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Unidade 5 - A Quarta República - 1945-1964: Integração industrial, crise

econômica e ruptura política


5.1 A pequena onda liberal
Textos: Estado e Planejamento Econômico no Brasil (1930-1970) - cap. 3
(IANNI), Política econômica externa e industrialização: 1946-1951 (VIANNA)
1. A Quarta República (1945-1964)
● Período de redemocratização com a chegada de Dutra na presidência.
● Fim da Segunda Guerra torna regimes autoritários insustentáveis; ascensão de
regimes liberais.
● Importante! Constituição de 1946 possui caráter liberal, mas mantém legislação
trabalhista de Vargas.

2. A estrutura partidária/política
● PSD (oligarquias), PTB (desenvolvimentista): criados por Vargas, que atua no
processo de redemocratização; PTB como continuação de seus projetos.
● UDN: conservador, opositor a Vargas; trajetória golpista.
● PCB: cassado em 1947.
● Outros partidos: PSB, PRB, PSP.
○ Nota: PSB e PTB estão alinhados ao movimento sindicalista.

3. Controvérsias
● Desigualdade, aumento dos movimentos sociais com crescente tendência de
politização e polarização.
● Greves tornam-se mais frequentes: luta contra arrocho salarial e inflação.
● Ligas camponesas (1955): contra a exploração do trabalho no campo.
○ Estatuto do trabalhador rural.

4. Caráter geral da Quarta República


● Estado desenvolvimentista: resultado de iniciativas de Vargas.
● Varguismo x anti-varguismo como principal ponto de divisão do período.
○ Facetado pela disputa nacionalista e entreguista.
● Planejamento de desenvolvimento: Plano de Metas (JK), Plano Trienal (JG).
● Aproximação entre Brasil e EUA: comissões e grupos mistos.
● Importante!​ Clivagem nas forças armadas.
● Importante! Anti-comunismo aglutina setores de oposição; discurso de combate à
corrupção e conservadorismo.
5. Mudanças sociais em curso
● Estrutura de classes, globalização, transição rural-urbano.
● Importante!​ Migrações internas e industrialização.

6. Fatores externos
● Importante!​ Mudanças essenciais causadas pela Segunda Guerra.
● Bretton Woods e o liberalismo.
● Guerra Fria e o anti-comunismo.
● Importante!​ Guerra da Coreia.
○ Demonstração pública da disputa nacionalista (críticos à Coreia do Sul) e
liberais (apoiadores), embora o Brasil não tenha participado oficialmente do
conflito -- Vargas, inclusive, declara-se neutro inclusive em relação à disputa
interna.

7. O primeiro governo da Quarta República (Dutra)


● Política econômica liberal.
○ Consenso em relação ao caráter intervencionista em esvaziamento.
○ Desequilíbrio externo.
● Importante!​ Eleição de Dutra por conta do apoio de Vargas.
● Importante!​ Constituição de 1946.
○ Liberal, fundamentalmente esvazia o aparato institucional
intervencionista/desenvolvimentista.
○ Estabelece a perda de vigência de diversos dispositivos que restringiam a
entrada e circulação de capitais estrangeiros.
○ Instauração de instrumentos da democracia representativa: reabertura do
legislativo.
● “Onda”, “intervalo” liberal entre dois períodos claramente não-liberais.
● Duas fases de política econômica.
○ Primeira fase: 1946-1947
■ Desregulamentação do comércio exterior.
■ Desequilíbrio progressivo do Balanço de Pagamentos.
■ Rápida drenagem de reservas acumuladas.
○ Segunda fase: 1947-final do governo
■ Controle cambial e de importações.
■ Políticas voltadas ao retorno rápido do equilíbrio comercial.
■ Nota: em Vianna, há certa flexibilização em 1949 por conta de fatores
externos (alta do café, Guerra da Coreia) e do caráter eleitoral.
○ Autores divergem em alguns pontos.
■ Composição das importações durante o contingenciamento.
■ Vianna: problema de orientação do período liberalizante através da
ilusão de divisas a acumular moedas inconversíveis.
■ Ianni: política econômica desfavorável ao setor industrial.
● Neste tópico, Vianna acredita que a ​segunda fase (subsídios,
reserva/proteção de mercado, etc) favorece o setor -- ainda
que a intencionalidade das ações não seja clara.

8. Destaques em Ianni
● Industrialização: governo desarticula instrumentos essenciais para este fim.
● Plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia): baixa eficácia dado o
caráter liberal do governo.
○ Ainda assim, deve ser entendido como resultado da diretriz de planejamento
-- ainda que o caráter técnico do planejamento fosse incipiente e limitado.
○ Estudos coordenados pelo DASP e produzidos por agências públicas.
○ Elaborado na segunda metade do governo Dutra, com investimentos
planejados para os anos seguintes.
● Comissão EUA-Brasil: diagnóstico econômico, caráter privatista e
internacionalizante.
○ EUA foram o principal parceiro externo durante o período.
■ Hegemonia americana estava consolidada.
■ Tendência pós-Segunda Guerra de centralidade do desenvolvimento
nas agendas dos governos latino-americanos.
○ Comissão deseja identificar pontos de estrangulamento do desenvolvimento
brasileiro.
■ Especulação, uso da terra como reserva de valor, irrealismo de taxas
e tarifas públicas, protecionismo salarial exagerado, política salarial
inflacionária, desequilíbrio entre desenvolvimento agrícola e industrial,
grande dependência da importação de petróleo, deficiência de
abertura suficiente do mercado de capitais.
● Ausência da constituição de Estado de bem estar durante o governo Dutra.

