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CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PSICOLOGIA
Boa Vista, RR
2014
PAULO LUÃ OLIVEIRA XAVIER
Boa Vista, RR
2014
Nome: XAVIER, Paulo Luã Oliveira
Aprovado em:
Banca Examinadora
Aos colegas do curso de Psicologia, pelo companheirismo, apoio, cuidado e união nos
momentos mais difíceis.
Ao meu orientador, prof. Carlos Eduardo Ramos, pelas orientações, contribuições teóricas,
paciência, dedicação e atenção cedida para a construção desse empreendimento acadêmico-
científico.
Aos meus pais, principalmente à minha mãe, pelo apoio absoluto nessa longa jornada rumo
ao conhecimento científico.
À minha irmã, ou melhor, segunda mãe, Nayara Oliveira Xavier, por estar ao meu lado em
todas as fases de minha pequena vida.
Ao Mestre, Naum Marques Dias, pela sua dedicação e contribuição para o desenvolvimento
da ciência em sua essência máxima.
Ao Grande Ser Transcendental: Deus, El, Jeová, Elohim, Alá, Brahma, enfim, pela
inspiração e motivação nessa longa odisseia acadêmica.
A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem
coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o
ópio do povo.
A presente pesquisa teve por objetivo compreender a relação entre o discurso institucional de uma
instituição religiosa neopentecostal e determinados elementos de violência na contemporaneidade.
Tendo em vista que as diversas esferas sociais atuam de modo incisivo para a fomentação da
subjetividade do indivíduo e, por conseguinte, na sua forma de interação social. A análise do
discurso institucional religioso, bem como sua relação a determinados elementos de violência
contidos na sociedade, fez-se de valia. A escolha da Igreja Universal do Reino de Deus deu-se por
sua ampla difusão na sociedade brasileira. Diante disso, o website oficial da IURD foi consultado
demasiadamente, sendo extraídos dois documentos audiovisuais a fim de compor os objetos de
análise. A fundamentação teórica encontra-se calcada em três capítulos-chave: Família, Religião,
Exclusão, Autoritarismo e Preconceito. Ademais, os dados foram analisados sob a luz da teoria
crítica da sociedade. Nesse processo destacaram-se determinados itens fomentadores de atitudes
preconceituosa, excludentes e autoritárias. Por meio do supracitado, despontaram quatro categorias
que foram laboriosamente esmiuçadas: família, intolerância a outras formas de religiosidade, amor
conjugal e prosperidade. Em suma, a Igreja Universal chama todos para si, no entanto só serão
salvos os que conseguirem vencer as seduções demoníacas: bruxaria, luxúria, homossexualidade.
Por conseguinte, combatendo-se a exclusão constrói-se uma lógica violenta de inclusão.
This research aimed to understand the relationship between the institutional discourse of a
Pentecostal religious institution and certain elements of contemporary violence. Given that the
various social spheres act incisively to fostering the subjectivity of the individual and, therefore, in
form of social interaction. The analysis of institutional religious discourse and its relation to certain
elements of violence contained in society, made up of surplus value. The choice of the Universal
Church of the Kingdom of God was given by their wide dissemination in Brazilian society. Thus,
the official website of the UCKG was consulted too, being extracted two audiovisual documents in
order to compose the objects of analysis. The theoretical framework is found squashed into three
key sections: Family, Religion, Exclusion, Authoritarianism and Prejudice. Furthermore, the data
were analyzed in light of the critical theory of society. In this process stood out certain promoters
items biased, exclusionary and authoritarian attitudes. Through the above, four categories emerged
that were painstakingly teased: family, intolerance to other forms of religiosity, marital love and
prosperity. In short, the Universal Church calls all to themselves, however only those who can be
saved overcome demonic seductions: sorcery, lust, homosexuality. Therefore, if the deletion-
fighting builds a logical inclusion violent.
INTRODUÇÃO................................................................................................................................08
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................................10
1.1. RELIGIÃO.......................................................................................................................10
OBJETIVOS..........................................................................................................................32
METODOLOGIA.................................................................................................................33
4.3. FAMÍLIA.........................................................................................................................42
4.6. PROSPERIDADE...........................................................................................................57
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................62
REFERÊNCIAS....................................................................................................................65
APÊNDICES...............................................................................................................................69
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INTRODUÇÃO
Esta pesquisa teve por meta compreender a relação entre o discurso institucional de uma
instituição religiosa neopentecostal e determinados elementos de violência na contemporaneidade.
Já que para a Psicologia, dentro da perspectiva sócio-histórica, é de fundamental importância
entender as interações entre as instâncias sociais, bem como as relações estabelecidas entre os
indivíduos na sociedade. Além dos fatores que levam os indivíduos a fazerem parte das mesmas e,
por conseguinte, serem influenciados e influentes na propagação de seus preconceitos.
Visto isso, a análise do discurso institucional religioso, bem como sua relação a
determinados elementos de violência contidos na sociedade, fez-se de valia. Pois as diversas esferas
sociais atuam de modo incisivo para a fomentação da subjetividade do indivíduo e, por conseguinte,
na sua forma de interação social. De acordo com Crochík (2011b), para entender as questões
referentes à formação da subjetividade e a maneira social de agir, deve-se compreender as
finalidades, as instâncias e os meios, pelos quais uma determinada cultura forma o indivíduo.
As instituições religiosas, como instâncias sociais, atuam das mais diversas formas sobre os
indivíduos. Portanto, nada mais relevante que o proposto no estudo em questão. Diante disto, dentro
do website oficial da Igreja Universal do Reino de Deus, foram extraídos dois documentos
audiovisuais como objetos de pesquisa. A escolha desta instituição deu-se por sua ampla difusão na
sociedade brasileira. Segundo o IBGE (2014), a IURD é a maior instituição neopentecostal do
Brasil, com 1 873 243 seguidores, sendo 1 117 040 mulheres e 756 203 homens. Esta denominação
é basicamente urbana, 1 766 246 de seus seguidores residem na mesma, e apresenta uma elevada
concentração de membros do sexo feminino, 63, 24%. A partir dessas considerações iniciais,
levantou-se o seguinte problema: qual a relação entre o discurso institucional religioso e
determinados elementos de violência na sociedade contemporânea.
mesmos.
Na análise e discussão dos dados, os objetos de pesquisa foram esmiuçados sob a égide do
método dialético. Com isso, despontaram quatro categorias que foram arduamente destrinchadas:
família, intolerância a outras formas de religiosidade, amor conjugal e prosperidade. Como último
elemento, as considerações finais sintetizaram o supraexposto, construindo uma compreensão geral
acerca da relação entre o discurso institucional iurdiano e a violência na contemporaneidade.
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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1. RELIGIÃO
O presente capítulo tem por intuito debater a temática religião, indo de encontro à formação
das instituições religiosas modernas, mais especificamente a Igreja Universal do Reino de Deus
(IURD), sob a ótica da Teoria Crítica da Sociedade.
Para Freud (1996a), o homem transforma as forças da natureza em deuses, concedendo para
as mesmas características paternas. Este anseio pelo pai e pelos deuses justifica-se pela fragilidade
do homem perante a natureza, as incertezas do destino e os sofrimentos e privações que uma vida
civilizada lhes confere. Entretanto, no interior dessas funções há um desvio gradual de interesse. Os
homens observaram que os fenômenos da natureza se processavam automaticamente. Sendo
relegados aos deuses intervenções ocasionais por intermédio de milagres. Além disto, percebeu-se o
caráter implacável do destino, pois até os deuses sofriam com as incertezas do mesmo. Com a
consciência sobre estes fatos, o homem deslocou a função dos deuses ao campo da moralidade.
Assim, recaem sobre os mesmos nivelar os defeitos e os males da civilização, ver o sofrimento que
os homens aplicam uns aos outros em sua vida comunal e garantir o cumprimento das normas
civilizatórias. Estas creditadas aos deuses são elevadas além da civilização e prolongadas à natureza
e ao universo.
Freud (1996a) relata que, através de tais fatos, desenvolveu-se um conjunto de ideias,
fomentadas com o material das lembranças do desamparo infantil, com o intuito de tornar aceitável
tal desamparo. O homem percebeu que a posse dessas ideias o protegia em dois sentidos: contra as
incertezas do destino e da natureza, e contra os males da própria civilização. Adiante, tem-se que
dentro do campo religioso a vida terrestre serve a um propósito mais elevado, ou seja, uma evolução
da essência humana. Portanto, a morte não é um fim, retorno ao inorgânico, mas, sim, o começo de
uma existência para algo mais superior. No fim, o bem é recompensado e o mal, punido, se não na
Terra, em existências posteriores.
Quanto à personificação das forças da natureza, tem-se que a mesma fomenta-se através de
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um modelo infantil (FREUD, 1996a). Por conseguinte, ao personificar tais forças, os homens estão
seguindo preceitos infantis. Estes aprenderam que a maneira mais fácil de influenciar as pessoas é
criando um relacionamento com estas, assim, por extensão, tendo os mesmos fins em vista,
estendem esta concepção para outras situações. Portanto, é natural ao homem personificar tudo o
que visa compreender, com o intuito de dominá-lo. Além disto, ao perceber que está fadado a
permanecer criança para sempre, que nunca poderá viver sem proteção contra forças superiores, os
homens deslocam para estas as características da figura paterna, fomentando para si os deuses a
quem tanto temem e pedem proteção.
(...) seu anseio por um pai constitui um motivo idêntico à sua necessidade de proteção
contra as conseqüências de sua debilidade humana. É a defesa contra o desamparo infantil
que empresta suas feições características à reação do adulto ao desamparo que ele tem de
reconhecer - reação que é, exatamente, a formação da religião.
Ainda de acordo com o mesmo autor, as bases desta calcam-se em três princípios:
primeiramente, os ensinamentos da mesma devem ser absorvidos porque já o eram por seus
antepassados; segundo, têm-se provas que foram transmitidas desde os tempos primitivos; por
último, é proibido indagar a autenticidade religiosa.
No que tange a origem psíquica das ideações religiosas, tem-se que estas, tidas como
ensinamentos, não constituem conclusões finais de pensamentos: são ilusões, experiências dos mais
antigos, fortes e consistentes desejos da humanidade (FREUD, 1996a). Portanto, o mistério de sua
solidez reside na força desses desejos. A impressão do desamparo infantil despertou a necessidade
de proteção, proporcionada pelo pai; a compreensão de que esse desamparo perdura através da
existência tornou necessário agarrar-se a uma figura paterna, porém, um pai mais poderoso. Por
isto, o governo benevolente de um ser divino diminui nosso medo dos perigos da vida; a construção
de uma ordem mundial garante a concretização das exigências de justiça; e o prolongamento em
uma vida futura fomenta a base local em que esses desejos se concretizarão.
Ao tratar as concepções religiosas como ilusões, Freud (1996a) relata que uma ilusão não é
um erro, mas, sim, uma construção dos desejos humanos. Logo, aproximam-se dos delírios
psiquiátricos, diferindo um pouco dos mesmos, já que eles entram em contradição com a realidade.
Visto isto, pode-se chamar uma crença de ilusão quando uma concretização de desejo compõe fator
fundamental de sua formação. Partindo desta afirmativa, tem-se que todas as doutrinas religiosas
são ilusões e insuscetíveis de prova, algumas são tão irreais que podem ser comparadas a delírios.
No entanto, é inegável que a religião prestou grandes serviços para a sociedade humana.
Contribuiu para dominar os instintos, porém não o suficiente (FREUD, 1996a). Se tivesse êxito em
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Dentro de uma perspectiva mais profunda, Freud (1996a, p. 28) relata que:
A criança humana não pode completar com sucesso seu desenvolvimento para o estágio
civilizado sem passar por uma fase de neurose, às vezes mais distinta, outras, menos. Isso
se dá porque muitas exigências instintuais que posteriormente serão inaproveitáveis não
podem ser reprimidas pelo funcionamento racional do intelecto da criança, mas têm de ser
domadas através de atos de repressão, por trás dos quais, via de regra, se acha o motivo da
ansiedade. A maioria dessas neuroses infantis é superespontaneamente no decurso do
crescimento, sendo isso especialmente verdadeiro quanto às neuroses obsessivas da
infância.
