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VIZENTINI

Introdução: A PE do Regime Militar


● A multilateralização das relações exteriores é a busca de novos espaços,
regionais e institucionais, para além dos relacionamentos tradicionais (que
não são interrompidos), de atuação política e econômica da diplomacia
brasileira.
○ Dois fatores principais: subordinação paulatina da diplomacia brasileira
às necessidades do desenvolvimento econômico nacional, e a
progressiva crise de hegemonia no sistema mundial a partir dos anos
60.
● Crescimento da cooperação horizontal entre potências médias emergentes no
Terceiro Mundo:
○ Produtores de petróleo e/ou potências regionais do Oriente Médio.
○ Argentina - declínio paulatino da rivalidade histórica.

Castelo Branco e a segurança nacional: uma “política externa


(inter)dependente” (1964-1967).

● O novo regime, seu projeto econômico e sua política externa.


○ A Política Externa Independente e a Crise do Populismo.
■ Chanceler Juracy Magalhães.
■ Salto na industrialização brasileira - desenvolvimentismo-
associado de JK (1956-1961).
■ Tal modelo apesar de imprimir um notável crescimento na
produção industrial e na população urbana, legou uma inflação
considerável e uma alta dependência em relação ao capital
internacional.
■ Apesar de mostrar-se conservador no plano doméstico, Jânio
Quadros e seu chanceler Afonso Arinos lançaram a PEI,
objetivando as exportações brasileiras para todo o globo
(inclusive os países socialistas) - de modo a autonomizar o
Brasil dos EUA, desinteressado em promover o
desenvolvimento nacional.
● Outros pontos da PEI: respeito ao direito internacional;
enfoque nos princípios da ONU; política de paz,
desarmamento e coexistência pacífica; apoio à
descolonização completa de todos os territórios.
■ Após a renúncia de Jânio, Jango assume como presidente em
um regime parlamentarista, tendo como chanceler San Tiago
Dantas.
● Atritos maiores com os EUA - recusa brasileira à
expulsão de Cuba da OEA (1962); política de
encampação de empresas estrangeiras por Brizola e
outros governadores e a aproximação do bloco soviético
(restabelecimento de relações com a URSS em 1962) e
aos regimes nacionalistas da América Latina.
■ Queda de Goulart após a intensificação da crise com o fim do
parlamentarismo. Suas medidas de controle da remessa de
lucros para o exterior, bem como seu anúncio das Reformas de
Base levaram a protestos nacionais e a sua respectiva queda.

○ O Regime Militar e seu Projeto Econômico.


■ Eleição de Castelo Branco pelo congresso “expurgado”.
● Garantia de breve retorno à normalidade democrática.
● Alicerces da revolução: ordem e paz social; combate à
corrupção e a retomada do crescimento através do
estímulo ao capital privado.
○ Modelo de desenvolvimento dependente e
associado.
■ Projeto econômico:
● Otávio Gouveia e Roberto Campos.
● Revogação da Lei de controle sobre a remessa de lucros.
● Pacote de medidas para conter a inflação e o déficit
orçamentário.
○ Compressão salarial e do crédito; elevação da taxa
de juros; corte nos gastos públicos e eliminação de
subsídios.
● Pagamento de indenizações para as empresas
encampadas.
● PAEG - Programa de Ação Econômica do Governo.
○ Reforma tributária - criação do Banco Central e do
Conselho Monetário Nacional.
○ Criação do FGTS (fim da estabilidade após dez
anos de serviço) e do Banco Nacional da
Habitação (BNH).
■ Mudanças institucionais:
● AI-2 (1965) - Extinguiu os partidos e autorizou dois novos
movimentos políticos (que não poderiam ser chamados
de “partido”): Arena e o MDB.
○ Eleição indireta de presidente e vice.
○ Presidente pode caçar os direitos políticos de
cidadãos.
● AI-3 (1966) - Eleição indireta de governadores e vice-
governadores.
● 1967 - Nova Constituição.
○ Mudança do nome para República Federativa do
Brasil.
○ Mais próxima de um preparo de um quadro
institucional democrático do que à manutenção da
ditadura.
● Promulgação de uma Lei de Imprensa e uma Lei de
Segurança Nacional.
■ Disputas internas:
● Costa e Silva fez parte da corrente liberal-
internacionalista, a qual previa a entrada privilegiada do
capital internacional como mecanismo de
desenvolvimento econômico.
● A maior ala dos militares era nacional-desenvolvimentista,
tal como os rivais de esquerda expulsos.

○ A Matriz Teórica da Política Externa e de Segurança.


■ Dimensão hemisférica voltada aos EUA.
■ Abertura amplamente favorecida ao capital estrangeiro.
■ Ênfase nas relações bilaterais.
■ Bilateralismo, ocidentalismo e anticomunismo.
■ Realinhamento automático com os EUA.
● Participação do Brasil na intervenção da Rep.
Dominicana (1965).
■ Interdependência hemisférica - OEA, sob a liderança dos EUA.
● Revisão do conceito de segurança nacional e limitação do
de soberania, em defesa da interdependência.
■ Limitação do mercado de exportações para América Latina,
sendo essa “o nosso câmbio natural de comércio”.
■ Rechaço ao terceiro-mundismo da PEI.

● A prioridade das relações com os EUA e a América Latina.


○ Estados Unidos.
■ Brasil deveria abdicar de suas aspirações como potência, visto
que os interesses nacionais eram menos importantes que a
unidade do hemisfério ocidental.
■ Duas linhas de ação:
● Eliminação dos atritos com os EUA - associação de
mercados, capitais e tecnologia.
● Enquadrar as relações interamericanas nesse esquema.
■ Exemplos:
● Ruptura com Cuba;
● Afastamento em relação à China Popular;
● Apoio à constituição de uma Força Multinacional de Paz
na OEA;
● Participação na intervenção na Rep. Dominicana.
● Pedido norte-americano de participação do Brasil no
Vietnã;
● Saneamento econômico e político interno;
● Abertura ampla e favorecida ao capital estrangeiro;
● Fixação de uma diplomacia calcada na Segurança
Nacional antiesquerdista e nas fronteiras ideológicas
Leste-Oeste.
● Controle de natalidade + política anti-imigratória.
■ Brasil esperava apoio econômico e diplomático dos EUA,
no âmbito regional.

○ Questão Cubana
■ Itamaraty buscava manter-se firme nas relações com o mundo
socialista, bem como na manutenção da neutralidade em
relação à Cuba.
■ Pressões externas e internas - rompimento com Cuba por
razões puramente ideológicas.
● Anulação da concessão de medalha da Ordem do
Cruzeiro do Sul a Che Guevara por Jânio Q.
■ Concordou com o isolamento de Cuba, mas manteve-se
contra qualquer ação militar.