9. Destaques em Vianna
● Industrialização: de forma geral, a nova política beneficia a indústria.
● Comissão Brasil-EUA: o autor não atribui importância essencial às comissões
formadas no período.
● Importante! Vigoram políticas de arrocho salarial e redução de investimentos
públicos.
○ Quebra da tendência de aumentos salariais vigente na Era Vargas.
● Questão das fases de governo.
○ 1ª fase: livre mercado cambial.
■ Ilusão das divisas: setores econômicos, em meio à relação favorável
com os EUA, acreditam que a formação de reservas seria suficiente
para tornar positiva a liberalização. Entretanto, em virtude da
inconversibilidade de diversas moedas, as moedas líquidas são
rapidamente drenadas.
■ Há ainda ilusão sobre a expectativa de multilateralidade do caráter
das relações internacionais.
■ Expectativas exageradas de redução da inflação em virtude da
atuação da liberalização sobre a “demanda reprimida”.
○ 2ª fase: contingenciamento de importações.
■ Com a percepção do rápido desequilíbrio comercial, as importações
são restritas em 1947 e uma política econômica ortodoxa é
implantada.
■ Ascensão de Truman (1947) muda a política dos EUA em relação aos
países em desenvolvimento.
● Deslocamento do Plano Marshall para países periféricos.
● Sistemática perseguição a movimentos socialistas/comunistas.
○ 3ª fase: flexibilização da política de comércio exterior.
■ Inflexão econômica em 1949, com expansão monetária; até então,
vigorava política contracionista.
■ Aceleração da inflação nos anos finais do mandato.

5.2 Nacional desenvolvimento


Textos: Estado e Planejamento Econômico no Brasil (1930-1970) - cap. 4
(IANNI), Duas tentativas de estabilização: 1951-1954 (VIANNA), O interregno Café
Filho: 1954-1955 (PINHO NETO)
1. Introdução
● Segundo governo de Vargas: 1951 a 1954 -- termina com seu suicídio.
● Café Filho sucede Vargas até o fim do mandato: 1954 a 1955.

2. Análise de Ianni
2.1. Comentários preliminares
○ Retorno de Vargas ao poder implica a volta do projeto desenvolvimentista e
de construção de um capitalismo nacional.
■ Planejamento em bases mais sofisticadas a partir de teses da CEPAL
e BNDE.
○ Recomposição de sua base de apoio social: pacto com amplos setores
sociais.
○ Importante! Mudança da estrutura social brasileira com o surgimento de
novas classes, alterações econômicas e redistribuição espacial.
○ Retomada do interesse estatal na promoção de debates das grandes
questões nacionais: incorporação de setores modernos.
○ Importante!​ Quadro geral de polarização.
■ Vargas não mais poderia lidar com opositores pelo regime de força.
2.2. Marcos externos
○ Hegemonia dos EUA na América Latina.
○ Diretrizes de Truman: abertura dos EUA para cooperação com países em
desenvolvimento.
■ Importante! Ascensão de Eisenhower altera a diretriz, condicionando
o auxílio à adoção de uma série de medidas por parte de governos
latinos.
○ Nova comissão mista Brasil-EUA que mobiliza representantes dos governos,
economistas, técnicos, empresários, etc.
■ Elaboração de novos diagnósticos.
■ Estudos futuramente servirão de base ao Plano de Metas de JK.
○ Importante!​ Guerra da Coreia.
○ Inversão da tendência de aumento dos preços do café, iniciada em 1949, em
1953.
2.3. Problemas centrais
○ Inflação, desequilíbrio estrutural do Balanço de Pagamentos.
○ Gargalos infraestruturais, como energia e transportes.
○ Forte desequilíbrio entre atividades urbanas e rurais.
2.4. Desenvolvimentismo
○ Criação do BNDE (1952): principal agência/banco público em prol do projeto
de desenvolvimento.
○ Banco do Nordeste (1953): criado em resposta ao desequilíbrio do
desenvolvimento macrorregional.
○ Petrobrás (1953): surge em resposta a um debate datado ainda da década
de 1920; campanha “O petróleo é nosso” adotada pelo governo.
2.5. Populismo trabalhista
○ Trabalhismo é um eixo central ao longo de toda a Quarta República.
2.6. Plano Lafer
○ Plano Nacional de Reaparelhamento Econômico.
○ Determinação dos setores prioritários: infraestrutura, agropecuária, indústria
de base.
■ Plano efetivo e apoiado pelo BNDE.
2.7. Os projetos e estratégias de desenvolvimento
○ Em parte conflitantes, em parte convergentes.
○ Importante!​ Diversos setores.
■ Desenvolvimento capitalista associado.
● Alinhamento do Brasil aos países centrais.
● Internacionalização da economia.
● Setores agrário (grande latifúndio), fração da burguesia
nacional, burguesia internacional.
● Manutenção de estruturas agrária e social tradicionais.
● Crítica ao Estado desenvolvimentista.
■ Socialismo reformista.
● Preconiza transformações institucionais em direção a um
Estado socialista.
● Nacionalismo, reforma agrária, etc.
■ Capitalismo nacional.
● Grupo ao qual pertencia Vargas.
● Estatismo, desenvolvimentismo, intervencionismo, etc.
● Proletariado, parcela militar, baixa e média burguesias.
● Reconhecimento da importância do capital e tecnologia
estrangeiros, mas sem submissão nacional.
● Eventual centralidade da reforma agrária.
2.8. A importância da Petrobrás
○ Produção de petróleo, na década de 1950, é quase insignificante.
○ Debate remonta à década de 1920/século XIX.
■ Período de descoberta do potencial petrolífero nacional.
○ Importante! Inequívoca transição ferroviária para rodoviária, que
gradualmente torna-se hegemônica.
■ Implica no aumento da importância do petróleo como matriz
energética de transportes.
○ Importante! Brasil sofre desabastecimento dramático de combustíveis
durante a Segunda Guerra.
■ Rápida progressão da frota automotiva.
○ Vitória nacionalista sobre o petróleo causa forte revés para EUA e demais
países centrais.
■ Monopólio de todas as etapas de produção e distribuição dos
derivados, com exceção à venda.
○ Petrobrás como forma de sustentação do projeto nacionalista de indústrias
de base.
■ Tecnocracia: planejamento por técnicos como fator central; medida da
capacidade de coordenação estatal.
3. Análise de Vianna
3.1. Política econômica do segundo governo
○ Proposta de análise de Vianna: plano do governo, mas inviabilizado.
○ Estabilização através de investimentos; a estratégia, entretanto, mostra-se
não exitosa no longo prazo.
○ Importante! Herança do governo Dutra: quadro geral de desequilíbrio
econômico.
■ Destaque à inflação gerada pela mudança de política econômica, em
1949, e ao quadro geral de contingenciamento de recursos externos
causado pela Guerra da Coreia.
○ Importante! A estrutura econômica de substituição de importações ainda era
muito frágil.
○ Tentativa de conciliação entre forças de capitalismo nacional e agentes do
próprio Estado/empresários de estabilização.
○ Importante!​ Quadro quase que permanente de instabilidade política.
■ UDN atua permanentemente pela desestabilização, agindo em prol da
ruptura de institucionalidade da própria República.
■ Anti-comunismo e influência dos EUA como fatores de aglutinação
das forças de oposição: UDN, imprensa (principalmente através da
figura de Carlos Lacerda), setores militares.
3.2. Análise conjuntural
○ Instrução 70 da SUMOC: reforma cambial, com validade extra-conjuntural.
■ Fonte importante de financiamento.
○ De forma geral, trata-se de um emaranhado de números e dados.
○ 1ª fase (pré-SUMOC): inicialmente contracionista, câmbio sobrevalorizado,
regime de limitação (flexibilizada) de importações.
■ Fatores internos e externos conspiram a favor da instabilidade entre
1951 e 1952.
■ Fim das reservas internacionais, desequilíbrio crônico do Balanço de
Pagamentos.
○ Crise cambial de 1952 agravada por fatores conjunturais.
■ Fracasso da 1ª fase “fratura” um dos pilares da estabilidade.
■ Adoção de política contracionista e, em suma, ortodoxa.
■ Importante!​ Vargas era pouco simpático aos EUA.
○ Inflexão, em 1953, com mudança do Ministro da Fazenda: sai Lafer e entra
Aranha.
■ Período marcado por tensão social, inflação de preços e lucros,
corrosão de salários.
■ A inflexão objetivava recompor as bases de apoio social de Vargas.
■ Nova tentativa de estabilização, que marca a chamada 2ª fase.
● Fase muito limitada.
● Manutenção da ortodoxia interna e nova reforma cambial:
fonte de receitas para financiamento de investimentos a partir
das importações.
○ Taxa oficial e exclusão de sobretaxas para bens
estruturalmente essenciais.
○ Também são instauradas taxas oficiais com sobretaxas
fixas e variáveis.
■ Neste ano observa-se, de forma geral, persistência da inflação e
queda de investimentos privados.
○ Importante! Ano de 1954 é marcado pelos efeitos políticos e econômicos do
aumento salarial (em 100%).
■ Preços ainda menos favoráveis do café.
■ Intensificação do “cerco” a Vargas, que estava próximo de ser
deposto.
■ Importante!​ Economia refém do quadro político.
○ Nota: questão da entrada de capitais.
■ Aumento do fluxo de entrada no início da década de 1950 com a lei
do “Mercado Livre” de Vargas e, futuramente, instrução 113 da
SUMOC (1955).
■ Tema suscita debates entre críticos do nacionalismo e apoiadores de
Vargas.
4. Análise de Pinho Neto
● UDN chega ao poder através de diversos ministérios.
● Política econômica em duas fases.
○ Ortodoxa com UDN no poder (1ª fase, Eugênio Gudin): liberalização,
estabilização e contracionismo. Persistência do confisco cambial.
○ Articulação pela substituição por José Maria: nova diretriz que
preferencialmente elimine o confisco cambial com a posterior elaboração de
reforma cambial. Fim do intervencionismo sobre o setor cafeeiro.
● O projeto de reforma cambial retrata o processo industrial da América Latina.
● Importante! Existência de projetos distintos e por vezes antagônicos durante o
período Café Filho.
○ Aproximação ao FMI.
● Importante!​ Inflação como problema estrutural permanente.
● Importante! O autor observa alternância entre políticas contracionistas e
expansionistas ao longo de toda a Quarta República.