Da mesma forma, a humanidade tombou em fases semelhantes às neuroses, já que nas
épocas de sua ignorância e debilidade intelectual, a repressão instintual só tinha sido conseguido
pela força essencialmente emocional. Sendo que os precipitados desses processos, análogos à
repressão instintual dos primórdios civilizatórios, permanecem ligados à sociedade por muitas
décadas. Portanto, tem-se que a religião é a neurose obsessiva da humanidade; tal como a neurose
obsessiva das crianças, ela é oriunda do complexo de Édipo, do relacionamento paterno. Com a
veracidade dessa informação, a humanidade está fadada ao afastamento da religião, por meio do
inevitável processo de crescimento. Ainda que o crente possua certa resistência ao abandono de suas
crenças.
A Idade Média (500-1500) foi o período de máxima influência cristã nas mais variadas
instâncias sociais. Durante esta época, o número de igrejas construídas, reformadas e ornamentadas
com obras de arte foi enorme; cada construção representava o centro da vida e das festas da
comunidade. Os únicos feriados estavam ligados aos “dias santos”, sendo os domingos dedicados à
glória do Senhor. Nas missas pregavam-se alguns sermões, contudo, nem todos os sacerdotes eram
capazes de ensinar e, o mais eram os setes sacramentos, rito de consagração da vida. Bowker e
Edwards (2004) relatam que muitas igrejas medievais ainda são utilizadas na Europa. As de estilo
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românico são suntuosas, já as góticas parecem florestas de pedra direcionadas para o céu.
Ademais, com o avanço pentecostal dos últimos trinta anos, tem-se modificado essa
peculiaridade de país majoritariamente católico. Ainda que conserve a predominância cristã, pois
noventa por cento de sua população pertence a alguma religião vinculada a essa vertente
(DALGALARRONDO, 2008). Ser uma nação cristã implica adesão a valores greco-judaicos e
ocidentais. Destaca-se que o cristianismo nasce do judaísmo, emerge dessa tradição que se
solidifica como religião étnica, do povo escolhido. Nessa conjuntura, agrupa elementos greco-
romanos, sobretudo do platonismo e do estoicismo, com sua base ética universalista, fundamentada
no indivíduo auto-controlado. O cristianismo cessa com os preceitos comportamentais e obediência
interligadas a regras alimentares, ritualísticas e corporais que o judaísmo propunha. Ou seja, o
cristianismo propõe-se como religião universal. Deste fato, origina-se uma de suas contradições
básicas, religião destinada a todos, porém edificada em símbolos, ritualística, ética e estética
específicas.
Já Calvino baseou a sua concepção reformista no conjunto da Bíblia; por exemplo, achou no
Novo Testamento instruções claras a respeito da maneira pela qual a liderança e a disciplina da
instituição religiosa deviam ser organizadas. Tal estudioso tinha uma forte percepção da grandeza
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do Deus revelado na Bíblia e não temia explanar que Deus predestinara os crentes ao paraíso e os
ímpios ao inferno. Segundo Bowker e Edwards (2004), o código de Calvino era rigoroso. Muitos
resistiam à coação da moral rígida que Calvino definira. Ademais, a influência de Calvino
solidificou-se sobre os indivíduos que se sentiam eleitos pela graça divina. Para os mesmos, a vida
era uma maratona de um peregrino resistindo às tentações fomentadas pelo mundo.
Os cristãos cindem-se em protestantes e católicos. Nestes fatos, a reforma foi facilitada pelo
desenvolvimento da imprensa, fenômeno que possibilitou o contato direto dos textos bíblicos, sem
intermediários, ícones, padres ou santos. Além disto, destaca-se uma nova ética centrada no
trabalho, no ascetismo intramundano. O crente, para ser cristão verdadeiro, deve ir ao encontro de
sua rotina e deveres. Sendo tal afirmativa, a base da doutrina calvinista de que a vida correta e
exitosa neste mundo é a melhor confirmação da graça divina. Com o despontar da Reforma, a
ascese cristã ingressa no mercado da vida, cerra atrás de si as portas do mosteiro e se põe a
impregnar com sua metódica a vida cotidiana, a modificá-la numa vida racional no mundo. A
salvação transformou-se na obsessão máxima da teoria protestante, bem como a onipresente sombra
do demônio, espreitando a fraqueza humana (DALGALARRONDO, 2008; WEBER, 2004).
Para Weber (2004), o summum bonum da “ética” protestante consiste em ganhar dinheiro e
sempre mais dinheiro, resguardando-se de todo gozo imediato do dinheiro ganho. Basta uma rápida
vistoria pelas estatísticas ocupacionais de um país plurirreligioso para constatar a notável frequência
de um fenômeno bastante peculiar: o caráter majoritariamente protestante dos proprietários do
capital, bem como das camadas superiores da mão-de-obra qualificada, ou seja, o pessoal de alta
qualificação técnica das empresas modernas.
A ascese protestante agiu contra o gozo descontraído das posses; estrangulou o consumo,
especialmente o interligado ao luxo. Com a consciência de encontrar-se na plena graça de Deus e
ser por ele abençoado, o protestante burguês, com a condição de manter-se dentro das fronteiras da
correção formal, de ter sua conduta moral inquestionável e de não fazer de sua riqueza um uso
escandaloso, podia perseguir os seus interesses de lucro e devia concretizá-lo (WEBER, 2004). A
força da ascese religiosa, além do exposto, punha à sua disposição trabalhadores conscientes,
admiravelmente eficientes e dedicados ao trabalho como finalidade de suas vidas. Dando aos
mesmos a reconfortante certeza de que a desigualdade deste mundo é obra toda especial da divina
Providência, que, com essa desigualdade visava a fins desconhecidos. Calvino já havia pronunciado
a frase, segundo a qual a massa dos trabalhadores e dos artesãos, só obedece a Deus enquanto
pobre.
Santos (2006) afirma que o neopentecostalismo representa certa ruptura com o sectarismo e
o ascetismo puritano, o que caracteriza o principal diferencial produzido pelo movimento. Os
membros dessa denominação desfrutam de prazeres mundanos como embelezamento físico,
consumo de expressões artísticas mundanas, etc. Assim, observa-se uma desmistificação da imagem
do crente, na proporção que os fiéis neopentecostais se trajam de forma comum, usam maquiagem,
bijuterias, ouvem funk; portanto, consomem elementos que um crente tradicional poderia chamar de
profano.
Nova Vida. A IURD desvela-se bem estruturada e extraordinariamente especializada. Os cultos são
marcados pela simplicidade no sentido de não haver terreno para discussões intelectualizadas. Com
lideranças que vieram da mesma classe social de seus fiéis, os discursos apresentam-se de forma
pouco requintada.
Molon (2002) afirma que no transcorrer das últimas duas décadas, o Bispo Edir Macedo
solidificou seu império religioso e financeiro, demonstrando a IURD como uma entidade para todos
e o movimento neopentecostal como uma ajuda aos excluídos, disponibilizando uma proposta de
modificação real para suas vidas. Assim, esse fenômeno religioso-sócio-histórico está calcado nas
promessas de eliminação dos males psicossociais e na busca da inclusão social. Os sacerdotes oram
pela prosperidade e pelo bem-estar do indivíduo, anunciando reconstruir a família e devolver ao
homem sua dignidade humana. Determinados estudos sociológicos apontam o sucesso da Igreja
Universal pela promessa de salvação imediata e interpretam suas características como uma espécie
de “fast-food” religioso.
Sendo o mesmo a síntese de todos os inimigos, deuses das religiões afro-brasileiras, espíritas
e igreja católica. O diabo forma a base mágico-religiosa da IURD. Para esta, práticas como tarô,
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astrologia, interpretação das runas, numerologia, análise cabalística dos nomes e mapa astral, entre
outras, são uma versão branda de bruxaria (MOLON, 2002). Contudo, ao contestar as religiões
inimigas e o misticismo, os adeptos da IURD concretizam as crenças e práticas das mesmas, bem
como intensificam os poderes do diabo.
Conforme Molon (2002), os crentes não podem temer a macumba, a bruxaria e a feitiçaria,
pois este temor os vinculam às mesmas. Os fiéis só podem temer o diabo e somente a IURD possui
a receita para expulsá-lo. A questão não é eliminar o medo, mas, sim, manter o controle sobre o
mesmo. A inconstância dos medos levaria os membros a migrarem de deuses de acordo com o
momento. O diabo tão poderoso, capcioso e volátil, deve ser combate por uma instituição poderosa
como a IURD. Esta trabalha com o mito da teoria unitária, agrupando a diversidade no uno. Coloca
suas fichas na defesa do uno como “unidade” religiosa eficiente no combate ao diabo. Por isto, o
mesmo dá significado à identidade da IURD, sendo ressignificado. A dinâmica de conversão de
novos fiéis engloba uma vasta capacidade de agrupar significados que estão atrelados aos mais
variados objetivos e objetos em volta de um único sentido, o diabo. A redução a um único sentido é
uma eficiente técnica de subjugação. Canalizando tudo para um único sentido, o diabo é
considerado adversário e temido como guardião.
Conforme a IURD, o mundo se divide entre os seus membros e aqueles que pertencem ao
diabo. Nesse âmbito reina a intolerância com as diversas crenças religiosas, já que a Igreja
Universal é a única solução para os males. Esta propõe um modelo de mundo perfeito, no qual ela
retém as normas para libertar os homens do mal e dar-lhes o paraíso terrestre. Contudo, para isto é
necessário converter-se, seguir as regras, o indivíduo precisa reconhecer que seu êxito está ligado a
sua fé e determinação.
Segundo Molon (2002) esta vertente religiosa está orientada aos excluídos, incluídos
precariamente e às pessoas desajustadas socialmente. A igreja universal agrega os excluídos. Porém
não quer que estes permaneçam nessa situação nem sejam englobados de forma precária. A proposta
de inclusão social da IURD destina-se a todos os excluídos, no entanto só serão incluídos aqueles
que acreditam em Jesus Cristo, realizam as provas de fé e acreditam no poder de sua determinação.
Esta inclusão prometida está calcada na lógica capitalística, já que não há espaço para todos, sendo
o fracasso responsabilidade do fiel que não orou o suficiente. Por isto, o fiel deve permanecer
orando, pregando e pagando dízimo. Dentro da lógica capitalista fomentadora da exclusão social, a
Igreja Universal apresenta uma estratégia eficiente de inclusão devido à exclusão social, no entanto
essa é uma inclusão social perversa, que ilusoriamente está voltada para os excluídos, ela chama
para si todos, porém somente serão eleitos aqueles que conseguirem vencer as façanhas do diabo:
homossexualismo, prostituição, drogas, dentre outros. Assim, a fim de combater a lógica perversa
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uma mãe e, em virtude disso, o pai torna-se desconhecido. Sendo apenas a linhagem feminina
reconhecida.
No que concerne “A Família Monogâmica”, Engels (2002) afirma que esta se baseia no
pátrio poder, tendo como finalidade a procriação de filhos cuja paternidade seja inquestionável; e
exige-se essa paternidade incontestável por que os filhos, como herdeiros diretos, entrarão,
futuramente, na posse dos bens de seu pai. A família monogâmica distingue-se do matrimônio
sindiásmico pela solidez dos laços matrimoniais. Sendo que esta dinâmica origina-se de fatores
econômicos e da consolidação da propriedade privada em detrimento da propriedade comunal
primitiva. A monogamia não surge na história como fruto do amor sexual individual, nem como
forma máxima de união conjugal. Mas, sim, ela nasce como uma forma de subjugação de um sexo
pelo outro.
Através do supracitado, expõe-se a família como uma miniatura dos conflitos aos quais se
desenvolve a sociedade, repartida em classes desde os seus primórdios. Esta deve se desenvolver
nas mesmas proporções que a sociedade, pois a família é produto do sistema social e demonstrará o
nível de cultura do mesmo. Se a família monogâmica não mais atender os anseios sociais, não se
pode predizer a estrutura da família sucessora.
Conforme Reis (2004) é na família que tomamos conhecimento do mundo e nos situamos no
mesmo. É a fomentadora de nossa primeira identidade social. Tem-se como o primeiro “nós” a
quem aprendemos a nos citar. Retomando os trabalhos de Engels (2002), observa-se a família como
foco inicial do processo de divisão social do trabalho, tendo por referência a divisão do trabalho
sexual. Esta foi à referência para uma complexificação do processo de divisão laboral que originou
a divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual e as peculiaridades do modo de produção
capitalista. Além disto, houve a solidificação da família monogâmica interligada a consolidação da
propriedade privada.
