Você está na página 1de 9

A influência na modelagem comportamental causada pela fé

The influence on behavioral modeling caused by faith

SILVA, Francisco Júnior


SILVA, Ananda Maria Sousa
VILAS BOAS, Danielly Silva
MARTINS, Beatriz Santos
RAULINO MAIA, Luiz Felipe
Prof. Breno Magalhães

Resumo: Em um mundo marcado por constantes mudanças sociais, culturais


e tecnológicas, surge a seguinte questão: como a fé influencia o
comportamento humano e quais são os desafios e possibilidades que essa
influência traz para indivíduos e sociedades? A religião é uma prática muito
difundida em diversas culturas e pode influenciar significativamente o
comportamento humano. Este artigo de revisão bibliográfica tem como objetivo
analisar a modelagem comportamental causada pelas religiões. Foram
selecionados artigos que abordam essa relação entre religião e
comportamento humano, e a partir dessa análise foram discutidos os principais
aspectos que influenciam a modelagem comportamental.
Palavras-chave: Religião. Modelagem. Comportamento. Psicologia

Abstract: In a world marked by constant social, cultural and technological


changes, the following question arises: how does faith influence human
behavior and what are the challenges and possibilities that this influence brings
to individuals and societies?Religion is a widespread practice in different
cultures and can significantly influence human behavior. This bibliographic
review article aims to analyze the behavioral modeling caused by religions.
Articles that address this relationship between religion and human behavior
were selected, and from this analysis the main aspects that influence
behavioral modeling were discussed.
Keywords: Religion. Modeling, Behavior. Psicology.

1 INTRODUÇÃO

A publicação da décima segunda Encíclica Papal “Fides et Ratio" do


Papa João Paulo II, de 14 de Setembro de 1998, aborda o principal escopo
deste trabalho: ciência e fé; comportamento e religiosidade. Constituintes de
determinantes do conhecimento do ser humano.
Desde os primórdios da humanidade, as religiões têm sido uma
presença constante na vida das pessoas. Além de serem uma fonte de consolo
e orientação espiritual, as religiões também podem ter um impacto significativo
na construção do comportamento humano. Tal processo pelo qual o
comportamento de um indivíduo é influenciado por fatores externos e seus
controladores, como a cultura, a educação e a religião é denominado
modelagem comportamental. (BAUM, 1999).
As religiões podem moldar a forma como os indivíduos se comportam.

1.1 CONTEXTO NO BRASIL

A religião desempenhou um papel fundamental na formação histórica e


cultural do Brasil. Durante o período colonial, o país foi colonizado
principalmente por países europeus com tradições religiosas cristãs, como o
catolicismo. Essa herança religiosa se enraizou na sociedade brasileira e
influenciou as crenças e práticas religiosas ao longo do tempo
Segundo Plomin em Behavior genetics, o comportamento humano é
moldado pela interação complexa de fatores genéticos, ambientais e sociais.
O ambiente se torna fator controlador e determinante de tal modelagem.
Para muitos brasileiros, a religião desempenha um papel importante na
formação de sua identidade individual e coletiva. Participar de uma religião
oferece um senso de pertencimento a uma comunidade, proporcionando uma
estrutura social e um suporte emocional para os crentes.
De acordo com Pargament, a modelagem comportamental por meio de
práticas religiosas pode fornecer um senso de significado e propósito na vida,
afetando o bem-estar psicológico e emocional dos indivíduos.
Tabela 1 – Religiões no Brasil

Fonte: Datafolha

1.2 A FÉ NA ANÁLISE COMPORTAMENTAL

Um dos principais referenciais teóricos da modelagem comportamental


é B.F. Skinner. De acordo com ele, o comportamento é influenciado por suas
consequências, ou seja, as respostas que são seguidas por consequências
agradáveis tendem a ser reforçadas e se tornarem mais prováveis de ocorrer
novamente, enquanto as respostas seguidas por consequências
desagradáveis tendem a ser inibidas ou extintas.
Os escopos de análise de tais influências comportamentais no âmbito
religioso, podem ser observadas abaixo.

