Você está na página 1de 16

PECUÁRIA LEITEIRA FAMILIAR PARANAENSE: UMA DÉCADA DE

EVOLUÇÃO

FAMILY X NON-FAMILY DAIRY FARMING IN PARANÁ: A DECADE OF


EVOLUTION

Eliane Araujo Robusti1 e Dimas Soares Junior2


Economista, Dra em Agronomia/ Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná –
IAPAR - EMATER 1
Engenheiro Agrônomo, Dr., Área de Socioeconomia / Instituto de Desenvolvimento
Rural do Paraná – IAPAR – EMATER2
robusti.eliane@gmail.com, dimasjr@idr.pr.gov.br

Grupo de Trabalho 05 - Agricultura familiar e ruralidades

Resumo
Devido a representatividade da pecuária leiteira no Brasil e especificamente no Paraná, o objetivo deste estudo foi
apresentar a evolução dessa atividade no segmento da Agricultura Familiar (AF) paranaense, tomando como
contraponto números também da pecuária leiteira na Agricultura Não Familiar (ANF), agregados por mesorregiões
e por área total (hectares), em nível estadual. Complementarmente, a agricultura familiar foi separada entre aptos
ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e não aptos ao PRONAF. Os dados
utilizados para as análises foram obtidos nos Censos Agropecuários do IBGE (2006 e 2017), apontando
quantitativo de estabelecimentos rurais, quantidades produzidas, número de vacas ordenhadas e produtividades.
Os dados por área total foram segmentados em: menos de cinco hectares, de cinco a menos de dez ha., de dez a
menos de 20 ha., de 20 a menos de 50 ha., e 50 hectares ou mais. A AF aumentou sua representatividade, quando
comparada a ANF, em vacas ordenhadas e em volume produzido. No entanto, a produtividade por vaca ordenhada
aumentou cerca de 1.516 litros na AF, contra a ANF, que teve ganho de 2.178 litros. De modo geral, ocorreu
redução no número de estabelecimentos produtores de leite para a AF aptas ou não aptas ao PRONAF, assim como
na ANF, no estado ou mesmo separadas as mesorregiões. Em quantidade produzida, teve redução na ANF e
aumento na AF. Em volume total produzido na ANF, o grupo de mais de 50 hectares se manteve como o mais
expressivo, situação diferente da AF, que teve os maiores volumes produzidos nos grupos de 20 a menos de 50 ha.
Já em produtividade/vaca ordenhada, independente do Censo, na AF e na ANF, quanto maior a área total em ha
dos estabelecimentos, maiores foram as produtividades. Contudo, a AF manteve uma produtividade inferior a ANF
com ressalvas aos aptos ao PRONAF, que tem produtividades superiores as médias da AF e da ANF. Na AF cabe
destaque a mesorregião Sudoeste e na ANF as mesorregiões de maior relevância são a Centro Sul e Centro Oriental.
Palavras-chave: Censo Agropecuário, Produtividade, PRONAF, Estabelecimentos agropecuários, Vacas
ordenhadas.

Abstract
Due to the representativeness of dairy farming in Brazil and specifically in Paraná State, the objective of this study
was to present the evolution of this activity in the segment of Family Agriculture (AF) in Paraná, taking as a
counterpoint also numbers of dairy farming in Non-Family Agriculture (ANF), aggregated by mesoregions and
by total area (hectares), at the state level. In addition, family farming was separated into those eligible for the
National Program for the Strengthening of Family Agriculture (PRONAF) and those not eligible for PRONAF.
The data used for the analyzes were obtained from the IBGE agricultural censuses (2006 and 2017), indicating
the number of rural establishment, quantities produced, number of milked cows and productivity. Data by total
area were segmented into: less than five hectares, from five to less than ten ha., from ten to less than 20 ha., from
20 to less than 50 ha., and 50 hectares or more. AF has increased its representativeness, when compared to ANF,
in cows milked and in volume produced. However, the productivity per milked cow increased by about 1,516 liters
against the ANF, which had a gain of 2,178 liters. In general, there was a reduction in the number of milk-
producing establishments for the AF that are suitable or not suitable for PRONAF, as well as in the ANF, in the
state or even separate the mesoregions. In quantity produced, there was a reduction in ANF and an increase in
AF. In terms of total volume produced in the ANF, the group of more than 50 hectares remained the most

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
1
expressive, a situation different from the AF, which had the highest volumes produced in the groups of 20 to less
than 50 hectares. In terms of productivity/milked cow, regardless of the census, both in AF and in ANF, the greater
the total area in ha of the establishments, the greater the productivity. However, AF maintained a lower
productivity than ANF with exceptions to those eligible for PRONAF, which has higher productivity than the
averages of AF and ANF. In the AF, the Southwest mesoregion stands out and in the ANF, the most relevant
mesoregions are the Center South and Center East.
Key words: Agricultural census, Productivity, PRONAF, Agricultural establishments, Milked cows.

