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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

Autorizada pelo Decreto Federal no 77.496 de 27/04/76


Recredenciamento pelo Decreto n°17.228 de 25/11/2016
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENAÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

XXVI SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UEFS


SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA - 2022

AGROECOLOGIA E RELAÇÕES DE GÊNERO: POLÍTICAS PÚBLICAS


PARA AGRICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL NO TERRITÓRIO DE
IDENTIDADE DO SISAL

Benicio Abel da Silva Andrade Leão1; Vanessa da Silva Vieira2


1. Bolsista PIBIC/CNPq, Graduando em Bacharelado em Geografia, Universidade Estadual de Feira de Santana,
e-mail: benicio.abell@hotmail.com
2. Orientador, Departamento de Ciências Humanas e Filosofia - DCHF, Universidade Estadual de Feira de Santana,
e-mail: vanessavieira@uefs.br

PALAVRAS-CHAVE: Agroecologia; relações de gênero; políticas públicas.

INTRODUÇÃO
No conjunto de acontecimentos históricos-sociais e a partir de diversas
manifestações brasileiras que lutam para romper uma estrutura hegemônica social-
política-cultural tal como o patriarcado, diversos movimentos/entidades que propõem
direitos iguais entre as mulheres através do empoderamento feminino, insere-se
atualmente a agroecologia como uma alternativa para promover mudanças na organização
familiar, no modo de vida e na produção agrícola, com a participação efetiva das mulheres
nas atividades rurais.
Nesse sentido, a busca por uma agricultura rural alternativa na Bahia é baseada na
agroecologia que objetiva um desenvolvimento rural sustentável baseado na transição de
uma agricultura tradicional para uma agricultura rural mais sustentável. Consoante à Sena
et al. (2019), uma agricultura familiar nos moldes citados acima, deve possibilitar aos
agricultores e agricultoras a superação da pobreza; na compreensão do sistema orgânico
de produção de base agroecológica associada à inclusão socioprodutiva que priorize as
questões de gênero e relação; na conservação da biodiversidade e recursos naturais; e na
eficiência econômica e justiça social.
Dessa maneira, a pesquisa tem por objetivo geral analisar os impactos das políticas
públicas rurais de base agroecológica na emancipação econômica de trabalhadoras rurais
do Território de Identidade do Sisal. E, por objetivos específicos, identificar grupos e/ou
associações de mulheres do Território de Identidade do Sisal contemplados com
programas, projetos e/ou ações de incentivo à agricultura familiar de base agroecológica;
identificar como esses grupos e/ou associações de mulheres atuam na perspectiva das
relações sociais de gênero utilizando uma abordagem agroecológica; identificar o(s)
impacto(s) econômicos nos grupos e/ou associações contemplados com programas,
projetos e/ou ações de incentivo à agricultura familiar de base agroecológica.

MATERIAL E MÉTODOS OU METODOLOGIA (ou equivalente)


Para alcançar os objetivos propostos seguiu-se os seguintes procedimentos
metodológicos conforme Figura 1.

Figura 1: Fluxograma Metodológico da pesquisa.


Fonte: Elaboração própria, 2021.

Os resultados apresentados posteriormente são desdobramentos do trabalho de


campo realizado em dois grupos de mulheres do Território de Identidade do Sisal: Grupo
Flor e Arte, e Mulheres de Fibra, localizados em Retirolândia e Conceição do Coité,
respectivamente (Figura 2).

Figura 2: Mapa de localização dos grupos de mulheres visitados, 2022.


Fonte: Elaboração própria, 2022.

RESULTADOS E/OU DISCUSSÃO (ou Análise e discussão dos resultados)


Face à análise documental e ao trabalho de campo, as políticas territoriais rurais
implantadas no Território de Identidade do Sisal já apresentam as bases da agroecologia
como suporte para inclusão socioprodutiva e o estímulo para as novas relações de gênero
no espaço rural, a exemplo do Programa de fortalecimento de cadeias produtivas.
A seguir são apresentados no quadro 1 programas, projetos e/ou ações de base
agroecológica que norteiam questões de gênero voltados para a agricultura familiar no
Território de Identidade do Sisal de acordo com Secretaria de Desenvolvimento Rural
(SDR), com o Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) e com o
Movimento de Organização Comunitária (MOC). Embora o MOC não seja uma entidade
governamental, esse movimento está presente no quadro pois é uma entidade que se une
aos órgãos oficiais para fortalecer os programas, projetos e ações que tem por objetivo
ampliar as políticas territoriais nos espaços rurais da Bahia.
Quadro 01: Programas, projetos e/ou ações de base agroecológica que norteiam questões
de gênero voltados para a agricultura familiar no Território de Identidade do Sisal
SDR CAR MOC
Programa Água, Produção
Desenvolvimento Rural
Projeto Bahia Produtiva de Alimentos e
e Sustentável
Agroecologia
Ciência, Tecnologia e Programa de Gênero,
Inovação para o Fomento à Produção Geração e Igualdade Social
Desenvolvimento - PGIR
Programa de Fortalecimento
Programa Mais Água Para Todos de Empreendimentos
Vida Melhor
II Econômicos Solidários -
PFEES
Mulher Cidadã
Chamada ATER
Projeto Pró-Semiárido
Mulher Projeto Amigas da Caatinga
Projeto Sertão Cidadãs
– FATRES
Fonte: BAHIA (c2022).
Elaboração própria, 2022.