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Segundo Engels e Marx (1998), a burguesia destroçou o véu do sentimentalismo que cobria
as relações de família e reduziu-as a meras ligações monetárias. Assim, para o sistema capitalista, a
mulher não passa de um instrumento de produção. A concepção burguesa sobre a família e a
educação fomenta-se de forma repugnante à proporção que o capital destrói todos os laços
familiares dos proletariados e converte suas crianças em simples elementos de comércio, bem como
instrumentos de trabalho.
Para Reis (2004) embora alguns tópicos das formulações de Engels estejam ultrapassados,
fundamentalmente no que tange o uso genérico da evolução esquemática das estruturas familiares
em todas as sociedades, a correlação entre monogamia e propriedade, mostra-se cada vez mais
sólida. A pequena autonomia da conjuntura familiar é determinada por uma vasta interação de
fatores interligados as peculiaridades internas do grupo familiar, características sociais, econômicas
e culturais que o envolvem. Assim, justificam-se diferentes estruturas familiares, ainda que a
predominância seja da família monogâmica burguesa. Na contemporaneidade a classe média
apresenta uma ampla gama de padrões familiares. Por um lado, abraça a família caracterizada por
um elevado conservadorismo, por outro, abarca formas mais liberais de convivência familiar que
abrangem tanto as interelações entre os membros quanto um posicionamento mais crítico perante a
sexualidade.
Portanto, embora a família tenha certa autonomia em relação à economia, o que proporciona
que suas mudanças não acompanhem diretamente as transformações econômicas, a conjuntura
familiar é sempre traçada fora dela. Visto isto, é impossível compreender o grupo familiar sem
considerá-lo inserido na complexa teia social e histórica que o circunda. Tendo o exposto em mãos,
Reis (2004) desenvolve algumas considerações. Primeiramente, a família não é algo natural,
biológico, mas um construto social humano, que se fomenta de formas diferentes em situações e
circunstâncias diferentes, para dar respostas às demandas sociais. A segunda consideração consiste
no fato que a família processa-se em torno de uma necessidade biológica, a reprodução. Porém, tal
fato não implica na necessidade de um tipo específico de família para que ocorra a reprodução, mas
que esta é fator necessário para a existência da família. A terceira está relacionada ao caráter
ideológico da família. Em suma, além da reprodução biológica ela impulsiona sua própria
reprodução social, pois é nesta que o indivíduo é educado para perpetuar biologicamente e
socialmente sua conjuntura familiar. Ao construir seu projeto de reprodução social, a família se
insere no mesmo projeto global da sociedade que pertence. Por isto que ela também instrui seus
membros como se comportar fora de seu núcleo. Dentro disto, esta é a formadora do cidadão.
Aprofundando as interelações familiares, Reis (2004) relata que as mesmas são vividas
intensamente pelos indivíduos, tendo suas bases na subordinação ideológica, já que esta está
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presente desde o início da vida e é influenciada por componentes emocionais que organizam de
forma profunda a personalidade de seus integrantes. A caracterização da família, tendo por base as
vivências emocionais construídas entre seus membros e pela hierarquia sexual e etária, conduz uma
análise centrada no binômio amor/autoridade. As formas pelas quais poder e afeto interagem dentro
da família possibilitam o confronto das diferentes formas de família, além da compreensão da
dinâmica familiar contemporânea, interligada as suas funções de construção ideológica.
Tendo por base esta conjuntura familiar moderna, Reis (2004) desenvolve uma análise sobre
a forma familiar predominante, a família burguesa. Historicamente, esta nasce na Europa em
meados do século XVIII. Como característica básica a família burguesa encontrava-se fechada em
si mesma, sendo este fenômeno responsável pela separação entre a residência e o local de trabalho,
portanto, entre a vida pública e a privada. Posteriormente, outras separações se fizeram; como
exemplo, cita-se a rigorosa divisão dos papéis sexuais. O homem passou a ser o provedor do lar e a
máxima autoridade. Como consequência desta estrutura, a diferenciação dos papéis sociais
fomentou uma rigorosa interdição à sexualidade feminina fora do casamento e o encurtamento do
usufruto do prazer sexual. No matrimônio a atividade sexual feminina estava ligada estritamente a
reprodução. As mulheres burguesas passaram a ser vistas como celestiais. Nisto, o casamento
burguês dissociou a sexualidade da afetividade. A família passou a ser o local do afeto em
detrimento do prazer sexual. Este passou a ser buscado fora do lar pelos homens.
Outro fator que ganhou força neste período foi à repressão à sexualidade infantil. A
masturbação colocava os pais de vigília. Os médicos do século XIX apontavam a mesma como
causadora das mais diversas enfermidades. São originários desta época os estudos de Freud sobre as
ameaças de castração feitas pelos genitores, que em grande parte não possuíam características
metafóricas.
Segundo Reis (2004), a criança burguesa tinha apenas as figuras paternas como objeto de
identificação. Através disto, a mesma tornou-se refém das figuras paternas quanto às questões
emocionais. Nesta dinâmica, observa-se que tal afetividade não era cedida incondicionalmente. Para
obter a mesma, a criança devia acatar as exigências dos pais. Os mesmos reclamavam que esta
tivesse o controle sobre seu próprio corpo. Portanto, esta era a base que caracterizava a fase anal das
crianças burguesas do século XIX. As mesmas teriam que abrir mão do prazer corporal em troca da
afetividade paterna. Assim, estava construído o elo que ligava amor e autoridade, ou seja, para
possuir o amor dos pais seria necessário que a criança também os amasse. Por conseguinte, amar é
estar subjugado e não amar seria uma situação insuportável.
Esta subjugação corporal em troca do amor dos pais estendia-se a fase genital e
incrementava as vivências conflitivas, já que neste estágio a masturbação era rigorosamente
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Visto isto, essa submissão inicial torna-se aceitação dos valores paternos e fato necessário.
Inicialmente o filho deve obedecer aos pais, aprendendo a ter controle de seus esfíncteres, os
impulsos sexuais e conserva-se limpo (REIS, 2004). No que tange as relações extrafamiliares,
espera-se que este represente bem sua família e seja um bom modelo de comportamento em todas as
situações. Obediência aos pais significa aceitação às normas que já estavam estabelecidas antes de
seu nascimento; aceitação sem questionamento, portanto, submissão.
Com relação a este fato, Adorno e Horkheimer (1978) afirmam que a criança realiza nos
primeiros estágios de seu desenvolvimento, as experiências de amor e ódio correlacionadas com o
pai, sendo que na família burguesa, estas dão lugar ao Complexo de Édipo. Contudo, esta descobre
que o pai não personifica a força, a justiça, a bondade e que não é totalmente revestido de poder. A
efetiva debilidade do pai na sociedade moderna, estende seus reflexos no equilíbrio psiquico-moral
das crianças; esta já não pode identificar-se totalmente com o pai, não pode cumprir com a
interiorização das exigências impostas pela família que contribuem para a formação do ser
autônomo. Portanto, o conflito entre o poder familiar e o ego, encontra-se enfraquecido atuando
alheados entre si. Este desenvolvimento constitui os indivíduos em “átomos sociais”.
Da relação com o pai, a criança fomenta apenas uma abstração da ideia de poder e de uma
força arbitrária e incondicional; e procura por consequência um pai mais forte, mais poderoso que o
original, que não condiz com a antiga imagem, ou seja, um super-homem e super-pai como os que
foram construídos pelos regimes totalitários (ADORNO E HORKHEIMER, 1978). O pai também
pode ser substituído por poderes coletivos, como a classe escolar, o estado, a igreja, etc. Os jovens
24
demonstram a tendência a subjugar-se a qualquer autoridade, desde que esta ofereça proteção,
satisfação, vantagens materiais e a oportunidade de descarregar sobre o outro seu sadismo.
Daquilo que sabemos sobre a morfologia dos grupos podemos recordar que é possível
distinguir tipos muito diferentes de grupos e linhas opostas em seu desenvolvimento. Há
grupos muito efêmeros e outros extremamente duradouros; grupos homogêneos,
constituídos pelos mesmos tipos de indivíduos, e grupos não homogêneos; grupos naturais
e grupos artificiais, que exigem uma força externa para mantê-los reunidos; grupos
primitivos e grupos altamente organizados, com estrutura definida.
No que tange os grupos religiosos, estes, enquadram-se nos grupos artificiais, já que certa
força externa é empregada para impedi-los de desagregar-se e para evitar alterações em sua
estrutura. Tal dinâmica é corroborada pelo fato que qualquer tentativa de abandoná-lo é tratada com
perseguições e severas punições (FREUD, 1996b). Através disto, fundamentalmente, na verdade, a
mesma religião que propaga o amor para os que comungam da mesma, torna-se cruel e intolerante
para com os que não lhes pertencem. Se hoje a intolerância não mais se faz tão violenta como em
épocas passadas, dificilmente podemos constatar que ocorreu um abrandamento nos costumes
humanos. A causa deve ser achada no indiscutível enfraquecimento dos sentimentos religiosos e dos
laços libidinais que estão conectados aos mesmos.
Mas o que leva as pessoas a fazerem parte de tais grupos, a ponto de serem extremamente
influenciadas pelos discursos de seus líderes? Retomando os estudos de Adorno e Horkheimer
(1978), tem-se que da relação com o pai, o filho absorve apenas uma ideia abstrata de poder,
desembocando na procura de um pai mais forte, um super-pai semelhante aos produzidos pelas
ideologias totalitárias. Este pai, também, pode ser substituído por poderes coletivos, como a
universidade, clubes e organizações religiosas.
Para Freud (1996b) a imagem paterna pode ser transferida para grupos secundários e seus
líderes. Na instituição religiosa prevalece a ilusão de que há um cabeça, na igreja cristã, Jesus
Cristo, que ama todos os indivíduos do grupo sem distinção. Tudo depende dessa ilusão; se ela
fosse renegada, então a igreja se desintegraria. Ademais, esse amor foi igualmente anunciado para
todos por Cristo, o mesmo coloca-se, para cada integrante do grupo de crentes, como um bondoso
irmão mais velho; um pai substituto. Visto isto, todas as exigências feitas aos integrantes do grupo
derivam desse amor de Cristo. Por conseguinte, não é sem profunda razão que se invoca a
semelhança entre a comunidade cristã e uma família, e que os membros denominam-se de irmãos
em Cristo, isto é, irmãos através do amor de Cristo pelos membros.
Mediante tal fato, observa-se a suma relevância do líder na formação do grupo religioso e
sua influência sobre seus integrantes. De acordo com Freud (1996b), a perda do líder, pode acarretar
a erupção do pânico, embora o perigo permaneça o mesmo; os laços mútuos entre os membros do
25
grupo somem ao mesmo tempo em que o laço com seu líder. Sendo que a escolha do mesmo
processa-se pelo mecanismo de identificação. Este mecanismo consiste na percepção de uma
qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa, quanto mais importante essa qualidade, mais
bem-sucedida pode torna-se a identificação.
Para Adorno (2008), as mais variadas formas de conteúdos midiáticos, inclusive religiosos,
estão caracterizadas por líderes-heróis, pessoas capazes de resolver seus problemas, sejam de forma
negativa ou positiva. Identificando-se com o líder-herói, o espectador acredita participar do poder
que lhe é negado, enquanto se concebe como alguém fraco e dependente.
26
Este capítulo tem por meta trabalhar os conceitos de preconceito, autoritarismo e exclusão,
bem como a relação entre os mesmos. Segundo Crochík (2011a) para se estudar e compreender o
preconceito tem-se que recorrer a diversas áreas do saber. Apesar de também ser um fenômeno
psicológico, as características que levam a construção do ser preconceituoso podem ser encontradas
na dinâmica de socialização, pelo qual se constitui e se torna indivíduo. Portanto, o que permite o
indivíduo se formar, também é responsável pela gênese de seus preconceitos.
O processo de socialização, por sua vez, só pode ser entendido como fruto da cultura e de
sua história, o que significa que varia historicamente dentro da mesma cultura e em culturas
diferentes. Como tanto o processo de se tornar indivíduo, que envolve a socialização,
quanto o do desenvolvimento da cultura têm se dado em função da adaptação à luta pela
sobrevivência, o preconceito surge como resposta aos conflitos presentes nessa luta. E,
assim, para se poder pensá-lo é necessário utilizarmos conceitos da Psicologia e da
Sociologia, dentro de uma perspectiva histórica.
da mesma, pois desde pequeno desenvolve-se a curiosidade, mas não o repúdio perante pessoas
desconhecidas. A segunda agrupa elementos de uma educação voltada para a força e repressora de
atitudes ditas “frágeis”; ou seja, a rígida educação social, que preza pelo cumprimento e
manutenção de suas regras, acaba levando o indivíduo a ser duro consigo e com os outros.