5.3 Desenvolvimentismo associado


Textos: Estado e Planejamento Econômico no Brasil (1930-1970) - cap. 5
(IANNI), Democracia com desenvolvimento: 1956-1961 (ORENSTEIN,
SOCHACZEWSKI)
1. Características gerais da economia
● Mudanças quantitativas (alto crescimento) e qualitativas.
● Multiplicador do Estado desenvolvimentista, solidário aos governos anteriores.
○ Todos os setores desenvolvidos dependeram do avanço institucional
anteriormente construído.
● Comportamento paradoxal da elite empresarial em relação ao apoio dado ao
governo desenvolvimentista, sempre no limite de qualquer feição redistributiva.
○ Apoio ao desenvolvimento, crítica às reformas sociais.
● Imperativo de mudar a estrutura de financiamento.
○ Redução de barreiras para entrada de capitais estrangeiros e favorecimento
de investimentos internos autônomos.
○ Excepcionais taxas de retorno nos setores definidos como prioritários.
● Desnacionalização: perda de importância de capitais nacionais frente aos
estrangeiros. ​Internacionalização​.
○ Consolidação de uma dependência externa mais complexa, tanto
estruturalmente quanto organizacionalmente em relação aos padrões e
tecnologias estrangeiras.
● Governo JK é dado como o estágio mais avançado de um processo de longo prazo
de planejamento cada vez mais técnico.
○ Progresso cristalizado pela substituição de engenheiros por economistas nos
altos cargos públicos.

2. Transformação da estrutura social


● Aceleração da transformação.
● Importante!​ Migrações internas.
● Avanços da urbanização e estrutura de classes.

3. “Encruzilhada” histórica
● Governo Café Filho: FMI, ortodoxia, monetarismo, equilíbrio.
○ Continuidade ​vs​ retomada do desenvolvimento.
● Importante!​ Opção inquestionável de JK pelo desenvolvimento.
● Estabilidade, em geral, associada ao progresso observado.
○ Plano de estabilização ao fim da década submetido ao desenvolvimentismo.
○ Rejeição das recomendações do FMI: política de desenvolvimento
frequentemente teria que se defrontar com políticas de estabilização.

