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T R A V E S S IA

c ORTADORES DE
OS (NÃO) DIREITOS
a NA E

M a r ía A p a r e c id a d e M o ra e s S ilv a *

ostum a-se dizer que, desagregação de muitas culturas, além a situação concreta dos trabalhadores

C
atualmente, se vive uma da perda de muitos direitos conquistados rurais, particularmente, os cortadores
nova ordem social, ou ao longo de m uitas décadas pelos de cana, no estado de S. Paulo, levando-
seja, um novo ordena­ movimentos sociais e pela falência do se em conta não som ente a não
mento da sociedade, tanto Estado em muitos setores. A realidade observância dos direitos trabalhistas
do ponto de vista intemo deste p rocesso, conhecido como como também a não efetividade dos
como das relações inter-sociedades, que neoliberalism o, caracterizado pelo direitos humanos do trabalho, no con­
são estruturadoras da vida das pessoas. predom ínio do capital financeiro, texto da atual fase de desenvolvimento
Nos finais do século XX, debateu-se mostrou que os interesses privados de da produção canavieira, marcada pela
muito a chamada crise dos paradigmas, grandes em presas in tern acio n ais presença de grandes grupos empre­
o fim das certezas e a necessidade de prevaleceram em detrim ento das sariais, nacionais e estrangeiros1.
uma nova concepção de mundo, além condições sociais da grande maioria da As discussões serão articuladas em
dos efeitos do processo de mundialização população, sobretudo os mais pobres, tomo dos seguintes eixos: surgimento e
do capital. as mulheres, os negros, as crianças, os evolução dos direitos humanos; medidas
De início, os avanços tecnológicos, idosos, os indígenas e outras “minorias” adotadas pelas empresas visando ao
marcados pela internet, pelas comu­ sociais e étnicas. No que tange à aumento da produtividade do trabalho;
nicações digitais, foram interpretados cidadania, sabe-se que ela se acha a legislação trabalhista, específicamente
como o novo modus vivendi e, mais articulada aos direitos e, portanto, foi a NR 31 e seu descumprimento; a ação
precisamente, foram vistos como sinais igualmente atingida pelo retrocesso das do MP e MPT, novos sujeitos no
de uma nova era redentora, capaz de conquistas ao longo de muitas décadas, processo de alargamento do campo das
levar o progresso aos mais distintos em várias partes do mundo. contradições entre capital e trabalho.
cantos do globo terrestre. M undos O Brasil, desde os finais da década
isolados teriam, a partir de então, a de 1980, ao ingressar na era neoliberal S urgim ento e
oportunidade de inserção na nova ordem do capitalismo financeiro internacional,
social. Aos poucos, no entanto, estas vem sofrendo as conseqüências
Evolução dos D ire ito s
nuvens in eb rian tes foram sendo impostas por interesses alienígenas, Hum anos
dissipadas. As diferentes realidades relacionados aos fins lucrativos do
revelaram as conseqüências deste m ercado, ao desm onte do parque A questão dos direitos humanos
processo: desemprego, exclusão social, industrial (Biondi, 1999) e ao influxo dos sempre esteve ligada a uma profunda
acirram en to das im igrações direitos sociais dos cidadãos, na verdade, contradição social entre hom em e
internacionais com o aprofundamento dos não cidadãos (Covre, 1986). sociedade, e entre o indivíduo e seus
das discrim inações raciais e sociais Diante desse quadro, objetivo neste demais congêneres. Durante muitos
internas e entre os países pobres e ricos, texto tecer algumas considerações sobre séculos, principalm ente durante o

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período medieval, a Igreja Católica na Declaração Universal dos Direitos existente. O prim eiro passo era a
procurou resolver este conflito por meio Humanos de 1948. “Todos os homens garan tia de hom ens livres para o
da idéia da relação entre homem e nascem livres e iguais em dignidades e trabalho, sem as marcas da escravidão
eternidade, no intuito de diminuir o direitos". Segundo Bobbio (1992, p. e servidão; o segundo, a garantia de uma
interesse do hom em pela vida em 29), esta é uma maneira diferente de igualdade para mascarar as profundas
sociedade, substituindo a sociedade pelo dizer que todos os homens são livres e desigualdades. A igualdade, como
reino de Deus a ser alcançado depois da iguais por natureza. Vale a pena também p rin cíp io , fundam entava-se na
vida transitória na terra (Mbaya, 1997, lembrar a frase de Rousseau: “O homem equalização das mercadorias enquanto
P-17). nasceu livre e por toda parte encontra- valores de troca. Do mesmo modo, os
N a Idade M édia, a sociedade se a ferros”. hom ens deveríam ser equalizados,
achava-se dividida em senhores e servos Na realidade, os homens não nascem abstraindo-se as suas diferenças, a fim
e se caracterizava pela visibilidade das livres nem iguais na sociedade burguesa. de se criar o intercâmbio entre eles, tal
diferenças sociais entre estas duas “São livres e iguais em relação a um como havia no reino das mercadorias.
camadas sociais. Portanto, o artifício nascimento ou natureza ideais, que era Assim foi sendo gestado, em nível
religioso era uma maneira pela qual os precisamente a que tinham em mente os das representações, um conjunto de
pobres - os excluídos do poder e dos di­ jusnaturalistas quando falavam em abstrações, de idéias invertidas sobre a
reitos de que gozavam os dominantes - estado de natureza. A liberdade e nova ordem social prestes a ser
encontrariam o refúgio para suas almas igualdade dos homens não são um dado implantada. A Revolução Francesa foi o
e também o consolo para suas desgraças de fato, mas um ideal a perseguir; não marco político e social por meio do qual
terrenas. Esta situação perdura até a são uma existência, mas um valor; não estes princípios foram universalizados.
Revolução Francesa, quando a burguesia são um ser, mas um dever ser” (Bobbio, Como foi dito acima, estes princípios
toma o poder, destituindo os nobres e a 1992, p. 29). Desta sorte fica evidente instituíram direitos, que não foram
Igreja. Uma das primeiras medidas da a grande contradição existente entre os dados de fato, mas seriam um ideal a
revolução burguesa foi a Declaração dos ideais de liberdade proclamados pelos perseguir. A nova sociedade, criada
Direitos do Homem, por meio da qual ju sn a tu ra lista s e a realidade das pelos princípios revolucionários, ao
eram suprim idas todas as desigual­ sociedades burguesas, erigida sobre as m esm o tem po em que in stituía
dades sociais, sem discriminação de bases da desigualdade social. A grande teoricamente estes princípios, na prática
credo ou cor. “Os homens nascem livres d iferen ça em relação à sociedade negava-os por meio do véu encobridor
e iguais em direitos, e as distinções medieval ou antiga é que, agora, as da id eo lo g ia2. Este processo de
sociais não podem fundar-se senão na d esig u ald ad es são e devem ser encobrimento das desigualdades sociais
u tilid a d e com um . (A rt. I o). Toda mascaradas pela ideologia dominante, só pode ser revelado por meio de um
sociedade política tem por fim conser­ enquanto, naquelas sociedades, a contra-processo de conscientização
var os direitos naturais e imprescritíveis condição de servo ou escravo se social em tomo de lutas e reivindicações.
do homem . E stes direitos são a ancorava na visibilidade, isto é, as E sta tem sido um a das grandes
liberdade, a propriedade, a segurança próprias leis e normas explicitavam as empreitadas das sociedades modernas,
e a resistência contra a opressão (Art. diferenças e desigualdades sociais que, por meio dos distintos grupos
2o). existentes. sociais, tais como, mulheres, pobres,
Um dos princípios básicos desta Muitos autores já se debruçaram negros, crianças, m igrantes, estran­
D eclaração era o de que todos os sobre a análise da cidadania e dos direitos geiros, grupos religiosos e outros, lutam
cidadãos eram iguais perante a lei, e esta (Vieira, 1998; Santos, 1992; Martinez, por direitos idealmente existentes, porém
asse rtiv a era fundam entada no 1996; Covre, 1980; Chauí, 1989). realmente negados.
jusnaturalismo, defendido por filósofos, Portanto não cabe aqui repetir aquelas “A cidadania pode começar p o r
como Rousseau e Locke, e que vão reflexões. O que é importante a ser definições abstratas, cabíveis em
influenciar várias constituições de en fatizado é a form a pela qual a qualquer tempo e lugar, mas para ser
muitos países, inclusive a Declaração sociedade burguesa é encoberta pela válida deve poder ser reclamada. A
Universal dos Direitos do Homem, de ideologia da liberdade e igualdade. Estes metamorfose desta liberdade teórica em
1948, form ulada pela ONU dois princípios, na verdade, foram sendo direito positivo depende das condições
(Organização das Nações Unidas). O erigidos desde o século XVIII pelos concretas, como a natureza do Estado e
jusnaturalismo, em síntese, preconizava ilu m in istas, p rin cíp io s estes que do regime, o tipo de sociedade civil em
que a igualdade dos seres humanos era vislum bravam a construção de uma movimento. E por isso que desse ponto
natural e esta concepção está explicitada outra sociedade, diferente daquela de vista a situação dos indivíduos não