1. Introdução

O Brasil vem se destacando como grande produtor mundial de leite nas últimas décadas
(MILANI; SOUZA, 2010; DA ROCHA, CARVALHO e RESENDE, 2020). O país está entre
os cinco maiores produtores de leite em escala mundial (SABBAG; COSTA, 2015; FABIANA
DA SILVA et al., 2015), apesar dos dados que confirmam a sua posição no cenário
internacional como importador líquido, com esporádicas exceções em 2004–2008 (VILELA et
al., 2017).
Em 2020, foram 35,4 bilhões de litros produzidos no país. As regiões Sudeste e Sul são
as principais produtoras de leite, sendo o Sul responsável naquele ano por 34,6% da produção
nacional. O estado do Paraná, com 4,6 bilhões de litros, foi o principal produtor regional e o
segundo maior produtor nacional, responsável por 13,3% do total produzido. Ainda naquele
ano o valor bruto da produção de leite no país atingiu 56,5 bilhões de reais, com 7,8 bilhões
(13,7%) no Paraná (IBGE, 2022a).
No Brasil, assim como no Paraná, a produção de leite no estrato da agricultura familiar
possui grande importância em termos econômicos e sociais, pois reduz o êxodo rural e
diversifica os sistemas de produção, contribuindo para o desenvolvimento dos municípios de
pequeno e médio porte pela geração de renda, o que dinamiza as economias locais (AHLERT;
HAETINGER; REMPEL, 2017).
Avaliando dados censitários do IBGE, vários autores apresentaram análises relativas ao
número de vacas ordenhadas, estabelecimentos produtores, produção e produtividades leiteiras,
mostrando uma tendência de redução no número de estabelecimentos e vacas ordenhadas, mas
com aumento da produtividade por vaca e da produção total (VILELA et al., 2017; LAMPERT;
BRUM; DA SILVA, 2018; LEITE, 2020). Entretanto, esses dados não foram discutidos
especificamente para a agricultura familiar paranaense produtora de leite.
Devido à importância da atividade leiteira no sul do país, especificamente no estado do
Paraná e as heterogeneidades presentes na produção de leite, sejam por características regionais
ou perfil da unidade produtiva, familiar ou não familiar, o presente estudo objetivou discutir os
dados censitários de 2006 e 2017, considerando as unidades produtivas da Agricultura Familiar
(AF) e Agricultura Não Familiar (ANF), ao nível das mesorregiões e dos grupos de área total
dos estabelecimentos. Complementarmente, a agricultura familiar foi particularizada entre
estabelecimentos aptos e não aptos ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (PRONAF).
O trabalho encontra-se dividido em cinco seções. Além desta introdução, a seção 2 é
composta por uma revisão de literatura sobre os assuntos relevantes ao tema do artigo. Na seção
seguinte, foi exposta a metodologia empregada, passando posteriormente para a seção dos
resultados e discussões, agrupados em três blocos: mesorregiões geográficas, área total dos
estabelecimentos e aptidão ao PRONAF. Finalmente, na seção 5 são expressas as considerações
finais.

2. Revisão de Literatura

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
2
2.1 A Pecuária Leiteira no Brasil

O leite tem importância econômica e social quanto às suas características nutricionais e


a geração de emprego e renda (FABIANA DA SILVA et al., 2015), sendo um complexo
agroindustrial constituído entre um dos mais importantes do agronegócio brasileiro (SABBAG;
COSTA, 2015). O país produziu em média, entre 2008 e 2016, 7% de todo o leite mundial
(MEZZADRI, 2020), e observa-se um crescimento desta atividade no Brasil ao longo dos
últimos anos, de 3,8% ao ano, entre 1974 e 2016 (HUPPES et al., 2020).
De modo geral, a atividade leiteira tem uma cadeia produtiva encontrada em
praticamente todo o país, podendo ser considerada uma atividade rentável aos grandes e
pequenos produtores, gerando empregos e renda (FABIANA DA SILVA et al., 2015;
DALCHIAVON et al., 2017; DANELUZ et al., 2017; DA ROCHA, CARVALHO e
RESENDE, 2020). No entanto, as condições climáticas, socioeconômicas e culturais distintas
na sua extensão territorial demandam soluções particulares e construções zootécnicas
adequadas aos sistemas de produção existentes (MILANI; SOUZA, 2010).
A produção de leite alcançou entre 1974-2015 um aumento de 673%, com crescimento
em produtividade de 245,6%, passando de 655 kg/vaca/ano para 1.609 para kg/vaca/ano,
acompanhado por 240% de aumento no consumo de lácteos (VILELA et al., 2017).
Em 2020, foram produzidos 35,4 bilhões de litros de leite de vaca no Brasil e
comparando com os últimos dez anos, as posições de produção mundial sofreram poucas
alterações entre os cinco maiores produtores, destacando se a colocação do Brasil, que
ultrapassou a China a partir de 2014 (FAOSTAT, 2021). Ainda assim, a produtividade animal
brasileira foi considerada uma das mais baixas do mundo naquele período, com registro de
1.609 kg/vaca/ano em 2015 (VILELA et al., 2017). Já no ano de 2020, a produtividade por vaca
ordenhada no país atingiu 2.192 litros (IBGE, 2022a).
Para Ramos e Barbosa (2016) a ascensão da produção de leite no Brasil deve-se
principalmente à adoção de sistemas de confinamento e à animais de maior capacidade
produtiva. O crescimento da produção também está atrelado à desconcentração industrial, o que
resultou em aumento de preço do leite in natura, e às políticas agrícolas de incentivo, como as
de exportação (DUARTE, MOREIRA; CHÁVEZ, 2017).
Ao longo dos anos, registrou-se uma redução no número total de produtores brasileiros
em 13%, com diminuição de 31% no estrato de produção inferior a 10 litros/dia, 12% para os
estratos de 10 a 20 e de 20 a 50 litros/dia, totalizando 55% de redução no número de produtores
com até 50 litros/dia de produção de leite (LEITE, 2020). Os percentuais de redução nos estratos
foram atribuídos a três fatores: parte dos produtores aumentou sua produção passando para
outros estratos, parte dos produtores abandonaram a atividade; e ainda novos investidores
podem ter iniciado na atividade, dessa forma, o autor conclui que existe concentração de
produção nas propriedades de maior escala produtiva e redução do número de produtores com
menor escala.
Na mesma linha de análise, Lampert, Brum e Da Silva (2018) apontaram que a produção
por estabelecimento em litros por dia cresceu em todas as regiões do Brasil no período 2006-
2017, com destaques para a região Sul, com aumento de 159%, havendo por outro lado o
registro de redução de propriedades leiteiras no Brasil por área em hectares, o que indica que
os produtores com menores áreas estão abandonando a atividade. Os autores complementam
que das propriedades que deixaram de produzir leite nesse período, 77,3% são de até 50 hectares
(LAMPERT; BRUM; DA SILVA, 2018).
O aumento da produção diante da redução no número de propriedades e no rebanho
leiteiro é justificado pelo aumento da produtividade via intensificação da produção e

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
3
profissionalização do setor, resultado da aquisição e domínio de tecnologias mais produtivas
(LEITE, 2020). Goulard et al. (2021) também confirmam a modernização e a implantação de
inovações tecnológicas como fatores fundamentais para o aumento da quantidade produzida,
assim como da produtividade leiteira.
Com relação ao número de vacas ordenhadas no período 2006-2017, se observou uma
redução geral de 5,7% no Brasil e um aumento de 3,3% na região Sul (LAMPERT; BRUM;
DA SILVA, 2018). Leite (2020) confirma essa tendência, apresentando os dados do rebanho
leiteiro nacional, que passou de 12,7 milhões de vacas ordenhadas para 12,0 milhões, em 2017,
assim como a alta de mais de 62% em produtividade média por vaca. Já avaliando um período
histórico maior, de 1996-2016, o aumento no número de vacas ordenhadas e na produtividade
de leite por vaca foram de 62,3% e 81,0%, respectivamente, na região Sul do Brasil
(LAMPERT; BRUM; DA SILVA, 2018).

