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30 anos de ANDES-SN

Universidade, socialismo e consciência social:


Florestan Fernandes na revista Universidade e Sociedade
Roberto Leher

Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro


E-mail: leher@gmail.com

Resumo: O artigo analisa a interlocução de Florestan Fernandes com o principal veículo de difusão de estudos,
análises e ensaios teóricos do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-
SN): a revista Universidade e Sociedade. O estudo sintetiza algumas das nervuras da argumentação do sociólogo e
militante socialista sobre a função social da universidade em um país capitalista dependente. Para tornar inteligíveis
suas ideias colocadas em circulação na Universidade e Sociedade, no período 1991-1995, o artigo busca em seus
textos anteriores contribuições que permitam uma melhor compreensão de algumas das categorias chaves por ele
utilizadas. Inicialmente, o estudo faz apontamentos sobre o seminal conceito de capitalismo dependente e os nexos
desse conceito com o de heteronomia cultural. A partir desse aporte, discute as proposições florestanianas para a
educação, a formação da consciência e a função da universidade no capitalismo dependente. O seu diálogo com
o mencionado periódico é então examinado, colocando em relevo a luta pela LDB, os desafios da universidade
pública, os problemas teóricos, por meio do diálogo com Mariátegui, e os dilemas do socialismo. Em uma última
seção, discute as aproximações das proposições de Fernandes com a agenda política do ANDES-SN.

Palavras-chave: Florestan Fernandes; ANDES-SN; Capitalismo Dependente; Socialismo; Educação Pública;


Universidade; Lei de Diretrizes e Bases.

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Introdução do ANDES-SN diante dessas iniciativas da Central,

A
revista Universidade e Sociedade (US) é o os setores do PT mais estreitamente vinculados à
principal veículo de difusão de estudos, aná- Articulação iniciaram um movimento de crescente
lises e ensaios teóricos do Sindicato Nacional afastamento do Sindicato. Nessa perspectiva, o diálogo
dos Docentes das Instituições de Ensino Superior de Florestan Fernandes com o ANDES-SN é pleno de
(ANDES-SN). Em sua apresentação de lançamento, significado: ele reconhece no ANDES-SN um espaço
a Revista é concebida como “um instrumento de ação legítimo e importante para levar adiante sua luta pelo
política” em um contexto de “refuncionalização da socialismo e pela reforma radical da educação pública
universidade” e de “crise do Estado capitalista” (US, e, ao mesmo tempo, o mais importante e vigoroso
n.1, p.5). sindicato dos docentes das instituições de ensino su-
Fundada em fevereiro de 1991, mantém circulação perior do País reivindica a sua voz.
regular, com 46 números publicados. No período em Quais as proposições desenvolvidas por Florestan
que Florestan Fernandes foi contemporâneo da US, que motivaram o ANDES-SN a considerá-lo um in-
de fevereiro de 1991 até a sua morte, em 1995, fo- terlocutor privilegiado em sua formulação teórica a
ram publicados nove números da revista. Fernandes propósito da educação e da universidade? O presente
participou intensamente desse periódico. Já no pri- estudo pretende contribuir com essa indagação, sinte-
meiro número publicou “Diretrizes e Bases: conci- tizando algumas das nervuras da argumentação do
liação aberta” (US, n.1, p. 33 a 36). Pouco mais de autor sobre a função social da universidade em um país
um ano depois, no número 3, em junho de 1992, foi capitalista dependente. Para tornar inteligíveis suas
publicada a entrevista “Crise da universidade, LDB ideias, colocadas em circulação na US, o artigo busca
e Socialismo Hoje” (p.43-47). Em junho de 1994, no em seus textos anteriores contribuições que permitam
número 7, publicou o artigo “Significado atual de Jo- uma melhor compreensão de algumas das categorias
sé Carlos Mariátegui” (p.4-9) e, postumamente, no chaves por ele utilizadas. Inicialmente, o estudo faz
número 9, outubro de 1995 (p. 50-54), foi difundida apontamentos sobre a concepção de Fernandes a
uma nova entrevista de Fernandes, realizada em maio respeito da educação, a formação da consciência e a
do mesmo ano, e que provavelmente fora editada an- função da universidade no capitalismo dependente e,
tes do seu falecimento, em agosto de 1995. a seguir, discute seu diálogo com a US.
O presente texto pretende examinar as reflexões
de Fernandes sobre a universidade em um período Capitalismo dependente, universidade e
importante da história do ANDES-SN, dez anos consciência crítica
após a sua criação, justo quando a entidade aprofun- Fernandes (1920-1995) foi um dos mais profun-
dava seu caráter sindical e tinha de enfrentar o neoli- dos pensadores do Brasil e da América Latina. Entre-
beralismo duro de Collor de Mello. Cabe lembrar tanto, ainda é pouco conhecido na academia latino-
que na primeira metade da década de 1990, todo o americana e entre os movimentos sociais. Isso se deve
sindicalismo estava em transformação, em especial a fatores diversos, como a pouca circulação de suas
pelas mudanças radicais que se processavam na CUT. obras nas universidades da região, em virtude do si-
Em detrimento da perspectiva classista, a Central lenciamento imposto a ferro e fogo pelas ditaduras
direcionava, cada vez mais, sua ação para espaços civis-militares e, mais recentemente, pela difusão da
institucionais propostos e dirigidos pelos governos, “nova” ciência social antimarxista, auspiciada pela
como “o ‘entendimento nacional’ no governo Collor, Fundação Ford e congêneres e, também, pelo aparato
o ‘acordo da previdência’ de 1996 e as ‘câmaras se- de ciência e tecnologia do Estado, este influenciado
toriais’, 1991-1994” (MATTOS, 2009, p. 30), reposi- por setores antimarxistas presentes na pós-graduação.
cionando sua perspectiva internacional com a filiação No período em que foi deputado federal (1987-1990;
à Confederação Internacional de Organizações Sindi- 1991-1994), destacou-se mais como defensor da es-
cais Livres (CIOLS), em 1994. cola pública e por seu excepcional protagonismo no
Em virtude da posição majoritariamente crítica projeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