4. Plano de metas
● Matriz construída sobre planos e estudos anteriormente desenvolvidos.
○ Destaque aos relatórios das comissões mistas BNDE/CEPAL, Brasil/EUA.
● Importante!​ Infraestrutura: energia, transportes, indústria de base.
○ Ausência de metas sociais.
● Importante!​ Indústria automobilística.
○ Embora não surja em JK, expande de tal forma que é frequentemente
associada a seu governo.
○ Expressão da consolidação da transição de ferrovias para rodovias.
● Transferência da capital do Rio de Janeiro para Brasília.
○ Consolidação da política Varguista.
○ Marco do esforço pela interiorização/integração do desenvolvimento.
● Importante!​ A base de financiamento era a parte mais frágil do plano.
○ Política econômica tendencialmente expansionista.
○ Financiamento inflacionário.
○ Capital estrangeiro ​fortemente direcionado​.
● Importante!​ Resultados: crescimento quantitativo e mudanças qualitativas.
○ Surgimento de novos setores econômicos e sociais.
○ Modernização generalizada.
○ A “pirâmide” industrial brasileira é completada.
○ Efeitos de encadeamento econômico de grande importância.
● Importante!​ Florescimento do mercado capitalista interno integrado por rodovias.
○ Clara primazia dos investimentos rodoviários sobre todos os demais.
● Superação -- ou, pelo menos, aproximação -- dos objetivos estabelecidos.
○ Questão inflacionária também supera expectativas.
● Ponte de transição aos governos finais da Quarta República: ​princípio de integração
e articulação dos estados através de rodovias.
○ Divisão interna do trabalho: complementaridade e concorrência.
■ Destaque à complementaridade entre SP e MG.
○ JK deixa uma herança simultaneamente virtuosa e não-virtuosa.
■ Concentração regional, setorial e social do desenvolvimento.
Desequilíbrio, crises e inflação.
■ Balanço de Pagamentos estruturalmente desequilibrado.

5. Considerações gerais
● Multiplicação de agências regionais: consciência do caráter concentrado do
desenvolvimento; SUDENE.
● Organização Pan-Americana (OPA, 1958): plano que almejava comprometimento
dos EUA para desenvolvimento da região através da facilitação da concessão de
capitais na forma de empréstimos.
○ Aumento da participação americana após a Revolução Cubana (1953-1959).
● Ianni persistentemente analisa políticas salariais. Em JK, percebe políticas de
arrocho utilizadas como medidas de contenção inflacionária.
○ Conflitos distributivos se exacerbam quando as taxas de crescimento caem.
● Importante! A reforma cambial de 1957 não implicou mudanças nos termos gerais
da reforma anterior, mas priorizou o desenvolvimento de setores considerados
estratégicos.
○ Simplificação de taxas, tarifas dinâmicas -- tarifas inicialmente baixas para
setores incipientes; observado o desenvolvimento, estas são elevadas como
medida protecionista --. Conselho de Política Aduaneira.

5.4 Crise econômica e instabilidade institucional


Textos: Estado e Planejamento Econômico no Brasil (1930-1970) - cap. 6
(IANNI), Inflação, estagnação e ruptura: 1961-1964 (ABREU)
1. Introdução
● Aceleração da disputa entre projetos.
● Golpe materializa o objetivo de impedir reformas de base pautadas.
○ Adiamento da construção do Estado de bem-estar social, que é tardiamente
constituído com a Constituição de 1988.
● Nexo político indissociável entre os governos de Jânio e Jango.
● Importante!​ Crise política, econômica e institucional.
● Fim do governo JK: contradições cada vez mais evidentes do modelo de substituição
de importações; esgotamento da primeira fase do modelo (1930-1960).

2. Crise econômica
● Políticos espelham as contradições e o objetivo de resolvê-las.
● Importante!​ Limites institucionais das tentativas de resolução.
● Crise implica desaceleração da economia.
○ 1963 marca o fim do ciclo de crescimento e denota o início de uma recessão
que perdura até 1967.
○ Inflação de lucros convertida em inflação de custos: juros, câmbio, salários.
● Importante! Necessidade de pensar um novo modelo de desenvolvimento que
tratasse as contradições existentes.
○ Nacionalismo ​vs desenvolvimentismo atrelado à dependência externa cada
vez menos conciliáveis; projetos tornam-se exacerbadamente antagônicos.
○ Conflito distributivo torna-se mais discutido em períodos de crise: taxas de
crescimento amorteciam os conflitos, mas, com o arrefecimento da
economia, o problema torna-se impossível de ser ignorado.
● 1961-1964: incapacidade do Estado de resolver conflitos.
○ Política econômica ambivalente, contraditória e hesitante.

3. Crise política
● Tendência de esvaziamento de setores de centro em meio à polarização.
○ Perda de capacidade de diálogo intra e extra-partidário.
● Intensificação da crise política resulta na renúncia de Jânio Quadros.
○ Renúncia interpretada como tentativa frustrada de golpe.
○ Jânio conservador, Jango progressista.
○ Campanha de Brizola pela posse de João Goulart.
■ Parlamentarismo adia temporariamente o conflito, retorno ao
presidencialismo por plebiscito popular.
○ Greves: incorporação de temas como reformas de base.
■ Confronto mais impactado pela reforma agrária.
■ Caráter geral progressista.
● Reação conservadora através da desestabilização do governo de João Goulart e
articulação de novos mecanismos conspiratórios.
○ Setores médios aderem às estratégias.
● Legislativo representa, principalmente, o setor agrário. O executivo, por outro lado,
inclina-se em direção ao setor moderno, urbano.

4. Política econômica de Jânio Quadros


● Ortodoxa, anti-inflacionária.
○ Forte herança de um Estado moderno que cresceu muito ao longo das
décadas anteriores, desequilíbrios setoriais, sociais e externos agravados,
inflação acelerada -- que perde sua função de financiamento -- e crescente
escassez de recursos para financiar um novo ciclo de investimentos.
● Reforma cambial (SUMOC, 204): fim da SUMOC, 70; fim da arrecadação de ágios
do governo ao controle cambial e da vigência de uma política cambial que, desde
1930, favoreceu o setor industrial através de subsídio forçado vindo do setor
agro-exportador.
● Alinhamento com interesses de políticas regionais dos EUA, o que facilita a
renegociação de compromissos externos.
○ Ainda assim, a política externa possui caráter geral independente. Não há
apoio irrestrito aos EUA.
● Importante!​ Arrocho salarial foi fator de perda de apoio popular.
● Renúncia/tentativa frustrada de golpe poucos meses após a posse motivada pela
falta de êxito nos objetivos estabelecidos.