2.2 A Pecuária Leiteira no Paraná

Assim como no Brasil, no Paraná também ocorreu uma redução no número de


estabelecimentos que produziram leite de vaca comparando os Censos de 2006 e 2017, fato
observado em todas as mesorregiões do estado (IBGE, 2022b,c).
No tocante ao número de vacas ordenhadas, são 16.167.625 cabeças em âmbito nacional
e 1.329.009 no estado, 8,2 % do país (IBGE, 2022a). O Paraná seguiu a tendência nacional,
com uma redução de 0,9 % para as vacas ordenhadas na comparação entre os Censos de 2006
e 2017, mas registrou aumento nas mesorregiões do Centro Oriental, Sudoeste, Centro Sul e
Sudeste Paranaense, seguindo o movimento da região sul do país.
Em produtividade (litros de leite ano/vaca ordenhada), o aumento observado em todas
as regiões do país foi acompanhado pelo Paraná em todas as suas mesorregiões, registrando-se
inclusive aumento na quantidade produzida, constatando-se assim 2.192 litros por cabeça no
Brasil, e 3.490 litros por cabeça no Paraná (IBGE, 2022a), destacando a importância do estado
no cenário leiteiro nacional. Ao nível estadual, a produtividade por vaca ordenhada no Censo
Agropecuário de 2017 teve o mínimo de 2.178 litros na região metropolitana e máximo de 4.213
no Centro Oriental (IBGE, 2022b,c).
A produtividade de leite por animal influencia diretamente a receita e a lucratividade da
atividade, respondendo a fatores ligados a genética, alimentação, manejo, idade do animal,
estágio de lactação, ordem e época do parto, ocorrência de distúrbios metabólicos, estresse
térmico, sanidade, entre outros (DEMEU et al., 2016).
Analisando dados do IBGE de 2000 a 2015, Telles et al. (2020) concluíram que das 94
microrregiões do sul do Brasil, 36 são especializadas na produção de leite, com identificação
de quatro grupos que se diferenciam por níveis de produtividade e predominância da produção
de perfil familiar frente à produção em caráter empresarial, expressando a heterogeneidade
entre as microrregiões especializadas. Já Bánkuti et al. (2017) destacaram o deslocamento da
atividade para áreas do sul do Paraná, criando um “corredor de leite”, em toda a região sul, de
leste a oeste, depois de considerar as variáveis produtivas nos anos de 1990, 2000 e 2014.

2.3 A Pecuária Leiteira na Agricultura Familiar

Amplamente debatida no cenário acadêmico e político no Brasil, a partir da década de


1990, a categoria de agricultura familiar encontrou como ponto convergente entre inúmeros
autores a condição de reunir ao menos o tripé: gestão, propriedade e trabalho (ABRAMOVAY,
1997, GASSON; ERRINGTON, 1993, WANDERLEY, 1996). É a combinação desses três

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
4
elementos que permite a identificação de um estabelecimento familiar como sendo, ao mesmo
tempo, uma unidade de produção, de consumo e de reprodução social.
Em virtude das discussões acadêmicas e demandas das organizações sociais, o governo
brasileiro instituiu, em 24 de julho de 2006, a Lei no 11.326 que ficou conhecida como “Lei da
Agricultura Familiar”. Os critérios dessa lei nortearam a publicação de estudos e dados do
Censo Agropecuário de 2006. Para o Censo Agropecuário de 2017, o IBGE publicou as
variáveis classificadas por tipos de estabelecimentos novamente distinguindo os da agricultura
familiar, obedecendo ao Decreto no 9.064 de 31 de maio de 2017, o qual regulamentou a Lei
nº 11.326, e às portarias e normativas subsequentes (DEL GROSSI, 2020).
No Paraná a pecuária leiteira representa uma cadeia produtiva importante para os
agricultores familiares que utilizam um sistema de produção baseado em pasto com
complemento de concentrado na dieta, sendo o leite a principal renda das propriedades (ROSA
et al., 2015).
O estado conta com o programa "Leite das Crianças" para auxiliar no combate à
desnutrição infantil por meio de distribuição de leite gratuita a famílias de baixa renda. No ano
de 2019, foram distribuídos 39,8 milhões de litros para 110.387 crianças (MEZZADRI, 2020).
Esse programa beneficia, além das crianças carentes assistidas, os produtores familiares, dando-
lhes estabilização e melhores rendas (TELLES; TANAKA; PELLINI, 2008). Os autores ainda
chamam atenção para uma agricultura familiar viável, porém, ressaltam a necessidade de
integração com políticas consistentes que promovam o desenvolvimento do segmento.
Acredita-se que diversidade no uso de tecnologia na agricultura familiar, nas diversas
regiões, resulta de uma adaptação dos agricultores a condicionantes como a escassez de terras
e de recursos financeiros, a falta de assistência técnica e de acesso à política de crédito, entre
outros (MARCELO DE SOUZA et al., 2019).
Nos estudos de Berger, Simon e Mera (2021) entre as estratégias que podem fazer frente
as dificuldades encontradas na atividade leiteira como preço recebido pelo leite e altos custos
dos insumos, está o acesso ao crédito. Contudo, após 2006, o Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que tem entre os objetivos, o fornecimento
facilitado de acesso ao crédito, teve redução no número de contratos, com aumento do tamanho
médio dos contratos (MARCELO DE SOUZA et al., 2013). Os autores indicam para elevação
da participação dos segmentos mais capitalizados no total dos financiamentos, o que favorece
a desigualdade regional na distribuição desses recursos.
Avaliando uma unidade de produção agropecuária familiar, Balestrin, Frandaloso e
Bertoglio (2020) constataram um índice de lucratividade na produção de leite de 8,0%, com
índice de rentabilidade de 1,4%. Nesse estudo, a baixa rentabilidade da unidade analisada,
quando comparada a outras possibilidades de investimento, tem como justificativa o alto valor
atribuído a terra e seu impacto no valor do capital utilizado. Entre os fatores que afetam a
rentabilidade na produção de leite, a taxa de capital investido, as produtividades da terra e do
trabalho apresentam maior correlação comparada a fatores de produtividade dos animais
(OLINI et al. 2020).