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é imutável, mas está sujeita a retrocessos trabalho controlada pelos donos das Vale a pena insistir que, no decorrer
e avanços” (Santos, 1993, p. 8). empresas, divisão que, cada vez mais, do tempo, há uma evolução tanto dos
Tais reflexões conduzem ao fato de os p a rcelizav a e os definia com o d ireito s com o da cidadania e,
que a prática dos direitos e da cidadania partícipes de um mero ajuntamento de conseqüentem ente, há m udanças
só se efetivará no ato do fa ze r, do executores de um trabalho do qual segundo os países e regiões. Tais
acontecer histórico, isto é, quando as conheciam apenas as partes. Desta sorte m udanças ocorrem em razão das
ações dos diferentes grupos sociais e foi se com pletando o processo de dinâmicas das diferentes sociedades e
mesmo dos indivíduos forem dirigidas alienação, que, ao fim e ao cabo, nada também das lutas e dos movimentos
pela busca da desalienação. Neste ponto, mais é do que indivíduos que mantêm sociais. Por exem plo, no B rasil
também cabem alguns esclarecimentos. entre si uma relação de estranhamento, atualm ente assiste-se às ações do
O que se entende pelo processo de de desconhecimento mútuo. Produz-se, Movimento dos Sem Terra, em razão
alienação? Este conceito foi largamente assim , ainda segundo este autor, a das profundas desigualdades de nossa
estudado por vários pensadores, dentre sociedade do Ter e não a do Ser. Os sociedade, produzidas pela concentração
eles K. Marx3. Sintéticamente, pode-se de renda e riqueza. A luta destes
indivíduos vão deixando de Ser para se
afirmar que a alienação é um processo4 trabalhadores por terra insere-se num
preocupar com o Ter, isto é, vão se
que diz respeito à várias situações e quadro maior de reivindicações por
transform ando em compradores, em
m om entos históricos. Inicialm ente, direitos à saúde, à escola, ao emprego e
consum idores de m ercadorias e
considerando as origens da sociedade ao trabalho, enfim, à inclusão social.
fornecedores de força de trabalho.
cap italista, houve um processo de Podem os aí inserir o exem plo dos
Deste conjunto de reflexões, pode- trabalhadores rurais nos canaviais
e x p ro p riação do cam p esin ato ,
se estabelecer um nexo entre aquelas paulistas. As 17 mortes ocorridas por
principalmente, inglês, por meio das
mudanças das formas de propriedade, citadas anteriormente sobre a ideologia. exaustão no período de 2004 a 2006,
que, ao transformarem as terras dos Indivíduos alienados, envoltos por uma estão sendo in terpretadas como
cam poneses em pastagens para as ideologia mascaradora da realidade, são desrespeito aos direitos humanos, aos
ovelhas, dado que a indústria de tecidos os produtos desta sociedade. Porquanto princípios de dignidade, liberdade e
n ecessitava da m atéria-prim a (lã), os indivíduos não são m eram ente segurança.
pro v o caram a form ação de um produtos sociais, eles são tam bém Os contratos legais das sociedades
contingente de pessoas sem eira, nem produtores de script, estando neste capitalistas estipulam regras para a
beira, cuja única saída foi a migração contexto, a luta pelos direitos e pela exploração da força de trabalho dentro
para as cidades em busca de trabalho cidadania. O significado pleno de de lim ites que possam g aran tir a
nas indústrias. Num segundo momento, cidadania se alia aos direitos a serem reprodução da força de trabalho e a
estes cam poneses que perderam as conquistados e também aos deveres. A continuidade da presença do trabalhador
terras, os instrumentos de trabalho, já cidadania, portanto, tem um pé fincado no mercado laborai, enquanto vendedor
transformados em operários, passaram nos direitos e o outro, nos deveres. da mercadoria que lhe pertence, que é
a sofrer um outro processo de perda, Quais seriam estes deveres? “Ser o sua força de trabalho. No momento em
identificado pela negação de seus (cidadão) o próprio fom entador da que estes limites são desrespeitados, as
saberes. A industrialização, iniciada com existência dos direitos a todos, ter regras do contrato, que pressupõe
as manufaturas, exigia um conjunto de responsabilidade em conjunto pela pessoas livres juridicamente, deixam de
trabalhadores não correspondentes coletividade, cum prir as normas e operar, e, conseqüentemente, a noção
àquele dos c a m p o n e se s-a rte são s5. pro p o sta s elaboradas e decididas de liberdade é questionada. Portanto, os
Foram obrigados a exercer um outro coletivamente, fazer parte do governo, direitos humanos, definidos por sua
tipo de trabalho, além de a obedecer às direta ou indiretamente, ao votar, ao universalidade, garantidores da condição
ordens de mestres e contra-m estres, pressionar através dos movimentos da liberdade civil, são tam bém
portanto, passaram a ser subordinados sociais, ao participar das assembléias colocados em xeque. Nesse momento
no ato do trabalho. Pouco a pouco - no bairro, sindicato, partido ou escola. caem as máscaras da liberdade civil,
foram se transform ando em m eros E m ais: p re ssio n a r os governos pondo à m ostra, uma situação não
fornecedores de força de trabalho, sem municipal, estadual, federal e mundial condizente com a ideologia da sociedade
terem o dom ínio do p ro cesso de (em n ív e l de grandes organism os capitalista, pautada na liberdade e na
produção e sem conhecerem as in tern a cio n a is como o Fundo igualdade, contrária à escravidão. Um
diferentes etapas deste processo, dado Monetário Internacional- FMI (Covre, escravo é d iferente de outros
que foram inseridos numa divisão do 1991, p.9). trabalhadores porque é, legalmente,

