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04/11/2020

1 Harriet Martineau
(1802 –1876)

2 Leitura
• Giddens, A – excertos de “o que é a sociologia” – Marx, Weber, Martineau. (also in
english)

3 Linha do tempo: a sociologia clássica

6 Harriet Martineau
• Mulher solteira num mundo económico muito dominado pelos homens
• Pai: morreu durante a década de 1820
• Noivo: faleceu
• Permaneceu sozinha e independente
• Em 1829, escolheu a escrita como profissão
7 Famosa e popular
• … tão famosa e popular que tinha na jovem Rainha Vitoria uma leitora assídua e que,
por isso, a convidou para a sua coroação em 1837.
• Quando se mudou em 1832, para Londres, conheceu com pessoas como Thomas
Malthus, John Stuart Mill, Florence Nightingale, Charlotte Brontë, George Eliot e
Charles Dickens.
• Era uma espécie de celebridade e em muitos momentos foi “the talk of the town”,
ainda que nem sempre para dizerem bem dela.
• Porquê? Porque escreveu, qualquer coisa como no total, mais de 100 títulos de livros
e artigos periódicos e cerca de 1.642 artigos nos jornais
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9 Trabalho
• Escrita: Ficção e sociologia
• "Eu quero fazer alguma coisa com a caneta, uma vez que uma mulher não tem outro
poder para a ação na política" (Martineau, 1832)
10 Interesses
• Martineau começou por se interessar sobretudo por questões de devoção e da fé,
mas esses temas foram sendo substituídos por questões sociais.
• Mas ela encontrará uma enorme visibilidade pública através de um dos seus novos

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focos de atenção: a economia política.


• Influenciada por uma popular introdução ao tema - Conversations on Political
Economy, escrito por outra mulher, Jane Marcet – Martineau planeou uma ambiciosa
série sobre esta temática.
• Em 1832, aos trinta anos de idade, publicou uma introdução à nova ciência da
economia política do século XIX.
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• Illustrations of Political Economy
12 Interesses
• A principal fonte dos contos foi Os Elementos da Economia Política de James Mill e a
noção de didática narrativas para a "mente popular" tiradas da obra de Jane Marcet.
• Martineau apontou a sua poderosa didática à classe social composta de artesãos e
comerciantes.
• Ela esperava que as pessoas comuns entendessem coisas como tarifas, impostos e o
orçamento nacional e acreditava que a sua série era "ansiada pela mente popular”.
• Este interesse obedecia ao impulso de comunicar com a sua audiência não apenas
sobre interesses universais, como também quotidianos, numa linguagem acessível e
de fácil compreensão
13 No Monthly Repository, Martineau anunciava assim a convicção de que para se
atingir o progresso democrático era necessário haver um conhecimento universal
da ciência da economia política:

14 Illustrations of Political Economy


• Convencida da necessidade urgente de um manual compreensível da economia
política para todas as classes sociais, publicou, entre 1832 e 1834, Illustrations of
Political Economy (1897 [1832]), uma série que se tornou um enorme sucesso literário.
• O objetivo era uma apresentação popular dos princípios da economia: não se tratava
de um exercício de ideias científicas, mas de dar às pessoas ferramentas para
poderem desenvolver um quotidiano melhor e mais esclarecido.
• As classes menos educadas precisavam de melhorar a sua vida e para tal deveriam
compreender os princípios básicos da economia
15 Orientação teórica geral de Martineau
• A economia política liberal.
• A principal lei que governava o universo social era a mão invisível do mercado.
• Os problemas sociais como falta de saneamento, condições inseguras de trabalho e
pobreza poderiam ser eliminadas por meio de ações voluntárias de indivíduos, e não
por interferência do governo.
• O conhecimento racional, disseminado por meio de um sistema educacional público,
resultaria na cooperação voluntária da burguesia e da classe operária para solucionar
os males da sociedade.