○ América do Sul, OEA e a Segurança Hemisférica


■ Venezuela recusava-se a reconhecer o governo Castelo Branco,
suspendeu as relações diplomáticas.
● Doutrina Betancourt - Venezuela - rompimento com
países, cujo governo não tem viés democrático e/ou é
ditatorial.
● Restabelecimento em 1966, com a proximidade da
sucessão de Castelo Branco.
■ México, democrático, não enviou embaixadores até 1965,
quando as relações foram normalizadas.
● Distensão em relação ao regime nuclear. México
propunha a desnuclearização da América Latina.
■ Uruguai - tensões - presença de figuras do governo anterior
exiladas em Montevidéu.
● Sem choques diretos - tensão diluiu-se paulatinamente.
■ Críticas gerais à proposta da Força Interamericana de Paz (FIP)
- receio de que se tornasse um instrumento de intervencionismo.
■ Participação na invasão da República Dominicana (1965) -
diplomacia brasileira como “subimperialista”.
■ Tensão entre EUA e Brasil - 1966.
● Reforma da Carta do Sistema Interamericano (1966).
○ Brasil defendia a ampliação da Conferência
Interamericana, chamada de Assembleia.
○ EUA defendia a ampliação das funções do
Conselho da OEA, o qual assumiria o encargo da
resolução dos conflitos bilaterais entre os membros
do continente.
● Questionamento do Congresso norte-americano em
relação à ajuda militar e financeira dada a Argentina e
Brasil.
● Presidente Lyndon Johnson condena publicamente as
ditaduras da América Latina.
■ Chile:
● Discussões acerca da ALALC.
● Reforma da Aliança para o Progresso e da OEA.
■ Bolívia:
● Tônica das conversações econômica: ligação ferroviária,
comércio da borracha e dinamização do intercâmbio
fronteiriço.
■ Argentina:
● Reconhecimento mútuo rápido.
● Golpe militar em 1966.
● Visitas mútuas.
● Criação de comissões conjuntas para tratar do comércio
bilateral.
■ Paraguai:
● Convergência de interesses.
● Leve crise diplomática - militares brasileiros prenderam
autoridades paraguaias na fronteira em Porto Coronel
Renato. Paraguai citou tal região como “zona em litígio”,
negada pelo Itamaraty dado que a fronteira fora
demarcada em 1872.
● Resolução pela Ata do Iguaçu ou Ata das Cataratas
(1966).
○ Comprometimento em estudar a possibilidade de
construção de uma hidrelétrica.

● As relações extra-hemisféricas: Europa Ocidental, países socialistas,


África e Ásia.
○ Europa Ocidental:
■ França.
● Reconhecimento da influência dos EUA sobre América
Latina.
● Visita de De Gaulle ao Brasil em 1964.
● Aproximação crescente.
■ Vaticano.
● Visita de Juracy Magalhães em 1966.
● Incidente de Dom Helder Câmara não comparecendo à
posse do novo Comandante do IV Exército.
■ Diplomacia econômica.
● Ação reativa - CEE e obter reescalonamento da dívida
externa contraída com os europeus.
■ RFA:
● Continuou como um dos principais parceiros econômicos
do Brasil.
● Viu com bons olhos a queda de Goulart.
○ Cooperava com a RDA (Leste Europeu).
● Convênio de financiamento de projetos brasileiros, nos
termos do protocolo bilateral.
■ Suíça:
● Reescalonamento das dívidas brasileiras para manter
seus vínculos econômicos.
■ Portugal:
● Posição conjunta anticomunista, visando a defesa dos
interesses brasileiros na África.
● Normalização das relações após o anticolonialismo visto
na PEI.
● Expressão de certo pragmatismo.
● Estabelecimento de acordos culturais, comerciais e
técnicos.

○ Europa Socialista, África e Ásia:


■ URSS:
● Não rompimento - desejo de manter relações com todos
os povos.
● Busca de incrementar o comércio.
● Separação ideológica explícita.
■ África:
● Cortejar as delegações do 3° Mundo em órgãos
multilaterais e buscar ampliar mercados.
● Objetivos que foram diluídos pelo ocidentalismo e pelos
compromissos com Portugal.
■ Ásia:
● Ausência quase total.
● Episódios ligados à Guerra Fria e interesses econômicos
ligados ao Japão.
● Afastamento da China.
○ Prisão de 9 jornalistas chineses durante o Golpe.
○ Expulsão destes em 1965.
○ Perda do acesso ao mercado da China, que se
focou no México e em Cuba.
● Recusa de enviar tropas ao Vietnã, enviando apenas
medicamentos e café.
● Diplomacia multilateral, econômica e de segurança.
○ As Organizações Internacionais.
■ Afastamento do discurso terceiro-mundista e consequente
esvaziamento político em alguns órgãos, como a UNCTAD.
■ Manutenção da defesa da melhoria das condições do comércio
internacional para os países em desenvolvimento.
■ Reescalonamento geral das dívidas do Brasil (Clube de Haia).
■ ONU - alinhamento com o Ocidente, particularmente os EUA.
Todavia, sua participação estava mais modesta.
○ Questões de Segurança.
■ Oposição ao ingresso da China Popular na ONU.
■ Apoio discreto a Portugal na questão da descolonização.
■ Vinculação do desarmamento à cooperação econômica com os
países em desenvolvimento.
■ Defesa de certos aspectos da coexistência pacífica.
● Adesão da proposta sueca de congelamento.
■ Participação nas Oito Nações Não-Comprometidas na
Conferência de Desarmamento (1964) - medidas imediatas para
um acordo proibitivo de todos os testes atômicos.

Costa e Silva e a Diplomacia da Prosperidade: a autonomia multilateral


frustrada (1967-1969).

● Reorientação econômica, confronto político e diplomacia da


prosperidade.
○ Da Reorientação Econômica ao Confronto Político.
■ Frustração com a PEB castelista - não houve interdependência
ou subimperialismo, apenas dependência e alinhamento quase
automático aos EUA.
■ Diplomacia da Prosperidade - Magalhães Pinto.
● Autonomia e desenvolvimento.
● Enquadramento do Brasil como parte do 3° mundo.
● Liderança do Grupo dos 77.
● Recusa em assinar o TNP.
● Críticas acerca da criação da Força Interamericana de
Paz (FIP), propondo uma integração regional horizontal e
a cooperação nuclear.
● CECLA sobre a OEA.
■ EUA pressionou para a manutenção da equipe econômica de
Castelo Branco - conflitos internos entre as duas alas.
■ Maiores tensões e críticas ao FMI - nos balanços de
responsabilidade de pagamentos o déficit não deve recair
somente sobre os países deficitários e afirmava que não
aceitaria novas restrições que surgissem no novo estatuto do
FMI.
■ No plano interno, via-se maior movimentação e contestação do
regime. Como consequência, o presidente decretou o AI-5, que
colocou o Congresso em recesso indeterminado, suspense os
direitos políticos e civis constitucionais, deu ao presidente
plenos poderes para intervir em estados e municípios, bem
como para legislar por decreto - 1968.
■ Costa e Silva morre no 2° semestre de 1969.

