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América Latina:
aproximações,
perspectivas e diálogos
ORGANIZADORES:
1ª edição
Os textos dos entrevistados são de inteira responsabilidade dos autores que possuem
autorização expressa para publicação.
7 Apresentação
18 Desafios para a Filosofia da Educação na America Latina
ANTONIO JOAQUIM SEVERINO
Apresentação
T
emos a imensa satisfação em trazer a público o presente vo-
lume com os primeiros resultados do trabalho de investigação
sobre a filosofia da educação na América Latina, trabalho que
vem sendo desenvolvido pelo GRUPEFE [Grupo de Pesquisa e Estudos
em Filosofia da Educação], junto à Linha de Pesquisa Educação, Filo-
sofia e Formação Humana [LIPEFH], que integra o Programa de Pós-
-Graduação em Educação, da Universidade Nove de Julho [UNINOVE],
de São Paulo. Com este volume, inaugura-se uma ambiciosa proposta
editorial que envolve a iniciativa de um trabalho conjunto e de inter-
câmbio entre vários grupos de estudo e pesquisa sobre a expressão
da Filosofia da Educação no contexto latino-americano: o já referido
GRUPEFE [Grupo de Pesquisa e Estudo em Filosofia da Educação], que
atua junto ao PPGE da Uninove, de São Paulo, o NESEF/PR [Nucleo de 7
Ensino de Filosofia], vinculado à Faculdade de Educação da UFPR, em
Curitiba; o NESEF/UNIPLAC, que integra o PPGE da Universidade do
Planalto Catarinense, de Lages-SC, bem como o Núcleo de Estudos da
Interculturalidade e pos-colonialismo da Unisinos, de São Leopoldo, e
do GPEI [Grupo de Pesquisa em Educação Intercultural] da Unilassa-
le, de Canoas, no Rio Grande do Sul. Todos estes grupos se irmanam
numa preocupação comum com a problemática da identidade do pen-
sar filosófico numa perspectiva de superação das consequências das
diferentes formas de colonização, particularmente naquelas ocorridas
nos territórios latino-americanos.
divulgação das ideias que estão sendo desenvolvidas nos vários con-
textos mas também incentivar a busca, o avanço e o cultivo de novas
propostas para o compromisso emancipatório da educação no conti-
nente. Nesta Série, serão três linhas de desenvolvimento da temáti-
ca: A busca da identidade do fazer filosófico-educacional na América
Latina; o debate sobre a contribuição da Filosofia como recurso con-
ceitual para a compreensão do fazer educativo, nessas sociedades;
as temáticas predominantes no pensamento filosófico-educacional
de autores latino-americanos. Para tanto, o espaço de cada volume
será dividido em três núcleos temáticos: a expressão da Filosofia da
Educação nos países; o pensamento filosófico-educacional de auto-
res representativos; temas que se situam na interface da filosofia da
educação, tais como interculturalidade, pós-colonialidade, pós-mo-
dernidade e razão latino-americana e outros com a perspectiva geral
do pensamento filosófico-educacional.
O
estreitamento das relações culturais, científicas e educa-
cionais entre instituições e pessoas dos países latinoameri-
canos, cujas relações têm se marcado pelo distanciamento
e desconhecimento recíprocos e pela ausência de um intercâm-
bio de idéias e de propostas comuns, constitui uma necessidade
e grande desafio. Necessidade porque uma interação cultural en-
tre todos os povos do continente latino-americano é condição im-
18 prescindível para a consolidação da unidade continental, o que,
por sua vez, é base para sua sobrevivência com soberania. Desafio
porque são incontáveis os obstáculos que se agigantam dificul-
tando, quando não inviabilizando, as iniciativas de aproximação
e de agregação. O panorama das relações, nas diferentes esferas
da cultura, entre nossos países demonstra uma grande precarie-
dade e insuficiência, prevalecendo um forte isolamento entre as
diversas instâncias dessas sociedades. Sem dúvida, a diferença da
língua tem destaque quando se trata de assinalar dificuldades de
comunicação e de intercâmbio, mas ela está longe de ser o úni-
co e o maior obstáculo... No que concerne à área educacional, o
intercâmbio entre os educadores desses países fica muito aquém
do necessário e do desejável. No que diz respeito particularmen-
te à Filosofia da Educação parece grande a desinformação recí-
proca sobre como a educação tem sido filosoficamente pensada
nos diversos países do continente. Pensar a América Latina, com
a afirmação do reconhecimento recíproco, é um meio julgado per-
CAPÍTULO 1: DESAFIOS PARA A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA
1 Neste ensaio, optei por usar as designações decolonial, decolonialidade, decolonização, com
o prefixo de preferência aquelas com o prefixo des-. Trata-se da terminologia proposta pe-
los pensadores do Grupo Modernidad/Colonialidad, criado e integrado por pensadores que
estão desenvolvendo uma abordagem pos-colonial no âmbito das ciências humanas, tais
como Immanuel Wallerstein, Anibal Quijano, Walter Mignolo, Santiago Castro-Gomez, Fer-
nando Caronil, Javier Sanjines, Cateherine Walsh, Nelson Maldonado-Torres, Enrique Dussel,
Ramon Grosfoguel, Boaventura Santos, Arthur Escobar. “Com pouco mais de dez anos de exis-
tência, o grupo compartilha noções, raciocínios e conceitos que lhe conferem uma identida-
de e um vocabulário próprio, contribuindo para a renovação analítica e utópica das ciências
sociais latino-americanas do século XXI” (BALLESTRIN, 2013, p. 99).
Por etnofilosofia deve-se entender a prática do conhecimento que leva em conta, em sua
gênese e desenvolvimento, o seu enraizamento, sua imanência numa dada realidade his-
tórica sócio-cultural, assumindo-se como manifestação de uma cultura com sua configura-
ção singular, posicionando-se contra a hegemonia impositiva de uma pretensa abordagem
epistêmica universal. Não se trata de uma perspectiva etnocêntrica, mas de uma vinculação
à imanência existencial dos sujeitos cognoscentes. O conhecimento nasce da experiência
original de cada comunidade em seu contexto histórico.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
Conclusão
A destinação da Filosofia criticamente concebida e prati-
cada não pode ser outra se não a de contribuir para preparar as
novas gerações às quais cabe construir uma civilização mais feliz.
O que ela só poderá fazer se se compromissar com um processo
pedagógico e político de emancipação dos homens historicamen-
te situados. É o que se vislumbra pela utopia de uma nova reali-
dade social, de um outro mundo em que indivíduos, sociedades e
natureza se relacionem de modo a garantir um bem viver, que vêm
propondo os pensadores da decolonização.
Referências bibliográficas
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Rev. Bras.
Ciênc. Polit. N. 11. Brasilia, maio/ago. 2013 p. 89-117.
La filosofía de la educación en
México: una perspectiva
Introducción
¿
Qué es la filosofía de la educación en México? Para poder con-
testar esta pregunta, muy sencilla en apariencia, es necesario
dar respuesta por lo menos a tres aspectos complejos de suyo.
La primera es, en el contexto de la pregunta general ¿qué es filoso- 41
fía?, ¿qué es la filosofía de la educación? Para poder dar respuesta,
es necesario que haya una congruencia mínima entre lo que se
considera filosófico con su aproximación a la educación en tan-
to fenómeno. Así, si se piensa que la filosofía es un sistema de
conceptos aplicados a cualquier aspecto, entonces la filosofía de
la educación será la aplicación de dicho sistema a eso que enten-
damos como educación, para definirlo y, a partir, de ello repensar
nuestras acciones y pensamientos en torno a ello. En cambio, si se
define de otras maneras, se esperaría que la filosofía de la educa-
ción cobrara matices y vertientes distintas.