5. Política econômica de João Goulart


● Herda um quadro ainda mais negativo, dada a desestabilização acelerada no fim do
governo de Jânio.
● Plano trienal: formulado por Celso Furtado; estágio mais avançado do planejamento
econômico.
○ Surge num período ​externamente mais favorável: auspicioso apoio
americano.
○ Na prática, alcança baixíssimo êxito em virtude do quadro político interno.
○ Diretrizes: crescimento econômico, sanação de conflitos e estabilização
inflacionária. ​Importante!​ Reformas de base estavam inscritas no plano.
● Primeira metade de 1963: estabilização, discussão sobre o caráter resiliente da
inflação. Período anti-popular.
○ A partir do segundo semestre, por outro lado, retoma-se o apoio popular ao
pautar reformas de base.
○ A política econômica, de forma geral, então, é contraditória.
● Negociações de dívida tornam-se menos exitosas.
● Importante!​ São tomadas medidas concretas em direção à reforma agrária.
6. Fracasso das políticas econômicas
● Importante!​ Economia refém do cenário político.
● Inviabilidade do plano trienal como resultado da crise política e institucional.
○ Conflito como base dos fracassos.
● Importante! Ruptura do golpe não tem apoio popular, uma vez que seu principal
objetivo era frear as reformas de base.

7. Considerações de Abreu
● Jânio: política ortodoxa; UDN chega, parcialmente, ao poder.
○ Figura política personalista.
○ Ortodoxia justificada pelo quadro herdado: inflação e desequilíbrio fiscal.
● Período parlamentarista: trouxe instabilidade e tem efeito paralisante sobre a
condução da política econômica.
○ Tancredo Neves: primeiro gabinete, que visa conciliação. De forma geral,
adota objetivos genéricos muito semelhantes aos observados no plano
trienal.
■ Série de dificuldades em virtude do poder político limitado.
■ Manutenção de política externa independente.
■ Em meados de 1962 constata-se agravamento das crises.
○ Demais gabinetes: herança da paralisia.
● João Goulart: herança ainda mais grave.
○ Plano trienal como principal resposta aos problemas enfrentados.
○ Primeiro semestre de 1963: ajuste fiscal e demais medidas de estabilização.
○ Segundo semestre de 1963: governo volta atrás na maioria das decisões
anteriores para recomposição das bases de apoio.
■ Importante!​ O golpe já estava sendo gestado.
● Quadro fortemente recessivo já em 1963 e principalmente em 1964.
● Importante!​ Golpe de 1964 inscrito em uma cultura política autoritária.
○ Não é um quadro político historicamente excepcional.

5.5 Quinze anos de política econômica


Texto: Quinze anos de política econômica (LESSA)
1. Introdução
● Lessa e Tavares são observadores diretos da Quarta República.
○ Avaliação prospectiva de um evento histórico em aberto.
○ Prognóstico para a economia brasileira.
● O texto parte dos dois últimos anos de Dutra e chega ao terceiro ano da década de
1960 (~1948-1963); excede o período ao sintetizar a industrialização de substituição,
que remete à década de 1930.

2. Traços gerais da Quarta República


● Forte descompasso entre desenvolvimento dos setores secundário e terciário e
estagnação do primário.
○ Urbano ​vs rural. O desequilíbrio setorial acarretou em fortes desigualdades
regionais; feição excludente.
● Persistência e agravamento do problema inflacionário.
○ Durante o período, a preocupação inflacionária estava submetida ao
desenvolvimento -- sendo este último priorizado.
● Centralidade de mecanismos cambiais como principal instrumento da política
econômica: importações seletivas e subsidiadas, captação e direcionamento de
recursos externos em prol do desenvolvimento de setores específicos.

3. Governo Dutra (1948-1950)


● Política econômica guiada por fatores externos.
● Efeitos da reforma cambial não foram, necessariamente, voluntariamente favoráveis
à industrialização.

4. Governo Vargas (1951-1954)


● Primeira política assumidamente industrialista da Quarta República.
○ Nacionalismo econômico; associação entre industrialismo e nacionalismo.
● Importante!​ Discussão da possibilidade de nacionalismo retórico.

5. Governo Café Filho (1954-1955)


● Período de transição: perspectivas de mudanças políticas e econômicas.
● Ascensão de setores liberais e conservadores.
● Importante!​ Tentativas frustradas de medidas ortodoxas de estabilização.
● Transição de uma industrialização estrangulada por fatores externos para
dependência de investimentos internos e públicos ao final do período.

6. Governo JK (1956-1961)
● Plano de metas: continuidade da industrialização.
● Importante! Construção dos estratos superiores da pirâmide industrial verticalmente
integrada.
● Opção do governo JK pelo desenvolvimento: subordinação de problemas internos
(com destaque à inflação), externos (principalmente o Balanço de Pagamentos) e
estruturais à prioridade concedida ao desenvolvimentismo.
● Momento final da primeira fase do modelo de industrialização por substituições.
○ Imposição da necessidade dos governos da década de 1960 de sanar
desequilíbrios.

7. Governos da década de 1960: Jânio Quadros, João Goulart


● Intensificação dos problemas inflacionário e de desequilíbrio externo.
● Importante! Cristalina consciência da impossibilidade de adiamento da resolução
dos problemas submetendo-os ao desenvolvimentismo.
7.1. O período final da Quarta República
○ Inevitabilidade de confrontar problemas herdados do governo JK.
○ Triênio 1961-1963: defrontar o desequilíbrio inflacionário e a desaceleração
do crescimento.