● Diplomacia da Prosperidade: Contestação e Autonomia.


○ Passagem da prioridade da segurança para o desenvolvimento.
○ O desenvolvimento não está condicionado à ajuda externa, mas é
resultado de um processo endógeno.
○ Segurança coletiva e soberania limitada são substituídas pela
segurança e soberania nacionais.
○ Concentração de esforços nos fóruns multilaterais.
■ Azeredo da Silveira como presidente do Grupo dos 77.
○ Evocação da Justiça Social no plano internacional.
○ Defesa da pesquisa nuclear para países subdesenvolvidos
(especialmente no âmbito da América Latina).
○ Sucessos da Diplomacia da Prosperidade:
■ Rejeição da política nuclear das grande potências.
■ Rejeição da FIP.
■ Rejeição da internacionalização da Amazônia.
■ Promoção da Conferência Internacional sobre Fretes - Brasil
adotou unilateralmente a chamada Flag discriminations.
○ Os fracassos, em geral, ligados à questões de abertura dos mercados
de 1° mundo para os produtos de 3° mundo estiveram ligados ao tom
de combatividade de Magalhães Pinto.
○ Manutenção do apoio ao colonialismo português na África em fóruns
internacionais.
○ Não aproximação de países socialistas (China, Coreia do Norte e
Vietnã do Norte), mas não alterou a política de Castelo Branco em
relação aos soviéticos.
○ Rivalidade com os EUA, mas cooperação com o FMI e associação
estreita ao capital internacional.
■ Détente.
● A redefinição das relações com os EUA e a América Latina.
○ EUA:
■ Divergências marcantes: TNP, limitações à importação de café
solúvel, o contingenciamento dos têxteis, o Acordo Internacional
do Cacau, a reação à maior participação brasileira nos fretes
bilaterais e a parcela do Brasil na redistribuição de cotas de
açúcar.
■ Relações se mantiveram razoáveis.
■ EUA incentivando e elogiando o Brasil, buscando assim orientar
a sua diplomacia e economia.
■ Suspensão da venda de armamentos ao Brasil.
■ Controvérsias em relação ao comércio de café solúvel - EUA
acusam Brasil de concorrência desleal, mas este é absolvido
sob laudo arbitral.

○ América Latina e os Organismos Regionais:


■ Críticas na OEA ao discurso de apoio e união anticomunista
esvaziado de apoio prático dos EUA a problemas concretos do
Brasil.
■ Fracasso da proposta da FIP, sob a chancelaria de Juracy
Magalhães.
■ Reunião dos chefes de Estado da OEA (1967 - Montevidéu) -
Criação do Mercado Comum Latino-Americano, implantado em
15 anos (a partir de 1970).
● Brasil era cético quanto essa integração devido à
disparidade de nível de desenvolvimento das economias
nacionais, a tendência à auto-suficiência dos mercados
internos e a falta de comunicações geográficas.
■ Relação de insatisfação, não apenas brasileira, mas da América
Latina, com os cortes paulatinos na ajuda financeira da Aliança
para o Progresso, bem como pela manutenção das barreiras
alfandegárias e protecionistas aos produtos manufaturados da
América Latina.

■ Segurança Hemisférica: rompimento com a PEB do governo


anterior.
● Afastamento da ideologia e dos movimentos
anticomunistas, como meio de se desvincular da
influência dos EUA.
○ Preferência à presença na ONU em detrimento dos
eventos da OEA.
○ Indiferença aos rumores levantados acerca da
Organização Latino-Americana de Solidariedade
(OLAS).
○ Rechaço da proposta de criação da FIP.

○ Países Platinos.
■ A Argentina tornou-se a prioridade para o Brasil.
● Assinatura de um tratado sobre pesca e conservação dos
recursos naturais do Atlântico Sul, como meio de resolver
o conflito existente entre os dois países em virtude d
recente lei argentina sobre soberania marítima.
● Posições comuns em relação à Alalc e à proliferação das
armas nucleares - reservando o direito de promover o uso
pacífico da energia atômica.
■ Rumores de intervenção no Uruguai, negadas e infundadas.

○ Países Andinos, México, América Central e Caribe.


■ Reaproximação do Chile, distante na gestão anterior.
■ Reconhecimento do novo governo peruano, de caráter
esquerda-nacionalista.

● Relações Multilaterais e Bilaterais Extra-Hemisféricas.


○ Organizações Internacionais
■ Acentuada valorização da atuação nos fóruns multilaterais -
críticas aos obstáculos que impedem o desenvolvimento dos
países do Terceiro Mundo.
■ Procurou atuar em grupos compostos exclusivamente pelo
Terceiro Mundo, como o Grupo dos 77.
■ Apoiou a autodeterminação dos povos e a descolonização.
■ Reforço da posição brasileira de que a melhor resposta à
subversão (especialmente comunista) é o desenvolvimento
econômico.
■ 1968, no âmbito da II UNCTAD - controvérsia entre EUA e Brasil
sobre o TNP.
■ Coerência com o Direito Internacional - condenação da invasão
da Checoslováquia pela URSS.
■ Assinatura do Tratado de Tlatelolco em 1967, proscrevendo o
uso de armas atômicas na América Latina.
● Defesa do uso pacífico da energia atômica - acordos
secretos com Israel, Alemanha, França, Espanha e Índia.

○ Europa Ocidental, Japão e Canadá


■ Alternativas aos EUA para potencializar elementos estratégicos,
dos quais se destacam: o desenvolvimento de tecnologia
nuclear e o incremento comercial (especialmente no contexto de
integração europeia).
■ Manutenção da proximidade com Portugal, inclusive seu apoio à
Lisboa na questão das colônias africanas.
■ Criação da Comissão Mista Bilateral Brasil-Japão, em 1967.
■ Aproximação do Canadá, especialmente no tópico de uso
pacífico da energia atômica.

○ Europa Socialista, África e Ásia


■ Bloco Socialista - iniciativas essencialmente econômicas,
conforme a política de Castelo Branco.
■ Mundo afro-asiático - relações modestas e frias. Única
aproximação foi com a Índia, através da UNCTAD e o G77.
■ Acerca da Guerra dos 6 dias (1967) - manifestou apoio à Israel,
mas sob uma posição de quase neutralidade.
● Conclamava os países árabes a reconhecer Israel e
conclamava Israel a solucionar a questão dos refugiados,
bem como o comprometimento de não incorporar a seu
território as áreas ocupadas em virtude de seus sucessos
militares. Conclamava a R.A.U. (República Árabe Unida)
a assegurar a livre navegação pelo estreito de Tiran e a
abertura de Suez a navios de quaisquer bandeiras.