Os indivíduos que compõem os grupos, cooperativas, comunidades e entidades às


quais serão beneficiadas por determinado programa, têm um papel fundamental na
execução das propostas de programas, projetos e/ou ações previstas no Plano de
Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário do Sisal (PTDSS). O documento
apresenta a matriz de planejamento com os objetivos, estratégias e metas. Aponta, ainda,
as demandas específicas para a promoção do desenvolvimento rural sustentável e
solidário do Território de Identidade do Sisal.
O trabalho de campo foi realizado em 09/06/2022, permitiu identificar aferir in
lócus o(s) impacto(s) econômicos nos grupos e/ou associações de mulheres do Território
de Identidade do Sisal contemplados com programas, projetos e/ou ações de incentivo à
agricultura familiar de base agroecológica. Ademais, permitiu aferir identificar como
estes grupos de mulheres atuam na perspectiva das relações sociais de gênero utilizando
uma abordagem agroecológica
Conforme as interlocutoras, tanto o grupo de mulheres flor e arte, localizado no
município de Retirolândia; quanto o grupo mulheres de fibra, localizado no município de
Conceição do Coité do Território de Identidade do Sisal não são beneficiados pelas
políticas territoriais de base agroecológica que norteiam a relação de gênero ofertadas por
órgão/entidades oficiais do governo do Estado da Bahia citados acima.
No entanto, os grupos trabalham a agroecologia a partir das suas percepções
individuais. São novas possibilidades da agroecologia enquanto saber sustentável,
possibilitando novas maneiras de trabalhar e viver. Ou seja, essa percepção individual das
mulheres é de extrema importância para o que é a agroecologia, visto que, o conceito de
agroecologia abarca os saberes tradicionais, técnicos e científicos.
Os grupos apresentam seus desafios enquanto produtoras e comerciantes, e mais
especificamente, a desvalorização social de seus trabalhos enquanto coletivo de mulheres.
Dessa forma, é necessário entender que a desvalorização da mulher vai além das questões
econômicas. Atenta-se assim para os processos históricos e culturais. Porém, o sistema
econômico reafirma tal marginalização, sistema este, o capitalista, que foi fundida com a
lógica patriarcal e racista.

CONSIDERAÇÕES FINAIS (ou Conclusão)


Portanto, a existência de tais programas, projetos e/ou ações deixam certas
inquietudes, visto que, não se sabe, de fato, se na sua implementação e interiorização os
aspectos mais amplos e complexos da agroecologia como a questão das relações de
gênero são postas na prática. É preciso que, para além da escuta da demanda social e das
decisões locais, haja a capacitação dos profissionais para lidar com tais questões no
campo.
Acerca das políticas territoriais agroecológicas que norteiam a questão das
relações de gênero destinadas aos grupos trabalhados do Território do Sisal fica evidente
relevantes aspectos: Os grupos de mulheres não são beneficiadas com os programas,
projetos e/ou ações da SDR e CAR; os grupos têm percepções individuais do que é fazer
agroecologia; as mulheres atuam na perspectiva agroecológica considerando as relações
de gênero; a comercialização dos produtos produzidos pelos grupos é o aspecto de maior
lacuna; evidencia-se a desvalorização social do trabalho das mulheres.
Dessa maneira, a agroecologia apresenta possibilidades de desenvolvimento no
Território de Identidade do Sisal, visto que há existência de grupos de mulheres que atuam
nesta perspectiva. No entanto, emerge a necessidade de uma melhor organização
governamental para a inclusão e empoderamento das mulheres, considerando o
protagonismo da figura feminina tanto em suas atividades quanto em sua articulação para
o fomento de serviços públicos que promovam a sustentabilidade, considerando-as como
guardiãs da vida e da biodiversidade, detentoras de conhecimentos ancestrais e das
práticas milenares que vão além das questões técnicas agrícolas de produção.

REFERÊNCIAS
BAHIA. Companhia de Desenvolvimento Rural e Ação Regional. BAHIA, [ca.
2015]. Disponível em: <http://www.car.ba.gov.br.> Acesso em: 15 jul. 2022.
MOVIMENTO DE ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA. MOC, [c2022]. Disponível
em: <https://www.moc.org.br/>. Acesso em: 15 jul. 2022.
______. Lei nº 13.468 DE 29 DE DEZEMBRO DE 2015. Institui o Plano Plurianual
Participativo - PPA do Estado da Bahia para o quadriênio 2016-2019. Bahia. Revisado
2017.
SENA, A. O. V. et al. Agroecologia e produção orgânica na agricultura familiar no
território extremo sul da Bahia. Revista Fitos. Rio de Janeiro, 13(Supl.), 15-19, 2019.

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