3. Metodologia

Para a realização da pesquisa, foram utilizados dados secundários (número de


estabelecimentos agropecuários produtores de leite, quantidades produzidas, número de vacas
ordenhadas e produtividade - quantidade produzida por vacas ordenhadas em mil litros de leite
por ano), dos Censos Agropecuários (CAs) de 2006 e 2017 realizados pelo IBGE e
disponibilizados no SIDRA (Sistema IBGE de Recuperação Automática).

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
5
A coleta e organização dos dados para comparação entre os períodos e a discussão das
principais alterações identificadas considerou a distinção de estabelecimentos da Agricultura
Familiar (AF) e Agricultura Não Familiar (ANF). Para o Censo de 2006, os dados foram
acessados com a escolha do tema “Agricultura Familiar”, na página de acesso aos dados da
segunda apuração (IBGE, 2020b), habilitando-se, em cada tabela trabalhada, as opções
“Agricultura Familiar” ou “Não Familiar” no campo destinado ao tipo de estabelecimento. Já,
no Censo 2017, que apresenta a seleção da tipologia do estabelecimento internamente a cada
tabela disponibilizada (IBGE, 2020c), as seleções foram realizadas por meio da opção
“Agricultura Familiar – Sim” e “Agricultura Familiar – Não”.
Além da discussão no âmbito estadual e das Mesorregiões Geográficas, conforme
classificação do próprio IBGE (Figura 1), os dados quantitativos por área total do
estabelecimento foram segmentados em: Menos de cinco hectares, de cinco a menos de dez
hectares, de dez a menos de 20 hectares, de 20 a menos de 50 hectares e 50 hectares ou mais.
Complementarmente, a agricultura familiar foi separada na modalidade de aptos ao PRONAF
ou não aptos ao PRONAF.
Cabe ressaltar que não pode ser realizada a comparação entre os Censos de 2006 e 2017,
no que diz respeito aos grupos de cabeças de bovinos destinados a produção de leite, já que os
agrupamentos foram organizados de formas distintas nos diferentes Censos Agropecuários.

Figura 1 – Mesorregiões homogêneas do estado do Paraná.

Fonte: Adaptado pelos autores conforme IBGE (2022b,c).

4. Resultados e Discussões

4.1 A produção de leite na Agricultura Familiar e Não Familiar ao nível das Mesorregiões

O número de estabelecimentos agropecuários produtores de leite no Paraná foi reduzido


em 26,1% na agricultura familiar (AF), na comparação entre os dois últimos Censos
agropecuários, enquanto na agricultura não familiar (ANF) essa redução foi de 33,7% (Figura

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
6
2a). Ao nível das mesorregiões paranaenses, observou-se a mesma tendência de redução no
número de estabelecimentos, independentemente do perfil da unidade produtiva.
Para o Censo de 2017, a mesorregião com maior número de estabelecimentos não
familiares produtores de leite foi a Centro Sul, seguidas do Oeste e Sudoeste. Na AF, essas
regiões também foram as mais expressivas, com destaque para a mesorregião Sudoeste. Esta é
uma região de grande atividade agrícola familiar, de acentuada transformação na prática da
agricultura, e com elevada adesão aos modelos tecnológicos (KISCHENER et al., 2021). Esses
autores discutiram a problemática da sucessão geracional e apontaram para questões complexas
que superam as questões econômicas.

Figura 2. Número de estabelecimentos agropecuários produtores de leite (a) e vacas


ordenhadas nos mesmos estabelecimentos (b) separados por AF e não familiar. Paraná. 2006 e
2017.
Fonte: Adaptado pelos autores conforme IBGE (2022b,c).

No que diz respeito a continuidade do produtor na pecuária leiteira, os fatores relevantes


são a disponibilidade de mão de obra, o preço da terra, as tecnologias emergentes como a
automação e a robótica, além do conceito de “pecuária de precisão” (VILELA et al., 2017). Os
autores destacam a concentração da produção em um menor número de estabelecimentos, o que
foi confirmado nas alterações entre os dois últimos Censos, independe de mesorregião.
Já referente as vacas ordenhadas, houve aumento de 5,2 % na AF e redução de 16,3%
na ANF Paranaense (Figura 2b). As mesorregiões Centro Oriental, Sudoeste, Centro Sul e
Sudeste aumentaram as quantidades de vacas ordenhadas, influenciando o resultado do estado
na AF, que foi de crescimento, contudo, não foi suficiente para alterar o resultado do estado
tendo em vista a redução de vacas ordenhadas na ANF. De 2006-2017, notou-se redução no
número de vacas ordenhadas no Brasil, mas aumento quando observada a região Sul do País
(LAMPERT; BRUM; DA SILVA, 2018).
A mesorregião com maior quantidade de vacas ordenhadas na AF foi a Sudoeste e na
ANF foi a Centro Oriental, conforme o CA de 2017. Nessa mesorregião se encontra uma parcela
significativa de produtores com níveis tecnológicos, padrão genético e produtividades
comparáveis às principais bacias leiteiras do país. Já nas mesorregiões Oeste e Sudoeste
observaram-se progressos importantes nos últimos anos, com amplo potencial de crescimento
da produção justificado pelo segmento familiar e disponibilidade de mão de obra, aspecto
necessário para o desenvolvimento da atividade leiteira (IPARDES, 2009).
Cabe mencionar que mesmo com as reduções no número de estabelecimentos, a
proporção entre a AF e ANF sofreu pequena alteração no que tange a participação desses