8. Plano de metas
● Governo JK guarda caráter de continuidade do processo em curso.
○ Plano inserido no meio de aceleração da industrialização.
● Crescimento do arcabouço institucional do Estado desenvolvimentista.
● Importante!​ Forte concentração de investimentos em infraestrutura.
● Amplo apoio social e empresarial à diretriz industrialista ao longo da década de
1950.
○ Aceitação do crescimento do aparato intervencionista.
○ Não nos esqueçamos, entretanto, da resistência de setores conservadores.
○ Opção pelo desenvolvimentismo nacionalista sustentado e justificado por
este apoio.
● Importante! Modelo de desenvolvimento não promove políticas redistributivas, e
deixa aspectos do desenvolvimento social em segundo plano.
○ Quando setores sociais reivindicam perspectivas redistributivas --
principalmente ao fim dos ciclos de crescimento --, afastam-se da base de
apoio do governo.
● Condições externas do início do governo JK eram favoráveis à política
desenvolvimentista.
● Importante! Rejeição de diretrizes do FMI tanto no início do governo quanto no
período de planejamento da restabilização.
● Importante! Plano atua direcionando investimentos públicos para áreas pouco
atraentes ao capital privado -- setores que exigiam investimentos iniciais
demasiadamente altos, de longo tempo de maturação, etc.
○ Rodoviarismo tanto através do Governo Federal quanto estaduais.
○ Indústria de base e de bens intermediários com atuação empresarial do
Estado.
○ Ampliação do fornecimento de energia.
● Importante! Crescimento acelerado deixa setores agropecuário e social em
segundo plano.
● Nota: o argumento de Lessa trata da não existência de dicotomia entre
desenvolvimento e estabilidade.
8.1. O problema de financiamento
○ Tratamento extremamente favorável à entrada de capitais externos.
○ Canalização de investimentos para setores prioritários.
■ Como através da concessão de subsídios para capitais autônomos.
○ Ampliação da participação estatal para acumulação de capitais.
○ Importante! Financiamento inflacionário: controle da inflação através do
confisco.
■ Inflação de lucros e captação de poupanças forçadas.
■ Tendência de não concessão de reajustes salariais reais.
○ Nota: outros fatores importantes, como maciça migração interna.

9. Reforma cambial de 1957


● Tarifas ​ad valorem​ sujeitas à percepção e controle do governo.
● Proteção crescente de setores à medida em que são consolidados.

10. Inversões privadas direcionadas


● Facilidade de captação de recursos externos.
● Ampliação da concessão de crédito público: juros baixos e longos prazos para
pagamento.
● Importante!​ Reservas de mercado são potencializadas pela reforma cambial.
11. Síntese do período 1930-1960
● Importante! Passagem do desenvolvimento estrangulado por fatores externos para
desenvolvimento conduzido pelo aparato público.
○ A inicial autonomização em relação ao setor externo torna-se, no longo
prazo, meramente ilusória
● Economia brasileira não pode ser entendida como desenvolvida em virtude dos
inúmeros desníveis e descompassos regionais, sociais e setoriais.
○ Não incorporação do vasto setor social, que sequer tem acesso aos bens e
mercados capitalistas.
● Setor primário -- leia-se agropecuária --: certa estagnação, caráter cada vez mais
extensivo.
● Importante!​ Excessiva concentração industrial no eixo Centro-Sul.
○ Forte nexo da integração de mercados internos e florescimento industrial.
○ Crescente conscientização acerca dos desníveis regionais.
○ Estruturas correlatas -- como mercados de trabalho, financeiro, etc -- também
encontram-se neste polo nacional.
● Importante! Pressuposição da necessidade de evolução do Estado
desenvolvimentista e de seu aparato.
○ Ponto de continuidade entre a Quarta República e a ditadura, que também é
desenvolvimentista. O Estado de exceção, entretanto, suprime ainda mais os
aspectos sociais.
○ Nota: pelo golpe, diversas linhas políticas de dificuldade de coordenação são
eliminadas.

5.6 Auge e declínio da industrialização substitutiva de importações


Texto: Auge e declínio do processo de substituição de importações no Brasil
– II. O caso do Brasil (TAVARES)
1. Introdução
● Importante! Ensaio publicado antes do golpe. Interpretação e observação direta do
período.
● Estruturalismo histórico → escola Cepalina.
● Recorte histórico englobando dá década de 1930 a 1960.
● Dimensões diagnóstica, histórica e prospectiva.
2. Recapitulação
● A economia brasileira pré-1930 era, em suma, do tipo primário-exportador
tradicional.
○ Tradicional, neste contexto, refere-se ao fato de enquadrar-se nas relações
centro-periferia.
● Dinamismo vinculado à inserção externa.
● Tendência de especialização.
● Importante! A economia sofria de elevada exposição às mudanças e choques
externos.
● Importante! Período de 1930 como forte ponto de inflexão: Crise de 1929,
Revolução de 1930.
○ Tendência de introspecção após este ponto.
○ Substituição de importações surge em resposta à forte limitação observada à
capacidade de importar.
● 1960 marca o esgotamento de uma das fases modelo de substituição.
● Importante! Crescimento mais que proporcional do setor secundário → assimetria
entre cidade e campo.

3. Linhas gerais da análise de Tavares


● Mercado interno bem desenvolvido.
○ Noção comparativa. O parâmetro é o nível de desenvolvimento do comércio
interno observado em outros países latinos.
● Importante! Forte relação entre espaço econômico onde foram implantados pilares
da economia primário-exportadora e desenvolvimento futuro.
○ Resultado da relação virtuosa entre indústria e cafeicultura anteriormente
trabalhada.

4. Política econômica do Governo Provisório de Vargas (1930-1934)


● Importante!​ Leitura compartilhada com Celso Furtado.
● Caráter anti-cíclico, rápida recuperação.
○ Emprego da capacidade produtiva instalada sub-utilizada, manutenção da
demanda interna.
● Mudança da dinâmica industrializante a partir de 1930.

5. A década de 1930
● Tendência de diversificação de atividades de mercado interno.
● Caso brasileiro é único: coincidência física dos setores produtivos entre os modelos
de desenvolvimento agro-exportador e de substituição de importações.
○ Convergência de desenvolvimento no polo de São Paulo
○ No longo prazo (observado em meados da década de 1960), acarreta
excessiva concentração industrial e desequilíbrio do desenvolvimento
nacional como um todo.

6. Pós-Segunda Guerra
● Setor de mercado externo relativamente melhor posicionado, se comparado às
demais economias latinas.
○ Fator de recuperação da capacidade de importação.