De acordo com Crochík (2011a), devido ao caráter não nato do preconceito, a criança pode
perceber que o outro é diferente, sem prejuízo de relacionamento com ele. Contudo, essa percepção,
é dificultada, já que é sob o modo de ameaça que o preconceito é introjetado. A incorporação das
representações dos objetos alvos de preconceito surge das inter-relações entre dependentes e
responsáveis, e a absorção destas se faz por medo das consequências da não absorção. Os objetos,
bens e ideias já são preconcebidos, e quando a criança volta a sua atenção para eles não o faz por
uma reflexão autônoma. Portanto, no processo de transmissão cultural, já são transmitidos
preconceitos. Para além das diferenças individuais, o ser ou não ser preconceituoso, interliga-se a
possibilidade de ter experiência e refletir sobre si e sobre os outros nas relações sociais, facilitadas
ou dificultadas pelas instâncias sociais, oriundas do processo de socialização.
Ao dizermos que o preconceito é um tipo de valor que atribuímos aos objetos que se
constituem nas suas vítimas, recaímos necessariamente na esfera da moral. E, de fato, o
valor, em conjunto com o afeto, é o que nos predispõe ao preconceito. Quando dizemos que
algo é bom ou mau, sem que esse juízo seja espontâneo (...) ou sem que reflitamos sobre a
sua racionalidade explicitando a sua validade quer para o indivíduo, quer para a sociedade
(...) estamos sendo preconceituosos.
Em uma perspectiva mais profunda, Crochík (2011a) explana que o preconceituoso não ver
o seu alvo de preconceito a partir dos diversos predicados que possui, reduzindo-os ao nome que
não permite a evocação: mulçumano, louco, negro, homossexual, etc. Um indivíduo portador de
uma doença crônica não é somente portador de tal doença, também é homem ou mulher,
adolescente ou criança, pobre ou rico, religioso ou ateu, sensível ou insensível, trabalhador ou
proprietário, casado ou solteiro, etc. Embora o indivíduo possua diversas características, o que passa
a designá-lo é o termo que denomina o preconceito. A esse fenômeno são correlacionados outros
atributos que se fomentam em estereótipos. Portanto, um indivíduo homossexual é percebido dentro
de um estereótipo como: promíscuo, vulgar, incapaz de construir uma família, anormal, etc.
solidificando o preconceito e servindo para a sua corroboração. Além disto, os mesmos são
produzidos e excitados por uma cultura que pede definições exatas, através de suas diversas
instâncias: universidade, família, mídia, etc., nas quais a dúvida deve ser eliminada do pensamento
e a certeza precisa tomar o lugar da verdade que aquela ação indica.
Visto isto, outro fator que corrobora para a utilização de estereótipos consiste na luta
incessante, de cada indivíduo, por suas ideias, não somente pela razão, mas como proteção de si
mesmo. Numa discussão, o sujeito não abre mão de seu ideário, não porque pensa que ele seja
melhor do que o dos outros, mas pelo medo de ser considerado frágil (CROCHÍK, 2011a). A
conjuntura social moderna constrói um tipo de pensamento acrítico, reacionário, monótono,
excluindo a reflexão sobre os objetos para os quais se destina. Por conseguinte, a estereotipia do
pensamento não condiz apenas aos conteúdos que envolve, mas também ao modo prescrito de
pensar.
Contudo, isto não é uma tarefa fácil, pois todo conceito só é possível por meio da
experiência que abrange fatos preconcebidos. Logo, o processo de conceituação abarca pré-
conceitos presentes na experimentação com o objeto a ser conceituado, já que não existe
experiência pura. Mesmo diante de uma situação nova, tem-se de retornar a experiências passadas
que tornam o estranho familiar (CROCHÍK, 2011a). Isso não significa que os pré-conceitos são
inalteráveis frente à nova experimentação vivida, bem como não significa que o novo objeto não
possa ser conceituado de forma distinta dos pré-conceitos, porém, essa possibilidade de alteração
pode indicar maior ou menor inclinação ao preconceito. Às percepções, experiências ou conceitos já
30
formulados podem ter relação com o pré-conceito, tanto quanto às necessidades emocionais
existentes antes da nova experiência. Ou seja, não há, a priori, a possibilidade de uma experiência
ou de uma reflexão que de alguma maneira não seja direcionada para as características anteriores do
indivíduo. Tal como o bebê com as suas sensações e necessidades, o adulto, com seus hábitos,
enfrenta a adaptação se confundindo, de forma momentânea, com as novas situações.
(...) esses pré-conceitos são pré-requisitos para o conhecimento, isto é, para a conceituação,
a sua ausência implicaria a anulação da experiência anterior do sujeito, ao mesmo tempo
em que a sua predominância sobre aquilo que é experimentado anularia o objeto naquilo
que esse aponta de distinto do já preconcebido.
A interrogação dos psicólogos sociais sobre exclusão foi suscitada, desde o período entre as
duas guerras, pela ascensão do fascismo, e depois pelas execuções nazistas na Europa e
pela exacerbação das defesas contra a imigração e os conflitos raciais nos Estados Unidos.
Centralizada inicialmente, como a Sociologia, sobre as relações raciais, ela se estendeu às
relações estabelecidas no espaço social e político, em um continuum indo do conflito à
cooperação, entre grupos de toda espécie, diferenciados segundo critérios de atividade ou
de pertencimento social, nacional, cultural, etc (JODELET, 2004, p. 54).
Nesta mesma perspectiva, Jodelet (2004) ressalta a submissão ao poder autoritário. Quanto
31
2. OBJETIVOS
Analisar o conteúdo expresso pela instituição, com base na teoria crítica da sociedade.
33
3. METODOLOGIA
Quanto ao trato dos dados, este se processou sob o método dialético, sendo as categorias
definidas pelo levantamento documental. De acordo com Carone (2001), tal método pode ser
definido através de três pontos: 1) É um método teórico, expositivo, especulativo, racional, calcado
na pesquisa empírica; 2) Por suas características críticas, nega as aparências sociais, das ilusões
ideológicas do objeto estudado; 3) Constitui-se num método progressivo-regressivo, baseado na
espiral dialética em que os pontos conflitantes coincidem, porém não se assemelham.
Para obtenção dos mesmos, realizaram-se consultas nos websites da Igreja Universal do
Reino de Deus (IURD). Tendo por foco conteúdos audiovisuais correlacionados as temáticas:
família, preconceito, religião, exclusão e autoritarismo. Segundo Nunes (2011), o crescimento dessa
denominação está correlacionado a utilização dos veículos de comunicação. Além do uso do rádio,
maneira mais fácil de alcançar as camadas menos favorecidas, a IURD utiliza a televisão, o jornal,
bem como a rede mundial de computadores, para propagar suas ideologias. Por se tratar de
documentos de natureza pública, disponibilizados pela própria instituição, não houve necessidade
de submissão da pesquisa ao Comitê de Ética.
Para uma análise mais aprofundada, faz-se de extrema valia caracterizar, bem como
esmiuçar, os objetos de pesquisa. Primeiramente se caracterizará o documento audiovisual V1,
sendo apresentadas suas particularidades, eixos de trabalho, histórico dos apresentadores e
características básicas do programa. Logo em seguida, com base nos mesmos procedimentos, V2
será caracterizado.
Segundo Bronsztein (2012), no dia 19 de novembro de 2011, foi ao ar, ao vivo, em cadeia
nacional na Rede Record, um programa que já era veiculado pela Igreja Universal do Reino de
Deus em seu site, IURD TV. O programa tem por objetivo ser uma escola que ensina sobre o amor e
suas particularidades. A denominação do programa corrobora suas pretensões: The Love School – A
Escola do Amor. O programa é exposto pela IURD com o diferencial da interatividade dos
apresentadores; Renato Cardoso, bispo da Igreja Universal; e sua esposa Cristiane, filha do bispo
Edir Macedo. O público entra em contato com os mesmos, através do e-mail, Facebook, Twitter e
exibição de videoperguntas, encaminhadas pelos telespectadores.
O casal possui mais de 21 anos de casamento, além de terem morado em quatro continentes
ao longo de 20 anos. A Igreja Universal afirma que, por muitos anos, o casal apresentou palestras
direcionadas ao casamento e já aconselharam casais do mundo inteiro. Por isto, tal projeto não
poderia contar com melhores apresentadores (BRONSZTEIN, 2012). Basicamente, o programa
contempla conselhos assertivos e que visam ser eficazes na construção de um relacionamento sólido
36
entre os casais. A cada aula imagens diversificadas abrem espaço para a inserção de assuntos
variados, que vão desde como identificar um cafajeste até o questionamento se existe associação
entre amor e dinheiro, tema do programa objeto de análise da presente pesquisa. Ademais, tal
programa usa, inclusive, a análise de cenas de novelas e programas veiculados pela Rede Record,
porque, segundo os apresentadores, a vida imita a arte. A Escola do amor também apresenta
convidados especiais, realiza entrevistas com celebridades e conta seus casos, geralmente mal
sucedidos.
No que concerne V2, tal vídeo está centrado em uma pregação do bispo Edir Macedo, tendo
por tema “A Família Começa com a Justiça”. Essa discussão religiosa fomentou-se nos estúdios do
templo central da Igreja Universal do Reino de Deus, Templo de Salomão, contando com a
participação dos missionários Renato e Cristiane Cardoso. Especificamente, conforme Lemos e
Tavolaro (2007), o Templo de Salomão caracteriza-se como uma super-igreja retangular com 150
metros de comprimento e 100 metros de largura. São mais de 80 mil metros quadrados de área
construída num quarteirão inteiro de 28 metros. A fachada e o altar são revestidos com pedras
importadas de Israel. Candelabros e uma arca dourada, essa baseada na “Arca da Aliança” do
Antigo Testamento, adornam o suntuoso monumento religioso.
Quanto a Edir Macedo, esse nasceu em 18 de fevereiro de 1945, na pequena cidade de Rio
das Flores, interior do Rio de Janeiro. Quarto filho da família Macedo Bezerra, Didi, como Edir era
chamado pelos irmãos, nasceu com uma pequena deficiência na mão esquerda. Com o transcorrer
do tempo, o bispo Macedo, como posteriormente seria chamado, iniciou sua jornada religiosa
(LEMOS; TAVOLARO, 2007). Em 1975, Edir funda A Cruzada do Caminho Eterno, entidade que
também se denominaria Casa da Bênção antes de, definitivamente, mudar de nome para Igreja
Universal do Reino de Deus. Visto isto, tal instituição religiosa encontra-se difundida pelos quatro
cantos do mundo, sendo seu discurso onipresente nos mais diversos estratos sociais.
CATEGORIAS
1. Família
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3. Amor Conjugal
4. Prosperidade
Na primeira categoria, a temática família é esmiuçada das mais diversas formas, levando-se
em consideração os preceitos ideológicos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Na
segunda, buscou-se identificar elementos de intolerância religiosa no discurso institucionalizado da
IURD. Para isso, além das transcrições audiovisuais, valeu-se de alguns livros cunhados por tal
instituição religiosa. Na terceira, extraiu-se o conceito de amor conjugal, bem como determinados
pontos interligados com o mesmo, para a fomentação de um constructo maior. Na quarta e última
categoria, abordou-se um tema bem corriqueiro na IURD, a prosperidade. Dentro dessa, a família,
como outros elementos correlacionados com a mesma, foram confrontados com a Teologia da
Prosperidade. Por meio do conteúdo teórico-científico, puderam-se fomentar dois eixos transversais
que perpassam todas as categorias abordadas, são eles: Ideologia e Reificação. Expõe-se que a
última, dependendo da tradução da obra consultada, pode receber a denominação de Coisificação.
