura do período chuvoso. Consequentemente, uma maior agressão
do milho anterior. Calonego et ai. (2011) também demonstraram radicular levou a um melhor afrouxamento biológico (Figura 3).
que quando a braquiária foi consorciada com milho por dois anos
consecutivos, melhorou as condições estruturais do solo, diminuindo
sua resistência à penetração e consequentemente aumentando o O aumento do IHO decorrente do cultivo do capim braquiária
0,40 0,40
UB UB
0,35 0,35
0,30 0,30
LIBRA
0,25 LIBRA
0,25
0,20
0,20
B. brizantha cv. marandu
B. brizantha cv. Xaraés 0,15
0,15
01/12/11 01/01/12 01/02/12 01/03/12 01/04/12
01/12/11 01/01/12 01/02/12 01/03/12 01/04/12
0,40 0,40
UB UB
0,30 0,30
LIBRA
0,25
0,25
0,20
0,20
B. brizantha cv. MG4
B. brizantha cv. piata 0,15
0,15
01/12/11 01/01/12 01/02/12 01/03/12 01/04/12
01/12/11 01/01/12 01/02/12 01/03/12 01/04/12
0,40 0,40
UB UB
0,25 0,25
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0,20
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B. decumbens B. ruziziensis
0,15
0,15
01/12/11 01/01/12 01/02/12 01/03/12 01/04/12
01/12/11 01/01/12 01/02/12 01/03/12 01/04/12
0,40 0,40
UB UB
0,35 LIBRA
0,35 LIBRA
0,30 0,30
0,25 0,25
0,20 0,20
0,40
0,35
UB
0,30
0,25
0,20 LIBRA
Período de monitoramento
Figura 4. Variação temporal do teor de água no solo durante o ciclo da cultura da soja em relação aos limites críticos do intervalo hídrico mínimo em um Latossolo
Vermelho Distroférrico em sistemas de integração lavoura-pecuária. Ub: limite superior (ÿFC, - 6 kPa) e Lb: limite inferior (ÿPWP, - 1500 kPa ou ÿPR, 2,5 MPa) do
IHO para o período monitorado.
Tabela 3. Produção de massa seca de capim forrageiro do gênero Brachiaria em sistemas de integração lavoura-pecuária no Estado de Rio Verde, Goiás.(1)
A variação temporal do teor de água no solo durante o ciclo aumento de água disponível para a cultura sucessora.
subseqüente da cultura demonstrou que o limite superior do IHO O preparo convencional foi o único tratamento em que a RP não
teve pouca influência na disponibilidade hídrica (Figura 4), mesmo ficou dentro do limite inferior, conforme corroborado por Serafim
para sistemas em que as forrageiras apresentaram baixo potencial et al. (2008). Portanto, a ausência de estresse hídrico é sugerida
de cultivo (Figura 3). e quantificada pela ocorrência de um valor de ÿ dentro dos limites
Observamos problemas ocasionais de anoxia geral quando o do IHO (Fwithin) em 100% das avaliações de monitoramento
monitoramento foi realizado após chuvas intensas (por exemplo, deste tratamento. Esses dados demonstram que a dependência
da cultura da distribuição regular de chuva ocorreu durante o ciclo
22/02/2012, Figura 1). Conforme discutido anteriormente, o teor
de água do solo voltou aos limites do IHO nas avaliações da cultura (Figura 1).
subsequentes devido à predominância de poros estruturais e ao
comportamento dinâmico da água, conforme corroborado por
Blainski et al. (2009). A Tabela 4 também indica que a recuperação biológica
promovida pelo capim-xaraés resultou em pequena redução no
O limite inferior do IHO proporcionou maiores restrições
Fwithin durante a fase reprodutiva da soja (IPP100%PV e
hídricas em todos os sistemas de integração lavoura-pecuária
IHO98,3%RP). Observamos efeitos semelhantes nos tratamentos
(Figura 4) de acordo com Leão et al. (2006), o que aumenta a
com capim piatã (IHO1,00%PV e IHO89,8%PR), seguido de B.
probabilidade de estresse na cultura subseqüente devido ao
decumbens (IHO100%PV e IHO84,7%RP) e capim-marandu
impedimento mecânico do sistema radicular (KLEIN; CÂMARA,
(IHO100%VP e IHO83. 1%RP), o que está de acordo com os
2007).
dados obtidos por Bonelli et al. (2011), Calonego et al. (2011) e
No entanto, como o solo foi arado por cultivo de grama, a
Chioderoli et al. (2012).