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16 Illustrations of Political Economy


• É um conjunto de 24 histórias e uma história de resumo e foram publicadas entre
1832 e 1834, uma por mês.
• A primeira história Ilustrações foi publicada em fevereiro de 1832 numa edição de
apenas 1500 exemplares, uma vez que a editora assumiu que não venderia bem. No
entanto, rapidamente se tornou um grande sucesso, e iria vender mais que o trabalho
de Charles Dickens.
• Cada número teve a extraordinária tiragem de 10.000 exemplares e, na verdade, as
histórias teriam sido lidas possivelmente por 44.000 mil pessoas por mês, porque
circulavam pelas famílias e amigos

17 Exemplo: a teoria populacional malthusiana


• (wikipedia)
• teoria desenvolvida por Thomas Robert Malthus (1766– 1834), um clérigo anglicano
britânico, iluminista, além de intelectual influente na sua época, nas áreas de
economia política e demografia.
• Malthus percebeu que o crescimento populacional entre os anos 1785 e 1790 havia
duplicado, por causa do aumento da produção de alimentos, das melhores condições
sanitárias, e do aperfeiçoamento no combate às doenças — benefícios decorrentes da
revolução industrial. Essas melhorias fizeram com que a taxa de mortalidade
diminuísse e a taxa de natalidade aumentasse.
• Preocupado com o crescimento populacional acelerado, Malthus publica,
anonimamente, em 1798, An Essay on the Principle of Population, obra em que expõe
as suas ideias e preocupações acerca do crescimento da população do planeta.
• Malthus alertava que a população crescia em progressão geométrica, enquanto a
produção de alimentos crescia em progressão aritmética. No limite, isso acarretaria
uma drástica escassez de alimentos e, como consequência, a fome.
• Portanto, inevitavelmente o crescimento populacional deveria ser controlado.

18 Exemplo: "Weal and Woe in Garveloch", o 6º conto da série


• Tratava-se, aqui, de explicar Malthus e a sua teoria de que a população aumenta
geometricamente e a oferta de alimentos aumenta aritmeticamente.
• Para Malthus, o que isso significa é que a população exerce pressão contra o
fornecimento de alimentos e que a Grã-Bretanha chegou a um ponto em que isso
está a causar pobreza e vai tornar-se uma crise.
• A resposta de Malthus é que os pobres controlam os números e que a contenção
sexual e o casamento tardio (travões preventivos) são a resposta para o problema.
19 Exemplo: "Weal and Woe in Garveloch", 6º conto da série
• Na história de Martineau, encontramos duas mulheres numa vila de pescadores
escocesa que discutem o controle populacional.
• Anos prósperos tinham levado a um rápido aumento populacional, mas agora más
colheitas e safras consecutivas significavam que mesmo os mais prudentes habitantes

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de Garveloch estavam a morrer lentamente à fome.


• Cabe às personagens femininas, Ella e Katie, revelar as aplicações mais íntimas e
pessoais do Malthusianismo, concentrando-se no desejo do irmão de Ella, Ronald, de
se casar com Katie - uma viúva com filhos pequenos.
20 Exemplo: "Weal and Woe in Garveloch", 6º conto da série
• À medida que a oferta de alimentos diminui, reconhece a personagem Katie, implica a
necessidade de controlar o crescimento da população – como aliás acontece com
Ronald, que se abstém de lhe pedir que se case com ele.
• A decisão do casal embora estejam apaixonados e sejam financeiramente solventes, é
de não se casarem.
• Se as mulheres, assim como os homens, fossem obrigadas a subordinar os seus
desejos sexuais e reprodutivos às exigências da Providência, então elas também
precisavam de entender as razões.
• Era preciso a disseminação de comportamentos fundamentados como a da
personagem Katie para garantir uma nova fase da civilização.
21 Críticos de Martineau
• alguns críticos destacam esta história como um exemplo da falta de naturalidade de
Martineau:
• “Uma mulher que pensa que ter filhos é um crime contra a sociedade! Uma mulher
solteira que declama contra o casamento !!” (Scrope 151).
• Este era o princípio de ferozes ataques contra ela.