Adiante, faz-se de valia a conceituação de tais eixos. Historicamente, segundo Chauí (2008),
o termo ideologia aparece pela primeira vez em 1801 no livro Elementos de Ideologia, de DeStutt
de Tracy. Em conjunto com o médico Cabanis, com De Gerándo e Volney, DeStutt de Tracy
pretendia construir uma ciência da gênese das ideias, concebendo-as como fenômenos naturais que
exprimem a ligação do corpo humano com o meio ambiente. Fomenta uma teoria sobre as
faculdades sensíveis, construtoras de todas as nossas ideias: julgar (razão), recordar (memória),
querer (vontade) e sentir (percepção). Os ideólogos franceses eram contrários à metafísica, à
teologia e à monarquia. Comungavam dos ideais do partido liberal e tinham que o progresso das
ciências experimentais, calcadas exclusivamente na observação, na análise e síntese dos dados
examinados, poderia dar origem a uma nova pedagogia e a uma nova moral. Em oposição à
educação religiosa e metafísica, que possibilita assegurar o poder monárquico, De Tracy sugere o
ensino das ciências físicas e químicas para “fomentar um bom espírito”.
exercício do consulado, Napoleão nomeou vários dos ideólogos como tribunos ou senadores. No
entanto, logo se desiludiram com Cônsul, avistando nele a restauração do Antigo Regime. Os
decretos napoleônicos para a construção da nova Universidade Francesa cedem plenos poderes aos
inimigos dos ideólogos, que passam para o partido da oposição. Logo em seguida, Napoleão
afirmou: “Todas as desgraças que afligem nossa bela França devem ser atribuídas à ideologia, essa
tenebrosa metafísica que, buscando com sutilezas as causas primeiras, quer fundar sobre suas bases
a legislação dos povos, em vez de adaptar as leis ao conhecimento do coração humano e às lições da
história.” Com isso, Bonaparte criou um ideário negativo acerca dos ideólogos, agora, “tenebrosos
metafísicos”.
O curioso é que tal acusação, infundada com relação aos ideólogos franceses, não o seria se
fosse destinada aos ideólogos alemães, estudados por Marx. Portanto, Marx conservava o mesmo
significado napoleônico do termo; o ideólogo é aquele distorce as relações entre as ideias e o real
(CHAUÍ, 2008). Visto isso, a ideologia, que designava uma ciência natural da aquisição das ideias
calcadas sobre o próprio real, passa a designar, nessa conjuntura, um sistema de ideias condenadas a
estranhar sua relação real com a realidade.
opiniões correntes, sistematizam e organizam as mesmas. Esses eliminam todo elemento religioso
que acaso nelas subsiste. Por meio desse arcabouço teórico, a ideologia, transmutada em teoria,
adquire um papel de comando sobre as ações humanas, que devem subjugar-se aos critérios e
ditames do teórico antes de agir.
Por excelência, o lema positivista é: “saber para prever, prever para prover”. Ou seja, o saber
teórico tem como objetivo a previsão científica dos fenômenos para fornecer à prática um grupo de
normas e regras, por meio das quais, a ação possa controlar e manipular a realidade natural e social.
A ideologia, como concepção positivista, possui três consequências centrais: 1) caracteriza a teoria
de tal forma que a reduz à simples hierarquização e sistematização de ideias; 2) institui entre a
teoria e a prática uma ligação autoritária de mando e de obediência; 3) entende a prática como mero
instrumento ou como simples técnica que executa automaticamente regras, normas e preceitos
advindos da teoria (CHAUÍ, 2008). Essa compreensão da prática como execução de ideias que a
controlam de fora leva à suposição de um equilíbrio entre teoria e ação. Portanto, quando há certa
contradição entre as ações e as ideias, aquelas serão tidas como desordem, anormalidade, caos e
perigo para a sociedade, já que o grande lema do positivismo constitui-se na máxima: “Ordem e
Progresso”.
De acordo com Chauí (2008), o termo ideologia é retomado por Émile Durkheim, na sua
obra As Regras do Método Sociológico. Para o sociólogo francês, ideologia é todo conhecimento da
sociedade que não respeite os critérios da objetividade. O ideológico é uma sobra, um resto de
ideias antigas, semicientíficas. Tal autor as considera preconceitos e seminoções inteiramente
subjetivas, individuais, espectros que o pensamento abriga pelo fato de fazerem parte de toda a
tradição social em que encontra imerso. Um estudioso não-científico, conforme o sociólogo, faz uso
de atitudes ideológicas pelos seguintes motivos: primeiro, porque tais atitudes são subjetivas e
tradicionais; segundo, porque, constituindo toda a bagagem de ideias prévias do cientista seus pré-
conceitos, a ciência acaba partindo das ideias aos fatos, o certo seria dos fatos às ideias; e terceiro,
porque na ausência de conceitos precisos o cientista usa palavras vazias e as troca aos verdadeiros
fatos que deveria analisar.
Para Durkheim, o grande princípio metodológico que permite tratar o fato social como
coisa e liberar o cientista da ideologia é: “Tomar sempre para objeto da investigação um
grupo de fenômenos previamente isolados e definidos por características exteriores que lhes
sejam comuns e incluir na mesma investigação todos os que correspondem a essa
definição” (CHAUÍ, 2008, p. 35).
Para o marxismo, a ideologia caracteriza-se pela conversão das ideias da classe dominante
em ideias preponderantes para todas as esferas sociais, por conseguinte, a classe que impera no
plano material também impera no plano espiritual (CHAUÍ, 2008).
Isso implica que: 1) a preponderância de uma classe sobre as demais faz com que só sejam
consideradas racionais e válidas as ideias da classe dominante; 2) para que isso se solidifique, é
necessário que os membros da sociedade não se percebam divididos em classes, mas se
identifiquem, embora de maneira parcial, com o todo; 3) para que ocorra essa identificação, é
necessário que as ideias tornem-se únicas. Dentro disso, é preciso que a classe dominante produza
suas próprias ideias e as distribua através da educação, da religião, dos meios de comunicação
disponíveis; 4) como essas ideias não representam a realidade de fato, mas, sim, a aparência social,
as imagens das coisas e dos homens, é possível considerá-las independentes da realidade e, mais
além, inverter a relação, considerando a realidade concreta como realização dessas ideias.
Adentrando no campo das esferas sociais, segundo a ideologia burguesa, a família não se
caracteriza como algo mutável, ou seja, passível de transformação em decorrência das situações
sócio-históricas. Portanto, a família é caracterizada como: um elemento estável, não mutável pela
conjuntura social; sagrada, desejada e abençoada por Deus; moral, a vida boa, pura, normal,
respeitada; e pedagógica, nela se aprendem as regras da verdadeira convivência entre os homens
(CHAUÍ, 2008).
Os que dominam também são dominados pelo capital, não conseguem pensar para além
dele, usam, no entanto, os mecanismos necessários para se manter no poder. A luta de
classes continua a existir, mas agora a classe social dos que vinham de fora do sistema está
integrada tanto quanto a classe por excelência do capitalismo – a burguesia, ainda que as
posições sociais que ocupam ambas as classes continuem contraditórias. Não é função
menos importante da ideologia tornar invisível tal contradição, como o fazia a ideologia
liberal. A ideologia do capitalismo dos monopólios, no entanto, não é mais uma ideologia
em seu sentido estrito: tornou-se mentira manifesta, percebida e simultaneamente negada
por todos.
41
Os indivíduos notam a sedução da dominação, mas não resistem a ela. Esses ao assistirem
um espetáculo sabem que nunca serão iguais aos seus ídolos; contudo se identificam com eles,
sabem que aquilo é impossível, no entanto, não deixam de sonhar e apoiar a máquina de ilusões
(CROCHÍK, 2008).
No que se refere à Reificação, segundo Crocco (2009), Lukács foi o principal responsável
por sua conceituação e divulgação. Na obra História e Consciência de Classe, tal autor fomenta
vários debates centrados no conceito de Reificação. Para além, Lukács, em conjuntura com Marx,
afirma que o capitalismo caracteriza-se pela dominação do valor de troca, como dominação abstrata
que as coisas desempenham sobre os sujeitos. O estudioso expõe o fetichismo como uma questão
exclusiva do capitalismo moderno, ainda que as relações mercantis já existissem em etapas
primitivas da sociedade, apenas na modernidade ela tornou-se universal, com o poder de influenciar
todas as esferas da vida social. Nas sociedades primitivas, a troca direta representa mais o princípio
da transformação dos valores de uso em mercadorias do que essas em dinheiro. No entanto, com a
transformação das sociedades primitivas em comunidades mais complexas a troca direta entre
produtor e consumidor observa o surgimento de novos agentes mercantis, por exemplo, o
intermediário.
Adorno (1995), ao narrar suas experiências científicas nos Estados Unidos, explana que os
fenômenos tratados pela sociologia dos meios de comunicação de massas, sobreduto em países ditos
desenvolvidos, não podem ser desmembrados, na sua essência, da estandardização, da
transformação da produção artística em bens de consumo, da calculada pseudo-individualização e
do processo de Coisificação. Tratando em pormenores, Adorno explana que o conceito de
Coisificação pode ser extraído, de forma simplista, do seguinte fato vivenciado pelo mesmo:
Project’, encontrava-se uma jovem senhora. Após alguns dias, ela tomou confiança em
relação a mim e me perguntou, cheia de amabilidade: “Doutor Adorno, permitiria uma
pergunta pessoal?”. Eu respondi: “Depende da pergunta, mas formule-a”. E ela prosseguiu:
“Diga-me, por favor, o senhor é um extrovertido ou um introvertido?” (ADORNO, 1995, p.
148)
Tal assertiva reflete a magnitude da consciência coisificada, pois reduz o indivíduo ao operar
no nível de sua categorização em termos de verdadeiro ou falso, bom ou ruim, isto é, transforma o
concreto em abstrato. Ademais, o indivíduo supracitado talvez fosse capaz de se subjugar sob tais
categorias rígidas e apriorísticas, por exemplo, classificando-se pelos signos zodiacais. Por fim,
expõe-se que a consciência coisificada não é um fator restritamente ligado à sociedade norte-
americana, mas, sim, um fenômeno correlacionado às sociedades no geral.
4.3. FAMÍLIA
Dentro do documento V2, mais precisamente na fala do Bispo Edir Macedo, percebe-se que
o discurso institucionalizado da Igreja Universal do Reino de Deus é voltado à defesa da família
nuclear burguesa:
No entanto, segundo o bispo Renato Cardoso, essa forma “sacro-ideal” de família vem
sendo ameaçada pela sociedade contemporânea. Ao relatar tal fato, o bispo tenta expor aos fiéis os
perigos da união fora do modelo nuclear burguês:
Para além, o preconceito encontra-se implícito nas pregações de tal instituição religiosa.
Retomando a fala do bispo Edir Macedo: “A família é constituída do pai, da mãe e dos filhos”.
Segundo Crochík (2011a), as atitudes preconceituosas podem se engendrar de várias formas. Um
bom exemplo desse polimorfismo é a rejeição velada. O indivíduo preconceituoso finge-se de morto
perante o objeto que lhe gera estranheza. É uma reação semelhante à do animal que imita a natureza
para se defender do predador; expõe um olhar fixo que vendo além de alguém não consegue vê-lo.
A Igreja Universal do Reino de Deus, de fato, expõe um problema social bastante evidente
na contemporaneidade, porém a mesma analisa a problemática de forma precária e incipiente,
44
tentando preservar o modelo de família burguesa. No documento audiovisual V1, o bispo Renato
Cardoso cita a seguinte assertiva:
Conforme Santos (2006), a teologia da prosperidade tem sua gênese ligada à sociedade
estadunidense1. Segundo a mesma, a prosperidade deve ser amplamente valorizada e almejada, em
detrimento, o discurso teológico que pregava o sofrimento terreno passou a ser desvalorizado.
Assim, dentro da perspectiva neopentecostal, o que vale é o presente, embora os fiéis continuem
almejando o seu lugar no reino celestial.
1
Devido à suma expressividade da temática “prosperidade”, fomentou-se uma categoria essencialmente ligada à análise
da mesma.
45
Analisando os fatos, a fala do bispo Renato Cardoso vai ao encontro do supracitado, já que o
mesmo exalta o modelo norte-americano de vida. O líder religioso mostra a conjuntura social dos
países desenvolvidos como exemplo a ser seguido, expondo os tentáculos dos preceitos
estadunidenses no discurso institucional de tal religião. Além disso, no documento V2, as falas dos
bispos Renato e Edir despontam um objeto tipicamente do sistema capitalista, refletindo o
engajamento da IURD ao sistema sócio-alienante:
A família, casamento, é uma empresa que você tem que administrar (Edir
Macedo).
Sem fazer o que é certo para seu marido ou esposa, sem fazer o que é certo,
ao seguir as leis que regem um bom casamento, a empresa do casamento,
não há como você ter um casamento feliz. As pessoas entendem muito bem
disso lá fora, por exemplo, nas empresas no momento que a pessoa é
admitida está sujeita a um conjunto de regras. Mas, no casamento parecem
que as regras não valem de nada (Renato Cardoso).