1 Cfr. Copleston, Friedrick. Historia de la filosofía. Barcelona, Planeta, Ariel, 2011. En su versión
castellana es tal vez uno de los textos más consultados. Tiene 10 volúmenes en 5 tomos. Re-
sulta interesante que el título original es A History of Philosophy, título que podría haber sido
traducido como Una historia de la filosofía. De cualquier forma, los títulos de cada volumen
son representativos: t.1 Grecia y Roma - t.2. De San Agustín a Escoto - v.2. t.3. De Ockham a
Suárez - t.4. De Descartes a Leibniz - t.5. De Hobbes a Hume - v.3. t.6. De Wolff a Kant - t. 7. De
Fichte a Nietzsche - v.4. t.8. De Bentham a Russell - t.9. De Maine de Birán a Sartre
2 Cfr. Zea, Leopoldo. José Gaos: el transterrado. México, UNAM-CCyDEL, 2004
3 Ibidem. p. 11.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
6 Salazar Bondy, Augusto. ¿Existe una filosofía de nuestra América? México, Siglo XXI, 1976.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
7 Cfr. Rovira Gaspar, Ma. del Carmen. (Coord.) Una aproximación a la historia de las ideas fi-
losóficas en México. Siglo XIX y principios del XX. 2ª ed. Querétaro, Universidad Autónoma
de Querétaro / Universidad de Guanajuato / Universidad Autónoma de Madrid / Universidad
Nacional Autónoma de México, 2010. 2 vols.
8 Cfr. Rovira Gaspar, Ma. del Carmen (Coord.) Pensamiento filosófico mexicano del siglo XIX y
primeros años del XX. México, UNAM, Coordinación de Humanidades, 1997. (Lecturas univer-
sitarias; 41)
9 Cfr. Pérez de la Cruz, Rosa Elena. Historia de las ideas filosóficas en Santo Domingo durante el
siglo XVIII. México, UNAM-DGAPA, 2000.
CAPÍTULO 2 : LA FILOSOFÍA DE LA EDUCACIÓN EN MÉXICO: UNA PERSPECTIVA
10 Hurtado, Guillermo. El búho y la serpiente. Ensayos sobre la filosofía en México en el siglo XX.
p. 9-10
11 Cfr. Pereda, Carlos. La filosofía en México en el siglo XX: apuntes de un participante. México,
CONACULTA, 2013.
12 Cfr. Carmona, Verónica, Guillermo Hurtado y Cristina Roa. Bibliografía filosófica mexicana del
siglo XX. [recurso electrónico] México, UNAM- Instituto de Investigaciones Filosóficas, 2012.
13 Cfr. Hurtado, Guillermo (Coord.) 50 años de filosofía en México. 1950-1999 [recurso electróni-
co]. México, UNAM- Instituto de Investigaciones Filosóficas, 2008.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
14 Cfr. Dussel, Enrique, Eduardo Mendieta y Carmen Bohórquez (Eds.) El Pensamiento filosófico
latinoamericano, del Caribe y “latino” (1300-2000): historia, corrientes, temas y filósofos. Mé-
xico, Siglo XXI, 2001.
15 Vázquez, Stella Maris. La filosofía de la educación. Estado de la cuestión y líneas esenciales. p.
19-30
CAPÍTULO 2 : LA FILOSOFÍA DE LA EDUCACIÓN EN MÉXICO: UNA PERSPECTIVA
16 Ibidem. p. 7-8
17 Ibidem.p. 21-23.
18 Ibidem. p. 19-20
19 Recordemos que la “obra cumbre” de John Dewey se llama Democracia y educación pero que
lleva por subtítulo una introducción a la filosofía de la educación. En castellano la traducción
más empleada es la de Lorenzo Luzuriaga.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
20 Velasco, Ambrosio. “Presentación” en Ma. del Carmen Rovira (Coord.) Una aproximación a la
historia de las ideas filosóficas en México… p. 12. Las negritas son mías.
CAPÍTULO 2 : LA FILOSOFÍA DE LA EDUCACIÓN EN MÉXICO: UNA PERSPECTIVA
21 Para tener una visión más completa se sugiere revisar los libros coordinados o compilados por
María del Cármen Rovira Gaspar citados en las obras referidas.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
22 Cfr. DUVERGER, Christian. La conversión de los indios de la Nueva España con el texto de los
Coloquios de los Doce de Bernardino de Sahagún.
23 LEÓN PORTILLA, Miguel. Los sabios o filósofos. In: La filosofía náhuatl estudiada en sus fuen-
tes con nuevo apéndice. p. 63-74.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
29 Xirau, Joaquín. “Filosofía i educación” en Obras completas. T. II. pp. 376 -380. Existe traducci-
ón al castellano en Carmina Galicia Fuentes. Filosofía y educación en Joaquín Xirau. México:
UNAM, 2010. pp. 85-89.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
30 En una nota, agrega lo siguiente que es, sin duda importante: “***El movimiento Analítico
dentro de la Filosofía es la corriente más importante en los Estados Unidos y en Inglater-
ra. Pocos de sus componentes se han ocupado de la FF [sic.], sin embargo, existen trabajos
importantes dentro de esta perspectiva. Esta corriente, en general sólo reconoce la función
analítica de la FE.”
31 Hierro, Graciela “Reflexiones acerca una filosofía de la educación” in Revista de la educación
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
superior.México: ANUIES, VII (4), No. 28. octubre-diciembre 1978. Disponible en el URL: http://
resu.anuies.mx/archives/revistas/Revista28_S1A4ES.pdf
32 Hierro, Graciela. De la domesticación a la educación de las mexicanas. México: Fuego Nuevo,
1989.
33 Hierro, Graciela Filosofía de la educación y género. México: UNAM / Torres Editores, 1997.
CAPÍTULO 2 : LA FILOSOFÍA DE LA EDUCACIÓN EN MÉXICO: UNA PERSPECTIVA
34 Lenkersdorf, Carlos. La lengua tik in: Filosofar en clave tojolabal. México: Porrúa, 2002. pp. 23-
35.
35 Lenkersdorf, Carlos Aspectos de educación desde la perspectiva maya-tojolabal in: Reen-
cuentro, núm. 33, mayo, 2002, pp. 66-74 Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad Xochi-
milco, México
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
Obras referidas
CARMONA, Verónica, Guillermo Hurtado y Cristina Roa. Bibliogra-
fía filosófica mexicana del siglo XX. [recurso electrónico] México,
UNAM- Instituto de Investigaciones Filosóficas, 2012.
archives/revistas/Revista28_S1A4ES.pdf
xicano del siglo XIX y primeros años del XX. México: UNAM, Coor-
dinación de Humanidades, 1997. 3 vols. (Lecturas universitarias; 41)
La educación agropecuaria
superior en Cuba: Tensiones
de concepciones filosóficas de
ciencia y tecnología
70 Introducción
S
i nos remontamos a la Educación Agropecuaria en Cuba du-
rante el periodo colonial (de 1878 a 1902) y neocolonial (de
1902 a 1959) encontraríamos tensiones entre las concepcio-
nes filosóficas de la ciencia y la tecnología de la Escolástica y la
Ilustración. Sin embargo, aquí no vamos tan lejos. El objetivo del
presente capítulo estriba en algunas tensiones relacionadas con la
Educación Superior Agropecuaria de Cuba.
3 Entre 1987 y 1992 este sector ocupa respectivamente el 70 % y el 82,2 % del fondo de tierras
cultivables del país, y cuyas extensiones de monocultivos de caña, arroz, papas, cítricos, ta-
bacos, ganado, etc, que en total promedian entre 13 a 31 mil hectáreas.
CAPÍTULO 3 : LA EDUCACIÓN AGROPECUARIA SUPERIOR EN CUBA: TENSIONES DE CONCEPCIONES
FILOSÓFICAS DE CIENCIA Y TECNOLOGÍA
4 Por ejemplo, los artículos 132, 133 y 134 del Capítulo IX de la Ley No. 81 de Medio Ambiente,
dictada por el Ministerio de Ciencia, Tecnología y Medio Ambiente (CITMA). El Decreto No.