• Cognição e comportamento religioso:


Escopo: Compreensão das crenças centrais, dogmas e valores
religiosos que alteram o comportamento dos indivíduos. A abordagem
cognitiva estuda como as crenças religiosas são formadas, processadas
e influenciam o comportamento humano. Assim como abordado nas da
cognição religiosa de Justin L. Barrett (2004) e a teoria da mente
modular de Pascal Boyer (2001).

• Identidade religiosa e comportamento de grupo:


Escopo: Exploração de como a identidade religiosa influencia a
autopercepção e a formação de grupos sociais. A teoria da identidade
social, desenvolvida por Henri Tajfel e John Turner (1986), examina
como a identidade religiosa afeta a formação de grupos e o
comportamento intergrupal. Também pode-se considerar a teoria da
identidade religiosa proposta por R. David Hayward (2015).

• Motivação e comportamento religioso:


Escopo: Investigação de como as crenças e ensinamentos religiosos
atuam como agente motivacional na construção do comportamento
humano. A teoria da autodeterminação, desenvolvida por Edward L.
Deci e Richard M. Ryan (1985), pode ser aplicada para entender como
a motivação intrínseca e extrínseca afetam o engajamento em práticas
religiosas e o comportamento moral relacionado à religião.

• Socialização religiosa e desenvolvimento humano:


Escopo: Análise da construção de relações sociais e da participação em
comunidades religiosas bem como suas dinâmicas sociais internas. A
abordagem sociocultural e do desenvolvimento humano, como proposta
por Lev Vygotsky (1978), pode ser aplicada para compreender como a
socialização religiosa na infância e na adolescência influencia a
formação de valores, crenças e comportamentos religiosos ao longo da
vida.

• Psicologia da experiência religiosa:


Escopo: Analise das práticas ritualísticas, observâncias e
comportamentos devocionais relacionados a religião e suas alterações
na psique humana A abordagem fenomenológica, representada por
estudiosos como William James (1902) e Abraham Maslow (1964),
investiga a experiência subjetiva da religiosidade e como ela molda as
percepções e ações dos indivíduos

2 METODOLOGIA

Para esta revisão bibliográfica integrativa exploratória, foram


pesquisados artigos nas bases de dados Google Acadêmico e SciELO
(Scientific Electronic Library Online), utilizou-se os descritores em ciência da
Saúde – (DeSC) e indexadores – Medical Subject Headings – (MeSH)
considerando as palavras-chave: comportamento, modelagem, fé e seus
respectivos termos na língua inglesa: “Faith”; “Modeling”, “Behavior” com os
operadores booleanos: “AND” e “OR”. Desta forma, a busca ocorreu assim: “
Behavior” OR “Comportamento” AND “Modelagem” OR “Modeling” AND “Faith”
OR “Fé”. Como critérios de inclusão, adotou-se artigos randomizados e
publicados entre os anos de 2017 e 2022, integralmente disponíveis e
condizentes com o estudo, nas línguas em inglês e em português. Os critérios
de exclusão foram: artigos duplicados, trabalhos que fossem revisões ou
capítulos de livros e artigos fora do escopo do trabalho.
A princípio foram encontrados 50 artigos sendo, 42 artigos no banco de
dados Google Acadêmico e 8 no banco de dados SciELO. Analisando-se os
resultados e discussões, aplicou-se os critérios de inclusão e exclusão e os
artigos foram reduzidos a 13 sendo nas bases SciELO e Google Acadêmico.
Por fim, fez-se uma análise independente, e posteriormente, a concordância
entre juízes (os autores), buscando reduzir os vieses da avaliação
independente, focando na relação entre fé e comportamento encontrado nos
artigos selecionados. A avaliação resultou no descarte final de 3 trabalhos e
na adoção de 10 artigos por trazerem dados que faziam parte do escopo deste
trabalho: A influência na modelagem comportamental causada pela fé.

Figura 1: Prisma de identificação e seleção dos estudos.