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Nacional do que por seus trabalhos teóricos, que a A universidade tem um importante papel nesse
academia institucionalizada seguiu ocultando. processo. Para que a educação possa fermentar a cons-
A sua forma original de abordar o capitalismo, real- ciência crítica e vice-versa, é crucial que estudantes
çando o protagonismo das frações burguesas locais, e professores se empenhem na luta pela reforma da
e suas proposições sobre a impossibilidade de que universidade. Fernandes lembra o movimento refor-
essas frações desempenharem um papel democrático e mista de Córdoba, na Argentina, 1918, sustentando
reformador, o coloca como um intelectual sui generis que, na América Latina, desde a segunda década do
da classe trabalhadora e do socialismo. Quando todos século passado, “foi em torno da reforma universitária
os males do capitalismo são atribuídos a (abstratos) que se condensou a efervescência intelectual que con-
fatores externos, é possível transacionar com as fra- duziu à mais franca e aberta discussão das demais
ções burguesas locais, atribuindo-lhes um sentido reformas sociais, das debilidades orgânicas das ‘bur-
positivo, reformador e até mesmo progressista, ve- guesias nacionais’, da essência da democracia etc.”
ja o debate sobre a ideologia do desenvolvimento (FERNANDES, 1979, XVIII) e, ademais, a partici-
(BIELSCHOWSKY, 1988). Florestan pação da juventude nas lutas pela refor-
Fernandes, distintamente, aponta que A sua forma original ma as prepara para um novo estilo de
a dominação externa necessita da parti- de abordar o vida política. Desprovidos dessas lutas,
cipação de frações burguesas locais. capitalismo, realçando os universitários pouco ou nada se dife-
Embora as frações locais sejam subordi- renciam do senso comum reinante: “é
o protagonismo das
nadas, os nexos que as vinculam com a sua réplica, frequentemente piorada,
as frações hegemônicas do capital são frações burguesas locais, porque se representa como um ser à parte
imprescindíveis para o capitalismo e, e suas proposições e imune à contaminação do atraso geral”
por isso, conceber as frações burguesas sobre a impossibilidade e conformado a “uma sociedade que não
locais como progressistas é uma forma tenta tomar em suas mãos a solução dos
de que essas frações
de aderir ao padrão de exploração e seus dilemas mais aterradores, que se
de expropriação dominantes. Essa in- desempenharem um acomoda a eles, que transaciona com o
terpretação colidia com a leitura de papel democrático e passado em vez de construir o futuro”
grande parte da esquerda e, em função reformador, o coloca (FERNANDES, 1979, XX).
dos vínculos diretos ou indiretos das Nos países europeus industrializados,
como um intelectual
universidades, grupos de pesquisa e mes- as universidades operaram técnica e po-
mo de professores individuais, com as sui generis da classe liticamente em prol da reconstrução na-
frações burguesas locais, a análise flores- trabalhadora e do cional, caso particularmente evidente
taniana é considerada inaceitável pelo es- socialismo. no pós-II Guerra. Nesse contexto, as
tablishment acadêmico. soluções técnicas se coadunam com a
Entretanto, concebidas na ótica do socialismo, as história real, desencadeando “uma espiral de altera-
suas proposições sobre a educação e a formação da ções entrelaçadas incontroláveis, lançando o poder
consciência crítica podem contribuir imensamente conservador no abismo”. No caso brasileiro, no con-
para pensar a questão da produção do conhecimento texto da ditadura civil-militar, a reforma universitária,
pelos subalternos e para a problemática, não menos salienta Fernandes, “tem de enfrentar e vencer uma tra-
importante, dos intelectuais orgânicos da classe traba- dição cultural pré e anti-nacional para que possamos
lhadora, temas que estão no centro das preocupações entrar em uma era de mudança institucional regulada
estratégicas dos principais movimentos anticapitalistas. por dinamismos políticos propriamente nacionais”.
Em sua produção, a partir dos anos 1970, a educação A reforma universitária poderá “ensinar os caminhos
e a formação política são dimensões da luta social for- intelectuais e políticos que permitirão conquistar a pró-
temente imbricadas com a concepção de organização pria liberdade intelectual e política, condição moral
política e com o próprio projeto civilizatório defendido para extinguir todas as formas de servidão, internas e
pelos movimentos anticapitalistas. externas que metamorfoseiam uma terra radiosa e um