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
7
estratos produtivos na produção leiteira. A importância das unidades familiares na pecuária
leiteira paranaense se ampliou ainda mais, passando de 84,2% para 85,6% do total
estabelecimentos entre 2006 e 2017 (IBGE, 2022b,c).
Neste estado, mesmo com a redução de estabelecimentos, a AF aumentou sua produção
leiteira em 86,8%, porcentagem superior a ANF, que registrou crescimento em volume
produzido de 60,4% (Figura 3a). Desse modo, a AF que respondia em 2006 por 67,4% do
volume total de leite produzido no Paraná passou a responder por 70,6% em 2017. Na mesma
comparação, mas em produtividade, a AF teve um ganho de 1.516 litros entre esses anos, dados
inferiores aos da ANF, com ganho de 2.178 litros (IBGE, 2022b,c).

Figura 3. Quantidade produzida de leite em mil litros (a) e produtividade/vaca ordenhada em


mil litros/cabeça (b) separados por agricultura familiar e não familiar. Paraná. 2006 e 2017.
Fonte: Adaptado pelos autores conforme IBGE (2022b,c).

Na ANF, o maior aumento em quantidade produzida foi observado na microrregião de


Ponta Grossa (163.011 mil litros), apesar da redução no número de estabelecimentos (130),
sendo esse desempenho uma das razões que fazem da mesorregião Centro Oriental a maior
produtora de leite, considerando as unidades produtivas não familiares paranaenses (IBGE,
2022b,c).
As mesorregiões Sudoeste e Oeste responderam por 49% da produção paranaense em
2007, com predomínio da agricultura em modelo familiar (VOLPI; DIGIOVANI, 2008). Essas
duas mesorregiões permaneceram como as mais representativas para a AF no aspecto produção,
com 52% do volume produzido na AF ou 43,3% do volume total paranaense produzido.
Em termos de produtividade por vaca ordenhada (mil litros/cabeça), se repetiram as
regiões destacadas em quantidade produzida, sendo o Sudoeste e Oeste para a familiar e o
Centro Oriental para a ANF. O aumento de produtividade entre os CAs foi de 77,6% para a AF
e 91,7% para a ANF, o que manteve a superioridade média produtiva no estado para a ANF
com 4,553 mil litros/cabeça, comparado aos 3,470 mil litros/cabeça da AF (Figura 3b).
Esse aumento de produtividade foi relatado em todas as regiões do país por Lampert,
Brum e da Silva (2018). A justificativa para o aumento da produtividade são atreladas a
implantações das modernizações tecnologicas do setor (LEITE, 2020; GOULARD et al., 2021).
As menores produtividades, independentemente do perfil da unidade produtiva, foram
localizadas nas mesorregiões Metropolitana de Curitiba e Norte Central. Assim como as
anteriores as mesorregiões do Norte Pioneiro e do Noroeste também apresentaram
produtividades abaixo de 2,6 mil litros/cabeça.

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
8
4.2 A produção de leite na Agricultura Familiar e Não Familiar ao nível dos grupos de
área total

Na busca por caracterizar as alterações entre os CAs no tocante ao tamanho dos


estabelecimentos agropecuários paranaenses produtores de leite, os dados foram agrupados por
área total em hectares nos estratos da agricultura familiar (AF) e agricultura não familiar (ANF).
Assim, analisaram-se os estabelecimentos compreendendo cinco grupos de área: menos de
cinco hectares, com cinco a menos de dez hectares, seguidos de dez a menos de 20, de 20 a
menos de 50, e por fim, os estabelecimentos de 50 ou mais hectares de área total (Tabela 1).
Tabela 1. Número de estabelecimentos agropecuários produtores de leite, vacas ordenhadas e
quantidade produzida de leite (mil litros), separados por Agricultura Familiar (AF) e
Agricultura Não Familiar (NF). Paraná. 2006 e 2017.

*Existe diferença entre a soma dos valores e o valor apresentado como total devido a metodologia adotada para
não identificar o informante e manter o sigilo das informações disponibilizadas.
Fonte: Adaptado pelos autores conforme IBGE (2022b,c).

A maior concentração de estabelecimentos agropecuários na AF foi no grupo de dez a


menos de 20 hectares, o que não mudou entre os Censos pesquisados. Para a ANF, a maior

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
9
concentração de estabelecimentos ocorre nas áreas de 50 ha ou mais, também sem alterações
entre os Censos.
Para vacas ordenhadas na AF, o maior número foi registrado no grupo de 20 a menos
de 50 ha, seguido pelo de 10 a menos de 20 ha, mantendo-se a maior quantidade de vacas
ordenhadas para a ANF nas áreas acima de 50 hectares. Essas informações se repetiram para
quantidade produzida.
Comparando os Censos, independente do grupo de áreas, ocorreu redução no número
de estabelecimentos produtores. Leite (2020) confirmou essa redução, estabelecendo 13% no
número total de estabelecimentos brasileiros.
Na ANF também se reduziu o número de vacas ordenhadas nesses grupos, entretanto
para quantidade produzida, os únicos grupos que reduziram o volume produtivo foram os de
menos de cinco hectares e os de cinco a dez hectares. Já para AF, os únicos grupos que
reduziram a quantidade de vacas ordenhadas foram os de menos de cinco hectares e os de cinco
a dez hectares e todos aumentaram os volumes produzidos.
Em produtividade/vaca ordenhada, independente do Censo, na AF e na ANF, quanto
maior a área total em ha dos estabelecimentos, maiores foram as produtividades, destacando-se
os grupos de 20 a menos de 50 ha e o de 50 hectares ou mais (Figura 4).

Figura 4. Produtividade/vaca ordenhada (mil litros/cabeça), separados por agricultura familiar


e não familiar. Paraná. 2006 e 2017.
Fonte: Adaptado pelos autores conforme IBGE (2022b,c).