Fonte: Própria
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados encontrados através da revisão bibliográfica integrativa


indicam, em seus artigos e livros examinados, que a religião pode ter um papel
importante na construção do comportamento.
A discussão principal do presente estudo é sobre alterações
ocasionadas pela fé no dia a dia do ser humano, tendo como escopo os valores
transmitidos e reiterados pelas religiões através dos tempos. Por exemplo,
muitas religiões enfatizam a importância da caridade e da generosidade, o que
pode levar os indivíduos a se comportarem de forma mais altruísta. Além disso,
a religião também pode influenciar a forma como os indivíduos se relacionam
com a família, amigos e comunidade.
Os artigos de BAUNGART; SOUSA e SATTER correlacionam a fé ao
comportamento englobando também o viés profissional dos indivíduos, que
refletem os ensinamentos de suas religiões em seus trabalhos e ofícios.
Os artigos de MOREIRA; COSTA; RODRIGUES; SABATINI; FALCÃO;
FARIA e ENES confrontam as mudanças comportamentais causadas pela fé
e a religiosidade, sendo os de ENES; SABATINI e BAUNGART de uma
perspectiva fenomenológica da relação entre fé e comportamento.
Dentre os artigos, o de SABATINI desperta mais atenção por relacionar
jovens universitários e fé ao comportamento desenvolvido no âmbito
acadêmico.
Se percebe um grande produto da relação entre fé e comportamento,
tendo a religiosidade dos indivíduos como controlador das suas respostas.
Outro aspecto importante é que a religião pode ter um impacto na saúde
mental dos indivíduos. Algumas pesquisas sugerem que a religiosidade pode
estar associada a um melhor bem-estar psicológico e a uma menor incidência
de depressão e ansiedade.
No entanto, é importante destacar que a relação entre religião e
comportamento humano pode ser complexa e multifacetada. Por exemplo,
algumas religiões podem promover visões estereotipadas ou preconceituosas
em relação a determinados grupos sociais, o que pode levar a
comportamentos discriminatórios.
Além disso, a religião também pode ser usada como justificativa para
comportamentos extremistas ou violentos.
Tabela 2 – Artigos selecionados de acordo com Referência,
Título e Objetivo

Referência Título Objetivo


1 BAUNGART, T.A.A. Experiência Religiosa e O objetivo desta pesquisa foi
AMATUZZI, M.M. Crescimento Pessoal: Uma entender em que sentido a
Compreensão experiência religiosa de católicos
Fenomenológica. pode estar relacionada com o
crescimento pessoal.
2 SOUSA, E.S. A influência das crenças O objetivo desta pesquisa foi analisar
PAIVA, E.B.P. religiosas na intenção a influência das crenças religiosas e
SANTOS, A.R. empreendedora: uma das dimensões da Teoria do
REBOUÇAS, análise sob a perspectiva Comportamento Planejado na
S.M.D.P. da Teoria do intenção empreendedora.
FONTENELE, Comportamento
R.E.S. Planejado.
3 MOREIRA, S.L. Análise Comportamental O presente estudo tem por objetivo
da Fé dissertar sobre a fé através da análise
do comportamento, enfocando as
causas ambientais, culturais e
históricas do indivíduo como agentes
que modulam seu comportamento.
4 COSTA, M.A. Terapia cognitivo- O presente estudo pretende cobrir
ALMEIDA, A.M. comportamental adaptada duas importantes lacunas na
à religiosidade: um guia literatura: a dissociação que existe
prático para os pacientes entre o corpo de evidências e a
adeptos ao espiritismo. prática clínica e a falta de estudos que
abordem o espiritismo.
5 SATTLER, N.V. A influência da religião no Tem por objetivo identificar se a
comportamento altruísta religião exerce influência sobre o
de um agente. comportamento de um agente
econômico e qual é a sua natureza.
6 RODRIGUES, Um diálogo entre um Este artigo discute a religião através
T.S.P. cristão ortodoxo e um de um diálogo entre dois sujeitos
DITTRICH, A. behaviorista radical. fictícios: Tommaso, um behaviorista
radical e defensor da ideia
skinneriana de que a religião não se
diferencia de outras formas de
controle, e Gottlieb, um cristão
ortodoxo e entusiasta da
religiosidade.
7 SABATINI, F. Fenomenologia da O objeto desta dissertação é o
Experiência e do estudo do comportamento religioso
Comportamento Religioso dos jovens de uma Universidade do
em Jovens Universitários. interior de Goiás, Rio Verde
8 FALCÃO, M.C. Pluralismo religioso em O objetivo do estudo é compreender
relações familiares: poder, de forma aprofundada a relação entre
gênero e reprodução. família e religião na
contemporaneidade.
9 FARIA, J.B. Religiosidade e Este artigo é uma revisão da literatura
SEIDI, E.M.F. enfrentamento em sobre religiosidade e enfrentamento
contextos de saúde e no processo saúde-doença. O uso de
doença: revisão da estratégias cognitivas e/ou
literatura. comportamentais para lidar com
estressores, advindas da
religiosidade da pessoa, é
denominado enfrentamento religioso.
10 ENES, J. Estrutura coabitacional da O presente ensaio pretende atingir a
vivência religiosa: ensaio essência da religião pela análise
de fenomenologia fenomenológica do comportamento
religioso do homem
Fonte: Própria