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povo alegre numa realidade triste” (Idem, p. XXII). vimento), compreendendo o alcance do desenvolvi-
Para tanto, segue Fernandes, “poderemos reconstruir mento desigual do capitalismo. No contexto imperia-
a universidade, convertendo-a numa realidade histó- lista da segunda metade do século XX, as formas bru-
rica nova, como patamar da conquista da ciência e tais e arcaicas de expropriação e de exploração não
da tecnologia cientifica, e como inicio de uma nova são resquícios de um passado que a modernização
fase da era nacional e da consolidação da democracia capitalista apagará. A consideração do capitalismo
como concepção do mundo e estilo de vida”. (Idem, dependente permite constatar que o controle não é
p. XXIII) mais de natureza colonial, externo, tal como pensava
Como pensar os obstáculos à reforma universitária uma grande parte da esquerda nacionalista, ou mesmo
esboçados por Fernandes? A partir de Sociedade de do PCB, levando-os a defender uma estratégia que
classes e subdesenvolvimento (1968), Capitalismo de- privilegia o “inimigo externo”, justificando alianças
pendente: classes sociais na América Latina (1973) e com as frações locais da burguesia “mais avançadas”,
Revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação a saber, industriais. A dominação é, dialeticamente,
sociológica (1974), o problema da heteronomia cultural externa e interna.
adquire novos contornos e novos determinantes para Fernandes compreende que no início dos anos
Florestan Fernandes. Como sugere Miriam Limoei- 1960 os nexos do setor bancário com o industrial já são
ro Cardoso (1996), nessas obras ele desenvolve uma estruturais e, sobretudo, que o capitalismo realmente
nova problemática científica, motivada pelos dilemas existente conjuga complexas interações entre as fra-
políticos e estratégicos colocados para os socialistas ções burguesas locais, subordinadas e associadas, e as
que estavam sendo esmagados pela ditadura civil-mi- frações burguesas hegemônicas, por meio do capital
litar. Indagando sobre as determinações da heterono- multinacional. Desse modo, conceber o ramo industrial
mia que caracteriza o pensamento social, científico e, como um aliado estratégico dos trabalhadores expres-
mais amplamente, cultural no Brasil – heteronomia ob- sa uma estratégia de fortalecimento do capital, e nun-
servada também por Linera (2008) – que argumentou ca o contrário. Não existe, por conseguinte, “duas bur-
que o marxismo primitivo provocou um bloqueio guesias, mas uma hegemonia burguesa duplamente
cognitivo e uma impossibilidade epistemológica para composta” (FERNANDES, 1973).
a compreensão do movimento do real –, Fernandes Essa interpretação florestaniana possui enorme
conclui que essa heteronomia deve-se à condição ca- significado teórico e político: o arcaico (econômico,
pitalista dependente do País. social, cultural) não resulta apenas da ação externa
Para chegar ao conceito de capitalismo dependente, da burguesia hegemônica, visto que foram as frações
Fernandes se vale do método de Marx (1857) segundo burguesas locais – justo por serem dependentes e asso-
o qual não é o passado que explica o presente, mas, ciadas – que se revelaram incapazes de realizar uma
antes, o contrário. Para entender o presente, segue o verdadeira revolução burguesa e, por isso, as reformas
autor, é preciso compreender as forças produtivas e as fundamentais (reformas agrária, urbana, educacional
relações de produção vigentes, em especial estudando e sanitária, bem como a universalização do trabalho
os conflitos de classe internos e externos advindos regulado pela legislação trabalhista) precisam ser rea-
do padrão de acumulação em curso. E esse padrão de lizadas pelos trabalhadores na forma de “revolução
acumulação, embora possua particularidades, é mun- dentro da ordem” (FERNANDES, 1981). O sentido
dializado. Assim, a autonomia do chamado desenvol- da luta pela educação pública no início dos anos 1990
vimento brasileiro é uma proposição ideológica in- é, por conseguinte, completamente distinto daquele
compatível com a expansão capitalista e, mais precisa- praticado nas campanhas liberais em prol da educação
mente, com o imperialismo. pública no final dos anos 1950, que contou com a par-
A originalidade de Fernandes reside, entre ou- ticipação do próprio Fernandes.
tros aspectos, no fato de que ele recusa a análise Como salientado, no período que abrange o final
dogmática e evolucionista do marxismo então em da década de 1950 até a década de 1970, a ideologia do
voga (industrialização = modernização ou desenvol- desenvolvimento era dominante (BIELSCHOWSKY,

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1988) e, conforme a noção em voga, o atraso educa- se supõe comumente, o fato crucial não está, aqui, na
cional poderia ser superado como parte do processo procedência externa de categorias de pensamento e
de desenvolvimento. A modernização carrearia as dos modos de agir, mas na maneira de interligá-los,
instituições de ensino e pesquisa rumo ao progresso. que toma como ponto de referência permanente os
O governo empresarial-militar abraçou esse esquema núcleos civilizatórios estrangeiros, em que eles foram
evolucionista de Rostow (1964) e as ideias do capital produzidos. Daí resulta um estado de dependência
humano ganharam força na alta burocracia do Esta- fundamental. Com isso, o processo de desenvolvimento
do. Fernandes (1975), ao contrário, sustenta que interno se entrosa com valorizações e disposições sub-
essa ideologia degrada as instituições educacionais e jetivas que concorrem, diretamente, para perpetuar
provoca erosões no pensamento crítico, em especial e fortalecer a condição heteronômica da sociedade
na universidade que, além da repressão sistemática, é brasileira (FERNANDES apud CARDOSO, 1996,
crescentemente induzida a um ethos tecnocrático que p.106, grifo no original).
posteriormente se encarrega de bloquear a crítica, em A questão da heteronomia passa a estar inserida na
nome de uma suposta racionalidade tecnocientífica. problemática ideológica, na determinação material,
Isso não quer dizer que a luta pela educação pú- nas formas de funcionamento das categorias de pen-
blica seja inócua. Desde seus ensaios sobre a socio- samento e, mais amplamente, nos processos sociais. O
logia “engajada” no processo de transformação social, eurocentrismo – a internalização de valores e dispo-
como em “O dilema educacional brasileiro” (1976; sições subjetivas de núcleos civilizatórios que nos
originalmente publicado em 1960), Fernandes (1975) dominam – está no âmago do que Therborn (1991)
teoriza sobre a importância da educação básica e, denominou de disposições de pensamento. Na ótica
em especial, da universidade pública para superar a eurocêntrica, a história “tende” para o Ocidente:
heteronomia cultural que realimenta o capitalismo capitalista, liberal, branca, moderna, civilizada e de-
dependente, mas o faz a partir do foco central das con- senvolvida. Cabe aos subdesenvolvidos praticar o que
tradições do referido capitalismo dependente. É quase os dominantes afirmam ser a prática dos países mais
um truísmo que a condição de dependência vis-à-vis adiantados e civilizados, em todas as esferas, até mes-
aos centros hegemônicos agrava os obstáculos e os en- mo étnica. No novo esquema explicativo:
traves à consolidação de uma economia socialmente [...] é recolocada sob a forma de alienação intelectual e
regulada, à distribuição da riqueza e à edificação de moral. Uma coisa é apreender categorias de pensamento
um sistema educacional autônomo, público, de qua- produzidas no exterior e utilizá-las para pensar nossa
lidade unitária e universal. A originalidade de Fernan- realidade, ainda que esta seja uma realidade diferente
des consiste nos novos elementos analíticos sugeri- daquela onde tais categorias se originaram, embora per-
dos por ele, como a caracterização substantiva da tençam ao mesmo conjunto civilizatório. Nesse caso,
dependência e a consideração das deformações pro- a relação com essas categorias pode ser instrumental e
vocadas pelo capitalismo no território e na vida dos esse caráter instrumental pode ser racional. Outra coisa
povos originários, dos camponeses, dos migrantes, é internalizar valores e disposições subjetivas de núcleos
dos moradores das periferias, enfim, na constituição civilizatórios que nos dominam. Esta é uma forma de
das classes. domínio (cultural), que é fortalecedora do outro lado
Em face da natureza profunda da dependência, Flo- desse mesmo domínio (econômico). É para essa alie-
restan Fernandes avança na reflexão da heteronomia nação, que é cultural e também moral, que Florestan
ao propugnar que o problema não é só o consumo de chama a atenção. Já não se trata apenas de encontrar
ideias exógenas, mas antes a internalização de esque- razões da dependência cultural numa incapacidade de
mas ou disposições de pensamento: produção cultural autônoma, que derivaria de formas
A tendência a procurar na Europa ou nos EUA a patrimonialistas de dominação (CARDOSO, 1996,
satisfação de conjunto de centros de interesses e de p.106).
valores alimenta um processo de alienação intelectual Na nova formulação florestaniana, a heterono-
e moral de imensas proporções. Ao contrário do que mia cultural deixa de ser a causa do impedimento

