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RELIGIÃO E DESINFORMAÇÃO: DISCURSO DE LÍDERES RELIGIOSOS NA

PROPAGAÇÃO DE CONTEÚDOS ENGANOSOS

Grupo de trabalho: Comunicação, tecnologia e sociedade

RESUMO

O presente estudo aborda a relação entre comunicação, desinformação e religião. Reflete sobre o
papel de líder religioso na possível disseminação de informações falsas. Procura utilizar o
conhecimento de bases filosófica e comunicacional para compreender como influenciadores em
religião se valem de dogmas para convencerem seguidores e fiéis, bem como para propagar
conteúdos enganosos. Observa-se um perfil de fiel que frequentemente renuncia a sua capacidade
crítica devido ao medo de punição divina e segue ensinamentos de seus líderes, vistos como
autoridades espirituais. Essa confiança é fundada na percepção de que líderes têm um conhecimento
mais profundo dos textos sagrados ou de experiências espirituais, bem como empregam técnicas
comunicacionais persuasivas no convencimento de fiéis.

Palavras-chave: Comunicação. Filosofia. Dogmas.

INTRODUÇÃO

As informações falsas e os conteúdos enganosos são preocupações na


sociedade contemporânea que ganharam destaque na política, principalmente nas
últimas eleições. Dentre as ferramentas utilizadas na corrida presidencial, teve
destaque: a manipulação e a distorção de informações, as chamadas fake news,
potencializadas pelo poder de manipulação social da comunidade evangélica
pentecostal, que atualmente representa cerca de 30% do eleitorado brasileiro
(ARAUJO, 2019). Neste sentido, o presente estudo aborda a relação entre fake
news (desinformação), religião e o papel desempenhado por líderes religiosos na
manipulação social com foco no poder político. Especificamente, busca-se
compreender o mecanismo que líderes religiosos utilizam para convencer seus fiéis,
principalmente por meio de comunicação persuasiva.

METODOLOGIA

A pesquisa considera o método de análise crítica do discurso (ACD), proposta


por Norman Fairclough (2016). Para o autor, a linguagem é uma forma de prática
social e, portanto, não pode ser considerada como atividade puramente individual.
Por se tratar de uma abordagem transdisciplinar, na ACD a linguagem representa as
variáveis situacionais do discurso (FAIRCLOUGH, 2016). Para tanto, emprega três
formas de análise em uma só: análise de textos falados ou escritos; análise de
prática discursiva, incluindo processos de produção, distribuição e consumo dos
textos; e análise de eventos discursivos relativos à prática sociocultural. A pesquisa
também emprega pressupostos de análise crítica do discurso de Teun A. van Dijk
(2005), que considera que a abordagem deve levar em conta a relação entre
cognição, discurso e sociedade.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Uma perspectiva sociológica relevante é apresentada por Monahan, Mirola e