Ao conceber a família como uma empresa, o bispo Renato Cardoso destroça o véu do
sentimentalismo que cobria as relações familiares, reduzindo-as a meras ligações monetárias. De
acordo com Engels e Marx (1998), essa posição sacrocapitalista transforma a mulher em um mero
instrumento de produção. A concepção burguesa sobre a família e a educação fomenta-se de forma
repugnante à proporção que o capital destrói todos os laços familiares dos proletariados e converte
suas crianças em simples elementos de comércio, bem como instrumentos de trabalho.
Nós temos outra pergunta, ela diz: Sou noiva e pretendia casar-me este ano.
Mas, meu noivo começará a fazer faculdade e estou à procura de emprego.
Não estou conseguindo obter atenção para o nosso relacionamento. Já
pensei em terminar, mas vejo isto como ato de covardia. Não sei o que fazer,
isso está causando conflitos em nosso relacionamento (Cristiane Cardoso).
Para Freud (1996b), a imagem paterna pode ser transferida para grupos secundários e seus
líderes. Ademais, a escolha desses processa-se pelo mecanismo de identificação, ou seja, da
percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa. Retomando os estudos de
Adorno (2008), a mídia religiosa está caracterizada por líderes-heróis, pessoas capazes de resolver
seus problemas, sejam de forma negativa ou positiva. Identificando-se com o líder-herói, o
espectador acredita participar do poder que lhe é negado, enquanto se concebe como alguém débil e
fraco.
Outro fator que emerge dos documentos analisados é a caracterização dos papéis que cabem
a cada personagem da estrutura familiar:
Ela não falou se o sogro está na figura também; mas, eu diria se o seu
sogro também mora com a sogra, ali com vocês, eu o chamaria e falaria:
olha senhor fulano, eu queria abrir meu coração com o senhor porque,
como esposa, vejo seu filho um pouco acomodado com essa situação [...]
De repente, o senhor como pai poderia ter uma conversa de homem para
homem com o seu filho, pois quando vocês morrerem como ele vai cuidar
dessa família. Quer dizer, eu abriria meu coração com o pai, é uma
possibilidade, porém não sei que tipo de pai ele é, porque, às vezes, até o
pai é mandado pela mãe, mas isso é outro problema (Renato Cardoso).
Através de seu discurso, o bispo Renato concebe a família como uma propriedade patriarcal,
cabendo ao pai administrá-la da melhor forma possível. Logo em seguida, a mãe desponta como um
elemento mantenedor, nas palavras do bispo, a mãe é caracterizada como superprotetora e
propriedade do lar. No entanto, o discurso proferido apresenta certa contradição, pois ao explanar
sobre determinada problemática, o sacerdote acaba fomentando um papel que difere do
anteriormente exposto:
Por conseguinte, observa-se certa ambiguidade, já que o bispo defende a figura tradicional
materna, ao passo que incentiva as mulheres a tomar uma posição que difere da mesma. Ou seja, o
líder, inconscientemente, acaba por destruir o modelo família que tanto defende. Para corroborar o
exposto, cita-se o seguinte estudo de Adorno e Horkheimer (1978) sobre a degradação da família
48
nuclear burguesa. Segundo os autores, a crise da família é de origem social e não é possível
concebê-la como simples sintoma de degeneração. Enquanto esse modelo familiar assegurava
conforto e proteção, a sua estrutura encontrava-se justificada. Para além: a herança, por si mesma, já
era um bom motivo para a obediência à figura paterna. No entanto, na atualidade, as transformações
sociais acabaram por dissolver o conceito de herança e, por conseguinte, o poder paterno. Essa
perca da autoridade paterna é bastante visível no processo de autonomia das filhas, já não mais
vinculadas às condições doméstico-arcaicas. Essas podem, na contemporaneidade, ganhar o seu
próprio sustento fora de casa, como operárias ou profissionais liberais.
A crise na família tradicional também toma o aspecto de uma prestação de contas, não
apenas pela opressão brutal que sofreu a mulher, mais fraca, e depois os filhos, por parte do pai, até
o despontar dos novos tempos, mas também pela falta de justiça econômica que se executava, pela
escravização no labor doméstico (ADORNO E HORKHEIMER, 1978). A família também perdeu,
embora de forma não totalizante, a autoridade sobre as questões sexuais; como a família já não
proporciona, de forma segura, a vida material dos seus integrantes nem pode resguardar
suficientemente o indivíduo contra o mundo exterior, que executa uma pressão cada vez mais
inflexível, a família torna-se impotente na manutenção das normas sexuais tradicionais.
Por fim, sintetiza-se o discurso institucional religioso da IURD acerca da família, nos
seguintes pilares: pregação teológica contraditória e preconceituosa; ascese religiosa moderada,
embora com certo tom de ortodoxia; concepção familiar interligada à obra máxima do sumo criador,
Deus; e dinâmica religiosa correlacionada à propagação da ideologia burguesa.
De acordo com Alves e Hieda (2011), o discurso institucional religioso do bispo Edir
Macedo caracteriza-se como preconceituoso e agressivo. Esse líder espiritual concebe a doutrina
religiosa da Igreja Universal do Reino de Deus como única crença interligada ao Deus cristão.
Corroborando a assertiva, destaca-se o tom pejorativo atribuído a elementos de outras religiões. No
discurso supracitado, o bispo Edir Macedo unifica várias vertentes religiosas, provavelmente
crenças de matriz afro-brasileiras, denominando-as de “bruxaria”. Para quem não conhece a
ideologia ritualística dessas práticas religiosas, a influência do discurso institucionalizado fomenta-
se como fator de pré-concepção acerca do fenômeno tratado.
Segundo Crochík (2011a), o preconceituoso não ver o seu alvo de preconceito a partir dos
diversos predicados que possui, reduzindo-os ao nome que não permite a evocação: homossexual,
louco, negro, “bruxo”, etc. Um indivíduo crente de uma determinada facção religiosa não é somente
crente de tal instituição religiosa, também é homem ou mulher, adolescente ou criança, pobre ou
rico, sensível ou insensível, trabalhador ou proprietário, casado ou solteiro, etc. Embora o indivíduo
possua diversas características, o que passa a designá-lo é o termo que denomina o preconceito. A
esse fenômeno são correlacionados outros atributos que se fomentam em estereótipos. Portanto, um
indivíduo pertencente à Umbanda é compreendido dentro de um estereótipo como: macumbeiro,
pagão, amoral, etc.
Em seu livro “Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios”, o bispo Edir Macedo relata
que os brasileiros herdaram, das crenças religiosas dos índios nativos e dos escravos oriundos da
África, algumas “religiões” que vieram mais tarde a ser solidificadas com doutrinas esotéricas.
Adiante, o bispo afirma que, com o decorrer dos séculos, houve uma mistura curiosa e diabólica de
mitologia africana, indígena brasileira, espiritismo e cristianismo, desembocando na criação de
cultos fetichistas como a umbanda, a quimbanda e o candomblé. No interior dessas seitas, os
demônios são adorados, agradados ou servidos como verdadeiros deuses.
Para Jodelet (2004), tal indagação proporciona a busca nos processos psicológicos, dos
fenômenos que não podem ser explicados somente pelas análises históricas e econômicas. Calcada
nos estudos de Freud, a teoria da frustração ressalta a mesma como desencadeadora de
comportamentos hostis. A impossibilidade de se atingir determinado objetivo é causa determinante
de cólera. Para além, não necessariamente, a descarga desta, volta-se para o fator de frustração,
sendo em sua grande maioria voltada para alvos mais fáceis como grupos minoritários.
O babalorixá Érico Lustosa (foto) está acusando um grupo de evangélicos de tentar invadir
no domingo (15) à noite um terreiro de matriz africana e afro-brasileira no Varadouro, em
Olinda, na Grande Recife (PE) [...] “Eles [os evangélicos] gritavam ‘sai daí, Satanás’, e
forçaram o portão”, disse Lustosa. “Foi aí que me coloquei em frente ao portão e meu filho
começou a gravar”. A polícia está investigando, mas ainda não foram apontados os
responsáveis pela intolerância. Os evangélicos seriam da Igreja Universal do Reino de Deus
(PAULOPES, 18 jul. 2012).
Ora nada mais natural que os fiéis de tal denominação religiosa manifestem esse tipo de
comportamento, pois são constantemente bombardeados por elementos preconceituosos
impregnados no discurso institucional religioso. Conforme Jodelet (2004), Adorno, Frankel-
Brunswick, Levinson e Sanford, pesquisadores relacionados à escola de Frankfurt, associaram
ideologia e personalidade para dar conta das tomadas de posições antidemocráticas e racistas. Esses
postularam que crenças que aparentemente não apresentam correlação entre si, estão ligadas por
uma interação psico-dinâmica. Portanto, ações econômicas e políticas do tipo conservadora, o
etnocentrismo, impregnado por uma rejeição aqueles que são diferentes, fazem parte do anti-
semitismo e dos elementos de personalidade que delineiam o autoritarismo.
Ideologicamente, infere-se que o bispo Edir Macedo estrutura a espinha dorsal de sua
pregação entorno de certo etnocentrismo. Para o sacerdote, as demais religiões caracterizam-se
como primitivas, decrépitas, fetichistas e demoníacas, ou seja, crenças inferiores ao
neopentecostalismo. Segundo Chauí (2008), a ideologia burguesa caracteriza-se pela conversão das
ideias da classe dominante em ideias preponderantes para todas as esferas sociais. Interligando os
fatos, a Igreja Universal do Reino de Deus, instituição visivelmente ligada ao sistema capitalista
imperante, impõe sua teologia como única forma de adoração ao criador. Através disso, a IURD
fomenta uma cruzada “antipagãos” impondo sua ideologia religiosa como única fé verdadeira.
Deus, explicitamente palpável nas assertivas teológicas, constitui-se na correlação entre problemas
sócio-psico-fisiológicos e possessões espirituais. Tal associação manifesta-se de maneira
esplendorosa na seguinte fala de Edir Macedo:
A “Guerra Santa” anunciada pela IURD dissemina-se através de discursos e pregações dos
líderes religiosos. Esses sacerdotes atribuem aos sistemas religiosos de matriz africana todo o mal
contido na personificação do Diabo Cristão, seja em seus cultos, programas de rádio e/ou
televisivos (ÁVILA, 2009).
Fomentando um talk show demoníaco, a Igreja Universal leva os fiéis ao êxtase da extrema
unção. Os líderes religiosos proferindo a palavra de Deus curam enfermos, conjuram demônios,
transformam homossexuais em heterossexuais, sanam dívidas, abençoam objetos e ressuscitam os
mortos.
Nessa conjuntura, a IURD acabou por criar uma relação de intensa troca de símbolos e
inversão de seus conteúdos originais, o que denota certa plasticidade da instituição que assimila
elementos de outras religiões compondo uma nova oratória (ÁVILA, 2009). Não nega a existência
dos deuses afro-brasileiros, porém modifica seu significado, e contraditoriamente, no seu processo
de constituição, fomentou, pela guerra santa, uma antropofagia da fé inimiga, tornando-se
semelhante ao inimigo, portanto, colocando-se numa posição que a assemelha às religiões afro-
brasileiras.
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É como querer se molhar sem entrar na água. Eu quero molhado, mas não
quero a água. É impossível. Eu quero o amor, mas não quero o autor do
amor (Renato Cardoso).
Não tem como. Você pode ter dinheiro, carreira, sabedoria e ser infeliz no
relacionamento. Pois esse relacionamento não tem Deus. Então, as pessoas
pensam que podem ter a felicidade que vem de Deus, sem Deus (Cristiane
Cardoso).
Nessa Perspectiva, os líderes religiosos concebem o amor conjugal como algo natural, obra
máxima do arquiteto universal, Deus. No livro “Casamento Blindado: o seu casamento à prova de
divórcio”, o bispo Renato Cardoso expõe que os problemas conjugais têm sua gênese ligada ao
Jardim do Éden. Para o sacerdote, a desobediência de Adão e Eva resultou em uma maldição que
afetou diretamente o relacionamento desses e de todos os seus descendentes. No Éden, Adão e Eva
viviam muito bem, em todos os sentidos. Eles receberam do Criador uma posição privilegiada na
53
Terra, com poder para fazer e acontecer. O homem foi colocado por sobre os demais seres vivos e
sobre toda a Terra. Esta autoridade também foi compartilhada com a mulher, pois toda natureza foi
colocada como serva do homem e da mulher.