frequência com que ÿ permaneceu dentro dos limites do IHO
aumentou (Fwithin), conforme mostrado na Tabela 4. Esses resultados enfatizam que a ocorrência de estresse
hídrico é coincidente com os estádios fenológicos de aumento da
demanda hídrica pela cultura. Segundo a Embrapa (2011b), as
Tabela 4. Intervalo hídrico mínimo (IHO), taxa de recuperação física do solo
necessidades hídricas da cultura da soja aumentam com o
e análise da frequência ÿ dentro dos limites do IHO (Fwithin) durante o ciclo
da soja para sistemas de integração lavoura-pecuária utilizando gramíneas desenvolvimento da planta e atingem o pico na floração e
do gênero Brachiaria em um Latossolo Vermelho Distroférrico no Rio Verde, enchimento de grãos. Déficits hídricos significativos durante essas
Goiás. fases podem causar alterações fisiológicas nas plantas e levar à
Físico
queda prematura de folhas e flores e aborto de vagens, o que
LLWR Fdentro (%)
Tratamento Recuperação também pode reduzir o rendimento de grãos. Como o solo está
dm3 dm-3 (%) PV RP
B. brizantha cv. Xaraés B. 0,13 88 100,0 98,3
exposto em sistemas de produção agrícola intensiva, a escolha
brizantha cv. Piata B. 0,10 69 100,0 89,8 de cultivares de gramíneas como culturas de rotação é crítica,
brizantha cv. Marandu B. 0,08 54 100,0 83,1
pois fornecem uma forma potencialmente eficaz de soltura
decumbens B. 0,08 54 100,0 84,7
brizantha cv. MG4 B. 0,03 20 56,5 42,4 biológica (Figura 3 e Tabela 4).
ruziziensis 0,01 7 0,0 0,0
Sem cobertura 0,01 7 0,0 3,4 A grama MG4 produziu uma resposta intermediária
0,14 98 100,0 100,0
Cultivo convencional VP: (LLWR56,5%VP e LLWR42,4%RP). Uma resposta inferior foi
Fase vegetativa; PR: Fase reprodutiva. observada em tratamentos que continham ervas daninhas
Embora os sistemas de preparo convencionais permitam que (LLWRnullVP e LLWR1,7%RP) e sem cobertura (LLWRnullVP e
o solo fique descoberto e possam levar à perda de água por LLWR3,4%RP), sugerindo que o ambiente físico desfavorável ao
evaporação, ao contrário de um solo com palha em sua superfície crescimento das plantas nessas condições (SEVERIANO et al.,
(PERES et al., 2010), a ação mecânica dos equipamentos de 2011).
preparo do solo provou proporcionar maior recuperação física A espécie B. ruziziensis tem sido amplamente utilizada como
solo (Tabela 4) e consequentemente uma cultura de cobertura para sistemas de plantio direto nos Cerrados
região devido à sua facilidade de dessecação durante a BLAINSKI, E.; TORMENA, CA; FIDALSKI, J.; GUIMARÃES,
formação da palha com sua rápida morte e touceira RML Quantificação da degradação física do solo por meio
reduzida, que favorecem a semeadura mecanizada. da curva de resistência do solo à penetração. Revista
Além disso, o uso de B. ruziziensis em sistemas intensivos Brasileira de Ciência do Solo, v. 32, n. 3, pág. 975-983,
de produção é limitado quando se considera o baixo 2008.
potencial de recuperação física do solo (IHO = 0,01 dm3 BLAINSKI, E.; GONÇALVES, ACA; TORMENA, C.
A.; FOLEGATTI, MV; GUIMARÃES, RML
dm-3, estabelecendo um Fwithin de 0,0 e 0,0% para as
Intervalo hídrico ótimo num Nitossolo Vermelho
fases vegetativa e reprodutiva, respectivamente, como
distroférrico irrigado. Revista Brasileira de Ciência do
mostrado na Tabela 4).
Solo, v. 33, n. 2, pág. 273-281, 2009.
Ressaltamos que a escolha de plantas de cultivo pode
BONELLI, EA; BONFIM-SILVA, EM; CABRAL, C.
fazer parte de uma estratégia de manejo para recuperação
EA; CAMPOS, JJ; SCARAMUZZA, WLMP; POLIZEL, AC
da qualidade estrutural do solo em sistemas de integração Compactação do solo: Efeitos nas características produtivas
lavoura-pecuária, em contraste com a recuperação mecânica e morfológicas dos capins Piatã e Mombaça. Revista
promovida pelo preparo convencional. O plantio direto Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 15, n.
pode ser utilizado além de diversificar e verticalizar a 3, pág. 264-269, 2011.
produção, minimizando custos, diluindo riscos e agregando BRAIDA, JA; REICHERT, JM; VEIGA, M.; REINERT, DJ
valor aos produtos agrícolas. O plantio direto também é uma Resíduos vegetais na superfície e carbono orgânico do solo
estratégia de preservação ambiental por ser um modelo e suas relações com a densidade máxima aplicada no
ensaio proctor. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.
agrícola de baixo carbono.
30, n. 4, pág. 605-614, 2006.
BUSSCHER, WJ Ajuste dos dados de resistência do
penetrômetro de ponta chata ao teor de água comum.
Conclusão
Transações da Sociedade Americana de Engenheiros
Nossos resultados evidenciam que levaram às seguintes Agrícolas, v. 33, n. 2, pág. 519-524, 1990.
observações: CALONEGO, JC; BORGHI, E.; CRUSCIOL, CAC
- O cultivo da Brachiaria brizantha ou Intervalo hídrico ótimo e compactação do solo com cultivo
consorciado de milho e braquiária. Revista Brasileira de
A Brachiaria decumbens pode ser utilizada como estratégia
Ciência do Solo, v. 35, n. 6, pág. 2183-2190, 2011.
de manejo na recuperação edáfica de sistemas de
CHIODEROLI, CA; MELLO, LMM; GRIGOLLI, PJ; FURLANI,
integração lavoura-pecuária; e
CEA; SILVA, JOR; CESARIN, A.
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Os autores agradecem à FAPEG (Fundação de Amparo
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à Pesquisa do Estado de Goiás) pelo financiamento parcial
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