CAPÍTULO 3 : LA EDUCACIÓN AGROPECUARIA SUPERIOR EN CUBA: TENSIONES DE CONCEPCIONES
FILOSÓFICAS DE CIENCIA Y TECNOLOGÍA
259 de 2008 sobre entrega en usufructo de tierras ociosas estipula que los nuevos tenedores
están obligados a realizar prácticas de agricultura sostenible. Agréguese el Decreto de Edu-
cación Ambiental.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
A modo de Conclusión
Pues bien, la filosofía de la educación agropecuaria su-
perior en Cuba se ha venido desarrollando en el contexto de las
transformaciones de la política agraria y la política educacional
dadas las diferentes circunstancias históricas. Un aspecto crucial
ha sido el replanteo de las concepciones sobre ciencia y tecnolo-
gía. Si hasta 1990 el paradigma de la modernización era hegemó-
nico, después se observa su cuestionamiento, dado a la relevancia
del enfoque de la agricultura sostenible.
CAPÍTULO 3 : LA EDUCACIÓN AGROPECUARIA SUPERIOR EN CUBA: TENSIONES DE CONCEPCIONES
FILOSÓFICAS DE CIENCIA Y TECNOLOGÍA
83
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
Referencias Bibliográficas
ALTIERI, Miguel. La paradoja de la agricultura cubana: Reflexiones
agroecológicas basadas en una visita reciente a Cuba Universidad
de California, Berkeley Sociedad Científica Latinoamericana de Agro-
ecología. 2009.
85
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
E
86 sse capítulo tem como objetivo oferecer uma análise do
pensamento educacional de um dos mais destacados e in-
fluentes intelectuais hispano-americanos do século XIX, o
cubano José Julián Martí y Perez (1853-1895). Para tanto, antes de
tudo, cumpre introduzir aqui uma breve nota biográfica de apre-
sentação do nosso autor.
1 CARVALHO, Eugênio Rezende de. América para a humanidade: o americanismo universalista de José
Martí. Goiânia: Editora UFG, 2003. Há uma versão em espanhol: América para la humanidad: el ame-
ricanismo universalista de José Martí. Traducción y revisión: Antonio Corbacho Quintela. Ciudad de
México, DF: UNAM, Centro de Investigaciones sobre América Latina y el Caribe (CIALC), 2012.
2 Nossa fonte básica de investigação constitui-se do conjunto dos escritos publicados nos 27
volumes das Obras Completas de José Martí, editadas em 1975 pela Editorial de Ciências So-
ciais de Havana, além de alguns outros textos inéditos publicados posteriormente, por meio
principalmente das sete edições do Anuario Martiano, publicadas pela Biblioteca Nacional de
Cuba de 1969 até o ano de 1977; e das edições do Anuario del Centro de Estudios Martianos,
que passou a ser editado a partir de 1977, com a fundação do Centro de Estudios Martia-
nos, em Havana-Cuba. Há que se ressaltar que José Martí não produziu nenhum tipo de livro
onde apresentasse sistematicamente suas ideias. Sua obra é constituída por um conjunto
de artigos, resenhas, ensaios para revistas e jornais, discursos, correspondências pessoais e
oficiais-diplomáticas, além dos escritos literários, com destaque para os artigos de imprensa,
os discursos e as cartas.
CAPÍTULO 4 : JOSÉ MARTÍ E A EDUCAÇÃO NA NUESTRA AMÉRICA
3 Para Martí, o único fator limitador possível, e mesmo necessário, à liberdade era a consciên-
cia, sobretudo a consciência do dever, que tinha a função de garantir o seguro e criterioso
exercício da vontade, direcionando-a a fim de assegurar a efetiva liberdade entre os seres hu-
manos. A consciência, como autoconhecimento, como “cidadania do universo”, permitia ao
homem uma posição de protagonismo na sua relação com a natureza, ao orientar as ações
humanas segundo determinados deveres morais.
CAPÍTULO 4 : JOSÉ MARTÍ E A EDUCAÇÃO NA NUESTRA AMÉRICA
4 Ver CARVALHO, 2003, p. 57. É interessante, nesse ponto, observar como Martí abordava a liber-
dade dentro de sua visão da história, relacionando-a com a ciência. Num artigo para a revista La
América, de 1883, ele escreveu: “El siglo XVIII fundó la Libertad: el siglo XIX fundará la Ciencia. Así
no se ha roto el orden natural: y la Ciencia vino después de la Libertad, que es madre de todo”. Na
sequência evolutiva da história, segundo Martí, após a era da liberdade e da ciência, viria a era da
paz, a filha última não nascida da liberdade. Considerava que somente quando o homem, nasci-
do da Revolução Francesa passou a entender e exercitar a liberdade, começou efetivamente a ser
luminoso. Chegou a considerar que a “liberdade ilustrada” era um estado político que detinha o
monopólio de todas as virtudes. Assim, tendia a colocar os dois conceitos de ciência e de liberda-
de como as grandes conquistas históricas mais recentes da humanidade, que teriam introduzido
“alas a la ostra”, constituindo-se em chaves-mestras capazes de abrir as portas do mundo para um
novo e esperançoso futuro. (OC, v. 8, p. 347-348; v. 15, p. 396; v. 6, p. 24)
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
7 MARTÍ, José. Anuario del Centro de Estudios Martianos. Centro de Estudios Martianos, N. 3. La
Habana, 1980, p. 44-49. Assim, a ética de Martí situou o bem e o amor como princípios funda-
mentais reguladores da conduta humana, tanto no plano individual quanto social, ao relevar
o altruísmo e a renúncia em favor do próximo. No geral, sua ética se revestiu de um arraigado
sentido humanista e/ou humanitário, na medida em que situou, condicionou e mensurou os
valores na sua relação de utilidade para a coletividade. O homem, ou melhor, a humanidade,
foi assim, para Martí, a medida de todas as coisas. (CARVALHO, 2003, p. 250)
CAPÍTULO 4 : JOSÉ MARTÍ E A EDUCAÇÃO NA NUESTRA AMÉRICA
8 A afirmação do americanismo martiano não foi acompanhada por uma subestimação do fe-
nômeno patriótico e, especialmente, sua ideia de pátria não se desvinculou de uma perspec-
tiva americanista. Em Martí, ambos conceitos se complementavam. Ele apenas estendeu ao
âmbito continental o mesmo corpo de princípios que formavam a base de seu conceito de
pátria. Seu discurso assumiu, dessa forma, um nítido conteúdo supranacional, de forma que
seu projeto de atribuição de uma identidade americana vinculou-se ao reconhecimento da
existência de uma pátria para além das fronteiras impostas pelos estados nacionais do sub-
continente hispano-americano. Tal qual o seu patriotismo, seu americanismo se apoiou na
consciência do imperativo de se avançar no rumo de uma nova ordem social para a América,
sustentada em determinados princípios morais. Situado entre um nacionalismo extremado,
de viés regionalista, e um cosmopolitismo sem raízes, seu patriotismo manteve-se coerente
com sua visão do mundo e da humanidade, como o grande fomentador das virtudes huma-
nas, como um fator de consciência moral. (CARVALHO, 2003, p. 251)
9 Ver CARVALHO, 2003, p. 134-135.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
12 “A educação consistia, desgraçadamente, nessas terras, em romper nas almas as forças que
nos fazem viver: a dignidade, a liberdade, a coragem”. (Tradução nossa)
13 Ver CARVALHO, 2003, p. 165.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
14 Outro equívoco apontado por Martí no sistema de educação da Nuestra América, ligado ao que já
foi dito sobre a educação puramente literária, seria a existência de uma educação voltada exclu-
sivamente à vida urbana, que não preparava os homens para a vida camponesa, para os ofícios
específicos do campo e da agricultura. (OC, v. 8, p. 369)
15 Anuario del Centro de Estudios Martianos. Centro de Estudios Martianos, N. 2. La Habana,
1979, p. 19-20.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
16 A propósito, em uma carta a La Nación, de Buenos Aires, de 1885, Martí enalteceu a decisão
da Universidade estadunidense de Harvard de ir aproximando a educação universitária da
vida concreta, ao colocar seus alunos comuns mais próximos do alemão e do francês que do
latim e do grego. (OC, v. 10, p. 236)
CAPÍTULO 4 : JOSÉ MARTÍ E A EDUCAÇÃO NA NUESTRA AMÉRICA
18 Tanto que a principal exclusão de seu campo de identidade, a da outra América, se deu exatamen-
te por critérios de ordem ética. Para Martí, a sociedade estadunidense, se não estava mesmo dian-
te de um processo de degeneração moral, tendia a uma visão limitada em relação a determinados
valores e virtudes, que muitas vezes eram bem aceitos no âmbito das fronteiras nacionais mas
CAPÍTULO 4 : JOSÉ MARTÍ E A EDUCAÇÃO NA NUESTRA AMÉRICA
negados para além delas - ou ainda negados internamente para determinados estratos sociais
menos favorecidos e/ou discriminados. (CARVALHO, 2003, p. 253)
19 Dentre essas interpretações da realidade hispano-americana que situavam as raízes de seus ma-
les no confronto entre civilização e barbárie e que, mais do que isso, propugnavam uma negação
completa das raízes culturais e históricas do passado colonial, pela incorporação do paradigma
europeu e norte-americano de civilização, com um viés nitidamente liberal, destacam-se as teses
do político e escritor argentino Domingo Faustino Sarmiento (1811-1888), bastante recorrentes e
influentes nos meios intelectuais à época de Martí. (CARVALHO, 2003, P. 224)
20 Ver CARVALHO, 2003, p. 227.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
25 A propósito, num artigo de 1885, publicado em La Nación, de Buenos Aires, ao tratar do tema
indígena nos Estados Unidos, Martí escreveu: “Que se eduque al indio con conformidad con
sus necesidades y alcances; y se le convenza, y donde sea menester se le compela a aprender
y a trabajar, a lo que acaso, envilecido por su actual género de vida de pupilo ocioso, se resis-
ta. Que el indio vuelva a su alma clara y suba a ciudadano”. (OC, v. 10, p. 326)
26 Ver CARVALHO, 2003, p. 229.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
27 Em 1892, num artigo para Patria, de Nova York, Martí considerou que não haveria razão para
a deplorável e contínua alusão positiva aos brancos e pejorativa aos negros. Para referir-se às
virtudes dos negros – mais difíceis neles por terem vivido mais próximos da servidão –, eles
deveriam ser chamados apenas de negros, como um fato natural. (OC, v. 1, p. 338) Ver ainda
CARVALHO, 2003, p. 229-230.