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propriedade de um senhor. Um escravo 0 Estado, instância situada acima dos direitos trabalhistas e humanos. Vale a
não é uma pessoa, mas uma coisa, uma indivíduos. Os exemplos históricos pena acrescentar que o estado de S.
res, um a m ercadoria que pode ser revelam que a intervenção do Estado se Paulo é o maior produtor de cana do
comprada ou vendida, como qualquer faz no contexto das lutas sociais, das país e também aquele onde os níveis de
outro bem. O trabalhador assalariado, reivindicações das classes subalternas6. produtividade são os maiores. Assim
como vimos, é juridicam ente livre e Em nosso entender é deste contexto sendo, em 2003, do total da área de cana
civ ilm en te igual; ele p articip a de reflexões que faz parte a situação dos do país - 5.377.216 ha - , havia no
voluntariam ente de um contrato de trabalhadores rurais nos canaviais estado de S. Paulo, 2.817.604 ha,
trabalho e em troca recebe um salário. paulistas. Quando as notícias das mortes portanto, m ais da m etade da área
“0 contrato de trabalho exemplifica por exaustão vieram à tona, graças às plantada, enquanto a produtividade
a liberdade individual de dispor de sua denúncias da Pastoral do M igrante média do país era de 73.731 Kg/ha, em
propriedade como ele, e somente se ele (Guariba), não somente representantes S. Paulo, estes valores eram de 80.913,
a char co n veniente. O contrato é, instituídos dos direitos hum anos - segundo dados do IBGE.
portanto, essencial para o trabalho Promotoria Pública - como também
voluntário” (Pateman, 1993, p. 100,
grifos da autora).
representantes da sociedade civil, Com o se form a
reivindicaram tom adas de m edidas
No entanto, o contrato institui o contra as práticas atuais de exploração um bom cortador
trabalhador como subordinado de seu da força de trabalho, agora não mais
patrão, dado que este o orienta em seu traduzidas em termos de extensão da jor­ de cana
trabalho. Por outro lado, um patrão não nada de trabalho - mais valia absoluta -
é exatamente um senhor de escravo. O mas da intensidade desta exploração - O aumento da exigência dos níveis
patrão possui direitos limitados e não mais valia relativa - . O crescimento de pro d u tiv id ad e foi m ais ainda
direitos absolutos, como os senhores de gigantesco dos níveis de produtividade incentivado pelo chamado Programa
escravos (Pateman, op, c it,, p, 102). A pode ser visualizado por meio das “Cana Limpa”, que é um conjunto de
liberdade não é aqui entendida como seguintes cifras: em 1980, a média normas que visam à melhoria do corte
fazer o que se quer, porém a liberdade exigida no corte da cana girava em tomo da cana, por meio de novos métodos,
de se submeter de maneira desejada, de 6 a 8 toneladas diárias; na década de sem alteraçõ es dos padrões
estipulada no contrato, no caso dos 1990, estes números passam para 10 e tecn o ló g ico s, cujos efeito s são
trabalhadores e, no caso dos patrões, a partir de 2000, para 12 a 15 toneladas! traduzidos em maiores dispêndios de
isso pressupõe o respeito a estes limites, No que tange aos salários, cálculos do energia pelos trabalhadores. Tais normas
sendo um deles o uso da força de Sindicato de Trabalhadores Assalariados foram elaboradas pelo SEÑAR (Serviço
trabalho por um tempo determinado e de Bebedouro mostram que antes de de Aprendizagem Rural), órgão ligado à
não todo o tempo. Pateman (op. cit), 1988, o piso salarial correspondia a 2,5 entidade patronal FAESP (Federação da
cita a este respeito uma interessante salários mínimos. Em seguida, estes Agricultura do Estado de São Paulo),
passagem de Hegel: valores caíram para um pouco mais de “(...) que tem como objetivo, organizar,
“Posso delegar (a alguém) o uso de 1 salário mínimo (R$ 410,00 em 2006)7. administrar e executar em todo estado
minhas habilidades por um período A fim de aprofundarm os a de São Paulo, o ensino da formação
lim itado, porque, baseado nesta com preensão dos níveis desta profissional e da Promoção Social
limitação, minhas habilidades adquirem exploração, faremos primeiramente uma Rurais dos trabalhadores e pequenos
uma relação de exterioridade em relação exposição sobre os m étodos p rodutores rurais que atuam na
à totalidade de meu ser. Ao alienar todo empregados nos últimos anos pelas produção primária de origem animal e
o meu tempo, tal como cristalizado em usinas para aumentar ainda mais os vegetal, na agroindústria, no
meu trabalho, e em tudo que produzo, níveis de produtividade, sem promover extrativismo, no apoio e na prestação
estaria transformando em propriedade alterações nos padrões tecnológicos, de serviços rurais” (SEÑAR, 2004, p.
de outro a essência de meu ser... a minha para, em seguida, analisarmos as regras 5).
personalidade” (Hegel, 1952, p. 67, instituídas pelo Ministério do Trabalho A Formação profissional, segundo a
apud Pateman, p. 217). e Emprego (NR31) para disciplinar o cartilha produzida por este órgão, visa,
Quem, no entanto, possui poderes am biente do trab alh o , g a ra n tir a sobretudo, ao aumento da produtividade,
para fiscalizar estes limites do tempo reprodução desta força de trabalho em por meio da melhoria da qualidade do
estip u lad o s nos co ntratos das condições minimamente compatíveis corte, da eliminação do chamado “mau
sociedades modernas? Em princípio é com as normas universalizantes dos cortador de cana”, daquele que realiza