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do desenvolvimento autônomo, mas é, antes, conse- circunscrito ao seu destacado papel na campanha em
quência da condição capitalista dependente. A hete- defesa da escola pública, de 1959-61, ou ao seu papel
ronomia é econômica, política, social, ideológica e como deputado constituinte, militante de uma LDB
moral. “A integração econômica satelizada se desdo- mais avançada para o País, mas, neste caso, desvinculado
bra culturalmente, na construção das mentalidades e de sua elaboração política e macrossociológica. A luta
das aspirações, de tal modo a criar comportamentos, pela educação pública, como se depreende dos escritos
expectativas e laços que reforçam a condição hetero- políticos de Florestan, está inscrita no enfrentamento
nômica” (idem, p.109). do capitalismo dependente, contra a superexpropria-
O problema que Fernandes se coloca, então, é o ção e a superexploração que lhes são inerentes e, tam-
rompimento com essa condição de dependência, em bém, contra a dominação ideológica.
favor do desenvolvimento autônomo, tematizando a A hegemonia cultural da burguesia tende a se universa-
questão das classes, das lutas de classes e da revolução lizar. Isso torna mais difícil esclarecer muitas questões.
social. Impõe-se, nesse escopo, o problema da ideo- O horizonte intelectual burguês penetra – através da
logia, notadamente relacionado ao descompasso educação, da aculturação e do inculcamento, das in-
entre a representação da realidade econômica e so- fluências da televisão, da imprensa, do rádio ou das
cial do País e sua condição capitalista dependente. instituições-chave da ordem – todas as sociedades capi-
Ao examinar o desenvolvimento, Fernandes propõe talistas do centro e da periferia. O universo mental bur-
que, mais do que os indicadores de crescimento, é guês se consolida, enquanto outros universos men-tais
preciso verificar se eles correspondem, estrutural e – como o dos operários e seus aliados orgânicos – se
dinamicamente, ao padrão de integração econômica enfraquecem (FERNANDES, 1991a).
da civilização vigente. Em meados da década de 1960 Por isso, a estratégia “revolução dentro da ordem”
está claro que não há integração, em escala nacional, / “revolução fora da ordem” não pode deixar de con-
da produção (cadeias produtivas), da circulação e do ter um programa de educação para e no socialismo, a
consumo: a economia brasileira é diferenciada, mas ser forjado nas lutas concretas, na prática militante, na
periférica e dependente. autoformação permanente dos trabalhadores.
Depois de mais de duas décadas, já no contexto A consciência social independente e a emancipação dos
neoliberal, Fernandes retoma a problemática da he- trabalhadores são adquiridas pelos próprios trabalha-
teronomia cultural e reitera a persistência da subordi- dores nas condições concretas de trabalho e nas lutas
nação desta ao capitalismo dependente. Nesse con- de classes. [...] (É indispensável que) o socialismo conte
texto, o aparato do Estado, apesar de: como requisito para favorecer o livre desenvolvimento
[...] situado no pólo mais dinâmico do quadro mundial da personalidade e da imaginação inventiva, em todas
da cultura e das profundas revisões, redefinições e re- as direções, e garanta aproveitamento real dos talentos,
configurações da ‘civilização ocidental’ em efervescên- sem qualquer espécie de restrição ou constrangimento.
cia […] ele não quebra os grilhões da dependência cul- (FERNANDES, 1991a; destaques RL).
tural – como não poderia, sem rebentar as cadeias da A formação política dos trabalhadores, gramscia-
dependência econômica e política (FERNANDES, namente, requer a real universalização da educação
1990, p. 2). pública para generalizar a “consciência critica” do
Com essa formulação, Florestan faz uma profunda povo, no bojo da revolução dentro da ordem e de
revolução teórica no campo da educação. O problema seus nexos estratégicos com a revolução fora da or-
da educação está imbricado com a problemática do dem (Fernandes, 1981). Não se trata apenas de uma
capitalismo dependente. Essa revolução é tão radical educação capaz de criticar as ideologias dominantes.
que poucos educadores a compreendem em toda a É muito mais do que isso. É uma educação para fo-
sua extensão ou, talvez, mais adequadamente, poucos mentar a “imaginação inventiva”, para “educar para
educadores se dispõem a colocá-la no debate estra- o socialismo radical”, formar a mulher e o homem
tégico da educação. Muitas vezes o pensamento edu- novos, nos termos de Che Guevara, revolucionário
cacional de Florestan é lembrado e celebrado, mas admirado por Florestan (Fernandes, 2007). Por isso,

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no mencionado manifesto para o programa do PT, de uma muralha de “superstições democráticas”. E os