CAPÍTULO 4 : JOSÉ MARTÍ E A EDUCAÇÃO NA NUESTRA AMÉRICA
30 Uma nova civilização americana que, depurada das nefastas heranças coloniais que retarda-
vam seu progresso e dos falsos conceitos de americanismo que comprometiam a liberdade
de outros povos do continente, buscava, enfim, entre erros e tropeços, trilhar seu próprio
caminho, contando apenas com suas próprias forças, com suas próprias mesclas. É nesse
sentido que entendemos que o discurso martiano tendeu a extrapolar e superar os estreitos
limites impostos pelas análises da realidade americana pautadas no contraponto civilização
e barbárie. (CARVALHO, 2003, p. 233)
CAPÍTULO 4 : JOSÉ MARTÍ E A EDUCAÇÃO NA NUESTRA AMÉRICA
Referencias Bibliográficas
ANUARIO DEL CENTRO DE ESTUDIOS MARTIANOS. La Habana: Centro
de Estudios Martianos, a partir de 1977.
111
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
Rodó y la educación
MAURICIO L ANGON
Introducción
R
odó escribió “Ariel” en 1900. Ese escrito impactó en toda
nuestra América. Sacudió las aguas estancadas en que flo-
taban tantos hombres de letras, conmovió conciencias y
movió a la acción. Ahora -fuera de grupos especializados o im-
pactos renovados de su obra en algunas personas- se lo lee muy
112 poco. Sin embargo, el hecho de que se hayan cumplido este año
cien años de su muerte, ha motivado la realización de eventos
académicos que, entre otros méritos, tuvieron la virtud promo-
ver un diálogo interdisciplinario desde Rodó. Mi intención aquí es
presentar algunos puntos en debate entre Rodó y la problemática
educativa actual.
1 “Alta en el cielo un águila guerrera, audaz se eleva en vuelo triunfal”, son los primeros versos
de la canción u oración a la bandera argentina, que se canta en todas las escuelas del país.
Es un aria de la ópera “Aurora” de Héctor Panizza, con la cual se inauguró el Teatro Colón de
Buenos Aires, en 1908. La letra sigue la orientación rodoniana, pero asumida como bandera
de un país.
CAPÍTULO 5: RODÓ Y LA EDUCACIÓN
2 Calibán y Ariel, así como Própero, son personajes de la tragedia de Shakespeare La Tempes-
tad utilizados por Rodó.
3 Es decir, leído hoy: por los nuestros. En el texto el “nosotros” es un grupo de veteranos profe-
sionales de las letras que ha perdido el entusiasmo por los antiguos que tuvo en su juventud.
4 “Albatros”, En Rodó, J.E.: Los últimos motivos de Proteo, Montevideo, Serrano; Buenos Aires,
Menéndez, 1932. Prólogo de Dardo Regules.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
5 Silva Censio, Jorge A. : “Introducción” en Uruguay. Cámara de Senadores: José Enrique Rodó;
actuación parlamentaria. Montevideo, 1972.
6 No digo que no haya que hacer ese tipo de cosas. Digo que está fuera de mis posibilidades.
7 Mabel Quintela solía decir - respecto a ideas de Vaz Ferreira - que forman parte de nuestra
uruguayez. Lo mismo, quizás, podría decirse en referencia a Rodó; y a no muchos más Maes-
tros.
CAPÍTULO 5: RODÓ Y LA EDUCACIÓN
El que vendrá
Finalizando el siglo XIX nuestro autor lo juzga: “El desper-
tar del siglo fue en la historia de las ideas una aurora, y su ocaso en
el tiempo, es, también, un ocaso en la realidad” (RODÓ, 1896).
115
Se ubica en la realidad con metáforas que analogizan
(o identifican) periodizaciones convencionales a procesos natu-
rales. Desde antiguo y en todas partes sigue presente esa ilusoria
tentación de dar sentido a los acontecimientos atribuyendo pode-
res mágicos a notaciones temporales artificiales, pensando así las
historias, culturas y la humanidad en su conjunto como si fuera
regida por ciclos cósmicos reiterativos (diarios, anuales) o biológi-
cos (vida, muerte; juventud, madurez, senectud).
8 Ver más abajo la tensión de estas ideas con la de dos “Humanidades” convivientes lado a
lado, pero alejadas.
9 Citas respectivamente de Hugo y de Vigny.
CAPÍTULO 5: RODÓ Y LA EDUCACIÓN
fuma), nos parecen triunfales”. Y señala que más y mejor “los que
llevan la voz del pensamiento contemporáneo podrían llorar, en
nuestro ambiente, privado casi de calor y de luz”.
11 Este punto puede confrontarse con mi análisis de un pasaje de El Quijote. (LANGON, 2017,
22-28)
CAPÍTULO 5: RODÓ Y LA EDUCACIÓN
La despedida de Gorgias
Rodó trabaja en varias partes de su obra la relación ma-
estro-discípulo. En este punto, creo, están sus mejores aportes a
la educación. El texto que seleccioné es el célebre brindis de Gor-
130 gias, “inmortalizado” en bronce en el Parque Rodó de Montevideo:
“Por quien me venza con honor en vosotros”,
13 Sí; la “comunidad científica”: con sus pares, sus profesores, sus investigadores, sus escritores
de papers, sus aprendices, con reglas que garantizan (al modo de las normas técnicas) una
producción de verdad indiscutible (quizás llamada conocimiento), una acumulación de bie-
nes, una aproximación al conocimiento absoluto, un avance, un progreso ilimitados.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
A modo de inconclusión
¿Rodó educador?
Referencias Bibliográficas
BAUMAN, Zygmunt. “Es tiempo de precariedad”. Entrevista a Zygmunt
Bauman de Daniel Gamper. Portal de filosofía internáutica. 14/05/04.