Emerson (2011) em seu livro Sociology of Religion, em que discutem que a religião
desempenha um papel central na sociedade, fornecendo um conjunto de valores
para a vida das pessoas. Embora muitos líderes religiosos exerçam seu poder de
maneira responsável e ética, a manipulação de valores e dogmas por líderes tem
sido uma atitude frequente na sociedade brasileira. Dentre os mecanismos mais
utilizados na manipulação de fiéis tem destaque os seguintes: interpretação seletiva
de textos sagrados, controle autoritário e manipulação emocional.
O presente estudo se atém essencialmente à manipulação emocional, por
meio de comunicação persuasiva, mecanismo pelo qual líderes religiosos exploram
vulnerabilidades emocionais de seus seguidores, direcionando assim seus valores a
partir de dogmas impostos aos fiéis (LALICH; TOBIAS, 2006) . No Cristianismo, um
dogma é uma crença comunicada por revelação divina e definida pela Igreja
(BLACKBURN, 2005) . Segundo Lalich e Tobias (2006), dogmas são frequentemente
utilizados como doutrinas rígidas e inquestionáveis que possibilitam a coesão e o
controle de um grupo, podendo ser utilizados para manipular o pensamento crítico,
uma vez que é esperado que os adeptos aceitem inquestionavelmente as crenças e
ensinamentos impostos.
A abdicação da capacidade crítica e o questionamento feitos por fiéis podem
ser interpretados pela ótica traçada por Dawkins (2007) em seu livro: O gene
egoísta. Nessa obra, Dawkins conceitua o termo memes – ideias que agem como
genes – e cita o grande poder de manipulação proporcionado por duas ideias que
juntas têm se perpetuado por toda a história. A primeira delas é existência de um
Deus vinculado a um paraíso e a um livro sagrado com regras explícitas que caso
sejam obedecidas levarão o fiel ao paraíso. A segunda diz respeito à existência de
um Diabo, vinculado a um inferno e à desobediência das regras impostas pelo
mesmo livro. A união desses memes foi impactante para a humanidade e tem se
mostrado forte por toda a história.
Para lidar com a desinformação no meio religioso, é crucial que fiéis
desenvolvam pensamento crítico e analisem as informações recebidas. Entretanto,
incentivar o pensamento questionador no referido ambiente pode ser delicado, pois
envolve o respeito à liberdade de crença. Abordagens para encorajar o pensamento
crítico incluem ambientes acolhedores para diálogos abertos, curiosidade intelectual
e educação midiática com ênfase na verificação de fontes.
O estudo ainda está em andamento, mas visa selecionar textos, práticas e
eventos discursivos de líderes religiosos no período de 2018 a 2019 que foram
apurados por agência de fact-checking e considerados fake news. A propagação de
desinformação no contexto religioso e o papel de líderes religiosos nesse processo
exigem uma análise crítica e reflexiva.
Com tal panorama, é possível verificar um perfil de fiel que frequentemente
renuncia a sua capacidade crítica devido ao medo da punição divina e segue
ensinamentos de seus líderes, vistos como autoridades espirituais. Essa confiança é
fundada na percepção de que líderes têm um conhecimento mais profundo dos
textos sagrados ou de experiências espirituais. O fenômeno cria um exército de fiéis
que obedecem de maneira cega a seus líderes que, quando guiados por interesses

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político-partidários, criam narrativas fantasiosas e ajudam na propagação
desinformação.

CONCLUSÕES

A boa comunicação é crucial no combate à desinformação, pois estimula o


questionamento e o engajamento intelectual em busca da verdade. Desmascarar a
desinformação requer uma abordagem educacional ampla, destacando-se as áreas
da filosofia, ciências e comunicação. A filosofia desempenha um papel fundamental
ao estimular o pensamento crítico e a busca por uma compreensão mais profunda
do mundo e de nós mesmos. Por sua vez, as ciências sustentam o pensamento
crítico, com base em evidências, questionamento e análise lógica. Por fim,
auxiliados por uma boa comunicação podemos enfrentar a desinformação de
maneira mais eficaz. Ao promover uma comunicação clara, responsável e
acolhedora, associada a uma boa base filosófica e científica, poderemos fortalecer a
luta contra a desinformação e construir uma sociedade mais crítica e informada.

REFERÊNCIAS

FAIRCLOUGH, N.. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de


Brasília, 2016.

LALICH, J.; TOBIAS, M. Take back your life: Recovering from cults and abusive
relationships. [S.l.]: Bay Tree Publishing, 2006.

MACHADO, G. O comportamento informacional de líderes religiosos em Belo


Horizonte. Tese de pós-graduação, Universidade Federal de Minas Gerais, 2019.

MONAHAN, S.; MIROLA, W.; EMERSON, M. Sociology of Religion. [S.l.]: Boston:


Pearson, Education, Inc.| GS., 2011

RODRIGUES, T. S. L.. Fundamentalismo religioso na perspectiva de estudantes e


professores de psicologia. 2016. 21 f. Artigo (Graduação) - Faculdade de Ciências
da Educação e Saúde, Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2016.

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