7. A principal inflexão entre 1930 e 1960


● Importante!​ 1953-1955: final do 2º governo Vargas e governo Café Filho.
● Industrialização capitaneada pelo aporte de investimentos públicos e estrangeiros
em superação ao anterior estrangulamento externo.
● Implica necessidade de mudança do propulsor da economia, dada a natureza da
industrialização que se passa a observar.
● Acúmulo de condições favoráveis para transição da industrialização estrangulada à
industrialização pesada. ​Processo histórico​.
○ Capacidade empresarial do setor privado: importação de equipamentos e
investimento nos mais diversos setores.
○ Política econômica orientada no sentido de componente dinâmico do modelo;
projeto nacional industrialista desde 1930.
■ Política de comércio exterior → política cambial. Não possui uma
única feição desde o começo do período; diversos mecanismos para
canalizar os escassos recursos de importação para finalidades
industrializantes (equipamentos, tecnologias).
■ investimentos públicos, principalmente em indústria pesada.

8. A resposta ao estrangulamento externo


● Processo impulsionado pela escassez da capacidade de importação.
● Ponto de partida: efeitos depressivos da Crise de 1929 sobre a capacidade de
importação, que é recuperada somente após a Segunda Guerra.
● Importante! O problema do Balanço de Pagamentos torna-se estrutural em 1950 --
até então, pode-se afirmar que era conjuntural.
○ Fim da capacidade do modelo impulsionado pelo estrangulamento de ser o
fator dirigente da economia.
○ Crescimento expressivo da dívida externa.

9. A Quarta República
● Reforma cambial de 1948 prioriza a importação de bens importantes para a
industrialização.
○ Na periodização de Tavares, marca o início da segunda fase, que, de forma
geral, foi impulsionada pelo crescente endividamento externo.
● Importante!​ Guerra da Coreia.
● Nova reforma cambial em 1951.
● Importante! Segunda fase: melhora do poder de compra das importações e, embora
desordenado, forte crescimento da indústria.
○ Fase finda no governo Café Filho (inclusive).
● Importações a partir de 1956: “substituição de empresários”.
○ Multinacionais. Setores mais dinâmicos cada vez menos nacionais.
● Importante!​ Terceira fase: governo JK.
○ Investimento público como principal agente, direcionamento de capitais
estrangeiros.
○ 1961 é o ano “teto” da periodização. Esgotamento do modelo, necessidade
de renovação -- pensamento alinhado com a CEPAL.

10. Exame da distribuição das importações por grupos


● Importante!​ Quadro 3 (1929-1948).
○ Não recuperação da capacidade de importação durante a Era Vargas.
○ Estabelecimento da escala de prioridades.
○ A mutação da composição das importações acompanha o desenvolvimento
industrial.
● Importante!​ Quadro 4 (1948-1961).
○ Mudança única de relevância → decréscimo dos bens de consumo
não-duráveis; aumento dos combustíveis, lubrificantes e demais itens que
não poderiam ser substituídos.
● Importante!​ Quadro 6.
○ Indústria tradicional, mais internalizada, observa queda de 70 para 52% da
participação na produção industrial.
■ Queda das importações do setor.
○ Indústria dinâmica é o segmento que observa maior crescimento.
■ Setor cujas importações são dominantes.
○ Indústria intermediária passa por mudanças de participação inexpressivas.
■ De forma geral, ainda assim, suas importações crescem.

11. Conclusões
● Importante!​ Início das dimensões diagnóstica e prognóstica.
● Somente em JK há substituição do estrangulamento por capital externo.
○ Fatores de sucesso:
1. Dimensão e composição do mercado, capacidade produtiva.
2. Coincidência dos espaços dinâmicos entre os modelos exportador e
industrial.
3. Relativa disponibilidade de fatores que favorecem a expansão:
mercado de trabalho, recursos naturais, etc.
4. Política econômica adotada.
■ Fatores 1, 2 são resultados de um longo processo histórico.
● Traços, em caráter geral, da estrutura social/produtiva.
○ Concentração do setor secundário e, grosso modo, estagnação agrícola.
○ Migrações internas a partir de fatores de atração (concentração industrial) e
de expulsão (concentração agrária).
○ No setor industrial, observa-se “intencional” capacidade ociosa e ausência do
desenvolvimento de setores auxiliares/complementares.
○ Importante! Tendência de concentração do desenvolvimento sobre o polo
sudeste.
○ Política econômica reforça e amplia o desequilíbrio regional. De forma geral,
era agente da transferência de renda de regiões menos desenvolvidas para o
sudeste.
○ Os desequilíbrios regionais foram fatores fundamentais para agravar os
desequilíbrios sociais. Como coloca, houve transferência da pobreza do
campo para a cidade.
● Importante! Percepção de que o modelo de desenvolvimento foi responsável por
simultâneo dualismo entre setores capitalista dinâmico e de baixo rendimento.
● Esquema de renda per capita demonstra a forte desigualdade da distribuição de
renda.
○ O topo da pirâmide é, fundamentalmente, o mercado consumidor da própria
produção -- bens duráveis, como eletrodomésticos.
○ A fatia intermediária, de forma geral, tinha acesso restrito aos bens
essenciais.
○ A base, por sua vez, estava praticamente à margem do próprio mercado
capitalista; incorria até mesmo de baixa monetarização.
● Dualidade estrutural poderia ser superada apenas por reformas que elevassem a
renda média e integrassem essas populações à sociedade capitalista.
○ Reformas alinhadas com a perspectiva cepalina, com destaque à reforma
agrária.
● Importante! “Encruzilhada” histórica do problema dos desequilíbrios, como
percebido nos governos de Jânio e, principalmente, João Goulart.