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pequenas resistências ao sistema de transportadas para a moagem, o que N a cartilh a, há um a ênfase no
exploração imposto. A título de exemplo, implicaria em elevação dos custos de tocante ao corte rente ao solo, dado que
citamos alguns pontos do conteúdo da transporte, maiores gastos com água e em caso contrário, as perdas seriam para
Cartilha de Formação profissional: comprometimento do teor de sacarose, a empresa e para ps trabalhadores. As
♦ O profissional do corte da cana já que seus m aiores índices estão perdas para a empresa seriam: menor
está relacionado a uma etapa da colheita concentrados na base da planta e não produção, riscos de ataques de pragas
que define padrão de qualidade da nos ponteiros; ou doenças e perda da sacorose. Para
matéria-prima (p. 24); • Realização de um corte perfeito, os co rtad o res, as perdas seriam :
♦ C orte bem feito sig n ific a cuja execução deve seguir os seguintes presença de toco seco, responsável pela
preservação das soqueiras, pois a cana preceitos (p. 47 e ss): diminuição da produtividade na próxima
rebrota várias vezes, o que é essencial • Corte da cana em pé: o cortador safra; necessidade de repasse da área
para elevar a produtividade e a produção deve tra b a lh a r em sistem as de mal cortada; maiores desgastes da lima
(P, 25); “braçadas” trazendo o feixe de cana para e do podão; maior esforço físico; perda
♦ Uso o b rig a tó rio dos EPIs junto de seu corpo. Em seguida inclina- de tempo e risco de sofrer punições.
(equipamentos de segurança individuais) se e realiza o corte rente ao solo, Quanto ao corte dos ponteiros, as
(P. 27 e ss); evitando assim o “toco alto”; exigências são m uitas, porque, ao
♦ Os EPIs relacionados são: boné • Corte da cana deitada ou caída ou contrário da base, é uma parte da cana
com abas ou chapéus, toca árabe, cana de rolo: o cortador deve redobrar com o mínimo teor de sacarose. Além
óculos, luvas, m angotes, perneiras os cu idados, pois não é possível do custo do transporte, caso não sejam
simples e com joelheiras, botinas com “abraçar a cana”, o que pode ocasionar descartados, há o aumento do teor de
pontas ou biqueiras de aço e aventais toco alto, picação de cana ou desponte fibra e a diminuição do ATR (Açúcar
ou saiotes. Em seguida há as explicações inco rreto . No entanto, não há na total recuperável).
das funções de cada um desses c a rtilh a , inform ações sobre os • A limpeza dos eitos. Além do corte
equipamentos (p 28-33); procedimentos em caso de cana deitada. perfeito, há a necessidade de deixar o
♦ O rientação sobre o uso das Como fazer para levantar a cana e eito limpo, para melhorar a qualidade da
ferramentas de trabalho: podões, limas
abraçá-la? Aí reside mais uma fonte do matéria-prima, diminuindo as impurezas
para amolar as lâminas (p. 34-41); Em
dispêndio de energias. Assim sendo, o materiais e vegetais. Assim sendo, os
relação a este item, há vários tipos de
Sindicato de Cosmópolis desenvolveu ponteiros devem ser afastados das
podões, tais como: de cabo curto, de
um método capaz de diminuir um pouco bandeiras (montes) e das esteiras por,
cabo com prido, de cabo torto, com
este desgaste. O cortador leva consigo no mínimo 80cm. (p. 52);
lâmina ou folha reta e com folha torta.
o gancho, um instrumento de madeira, • Modalidades do corte. Após o corte,
Em se tratando dos facões de cabo
preparado por ele mesmo, que substitui, como devem ser dispostas as canas para
curto, segundo rela to s dos
na verdade, os movimentos com as facilitar a ação dos guinchos? Há dois
trabalhadores, eles precisam aumentar
a inclinação do corpo durante o corte, pernas para alinhar a cana para o corte sistemas:
mais um agravante do sofrimento no dos ponteiros, caso estes não sejam V Canas esteiradas: trata-se do
trabalho. Para burlar esta imposição, há retirados antes de serem lançados nas sistema de dispor as canas tendo como
uma forma de resistência produzida no leiras. A experiência adquirida durante o referência a rua do meio do eito ( a
eito que é a troca de cabos do podão tempo de trabalho leva à criação de metade da cana na 3a. rua para eitos de
pelo próprio trabalhador. As usinas, na estratégias que visam à diminuição do 5 ruas e na 4a. para eitos de 7 ruas). As
busca do aum ento desenfreado de sofrimento no trabalho. Assim sendo, o canas devem ser alinhadas
lucros, fornecem podões com cabos gancho, como invenção resultante da homogéneamente ao longo do eito. Caso
menores, a fim de diminuir os custos experiência laborai, acaba sendo um contrário, elas escorregam durante o
com os instrumentos de trabalho. m ecanism o de resistê n c ia do tra ­ carregamento, aumentando desperdícios
♦ A qualidade da matéria-prima, balhador. Este instrumento ameniza as e bitucas (pedaços de cana caídos
segundo as exigências do mercado será dores nos braços e nas costas e evita o durante o carregamento). As pontas
conseguida basicamente nesta etapa do agravamento das dores nas pernas. O devem ser voltadas para o lado do
corte. Para isso é preciso: gancho não consta, po rtan to , das cortador, a fim de diminuir seu esforço.
♦ reduzir as im purezas m inerais normas relativas aos equipamentos ou A operação de carregam ento exige
(terra) e vegetais: palha, folha e pontas instrumentos que visam à capacitação muitos cuidados e seu sucesso depende
de cana, evitando assim que sejam dos trabalhadores. da disposição das canas nas leiras.

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V Canas am ontoadas ou em ban­ traz prejuízos, tais como: aumenta o é a incorporação de mais 50 mil. Vale a
deradas. Neste sistema, as canas são desperdício de matéria-prima, prejudica pena notar que na cartilha, há menção à
colocadas nos montes. As canas são a brotação, aum enta o serviço dos valorização do trabalhador, na medida
cortadas e os ponteiros devem estar bituqueiros. T rata-se de uma ação em que fazendo um corte bem feito, ele
sempre voltados para o mesmo lado. A passível de punições e advertências. se transforma num profissional, capaz
distância entre os montes varia de 1,5 a Jacaré, teimosa ou cana mamando. de receber premiações como bicicleta e
3 m.. Além disso, devem ser limpos as Trata-se da cana não cortada, somente eletrodomésticos, caso siga as regras
laterais e os intervalos entre os montes tombada com a botina e escondida sob do curso de formação.
im pedindo que as impurezas sejam as canas amontoadas nas esteiras ou Os preceitos para a formação do
carregadas pelos guinchos. bandeiras. Os prejuízos são os mesmos, bom cortador de cana fazem parte do
além do arranquio das so queiras, contrato de trabalho, que, segundo as
impedindo a rebrotação. reflexões acim a, é im posto aos
A çõ es dos m a u s Telefone. Trata-se da ação de não trabalhadores. Estas normas instituem
cortar um a ou duas ruas de cana, o trabalhador como subordinado da
cortadores: a voltando depois de mais ou menos 40 empresa, dado que esta o orienta em seu
r e sistê n c ia m para igualar o eito. Esta prática trabalho, definindo-lhe as regras precisas
possibilita a repicagem de ponteiros ou durante a execução das tarefas relativas
m iúd a8 pés na esteira ou nos m ontes, ao ato de cortar e carregar a cana. Por
provocando perda de produção. outro lado, trata-se de um trabalho
A intensidade do trabalho, aliada ao Baião-de-dois9. Consiste no corte da parcelado, alienado, pois o cortador não
controle de fiscais e feitores, acabam cana por dois trabalhadores num mesmo participa da organização e desconhece
por produzir o bom cortador de cana, eito. Esta prática proibida (porque as demais fases do processo produtivo.
cujo corpo disciplinado, domesticado, desalinha a cana nos montes) pode ser, Além do mais, os níveis de produtividade
repete sucessivamente movimentos de no entanto permitida, quando interessa são conseguidos por meio de maior
inclinar-se, levantar-se, lançar a cana, à empresa: nos casos de necessidade de esforço despendido, sem, contudo
alinhá-la, limpar as impurezas ao redor liberar a área, quando há falta de haver aumento de salário, já que o preço
dos montes, logrando assim o corte matéria-prima para a moagem, ou no é pago por tonelada cortada, segundo o
perfeito, essencial para a qualidade da final do horário de trabalho, para igualar método adotado do campeão. Portanto,
matéria-prima, da diminuição dos custos os eitos ou terminar o corte de uma certa por detrás da ideologia da valorização
de produção e aumento dos lucros da área. do trabalhador, agora transformado em
empresa. O eito, portanto, é um espaço Segundo as orientações contidas no profissional do corte, esconde-se mais
extremam ente importante da cadeia manual de capacitação dos profissionais uma forma perversa de extração do
produtiva do açúcar e álcool. Neste do corte da cana, o sucesso da fase sobretrabalho, sem custos para as
momento, valería a pena observar que, seguinte ao corte, a do carregamento, empresas.
apesar das exigências im postas, a depende do corte bem feito, a fim de se No entanto, em razão dos critérios
resistência miúda ocorre nos poros do e v ita r os p reju ízo s referen tes ao im postos, vários depoim entos
sistema de dominação e exploração, transporte de ponteiros, palhas e outras demonstram que este montante é muito
denominadas na cartilha, de ações não impurezas, detectados no momento da maior, pois o cálculo da produtividade é
desejáveis no corte manual (p. 55). análise do Laboratório do Pagamento de feito a partir da transformação do metro
Picação de cana. Trata-se do corte Cana. em toneladas. Ou seja, a partir de
dos ponteiros após serem lançados aos Notícias recentes veiculadas pelo cálculos aleató rio s, a paridade é
m ontes, ação que aum enta a JornalCana10revelam que este curso de estabelecida em, por exemplo, X metros
produtividade do trabalho, mas implica capacitação tem alcançado seus = X toneladas. Este sistema é chamado
em perdas para as empresas, já que prin cip ais o bjetivos. A lém da “campeão”, que consiste no seguinte:
muitos ponteiros acabam não sendo participação cada vez mais crescente antes do corte, um técnico da usina
cortados e levados para a moagem, das usinas in teressad as por este recolhe três amostras de cana de cada
resultando em perdas, como já vimos programa, os resultados apontam para talhão (área plantada). Estas canas são
em linhas atrás. a redução em até 70% das impurezas levadas para a usina e pesadas. A partir
Cama de gato ou cambalacho. São da cana. Desde 2004, data de sua daí são fixados os valores
as canas não cortadas, escondidas em implantação, o programa já capacitou correspondentes de metros e toneladas,
baixo dos montes ou esteira. Esta ação 110 mil cortadores e em 2007, a previsão segundo estim ativas baseadas nas