Para os grupos mais produtivos, a AF passou de 2,250 mil litros/cabeça/ano para uma
produtividade de 3,998 entre Censos, números menores que os da ANF, que foi de 2,443 a 4,6

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
10
mil litros/cabeça/ano, o que comprovou a superioridade da ANF decorrente da intensificação
nos grandes estabelecimentos agropecuários produtores de leite.
Na metodologia de classificação para sistemas de produção da pecuária de leite, Zoccal
e Stock (2011) classificaram como de base familiar ou semiextensiva, entre outras
características, produtividade de 4 a 7 kg/vaca/dia, o que se aproxima de 1,5 a 2,6 mil
litros/cabeça/ano, produção especializada de 7 a 12 kg/vaca/dia, correspondente a 2,6 a 4,4 mil
litros/cabeça/ano, e sistema intensivo para acima de 12 kg/vaca/dia ou 4,4 mil litros/cabeça/ano.
Considerando tais parâmetros a produção paranaense na AF em 2017 seria caracterizada como
especializada, bem como na ANF de até 10 ha de área total, sendo identificada como intensiva
nos demais estratos de área total desse segmento, com exceção do estrato de menos de 5
hectares, com produtividade abaixo do relacionado na AF.

4.3 A produção de leite na Agricultura Familiar ao nível dos estabelecimentos aptos e não
aptos ao PRONAF

Quando avaliados somente os dados da agricultura familiar, enquanto estabelecimentos


agropecuários aptos ou não aptos ao PRONAF, as diferenças se fizeram ainda mais presentes.
Manteve-se a redução em números de estabelecimentos, tanto para aptos ao PRONAF como
para não aptos (Figura 5a), contudo, a participação de estabelecimentos familiares com
PRONAF passou de 78,4% para 97,7%, o que mostrou uma maior concentração de agricultores
“pronafianos” entre produtores de leite familiares do Paraná.
Em quantidade de vacas ordenhadas, os aptos ao PRONAF aumentaram, situação
contraria aos não pronafianos, reduzindo as vacas ordenhadas (Figura 5b). Se antes 65,2% das
vacas ordenhadas eram de agricultura familiar apta ao PRONAF, no Censo de 2017 esse valor
passou a 90,9%.
Na AF “pronafiana”, o número de estabelecimentos foi reduzido em 22,5%, mas o
número de vacas ordenhadas aumentou cerca de 5%, especificamente na região Sudoeste,
Centro Sul e Sudeste. Para os não aptos ao PRONAF, ocorreu redução no número de
estabelecimentos produtores de leite em todas as mesorregiões assim como nas microrregiões
paranaenses, chegando a uma redução de 93,5% no estado (Figura 5a), redução observada
também no número de vacas ordenhadas, 80,4% (Figura 5b).

Figura 5. Número de estabelecimentos agropecuários produtores de leite (a) e vacas


ordenhadas (b) considerando a aptidão ao PRONAF. Paraná. 2006 e 2017. Fonte: Adaptado
pelos autores conforme IBGE (2022b,c).

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
11
As quantidades produzidas de leite de vaca deram um salto na agricultura familiar apta
ao PRONAF, com aumento de 76% (Figura 6a). Em contrapartida os não pronafianos reduziram
sua participação em volume produzido no estado em 48,5%. Compensando o volume, esses
mesmos agricultores que se mantiveram na atividade leiteira passaram de uma produtividade
de 2,399 mil litros/cabeça para 6,307 (Figura 6b), um acréscimo de 163%. Os agricultores aptos
ao PRONAF, em média, atingiram metade dessa produtividade, passando de 1,901 para 3,187
mil litros/cabeça, com crescimento de 68%.

Figura 6. Quantidade produzida de leite em mil litros (a) e produtividade/vaca ordenhada em


mil litros/cabeça (b) considerando a aptidão ao PRONAF. Paraná. 2006 e 2017.
Fonte: Adaptado pelos autores conforme IBGE (2022b,c).

Constata-se então que a heterogeneidade entre os produtores de leite no estado está


presente não somente com grandes produtores tecnificados mas também ao nível das unidades
familiares de menor escala, essas últimas, muitas vezes com pequenos rebanhos, sem
melhoramento genético e baixa tecnologia produtiva (IPARDES, 2009). No entanto, Para Bett
e Fonseca da Silva (2009), a alta, média e mesmo a baixa tecnificação, desde que bem
gerenciada, garante benefícios produtivos na agricultura familiar.
Complementarmente, Leite (2020) afirma que, com uma produtividade de menos de 200
litros/dia, o produtor familiar encontrará dificuldades para investir em novas tecnologias, tendo
que recorrer a financiamento de terceiros, via empréstimos bancários como o PRONAF.

5. Considerações Finais
No âmbito nacional e estadual, vem ocorrendo uma redução no número de
estabelecimentos produtores de leite para a agricultura familiar aptas ou não aptas ao PRONAF,
assim como nas não familiares, considerando as diferentes mesorregiões geográficas ou os
grupos de área total.
Em contrapartida, no Paraná, a agricultura familiar segue uma tendência de aumento na
sua representatividade, quando comparada a agricultura não familiar, com crescimento no
número de vacas ordenhadas e no volume produzido. Entretanto, a produtividade por vaca
ordenhada na agricultura familiar, de modo geral, ainda está abaixo da agricultura não familiar.