Médici e a diplomacia do interesse nacional: a autonomia no alinhamento


(1969-1974)

Repressão, “Milagre Econômico” e Diplomacia do Interesse Nacional.

● A Diplomacia do Interesse Nacional e a Autonomia no Ordem.


○ Chanceler: Mario Gibson Barbosa
○ Principais características:
■ Abandono da solidariedade terceiro-mundista e do discurso
politizado.
■ Ascensão do pragmatismo.
■ Ascensão do bilateralismo em detrimento do multilateralismo.
■ Maior atenção às áreas de discordância com os EUA, de modo
a promover um relacionamento satisfatório com este.
■ Divisão de trabalhos entre multilateralismo (ligado a temas
referentes à ordem política econômica mundial, em que o Brasil
exercia uma posição contestatória, mas que não possuía
capacidade de assumi-la, independentemente) e o bilateralismo
(ligado aos interesses materiais).
○ O Governo Médici buscou desenvolver o interesse nacional fora do
discurso politizado do Terceiro Mundo, mas estabelecendo relações
bilaterais com subpolos estratégicos do Terceiro Mundo, como a Índia
e a China. Logo, evitando os extremos de prepotência (de Costa e
Silva) e da subserviência (de Castelo Branco), a diplomacia do
interesse nacional buscou a melhor posição dentro do
imperialismo.
○ Assim, o projeto, interno e externo, era o de “Grande Potência”, com o
objetivo de integrar o Brasil no Primeiro Mundo, até o fim do século.
■ Distinção, por Araújo Castro, de Política Externa Brasileira
(defesa dos princípios gerais do direito internacional, bem como
a manutenção das relações cordiais com os EUA) e Política
Internacional do Brasil (relacionada às diretrizes concretas e
práticas em relação às questões internacionais
contemporâneas).
■ Críticas à tendência de congelamento do poder:
● Necessidade de reforma da ONU.
● Não aderência do TNP (1968).
● Exigência de maior politização da agenda internacional,
ao invés de torná-la, supostamente, técnica.
● Definição do Direito do Mar.
● Críticas às estruturas do comércio e finanças
internacionais.
■ Relacionamento com os EUA:
● O Brasil mostrava-se um importante parceiro dos EUA,
visto que o Chile e Peru estavam dominados por
governos de esquerda e os EUA mostravam se
desengajados relativamente - delegando funções para
potências regionais (Irã, Israel, Brasil, África do Sul).
■ Aproximação da América do Sul, dos países africanos do Golfo
da Guiné e dos países árabes, devido ao aumento gradativo do
petróleo.
■ Enfoque no desenvolvimento econômico, mas afastamento do
Terceiro Mundo, consubstanciando no apoio à Portugal na
questão do colonialismo.
○ Logo, pode-se dizer que o bilateralismo de Médici complementa e não
exclui o Multilateralismo de Costa e Silva, mesmo que haja prioridade
para o primeiro.

● Relações Hemisféricas: Desalinhamento sem confronto.


○ Estados Unidos.
■ Busca de atenuação da atmosfera de conflito, com as questões
de fundo permanecendo sem resolução.
■ Atritos:
● Decretação unilateral, por parte do Brasil, da ampliação
do Mar Territorial de 12 para 200 milhas náuticas, em
1970.
● Recusa brasileira à assinatura do TNP.
● Empecilhos às exportações de café solúvel para os EUA.
○ Resolução vinculando a ratificação do Acordo
Internacional do Café à revogação brasileira da lei
das 200 milhas do mar territorial.
● Retomada do apoio norte-americano ao autoritarismo de
Médici, especialmente após a ascensão de governos de
esquerda na América Latina.
● Queda da complementaridade comercial, enquanto a
Europa Ocidental e o Japão tornavam-se parceiros
comerciais cada vez mais relevantes.
■ Doutrina Nixon: divisão de tarefas em termos de segurança com
potências médias aliadas.
■ Fim dos radicalismos com os EUA - encarando a relação Brasil -
EUA como uma relação entre dois Estados (e não EUA e
América Latina), que apesar de desiguais em suas influências e
forças, eram igualmente soberanos e dotados de personalidade
jurídica para defender seus interesses.

○ América Latina e Organismos Regionais


■ Acusação de participação nos golpes de Estado da Bolívia
(1971) e do Chile (1973), bem como a existência de planos
militares para ocupar o Uruguai caso caísse nas mãos da
oposição armada ou em caso de vitória da Frente Ampla,
através da chamada Operação Trinta Horas.
■ Evitar que houvesse governos hostis aos projetos do Brasil
Potência.
■ Desafio de lidar com as acusações de expansionismo e
subimperialismo, evitando a formação de um bloco hispânico
que isole o Brasil.
■ Buscou fortalecer a Alalc em detrimento da criação de um
mercado comum. E foi nesse momento que se concluem
tratados de grandes projetos de cooperação bilateral:
● Paraguai - Hidrelétrica de Itaipu (Tratado de 1973).
● Bolívia - compra do gás e complementação industrial (Ata
de Cooperação de 1973).
● Colômbia - estudos para uma binacional do carvão
(1973).
● Uruguai - projetos de desenvolvimento das Bacias da
Lagoa Mirim e do rio Jaguarão.
● América Central - estabelecimento de acordos para
elevação das trocas comerciais, acordos de cooperação
técnica e outros.

○ Países Platinos
■ Argentina - evoluiu da rivalidade à cooperação.
● Problemática de Itaipu:
○ Trocas constantes de presidentes obstavam uma
negociação duradoura.
○ Receio de que o Brasil, criando um polo
econômico de grandeza na região, levasse as
províncias pobres do norte argentino a gravitar em
torno do Brasil.
○ Argentina, na Conferência da Bacia do Prata
(1971), advogou pela tese da consulta prévia, que
ganhou apoio!
○ Conseguiram resolver, de forma temporária a
problemática, em 1972, no Acordo de Nova Iorque.
○ Em 1972, após a visita do presidente argentino
Lanusse ao Brasil, firmaram-se seis acordos que
avançaram nas negociações pra Itaipu.
■ Paraguai - esforços de acercamento para levar ao acordo que
permitiu a construção da Usina de Itaipu, em 1973.
■ Uruguai - o Brasil apoiou e deu suporte à transformação do país
num regime ditatorial em 1973, segundo foi denunciado na
ocasião.