Fernandes concebia que o projeto do PT deveria ob- ensina a organizar disciplinadamente o inconformismo
jetivar: e o repúdio a manifestações circunscritas de iniqüi-
A constituição dos proletários em classe, derrubada dades econômicas, sociais, raciais, regionais, ecológicas,
da supremacia burguesa, conquista do poder político culturais e políticas. Eles se armam, assim, para o en-
pelo proletariado. E que se propunha a educar para volvimento direto na luta de classes com seus meios
o socialismo radical os operários, os trabalhadores da ideológicos e políticos de contraviolência, desmoro-
terra, os trabalhadores intelectuais pertencentes aos es- nando a ordem existente onde ela é mais vulnerável e
tratos assalariados da pequena burguesia e das classes indefensável, bem como construindo, a partir de outros
médias, unindo-os solidária e revolucionariamente alicerces, a fabricação de ordens sociais eqüitativas1
na construção da “sociedade nova” (FERNANDES, (FERNANDES, 1991a; destaques RL).
1991a, destaques RL). Essa educação política não se confunde com a
Na ausência de uma educação para o socialismo, “A pedagogia jesuítica praticada por setores da esquerda,
educação para o socialismo continua a ser uma esfera e criticada por Gramsci em seus estudos sobre as ex-
pobre e secundária” (FERNANDES, 1991a), e na vi- periências das universidades populares, na forma de
gência de estratégias que cada vez mais privilegiam o manuais e pacotes fechados de conhecimentos dog-
terreno institucional, Florestan destaca algumas das máticos:
tensões no PT que, de certo modo, estão na gênese de Não basta um ABC do socialismo (ou do comunismo)
suas inflexões mais recentes: para arrancar da natureza humana do militante ou do
No PT prevalece uma predisposição muito forte por simpatizante o aburguesamento em que ele está engol-
realizações e ganhos relativos na competição pelo mi- fado e no qual apodrece. É necessário avançar muito
cropoder, o poder pequeno que nasce na estrutura mais e engendrar nele uma segunda natureza humana,
hierárquica do partido e das probabilidades de mando socialista, aferida para que ele se liberte do passado e do
que ela confere. Há também uma ambição clara de presente e aspire a erigir, para si e para os outros, uma
chegar ao poder institucionalizado, intrínseco à ordem sociedade socialista aberta para o advento do comunis-
social vigente, o que envolve a instrumentalização do mo. (FERNANDES,1991a, destaques RL)
partido para a satisfação de objetivos pessoais e de A expressão de que a educação política deve cons-
grupos congeniais. A retórica socialista apura sua su- tituir uma “segunda natureza” traduz uma inspiração
premacia sobre a preocupação de dar primazia à edu- gramsciana. Saviani (1996) cita um excerto da obra
cação para e pelo socialismo. A denúncia nua e crua de Florestan para sublinhar como essa elaboração é
de realidades pungentes, de que é tão rica a sociedade profunda em sua obra:
brasileira, ajuda o uso dessa retórica e a sua propagação. O ensino de sociologia e a pesquisa sociológica dobraram o
O PT concorre, assim, com o populismo dos partidos meu rude individualismo, forçando-me a travar as últimas
tradicionais e corre o risco de se perder, como eles, numa batalhas que assinalam o aparecimento de uma segunda
variante do politicismo à esquerda (FERNANDES, natureza humana dentro de mim, a qual se confunde
1991a destaques RL). com o ‘professor’ e o ‘sociólogo’ em que me converti,
A autoformação da classe não se esgota na escola ou inteiramente voltado para fora, para os ‘problemas dos
no ato pedagógico estrito senso. Não basta, portanto, outros’, os ‘dilemas de nossa época’ e o ‘controle racional
um conteúdo educacional capaz de contribuir para a da mudança social’ (Ibid.:171). Nesse ponto atinge-se o
conscientização, visto que a formação política própria núcleo constitutivo da natureza da educação.
da classe é indissociável da práxis política: A proposição de que a educação “voltada para a
Por isso, combater na arena das reivindicações concretas vida social” deve se constituir como uma “segunda
adquire um significado pedagógico-estratégico decisivo. natureza” expressa muito da concepção pedagógica
É essa arena que prepara os de baixo para a aprender o de Florestan. Seguindo a linha de argumentação de
que é a auto-emancipação coletiva e cidadania, numa Saviani (1996):
sociedade de classes que esconde praxes coloniais atrás

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Ao considerar que o ensino da sociologia e a pesquisa enquanto...) e a minoria privilegiada que se contenta
sociológica provocaram “o aparecimento de uma se- em ser uma burguesia dependente e associada no pla-
gunda natureza humana dentro de mim”, Florestan no internacional? 4) Estamos condenados à pilha-
está apontando para a essência da educação, isto é, um gem interna e externa e a reproduzir um padrão de
processo que visa à transformação interna dos sujeitos civilização que confunde progresso com barbárie?
pela incorporação de elementos que não são dados na- (FERNANDES, 1991a).
turalmente e nem adquiridos espontaneamente, mas
que, uma vez incorporados pela mediação da ação edu- O diálogo com Universidade e Sociedade: 1991-1995
cativa, passam a operar como se fossem naturais. No ano da fundação da revista US, 1991, tornou-
Entretanto, essa segunda natureza que nos tor- se evidente que a tramitação da LDB já não poderia
na seres sociais, que almejam uma sociedade de ser elaborada sob a mesma correlação de forças do que
trabalhadores livremente associados, não pode ser a vigente no período constituinte. A combinação do
assegurada pela educação liberal-burguesa, mas co- desmoronamento do socialismo dito real, da vitória
mo uma educação que possa servir “como meio de de Collor de Mello, das mudanças na CUT – rumo
autoemancipação coletiva dos oprimidos e da con- ao chamado sindicalismo cidadão, e do incipiente,
quista do poder pelos trabalhadores” (Fernandes, mas orientado (pela agenda neoliberal) movimento
1989). Nesse prisma, a educação é parte da estratégia de recomposição de um novo bloco de poder, afetou
política dos trabalhadores, envolvendo a construção, fortemente as lutas sociais, o que se refletiu na luta
no presente, de valores socialistas: pela LDB. Fernandes (1991b) analisa a nova conjun-
Em sua versão operária radical, o socialismo significa tura advinda da eleição de Collor, explicitando suas
superação e supressão [...] do uso mercantil ou consequências para a produção do conhecimento e
destrutivo da ciência e da tecnologia científica, da para o aprofundamento da heteronomia cultural:
deformação da educação para servir à hegemonia Trata-se de um novo ciclo da associação dependente
ideológica das classes dominantes (e) do preconceito, do Brasil com as nações centrais e especialmente com
discriminação e segregação, com motivos econômicos os Estados Unidos (em vias de centrar o seu “império”
ou não, de classe, de raça, de etnia, de nacionalidade, de nas Américas), no qual as classes dominantes e suas
sexo, de idade, de religião ou de convicções filosóficas elites sofrem uma redução de autonomia (apesar
(FERNANDES, 1991a). das exterioridades em contrário). O capitalismo oli-
Nessas mediações educativas, o marxismo é crucial. gopolista (ou monopolista) impõe à periferia cer-
No início dos anos 1990, frente ao revisionismo, ao tos elementos neocoloniais, que pressupõem uma
paulatino abandono do marxismo e à pasteurização redefinição da dependência (em comparação com
da agenda socialista, eclipsada pela institucionalização o capitalismo competitivo e o modelo anterior de
das lutas sociais, da busca a qualquer custo da elei- capita-lismo monopolista). A ampliação do grau de
ção para o parlamento e para os diversos níveis gover- modernização controlada de fora exige uma larga
namentais, Florestan recoloca os fundamentos do privatização das empresas públicas ou semi-públicas,
problema frente a desconcertante atualidade: que desempenharam papéis fundamentais na elaboração
1) Qual é a consciência teórica e a firmeza da identidade da infra-estrutura de um sistema ultrapassado de pro-
operária da prática reformista ou revolucionária dução, de finanças e de trabalho, a internalização de
dissociada do marxismo? 2) O imperialismo – enten- decisões “globais” tomadas inevitavelmente fora do país
dido na sua versão mais avançada, sob o capitalismo em larga escala, e a presença de uma massa de trabalho
oligopolista – oferece perspectivas de conduzir a altamente qualificada e de “fundos de cérebros” durante
descolonização até o fim, de inspirar uma revolução períodos prolongados. Nesse sentido, a “incorporação”
nacional que assegure a soberania do Brasil como reduz a soberania nacional em diversas direções e requer
Povo, Estado e Nação? 3) O que ganha a periferia uma “modernização” avassaladora, mais características
eliminando a alternativa socialista, além de satisfazer de uma situação neocolonial que de uma situação de
as nações capitalistas centrais, sua superpotência (por dependência (FERNANDES, 1991b, p.33).