PLATÓN, Fedro
PLATÓN, Fedón
RODÓ, José Enrique. Bosquejos para los nuevos motivos de Proteo, 1927
138
CAPÍTULO 6: ENRIQUE DUSSEL E A PEDAGÓGICA NA FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO
DANIEL PANSARELLI 1
Introdução
S
ão muitas as expressões contemporâneas da filosofia latino-
-americana2, assim como o são as da própria filosofia brasi-
leira3. No território hispano-americano, todavia, já não resta
dúvidas quanto ao destacado papel que ocupa a Filosofia da Li- 139
bertação no contexto filosófico. Ao lado – para não dizer “antece-
dendo” – movimentos que ganham agora contornos mais claros e
mais destacados, tais como o Pensamento Decolonial e a Filosofia
Intercultural, a Filosofia da Libertação tem presença firmada em
diversos países do continente, destacando-se pelas associações de
pesquisadores4, pela vasta produção teórica e pelo diálogo direto
com movimentos sociais representativos5.
1 Filósofo, Doutor em Educação pela USP. Professor na Universidade Federal do ABC (UFABC).
2 Um panorama dessa diversidade é apresentado por Euclides Mance em Uma introdução con-
ceitual às filosofias de libertação (2016).
3 Permanece bastante atual o levantamento feito por Antônio Joaquim Severino em A filosofia
contemporânea no Brasil (1999).
4 Dentre outras entidades, considere-se a Asociación de Filosofía y Liberación (AFyL), presente
em diversos países do continente latino-americano. No Brasil, também dentre outras, veja-se
o Instituto de Filosofia da Libertação (IFiL) e, mais recentemente, o Grupo de Trabalho “Filo-
sofia Latino-americana, Filosofia da Libertação e Pensamento Descolonial’, da ANPOF.
5 A título de exemplificação, veja-se de Enrique Dussel a Carta a los indignados (2011).
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
6 Uma síntese da controversa foi registrada por Jesus Eurico Regina, em seu artigo Filosofía
latinoamericana (2000).
7 Entendo que a produção madura de Dussel compreende as obras do campo da ética e da
política produzidas a partir de 1492 – O encobrimento do outro. Entendo, ainda, que não haja
algum tipo de ruptura entre as fases do pensamento dusseliano. Antes, parece que as obras
iniciais oferecem os subsídios para sua construção mais recente, como procurei demonstrar
em Filosofia latino-americana: a partir de Enrique Dussel (PANSARELLI, 2015).
CAPÍTULO 6: ENRIQUE DUSSEL E A PEDAGÓGICA NA FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO
8 Coleção publicada a partir de 1973. A partir do terceiro volume, passou a receber o título de
Filosofía ética latinoamericana.
CAPÍTULO 6: ENRIQUE DUSSEL E A PEDAGÓGICA NA FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO
Essa arquitetônica reflete uma vez mais aquilo que estava sendo
plantado nas bases Para uma ética da libertação: após tratar de
diversos níveis de reflexão no capítulo inicial, em percurso que vai
“da fenomenologia à libertação”, o autor localiza política, erótica
e pedagógica no segundo capítulo, rumo ao antifetichismo, num
caminho que “ganha assim em complexidade e nos permite ascen-
der à realidade de uma maneira mais concreta” (p. 87).
11 Sobre a concepção antropológica dusseliana, ver A vida humana e seu modo de realidade:
corporabilidade em comunidade (PANSARELLI, LIMA, 2017).
CAPÍTULO 6: ENRIQUE DUSSEL E A PEDAGÓGICA NA FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO
Referencias Bibliográficas
AMES, J. L. Liberdade e libertação na ética de Dussel. Campo Grande:
CEFIL, 1992.
153
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
N
ão é de hoje que se discute o papel da Filosofia da Edu-
cação na formação do professor, visando um profissional
comprometido com uma prática libertadora “em direção à
utopia da liberdade humana”. No entanto, junto a esta preocupa-
ção: de o que oferecer ao professor em seu processo de formação,
154
a Filosofia da Educação vê se diante do risco de supressão deste
agente social, pois,
I
Anibal Noberto Ponce Speratti nasceu em Buenos Aires
em 6 de junho de 1898 no seio de uma família portenha de classe
média (seu pai era escrivão e sua mãe professora) e viveu sua ju-
ventude e adolescência na pequena cidade de Dolores, onde fez
seus estudos elementares. Transferiu-se, para os estudos secun-
dários, ao Colégio Nacional Central da capital argentina, ingres-
sando em seguida na Faculdade de Medicina, que abandonou no
156 3º ano, sem completar o curso. Seus primeiros passos nas letras
deu-se ainda criança de forma autodidática, primeiramente como
ensaísta e depois como filósofo, historiador e cientista. Em 1917,
colabora na revista Nosotros, dirigida por Alfredo Bianchi. Em
1920, Ponce conhece Jose Ingenieros, que o influenciou profun-
damente, moldando sua mentalidade liberal-positivista. Com a
morte de Ingenieros em meados dos anos 20, Ponce aproxima-se
do materialismo dialético que abraça como ferramenta de analise
histórica, após visita à então União Soviética.
II
“Lo que caracteriza a Educaciòn y lucha de clases es
la rigurosa y metódica exposición del medio en que el hombre se 159
educa e instruye.” (TROISE, 9).
Em síntese,
III
O conhecimento tem sempre um caráter de classe, é
sempre um conhecimento de classe. Por isso, ele tem na posição
de classe do sujeito que conhece uma condição necessária (mas
não suficiente) da verdade. (CUNHA, 1977, p. 17)
De tal forma,
IV
Acreditamos, como o professor Antonio Joaquim Severi-
no que a formação do professor deve considerar qual o sentido do
homem em sua comunidade em seu momento histórico. E que
Referencias Bibliográficas
ARPINI, Adriana. El humanismo en los ensayos de Anibal ponce: alcan-
ces y limitaciones. El pensamiento latinoamericano del siglo XX ante
la condición humana: Argentina. in: http://www.ensayistas.org/criti-
ca/generales/C-H/argentina/ponce.htm - Último acesso 07/09/2014
168
CAPÍTULO 8: HÁ UMA FILOSOFIA LATINO-AMERICANA? A QUESTÃO POSTA POR SALAZAR BONDY
“
¿Existe una filosofía de nuestra América?”, pergunta Augusto
Salazar Bondy ao que responde Leopoldo Zea
I
Salazar Bondy problematiza o pensamento qualificado
pelo próprio autor como hispano-americano e levanta três ques-
tões: 1. houve um pensamento hispano-americano1 e, tendo havi-
do, essa filosofia pode ser reconhecida como uma filosofia original,
genuína ou peculiar?; 2. considerando-se uma resposta negativa,
quais são as condições para que a filosofia hispano-americana se
torne autêntica e original?; 3. como o hispano-americano pode ser
um problema filosófico e qual o seu papel na construção de uma
filosofia própria de Nuestra América?
1 Salazar Bondy, na Introdução do livro ¿Existe una filosofía de nuestra América? afirma incluir
na categoria hispano-americano, para efeito de suas reflexões, o Brasil e o conjunto dos ou-
tros países da América Latina que não foram colonizados pela Espanha.
CAPÍTULO 8: HÁ UMA FILOSOFIA LATINO-AMERICANA? A QUESTÃO POSTA POR SALAZAR BONDY
II
178
A colonização, nas palavras de Saviani (2010, p. 26), sig-
nifica que não apenas as terras são ocupadas, mas também seus
habitantes são tomados, subjugados, submetidos ao trabalho, ou
seja, tomados como mão de obra e no sentido da aculturação. O
processo de colonização ou aculturação opera no sentido da su-
jeição desses sujeitos históricos, resultando em seu silenciamen-
to. A expansão europeia, principalmente pelas ações das coroas
espanhola e portuguesa, que marca os séculos XV e XVI alinha
interesses tanto da nobreza quanto da burguesia, além de ampliar
os domínios da própria igreja católica. A Europa torna-se modelo
de processo civilizatório às custas da violência, da educação, da
catequese. A formação estava nas mãos dos jesuítas com fito à “su-
jeição dos gentios, sua conversão à religião católica e sua confor-
mação disciplinar e intelectual à nova situação” (SAVIANI, 2010, p.
44) de colonizados. Começava a “vida civilizada” no Mundo Novo e
também, um epistemicídio.
CAPÍTULO 8: HÁ UMA FILOSOFIA LATINO-AMERICANA? A QUESTÃO POSTA POR SALAZAR BONDY
III 183
É possível estender e ao mesmo tempo especificar a per-
gunta: há uma filosofia brasileira?
