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IV Encontro Nacional do Núcleo de Estudos do Mundo Atlântico (NEMAt)

II Encontro Nacional do Núcleo de Estudos de Impérios Coloniais (NEIC)

Histórias Atlânticas:
Conexões/Reconexões
(séculos XVI-XIX).

CADERNO DE RESUMOS
IV Encontro Nacional do Núcleo de Estudos do Mundo Atlântico (NEMAt)
II Encontro Nacional do Núcleo de Estudos de Impérios Coloniais (NEIC)

Histórias Atlânticas:
Conexões/Reconexões
(séculos XVI-XIX).

CADERNO DE RESUMOS

11 a 13 de novembro de 2019
Universidade Federal de Pernambuco
Campus Recife
Catalogação na fonte:
Bibliotecária Kalina Ligia França da Silva, CRB4-1408

E56h Encontro Nacional do Núcleo de Estudos do Mundo Atlântico (4. : 2019 nov.
11-13 : Recife, PE).
Histórias atlânticas [recurso eletrônico]: conexões / reconexões (séculos XVI-XIX) :
caderno de resumos [do VI Encontro Nacional do Núcleo de Estudos do Mundo
Atlântico e do II Encontro Nacional do Núcleo de Estudos Impérios Coloniais ] /
organização e projeto : Paulo Fillipy de Souza Conti. – Recife: Ed. UFPE, 2019.

Inclui referências.
ISBN 978-85-415-1151-3 (online)

1. História – Congressos. 2. Brasil – História – Congressos. 3. América Latina –


História – Congressos. I. Encontro Nacional do Núcleo de Estudos Impérios Coloniais
(2. : 2019 nov. 11-13 : Recife, PE). II. Conti, Paulo Fillipy de Souza (Org.). III. Título.
907 CDD (23.ed.) UFPE (BC2019-080)
IV Encontro Nacional do Núcleo de Estudos do Mundo Atlântico (NEMAt)
II Encontro Nacional do Núcleo de Estudos de Impérios Coloniais (NEIC)

Histórias Atlânticas: Conexões/Reconexões (séculos XVI-XIX).

Organização e Projeto
Paulo Fillipy de Souza Conti

Comissão Organizadora
Élida Nathalia Olimpio da Silva (Graduada em História UFPE)
George Félix Cabral de Souza (UFPE)
Jeffrey Aislan de Souza da Silva (Doutorando PPGH-UFPE)
João Henrique Pereira dos Santos (Mestre em História PPGH-UFPE)
Luanna Maria Ventura dos Santos Oliveira (Doutoranda PPGH-UFPE)
Marcus Joaquim Maciel de Carvalho (UFPE)
Marília de Azambuja Ribeiro (UFPE)
Paulo Fillipy de Souza Conti (Doutorando PPGH-UFPE)
Suely C. Cordeiro de Almeida (UFRPE)
Thiago Soares de Macedo Silva (Mestre em História PPGH-UFPE)

Comissão Científica
Breno A. Vaz Lisboa (SEDUC-PE)
Bruno Romero Ferreira Miranda (UFRPE)
Cristiano Luis Christillino (UEPB)
George Félix Cabral de Souza (UFPE)
Henrique Nelson da Silva (SEDUC-Recife)
Jeannie da Silva Menezes (UFRPE)
José Bento Rosa da Silva (UFPE)
Kleber Clementino (UFRPE)
Luiza Nascimento dos Reis (UFPE)
Marcus Joaquim Maciel de Carvalho (UFPE)
Mariana Albuquerque Dantas (UFRPE)
Marília de Azambuja Ribeiro (UFPE)
Robson Pedrosa Costa (IFPE)
Suely C. Cordeiro de Almeida (UFRPE)
Victor Hugo Abril (UFRPE)
Virgínia M. Almoêdo de Assis (UFPE)
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 07

PROGRAMAÇÃO 11

SIMPÓSIO 01: JUSTIÇA E LITIGIOSIDADE NA AMÉRICA


PORTUGUESA - ENTRE OUTRAS LIÇÕES DE ANTÓNIO
MANUEL HESPANHA. 18

SIMPÓSIO 02: IMPRESSOS E CULTURA ESCRITA NOS


ESPAÇOS ATLÂNTICOS: SÉCULOS XVI-XIX. 40

SIMPÓSIO 03: O MUNDO ATLÂNTICO E SUAS DINÂMICAS:


SOCIEDADE, ECONOMIA E INSTITUIÇÕES. 53

SIMPÓSIO 04: PODER, RELAÇÕES SOCIAIS E ÉTNICAS NAS


MONARQUIAS IBÉRICAS (SÉCULOS XVI-XIX). 97
SIMPÓSIO 05: HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E DA
DIÁSPORA. 134

SIMPÓSIO 06: SOCIEDADE, TRABALHO E CULTURA NO


BRASIL IMPÉRIO. 156
APRESENTAÇÃO

O fortalecimento de um lugar historiográfico


e de um espaço de discussão. Esses são os dois objetivos
fundamentais que tem nos últimos anos unido as
atividades do Núcleo de Estudos do Mundo Atlântico
(NEMAt) e do Núcleo de Estudos de Impérios Coloniais
(NEIC) em torno de um evento voltado para as temáticas
atlânticas. Os dois núcleos compartilharam ao longo dos
anos experiências em comum. Mas, foi no ano passado
que a relação entre eles se fortaleceu. Em 2017, o
NEMAt, através dos seus componentes, promoveu o seu
II Encontro. Nessa ocasião, o esforço visou a reunião de
representantes de um número maior de instituições de
ensino superior. Além de professores e estudantes da
UFPE, participaram em posição de destaque
representantes da UFRPE, UPE, UNICAP, UFAL,

7
UEPB, UFF e UFRGS entre palestrantes, ministrantes de
minicursos e coordenadores de simpósios temáticos. E
entre os participantes das diversas modalidades, foram
reunidos estudantes de um número ainda maior de
universidades.