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Diante desse quadro, Florestan Fer- O problema da professores, estudantes e demais fun-
nandes preconiza a revisão do método cionários, agem muitas vezes no interior
universidade e,
de luta do Fórum Nacional em Defesa das instituições universitárias como
da Escola Pública. O uso de telegramas, mais amplamente, se fossem um grupo que existe em si e
visitas a gabinetes e abaixo-assinados, da educação, exige para si. [...] é preciso mobilizar [...] os
diz, “patenteia os meios de ação política a consciência da sindicatos e os trabalhadores”. Mais
dos fracos”, recomendando a retomada adiante, retoma o problema: “é preciso
necessidade estratégica
de mobilizações de diversos tipos e na- romper este isolamento relativo para
turezas, desde massivas, até a presença de enfrentar os que se obtenha uma plena vitalidade
nas galerias, nos debates das comissões. fundamentos do para exercer uma influencia inovadora
Recomenda, ainda, que o referido Fó- capitalismo dependente, e construtiva em toda a comunidade e
rum tenha duas Comissões: uma de Ela- sociedade nacional” objetivando uma
mesmo que no contexto
boração Pedagógica (para disputar o “revolução educacional”. Nesse escopo,
projeto de educação) e outra de Agitação da revolução dentro está inscrita na revolução dentro da or-
e Propaganda, para tornar a luta mais da ordem. dem, pois não existe, na avaliação de
ampla do que a usualmente praticada Florestan, “um movimento político, uma
pelos educadores. Objetivamente, Fernandes está rebelião que sustentasse o facho revolucionário, e sim
propugnando o uso de formas de lutas próprias da uma transformação estrutural e funcional da educação
classe trabalhadora. brasileira”. Florestan Fernandes argumenta, pois,
Já no contexto de lutas pelo impeachment de Col- que o problema da universidade e, mais amplamen-
lor, em junho de 1992, Florestan é entrevistado pela te, da educação, exige a consciência da necessidade
UeS e, indagado sobre as causas recentes da crise estratégica de enfrentar os fundamentos do capitalis-
da universidade, afirma: “o foco principal delas é a mo dependente, mesmo que no contexto da revolu-
intervenção desastrada da ditadura militar na vida ção dentro da ordem. Essa orientação requer o alarga-
universitária brasileira” (FERNANDES, 1992). mento dos sujeitos dispostos a fazer luta em prol da
Entre as medidas nefastas da reforma universitária causa da educação pública.
consentida, destaca a sua burocratização, a redução O que impede o trabalho político em favor dessa
dos investimentos e a “inundação” da universidade estratégia? Evidentemente, as condições objetivas são
por meio da enorme ampliação de estudantes sem se- profundamente adversas para tal ampliação do arco
rem criadas condições mínimas. E o setor privado se de forças em prol da educação, mas a luta pela trans-
expandiu: “surgiram os empresários na área da educa- formação dessas condições objetivas exige trabalho
ção e a expansão do ensino superior se fez através deliberado que envolve embates no plano teórico, no-
da grande empresa [...] descompromissada com a tadamente na forma de apropriação do marxismo que,
pesquisa pura (e de ponta), ou com pesquisa aplicada, parafraseando Mariátegui, não pode ser nem decalque,
indispensáveis para acelerar o desenvolvimento eco- nem cópia.
nômico”. Essa crise afeta os docentes e estudantes Por isso é muito significativo que a problemática
que, em virtude do arrocho salarial e das precárias da teoria crítica tenha sido trabalhada de forma sis-
condições de trabalho se vêem frustrados por não temática na terceira intervenção de Florestan na
verem “sua capacidade inventiva e criativa valorizada revista. Em “Significado atual de José Carlos Ma-
e aproveitada pela sociedade.” Florestan identifica, riátegui” (FERNANDES, 1994), dialoga com a obra
ainda, um ponto nevrálgico dramaticamente atual: “a de Mariátegui para sustentar a atualidade de seu
mobilização em defesa da universidade tem saído de pensamento para enfrentar os maiores desafios co-
sua própria comunidade interna”. locados aos socialistas no contexto neoliberal dos
Nessa entrevista Florestan retoma a questão da anos 1990: o “desaparecimento do socialismo”, o “fim
forma de luta em defesa da universidade, já discu- das ideologias” ou a “morte do comunismo”. O que
tida em seu primeiro texto sobre a LDB: “[...] os faz de Mariátegui “um farol que ilumina o horizonte

