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REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ( v.

24, 2024)
ARTIGO ORIGINAL

O MANUAL DA UNESCO LA SOCIEDAD Y LA


E D U C A C I Ó N E N A M É R I C A L A T I N A ( 196 2 ) :
idealização de es cola e de s oc iedade

The Unesco manual La sociedad y la educación en América Latina (1962):


idealization of school and society

El manual de la Unesco La sociedad y la educación en América Latina (1962):


idealización de escuela y de sociedad

LEZIANY SILVEIRA D ANIEL


Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil. E-mail: leziany.daniel@ufpr.br.

Resumo: O manual La sociedad y la educación en América Latina, de 1962, de autoria principal de


Robert Havighurst, da Universidade de Chicago, é objeto e fonte principal de análise deste artigo,
que tem como objetivo analisar e refletir sobre os discursos construídos acerca dos projetos de
educação e de sociedade engendrados para a América Latina, pensados no interior da Unesco
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Para tanto, entende-se esta
fonte como um manual didático construído para ser utilizado em cursos de formação de professores
pela América Latina, atendendo aos propósitos de divulgar e de uniformizar determinado discurso
interpretativo acerca da realidade latino-americana.
Palavras-chave: educação; desenvolvimento; América Latina; Unesco; redes de sociabilidade.

Abstract: The 1962 manual La sociedad y la educación en América Latina, by Robert Havighurst, of the
University of Chicago, is the object and main source of analysis of this article, that aims to analyze and
reflect on the discourses built about education and society projects engendered for Latin America,
thought within Unesco (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization). Therefore,
this source is understood as a didactic manual built to be used in teacher training courses in Latin
America, taking into account the purposes of disseminating and standardizing a certain interpretive
discourse about the Latin American reality.
Keywords: education; development; Latin America; Unesco; networks of sociability.

Resumen: El manual La sociedad y la educación en América Latina, de 1962, de autoría principal de


Robert Havighurst, de la Universidad de Chicago, es objeto y fuente principal de análisis de este
artículo, que tiene como objetivo analizar y reflejar sobre los discursos creados a respecto de los
proyectos de educación y de sociedad, engendrados para la América Latina, pensados en el interior
de la Unesco (Organización de las Naciones Unidas para la Educación, Ciencia y Cultura). Por lo
tanto, se entiende esta fuente como un manual didáctico hecho para ser utilizado en cursos de
formación de profesores por la América Latina, teniendo en cuenta los propósitos de difundir y
estandarizar un determinado discurso interpretativo sobre la realidad latinoamericana.
Palabras clave: educación; desarrollo; América Latina; Unesco; redes de sociabilidad.

https://doi.org/10.4025/rbhe.v24.2024.e298
e-ISSN: 2238-0094
O manual da Unesco La sociedade y la educación en América Latina (1962): idealização de escola e de sociedade

I NTRODUÇÃO

O presente trabalho propõe-se ao exercício de ampliar o olhar para além da


educação brasileira e pensar nos discursos construídos no bojo de projetos engendrados
para educação e sociedade na América Latina, especialmente os que estiveram voltados
à formação de professores. No período analisado havia uma forte presença e influência
dos organismos internacionais na região, como da Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), da Cepal (Comissão Econômica para
América Latina), da Divisão de Ciências Sociais da União Panamericana, todos estes
procurando fomentar e articular estudos entre a educação e as ciências sociais.
Justamente o período pós-Segunda Guerra Mundial foi marcado por discussões
em torno da educação e do desenvolvimento econômico, com destaque, por exemplo,
para a teoria do capital humano, a qual apontava a necessidade de investimentos em
seres humanos e encontrava seus pressupostos em teóricos como Adam Smith, Alfred
Marshall e Irving Fisher.
Encontrava-se, nessa conjuntura, a educação como o caminho para se alcançar
o desenvolvimento da economia e da sociedade dos países, justificando-se a
interferência destes organismos em discursos políticos que deveriam agora estar
ancorados em preceitos científicos estabelecidos por pesquisas relacionadas entre a
educação e as ciências sociais. Pretendia-se, assim, “[...] a formação de uma elite
dirigente, capaz de implementar o projeto desenvolvimentista para toda a América
Latina, comprometida com os interesses gerais da nação e atuando acima dos
interesses dos diferentes grupos” (Oliveira, 2005, p. 116).
A Sociologia, nessa perspectiva, assumia papel central nas pesquisas
educacionais, com um caráter mais interdisciplinar. Os sociólogos latino-americanos,
dentre eles Luiz de Aguiar Costa Pinto1, Gino Germani2 e José Mediana Echevarría 3,
pensavam as Ciências Sociais a partir do teórico Karl Mannheim, concebendo-a como
‘ciência de orientação’, ao acreditar no papel transformador do Estado. Para
Mannheim (1946), os intelectuais eram os responsáveis pela condução da nação, não
constituindo uma classe, estando, sim, acima das classes. Ainda segundo Mannheim
(1946), os intelectuais constituiriam o único grupo social capaz de realizar a síntese

1
Luiz Aguiar da Costa Pinto foi um sociólogo brasileiro que dirigiu o Centro Latino Americano de Pesquisas
Educacionais (CLAPCS), de 1958 a 1961, produzindo o Boletim do Centro Latino Americano de Pesquisas
em Ciências Sociais (depois chamada de revista América Latina), articulando a interlocução com os mais
diversos sociólogos latino-americanos (Daniel, 2019).
2
Gino Germani era italiano, mas viveu grande parte de sua vida na Argentina, onde se formou em Filosofia
pela Universidade de Buenos Aires, na década de 1950. Desenvolveu, ao longo de sua trajetória, a Teoria
de Transição para a Modernidade (Domingues & Maneiro, 2004; Cortés, 2012).
3
O sociólogo mexicano José Medica Echevarría (1903-1977) se destaca como um dos mais importantes
intelectuais responsáveis pela institucionalização das ciências sociais na América Latina, desenvolvendo
uma reflexão sobre os efeitos do projeto desenvolvimentista e as razões de seu fracasso (López, 2016).