4 CONCLUSÃO

Em suma, este artigo de revisão bibliográfica sugere que a religião pode


ter um papel importante na modelagem comportamental. Embora a relação
entre religião e comportamento humano possa ser complexa e multifacetada,
é importante reconhecer o impacto que as crenças religiosas podem ter no
comportamento humano. Uma das principais formas pelas quais a fé influência
o comportamento é por meio da aquisição de valores e normas éticas
transmitidas pelas religiões, estabelecem um conjunto de princípios e regras
para orientar a conduta dos fiéis, fornecendo diretrizes sobre o que é certo e
errado. Portanto, é essencial promover um diálogo intercultural e religioso para
promover uma compreensão mais profunda. Na base acadêmica ainda se é
carente de mais estudos que estreitem essa relação, que forneçam o material
para futuras discussões
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, C. G. (2017). Umbanda e relações de gênero: Um estudo


etnográfico da casa de matriz africana na cidade do Rio de Janeiro. Revista
Brasileira de Ciências Sociais, 32(94), 1-18.
BARRETT, J. L. (2000). Exploring the natural foundations of religion. Trends
in Cognitive Sciences, 4(1), 29-34.
BAUM, William M. (1999) Compreender o Behaviorismo Ciência,
Comportamento e Cultura (M.T.A. Silva, M.A. Matos, G.Y. Tomanari, E.Z.
Tourinho) Porto Alegre: Artmed. 290 p.
BOYER, P. (2001). Religion Explained: The Evolutionary Origins of Religious
Thought. Mind & Society, 2(1), 147-149.
DECI, E. L., & RYAN, R. M. (1985). Intrinsic Motivation and Self-Determination
in Human Behavior. American Psychologist, 55(1), 68-78.
Dobbelaere, K. (2002). Secularization: An analysis at three levels. Journal for
the Scientific Study of Religion, 41(1), 17-27.
HAYWARDS, R. D. (2015). Religion and Mental Health: The Case of
Conservative Protestants. Journal of Religion and Health, 54(2), 579-595.
JAMES, W. (1902). The Varieties of Religious Experience: A Study in Human
Nature. Longmans, Green & Co.
MACHADO, M. M. (2003). O catolicismo conservador na sociedade brasileira.
Revista de Ciências Sociais, 24(1), 61-88.
MASLOW, A. H. (1964). Religions, Values, and Peak-Experiences. Journal of
Humanistic Psychology, 4(3), 219-233.
OLIVEIRA, J. L. (2011). A influência da religião no comportamento ético das
organizações: um estudo exploratório em uma instituição financeira brasileira.
Revista de Administração, Contabilidade e Economia, 10(1), 47-64.
PARGAMENT, K. I. The Psychology of Religion and Coping: Theory,
Research, Practice" (3ª ed., 2019)
PLOMIN, R. (2016). Genetics and the making of human behavior. Behavior
Genetics.(7º ed.)
REIS, P. A., & LIMA, R. L. (2015). Psicologia e religião: diálogos e interseções
possíveis. Psicologia: Ciência e Profissão, 35(2), 446-461.
SKINNER, B. F. (1935b). Two types of conditioned reflex and a pseudo type.
Journal of General Psychology, 12, 66-77.
TAJFEL, H., & TURNER, J. C. (1986). The Social Identity Theory of Intergroup
Behavior. Journal of Social Psychology, 5(6), 735-754.
TURA, M. L., & Carneiro, V. R. (2018). Pentecostalismo e sociabilidade: o
caso da Igreja Universal do Reino de Deus. Sociologias, 20(46), 212-240.
VYGOTSKY, L. S. (1978). Mind in Society: The Development of Higher
Psychological Processes. Harvard University Press.

Você também pode gostar