O casal vivia no paraíso, pois, não tinham contas a pagar nem defeitos para apontar um no
outro. Mas, num belo dia, Eva desobedeceu a Deus e levou o marido a fazer o mesmo. Diante do
acontecido, Deus resolveu punir os infratores (CARDOSO & CARDOSO, 2012).
Para a mulher:
Disse também à mulher: “Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores,
teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio” (Gênesis 3: 16).
Segundo Cardoso e Cardoso (2012), Deus puniu o homem e a mulher subjugando-os aos
elementos de onde provieram: o homem ficou cativo à terra e a mulher, ao homem. Dentro de uma
perspectiva mais requintada, os líderes religiosos afirmam que, através dessa maldição, o homem
centrou sua dignidade no trabalho. O homem tem que trabalhar, pois Deus o designou como
provedor da família. Portanto, não há como aquele fugir dessa obrigação.
A maldição que cabe à mulher está relacionada à dependência dela aos anseios do marido.
Ou seja, a mulher estará sempre desejando algo do seu marido, e esse será o seu líder. Por
conseguinte, a esposa ficou dependente da aprovação do marido, e de ter nele a figura que realizará
seus desejos e ilusões. Para Cardoso e Cardoso (2012), os casais que se opõem aos fatos acabam
caindo no extremo oposto. O homem desiste de ser um vencedor, se torna fraco, um pamonha, um
peso para a família e para si; a mulher que se opõe ao homem torna-se azeda, petrificada,
inacessível para qualquer homem.
Nota-se que o machismo emerge das entranhas do discurso iurdiano, atribuindo à mulher
uma condição de eterna submissão aos desejos masculinos. O neopentecostalismo, como boa
religião cristã, alicerça sua teologia na literatura bíblica, principalmente nas partes que corroboram
54
seus preceitos ideológicos. Conforme Casagrande e Freitas (2013), a Bíblia foi escrita em uma
civilização patriarcal, ou seja, uma sociedade onde o poder estava centrado na figura masculina. Por
conseguinte, não surpreende que o primeiro pecado seja destinado a uma mulher, menos ainda que a
“mulher de Ló”, a “mulher do senhor de José”, a “mulher de Jó” e Dalila, fraquejem diante do
pecado. Outro fator de valia constitui-se no anonimato de muitas mulheres bíblicas, suas vidas estão
diretamente interligadas a personagens masculinas, corroborando o patriarcado imperante.
A lei mosaica, conjunto de regras dispostas no Pentateuco, é outro elemento que fundamenta
o machismo religioso. Por exemplo, segundo essa legislação sacra, a mulher, no seu período
menstrual, é considerada imunda e tudo que pegar será considerado imundo. Contextualizando os
fatos, os hebreus, nessa conjuntura temporal, haviam saído das terras do Egito e eram vulneráveis
quantitativamente perante qualquer povo belicoso, logo deveriam incentivar a natalidade para
suprimir essa defasagem. Nesse cenário, não surpreende, que em uma civilização sem domínio da
ciência médica, se apelasse para o espiritual, a vontade de Deus, para manter a mulher no ambiente
domiciliar durante seu período fértil, conceder a mulher viúva para o irmão do falecido e assegurar
que o homem não gaste seus espermas em atividades sem fins reprodutivos (CASAGRANDE;
FREITAS, 2013).
Não somos machistas na Igreja Universal. Temos pastoras. A mulher é tão importante
quanto o homem. Faço questão de promover o casamento para os dois se tornarem uma
família só. É óbvio: se não existe família, não existe igreja. O mais bonito na mulher é sua
simplicidade, a elegância de sua discrição.
Através de um discurso maquiado, o bispo Edir Macedo professa de forma implícita uma
pregação altamente machista. Pois, ao subjugar a mulher à família nuclear burguesa, acaba por
torná-la escrava de seu marido. De acordo com Pinto (2014), apesar do sacerdócio feminino, os
neopentecostais ainda reproduzem a cultura machista. É notável a atenção que a IURD dá ao tópico
relacionamento amoroso. O casamento é tido como objetivo máximo de toda fiel, ou seja, se não
está unida a um marido, a mulher encontra-se exposta a diversos males.
O que as pessoas não veem é o seguinte: dinheiro quer dizer confiança. Daí
surge à ligação com o amor porque confiança é à base do amor. Então, se
não há confiança, não pode haver amor (Renato Cardoso).
Renato, eu acho muito interessante porque foi lá nos Estados Unidos que
você descobriu aquela estatística do dinheiro como principal causa dos
divórcios. Eu achei isso um absurdo, quando você pensa dinheiro e
casamento, você imagina que não tem nada haver, pois amor é amor, vence
tudo. Só que muitas pessoas, na verdade, estão perdendo a confiança. Por
isso, o dinheiro fica ali, como aquela árvore que só a folha que aparece
(Cristiane Cardoso).
Observa-se que o casal de sacerdotes fomenta uma espécie de Reificação às avessas, pois, ao
igualar amor e dinheiro, acabam transformando um elemento abstrato em algo concreto. Na sua
obra História e Consciência de Classe, Lukács afirma que o sistema capitalista caracteriza-se pela
dominação do valor de troca, como dominação abstrata que as coisas desempenham sobre os
sujeitos. O estudioso expõe o fetichismo como uma questão exclusiva do capitalismo moderno,
ainda que as relações mercantis já existissem em etapas primitivas da sociedade, apenas na
contemporaneidade ela tornou-se universal, com o poder de influenciar todas as esferas sociais,
inclusive a igreja (CROCCO, 2009).
experiência religiosa com as mesmas características que a indústria cultural assimila os conteúdos
da cultura clássica.
Adiante, os bispos Renato Cardoso e Edir Macedo expõem que os problemas conjugais são
oriundos de fatores externos, espíritos. Para os sacerdotes, as entidades demoníacas assediam as
famílias não iurdianas, provocando conflitos, bregas, desentendimento e demandas:
Então, são valores que você agrega no seu coração, mudando os seus
pensamentos, por conseguinte, seus comportamentos com relação à outra
pessoa que você ama, mas não sabe que ama. Você está buscando
sentimento, e esse sentimento não é divino porque o espírito do desamor
está no mesmo (Edir Macedo).
[...] Eles depois de horas brigando, não chegam à conclusão nenhuma, não
lembram nem do motivo da briga. Parece que o santo de um não cruza com
o santo do outro. Realmente, há um espírito de confusão entre eles (Renato
Cardoso).
Quando uma pessoa entende que precisa alcançar um espírito maior, uma
força maior, que é o espírito de Deus, o espírito de Deus é o espírito do
amor, do entendimento, da compreensão, da paz, da gentileza, do ouvir,
enfim, é o espírito de tudo que é bom [...] você precisa buscar esse espírito
superior, esse espírito maior, o espírito do amor, para afastar de vocês esse
espírito de inimizade, de briga constante, de ciúmes e de tudo de ruim que
acontece entre vocês (Renato Cardoso).
efetivos aos quais se sujeitam inconscientemente. Dopados pela afetividade impregnada no discurso
religioso, os fiéis não notam que processos sociais são individualizados na figura de satanás, ou
seja, o drama da vida real é subjugado ao campo fictício da batalha sobrenatural. Por meio disso, a
Igreja Universal consegue explicar toda sorte de enfermidades que acometem seus fiéis.
A IURD não só se restringe a explicações, ela também propõe soluções para os problemas
cotidianos. O indivíduo neopentecostal deve-se submeter à disciplina iurdiana, pois sem a mesma
não sanará suas aflições. Com esse poder em mãos, a Igreja Universal molda os fiéis, influenciando,
até mesmo, na sexualidade desses. Para o Bispo Edir Macedo, em sua biografia autorizada, a
heterossexualidade é a única forma de expressão sexual abençoada por Deus. Em oposição, a
homossexualidade é algo não bíblico, uma escolha pecaminosa que desagrada à vontade do Criador.
De acordo com Silva (2012), a pregação neopentecostal está calcada no discurso cristão
medieval, o qual concebia a homossexualidade como um estado de possessão satânica. Essa
conjuntura possibilitou o surgimento de práticas proibitivas a cerca da homossexualidade, sendo
relegada a uma posição de anormalidade. Nos cultos da Igreja Universal do Reino de Deus, os
líderes religiosos prometem curar a homossexualidade, pois, para os mesmos, os homossexuais são
heterossexuais que tiveram seus corpos dominados por demônios.
Através do arcabouço teórico supracitado, expõe-se que a IURD concebe o amor conjugal
como algo natural, obra máxima de Deus. Para os líderes dessa instituição religiosa, os conflitos
conjugais são oriundos de fatores sobrenaturais, espíritos malignos, que, na maioria das vezes,
atacam casais não iurdianos. Dento disso, como única forma de sanar tal problemática, a Igreja
Universal acaba enquadrando seus fiéis em uma disciplina rígida de papéis, onde a mulher desponta
como submissa, e o homem como provedor. Nessa dinâmica, a IURD acaba por promover o
machismo, além da intolerância ao que difere dos padrões de heteronormalidade.
4.6. PROSPERIDADE
Nas falas dos bispos Renato e Cristiane Cardoso, a prosperidade é colocada como meta
principal do fiel iurdiano:
[...] acabando com a esposa dele porque o mesmo já afirmou que não tem
dinheiro. Ou seja, não vai trabalhar para aquilo, [...] Renato, na verdade
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tem outro problema porque ele também não está investindo na família que
supostamente possui, pois ele ainda mora com a mãe, achando que a
família dele é ali naquela casa (Cristiane Cardoso).
Observa-se que, a todo o momento, o casal de sacerdotes centraliza seu discurso na tão
proferida prosperidade. Segundo Sousa (2011), ao elaborarem seus discursos sob a luz da Teologia
da Prosperidade, os líderes religiosos constroem uma clara hierarquização entre emissor e receptor
da pregação sacra. O sumo criador não fala diretamente ao fiel, ele fala através do pastor, e o fiel
tem de escolher se quer ou não acreditar na palavra. Diversos elementos são utilizados para tornar
crível a pregação do sacerdote: os depoimentos de vida, o apelo à Bíblia para confirmar suas
pregações, sua experiência de vida, dentre outros. Se os teólogos da prosperidade não aterrorizam
os fiéis com o fogo do inferno, admoestam para as consequências, na vida mundana, da
incredulidade, uma vida sem bênçãos, ou seja, sem bens materiais.
Para uma melhor compreensão dos fatos, retomando o exposto na fundamentação teórica,
faz-se necessária uma contextualização histórica acerca da gênese do protestantismo. Conforme
Dalgalarrondo (2008), o protestantismo surge no século XVI, através das obras de Lutero e Calvino.
Em 31 de outubro de 1517, o monge alemão Martinho Lutero propõe suas 95 teses. De acordo com
Bowker e Edwards (2004), Lutero fomentou uma campanha contra quase todo o sistema medieval.
Da Alemanha, a Reforma Protestante expandiu-se para a Escandinávia e outros países do norte
europeu.
Nessa conjuntura, emerge uma nova teologia cristã centrada no labor. O fiel, para ser um
bom cristão, deve ir ao encontro de suas obrigações diárias. Para Calvino a vida correta e exitosa é a
confirmação máxima da graça divina. Com o surgimento da Reforma Protestante, a ascese cristã
imerge na vida mundana, fecham-se atrás de si os portões do mosteiro (DALGALARRONDO,
2008; WEBER, 2004).
[...] Pois, têm muitas mulheres que pensam assim: vamos casar, o amor
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[...] Nós vamos economizar um dinheiro, então, em tal ano nos casaremos.
Quer dizer, será que ele já sentou e passou para a noiva algum tipo de
planejamento, objetivando dar um norte ao relacionamento. Então, se ele
não fez isso, claro, há uma frustração dentro dela. Nós homens pensamos
assim: desde que haja comida na geladeira para hoje está bom. Semana que
vem, é semana que vem. Mas a mulher fica muito frustrada com isso tudo
(Renato Cardoso).