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das perspectivas parciais. Assim, “[…] em todas as esferas da vida cultural, a função
das minorías é expresar as forças culturais e psíquicas em uma forma primária e
orientar a extroversão e a intraversão coletivas. Eles são responsáveis pela iniciativa e
tradição cultural” (p. 87, tradução nossa)4.
Em especial, a Unesco, órgão que compunha a Organização das Nações Unidas
(ONU), tornou-se instância fundamental para o fomento de pesquisas que integravam
estudos entre a educação e as ciências sociais, especialmente. Nesse caso, a
institucionalização da Sociologia passou a ganhar maiores contornos com a ampliação dos
espaços de socialização intelectual latino-americana, construindo uma ‘sociologia
científica’, a partir, por exemplo, da criação de associações, reuniões etc. Vale destacar a
criação da Associación Latinoamerica de Sociología (ALAS). Desde os anos 40 do século XX,
a Sociologia na América Latina vinha passando por um processo crescente de
institucionalização, rompendo as fronteiras do ensino nas universidades, no qual
predominava a chamada ‘sociologia de cátedra’ ou ‘sociologia dos advogados’ (Vila, 2016)5.
O debate educacional na América Latina, nesse sentido, foi sendo crivado por
questões em torno de uma determinada organização dos sistemas de ensino, a partir
de questões particulares em torno da relação educação e desenvolvimento,
procurando explorar os fatores favoráveis ou desfavoráveis ao desenvolvimento
econômico, bem como temáticas como a estratificação social e a mobilidade social, a
urbanização, dentre outras. Dentre as teses sobre a educação, estava a de que esta era
um instrumento básico do desenvolvimento, o qual, por sua vez, era condição
essencial para gerar mais e melhor educação, assim como a de que os problemas
educacionais deviam ser pensados como parte integrante de um processo e de uma
política geral de desenvolvimento.
Entende-se, assim, que as ideias e políticas educacionais transcendiam, no
período analisado, o limite dos países envolvidos, pensadas junto aos organismos
internacionais, mostrando, por exemplo, que “[...] houve um esforço para estabelecer
uma racionalidade científica que permitisse formular ‘leis gerais’ capazes de guiar, em
cada país, a acção reformadora” (Teodoro, 2001, p. 127, grifo do autor).
Encontra-se, no interior desta discussão, a justificativa da proposta deste
trabalho, que busca justamente refletir, tendo como fonte principal a obra La sociedad
y la educación en América Latina, publicada em 1962, sobre: como essa obra foi
produzida no interior do projeto da Unesco para pensar a educação e a sociedade,

4
“[...] en todas las esferas de la vida cultural, la función de las minorías selectas es expresar las fuerzas
culturales y psíquicas en una forma primaria y orientar la extraversión y la intraversión colectivas. Son
los responsables de la iniciativa y de la tradición culturales”.
5
O período entre 1950-1973 é considerado o período da ‘sociologia científica’ e da configuração da Sociologia
Crítica. Nesse período destacam-se duas iniciativas da Unesco: a criação do Centro Latino Americano de
Pesquisas em Ciências Sociais (CLAPCS) e a fundação da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais
(FLACSO), em 1957. Nesse momento, vários intelectuais, como o sociólogo Luiz Aguiar da Costa Pinto,
constroem uma crítica a essa ‘sociologia da modernização’ (Tavares-dos-Santos & Baumgarten, 2005).

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O manual da Unesco La sociedade y la educación en América Latina (1962): idealização de escola e de sociedade

expressando determinadas concepções para a formação dos professores latino-


americanos; como foi construída uma rede de sociabilidades para a construção dessa
obra, considerada um manual a ser utilizado pelos professores na região; e
compreender alguns dos principais entendimentos acerca do papel da escola e da
educação na construção de uma determinada sociedade latino-americana.
Para tanto, entende-se essa fonte como um manual didático construído para ser
utilizado em cursos de formação de professores pela América Latina, de acordo com as
seguintes perspectivas: como produto objeto de um projeto de formação de professores
articulado pela Unesco; como artefato construído com determinados propósitos e
concepções; e como resultado de articulações intelectuais tecidas no interior de
objetivos supranacionais, advindas dos organismos internacionais. Dessa forma, o
Manual é analisado como discurso construído e compartilhado por uma ‘comunidade
linguística’, que tem como propósito divulgar e uniformizar determinado discurso
interpretativo acerca da realidade latino-americana (Pocock, 2003).
Diante do exposto, o presente estudo propõe-se a oferecer alguns elementos
para pensar materiais e manuais engendrados por organismos internacionais e que
deveriam ser inseridos na formação de professores pela América Latina, entendendo-
se que “[...] a estrutura do manual escolar é uma ordem da leitura. O manual é portador
de uma memória de uma formação e de uma projeção. Há no complexo teórico e na
configuração do manual uma modelação do aluno e uma idealização da sociedade”
(Magalhães, 2008, p. 7).

O MANUAL E SEUS PROPÓSITOS

Foi dentro do Proyecto principal de educación 6 da Unesco para América Latina


que La sociedad y la educación en América Latina foi idealizada e produzida, sendo
editada pelo Editorial Universitaria de Buenos Aires, em convênio especial com a
Unesco. O projeto foi construído por diversos especialistas de diferentes países e
pretendia: estimular o planejamento sistemático da educação nos países da América
Latina; fomentar a extensão de serviços de educação primária; revisar os planos e
programas de estudos da escola primária; melhorar os sistemas de formação do

6
O Projeto Principal nº 1 foi apresentado em 1956, na Conferência Regional Latino-Americana sobre
Educação Primária Gratuita e Obrigatória, com plano de execução de 10 anos. Dentre as iniciativas do
governo brasileiro para colaborar com o projeto, está a organização de cursos de formação de especialistas
em organização, com convênio firmado entre o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), o
Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo (CRPE/SP) e a Universidade de São Paulo (USP)
(Maluhy, 2010).

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Daniel, L. S.

professor primário7; e preparar dirigentes e especialistas em educação no nível


superior (Boletín do Proyecto Principal de Educación Unesco-América Latina, 1959).
Para Xavier (1999, p. 134), em especial, essa preocupação com a especialização
do magistério demonstrada pelo projeto respondia à necessidade de racionalização
requerida pela sociedade naquele momento, acreditando-se que o aumento de
lideranças tecnicamente preparadas “[...] constituiria a base sobre a qual o sistema
escolar e a vida educacional dos países da América Latina se ajustariam às
necessidades de desenvolvimento cultural e econômico”.
A obra foi encomendada pela Unesco ao professor Robert Havighurst (1900-
1991) , da Universidade de Chicago 9, uma das instituições que, ao lado de Columbia,
8

Harvard e Berkeley, “[...] se converteram nos novos centros das ciências sociais e no
lugar de assimilação do seu métier” (Blanco, 2007, p. 95, grifo do autor).
Em diversos momentos, ainda na década de 1950, o professor Havighusrt
participou de pesquisas e projetos, por exemplo, no interior do Centro Brasileiro de
Pesquisas Educacionais (CBPE) ao lado de João Roberto Moreira. Havighusrt traduziu
para o inglês o livro Educação e desenvolvimento no Brasil, de autoria de Moreira e
publicado pelo Centro Latino-Americano de Pesquisas Educacionais (CLAPCS). O livro
em inglês foi intitulado Society and education in Brazil e publicado em 1965 pela
Universidade de Pittsburgh, fazendo parte da coleção Comparative Education Series.
Moreira e Havighurst estiveram intimamente relacionados em projetos pela Unesco,
estando também interligados pelo desenvolvimento de estudos de educação
comparada em diversos países latino-americanos (Daniel, 2009). Entende-se, para
tanto, que Havighust atuou como intelectual mediador, na medida em que

[...] esse intelectual muitas vezes, ocupa um cargo estratégico numa


instituição cultural, pública ou privada, numa associação ou
organização política, ou atua desde um lugar privilegiado numa rede
de sociabilidades, de onde protagoniza projetos de mediação cultual
de enormes impactos políticos (Gomes & Hansen, 2006, p. 19).