5.7 Evolução da agropecuária entre as décadas de 1930 e 1960


Texto: O desenvolvimento da produção agropecuária, 1930-1970
(SZMRECSÁNYI)
1. Introdução
● Texto publicado na década de 1980. Seu recorte é abrangente, abordando as
décadas de 1920 a 1970.
● Estudo extremamente premiado da evolução agropecuária brasileira ao longo do
século XX.
○ Demais autores, em suma, distanciam-se do setor em virtude de sua
aparente perda de importância para setores urbanos.
○ Importante!​ O texto “dá corpo” ao dualismo discutido por Tavares.
○ Forte interdependência e sinergia entre agropecuária e indústria.
● Ponto de partida: lei de declínio secular → proposição genérica; perda de
participação relativa (queda da força de trabalho e valor do produto) do setor
agropecuário.
○ Mais importante que isso é analisar a evolução das taxas de crescimento da
demanda efetiva.
○ Para o caso brasileiro, o setor também atende a demanda externa. Isto,
inclusive, configura uma essencial fonte de geração de divisas.
● Importante! Transferências e vinculações -- forças de trabalho, produtos, funções,
etc -- entre agropecuária e demais setores: materialização, aprofundamento da
própria modernização.
○ Diversas premissas deixam de ser agrárias para adotar caráter urbano.
○ Diferenciação, especialização e reagrupamento de atividades do complexo
rural.
● Nota: complexos rurais → unidades pouco integradas ao mercado, de tendências
autossuficientes.
○ Evolução em direção a um setor agropecuário cada vez mais mercantilizado
e interdependente dos demais.
○ Mercantilização e monetarização, por natureza, degeneram as relações
tradicionais -- contraposição da economia de mercado à economia natural.
● Nota: certas atividades mantém seu caráter -- ainda que eventualmente replicadas
para o meio urbano.
○ Resíduos da produção familiar, ​patriarcalismo​, ​mentalidade senhorial​.
● Importante!​ Surgimento de atividades complementares para o setor agropecuário.
○ As novas atividades suprem tanto demandas como já existentes como sem
precedentes. Emprego de tratores e adubos químicos, produção de
conhecimento técnico para o setor.
● No centro das transformações está a própria divisão do trabalho (setorial, regional e
social).
● Importante! Visão sistêmica em contraposição à setorialização. O autor defende a
análise da agropecuária integrada aos demais setores.

2. Subsistemas
2.1. Produção agropecuária ​propriamente dita
2.2. Atividades de suporte institucional
○ Crédito, assistência técnica, pesquisa e treinamento. ​Atividades públicas e
privadas​.
2.3. Fornecimento de insumos extrassetoriais
○ Máquinas e equipamentos, defensivos e fertilizantes químicos.
○ Cooperativas são canais de comunicação.
2.4. Unidades de transformação industrial
○ Importante!​ Surgimento da agroindústria.
Importante! Centralidade do papel estatal na modernização de atividades do
campo.
Nota: predomínio da migração rural → urbano. Entretanto, também existe maciça
migração interna ao setor, isto é, rural → rural.

3. Periodização
● Pecuária apenas abastecia o meio urbano (1930-1950).
○ Fluxo unilateral, tornando-se mercado bilateral a partir de 1960.
● Ruptura da autonomia, “isolamento” rural pela integração do mercado interno em
bases capitalistas.
3.1. Funções produtivas pré-1930
○ Abastecimento do meio urbano incipiente.
○ Produção para auto-consumo.
○ Exportação.
3.2. Funções pós-1930
○ Abastecimento das megalópoles.
○ Abastecimento de matérias primas.
○ + funções tradicionais.
○ Importante! O ritmo de desenvolvimento agropecuário foi fator determinante
da própria urbanização e industrialização.
○ A própria produção agropecuária cada vez mais adota caráter industrial.

4. Materialização da modernização
● Crescimento da demanda por alimentos.
● Expansão da fronteira agrícola.
● Multiplicação dos estabelecimentos e produtos agropecuários.
● Importante!​ Transformação das relações de trabalho.
○ Crescimento da produtividade do trabalho paralela ao declínio da
produtividade da terra -- o que, por consequência, exige aumento da área
cultivada.
● Populações economicamente ativas por setor: queda da participação agropecuária e
crescimento dos setores industriais e de serviços.

5. Expansão da fronteira agrícola


● Pioneirismo da pequena produção.
● Realização em dois planos.
○ Avanço da fronteira interna nos próprios estabelecimentos.
○ Avanço para regiões não apropriadas.
● Importante! Conflitos entre posseiros e capitalistas -- em diversos planos, inclusive
pelo uso sistemático da violência.
○ Conflito entre subsistência e sistema mercantil: terra assume caráter de
mercadoria; produção para uso ​vs​ para troca.
● Importante!​ Modernização rodoviária foi fator central para a expansão da fronteira.

6. Divisão estadual de atividades


● Grosso modo, São Paulo é responsável pela produção industrial e os demais
estados pela agropecuária.
○ Importante! Divisão extremamente simplificada: em SP há a produção
agrícola mais moderna do país, e também existe indústria nas outras regiões.

7. A questão da produtividade
● Tendencialmente, crescem as produtividades do trabalho, capital e terra.
● Importante!​ Crescimento menos que proporcional para a terra.
○ Assim como o baixo nível técnico, é justificativa para o caráter extensivo da
agropecuária.
○ Lenta modernização técnica.

8. Fatores de expulsão de terras


● Limite da minifundiação.
● Novas relações capitalistas.
● Degradação da própria capacidade produtiva da terra.
● Importante!​ Fatores ilusórios de atração do meio urbano.

9. Variação do tamanho das propriedades


● Tendência de aumento da concentração fundiária → retalhamento da pequena
propriedade.
● Importante!​ Mudanças mascaradas pela intensificação do uso da terra.

10. Evolução da estrutura fundiária e relações de trabalho


● Nota: controle de preços tendencialmente desfavorável ao setor agropecuário.
● Condições gerais das relações de trabalho.
○ 1930-1950: baixos índices de monetização no meio rural; de forma geral,
colonato, parceria e demais relações não capitalistas de trabalho.
Manutenção da concentração de renda e precarização das condições de
vida.
○ 1950-1970: progressiva (acelerada) substituição das relações tradicionais;
subordinação da pequena produção ao capital, desagregando a própria
produção familiar/de subsistência.
■ Progressiva transferência da miséria do campo para a cidade.
■ Fechamento da fronteira → intensificação dos conflitos por terra.
■ Amplificação/inalteração do índice de concentração fundiária.

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