○ México, América Central e Caribe


■ Cuba - relação problemática, devido aos exilados brasileiros, o
apoio cubano aos grupos guerrilheiros brasileiros, sequestro e
desvio de aviões para aquele país e a campanha internacional
contra o regime militar. A Suíça serviu de intermediadora dos
interesses brasileiros em Cuba, buscando auxiliar passageiros e
tripulantes, bem como a liberação dos aparelhos.
■ México - adensamento do relacionamento comercial, todavia
com críticas pela falta de reciprocidade mexicana na aplicação
dos mecanismos de liberalização comercial do Tratado de
Montevidéu (ALALC).

● Relações bilaterais com a Europa Ocidental, Países Socialistas, África e Ásia.


○ CEE, AELC, Canadá e Japão.
■ CEE - Resultados poucos e modestos.
■ Alemanha Federal (RFA): adensamento das relações
econômicas (nos âmbitos comercial, financeiro e de
investimentos); cooperação nuclear para transferência de
tecnologia de desenvolvimento para o Brasil.
■ Avanços nas relações diplomáticas com a França, Itália, Países
Baixos, Bélgica, Dinamarca, Reino Unido, Canadá e Japão,
especialmente em questões econômicas, de infraestrutura e, em
alguns casos, militares.
■ Portugal: apesar de manter formalmente a solidariedade luso-
brasileira, o Brasil procurou encaminhar as relações bilaterais de
forma independente do problema colonial.

○ Europa Socialista.
■ Cresceram no campo econômico e mantiveram-se satisfatórias
e regulares no terreno político, mesmo que possuindo um low
profile.
■ Participação de empresas brasileiras em feiras econômicas
soviéticas.
■ Transferência de tecnologia de usinas hidrelétricas para URSS.

○ África Subsaariana.
■ O Brasil efetivou sua presença na África Ocidental e iniciou sua
atividade diplomática regular no Oriente Médio, Ásia e Oceania.
● Participou como observador da reunião preparatória da
Conferência dos PNA, em 1970. Em 1973, participou
também como observador, na V Conferência de Chefes
de Estado e de Governo dos PNA, em Argel.
● Em relação às colonias ultramarinas, votou
conjuntamente com os EUA, Reino Unido, Espanha,
Portugal e África do Sul. Todavia, absteve-se nas
questões gerais de condenação do colonialismo, como o
Apartheid e a “imposição” de interesses econômicos
estrangeiros.
● Todavia, paulatinamente, o Brasil foi se esquivando da
associação com o colonialismo português: proibiu a
venda de armas a Portugal; excluiu as colônias
portuguesas da visita que o chanceler brasileiro fez à
África em 1972; evitou o uso da expressão “províncias
ultramarinas” em documentos oficiais e evitou a
associação com Portugal na exploração do petróleo
angolano. Enfim, em 1973, em um encontro entre os
chanceleres dos dois países, o Brasil salientou que caso
Portugal se mantivesse imóvel, o Brasil se veria obrigado
a votar contra o colonialismo na ONU - Portugal aceitou
discutir com as lideranças africanas, o que não ocorreu.
Todavia, com a Revolução dos Cravos (1974), Portugal
saiu subitamente de suas colônias, as quais tornaram-se
independentes imediatamente.
● Aproximação da África do Sul, em termos de transporte
(especialmente aviação) e comerciais.
● Viagem do chanceler Mario Gibson Barbosa para uma
gama extensa de países na África - especialmente a
África Ocidental - 1972.
○ Programa de Cooperação Cultural com a África,
através da concessão de bolsas de formação e
especialização a estudantes e técnicos africanos.

○ Oriente Médio.
■ Iraque:
● Visita do chefe do Estado Maior das Forças Armadas do
Brasil, em maio de 1971, estabelecendo um Acordo sobre
Cooperação Comercial - no qual o Brasil se comprometeu
a comprar petróleo iraquiano, cujo governo facilitaria a
colocação em seu mercado de produtos brasileiros em
valor correspondente à quantidade de petróleo adquirido.
● Após a nacionalização da Iraq Petroleum Company (IPC),
o Brasil se colocou como comprador do petróleo
iraquiano, quando este sofria tentativa de boicote das
multinacionais do ramo.
● Em 1971, o primeiro embaixador do Brasil no Iraque foi
enviado.
■ Egito:
● 1973 - Brasil acertou a participação da Petrobrás na
pesquisa e prospecção do petróleo local e assinou acordo
de cooperação técnica.

○ Ásia e Oceania.
■ Ênfase puramente econômica, com exceção da Índia e Filipinas
(a qual recebeu doses de vacinas e medicamentos como ajuda
às vítimas de enchentes que assolaram algumas regiões
daquele país).
■ Índia - cooperação técnica e científica.
■ Austrália - crescimento das trocas comerciais.

● Diplomacia Multilateral, Econômica e de Segurança.


○ Organismos Internacionais.
■ O Brasil continua a denunciar as tentativas de congelamento do
poder mundial e as distorções do sistema internacional, todavia
agora o faz em seu próprio nome e não em nome do Terceiro
Mundo.
■ Manteve seus posicionamentos contrários ao colonialismo e ao
Apartheid sul-africano. Votou a favor da independência dos
pequenos territórios, como o Saara Espanhol, bem como
condenou a ocupação sul-africana da Namíbia. Todavia, se
absteve na questão da Rodésia do Sul, bem como na questão
das colonias portuguesas.

○ Diplomacia Econômica, de Segurança e Tecnologia


■ Em relação à política de segurança, o elemento mais visível foi a
luta contra o TNP (1968) e sua respectiva discriminação de
países nucleares e não nucleares.

Geisel e o Pragmatismo Responsável: Autonomia Multilateral e


Desenvolvimento (1974-1979)

O Pragmatismo Responsável e a Reorientação do Regime


● A Reorientação Político-Econômica do Regime Militar.
○ Retorno da corrente castelista.
○ Principal projeto político - encaminhamento do processo de abertura
política.
○ O “Milagre Econômico” herdado por Geisel trazia problemas
estruturais: a dependência de energia importada barata; o afluxo de
investimentos de capitais estrangeiros e a utilização de tecnologia
importada.
■ O Choque do Petróleo de 1973 elevou o preço da energia
importada e reduziu o afluxo de investimentos de capitais
estrangeiros (visto que tal choque levou à uma recessão global).

● Pragmatismo Responsável e Ecumênico: Matriz e Formulação.


○ Chanceler - Antônio Azeredo da Silveira.
○ Economia:
■ Geisel buscava alteração e/ou aprofundar significativamente as
relações exteriores, pois o capitalismo brasileiro havia atingido
um nível de desenvolvimento que propiciava um alto grau de
inserção mundial - o que se tornava ainda mais urgente devido a
conjuntura internacional adversa e ao fato do regime militar
haver piorado ainda mais a distribuição de renda.