7
A preocupação com a formação de professores primários nos países latino-americanos era latente no
interior do Projeto Principal. Era propósito aumentar o número de professores, bem como a qualidade da
sua formação, que deveria passar por ‘uma renovação na doutrina formativa’, com formação cultural
sólida, formação em novas orientações pedagógicas, como a sociologia, psicologia social, dentre outras
(Boletín do Proyecto Principal de Educación Unesco-América Latina, 1959).
8
Em 1940 Havighusrt assumiu o cargo de professor de Educação e de Secretário Executivo do Comitê de
Desenvolvimento Infantil na Universidade de Chicago, desenvolvendo pesquisas na área da educação,
psicologia e sociologia, abordando temas como educação juvenil, processos de envelhecimento, educação
urbana, dentre outros (Daniel, 2009).
9
A Universidade de Chicago foi criada em 1895, mediante doação de um milionário americano chamado
John D. Rockefeler. No interior da universidade, a sociologia passou a ser tomada como ciência capaz de
direcionar uma reforma social na sociedade americana, voltando-se para o “[...] equacionamento dos
problemas sociais que afligiam as grandes cidades americanas” (Becker, 1996, p. 178).

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O manual da Unesco La sociedade y la educación en América Latina (1962): idealização de escola e de sociedade

Ainda em 1959, em publicação do Boletín do Proyecto Principal de Educación


Unesco-América Latina, de nº 1, aponta-se o projeto da obra10, indicando que “[...] “Um
Manual de Sociologia e Educação para professores será publicado em meados de 1959.
Dirigido pelo Dr. Havighurt, da Universidade de Chicago, nele colaboraram ilustres
sociólogos e colaboradores latino-americanos” (1959, p. 15, tradução nossa)11.
Como uma das preocupações da Unesco para esse projeto, estava a necessidade
de criação de um vocabulário comum com referenciais teóricos e metodológicos
advindos das Ciências Sociais com objetivo de orientação na criação das políticas
educacionais em cada país. Para tanto, entende-se que essa obra vai ao encontro deste
propósito, articulando intelectuais da região, integrando questões e explicações
comuns e uniformizando um discurso interpretativo acerca da realidade latino-
americana. Destinada aos professores, a divulgação e o uso do manual colaborariam
para a construção de uma determinada explicação e, por conseguinte, para a
proposição de soluções ancoradas nas perspectivas ideológicas da UNESCO
construídas para a região latino-americana12. Dessa forma,

[...] o ato de comunicação expõe nossos textos a leitores que irão


interpretá-los a partir de pontos de referência que não são os
nossos, e o ato da publicação, no sentido normal de ‘tornar público’,
representa um abandono da tentativa de determinar quem esses
leitores devem ser, ao mesmo tempo em que tenta maximizar o
número de leitores sobre os quais nossos escritos devem atuar
(Pocock, 2003, p. 53, grifo do autor).

Em sua introdução, deixa-se claro que o livro serviria como um manual para os
educadores latino-americanos e para ser usado em Escolas Normais e Universidades
da América Latina, no qual aponta que “[...] Este Manual pretende apenas servir de
complemento aos grandes tratados de sociologia da educação escritos por autoridades

10
Além dessa obra, havia a intenção de publicação de um Manual sobre Fundamentos de Educação,
encomendado ao professor Larroyo, da Universidade do México, além de um volume sobre o estado da
educação na América Latina, a ser preparado pelo Departamento de Educação da Unesco e Centro
Regional de Havana. O Manual de Fundamentos da Educação teria como colaboradores Antonio
Ballesteros, Robert Dottrens, Lourenço Filho, Juan Mantovani e Domingo Tirado Beneti (Boletín do
Proyecto Principal de Educación Unesco-América Latina, 1959).
11
“[...] un Manual sobre Sociología y Educación destinado a los maestros será publicado a mediados del año
1959. Dirigido por el Dr. Havighurt, de la Universidad de Chicago, han colaborado en él distinguidos
sociólogos y colaboradores latinoamericanos”.
12
Ao final da obra, encontra-se um glossário, contendo palavras próprias do campo da pesquisa em ciências
sociais. São elas: aculturação, associação, cultura, ecologia, função, instituição, personalidade, classe
social, papel social, estratificação social e socialização.

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Daniel, L. S.

latino-americanas, como a ‘Sociologia da Educação’ de Fernando de Azevedo”.


(Havighusrt, 1962, p. 7, tradução nossa, grifo do autor)13.
Aos professores, por conseguinte, era necessário fornecer instrumentos
científicos para pensar o papel da escola e intervir nos problemas educacionais e
sociais que eles encontrariam. Um projeto, portanto, de formação de professores
singular para todos os países da América Latina, com os mesmos entendimentos e
conceitos a serem difundidos, ancorados em uma perspectiva sociológica de cunho
estrutural-funcionalista de pensar a sociedade e a escola, no qual “[...] tendem a ver a
sociedade como ontologicamente anterior ao homem, colocando o homem e suas
atividades dentro deste contexto maior” (Cabral, 2004, p. 12).

O MANUAL, SUA ORGANIZAÇÃO E SEUS COLABORADORES

A obra, publicada em espanhol, mas escrita originalmente em inglês e


português, foi feita por Robert Havighurst com a participação de vários colaboradores:
Andrew Pearse (sociólogo, especialista da UNESCO e integrante do CBPE), profa.
Dalilla C. Sperb (professora e orientadora de ensino primário do estado do Rio Grande
do Sul), Julio de la Fuente (do Instituto Nacional Indigenista do México), Adolfo Maillo
(diretor do Centro de Documentação e Orientação Didática do Ensino Primário de
Madri) e Egidio Orellan (Universidade do Chile).
Havighurst, assim, configura-se como um articulador na construção do Manual,
utilizando uma rede de sociabilidade, na qual pesquisadores da região e suas pesquisas
são utilizadas para a construção retórica da obra (Sirinelli, 2003). Parte-se, assim, do
entendimento de que ele se caracteriza como um intelectual mediador, o qual

[...] se volta para práticas culturais de difusão e transmissão, ou seja,


práticas que fazem ‘circular’ os produtos culturais em grupos sociais
mais amplos e não especializados. Tais intelectuais seriam aquele
voltados para a construção de representações que têm grande impacto
numa sociedade (Gomes & Hansen, 2016, p. 26, grifo do autor).