187
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
Referencias Bibliográficas
DUSSEL, E.; MENDIETA, E.; BOHÓRQUEZ, C. El pensamiento filosófico
latinoamericano, del Caribe y “latino” (1300-2000): historia, cor-
rientes, temas y filósofos. México: Siglo XXI: Centro de Cooperación
Regional para la Educación de Adultos en América Latina y el Caribe,
2009.
189
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
J.E. ROMÃO 1
1. Introdução
N
o convite para tratar do pensamento filosófico dos povos
que habitavam a América Latina antes do século XV da era
cristã, eles foram qualificados de “povos originários”. Des-
culpando-me com os organizadores da coletânea e já introduzindo
a discussão que constitui o cerne desse capítulo, que é o resgate
190 de conhecimentos alternativos (no sentido de diferentes), que se
perderam em um passado remoto e que devem ser recuperados
para a solução de problemas da humanidade ainda não resolvidos,
gostaria de apresentar três justificativas por ter alterado os objeti-
vos e as denominações propostas.
1 Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP); Diretor Fundador do Instituto
Paulo Freire do Brasil; Presidente do Conselho Mundial dos Institutos Paulo Freire, Diretor
e Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Nove de Julho
(PPGE-Uninove) de São Paulo. E-mail: jer@terra.com.br.
CAPÍTULO 9: “FILOSOFIA” DE POVOS ANCESTRAIS LATINO-AMERICANOS
5 A expressão foi cunhada por Michel Chevalier, em 1836. Derivou, certamente, de uma elabo-
ração europeia prévia que contrapunha a Europa Meridional “latina” à Europa do Nórdica,
“anglo-germânica”. Mais tarde, para justificar a aventura francesa no México, com o efêmero
império de Maximiliano (1963-1867), a expressão foi retomada pragmaticamente pelos fran-
ceses.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
2. Colonização e Colonialidade
Carlos Piñeiro Iñiguez, no prólogo da importante obra
Pensadores latino-americanos del siglo XX, afirma:
6 As citações em idiomas estrangeiros serão traduzidas pelo autor deste capítulo e as inter-
polações, eventualmente necessárias para a melhor compreensão do texto, serão inseridas
entre colchetes. Assim, segue-se a primeira citação estrangeira traduzida: “Por cierto, sigue
siendo la cantinela [de la globalización neoliberal] más escuchada de las regiones del Pla-
neta, pero en Nuestra América condujo a tales fracasos que no parece casual que se quiera
oír otras voces, así sean aquellas que nos vienen del pasado que, según nos proponían los
voceros del fin de la historia, bien enterrado estaba (2014, p. 15)”.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
7 “... nuestras sociedades emancipadas eran controladas por elites, por oligarquías, que fun-
gían como un enclave antinacional y privilegiado inscripto en un cuerpo social miserable, y
restringían el acceso de las mayorías populares a la ciudadanía que proclamaban con gran
liberalidad nuestras constituciones”.
8 Na infeliz expressão de Thomas Kuhn (1995).
CAPÍTULO 9: “FILOSOFIA” DE POVOS ANCESTRAIS LATINO-AMERICANOS
9 Décio Saes tem uma explicação mais detalhada sobre a conjuntura da “semi-colonização”, na
obra A formação do Estado Burguês no Brasil (1888-1891) (1985, p. 96 e seguintes).
10 A “diplomacia” do Big Stick (em português, “grande porrete”) foi a política externa dos Esta-
dos Unidos sob a presidência de Theodore Roosevelt (1901-1909). A expressão foi inspirada
no provérbio africano: “Fala com suavidade e carrega um grande porrete; assim, irás longe”.
O presidente criaria ainda o Corolário Roosevelt, como uma extensão da Doutrina Monroe:
“América para os americanos”... do Norte, poder-se-ia acrescentar. Ainda no seu governo,
entrou em vigor a Emenda Platt, anexa à constituição da recém independente Cuba, que
permitia aos Estados Unidos intervir no país, caso seus interesses fossem ameaçados na
ilha. Outra intervenção na América Central ocorreu no Panamá, cuja independência, favo-
recida pelos Estados Unidos, teve como contrapartida o controle do canal homônimo, até
1999. Apesar das intervenções e dos saques nos países dominados, sem falar na anti-diplo-
macia, Theodore Roosevelt ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Os presidentes subsequentes
agiram da mesma forma.
11 Com o argumento da força ou com a força do argumento, a maioria dos países latino-ame-
ricanos alinharam-se com os Estados Unidos e esse alinhamento manteve-se, no Brasil, até
o primeiro Governo Lula. Corre uma história de que o Presidente Franklin Delano Roosevelt,
que usou uma diplomacia mais light, teria dito, quando em visita ao Brasil, em 27 de no-
vembro de 1936: “Despeço-me esta noite com grande tristeza. Há algo, no entanto, que devo
sempre lembrar. Duas pessoas inventaram o New Deal: o Presidente do Brasil e o Presidente
dos Estados Unidos”. O New Deal foi um programa voltado para as políticas sociais públicas,
que foram também desenvolvidas por Getúlio Vargas.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
14 Serge Gruzinski é um pesquisador francês que tem se dedicado à análise dos cruzamen-
tos culturais entre os espanhóis e os habitantes do altiplano mexicano, desde o século XVI.
Embora se proponha a fazer uma generosa crítica à colonialidade, Gruzinski não conseguiu
escapar de uma perspectiva hegemônica, acabando por fazer uma crítica eurocêntrica do
eurocentrismo nas duas obras em que trata mais especificamente do tema (2003 e 2011).
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
15 O autor aqui se refere ao primeiro período da história da civilização náhuatl, cuja periodiza-
ção compreende os seguintes marcos cronológicos: (i) Período Pré-Clássico (1.000 a.C.-1d.C),
com predomínio do olmecas, que já se espalhavam pelo planalto mexicano desde o neolítico
e que desenvolveram os primórdios da civilização náhuatl: (ii) Período Clássico (400 d.C.-600
d.C.), com o esplendor de Teotihuacan, dos centros maias e de Oaxaca e (iii) Período Pós-
-Clássico (1.000 d.C. -1500d.C).
CAPÍTULO 9: “FILOSOFIA” DE POVOS ANCESTRAIS LATINO-AMERICANOS
Figura 1
1.1 TRIGRAMAS
Figura 2
16 “Se não há documentos escritos, não há história”, dizem os franceses quando abordam o
processo civilizatório.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
Considerações Finais
É evidente que todo processo de colonização apresenta
suas singularidades, suas especificidades históricas, não caben-
do colocá-los todos dentro dos parâmetros de uma mesma matriz
colonizadora. Desse modo, quando se fala em “empresa colonial
europeia”, que inaugurou a modernidade e sua contra-face, a
colonialidade, nem todos os colonizadores se comportaram da
mesma forma em relação aos colonizados. No caso específico
da colonização das colônias americanas, a dominação colonial
apresentou variações de acordo com o propósito dos colonos,
CAPÍTULO 9: “FILOSOFIA” DE POVOS ANCESTRAIS LATINO-AMERICANOS
213
17 Tanto o conceito de “situação limite” quanto o de “inédito viável” foram desenvolvidos por
Paulo Freire, especialmente em Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do
oprimido (1992).
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
Referencias Bibliográficas
DUSSEL, Enrique. Ética da Libertação na idade da globalização e da ex-
clusão. 2. ed. Petrópolis RJ: Vozes, 2002.