■ Aproximação dos países árabes:


● Escritório da OLP em Brasília.
● Apoio do voto anti-sionista na ONU (3379/XXX - 1975).
● Política de exportação de produtos primários, industriais e
serviços em troca de fornecimento de petróleo.
● Estabelecimento de joint-ventures para prospecção de
petróleo no Oriente Médio através da Braspetro e para o
desenvolvimento tecnológico e industrial-militar, com
Argélia, Líbia, Iraque e Arábia Saudita.

■ Aproximação do campo socialista:


● Incremento comercial com os países que já possuíamos
vínculos.
● Estabelecimento de relações diplomáticas com a RPC,
em 1974.
● Primeiro país a reconhecer o governo marxista do MPLA
em Angola, mantendo relações estreitas com
Moçambique e outros Estados da África Austral.
● Convergência explícita com o Terceiro Mundo.

■ Potência Capitalista:
● Priorização da Europa Ocidental e do Japão, em
detrimento dos EUA.
○ Oposição ferrenha dos EUA, que passaram a
denunciar as violações de direitos humanos do
Brasil - especialmente em 1977, com a divulgação
do Relatório de Direitos Humanos por Jimmy
Carter.
○ Oposição interna, especialmente do setor que já se
mostrava descontente pelo processo de abertura
política.
● Em relação à RFA e ao Japão, estabeleceu uma
cooperação estratégica para além da tradicional
diplomacia econômica de barganha.
○ RFA:
■ Acordo Nuclear com a RFA (1975).
● Rompimento do Acordo Militar Brasil-
EUA, de 1952, em 1977 - após
pressões para desistência do Acordo
Nuclear com a RFA.

■ América Latina:
● Estreitamento da cooperação, abandonando o discurso
de grande potência.
● Argentina:
○ Início das conversações para a solução do
contencioso das barragens hidrelétricas.
○ Apoio ao regime militar implantado em 1976.
● Países Amazônicos:
○ Estabelecimento do TCA, em 1978, como reação
aos rumores de internacionalização da Amazônia.

■ Aspectos gerais:
● Não se busca uma alternativa ao capitalismo ou a
realização de reformas sociais, mas um melhor
posicionamento do Brasil dentro da ordem já existente.
● Amplio da multilateralização e da confluência explícita
com o Terceiro Mundo.
● Reforço do bilateralismo (ainda mais do que visto com o
Médici) - buscando aprofundar o bilateralismo com os
países que o Brasil já apresenta relações históricas e,
especialmente, que apresentassem um viés oportunista.
● Três características: pragmatismo, responsabilidade
e ecumenismo.
○ Pragmatismo: relativo à eficiência material e a uma
perspectiva realista na avaliação das
circunstâncias.
○ Responsabilidade: proteção do pragmatismo do
epíteto de antiético.
○ Ecumenismo: aversão do Estado Brasileiro ao
isolamento, bem como aos preceitos de respeito e
de fraternidade internacional.
● Pesadas críticas internas, especialmente pela tensão com
os EUA e a ausência de resultados comerciais positivos
relevantes com a RPC e com os países árabes.
● Não se trata de uma política inédita, porém uma política
de autonomização econômica que, durante o Regime
Militar, não existiu antes - porém foi vista em outros
momentos da diplomacia brasileira - especialmente na
PEI.

A Rivalidade com os EUA e as Relações Hemisféricas


● Estados Unidos.
○ A busca de autonomia em termos industriais e energéticos, que
esbarraram na assinatura do Acordo Nuclear de 1975, incomodaram os
EUA, pois marcaram a busca brasileira por um autonomia para além do
desejável pelos EUA - numa tentativa de alterar a DIT.
○ Denúncia em foros multilaterais do desenvolvimento desigual e da
tentativa de congelamento do poder. Concomitantemente, há o apoio
explícito ao Terceiro Mundo.
○ Tópicos de tensão:
■ Centrais: questão nuclear e questão dos direitos humanos.
● Fazia sentido para Alemanha, devido às jazidas
brasileiras de urânio, bem como pela possibilidade de
valer-se da energia nuclear para abrir novos mercados
aos seus produtos.
■ Secundárias: abstenção do Brasil na OEA em relação às
sanções à Cuba; o voto na ONU a favor da resolução que
condenava o sionismo como racismo; o reconhecimento de
governos revolucionários de tendência marxista-leninista (ex-
colônias portuguesas) e o estabelecimento de relações com a
RPC.
○ Os EUA ainda seguiam a Doutrina Nixon e viam o Brasil como um
aliado importante e o preferencial na América Latina, de modo a
estabelecer em 1976, o Memorando de Entendimento, estabelecendo
reuniões bilaterais de consulta sobre diversas questões - algo exclusivo
do Brasil.
○ Após pressões norte-americanas, a RFA se comprometeu a não
assumir outros tratados internacionais acerca da matéria atômica com
países do Terceiro Mundo, sendo o caso brasileiro o último.
○ A política externa estadunidense de Jimmy Carter, presidente a partir
de 1977, decidiu alardear as denúncias de violação aos direitos
humanos dos dissidentes soviéticos - todavia, a credibilidade de tais
denúncias dependia da universalização das denúncias, inclusive de
países amigos. Tal política era uma tentativa de retomar seu prestígio
internacional desgastado com a derrota no Vietnã e o escândalo
Watergate. Todavia, no caso brasileiro, serviu como forma de pressão
para que o Brasil desistisse ou revisasse o acordo.
■ O Brasil reagiu denunciando, em 1977, 5 acordos com os EUA.
○ Em 1978, com a visita de Jimmy Carter ao Brasil, a situação se
arrefeceu, com os temas polêmicos sendo tratados com discrição e
com a declaração de que o Nuclear Non-Proliferation Act (ato
estadunidense de 1978 que declarava o fim da transferência de urânio
enriquecido, em casos de descumprimento das normas estritas) não se
aplicava nem ao Brasil nem à RFA. Isso se deve à percepção interna
de que as ações estadunidenses estavam sendo contraproducentes,
bem como que o Acordo Nuclear já apresentava atrasos, problemas
técnicos e dificuldades financeiras.

● América Latina:
○ No plano do discurso, a América Latina continua a ser o foco principal
para a PEB.
○ Continua a se dar em bases comerciais, com dois objetivos:
cooperação comercial e técnica com as “potências médias da região”,
e cooperação “assistencial” no plano tecnológico comercial e financeiro
com os países de menor desenvolvimento relativo.
○ Necessidade de se defender das acusações, especialmente
argentinas, de pretensões de hegemonia.