Organizada em 16 capítulos, com um total de 336 páginas, a obra possui um


caráter notadamente didático, com assunto específico tratado em cada parte, com os
seguintes títulos: 1. Sociedad y socialización; 2. Socialización y aprendizaje de las
lealtades sociales; 3. Grupos Étnicos y culturales indígenas en la América Latina; 4.
Caracteres nacionales y subculturas em América Latina; 5. Los cambios demográficos y

13
“[...] el presente Manual sólo aspira a servir de complemento a los grandes tratados de sociología de la
educación escritos por autoridades latino-americanas, tales como la Sociología de la Educación, de
Fernando de Azevedo”.

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O manual da Unesco La sociedade y la educación en América Latina (1962): idealização de escola e de sociedade

sus consecuencias educativas; 6. Desarrollo económico y educación; Los cambios sociales


y la educación; 7. Los cambios sociales en la América Latina; 8. Las clases sociales en la
América Latina; 9. La familia y la mujer en América Latina; 10. Las diversidades sociales
y culturales y la educación; 11. Política social y educativa en relación con la población
indígena; 12. Las grandes asociaciones y sus funciones educativas; 13. Escuela y
comunidad; 14. La escuela, factor de integración social y cultural; 15. La escuela como
grupo social; 16. El maestro.
Além da introdução, o manual também apresenta, ao final, um glossário com 11
conceitos próprios da área das Ciências Sociais, que são: Aculturación, Asociación,
Cultura, Ecología, Función, Institución, Personalidad, Clase Social, Papel Social,
Estratificación Social, Socialización.
A partir das explicações sobre determinados conceitos utilizados ao longo da
obra, permite-se inferir que estes eram compartilhados pelos autores que
colaboravam na obra e que faziam parte de um determinado contexto linguístico
partilhado, de maneira que

[...] cada contexto linguístico indica um contexto político, social ou


histórico, no interior do qual a própria linguagem se situa. Contudo,
neste mesmo ponto, somos obrigados a reconhecer que cada
linguagem, em certa medida, seleciona e prescreve o contexto
dentro do qual ela deverá ser reconhecida (Pocock, 2003, p. 37).

O texto também apresenta uma forma narrativa de cunho científico, mesclando


momentos de uma discussão mais teórica de determinado assunto com excertos
significativos de relatos e pesquisas de autores, majoritariamente, latino-americanos,
tratando de questões sobre a América Latina e sua educação. No Quadro 1 a seguir,
apresentam-se autores e obras referenciados no Manual.

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Daniel, L. S.

Referências do autor
Capítulo Tema Autor14
utilizadas no manual15
Orlando Fals-Borda Peasant e Society in the
Socialização em
(pesquisador colombiano Colombian Andes: A
comunidade rural
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Saucio, andes
de Minessota e Florida, nos Florida. University of
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EUA). Florida Press. (Livro).
Culture and Education
Robert Redfield
Capítulo II – in the Midwestern
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Socialización y Highlands of
educação na da Universidade de Chicago
aprendizaje de las Guatemala. (1943).
Guatemala e especializado em estudos
lealtades socializes American Journal of
da América Central).
Sociology. (Artigo).
Capítulo III – Grupos Processo de
Antonio Goubaud-Carrera Indian Adjustment to
étnicos y culturas aculturação dos
(embaixador da Guatelamala Modern Nation Culture.
indígenas en la indígenas da
nos EUA). (Livro).
América Latina Guatemala
Ethnic and Cultural
Pluralism in the
Capítulo III – Grupos Léon Portilla
Grupos de Mexican Republic.
étnicos y culturas (vice-diretor do Instituto
aculturação (1957). Instituto
indígenas en la Indigenista Interamericano
espontânea Internacional de
América Latina da Cidade do México).
Civilizações diferentes,
Lisboa. (Conferência).
Charles Wagley & Marvin
Capítulo IV – Uma tipologia das Harris A Tipology of Latin
Caracteres Nacionales subculturas (membros do departamento America Sub-culture.
y subculturas em latino- de Antropologia da (1955). American
América Latina americanas Universidade de Columbia, Anthropologist. (Artigo).
Nova York).
Capítulo V – Los Rápido T. Lynn Smith Las tendencias sociales
câmbios demográficos crescimento da (professor de sociologia da de actualidad em
y sus consecuencias população na Universidade da Florida, América Latina. (1956).
educativas América Latina Estados Unidos). (Artigo).
Tomás Vila
Capítulo VI – Educación. (1950).
Educação (integrante da Corporação de
Desarrollo económico Geografia Económica do
secundária Fomento da Produção do
y educación Chile. (Artigo).
Chile).
La educación ante la
Juan Comas
Capítulo VIII Las discriminación racial.
(mexicano, é antropólogo e
clases sociales em la Raça e educação (1958). Suplemento del
professor da Escola Normal
America Latina Seminário de Problemas
Superior do México).
Científicos y filosóficos.

14
As informações sobre os autores foram coletadas na própria obra.
15
As informações acerca dos livros e artigos utilizados foram coligidas na própria obra. Algumas
referências não indicam nome do artigo, local ou ano de publicação.

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O manual da Unesco La sociedade y la educación en América Latina (1962): idealização de escola e de sociedade