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intelectual e político dos que querem conferir aos la- Só o socialismo pode resolver o problema de uma edu-
tino-americanos a opção pelo marxismo”? cação efetivamente democrática e igualitária. [...] O
Nesse ensaio Fernandes retoma um tema impor- regime educacional socialista é o único que pode aplicar
tante em sua apreciação sobre a produção do conhe- plena e sistematicamente os princípios da escola única,
cimento crítico, colocando em relevo que a obra de da escola do trabalho, das comunidades escolares e, em
Mariátegui não foi submetida ao isolamento porque geral, de todos os ideais da pedagogia revolucionária
o intelectual peruano foi “mais do que um ‘fermento contemporânea, incompatível com os privilégios da es-
radical’ da ordem – um autêntico revolucionário que cola capitalista, que condena as classes pobres à infe-
exerceu influências pioneiras com raízes profundas rioridade cultural e faz da instrução superior o mono-
na realidade americana”. Cabe destacar que Florestan pólio da riqueza (1991, p. 155).
reconhece, na crítica de Mariátegui ao eurocentrismo, Em maio de 1995, Florestan concede uma longa
coerência com o marxismo e com a defesa deste em entrevista à US. Apesar de estar debilitado fisicamente,
7 ensaios de interpretação da realidade peruana. “O discute com profundidade temas cruciais para o porvir
marxismo não compendia receitas, seja da ‘sociedade da universidade, como a relação público-privado, em
ideal’, seja dos meios para chegar à transição pro- uma perspectiva histórica, ressaltando que o espaço
priamente dita e ao comunismo”. Florestan, em aberto pela sociedade civil no passado era muito
consonância com Mariátegui, reitera que “as ilusões restrito, dizendo respeito apenas aos “de cima”, em
eurocêntricas difundiram uma ótica virtude da particularidade das transições
Apesar de estar
revolucionária que não procede nem de Colônia-Império, Império-República,
Marx, nem de Engels”. O “marxismo” debilitado fisicamente, nas quais a repressão aos movimentos
eurocêntrico, segue Fernandes, esqueceu discute com “de baixo” sempre foi sistemática e bru-
“a afirmação essencial de Marx sobre profundidade temas tal. Assim, segue Florestan, “o ensino
os diversos graus do desenvolvimento da Primeira República [...] era parte do
cruciais para o porvir da
capitalista e seus impactos ‘naturais’ so- controle do poder público pelo setor
bre o curso das revoluções capitalista e
universidade, como a privado”. As alterações nesse quadro
socialista”. relação público-privado, foram mais visíveis, conforme o autor,
Em 7 ensaios de interpretação da em uma perspectiva a partir da industrialização, do apare-
realidade peruana, assevera Fernandes, cimento do trabalho como categoria his-
histórica, ressaltando
Mariátegui “se propôs a enriquecer o tórica e da expansão urbana.
marxismo fora e acima dos eixos euro-
que o espaço aberto É graças ao trabalhador, algo relacionado
cêntricos”, buscando “observar, repre- pela sociedade civil com o movimento operário, que se dá
sentar e explicar processos históricos no passado era muito o aparecimento do trabalho como ca-
de longa duração e de uma proposta re- restrito, dizendo tegoria histórica, e é em torno desse
volucionária concomitante, que vincula eixo que vai dar-se a liberação de dina-
respeito apenas aos
dialeticamente passado, presente e futu- mismos típicos de uma sociedade de
ro”. Entrecruzadas nessas temporali- “de cima”, em virtude classes, porque é ai que surge uma so-
dades, “colonização e descolonização, da particularidade ciedade civil desvinculada do passado
revolução social e ser peruano e latino- das transições escravista (FERNANDES, 1995, p.52).
americano, entrelaçavam-se irreversivel- Entretanto, segue Florestan, nos pós-
Colônia-Império, II Guerra, “o grau de consciência [...]
mente”.
Florestan apresenta, como anexos, Império-República, nas atinge a maturidade, mas a rebeldia, a
seis excertos da obra de Mariátegui, quais a repressão aos radicalidade popular, não se corporifica
entre os quais um dedicado ao sentido movimentos “de baixo” de maneira a corresponder ao grau
da educação socialista, localizada em J. de consciência”, a despeito dos novos
sempre foi sistemática
C. Mariátegui, apud A. Quijano, Textos partidos criados “não há uma força so-
Básicos: e brutal. cial organizada suficientemente forte

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para impor mudanças propriamente radicais”. E primeiras aberturas para alargar o momento econô-
quando, já no contexto pós-ditadura civil-militar, mico-corporativo foram a construção da Coordena-
os trabalhadores passam a ter maior autonomia de ção das Entidades Nacionais dos Servidores Públi-
percepção e explicação da realidade, seguiram sem cos Federais (CNESF, 1990) e a luta pela criação e
lograr “organizações convergentes”. Mesmo com o consolidação do Departamento Nacional dos Tra-
Partido dos Trabalhadores, segue Fernandes, os se- balhadores da Educação (DNTE, 1987), no âmbito da
tores dominantes vêm sendo capazes de provocar CUT (FASUBRA, ANDES, SINASEFE e CNTE),
mudanças para que tudo permaneça igual, mantendo espaço que potencialmente poderia tirar a luta pela edu-
“neutralizados os excluídos como força cívica e cação pública do isolamento intracampo. Mas aqui os
classe social”. A alternativa, conforme Fernandes, obstáculos ultrapassaram o raio de ação autônoma do
requer que os subalternos possam “remover esses ANDES-SN, pois as forças majoritárias na CNESF e
obstáculos”, mas, para isso, é preciso movimento na CUT insistiram na estratégia das lutas específicas
autônomo, independente e com estratégia própria. e, no caso do DNTE, em disputar a estrutura sindical
O drama, de acordo com Florestan, é que “a falta de oficial, verticalizada, alternativa que pressupunha o
polarizações utópicas dos setores subalternos faz com esvaziamento do próprio Departamento, o que aca-
que esses setores acabem se rendendo à consciência das bou se concretizando posteriormente.
classes dominantes, ao invés de ter uma Desse modo, as lutas pela educação
consciência social independente atuante”. Não basta empreender não lograram radicalizar a luta pelo pú-
lutas protagonizadas blico, pois, além de não conseguirem
Florestan Fernandes e o ANDES-SN: apenas pelos educadores concretizar a bandeira da universaliza-
horizonte compartilhado ção da educação, pouco avançaram
e estudantes e,
As quatro intervenções de Fernandes nos requisitos do público, apontados
na UeS estão imbricadas com a história ademais, o método de por Marx na Crítica ao Programa de
do ANDES-SN. Um dos eixos que luta de muitos setores Gotha: o público não significa atribuir
percorre todos os textos é o da natureza acadêmicos e sindicais ao Estado o papel de educador, é a edu-
da luta pela educação pública, então cação pública que interessa à classe
é inapropriado, pois
concentrada nos embates pela nova trabalhadora enquanto classe para si. De
LDB. Como exposto, para Florestan não incapaz de promover o acordo com Florestan Fernandes a partir
basta empreender lutas protagonizadas enfrentamento objetivo de Mariátegui, a educação unitária, a
apenas pelos educadores e estudantes aos interesses dos escola do trabalho, tese defendida pelo
e, ademais, o método de luta de muitos ANDES-SN, não logrou forte apoio
setores dominantes no
setores acadêmicos e sindicais é inapro- sindical, em parte pela escassa elaboração
priado, pois incapaz de promover o en-
terreno educacional. do Sindicato sobre a universidade e o
frentamento objetivo aos interesses dos setores domi- capitalismo dependente, mas em particular pelo giro
nantes no terreno educacional. ideológico da CUT, já associando formação profis-
Essa foi uma tensão que o ANDES-SN, ainda sional e empregabilidade, o que levou a Central a
que de forma molecular, tentou enfrentar, adotando mergulhar sem reservas na teoria do capital humano e
métodos da classe trabalhadora, como as greves, ma- na ideologia de que o desemprego era uma decorrência
nifestações e a disputa de projetos, elaborando suas da falta de qualificação adequada dos trabalhadores.
próprias referências políticas – por meio de análise Outro eixo importante das proposições de Flores-
de conjuntura própria – e educacionais – por meio tan Fernandes, mais claramente exposta em seu ensa-
de seu projeto para a universidade – e, também, io sobre Mariátegui, diz respeito ao eurocentrismo e
pela elaboração do que deveria ser a nova LDB. En- à problemática da heteronomia cultural. Em que pese
tretanto, nas condições vigentes na primeira metade que a problemática epistemológica esteve presente
dos anos 1990, essas lutas ainda gravitaram em torno nos debates internos do ANDES-SN, a discussão não
do protagonismo dos educadores e estudantes. As foi mais que periférica, expressando o grau de refle-