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• “o delineamento do seu semblante, figura, postura e ocupação, que encontramos na
figura. Ele [o leitor] prontamente concordará connosco, após a devida inspeção, que
não é de admirar que a dama seja pró-malthusiana; e que nem mesmo um bonitão
irlandês, sugerido por um cantor conservador, tentará a sedução da filósofa das
doutrinas da não-população”.
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• Viagem e estadia durante dois anos na América (1834-1836), que deu origem a vários
livros, incluindo Society in America (1837)
• Com a sua independência garantida, Martineau viaja para os Estados Unidos, onde irá
ficar dois anos e visitar muitas pessoas, algumas pouco conhecidas, outras famosas
como James Madison, o ex-presidente dos Estados Unidos.
• Ela também conheceu numerosos abolicionistas em Boston e estudou as emergentes
escolas de educação de meninas. O seu apoio ao abolicionismo, então amplamente
impopular em todos os Estados Unidos, causou polémica.
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25 Society in America (1837)

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• “Por muito que os americanos possam ficar aquém, na prática, dos princípios
professados da sua associação, realizaram muitas coisas com que o resto do mundo
civilizado ainda luta (…). [Mas] A civilização e a moral dos americanos está longe de
cumprir os seus próprios princípios” (Martineau, 1837: 367-369).

• "... Será que os princípios da Declaração de Independência não têm nenhuma relação
com metade da raça humana?”


26 Uma cientista em viagem (décadas de 30 e 50)

• Outras viagens
• viagens ao Egito, Palestina e Síria em 1846-1847
• Viagens à Irlanda em 1852: parte do seu trabalho como jornalista no Daily News.
27 Martineau jornalista
• “Faz agora um ano que fez de mim um ‘cavalheiro da imprensa’ ou uma criada-para-
todo-o serviço do Daily News”.

• Martineau fala, aqui, em 1857, uma altura que o jornalismo profissional e a imprensa
como a conhecemos hoje ainda estava por formar.
• O público leitor alargava-se e as mulheres começaram também a ser leitoras de
periódicos sobretudo a partir de 1830.
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• As ideias sobre o que é o jornalismo irão mudar drasticamente a partir da segunda
metade do século e muito especialmente no início do século XX.
• Mas desde o início do século XIX, e com a fundação de revistas como a Edinburgh
Review em 1802, a New Monthly Magazine em 1821, ou a Fraser’s Magazine em 1830,
a escrita nos periódicos e revistas já começava a ser relativamente bem paga .
• Esse incentivo financeiro era importante também para as mulheres a quem, no
entanto, era muito difícil participar na crítica política de uma sociedade que mantinha
firmemente a ideia de uma domesticidade “natural” das mulheres.
29 Martineau jornalista
• 1822: publicou um ensaio anónimo, submetido na forma de “carta ao editor”,
intitulado "Female Writers of Practical Divinity" que, para sua surpresa, apareceu na
edição seguinte do jornal.
• Tendo o irmão descoberto que ela era a autora, “colocou a mão no meu ombro e
disse gravemente (chamando-me ‘querida’ pela primeira vez): 'Então, querida, deixa
para outras mulheres fazer camisas e remendar meias; e (…) dedica-te a isto’. Fui para
casa numa espécie de sonho (…). Essa noite fez de mim uma autora”

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30 Martineau jornalista

• Daily News de Londres: Martineau foi convidada aos 50 anos para escrever com
regularidade, e em posições de autoridade para este jornal.
• Foi aí encarregue da autoria dos “leaders” que, espaços semelhantes aos modernos
editoriais que consistiam em artigos anónimos com a linha oficial da publicação
sobre importantes questões da atualidade.
• Teve outra tarefa jornalística fundamental: a de correspondente do estrangeiro.
• Simultaneamente publicava em outros periódicos como por exemplo, no semanário
Leader e na Westminster Review.

31 Uma feminista avant-la-lettre


• Martineau, através do seu estudo e análise da situação das mulheres, contribuiu para
diversas causas: promoção do emprego e da formação profissional das mulheres), as
políticas públicas (como a Married Women’s Property Act, com a qual o Parlamento
Inglês instituiu a igualdade de acesso à propriedade das mulheres casadas).
• Martineau era uma analista social. Tendo começado por denunciar a injustiça e o
desperdício resultante da exclusão das mulheres da educação, vai ao longo da sua
vida, em múltiplas ocasiões e a propósito de várias questões, analisar a questão do
emprego, do voto, da saúde das mulheres.
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33 Próxima leitura
As mulheres e a afirmação histórica da profissão jornalística

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