Travessia / Maio - Agosto / 08-31


amostras colhidas. Entretanto, apesar agrotóxicos, das medidas relativas à que eles haviam sido aliciados por
dos critérios científicos e técnicos terem alimentação nos locais de trabalho, das pessoas ligadas à empresa em suas
aperfeiçoado as variedades de cana - m edidas em caso de acidentes de cidades de origem13.
cada vez mais visando ao aumento do trabalho, do fornecim ento de água, No Relatório da segunda Audiência
teo r de sacarose as canas não barracas sanitárias, das moradias, enfim Pública, presidida pela Dra. Cândida da
possuem o m esm o peso, nem se dos direitos relacionados ao ambiente de Costa a situação encontrada é assim
encontram da m esm a form a no trabalho. descrita:
momento do corte. Há canas deitadas, No final do ano de 2005, em razão
em p é, trançadas, as quais exigem das denúncias das mortes ocorridas por O turno de trabalho começa
diferentes esforços dos trabalhadores11. exaustão, encaminhadas inicialmente ao diariamente às 05h30 minutos, sem hora
Em suma, a imposição da média, Ministério Público, realizaram-se as duas prevista para terminar. Durante a
aliada a estas estratégias adotadas pelas primeiras Audiências Públicas na cidade jornada de trabalho, os trabalhadores
empresas no sentido de profissionalizar de Ribeirão Preto/SP, chamadas pela são obrigados a cortar a cana o tempo
inteiro, sem direito a pausa para
o cortador de cana, lograram o aumento Procuradoria Geral da República de São
descanso, parando para almoçar e sendo
da produtividade do trabalho, sem, Paulo, Plataforma DHESC - Plataforma
obrigados pelo chefe da turma a retomar
contudo, aumentar o preço da força de B rasileira de D ireito s H um anos
o corte imediatamente, ação legalmente
trabalho. Este fato é um dos indicadores Econôm icos, Sociais e C ulturais -
proibida, uma vez que a legislação
dos gigantescos lucros auferidos, que DHESC Brasil, com apoio institucional trabalhista vigente determina como
podem ser comprovados pelo Grupo do Programa de Voluntários das Nações intervalo mínimo para almoço, o período
Cosan, m aior produtor de açúcar e Unidas (UNV/PNUD) e da Procuradoria de uma hora e máximo de duas,
álcool do país, que, no ano de 2006, Federal dos Direitos do Cidadão - PGR/ constituindo-se a obrigatoriedade de
obteve uma receita líquida de mais de MPF. retomada do trabalho imediatamente
dois bilhões e quatrocentos milhões de pelo trabalhador, numa violação do
Alguns excertos dos relatórios destas
reais (Dados acessados a partir do site dispositivo legal em vigor. Chegam a
duas au d iên cias atestam o não
www.cosan.com .br) cortar até 600 metros de cana por dia, o
cum prim ento das Regulam entações
que seria equivalente a R$30,00 diários.
contidas na NR 31:
A empresa fornece as ferramentas, botas
A NR 31 Durante a visita ao alojamento de
trabalhadores migrantes, dentro da
e luvas. As roupas utilizadas no corte da
(N orm a R e g u la m e n ta d o r a cana são compradas por conta própria,
propriedade da Usina Bonfim, foram
de S eg u ra n ça de S aú d e no não há o fornecimento de máscaras nem
obtidas as seguintes informações e
de óculos, o que obriga os trabalhadores
T rabalho na A gricu ltu ra, constatados os seguintes fatos:
a inalar a fuligem da cana queimada, e
P ecu á ria , S ilv ic u ltu r a , Foram encontrados no alojamento os
também a não proteger os olhos do
E xp loração F lo r e sta l e trabalhadores (cerca de 40) que se
contato com a fuligem e as partículas de
A q ü ic u ltu r a )12. encontravam defolga no dia 04, segundo
cana.
o rodízio 5 por 1.
As condições do alojam ento se Nas frentes de trabalho do Grupo
Esta Norma Regulamentadora tem
aproximam a de uma prisão. Em cada Cosan não há ambulância nem
por objetivo estabelecer preceitos a
quarto existem 3 ou 4 camas. Os cômodos trabalhador treinado e material de
serem observados na organização e
não têmjanelas e as portas se abrem todas primeiros socorros para ser usado em
ambiente do trabalho, de forma a tomar
para um corredor interno. A área onde é caso de acidentes ou adoecimento de
co m patível o plan ejam en to e o trabalhadores durante o turno de
feita a lavagem dos utensílios de trabalho
desenvolvim ento das atividades da é a mesma onde se lavam as marmitas e trabalho. Caso algum trabalhador seja
ag ricu ltu ra, pecuária, silv icu ltu ra, onde se obtém água para consumo acidentado ou adoeça no local de
exploração florestal e aqüicultura com individual. A presença de funcionários trabalho tem de ser transportado pelo
a segurança e saúde e meio ambiente do da empresa, durante todo o tempo em que ônibus da Usina para a unidade de saúde
trabalho (NR 31, p .l). Esta Norm a estivemos no alojamento fo i intensa, mais próxima, entretanto, o município
estabelece como principal direito dos tentando impedir o acesso livre aos mais próximo do alojamento fica a duas
trabalhadores, ambientes de trabalho trabalhadores. horas de viagem. A inexistência de
seguros e saudáveis. D isciplina os A maior parte dos trabalhadores no materiais médicos de primeiros socorros
cuidados relativos ao uso de EPIs, alojamento era de Minas Gerais Foram des cumpre a determinação do artigo 168,
tra n sp o rte de tra b a lh a d o re s, dos recebidas denúncias de vários parágrafo 4o. e artigo 169, ambos da
in stru m en to s de tra b a lh o , dos trabalhadores presentes no alojamento, Consolidação das Leis Trabalhistas.