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
12
As maiores concentrações de estabelecimentos agropecuários na AF são no grupo de
dez a menos de 20 hectares, e para a ANF a maior concentração de estabelecimentos estão nas
áreas de 50 hectares ou mais. Esses números mostram que a produção de leite na AF
compreendem menores áreas produtivas comparadas a ANF.
Existe um aumento no número de vacas ordenhadas na AF abrangendo as mesorregiões
Centro Oriental, Sudoeste, Centro Sul e Sudeste. Entre os aptos ao PRONAF, os números
ultrapassam 90% das vacas ordenhadas na AF, com mais de 97% dos estabelecimentos
produtores de leite.
Em quantidade produzida, também se observa uma redução na agricultura não familiar
e aumento na agricultura familiar. No volume total produzido na ANF, o grupo de mais de 50
hectares se mantem como o mais expressivo, mas na AF, os grupos mais expressivos são os de
20 a menos de 50 hectares e os de 10 a menos de 20 hectares. Especificamente para a agricultura
familiar apta ao PRONAF, existe um aumento de 76% e em contrapartida, os não pronafianos
familiares reduzem sua participação em volume produzido no estado em 48,5%.
Observa-se um crescimento da atividade em produtividade/vaca ordenhada, tanto na
agricultura familiar quanto na não familiar e quanto maior a área total em ha dos
estabelecimentos, maiores são as produtividades, destacando-se os grupos de 20 a menos de 50
ha e os de 50 hectares ou mais. Contudo, a AF ainda tem uma produtividade menor que na
ANF. Nesse sentido, destaca-se a produtividade dos familiares não pronafianos, com médias
superiores mesmo a média dos não familiares. Assim convém destacar a importância que o
PRONAF exerce sobre a agricultura familiar produtora de leite no estado, que por consequência
impacta toda a cadeia produtiva desse setor.
Na agricultura familiar, cabe destaque a mesorregião Sudoeste, com maior número de
estabelecimentos, maior quantidade de vacas ordenhadas e de volume de leite produzido, assim
como de produtividade. Essa superioridade se repete para a AF apta ao PRONAF. Mas para os
não aptos ao PRONAF, a mesorregião Oeste tem os maiores números de estabelecimentos, de
vacas ordenhadas e de volume produzido.
Na agricultura não familiar, as mesorregiões de maior relevância são a Centro Sul com
o maior número de estabelecimentos e a Centro Oriental que concentrou maior quantidade de
vacas ordenhadas e de volume de leite produzido, assim como de produtividade. A identificação
das mesorregiões e das características quanto a produção leiteira se faz importante para a
elaboração de políticas públicas a fim de atender a parcela mais significativa de cada região.

Referências
ABRAMOVAY, R. Agricultura familiar e uso do solo. São Paulo em Perspectiva. São Paulo,
SEADE, v.11, n.2, p.73-78, 1997.

AHLERT, E. M.; HAETINGER, C.; REMPEL, C. Sistema de indicadores para avaliação da


sustentabilidade de propriedades produtoras de leite. Revista Estudo & Debate, v. 24, n. 2,
2017.

BALESTRIN, J. T.; FRANDALOSO, D.; BERTOGLIO, O. Análise de desempenho financeiro


e econômico de uma unidade de produção agropecuária familiar: produção de leite e
soja. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 10, p. 79931-79938, 2020.

BÁNKUTI, F. I.; CALDAS, M. M.; BÁNKUTI, S. M. S.; GRANCO, G. Spatial dynamics: a


new “milk corridor” in Paraná state, Brazil. Semina: Ciências Agrárias, v. 38, n. 4, p. 2107-
2117, 2017.

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
13
BERGER, J. S.; SIMON, L. J.; MERA, C. M. P. As dificuldades dos agricultores familiares em
relação à atividade leiteira e as estratégias de permanência na propriedade rural. Revint,
Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 9, n. 1, p. 301-308, 2021.

BETT, V.; FONSECA DA SILVA, F. Gerenciamento zootécnico na bovinocultura leiteira em


regime de economia familiar. agro@mbiente on-line, v. 3, p. 42-52, 2009.

DA ROCHA, D. T.; CARVALHO, G. R.; DE RESENDE, J. C. Cadeia produtiva do leite no


Brasil: produção primária. Embrapa Gado de Leite-Circular Técnica (INFOTECA-E),
2020. Disponível em: <
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/11248587>. Acesso em: 20 maio
2021.

DALCHIAVON, A.; FANK, D. R. B.; HEBERLE, E. L.; ZANIN, A. Análise comparativa de


custos e produtividade de leite em diferentes sistemas de produção. In: Anais do Congresso
Brasileiro de Custos-ABC. 2017.

DANELUZ, M. O.; LOPES, A. G.; SANTOS, I. S.; CANEVER, M. D. Práticas de manejo de


ordenha realizadas por produtores de leite e a influência no desempenho da atividade. In: 55°
Congresso da SOBER -Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia
Rural. Santa Maria - RS. 2017.

DEL GROSSI, Mauro. Algoritmo para delimitação da agricultura familiar no Censo


Agropecuário 2017, visando a inclusão de variável no banco de dados do Censo. Disponível
para ampla consulta.
https://sidra.ibge.gov.br/Content/Documentos/CA/Metodologia%20Agricultura%20familiar%
20(IBGE)%20DelGrossi%20final%205jun2019.pdf Acesso em 15 Mar. 2020.

DEMEU, F. A.; LOPES, M. A.; COSTA, G. M.; ROCHA, C. M. B.; SANTOS, G. Efeito da
produtividade diária de leite no impacto econômico da mastite em rebanhos bovinos. B.
Indústr. Anim., p. 53-61, 2016.

DUARTE, V. N.; MOREIRA, G. B.; CHÁVEZ, L. F. G. A evolução da produção leiteira no


Brasil de 2005 a 2014. In: 55° Congresso da SOBER -Sociedade Brasileira de Economia,
Administração e Sociologia Rural. Santa Maria - RS. 2017.

FABIANA DA SILVA, M.; PEREIRA, J. C.; GOMES, S. T.; NASCIF, C.; GOMES, A. P.
Avaliação dos indicadores zootécnicos e econômicos em sistemas de produção de leite. Revista
de Política Agrícola, v. 24, n. 1, p. 62-73, 2015.

FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations. FAO STAT - Compare Data.
Produção - Pecuária Primária. 2009-2019. Disponível em: <
http://www.fao.org/faostat/en/#compare>. Acesso em: 21 maio 2021.

GASSON, R.; ERRINGTON, A. The farm family business. Wallingford, Cab International,
1993.