______. The wretched of the world. New York: Grove Press, 2004.
Decolonialidade e emancipação:
o caráter interpelativo e
dialógico do pensamento andino
MANUEL TAVARES
SANDRA GOMES
Nota introdutória
E
ste texto é uma reflexão sobre o pensamento andino e seus
princípios epistemológicos e éticos que, do nosso ponto 217
de vista, constituem uma verdadeira interpelação ao pen-
samento ocidental, dominante durante séculos. Questiona-se se
existe um pensamento filosófico latinoamericano que não esteja
contaminado pelo ocidentocentrismo. Defendemos neste texto a
tese de que o pensamento latinoamericano, apesar de todas as in-
fluências ocidentais se move, atualmente, no âmbito do desejo de
libertação de um passado de dominação colonial e neocolonial
e, ao mesmo tempo, que se afirma pela invenção e pela desco-
berta, resgatando culturas e saberes originários que caracterizam
as identidades dos povos latinoamericanos. Um pensamento novo
contra todas as formas de dominação e de exclusão, um pensa-
mento aberto às múltiplas influências de outras culturas, eman-
cipatório e promotor da dignidade humana. Todo o pensamento
se caracteriza pela sua incompletude. O pensamento ocidental
afirmou-se como hegemónico e invisibilizou as alteridades cultu-
rais e epistemológicas pela imposição de uma uniformidade lin-
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
2 O conceito de colonialiadade de Anibal Quijano (2009, p. 73) representa “[...] a parte invisível
e constitutiva da modernidade […] é um dos elementos constitutivos e específicos do pa-
drão mundial do poder capitalista”. Este conceito de colonialidade, conceito mais profundo
e duradouro do que o de colonialismo, embora engendrado dentro deste último, está ligado,
primordialmente, ao poder político e económico, estende-se ao próprio conhecimento como
imposição e resultado das consciências colonizadas, das relações intersubjetivas de domina-
ção, abarcando, ainda, a relação dos seres humanos com a natureza, consigo próprios e com
os outros, as noções de corpo, género e sexualidade (TAVARES, 2014).
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
4 Afirmação duvidosa dado que os grandes princípios sistematizados pelos gregos originaram-
-se no chamado Médio Oriente, particularmente na Índia e na China.
CAPÍTULO 10: “DECOLONIALIDADE E EMANCIPAÇÃO: O CARÁTER INTERPELATIVO
E DIALÓGICO DO PENSAMENTO ANDINO
5 “Os topoi são os lugares comuns retóricos mais abrangentes de determinada cultura. Fun-
cionam como premissas de argumentação que, por não se discutirem, dada a sua evidência,
tornam possível a produção e a troca de argumentos” (SANTOS, 2004, p. 341).
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
6 O conceito de colonialidade pertence a A. Quijano (2005) e é definido por ele como a face
oculta e perversa da modernidade que invade todos os domínios: poder, mentes, conheci-
mento, género, ser, sexualidade, economia. Não se identifica com a colonização, mas é uma
consequência dela.
CAPÍTULO 10: “DECOLONIALIDADE E EMANCIPAÇÃO: O CARÁTER INTERPELATIVO
E DIALÓGICO DO PENSAMENTO ANDINO
8 De acordo com Canclini (2008, p. XIX) hibridação é “um conjunto de processos socioculturais
nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam
para gerar novas estruturas, objetos e práticas.” Considera o autor que as estruturas deno-
minadas discretas foram, elas próprias, o resultado de hibridações e, por isso, não poderão
ser consideradas fontes puras. Canclini parte do pressuposto de que, em nenhum momento
histórico, existiram culturas puras.
CAPÍTULO 10: “DECOLONIALIDADE E EMANCIPAÇÃO: O CARÁTER INTERPELATIVO
E DIALÓGICO DO PENSAMENTO ANDINO
Notas inconclusivas
O texto que acabamos de escrever pretende ser uma pri-
meira abordagem ao pensamento andino a partir dos seus prin-
cípios epistemológicos, ontológicos e éticos que constituem uma
verdadeira interpelação ao pensamento ocidental, sobretudo o eu-
ropeu, ainda dominante na América Latina.
242
CAPÍTULO 10: “DECOLONIALIDADE E EMANCIPAÇÃO: O CARÁTER INTERPELATIVO
E DIALÓGICO DO PENSAMENTO ANDINO
Referencias Bibliográficas
CANCLINI, Nestor García. Culturas Híbridas: Estratégias para entrar e
sair da modernidade. São Paulo: USP, 2008.
______. La letra con sangre no entra… Apuntes sobre una educación in-
tercultural y descolonizadora. In: MENDIZABAL CABRERA, Christian 243
et al. Interculturalidad y educación superior: Desafios de la diversidad
para un cambio educativo. Buenos Aires: Biblos, 2013b. p. 205-232.
Posições decolonizantes
no pensamento filosófico-
educacional no Brasil
Introdução
A
246 visão tradicional do filosofar como modalidade de pensar
sob a perspectiva da universalidade, que sempre predo-
minou em nossos meios acadêmicos em decorrência de
nossa vinculação cultural ao mundo europeu, vem sendo ques-
tionada por muitos pensadores, particularmente por pensadores
latino-americanos, africanos e asiáticos, que se conscientizam do
eurocentrismo dessa proposta filosófica e questionam sua univer-
salidade e hegemonia. (GUHA,1983; MIGNOLO, 2003, 2007; SAID
4 Este termo será desenvolvido mais adiante, no entanto, cabe ressaltar que, incialmente, foi
cunhado por Walter Mignolo como “descolonialidade”, adquirindo esta nova ortografia a par-
tir da contribuição de Catherine Walsh para o Grupo Modernidade/Colonialidade.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
253
11 Sociólogo venezuelano, professor da Universidade Central da Venezuela e um dos principais
organizadores do Fórum Mundial de 2006 em Caracas. Tem participação na obra coletiva La
Colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales.
12 Antropólogo colombiano-americano. Interessa-se por pesquisas relacionadas à ecologia
política, antropologia do desenvolvimento, aos movimentos sociais e ao desenvolvimento
político da América Latina. Idealizador da Teoria Crítica do Desenvolvimento.
13 Argentino naturalizado mexicano é filósofo, historiador e teólogo. Internacionalmente conhe-
cido por seu trabalho no campo da ética, da filosofia política, da filosofia da América Latina
e, principalmente, como fundador da Filosofia da Libertação.
14 Sociólogo e teórico político peruano foi o mentor do conceito Colonialidade do Poder e de-
fensor da ideia de raça como uma categoria mental da modernidade.
15 Antropólogo venezuelano, contribuiu com estudos relacionados à política do petróleo na Ve-
nezuela.
16 Professora titular e diretora do doutorado em Estudos Culturais Latino-americanos da Univer-
sidade Andina Simón Bolivar. Americana de nascimento tem uma longa trajetória de assesso-
ria aos movimentos indígenas e afrodescendentes na América Latina. Propôs a reformulação
da conotação descolonial para a decolonial.
17 Licenciado em direito pela Universidade de Coimbra e doutor em Sociologia do Direito por
Yale. Um dos fundadores da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, tornou-
-se referência ao organizar a obra coletiva Epistemologias do Sul e ao desenvolver conceitos
como Ecologia do saber, Pensamento Abissal, Epistemicídio, Sociologia das ausências e So-
ciologias Emergentes.
18 Professor do Departamento de Estudos Latinos e do Caribe Hispânico da Universidade Rut-
gers, New Jersey e Presidente da Associação Caribenha de Filosofia.
19 Sociólogo estadunidense, especializou-se em assuntos da África pós-colonial, sendo o prin-
cipal articulador da Teoria do Sistema-Mundo e uma das principais referências teóricas dos
movimentos antiglobalização. Reconhecido pela obra O sistema mundial moderno (1990).
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
20 Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) nasceu no Recife, foi educador, pedagogo e filósofo.
Revolucionou o pensamento pedagógico brasileiro com a obra Pedagogia do Oprimido que o
projetou como um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial. Foi agra-
ciado com o título de Patrono da Educação Brasileira. Desenvolveu e coordenou numerosas
iniciativas de educação popular em diversas regiões da América Latina e da África, tornando-
-se uma referência internacional no campo da educação.
CAPÍTULO 11: “POSIÇÕES DECOLONIZANTES NO PENSAMENTO
FILOSÓFICO-EDUCACIONAL NO BRASIL
21 Configuram-se como determinações históricas que exigem, do ser humano, adaptação in-
questionável. Em alguns momentos são percebidas como obstáculos ou fronteiras que deli-
mitam o ser e o nada, o ser e o ser mais.