32 - Travessia / Maio - Agosto / 08


a) No alojamento Jibóia, as condições Lourenço, da Usina Cosan Costa Pinto, M óvel de F iscalização R ural do
de alojamento são precárias, em cada em Charqueada, entraram em greve em M inistério do Trabalho e Emprego
quarto existem quatro camas, e quatro razão das más condições de trabalho e (MTE) em São Paulo, iniciou no dia 12
armários de aço, nos quais os traba­ de moradia. Segundo o relatório da de fevereiro uma nova série de ações de
lhadores guardam seus pertences, e como Pastoral do Migrante/Guariba, havia fiscalização para com bater irregu­
o espaço é insuficiente, expõem-nos trabalhadores acidentados, com cortes laridades trabalhistas nas lavouras de
também no chão, sobre as camas, e no joelho, sem receber atendimento, cana-de-açúcar no interior paulista.
suspendendo-os pelas paredes. Cada sem contar as reclamações acerca da Os Procuradores José Fernando
quarto conta apenas com uma janela Ruiz Maturana e Luis Flenrique Rafael,
alim entação, m uitas vezes, já
pequena, as portas de todos os quartos
deteriorada, em função do calor. As do Ofício de Bauru da Procuradoria
apontam para uma mesma porta, estreita,
condições de moradia eram bastante Regional do Trabalho da 15a Região,
que em caso de emergência (incêndio,
precárias, havendo fossas exalando mau acompanharam os auditores fiscais do
por exemplo) impossibilitaria a fuga dos
cheiro e banheiros localizados distantes MTE e constataram irregularidades no
trabalhadores, colocando todos em risco.
Os banheiros localizados próximos ao do alojamento. As consultas médicas plantio de cana em várias lavouras da
quarto não contam com chuveiro, contam eram pagas (R$ 15,00), sem contar a região. O principal problema encontrado
apenas com uma pia pequena e um vaso existência de bar no alojamento, cujos foi a terceirização (e quarteirização)
sanitário com descarga, os banhos são preços das mercadorias eram superiores frau d u len ta de m ão-de-obra,
realizados em uma área coletiva com aos demais locais, o que confirma a velha considerada pelo MPT a maior causa
vários chuveiros. prática do barracão. Ainda, segundo o da precarização nas relações do trabalho,
b) As refeições são realizadas em um relatório, os trabalhadores precisaram além de irreg u larid ad es no m eio
refeitório existente no local, próximo à cortar cana de 7 ruas e são pagos por ambiente de trabalho (falta de reposição
cozinha, em horário fixo, entretanto, os metro de cana cortada no valor de R$ de Equipamentos de Proteção individual
trabalhadores organizam-se para fazer 0,06, sendo que conseguem cortar em - EPIs - excesso de jo rn ad a, não
as refeições sem interferência da média, de 80 a 120 metros. Os que cumprimento de pausas para descanso,
administração local. Contam com uma reclamam são ameaçados de sofrerem sanitários inadequados, falta de abrigos
nutricionista que freqüenta o local em represálias, ficarem de gancho, isto é, para as refeições, falta de exame médico
dias alternados verificando se a dieta impedidos de trabalhar por alguns dias. adm issional, transporte irregular e
alim entar recom endada para os No dia 03/11/2006, fizeram um a alojamentos precários), e nos contratos
trabalhadores tem sido cumprida caminhada até a sede da usina. No dia de trabalho e forma de pagamento.
corretamente, embora alguns traba­ seguinte, no entanto, foram surpre­ E xistem aproxim adam ente 148
lhadores afirmem que a qualidade da endidos pela presença de policiais procedim entos ativos na PRT 15a
comida não seja muito satisfatória. Há arm ados, que tra n sfe rira m 40 envolvendo usinas de cana-de-açúcar.
uma espécie de lavatório para os copos, trabalhadores para outro alojamento, As diligências em 2006, realizadas de
onde eles retiram a água da torneira para
cujo local não foi dito aos que ficaram. maio a dezembro, percorreram lavouras
beber, pois a usina não disponibiliza
A dem ais deste ato de vio lên cia, de todo o Interior de São Paulo. Mais
água filtrada para os trabalhadores;
praticado pelo poder policial, três deles de 140 empresas foram fiscalizadas e
c) O local onde lavam as roupas e receberam documentação com mandato autuadas, entre elas, 71 usinas de cana
utensílios usados no trabalho fic a de Interdito Proibitório, com prazo de localizadas em 11 regiões - Piracicaba,
localizado na parte traseira de cada
15 dias para recorrerem. Esta ação ainda Ribeirão Preto, Franca, São José do
quarto, um pequeno lavatório composto
se com pletava com a am eaça de Rio Preto, Araçatuba, Araraquara, Bauru,
por uma pia com torneira, em precárias
pagamento de multa no valor de R$ P residente P rudente, São C arlos,
condições de higiene. Próximo a cada
lavatório há uma fo ss a sanitária, 3.000,00 diários!15 Campinas e Barretos. Todas as empresas
algumas com a tampa danificada ou até No m ês de fevereiro de 2007, fiscalizad as apresentaram irre g u ­
cobertas com pedras, o que não portanto, antes do início da safra, novas laridades. Foram firmados 36 Termos
proporciona o isolamento completo dos fiscalizações nos canaviais durante a de Compromisso de Ajustamento de
dejetos. E próxim o a essas fo ssa s fase do p lantio, realizad as pelos Conduta (TAC), entre meio ambiente de
sanitárias que se encontram os varais Ministério Público do Trabalho (MPT) trabalho, aliciam ento, terceirização,
para colocação das roupas lavadas para e Ministério do Trabalho e Emprego contrato de trabalho e norma coletiva.
secar ao sol'4. (MTE) detectaram os seguintes fatos: Dezenas de ações civis públicas
No mês de novembro de 2006, 208 O Ministério Público do Trabalho foram ajuizadas, e quatro conseguiram
trab alh ad o res do A lojam ento São (M PT), em conjunto com o Grupo liminares. A fiscalização nos canaviais