Referências do autor
Capítulo Tema Autor14
utilizadas no manual15
Aníbal Buitrón
Situación económica,
O lugar da (antropólogo equatoriano que
Capítulo IX – La social y cultural de la
mulher na estuda na Universidade de
família y la mujer en muyer en los países
sociedade latino- Chicago. Membro do Centro
América Latina andinos. (1956). América
americana de Educação Fundamental de
Indígena.
Pátzcuaro, México).
Gonzalo Rubio Orbe
Capítulo XI –
(professor equatoriano da
Política social y Situação indígena
escola normal e secundária. El índio en Equador.
educativa em relación na América
Integrou a Missão (1949). América Indígena.
com la población Latina
Indigenista a cargo da ONU e
indígena
outros organismos).
Julio de la Fuente
(antropólogo mexicano, foi
Capítulo XI –
Adaptação da colaborador do
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escola às Departamento de Assuntos Notas sobre educación
educativa em relación
necessidades Indígenas. Foi Chefe da indígena. (Manuscrito).
com la población
indígenas Comissão Técnica do
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Instituto Indigenista do
México).
Juan Montavani La educación gratuita y
Capítulo XII – Las
Educação gratuita (Instituto de Didática da obrigatória en América
grandes asociaciones
e obrigatória na Faculdade de Filosofia e Latina. (1956). Revista de
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América Latina Letras da universidade la Universidad de Buenos
educativas
Nacional de Buenos Aires). Aires.
Juan Pastor Benitez
Capítulo XII – Las
(diplomata, educador e
grandes asociaciones Educação Paginas libres. (1956).
periodista paraguaio.
y sus funciones secundária Ensayos. El Arte.
Secretaria de Educação do
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Capítulo XII – Las
(professor de Educação na
grandes asociaciones Estado e El estado y la educación.
Faculdade de Filosofia e
y sus funciones educação (1953). (Livro).
Educação na Universidade
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Gerardo Reichel-
Dolmatoff
Actitudes hacia el
(colombiano, antropólogo,
trabajo en una
Capítulo XIII – Disfunção da antigo diretor do Instituto
población mestiza de
Escuela y comunidade escola rural Etnológico de Magdalena,
Colombia. (1953).
chefe da Seção de Etnografia
América Indígena.
do Instituto Colombiano de
Antropologia).
Capítulo XIV – La Francisco del Río & Manuel
escuela, fator de A escola e a Alers-Montalvo El maestro em el trabajo
integración social y extensão agrícola (especialistas em extensão de extensión. (Texto).
cultural que trabalham na Costa Rica).

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Daniel, L. S.

Referências do autor
Capítulo Tema Autor14
utilizadas no manual15
Capítulo XIV – La
escuela, fator de Núcleo Escolar Miguel Soler Anales de Instrucción
integración social y Experimental (professor rural uruguaio). Primária. (1956). Uruguay.
cultural
João Roberto Moreira
(educador brasileiro,
coordenador da Campanha A escola primária
Capítulo XV – La
Escola e grupo Nacional de Erradicação do brasileira. (1957).
escuela como grupo
social Analfabetismo do Ministério Educação e Ciências
social
da Educação do Brasil. Foi Sociais.
Diretor de Planejamento do
CBPE).
Porcia Alvez
(professora de Psicologia da
Estudo Faculdade de Filosofia da
Capítulo XV – La
sociométrico em Universidade do Paraná e
escuela como grupo Manuscrito.
curso de ensino diretora do Centro
social
superior Educacional Guairá – Centro
de Demonstração de Ensino
Primário, Curitiba).
Josildeth da Silva Gomes Escola do Magistério
(pesquisadora do CBPE. Público Primário como
Capítulo XVI – El Estudo de grupo
Estudou Antropologia nas profissão no Distrito
maestro de crianças
Universidades da Bahia, São Federal. Educação e
Paulo e Columbia). Ciências Sociais.
Aparecida J. Gouveia Professores do Estado
Características de
Capítulo XVI – El (investigadora do CBPE. do Rio. (1957). Revista
um bom
maestro Estudou Sociologia na USP e Brasileira de Estudos
professor
em Chicago). Pedagógicos.
Quadro 1 - Autores e obras presentes no Manual16.
Fonte: A autora.

As referências podem ser categorizadas de duas formas: autores latino-


americanos referências nos seus países e autores de maior vulto intelectual, como de
universidades norte-americanas. Na escrita do manual, Havighurst normalmente
introduz uma discussão e, em seguida, cita longos excertos destes textos. Muitos
desses autores latino-americanos estudaram ou estavam estudando em universidades
americanas, mostrando uma sintonia entre as concepções e os conceitos utilizados

16
A organização desse quadro tem como objetivo principal dar visibilidade a esses autores, em grande parte,
latino-americanos, que realizaram estudos em universidades americanas e que colaboraram para os
trabalhos da Unesco no continente. Como já destacado, um dos objetivos deste texto foi procurar tratar
aspectos do objeto, o Manual, de forma transnacional, a partir de perspectivas supranacionais. Contudo,
até o momento, não se localizaram outros estudos que tenham se debruçado sobre esse material ou sobre
muitos dos autores mencionados. Vislumbra-se, assim, em futuras pesquisas, realizar intercâmbio com
outros pesquisadores e avançar nessas análises mais abrangentes.

Rev. Bras. Hist. Educ., 24, e298, 2024 p. 11 de 22


O manual da Unesco La sociedade y la educación en América Latina (1962): idealização de escola e de sociedade

nos estudos, coadunados a um projeto de formação de especialistas latino-americanos


para pensar e atuar nos seus países, em geral, a serviço da Unesco.
A obra ainda apresenta, ao final de cada capítulo, um resumo e uma lista de
exercícios acerca das principais questões tratadas naquele item. Os exercícios, ao
longo do livro, mostram um caráter prático, procurando levar o futuro professor a
pensar e atuar na realidade escolar no próprio país, assim como na América Latina,
como no seguinte enunciado: “Após a leitura das descrições do processo de
socialização na classe média alta do Brasil e em uma família camponesa pertencente
à classe baixa, residente em uma favela da cidade, escreva uma redação indicando as
principais diferenças que se percebem entre esses dois grupos culturais” (Havighurst,
1962, p. 44, tradução nossa)17.
As perguntas têm um caráter notadamente marcado pelas diferenças culturais
e sociais presentes nos países, mas que buscam levar o licenciando a comparar e buscar
pensar soluções para determinadas questões em suas terras natais, a partir de estudos
de outros países, como o evidenciado na questão seguinte: “[...] estudar os grupos de
aculturação espontânea que podem ocorrer em seu país, comparando o processo ao
qual obedecem com aquele que o Dr. León Portilla menciona para o México”
(Havighurst, 1962, p. 57, tradução nossa)18.
Questões sobre os desafios e problemas da educação latino-americana são a
maioria, as quais tratam de temas como educação da mulher, educação rural, escola e
mobilidade social, classes sociais e tipos de escolaridade, dentre outros.
Por fim, os problemas sociais enfrentados em cada país são colocados de forma
articulada às possibilidades da educação em resolvê-los. As políticas educacionais,
assim como o papel a ser assumido pela escola na sociedade, são temáticas recorrentes
no interior dos organismos internacionais nesse período, as quais são levadas
diretamente para serem pensadas também pelos futuros professores. Conceitos
sociológicos, assim, são mobilizados para serem divulgados e utilizados no interior do
campo educacional latino-americano.

O MANUAL E SUAS PRINCIPAIS TESES ACERCA DA RELAÇÃO


EDUCAÇÃO E SOCIDADE

O Manual fora escrito em meio aos desafios que se colocavam naquele momento
para o continente, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial. No campo da

17
“Después de leer las descripciones del proceso de socialización en la clase media superior del Brasil y en
una familia campesina perteneciente a la clase inferior, que vive en un barrio bajo de la ciudad, escriba
una composición indicando las diferencias principales que se advierten entre esos dos grupos culturales”.
18
“[...] estudie los grupos de aculturación espontánea que pueden darse en su país, comparando el proceso
a que obedezcan con el que menciona para México, el Dr. León Portilla”.