● Bacia do Prata:
○ Negociações, com Paraguai e Argentina, acerca das Usinas
Hidrelétricas de Corpus e de Itaipu. Neste momento, não se discutia
mais sobre a possibilidade de construção destas (pois isto já estava
certo e não se podia voltar atrás), mas se discutia os termos pelos
quais as usinas seriam construídas.
○ Uruguai - Documentos de Rivera (1976) - mobilização de recursos sem
precedentes na história dos dois países.
■ 1974 - Plano de operacionalização do projeto de
desenvolvimento da Lagoa Mirim.

A Nova Dimensão das Relações Extra-Hemisféricas

● Europa Ocidental e Japão.


○ Crescimento da importância do relacionamento com estas potências,
especialmente como alternativa aos Estados Unidos. Vê-se Azeredo da
Silveira visitando diversas capitais europeias, bem como diversos
chanceleres e ministros europeus, canadenses e japoneses visitando o
Brasil.

● Países Socialistas.
○ Ênfase nas relações econômico-comerciais.
○ Aproximação política.
■ Primeira visita de um ministro brasileiro - Ministro da Saúde
representou o Brasil na Conferência Internacional sobre
Atendimento das Necessidades Básicas de Saúde, em Alma
Ata, em 1978.
■ Ministro soviético elogiou o Acordo Nuclear Teuto-Brasileiro, em
1978, em Bonn.
■ Aproximação da Iugoslávia - visita de Geisel ao país.

● África.
○ Governo Médici - estabelecimento simbólico e efetivo de relações
diplomáticas com as nações africanas, em especial as subsaarianas.
Ademais, no fim de 1973, Brasil abandona a postura de apoio a
Portugal.
○ África era um continente estratégico:
■ África Negra aliada dos países árabes, que barganhavam com o
petróleo e costumavam acompanhar Argentina no que dizia
respeito à questão Corpus-Itaipu.
■ Possibilidade de inserção dos manufaturados brasileiros e
recepção de matérias-primas e produtos primários.
○ África Portuguesa:
■ 1974 - Reconheceu a independência de Guiné Bissau, antes
que terminasse suas negociações com Portugal.
■ 1974 - Discurso de abertura da AGNU - declaração de que não
havia motivo para o adiamento da descolonização, pedindo a
independência de Moçambique e Angola.
■ 1975 - Brasil foi o primeiro país a estabelecer relações com
Angola. Mais tarde, em novembro, reconheceu o governo
unilateral do MPLA.
● Estratégico - Angola é rica em petróleo, ferro e diamantes
- de modo que a língua comum permitiria e facilitaria o
intercâmbio comercial, técnico e de know-how.
● Assim, calculando que o MPLA tinha mais chances de
tornar-se hegemônico no poder, apoiou-o, buscando
ganhar a confiança deles, bem como contrabalançar a
influência excessiva dos soviéticos.
○ Penetração comercial na África obstaculizada pela Convenção de
Lomé (1975) - CEE + ex-colônias da África, Caribe e Pacífico - confere
vantagens para a Europa no relacionamento comercial com esses
países (apenas oito da África não assinaram - Argélia, Marrocos,
Tunísia, Líbia, Egito, Sudão, Angola e Moçambique).

● Oriente Médio.
○ Aproximação dos países árabes, uma tentativa de assegurar o
fornecimento de petróleo.
○ Passagem de uma política favorável, porém tímida - para uma política
de quase divulgação das posições pró-árabe da diplomacia.
■ Azeredo da Silveira fez um discurso em apoio à questão
palestina, em 1974 - de modo que o Brasil foi incluido na lista de
países amigos para os quais o fluxo de abastecimento de
petróleo estava garantido.
■ Apoio à Resolução 3379/XXX que condenou as formas de
racismo - incluindo o sionismo.
■ Distanciamento de Israel.
○ O Oriente Médio comprava crescentes quantidades de manufaturados
brasileiros, especialmente produzidos pela Embraer e pela Imbel
(produto bélico) - todavia, dada a importação maciça de petróleo, a
balança comercial esteve sempre negativa.
○ Relação entre a Petrobrás e as companhias petrolíferas do Irã e
Iraque.

● Ásia e Oceania.
○ RPC:
■ Afastamento após 1964.
■ Leve aproximação a partir dos Relatórios de Hong-Kong (1969-
1971).
■ No momento da détente, o Brasil envia em 1974 uma missão
comercial de 15 empresários, acompanhados de representantes
do Ministério das Relações Exteriores, do Planejamento e da
Indústria e Comércio.
■ Convergência em temas como energia nuclear, meio ambiente,
direito do mar e direitos humanos.
■ Agosto de 1974 - Estabelecimento de relações diplomáticas
entre os dois países.

Diplomacia Multilateral, Econômica e de Segurança.


● Diplomacia Econômica e Multilateral.
○ Denúncia constante para combater o congelamento do poder mundial,
todavia com descrença no multilateralismo: aproximação do 3° mundo
na via econômica, mas afastamento na via política (não adesão do
MNA).
○ Defesa da descolonização e da retirada e Israel dos territórios
ocupados.
○ Degradação do aspecto econômico, após a Crise do Petróleo (1973).
○ Aumento da dívida externa: tomada de empréstimos, importação de
tecnologia e importação de petróleo.

● Segurança, Energia Nuclear e Informática.


○ Nacionalização da política de segurança em 4 momentos:
■ Definição de uma política de exportação de materiais bélicos.
■ Acordo Nuclear Brasil-Alemanha (1975).
■ Denúncia do Acordo Militar com os EUA (1977).
■ Desenvolvimento de um programa nuclear paralelo a partir de
1979 pelo conjunto das forças armadas.

Figueiredo e a Diplomacia do Universalismo: continuidade em condições


adversas (1979-1985).

Crise Político-Econômica do Regime e a Diplomacia do Universalismo.


● Governo Figueiredo: Crise e Abertura Política.
○ Chanceler: Saraiva Guerreiro.
○ PEB de continuidade em relação ao Pragmatismo Responsável.
■ Ênfase na América Latina.
○ Reagan aumento a taxa de juros para aumentar a dívida externa dos
países do Sul, servindo como instrumento de pressão contra a política
econômica destes e um golpe mortal no projeto de desenvolvimento de
nações, como o Brasil.
○ Apoio integral do Brasil à Argentina, na Guerra das Malvinas (1982).
○ Crise econômica, com a declaração da moratória em dezembro de
1982.
○ Alternância entre momentos de apaziguamento e momentos de linha-
dura.
○ Eclosão das Diretas Já em 1984, que não foram bem-sucedidas, sendo
eleito indiretamente Tancredo Neves.