Travessia / Maio - Agosto / 08 - 33


totalizou mais de 600 autos de infração O estado de São Paulo é o principal As contradições cada vez m ais se
lavrados pelos auditores fiscais do MTE. produtor de açúcar e álcool do país, acirram não som ente em razão da
Este ano as fiscalizações foram concentrando as maiores empresas que situação dos trab alh ad o res como
antecipadas para permitir uma melhor em pregam tecnologias avançadas, também em razão de outras questões
cobertura de todas as atividades do setor graças ao desenvolvimento científico universais que englobam vários setores
canavieira, desde o plantio, transporte (biotecnologia e bioquímica) relacionado da sociedade, além da classe dos
e alojamentos de migrantes que estão à descoberta de novas variedades de trab alh ad o res. Na realid ad e, hoje
chegando para a safra de 2007, até o cana, ao aproveitamento do bagaço de assistimos ao alargamento do campo
final da safra, no final do ano16. cana para a produção de etanol18 e das contradições, do qual participam os
E stes fatos dem onstram dois avanços na produção de m áquinas d efensores dos direito s hum anos
aspectos im p o rtan tes para nossas utilizadas em diversas fases da colheita. (sociedade civil e MP) e do meio
reflexões: o descumprimento da NR 31 Graças a isso, o país tem chamado a ambiente. Portanto, acreditamos que a
e a não efetividade dos preceitos de atenção de grandes empresas nacionais universalização da produção capitalista
valorização do trabalhador contidos no e internacionais que investem somas e dos métodos de exploração e exclusão
Programa Cana Limpa, que prevê várias gigantescas na compra ou na instalação corresponde à em ergência da par­
recomendações de saúde, educação e de novas usinas em várias regiões do ticipação de outros sujeitos sociais em
meio ambiente, tais como água potável, país, além de m uitos governantes lutas que, até então, eram circunscritas
tra n sp o rta d a em galões térm ico s, estrangeiros interessados em parcerias a determ inadas p articu larid ad es
marmitas térmicas para evitar que a para ampliação da produção do etanol, históricas. Desta sorte as ações do MP,
alimentação se deteriore em razão do visto neste momento como uma das do MPT, alguns Jornais e TVs, pesqui­
calor, cuidados com os prim eiros alternativas para a solução energética sadores, estudantes de universidades e
socorros, em caso de acidentes de mundial19. ONGs (algumas delas com vinculação
trabalho, além de orientações sobre o No entanto, estes avanços não são internacional) nas lutas envolvendo a
uso de barracas sanitárias e ainda a acom panhados de m elhoria das exploração dos trabalhadores rurais se
preservação do meio ambiente, por meio condições dos trabalhadores. Muito ao constituem como um fato novo deste
do respeito às áreas de preservação contrário. Podemos estabelecer uma processo, pondo em relevo não somente
perm anente (A PPs). O utro dado relação entre, de um lado, o avanço o descum prim ento da legislação
im portante a reter é que qualquer científico, tecnológico, lucros expo- trabalhista como também a negação dos
manifestação coletiva não é interpretada nenciais e, de outro, o rebaixamento do direitos humanos universais20.
como direito dos trabalhadores, mas, ao preço da força de trabalho, o aumento Neste embate, estes sujeitos não só
contrário, é passível de violência policial da precariedade das condições de se fazem presentes, como também
e ameaças judiciais, o que configura o trabalho e de moradia, dos níveis de possuem poderes, em bora d ife ­
c a rá ter d esp ó tico da em presa, intensificação da exploração e do renciados, capazes de redirecionar os
co n sid erad a a m aior do setor aviltamento dos direitos trabalhistas e antagonismos, por meio de pressões em
sucroalcooleiro do país. humanos. tomo da obediência às normas legais,
Durante todo o ano de 2006, foram Nossa análise não interpreta esta impondo, portanto limites à voracidade
veiculadas pela imprensa e também pela realidade como paradoxo, mas como destes capitais e exigindo do Estado a
m ídia televisiva, inúm eras notícias necessária aos níveis de acumulação regulação das relações de trabalho, indo
referentes às condições precárias dos mundializada. Cada vez mais, assistimos de encontro à desreg ulação e
alojamentos de trabalhadores migrantes ao desmonte do poder de resistência dos flexibilização impostas pelo capitalismo
nas cidades e nas áreas de cana, ao trabalhadores em várias partes do mundializado. No entanto, as ações de
desrespeito à NR 31, às queimadas de mundo, sem contar o retrocesso dos outros órgãos do estado, tais como os
cana e seus efe ito s n o civos às direitos sociais, trabalhistas e humanos. M inistérios de Minas e Energia, da
populações urbanas e rurais e também O etanol produzido no Brasil possui os Agricultura, além de bancos estatais, do
às fiscalizações desempenhadas pelo m enores custos e, portanto, é um poder executivo e dos lobbies de
MPT e MP.17 produto que possui um grande poder de inúmeros parlamentares correspondem
concorrência nos mercados mundiais cada vez mais aos interesses das grandes
empresas nacionais e estrangeiras.
C on sid era çõ es (U$ 0,33 o litro de álcool, enquanto nos
EUA, o litro de etanol, advindo do milho, D iante deste cenário, nos resta
fin a is custa U$ 0,43). acreditar na utopia redentora de W.
No entanto, este processo não é linear Benjamin, que consiste em desmistificar

34 - Travessia / Maio - Agosto / 08


a h istó ria vista com o p ro g resso , 4 - A idéia de processo envolve as controle sobre o eito igualado, isto é, de
representado como uma tempestade, mudanças, as contradições, os conflitos todo o eito, e não apenas de algumas
durante um tempo determinado. partes, segundo o processo de
por meio de um olhar marcado por uma
5 - Este momento de transição da amostragem descrito anteriormente.
dor profunda e in consolável, mas Ademais, foi desenvolvido um software
sociedade rural para a urbana, da
também por uma profunda revolta moral para computador - colocado na usina -
transform ação do cam pesinato em
(Lõwy, 2005, p. 90 e ss). operariado, no caso inglês, foi marcado capaz de controlar o peso da cana
por um intenso processo de disciplina e proveniente de todos as quadras
* M aría A p a recid a de M oraes Silva
controle. Na França, tais transformações (talhões), sob a fiscalização do sindicato.
é P r o fe s s o r a liv r e - d o c e n te d a ocorreram mais tarde, no final do século Segundo a sindicalista, os cálculos,
UNESP; C o la b o r a d o r a d o PPG / XIX. Em ambas as realidades históricas, advindos deste método, apontam para
G e o g ra fia /U N E S P /P P e d o PPG/ a educação foi proposta para propiciar a cifras muito superiores daquelas
Sociologia/U FSC ar. P esq u isa d o ra integração social, evitando os conflitos oferecidas pela usina. Em alguns casos,
do CNPq. e o acirram ento das contradições a partir de seus exemplos, 12 toneladas
sociais. (segundo o campeão), na realidade,
correspondem a 20, 25 ou até 30
6 - Historicamente, este fato foi estudado
NOTAS toneladas (segundo a quadra fechada)!
por Marx, ao se referir à aprovação de
Em suma, além do sobre-valor captado
leis que disciplinavam as relações de
1 - Em 2006, 3,4% dos capitais investidos pela relação de trabalho que fixa em R$
trabalho pelo Parlamento, baseado nos
em usinas eram estrangeiros. Em 2007, 2,20 a tonelada cortada, há o roubo no
relatórios das fábricas inglesas, onde a
espera-se que estes valores subam momento da pesagem da cana na usina.
jornada de trabalho, às vezes,
para 5,0%. Em 10 anos, seriam 50,0%, ultrapassava 18 horas, levando à morte 12 - NR 31- Portaria do Ministério do
segundo as palavras do usineiro Maurílio por exaustão, m uitos operários, Trabalho e Emprego, n° 86 de 03/03/
Biaggi Filho. Os maiores exportadores homens, mulheres e crianças. No Brasil, 2005.
de álcool são: Coimex, C rystalsev, as primeiras lutas pela imposição dos 13 - Relatoria Nacional para o Direito
Copersucar, Cosan e Petrobrás. Em 4 lim ites da exploração da força de Humano à Alimentação Adequada, Água
anos, serão investidos US$ 2,5 bilhões trabalho, ocorreram no início do século e Terra Rural. Relatório Preliminar, de
na produção de álcool e 77 usinas serão XX não somente nas cidades, sobretudo visita para investigação das possíveis
construídas até 2012. Suplem ento São Paulo, como também nas fazendas causas de morte de cortadores de cana
Agrícola do Estado de São Paulo, 21 de de café (Beiguelman, 1981). de açúcar, no Estado de São Paulo, por
fevereiro de 2007. No ano de 2006, houve possível sobrecarga de trabalho e
a compra de 63% da Usina Cevasa no 7 - Em 2006, o SM era de R$ 350,00.
alim entação insuficiente, segundo
município de Patrocínio Paulista pelo 8 - Muitas dessas práticas de
denúncia da Pastoral do Migrante de
grupo norte-amenricano Cargil, e neste resistências foram relatadas por vários
Guariba/SP, 4 de outubro de 2005, p. 5.
ano de 2007, a Louis Dreyfus trabalhadores na década de 1990
Com m odities Bionergia, subsidiária durante minhas pesquisas. Ver a 14 - Relatoria Nacional para o Direito
brasileira do grupo francês Louis respeito, SILVA (1999). Humano ao Trabalho. Relatório da
Dreyfus comprou 4 usinas do Grupo Missão realizada no período de 24 a 27
9 - Até o final da década de 1980, havia
pernambucano Tavares de Melo, em de outubro de 2005 na região de Ribeirão
muitas mulheres empregadas no corte
Mato Grosso do Sul, Paraíba e Rio Preto/SP para a apuração de violações
da cana, situação hoje praticamente
Grande do Norte (folha de S. Paulo, 16 de Direitos Humanos de trabalhadores
inexistente. Muitas delas cortavam cana
de fevereiro de 2007, B 9). (as) canavieiros (as), 2005, p. 6-22.
em conjunto, ou seja, por meio do baião-
de-dois, a fim de aum entar a 15 - Relatório da Pastoral do Migrante
2 - Adota-se aqui a pressuposição,
produtividade do trabalho e também ao Alojamento de São Lourenço, no dia
segundo a qual, a ideologia é um
como forma de amenizar as agruras do 5/11/06. Notícia divulgada pelo O
conjunto de idéias que mascaram a
ambiente de trabalho, já que durante a Imparcial, 10/11/06, p. 7.
realidade, dado que é somente por
interm édio deste velam ento que os jornada desenvolviam uma 16 - Primeira Página, São Carlos, 18 de
interesses da classe dominante possam sociabilidade, capaz de dim inuir as fevereiro de 2007, p. A 6.
se tornar dominantes sobre o conjunto agruras do ambiente de trabalho. Ver a 17 - Eis alguns títulos de reportagens
da sociedade. Portanto, há uma respeito, Silva (1999). que apontavam irregularidades
verdadeira inversão dos valores 10 - Informações retiradas do site www. resultantes da produção canavieira:
particulares da classe dom inante, Jornalcana. • Força-tarefa autua usina na região.
transform ados em interesses 11 - Para evitar o roubo no momento da Folha de S. Paulo, Ribeirão, 26/10/05 C3.
universais. pesagem, o Sindicato de Trabalhadores • Queimadas crescem pelo 4o ano
3 - K. Marx refere-se a este processo em rurais de Cosmópolis desenvolveu o consecutivo. Folha de S. Paulo, Ribeirão,
várias passagens de sua obra, tais método da quadra fechada, cuja 11/04/06, C 3.
como, em Os Manuscritos económico- descrição é a seguinte. De posse dos • Força-tarefa desmonta alojamento de
filosófico s e no capítulo sobre a cadernos de metragem, obrigatoria­ trabalhadores rurais. Jornal Primeira
Mercadoria, em O capital. mente oferecidos pela usina, tem-se o Página, São Carlos, 08/04/06, B3.