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Daniel, L. S.

Sociologia, a partir da década de 1950, surgia uma nova categoria para pensar os países
latino-americanos, na qual o termo ‘atraso’ foi substituído pelo ‘subdesenvolvimento’
em análises realizadas, em especial, pela Comissão Econômica para América Latina
(Cepal), órgão das Nações Unidas. No interior da sociologia:

O grande tema passa a ser a Mudança Social. A sociologia voltou-se


para a pesquisa sobre os condicionantes sociais do
desenvolvimento; as resistências à mudança, a dicotomia arcaico
versus moderno. Explicar como a sociedade se desenvolve passou
então a ser questão central das ciências sociais da época – como
definir claramente entre tradição e modernidade; como encontrar
os substitutos funcionais da ética protestante para localizar as
modernizações que teriam condições de dar certo; como entender
as diferentes etapas deste processo. As mazelas sociais –
personalismo, familismo, patrimonialismo – explicariam, por sua
pré-modernidade, as dificuldades e diferenças no processo nas
etapas do desenvolvimento. Tudo isso valeu para o Brasil e para a
América Latina e conformou o pensamento e as propostas dos
intelectuais e dos cientistas sociais (Oliveira, 2005, p. 116).

Nesse momento, a Sociologia marcadamente de viés europeu e norte-


americano contribuiu para moldar uma visão etapista do mundo ocidental, reforçando
a ideologia colonizadora, devendo os países ‘subdesenvolvidos’ tomar como modelo a
modernização dos países mais desenvolvidos. Para tanto, colocava-se a necessidade
de investimento em avanços tecnológicos, científicos, econômicos e políticos,
tornando a educação um meio para alcance desses objetivos (Martins, 2019). A tese
era de que a modernização pudesse fazer desaparecer o subdesenvolvimento, assim
como os desequilíbrios regionais e as injustiças sociais.
Tais perspectivas perpassam a obra analisada e trazem determinados
entendimentos acerca da sociedade e da educação, no interior, como já destacado, da
tradição sociológica funcionalista, que tem como procedimento básico a objetividade
na compreensão das relações sociais. Seu principal representante e fundador é Émile
Durkheim, “[...] que inaugurou os estudos sociológicos sobre educação [...] e
estabeleceu as bases teóricas para a sociologia da educação como um ramo específico
da sociologia” (Costa, 2019, p. 85).
Para tanto, com uma linguagem de cunho sociológico, o Manual se organiza de
forma a apontar, já nos títulos, os principais problemas culturais e educacionais dos
países latino-americanos, numa perspectiva discursiva que se organiza de forma a
evidenciar o problema, analisar sociologicamente (à luz de conceitos do campo) e
encaminhar apontamentos para solução. Nesse caso, o principal propósito da Sociologia
é identificar, por meio dos métodos científicos, os problemas sociais e buscar soluções
para eles, pois o desconhecimento deles dificulta o desenvolvimento da sociedade.

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O manual da Unesco La sociedade y la educación en América Latina (1962): idealização de escola e de sociedade

Ao analisar a narrativa da obra, destacamos quatro teses presentes e que


colaboram para a elucidação das concepções em torno da idealização de educação e
sociedade expressas para o continente latino-americano, que são: a relação entre
educação e o desenvolvimento social-econômico; a escola como fator essencial para a
promoção da integração social e cultural da região; a educação formal como função do
Estado; e o papel social desempenhado pelo professor na organização da escola.
A primeira tese trata da relação estabelecida entre a educação e o
desenvolvimento social-econômico. Em diversos momentos da obra, é explicitada, por
meio de dados econômicos, a situação de atraso econômico da região, principalmente
comparada ao continente europeu. Como principais desafios desse processo, estavam:
o aumento gradativo da população; o aumento rápido da população urbana, devido à
imigração da zona rural; à mudança da estrutura social, com o surgimento de uma classe
média mais numerosa e uma redução da classe trabalhadora dedicada aos trabalhos
manuais; e ao aumento da renda per capita na maioria dos países latino-americanos.
No interior dessas questões, apareciam, ao mesmo tempo, o grande número de
analfabetos e a dificuldade para gerar mão de obra qualificada para novas ocupações. O
Manual aponta que na América Latina a diversidade cultural era complexa e, para tanto,
a escola, considerada precária na região, precisava se adequar a essa realidade, da mesma
forma que atender às necessidades do capitalismo. A tese era de que a escola precisava
ser reformada com o objetivo de atender a essas necessidades, proporcionando
mobilidade social aos indivíduos, à medida que estes aproveitassem suas experiências
educativas, evidenciando uma relação “[...] muito estreita entre a educação e o
desenvolvimento econômico de um país” (Havighurst, 1962, p. 95, tradução nossa)19.
A educação, assim como o sistema de ensino nos países latino-americanos,
precisava se adequar, construindo um determinado ideal de sujeito e assumindo a
função adaptadora, moralista e disciplinadora, na qual a meritocracia regularia as
funções a serem desempenhadas pelos indivíduos, bem como sua mobilidade social ou
ascensão social. Como proposta, a educação primária deveria ser estendida a toda a
população, porque melhoraria a qualidade da força de trabalho e favoreceria o
desenvolvimento da economia. O ensino secundário também deveria ser ampliado,
mas não deveria ser estendido a toda a população, estabelecendo um ‘tipo funcional
de educação’, atendendo às funções comerciais e técnicas, sendo de cunho mais
prático (Havighurst, 1962).
O ensino superior, por fim, também deveria ser expandido na região,
preparando os indivíduos para a área da tecnologia e do comércio, instruindo os
professores e profissionais da saúde. Assim, segundo tais indicações, haveria

19
“[...] muy estrecha entre la educación y el desarrollo económico de un país”.

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Daniel, L. S.

Uma tendência geral em favor de um tipo ‘funcional’ de educação


destinada à preparação de numerosos indivíduos que podem
encarregar-se dos assuntos próprios da sociedade, em contrate com
uma educação dirigida a manter o status social da clase alta e de
uma pequena classe média alta (Havighurst, 1962, p. 95, tradução
nossa, grifo nosso, p. 212)20.