22 Consiste em algo que ainda não é, mas que pode vir a ser pela superação das situações limites.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
23 Luciana Maria de Aragão Ballestrin é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Ciência Política também pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Cursou parte do doutorado em Ciência Política no Centro de Estudos
Sociais (CES) da Universidade de Coimbra em Portugal concluindo-o na Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG). Atua como Professora Adjunta III de Ciência Política do Curso de Re-
lações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade
Federal de Pelotas. Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase nas áreas: Teoria
Política e Democrática Contemporânea, Teorias do Sul, Estudos pós-coloniais e de-coloniais,
Sociedade Civil e Violência, Sociedade Civil Global e Controle de Armas (Small Arms and Light
Weapons). Membro da Associação Brasileira de Ciência Política.
CAPÍTULO 11: “POSIÇÕES DECOLONIZANTES NO PENSAMENTO
FILOSÓFICO-EDUCACIONAL NO BRASIL
24 José Eustáquio Romão é graduado em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora e
Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, é diretor e professor
do Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Nove de Julho (Uninove), São
Paulo, onde coordena o Grupo de Pesquisas Freirianas em Educação (GRUPEFREI). Principais
obras: Poder local e educação (1992); Avaliação dialógica (!998); Dialética da diferença (2000);
Pedagogia dialógica (2002) e Sistemas Municipais de Educação: A Lei de diretrizes e Bases e a
Educação no Município (2010).
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
25 Natural de Montes Claros (MG) antropólogo, escritor e político dedicou-se às questões indíge-
nas e à educação brasileira. Advogava em defesa da identidade latino-americana influencian-
do vários estudiosos latino-americanos. Obra de destaque: O Povo Brasileiro.
26 Natural de Sainte-Marie na Martinica foi um escritor, poeta, romancista, teatrólogo e ensaísta.
Aproximou-se das ideias de Frantz Fanon, cujas obras foram inspiradas pelas lutas dos movi-
mentos de libertação colonial por mais de quatro décadas.
27 Nascido na Palestina é considerado importante intelectual, crítico literário e ativista da causa
palestina. Principais influências: Antonio Gramsci, Frantz Fanon, Aimé Césaire, Michel Fou-
cault e Theodor Adorno.
28 Romão esclarece o uso da expressão “razões alternativas” alertando para o cuidado de não
traduzir como algo que se contrapõe àquilo que já existe, baseando-se, assim, em referenciais
pré-existentes.
CAPÍTULO 11: “POSIÇÕES DECOLONIZANTES NO PENSAMENTO
FILOSÓFICO-EDUCACIONAL NO BRASIL
29 O termo é aqui apresentado como no original em espanhol. No decorrer do texto haverá mo-
mentos em que aparecerá traduzido para o português “crioulização”.
CAPÍTULO 11: “POSIÇÕES DECOLONIZANTES NO PENSAMENTO
FILOSÓFICO-EDUCACIONAL NO BRASIL
30 Graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestre em Direito pela
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, doutora em Direito pela Universidade do Vale do Rio
dos Sinos, com período de estágio doutoral na University of London (Birkbeck College) onde
concluiu o pós-doutorado. Atualmente é professora do Programa de Pós-graduação e Gradu-
ação em Direito da Unisinos e Coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos da Unisinos.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
Considerações finais
O presente ensaio trafegou por articulações teóricas empe-
nhadas no questionamento da tradição epistemológica vigente na
sociedade latino-americana como se tivesse valor universal. Esse
questionamento resulta da percepção do teor não puramente filo-
sófico dessa tradição, que carrega em seu cerne articulações episte-
mológicas propagadoras e disseminadoras da lógica eurocentrada
ocidental como ferramenta essencial de conhecimento do mundo.
284
Empenhados em manter o domínio sobre as terras coloni-
zadas, os colonizadores não pouparam esforços para conduzir todo
o processo “civilizatório” pautando-se nas epistemologias e no mo-
dus vivendi que lhes eram próprios. Nesse sentido, a colonização
causou irrevogáveis supressões de saberes originários, declarando
o desaparecimento de conhecimentos singulares relativos a inúme-
ras sociedades que se viram subjugadas e alocadas a uma realidade
dissociada da compreensão originária sobre a própria realidade.
Referencias Bibliográficas
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro descolonial. Revista
Brasileira de Ciência Política. Brasília, n. 11, p. 89-117, ago. 2013.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 18. ed. Rio de Ja-
neiro: Paz e Terra, 1983.
ROMÃO, José Eustáquio. Pedagogia dialógica. São Paulo: Cortez; IPF, 2002.
Sobre os autores
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Daniel Pansarelli
É professor da Universidade Federal do ABC, sendo seu
atual Secretário-Geral. Docente no Programa de Pós-Graduação
em Filosofia e nos cursos de graduação em Filosofia (bacharelado
e licenciatura) e em Ciências e Humanidades (bacharelado). Foi
Pró-reitor de Extensão e Cultura (2014-2018), coordenou o Bacha-
relado em Filosofia (2011-2012), a Licenciatura em Filosofia (2012-
2013) e foi vice-coordenador do Bacharelado em Ciências e Hu-
manidades (2013-2014). Coordenou também o Colégio de Extensão
(COEX) da Andifes (2016-2018) e foi presidente nacional do Fórum
de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasilei-
ras (Forproex) (2017-2018). É filósofo, doutor em Educação, área
Filosofia e Educação, pela FEUSP. Atua principalmente em temas
relacionados a: ética e filosofia política; filosofia moderna e con-
SOBRE OS AUTORES
Eduardo Freyre
É pesquisador colaborador do do Grupo de Pesquisa Filo-
sofia e Educação/Educogitans do PPGEFURB. Doutor em Ciências
Filosóficas e Licenciado em Filosofia pela Universidade de Mos-
cú, Rússia; Pós-doutor em Educação pela FE/UNICAMP. E.mail:
freyre.roach2016@gmail.com 295
Maurício Langon
É professor de Filosofía (Instituto de Profesores Artigas,
Uruguay). Realizou seus estudos de Filosofía na Universidad del
Salvador, Argentina, no Instituto Magisterial Superior, Uruguay,
e na UNED, Madrid. Ministra seminarios e orienta teses de mes-
trado na Universidad de la República e no IPES (Instituto de Per-
feccionamiento y Estudios Superiores). Atuou como professor e
inspector de Filosofía da Educacão Secundaria (Uruguay); foi pro-
fessor nas universidades de la República (Uruguay), Morón y del
Salvador (Argentina) e no Instituto de Professores Artigas (IPA,
Uruguay). Foi presidente da Asociación Filosófica del Uruguay e
miembro fundador do Filosofar Latinoamericano” e do“Corredor
de las Ideas.”Ganhou o Premio Nacional Morosoli en Filosofía.
E.mail: mlangon@gmail.com
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Ofélia Maria Marcondes
É doutora e mestre em Filosofia da Educação pela Uni-
versidade de São Paulo – USP; bacharel em Filosofia também
pela Universidade de São Paulo – USP; licenciada em Pedagogia
pela Universidade de Mogi das Cruzes – UMC; professora de
Filosofia da Educação no Instituto Federal de São Paulo – IFSP;
pesquisadora junto ao GRUPEFE – Grupo de Pesquisa e Estudo
em Filosofia da Educação, trabalhando no campo da Filosofia
e da Filosofia da Educação. Faz estágio de pós-doutorado jun-
to ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da UNINOVE.
E.mail: ofelia.marcondes@gmail.com
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA AMERICA LATINA APROXIMAÇÕES, PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS
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Sandra Gomes
Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação
em Educação (PPGE) da Universidade Nove de Julho (UNINOVE).
Defendeu a sua dissertação sobre Formação Continuada de Pro-
fessores da Educação Superior, especificamente da Universidade
Federal do ABC. Doutoranda em Educação no Programa de Pós-
-Graduação em Educação (PPGE), UNINOVE Integra a linha de
pesquisa de Políticas Educacionais e é Professora da Instituição
no curso de Pedagogia. E-mail: san.r.gomes@hotmail.com
Q
ueremos que os autores publiquem
seus livros e que os leitores passem por
uma experiência inesquecível. Para isso,
repensamos o modelo editorial e chegamos em
um formato moderno, simples e criativo.