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
14
GOULARD, E. A.; LARSSEN, J. E. D.; LUZ, L. M.; ROCHA, M.; BLATT, S. I. LOPES, W.
H.; GUERRA, D.; LANZANOVA, L. S.; SILVA, D. M. Evolução da cadeia produtiva do leite
em dois municípios do Sul do Brasil. Investigación Agraria, p. 117-124, 2021.

HUPPES, C. M.; BIGOLIN, T.; MUHL, J. J.; DE SOUZA, Â. R. L. Análise Custo-Volume-


Lucro para Ponderação de Sistemas de Produção Leiteira. In: Anais do Congresso Brasileiro
de Custos-ABC. 2020

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Pesquisa da Pecuária Municipal,


PPM. 2020. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/ppm/tabelas/brasil/2019>.
Acesso em: 21 jan. 2022a.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo Agropecuário. 2006.


Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/Censo-agropecuario/Censo-agropecuario-
2006/segunda-apuracao. Acesso em: 21 jan. 2022b.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo Agropecuário. 2017.


Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/Censo-agropecuario/Censo-agropecuario-
2017. Acesso em: 21 jan. 2022c.

IPARDES - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (2009).


Caracterização socioeconômica da atividade leiteira no Paraná: sumário executivo.
Curitiba, IPARDES. 29p. 2009.

KISCHENER, M. A.; BATISTELA, E. M.; GRIGOLO, S. C.; BATISTELA, A. C. A


problemática da sucessão geracional na agricultura familiar do Sudoeste Paranaense. Brazilian
Journal of Development, v. 7, n. 1, p. 3490-3508, 2021.

LAMPERT, V. N.; BRUM, L. M. D. L.; DA SILVA, G. M. Análise De Aspectos Produtivos


e Sociais Da Atividade Leiteira Gaúcha E Brasileira. Anais do 10º Salão Internacional De
Ensino, Pesquisa E Extensão – SIEPE. Universidade Federal do Pampa. Santana do
Livramento-RS. 2018. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Luciano-
Brum/publication/329539389_ANALISE_DE_ASPECTOS_PRODUTIVOS_E_SOCIAIS_D
A_ATIVIDADE_LEITEIRA_GAUCHA_E_BRASILEIRA/links/5c0e8b3c4585157ac1b8fd7
7/ANALISE-DE-ASPECTOS-PRODUTIVOS-E-SOCIAIS-DA-ATIVIDADE-LEITEIRA-
GAUCHA-E-BRASILEIRA.pdf. Acesso em: jun. 2021.

LEITE, J. L. B. Caminhos para a produção de leite em pequena escala. Cadernos de Ciência


& Tecnologia, v. 37, n. 2, p. 26756, 2020.

MARCELO DE SOUZA, P.; PONCIANO, N. J.; NEY, M. G.; FORNAZIER, A. Análise da


evolução do valor dos financiamentos do PRONAF-Crédito (1999 a 2010): Número, valor
médio e localização geográfica dos contratos. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 51,
n. 2, p. 237-254, 2013.

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
15
MARCELO DE SOUZA, P.; FORNAZIER, A.; SOUZA, H. M. DE.; PONCIANO, N. J.
Diferenças regionais de tecnologia na agricultura familiar no Brasil. Revista de Economia e
Sociologia Rural, v.57, n.4, p.594-617. 2019.

MEZZADRI, F. P. Prognóstico: Pecuária de Leite. 2020. Disponível em:


http://www.agricultura.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2020-
01/leite_2020_0.pdf. Acesso em: 20 maio 2021.

MILANI, A. P.; SOUZA, F. A. Granjas leiteiras na região de Ribeirão Preto, SP. Revista
Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 30, n. 4, p. 742-752, 2010.

OLINI, L. M. G.; DONADIA, A. B.; DA SILVA, H. M.; ALESSI, K. C.; DE ABREU, D. C.;
DE OLIVEIRA, A. S. Fatores que afetam a rentabilidade da pecuária de leite. Nativa, v. 8, n.
2, p. 295-301, 2020.

RAMOS, M. C.; BARBOSA, J. A. Basic unit cost simulation from free-stall design to dairy
cattle confinement using different construction techniques. Engenharia Agrícola, v. 36, n. 6,
p. 972-983, 2016.

ROSA, J. A.; JÚNIOR, C. H.; LUGÃO, S. N. B.; DE ALMEIDA, E. L. D.; GOBBI, K. F.


Diagnóstico dos Projetos de Irrigação em Áreas Cultivadas com Pastagens em Propriedades
Leiteiras no Paraná. In: III INOVAGRI International Meeting, Fortaleza-CE, 2015.

SABBAG, O. J.; COSTA, S. M. A. L. Análise de custos da produção de leite: aplicação do


método de Monte Carlo. Extensão Rural, v. 22, n. 1, p. 125-145, 2015.

TELLES, T. S.; BACCHI, M. D.; COSTA, G. V.; SCHUNTZEMBERGER, A. M. S. Milk


production systems in Southern Brazil. Anais Da Academia Brasileira De Ciências
(ONLINE), v. 92, p. e20180852, 2020.

TELLES, T. S.; TANAKA, J. M. U. ; PELLINI, T. . Agricultura familiar: pecuária leiteira


como locus das políticas: públicas Paranaense. Semina: Ciências Agrárias (Online), v. 29, p.
579, 2008.

VILELA, D.; RESENDE, J. C. D.; LEITE, J. B.; ALVES, E. A evolução do leite no Brasil em
cinco décadas. Revista de Política Agrícola, v. 26, n. 1, p. 5-24, 2017.

VOLPI, R.; DIGIOVANI, M. S. C. Aspectos econômicos da produção Paranaense de leite,


dados estatísticos e tendências de mercado. Bovinocultura de leite: inovação tecnológica e
sustentabilidade. p.21-36, 2008.

WANDERLEY, M. N. B. Raízes históricas do campesinato brasileiro. XX Encontro Anual da


ANPOCS. Caxambu: 1996.

ZOCCAL, R.; STOCK, L. A. Estrutura da produção de leite no Brasil. Competitividade do


Agronegócio do leite brasileiro, p. 36-57, 2011.

60º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER


08 a 11 de Agosto de 2022 | Natal - RN
16

Você também pode gostar