Para tanto, o que o texto mostra são os fundamentos da Teoria de capital


humano do autor Theodor Schultz, a qual afirma que, à medida que ocorre o
crescimento econômico e a diversificação das produções, tornam-se necessárias
capacitações técnicas mais altas, devendo a educação ser flexível para o fornecimento
de serviços educacionais de forma suficiente para a sociedade (Schultz, 1973) 21. A
educação, assim, assumia uma função central no alcance desse projeto de sociedade,
no qual “[…] a educação é, simultaneamente, um ‘espelho’ que reflete o status que
existe em uma determinada sociedade e uma força aplicada a mudar esta mesma
sociedade” (Havighurst, 1962, p. 163, tradução nossa, grifo do autor) 22.
Destacamos, nesse sentido, a segunda tese explicitada na obra, a qual considera
a escola fator essencial para a promoção da integração social e cultural da região, bem
como para provocar a mobilidade social, principalmente por meio de suas funções
essenciais de socialização e de aculturação dos indivíduos. A educação é entendida,
tal como expresso por Durkheim, como elemento adaptador dos indivíduos à
sociedade, de forma que o sistema social funcionasse de forma harmônica e sistêmica,
sendo a escola primária esse elemento ‘unificador’ ou ‘integrador’ das populações
latino-americanas, já que deveria ser estendida a toda a população, visto que, para ele,
“[....] a educação existe para atender a uma necessidade eminentemente social. Ela
tem como sua principal tarefa modelar os indivíduos, garantindo um estado de ordem
e coalescência social, totalmente necessário ao desenvolvimento da sociedade”
(Costa, 2019 p. 87).
A aculturação (processo em que duas culturas se encontram e, como resultado,
uma ou ambas passam a se transformar ou ser modificada), termo cunhado no interior
da Antropologia, também é utilizada, principalmente ao se referir aos grupos étnicos
e culturas indígenas latino-americanos (Panoff & Perrin, 1973). Para tanto, “[…] não
existe um único tipo familiar latinoamericano” (Havighurst, 1962, p. 155, tradução
nossa)23. A escola, considerada instituição social especializada, também nesse caso

20
“Una tendencia general en favor de un tipo ‘funcional’ de educación destinada a la preparación de numerosos
individuos que pueden encargarse de los asuntos prácticos de la sociedad, en contraste con una educación
dirigida a mantener el status social de la clase superior y de una pequeña clase media superior”.
21
Theodor Schultz é citado ao longo do Manual, destacando os artigos: This New Word: The Civilization
of Latin America, de 1956; The economic test in Latin America, de 1956; dentre outros.
22
“[…] la educación es, simultáneamente, un ‘espejo’ que refleja el status que existe en una determinada
sociedad y una fuerza aplicada a cambiar esa misma sociedad”.
23
“[…] no existe un solo tipo familiar latinoamericano”.

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O manual da Unesco La sociedade y la educación en América Latina (1962): idealização de escola e de sociedade

tem papel central ao promover integração social e cultural da região de forma pacífica,
já que “[…] no cerne de uma sociedade complexa, a educação é chamada a desempeñar
um grande papel. É necessário tanto para reducir prejuízos entre os grupos, como para
promover as práticas integradoras positivas dentro da sociedade” (Havighurst, 1962,
p. 177, tradução nossa)24.
A aculturación, nesse sentido, é entendida, conforme indicado no seu glossário,
como

[…] o processo pelo meio do qual um individuo adquire uma cultura


até então nova e estranha para ele. O término se aplica geralmente ao
proceso mediante ao qual um membro de uma cultura popular aprende
uma cultura mais complexa ou ‘moderna’, mas poderia ser também
aplicado ao proceso mediante ao qual a criança se faz membro de um
grupo cultural. Neste sentido, o termo é sinónimo de ‘socialização’.
(Havighusrt et al., 1962, p. 7, tradução nossa, grifo do autor)25.

Para tanto, encontra-se a terceira tese destacada, que é a de que a oferta da


educação formal cabe ao Estado, estabelecendo uma relação íntima com a garantia dos
regimes democráticos nos países. Ainda destaca que o Estado é responsável por
manter as escolas públicas, mas por ajudar também economicamente as escolas
privadas e religiosas. Tal tese está presente nos discursos dos principais intelectuais
do período, que se colocam como a ‘elite esclarecida’ a realizar as reformas
educacionais necessárias para a nova realidade colocada, cunhando uma espécie de
‘neutralidade científica’ diante dos encaminhamentos políticos indicados, colocando-
se os pensadores sociais como intérpretes do significado da construção de uma
determinada sociedade (Tavares-dos-Santos & Baumgarten, 2005).
Em tal caso, também o professor desempenhava função importante, com papéis
sociais estratégicos, sendo peça-chave na construção dessa escola idealizada para a
América Latina.
A obra dedica seu último capítulo, intitulado El Maestro, à discussão do perfil e
da função do professor latino-americano. Dentre as principais características
destacadas, estavam as diferenças sociais entre professores primários e secundários e
a predominância do gênero feminino, sendo estas mulheres casadas e com filhos.
Diante disso, aponta-se como problema o fato de a mulher ter muitos afazeres para

24
“[…] en el seno de una sociedad compleja, la educación está llamada a desempeñar un gran papel. Es
necesaria tanto para reducir prejuicios entre los grupos, como para promover las prácticas integradoras
positivas dentro de la sociedad”.
25
[…] el proceso por medio del cual un individuo adquiere una cultura hasta entonces nueva y extraña para él.
El término se aplica generalmente al proceso mediante el cual un miembro de una cultura popular aprende
una cultura más compleja o ‘moderna’, pero podría ser también aplicado al proceso mediante el cual el niño
se hace miembro de un grupo cultural. En este sentido el término es sinónimo de ‘socialización’.

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Daniel, L. S.

além da escola e não conseguir ser ‘profissional’ o bastante para se envolver nas
questões da escola e da comunidade. Assim, “[…] a professora primaria tende a ser
menos ‘profissional’ em suas atividades que o profesor secundário e não pertenece tão
próxima como este à organização dos profesores, não lê revistas educativas, etc”
(Havighurst, 1962, p. 326, tradução nossa, grifo do autor)26.
Assim, mostra-se o intuito principal com o Manual, que é o de fornecer ao
professor normalista os instrumentos necessários para sua intervenção social e, desse
modo, conseguir lograr a construção de uma determinada sociedade.
Ao professor é atribuída uma série de papéis sociais, assim como na comunidade
e na escola, entendendo que “[...] o trabalho do professor pode ser concebido como
um complexo de papéis sociais” (Havighurst, 1962, p. 325, tradução nossa) 27. Na
comunidade, ele assume uma série de subpapéis, como: o participante dos assuntos
da comunidade, a pessoa erudita, a pessoa de cultura, o representante da moralidade
da classe média e o ‘forasteiro sociológico’. Este último papel entendido como:

Ao mesmo tempo em que se deseja que o professor participe da


comunidade, se considera que seja ‘forasteiro’ nesta e não se inteire
dos problemas correntes da comunidade nem participe das rivalidades
locais. Em geral, considera-se que os professores jovens sejam
somente residentes temporários e que logo partam para outras
comunidades. A imagem da professora primária que se desloca de
bicicleta da cidade com o objetivo de ensinar a ler e escrever às crianças
e que logo retorne ao seu lugar, é a imagem de um forasteiro
sociológico (Havighurst, 1962, p. 317, tradução nossa, grifo do autor)28.