Observa-se que a IURD, como as demais instituições neopentecostais, professa uma lógica
diferenciada acerca do dinheiro. Para o cristianismo medieval, a pobreza era algo recomendado, já a
riqueza era concebida como algo nocivo; não se deveria acumular dinheiro, morrer pobre era pré-
requisito para a salvação. Com o despontar do protestantismo, há uma resignificação do simbolismo
religioso. Agora, a prosperidade material não é algo maligno, mas, sim, sinal de bênção divina. No
entanto, tal graça divina deve ser acompanhada de uma ascese rigorosa, o gozo dos bens materiais
deve ser resguardado. Em oposição, o neopentecostalismo prega o usufruto das riquezas na Terra, o
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Segundo Junior (2007), ao fugir da teologia tradicional, a IURD expandiu seu mercado
religioso, pois na modernidade os indivíduos buscam a felicidade na Terra e não no plano
sobrenatural. O discurso iurdiano vai ao encontro da necessidade da população que vem sendo
afetada pelas crises constantes do capitalismo. O perfil do fiel da Igreja Universal está ligado à
figuro do “excluído social”.
De acordo com Molon (2002), dentro da lógica capitalista fomentadora da exclusão social, a
IURD apresenta uma estratégia eficiente de inclusão devida à exclusão, contudo, essa é uma
inclusão social perversa, que ilusoriamente está direcionada para os excluídos, ela chama todos para
si, mas somente serão eleitos aqueles que conseguirem vencer as artimanhas do demônio:
homossexualismo, bruxaria, prostituição, entre outros. Portanto, a fim de combater a lógica da
exclusão edifica-se uma lógica perversa de inclusão.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, através da análise dos dados, pôde-se constatar que há relação entre o discurso
institucionalizado da Igreja Universal do Reino de Deus e determinados elementos de violência na
contemporaneidade. Sob a luz da teoria crítica da sociedade, a presente pesquisa expôs os dados
coletados a um vasto arcabouço científico-literário interligado à corrente teórica supracitada. Visto
isso, tal fato possibilitou o entendimento da gênese do movimento neopentecostal no Brasil, bem
como sua interligação teológico-institucional à propagação de determinados elementos de violência
na contemporaneidade. Afirma-se que não somente a religião é responsável pela propagação dessa
lógica social perversa, mas, sim, todas as instâncias imersas nesse sistema sócio-decadente.
Retomando o casamento, nada melhor que uma base bíblico-machista para definir o que
vem a ser amor conjugal. Conforme o bispo Renado Cardoso, os laços que unem marido e esposa
têm sua gênese no Jardim do Éden. Visto isso, pela infração cometida na era adâmica; o homem
ficou cativo à terra e a mulher, ao homem.
Através das chagas sociais reforçadas e ampliadas pelo sistema capitalista, a IURD opera
uma lógica perversa de inclusão. A Igreja Universal chama os excluídos para si, porém só serão
salvos aqueles que conseguirem vencer as tentações demoníacas: bruxaria, homossexualismo,
luxuria. Logo, combatendo a exclusão fomenta-se uma lógica maligna de inclusão.
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67
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118p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Pontifícia Universidade Católica de São
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social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 2001.
Pernambuco, 2006.
APÊNDICES
70
(V1)
Família
Renato “Nós temos esse problema aqui no Brasil mais que em outros países,
por exemplo, em países mais desenvolvidos a cultura é o seguinte: o
filho completou dezoito anos, então, ele é encorajado pelos pais a sair
do ninho, sai fora, vai arrumar um trabalho, morar sozinho, pagar suas
contas, para quê, para você desenvolver a sua independência, a sua
responsabilidade. É uma maneira, eu vejo, tem o seu lado positivo
porque força o jovem a começar a ser mais maduro, ou seja, mais
responsável com ele mesmo. Então, ele já começa a aprender ganhar
seu próprio dinheiro, pagar o seu carro, saber o que é dívida, se
controlar, então, isso requer um desenvolvimento. Já no Brasil, o
sujeito está lá, como esse, trinta e poucos anos, quarenta anos,
cinquenta anos, comendo na cozinha da mamãe e do papai”.
para homem com o seu filho, pois quando vocês morrerem como ele
vai cuidar dessa família. Quer dizer, eu abriria meu coração com o
pai, é uma possibilidade, porém não sei que tipo de pai ele é, porque,
às vezes, até o pai é mandado pela mãe, mas isso é outro problema”.
Cristiane “Eu tenho aqui a pergunta da Vanessa, de Manaus, ela fala assim: Eu
tenho 29 anos, meu esposo tem 36, me casei há dez anos e como
brinde com a mãe dele também. Moramos nos fundos da casa dela,
sinto-me deslocada, uma intrusa, ela manda e desmanda no filho. Meu
marido diz que nunca vai sair da casa da mão porque não tem
dinheiro para comprar uma casa. Como lidar com um filho adulto e
único que casou e não quer sair de perto da mãe?”
“Nós temos outra pergunta, ela diz: Sou noiva e pretendia casar-me
este ano. Mas, meu noivo começará a fazer faculdade e estou à
procura de emprego. Não estou conseguindo obter atenção para o
nosso relacionamento. Já pensei em terminar, mas vejo isto como ato
de covardia. Não sei o que fazer, isso está causando conflitos em
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nosso relacionamento”.
Amor Conjugal
Renato “Nós temos que entender que, basicamente, dinheiro significa
confiança, ou seja, dinheiro quer dizer confiança. Quando você pega
uma nota de cinquenta reais, cem reais, seja qual for o valor, e você
vai a uma loja, em algum lugar, e você dá aquele dinheiro em troca de
objetos ou serviços, o que você está fazendo é depositando confiança
nesses elementos. Então, o dinheiro, na verdade, não é o papel, esse é
apenas o símbolo daquele. O papel simboliza a confiança que
colocamos ao adquirirmos algum produto. Então, se temos a
confiança que aquilo vai atender as nossas necessidades, transferimos
o dinheiro para a mão da outra pessoa. É mais ou menos assim
Cristiane, se você vai fazer o cabelo e não confia muito no
cabeleireiro, então, você não vai pagar aquele valor, você só paga o
valor se confia que vai ser satisfeito”.
Cristiane “Renato, eu acho muito interessante porque foi lá nos Estados Unidos
que você descobriu aquela estatística do dinheiro como principal
causa dos divórcios. Eu achei isso um absurdo, quando você pensa
dinheiro e casamento, você imagina que não tem nada haver, pois
amor é amor, vence tudo. Só que muitas pessoas, na verdade, estão
perdendo a confiança. Por isso, o dinheiro fica ali, como aquela
árvore que só a folha que aparece”.
“A esposa é quem sofre com isso. Nosso conselho para você, Vanessa,
é o seguinte: você não tem como entrar nessa guerra, pois você fala
também que está com problema com a sogra, então você não deve
ficar numa guerra com ela, pois não vai contribuir. Você tem que ver
maneiras de contribuir, já que você mora na casa dela, então é um
desrespeito ser uma inimiga dentro de casa, mesmo que ela não esteja
ajudando, mas o importante é você ser amiga dela”.
Prosperidade
Renato “De outra forma, você não deve fazer disso um problema porque
enquanto ficar focando, por exemplo, toda vez que ela chegar a casa,
passa pela casa da sogra e vai para os fundos da casa. E toda vez que
ela faz isso, eu imagino que deve ser uma facada no coração dela,
uma frustração, poxa há tantos anos estamos aqui. Você deve deixar
de fazer disso um problema e utilizar a situação para se unir ao seu
marido. Porque se você não tomar cuidado, esse assunto de dinheiro
se tornará uma muralha entre vocês, ou seja, você vai esfriar com ele,
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“E está bem com isso, acabando com a esposa dele porque o mesmo
já afirmou que não tem dinheiro. Ou seja, não vai trabalhar para
aquilo, não está trabalhando, não está vendo assim, bom, a gente vai
ficar aqui cinco anos, e eu vou conseguir dinheiro para alugar uma
casa. Renato, na verdade tem outro problema porque ele também não
está investindo na família que supostamente possui, pois ele ainda
mora com a mãe, achando que a família dele é ali naquela casa”.
“Ela também não deve querer que ele, eu não sei se ela está querendo
dizer que ele não quer casar logo. Pois, têm muitas mulheres que
pensam assim: vamos casar, o amor supera tudo, o desemprego, os
problemas financeiros. Não é bem assim, não é bem assim. Nós
estamos falando dos problemas que vêm com o dinheiro”.
Renato
Cristiane
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(V2)
Família
Renato “Sem fazer o que é certo para seu marido ou esposa, sem fazer o que é
certo, ao seguir as leis que regem um bom casamento, a empresa do
casamento, não há como você ter um casamento feliz. As pessoas
entendem muito bem disso lá fora, por exemplo, nas empresas no
momento que a pessoa é admitida está sujeita a um conjunto de
regras. Mas, no casamento parecem que as regras não valem de nada”.
Cristiane
Edir Macedo “Minha amiga, meu amigo, a família começa com a justiça, você
sabia disso? Como! Por exemplo, você não pode exigir justiça de
ninguém, mas você pode construir um reino, você pode construir um
reino, é isso mesmo, um reino! É, um reino. Você pode construir um
império. Império! É, um império seu, privado, particular, que é a sua
casa, sua família. O que é a família: a família é constituída do pai, da
mãe e dos filhos. Então, se essa família está estrutura e fundamentada
na palavra de Deus, então, a justiça, consequentemente haverá paz,
tranquilidade, gozo e paz. Por quê? Porque a justiça é nada mais, nada
menos, do que é certo e justo. Todo mundo quer as coisas certas.
Então, você quer casar, porque você quer casar, às vezes, a pessoa
quer casar para sair da sua casa, da sua família, do seu pai, da sua
mãe. Há tantas brigas e confusões, ela, eu não quero viver nesta
confusão, não quero viver neste lar cheiro de conflitos. Eu quero
começar tudo de novo. Então, você vai começar seu império, quer
dizer, seu reino, quer dizer, sua casa. Para você ter uma casa em paz e
segurança, então, você vai buscar uma pessoa, uma parceira ou
parceiro, que venha ajudar você a construir esse lar, que venha somar
com você, que venha agregar com você valores e que venha manter
com você uma harmonia. Essa inexistente na casa paterna. A família,
casamento, é uma empresa que você tem que administrar”.
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Amor Conjugal
Cristiane “Não tem como. Você pode ter dinheiro, carreira, sabedoria e ser
infeliz no relacionamento. Pois esse relacionamento não tem Deus.
Então, as pessoas pensam que podem ter a felicidade que vem de
Deus, sem Deus”.
“Tem que ser dito o seguinte: ela pensa que o amor acabou, mas o
amor não acabou, é impossível o amor acabar. O amor é como a luz,
que não se apaga nunca, pois é permanente e eterna, assim, também, é
o amor. Então, são valores que você agrega no seu coração, mudando
os seus pensamentos, por conseguinte, seus comportamentos com
relação à outra pessoa que você ama, mas não sabe que ama. Você
está buscando sentimento, e esse sentimento não é divino porque o
espírito do desamor está no mesmo”.
“Quando uma pessoa está enferma de amor, ela vai onde há solução.
Se tiver que ir para o outro lado do mundo, ela vai. A pessoa quer
ficar curada, pois a dor que atinge o coração é insuportável. Eu penso
porque já sofri com esse problema”.
“Não tem como você entrar no Templo de Salomão e não ouvir Deus
Falar com você. Antes de a gente falar, antes da gente entrar, a pessoa
já começa a ouvir, a ter direção, pois o lugar em si é especial. Então,
imagina que privilégio, a gente poder falar de amor em um lugar que
nasceu o amor”.
Prosperidade
Renato
Cristiane
Edir Macedo
Renato
Cristiane
Edir Macedo “Mas, é como na bruxaria diz o seguinte; às vezes, a pessoa tem um
santo, o marido tem um santo de frente; e a mulher tem outro santo de
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frente. Então, a cabeça dos dois está dominada por estes espíritos. Um
casal sincero, inteligente, empresário, um profissional da área
jurídica, ele me procurou e disse assim: bispo, nós nos amamos, nos
amamos mesmos. Tanto é que quando nos separamos, nós sentimos
uma falta um do outro, ligamos, enfim, mas quando estamos juntos
não podemos ter uma casa. Eu montei um apartamento, e ela ficou na
nossa casa. Mas, não podíamos unir os nossos objetos, porque toda
hora era briga, qualquer coisa havia demanda. Dito e feito, quando
nós oramos e impomos as mãos na cabeça deles, então, o espírito
familiar, o espírito que causa demandas, manifestou, e depois de ser
arrancado, então, mudaram de vida”.