Travessia / Maio - Agosto / 0 8 -3 5


• Subdelegada vai montar cerco às • Tecnologia faz trabalhador trabalhar contra o Grupo Cosan, tendo em vista a
usinas e fazendas. Jornal Primeira mais. Folha de S. Paulo, Ribeirão, 18/ ameaça sofrida no am biente de
Página, São Carlos, 15/03/06, B 1. 09/2005, B 6. trabalhado por feitor que impunha a
• Morro Agudo interdita 38 casas por falta • Mortes de bóias-frias serão média de 12 toneladas diárias. Segundo
de estrutura. Folha de S. Paulo, Ribeirão, investigadas. Folha de S. Paulo, os autos do processo, os trabalhadores
04/04, 2006, C 6. Dinheiro, 28/09/2005, B 9. foram ameaçados de morte pelo feitor,
• Usinas buscam responsabilidade • ONU apura mortes de trabalhadores fato interpretado pelo juiz como situação
social. Folha de S. Paulo, Ribeirão, 04/ na região. Folha de S. Paulo, Ribeirão, de trabalho escravo. Este processo
04/2006, C 7. 13/09/2005, C 1. acha-se ainda em fase de tramitação no
• Blitz multa moradias de migrantes em • CETESB vê excesso de poluente na Fórum daquela cidade.
Pontal. Folha de SP, 16/03/2006, C 1. região. Média de registro de ozônio
• Quatro usinas da região são acima da superfície nos últimos 3 anos
processadas. Folha de S. Paulo, em 18 cidades está acima do tolerado. REFERÊNCIAS
Ribeirão, 24/05/2006, C 5. Folha de SP, Ribeirão, 8/11/2006, C 1.
• Usina Cosan nega a pagar piso salarial BEIGUELMAN, P.
• Polícia investiga 11a. Morte de bóia-fria.
e greve continua (região de Andradina). (1981) Os companheiros de São
Folha de S. Paulo, Ribeirão, 19/10/05, C 1.
O Imparcial, Araraquara, 16/09/2006, p. 6. Paulo. São Paulo: Gobal.
• Fiscalização em usinas aponta
• Estado vê caos em moradia de bóias- BIONDI, A.
irregularidades. Folha de S. Paulo,
frias. Balanço da Vigilância Sanitária (1999) O Brasil privatizado. São
Ribeirão, 26/10/2006, C4.
aponta que, dos 229 locais vistoriados, Paulo: Fundação Perseu Abramo.
• Usina afirma que morte de bóia-fria não 100% deles estavam irregulares. Folha
se deve a condições de trabalho. Folha BOBBIO, N.
de S. Paulo, Ribeirão, 14/04/2006, C 1. (1992) A era dos direitos. 12‘ tiragem,
de S. Paulo, Ribeirão, 20/10/05, C 3. • Lavouras têm fiscalização antecipada
• Ministério do Trabalho pára corte de Rio de Janeiro: Campus.
em 2007 (fase do plantio). Primeira
cana por falta de proteção. Folha de S. Página, São Carlos, 18/02/2007, A 1 eA6. CHAUÍ, M.
Paulo, Ribeirão, 07/06/2006, C4. • Usina veta cesta básica a cortador (1989) Cultura e democracia. 4'
• 4Blitze vê bóias-fria dormindo no chão, “fraco”. Folha de S. Paulo, Ribeirão, 05/ edição, São Paulo: Cortez.
em bar e com fome. Folha de S. Paulo, 10/2005, C 1. COVRE, M. L. M. (Org.)
Ribeirão, 30/05/2006, C 3. • Usinas paulistas são processadas por (1986) A cidadania que não temos.
• Usinas terão que dar casas para irregularidade no trato de bóias-frias. São Paulo: Brasiliense.
trabalhadores. Jornal 1a Página, São Folha de SP, Ribeirão, 28/05/2006, B 12. COVRE, M. L. M.
Carlos, 20/06/2006, B 3. • MPT formaliza 36 TACs com usinas na (1999) O que é cidadania. Coleção
• Morre jovem que teve corpo queimado região em 2006. Primeira Página, São Primeiros passos, 8‘ reimpressão,
em usina (controle do fogo em canavial). Carlos, 17/12/2006, A 7. São Paulo: Brasiliense.
Folha de SP, Ribeirão, 05/06/2006, c 1.
18 - Este avanço científico deve-se à LÕWY, M.
• Laudo vê “causa desconhecida” em (2005) Walter Benjamin: aviso de
morte de trabalhador. Folha de S. Paulo, cooperação entre estado e empresas,
tais como, Embrapa, IEA (Instituto incêndio: uma leitura das teses
Ribeirão, 07/07/2006, C 3.
Agronômico de Campinas), CTC (Centro “Sobre o conceito de história”. São
• Pastoral divulga relatório sobre Paulo: Boitempo.
situação de cortadores de cana da usina Tecnológico C anavielro), Fapesp e
Copersucar. Sobre o aproveitamento do MARTINEZ, P.
Costa Pinto. O Imparcial, Araraquara, 10/
bagaço da cana para a produção do (1996) Direitos de cidadania. Um
11/2006, p.7.
• Bóias-frias são encontrados em etanol, confira reportagem publicada na lugar ao sol. São Paulo: Scipione.
condições sub-humanas na região de Folha de S. Paulo, Ciência, 12/02/2007, MBYATA, E-R.
Bauru. O Imparcial, Araraquara, 14/09/ p. A10. (1997) Gênese, evolução e
2006, p. 6. 19 - Está programada para o dia 9/03/ universalidade dos direitos humanos
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36 - Travessia / Maio - Agosto / 08

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