Mostra-se uma diferenciação e propõe-se um distanciamento do professor com


relação à sua realidade, com um viés, de alguma forma, ‘científico’, tanto na leitura
dos fatos sociais, como na sua intervenção, mediante função educativa.
Na escola, da mesma forma, o professor assume uma série de subpapéis, que
são: o professor como instrutor, o professor como organizador de uma situação de
aprendizagem, o professor como mantenedor da disciplina, o professor como
substituto dos pais, o professor como juiz e o professor como confidente. Nesse caso:

26
“[…] la maestra primaria tiende a ser menos ‘profesional’ em sus actividades que el profesor secundario y
no pertenece tan a menudo como éste a las organizaciones de maestros, no le revistas educativas, etc”.
27
“[...] el trabajo del profesor pude ser concebido como un complejo de papeles sociales”.
28
“Al mismo tiempo que se desea que el profesor participe en la comunidad, se confía que sea ‘forastero’
en ella y no se entere de los chismes corrientes en la comunidad ni participe en las rivalidades locales.
Por lo general, se piensa que los profesores jóvenes sólo serán residentes temporales y que luego se irán
a vivir en otras comunidades. La imagen de la maestra rural que viene en bicicleta desde la ciudad con
el objectivo de enseñar a leer y escribir a los niños y que luego vuelve a su hogar, es la imagen de un
forastero sociológico”.

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O manual da Unesco La sociedade y la educación en América Latina (1962): idealização de escola e de sociedade

[…] estes papéis por vezes entram em conflito, de modo que o


professor habilidoso combina os subpapéis que são mais apropriados
à situação actual, isto é, aqueles que são mais satisfatórios para a
comunidade e, ao mesmo tempo, mais adequados à sua
personalidade (Havighurst, 1962, p. 326, tradução nossa)29.

As leituras sociológicas engendradas no Manual inserem-se, portanto, numa


perspectiva pouco crítica da realidade, que só vai ser de fato modificada no final da
década de 1960, quando se inicia a configuração de uma ‘Sociologia Crítica’, que passa
a questionar os pressupostos da ‘Sociologia da Modernização’, estabelecendo diálogos
múltiplos entre autores inconformistas americanos, marxistas heterodoxos franceses
e ingleses (Tavares-dos-Santos & Baumgarten, 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera-se que as concepções de escola e de sociedade expressas nesse


Manual mostram a realidade de uma região compreendida como atrasada,
culturalmente diversa e que não estava em consonância com as demandas do
capitalismo mundial. Sinônimos como rudimentar e arcaico serviam como parâmetro
para caracterizar o continente latino-americano e, assim, pautar determinadas
mudanças expressas e direcionadas por organismos internacionais, como a Unesco,
articulando as ciências sociais para pesquisar e direcionar as políticas educacionais no
período para a região.
O esforço deste artigo, além de trazer discussões e concepções presentes, foi o
de exercitar análises para além de fronteiras nacionais e buscar articulações pensadas
para os países do continente latino-americano, ao mesmo tempo tão diverso, mas
também permeado pelas mesmas questões desafiadoras que atravessaram e ainda
atravessam os últimos séculos pós-colonização. Nesse sentido, discutir, por exemplo,
a função do professor na sociedade parece elucidar questões profícuas, que poderiam
ultrapassar os ditames oficiais e vislumbrar na prática como se deram tais propostas.
O Manual analisado insere-se numa matriz de poder marcadamente
colonialista, baseada no racismo como forma de poder e na supremacia branca, no
qual os povos originários latino-americanos são subjugados e submetidos a processos
de aculturação e socialização no interior da chamada sociedade capitalista, a partir
especialmente da função da escola (Reis, 2022).

29
“[…] estos papeles entran a veces em conflicto, de modo que el profesor hábil combina los sub-papeles
que resultan más apropiados a la situación presente, o sea aquellos que son más satisfactorios para la
comunidad, y que, al mismo tiempo, se adaptan mejor a suja personalidad traducir”.

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Daniel, L. S.

O discurso analisado permite compreender um projeto encampado pela Unesco,


que visava à formação e conformação de consciências, pautado por léxicos científicos,
especialmente, advindos das Ciências Sociais e compartilhados por determinados
intelectuais construtores de sentidos.
Ainda que uma fonte ancorada e produzida numa perspectiva colonial, ela pode
ser interessante ponto de partida para recuperar observações realizadas pelos
pesquisadores do Manual, as quais podem ser reinterpretadas numa perspectiva de
descolonização dos saberes, a partir de novas problemáticas e concepções.

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LEZIANY SILVEIRA DANIEL: Professora Associada II, do COMO CITAR ESTE ARTIGO:
Departamento de Teoria e Prática de ensino (DTPEN), Daniel, L. S. (2024). O manual da Unesco “La
do Setor de Educação (SE), da Universidade Federal do sociedade y la educación en América Latina”
Paraná (UFPR). PhD em História da Educação pela (1962): idealização de escola e de sociedade.
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora Revista Brasileira de História da Educação, 24.
em Educação pela Universidade Federal do Paraná DOI: https://doi.org/10.4025/rbhe.v24.2024.e298
(UFPR). Professora colaboradora do Programa de Pós-
Graduação em Educação da UFPR do Programa Pós- FINANCIAMENTO:
Graduação: Teoria e Prática de Ensino. A RBHE conta com apoio da Sociedade Brasileira de
E-mail: leziany.daniel@ufpr.br História da Educação (SBHE) e do Programa
https://orcid.org/0000-0001-7707-3580 Editorial (Chamada Nº 12/2022) do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e
Recebido em: 24.08.2022 Tecnológico (CNPq).
Aprovado em: 30.05.2023
Publicado em: 15.09.2023 LICENCIAMENTO:
Este artigo é publicado na modalidade Acesso
EDITOR-ASSOCIADO RESPONSÁVEL: Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição
José Gonçalves Gondra (UERJ) 4.0 (CC-BY 4).
E-mail: gondra.uerj@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-0669-1661

RODADAS DE AVALIAÇÃO:
R1: 3 convites: 1 parecer recebido;
R2: 3 convites: 1 parecer recebido;
R3: 2 convites: 1 parecer recebido.

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