● A Diplomacia do Universalismo.
○ O Brasil, mesmo em um cenário desfavorável, manteve-se alinhado
com o MNA (mesmo não integrando-o), denunciando as estruturas de
congelamento de poder.
○ Viu-se um afastamento da Europa Ocidental e do Japão, submissos ao
rearranjo econômico e diplomático de Reagan.
○ Proximidade da África, mas a recessão brasileira e o aprofundamento
das guerras na África Austral limitou a cooperação.
○ Maior alinhamento sul-americano - Grupo da Contadora, Grupo de
Apoio à Contadora e G8 (Grupo do Rio). A prioridade da América
Latina finalmente sai do mero plano do discurso.

● Relações Hemisféricas: A América Latina como Prioridade:


○ EUA:
■ Endurecimento da PE Americana, de Reagan, em relação à América
Latina.
● Obsessão em derrotar o expansionismo soviético-cubano na
América Central e Caribe - por meio das relações bilaterais e
pelo simultâneo esvaziamento das novas formas de
cooperação multilateral.
● Apoio mais explícito do Brasil aos EUA em fóruns
internacionais (repúdio explícito à intervenção soviética no
Afeganistão e reconhecimento do Estato de Emergência na
Polônia), em troca de uma relação bilateral mais íntima
(maiores investimentos, suspensão de alguns entraves
protecionistas e garantia de suprimento de combustível
nuclear). Concessões realizadas, porém vistas como
insuficientes pelo Brasil.
● Divergências em relação às Malvinas.
○ Ameaças comerciais ao Brasil, caso continuasse a
apoiar explicitamente a Argentina.
● Relaxamento posterior devido aos acontecimentos de 1982: a
Guerra das Malvinas e a moratória mexicana (1982) - evitar
que o Brasil se tornasse como um desses países.
● Aprofundamento da distância entre os países, devido à
inconclusão dos acordos de cooperação econômico-financeira,
industrial-militar, espacial, nuclear e científico-tecnológico.

○ América Latina:
■ 1978 - Tratado de Cooperação Amazônica.
■ 1980 - Substituição da ALALC pela ALADI.
■ 1984 - Grupo de Cartagena e Grupo de Apoio à Contadora.

○ A Bacia do Prata:
■ Acordo de Corpos-Itaipu - fim da problemática entre Brasil e Argentina
em 1978.
■ Apoio do Brasil à Argentina, na questão das Malvinas.
● Venda e disponibilização de itens militares, como aviões, para
os argentinos.
● Pressão na OEA para que o Reino Unido não atacasse a
Argentina Continental.
■ Aproximação cultural, militar, tecnológica, científica e comercial da
Argentina.
■ Compromisso argentino de não “exportar” a democracia.
■ Crise econômica na Argentina pela liberalização do mercado -
empresas nacionais quebram e a dívida externa aumenta.

○ Região Andina e Bacia Amazônica:


■ Chile:
● Incremento do comércio bilateral.
● Neutralidade brasileira nas questões entre Chile e Argentina.
● Orientação de não ativismo da diplomacia brasileira em
relação ao governo ditatorial chileno.
■ TCA:
● Firmado em 1978.
● 1980 - I Reunião de Chanceleres do TCA - Declaração de
Belém.
● Empecilhos com a Venezuela - doutrina Bettancourt de não
reconhecimento de países autoritários.
■ Peru e Equador:
● 1981 - Brasil coordeno negociações para a paz entre os
países.
■ Suriname:
● Aproximação após o golpe - Países Baixos e EUA se
afastaram, abrindo lugar para o Brasil.

○ México, América Central e Caribe:


■ Apoio ao Grupo da Contadora, na crise política da América Central,
sem críticas diretas à ação estadunidense.

O Apogeu das Relações Bilaterais Extra-Hemisféricas


● Europa Ocidental, Japão e Canadá.
○ Continuava a ser um polo importante, todavia em circunstâncias
desfavoráveis.
○ Cooperação tecnológica e nuclear manteve-se relevante com a RFA.
○ Contínua proximidade com Portugal.

● Europa Socialista.
○ Manutenção da tendência anterior: busca de expansão do intercâmbio
comercial e contatos de caráter político restritos e vagos.
○ Retomada dos contatos políticos com a URSS, com insuficiente
desenvolvimento das relações econômicas.
■ Não participou do boicote à URSS pela invasão do Afeganistão.

● África Subsaariana.
○ A prioridade era a África Lusófona.
■ Envio de tropas brasileiras para defesa da Angola da África do Sul.
■ Apoio do MPLA na Angola, a partir do entendimento de que eles
estavam efetivamente no poder e manter-se-iam.
○ Pressão da esquerda por não haver rompido com a África do Sul e da direita
por não fortalecer os laços comerciais e de segurança. A diplomacia também
recusava os pedidos de líderes africanos para pressionar formalmente a
África do Sul.
■ Assim evitou qualquer pacto militar do Atlântico Sul, como pretendido
pela África do Sul e por alguns regimes militares do Cone Sul.
○ Posição a favor de um verdadeiro regime democrático no Zimbábue e da
autodeterminação e independência da Namíbia.
○ Apoio na independência e na formação do Estado Angolano e Moçambicano.
○ Visita de Figueiredo, em 1983, para diversos países africanos (Nigéria Guiné
Bissau, Senegal, Argélia e Cabo Verde).

● Oriente Médio.
○ Solução de 2 Estados, conforme 1948.
■ Desocupação dos territórios árabes conquistados pela força -
resoluções 242 e 338 do CSNU.
○ Prestação de serviços com países como Argélia e Iraque e outros projetos
com Irã e Arábia Saudita, além da exportação de equipamentos bélicos.
○ Neutralidade em relação à guerra Irã-Iraque, vendendo armas ao Iraque
meramente para cumprir os compromissos de longo prazo.
○ Choque do Petróleo de 1979 - garantia por parte da Líbia de que não
ficaríamos sem petróleo. Irã igualmente garantiu o suprimento ao Brasil.
○ Início de negociações para abertura de um escritório da OLP no Brasil (o que
ocorrerá apenas em 1993), por pressões do Iraque, que fornecia 48% do
petróleo importado pela Petrobrás.
● Ásia e Oceania.
○ Incremento do intercâmbio comercial e político com a China.
■ Incremento da Cooperação Sul-Sul.
○ Aproximação Comercial da Austrália.

Diplomacia Multilateral, Econômica e de Segurança.


● Organizações Internacionais.
○ Apogeu do multilateralismo brasileiro.
○ Figueiredo é o primeiro presidente, em 1982, a estar na sede da ONU.
● Diplomacia Econômica.
○ Críticas ao FMI.
○ Principal tópico: dívida externa.
● Diplomacia da Segurança, Energia Nuclear e Informática.
○ Recusa da criação da OTAS, especialmente após a Guerra das Malvinas, por
considerar que a marinah brasileira estaria mais vulnerável com a
internacionalização do Atlântico Sul.
○ Inauguração de Angra I, em 1984.

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