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xão presente na esquerda marxista brasileira. Como cussão com a base, pela vanguarda do Sindicato,
pensar os nexos do desenvolvimento desigual do ca- não foi particularmente fecundo para alcançar esse
pitalismo com a função social da universidade? O objetivo.
padrão de acumulação do capital seguiu produzindo A experiência que mais se aproximou da neces-
expropriações, a questão agrária tornou-se ainda mais sidade de um “novo ponto de partida” para as lutas
aguda, movimentos sociais importantes foram for- educacionais foi a construção do Congresso Nacio-
jados, como o MST, ademais, mobilizações indígenas nal de Educação (CONED), tema que contou com
ganharam força pontual. Contudo, a universidade o apoio entusiasmado de Florestan, mas que ele não
pública, em decorrência de seus frágeis vínculos chegou a vivenciar, em virtude de sua prematura
com as lutas populares, pouco teorizou sobre o sig- morte em 1995. No I CONED (1996) houve grande
nificado concreto do neoliberalismo na vida dos po- participação de professores e estudantes de base e o
vos e, consequentemente, raramente se vinculou às protagonismo mais relevante foi das entidades sin-
lutas populares. Somente a partir dos anos 2000 é que dicais, distintamente das anteriores Conferências
o Sindicato se aproximou mais estreitamente desses Brasileiras de Educação, que foram lideradas pelas
movimentos, mas já em um contexto entidades acadêmicas dos professores.
em que, pouco mais tarde, propiciaria As convergências Quando o IV CONED (2002) começava
ao MST manter uma relação ambígua das preocupações a esboçar sua ampliação para fora do
com o Sindicato Nacional em virtude campo educacional, agregando outros
teórico-práticas de
das contradições operadas pelo governo segmentos da classe trabalhadora, como
de Lula da Silva. Fernandes com o o MST, a preocupação com o manejo
No escopo desses dilemas, é possível ANDES-SN, e vice- da governabilidade do governo Lula
sintetizar a preocupação florestaniana versa, foram fortes nos da Silva se sobrepôs ao projeto da clas-
sobre o sentido da luta pelo público. se trabalhadora, situação que levou ao
pontos fundamentais.
Em suas intervenções no debate da desmonte do Fórum Nacional em De-
US Fernandes sustentou que as lutas
Certamente Florestan fesa da Escola Pública em 2005.
pelas reformas deveriam ser pensadas instigou o Sindicato a As convergências das preocupações
no contexto da “revolução dentro da pensar suas lutas como teórico-práticas de Fernandes com o
ordem” como expressão da estratégia lutas de trabalhadores, ANDES-SN, e vice-versa, foram fortes
de luta em prol da “revolução contra a nos pontos fundamentais. Certamente
ordem”. É indubitável que o ANDES-
como lutas classistas Florestan instigou o Sindicato a pensar
SN se engajou nas lutas da classe e como lutas suas lutas como lutas de trabalhadores,
trabalhadora, participando com algum anticapitalistas. como lutas classistas e como lutas anti-
protagonismo da criação da CUT capitalistas. O ANDES-SN seguiu esse
e atuando no sentido de que a Central deveria caminho ao longo de sua história. Outros desafios
manter-se firme na trilha da autonomia frente ao Es- ainda não puderam ser aprofundados, mas seguem
tado e aos patrões e, posteriormente, construindo como centrais no contexto das três décadas que es-
novas ferramentas de lutas, como a Coordenação tão por se completar: a articulação do projeto de uni-
Nacional de Lutas. É forçoso reconhecer que es- versidade com profundas revisões epistemológicas
ses debates tiveram escassa capilarização na ba- capazes de tornar pensáveis os problemas dos povos
se. Muitas determinações contribuíram para is- e sua autoemancipação coletiva.
so: o avanço do neoliberalismo, a hipertrofia do
capitalismo acadêmico, a lógica produtivista, o Referências
controle do Estado sobre a produção do conheci- BIELSCHOWSKY, Ricardo. Pensamento econômico
mento, por meio da política de editais e da avalia- brasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvimentismo. RJ:
ção da pós-graduação pela CAPES. Contudo, não IPEA/INPES, 1988.
seria despropositado afirmar que o método de dis- CARDOSO, Miriam L. Florestan Fernandes: a criação de

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