No ano de 2018, o esforço de continuar


alargando a comunicação entre as universidades
brasileiras e estrangeiras permaneceu, no entanto, já
resguardados pela confirmação da parceria fundamental
com a UFRPE, através do NEIC. Neste ano de 2019, já
bem mais articulado e com um diálogo aberto que se
estende para além da organização do evento comum,
desejamos fazer do IV ENCONTRO NACIONAL DO
NEMAT E II ENCONTRO NACIONAL DO NEIC:
HISTÓRIAS ATLÂNTICAS:
CONEXÕES/RECONEXÕES, SÉCULOS XVI-XIX o
espaço anual da celebração dessas trocas. Por isso,
organizamos um Encontro que tem (ao menos sempre é
essa a esperança desta Comissão) temáticas variadas e
conectadas com as discussões que estão mais em voga

8
dentro da nossa temporalidade e interesses de pesquisa:
as dinâmicas atlânticas.

Logo, não é por acaso o enfoque dado no


título às conexões e reconexões. Vamos explorar uma
História que sempre está em movimento, congregando as
diversas dimensões e vinculações políticas, econômicas,
sociais e culturais nos espaços compreendidos nos
territórios ligados direta ou indiretamente ao complexo
Atlântico. Para tal, pretendemos oferecer conferências,
mesas redondas, simpósios temáticos e minicursos.
Atividades diversificadas não apenas nas suas maneiras
de execução, mas, igualmente pensadas para congregar
estudos plurais.

Por fim, gostaríamos de agradecer


antecipadamente aos parceiros mantidos e aos novos
parceiros firmados. A confiança que cada um deposita no
nosso trabalho – lista que passa pelos ouvintes,
proponentes de comunicação, participantes em mesas
redondas, ministrantes de minicursos, coordenadores de
simpósios temáticos, nossos monitores e nossos

9
eminentes conferencistas – nos dá razões para continuar
em tempos difíceis.

A Comissão Organizadora.

10
PROGRAMAÇÃO

11 de novembro de 2019 (Segunda-feira)

12:00 às 19:00 Credenciamento

14:00 às 16:00 Simpósios Temáticos

Mesa Redonda:

BRASIL HOLANDÊS: ENTRE


HISTÓRIAS DE VIDA E
HISTORIOGRAFIA.

16:30 às 18:30 Prof. Dr. Bruno Romero Ferreira


Miranda (UFRPE)

Prof. Dr. Kleber Clementino da


Silva (UFRPE)

Prof. Dr. Rômulo Luiz Xavier do


Nascimento (UFPE)

11
Mesa Redonda:

CULTURA POLÍTICA E
RELIGIÃO NO ANTIGO
REGIME PORTUGUÊS (SÉCS.
XVI-XVIII).

Prof. Dr. Bruno Martins Boto


16:30 às 18:30 Leite (UFRPE)

Prof. Ms. Bruno Kawai Souto


Maior de Melo (Professor UFPE -
Doutorando PPGH/UFPE)

Prof. Ms. Afrânio Carneiro


Jácome (Doutorando
PPGH/UFPE)

12
Conferência de Abertura:

"NEGÓCIOS DE CORTE": OS
HOMENS DE NEGÓCIO DA
PRAÇA DO RIO DE JANEIRO,
O TRÁFICO DE ESCRAVOS E
19:00 às 20:30
OS SUBSÍDIOS PARA A
MANUTENÇÃO DO REINO,
1808-1821.

Prof. Dr. Carlos Gabriel


Guimarães (UFF)

12 de novembro de 2019 (Terça-feira)

13
14:00 às 16:00 Simpósios Temáticos

Mesa Redonda:

NEGÓCIOS DO TRÁFICO:
FAMÍLIA E PODER NOS
SÉCULOS XVIII E XIX.

Prof. Dr. Marcus Joaquim


16:30 às 18:30 Maciel de Carvalho (UFPE)

Prof.ª Dr.ª Suely Creusa


Cordeiro de Almeida (UFRPE)

Prof. Dr. Paulo Henrique Fontes


Cadena (UNICAP)

Prof.ª Dr.ª Valéria Gomes Costa


(IFSertão - PE)

Conferência:

ENTRE BRANCOS E
19:00 às 20:30
PRETOS: OS PARDOS E A
SOCIEDADE NO RECIFE
NO FINAL DO SÉCULO

14
XVIII.

Prof. Dr. Gian Carlo da Silva


(UFAL)

13 de novembro de 2019 (Quarta-feira)

8:00 às 12:00 Minicursos

14:00 às 16:00 Simpósios Temáticos

Mesa Redonda:

HISTORIOGRAFIAS
RELIGIOSAS NO IMPÉRIO
PORTUGUÊS (SÉCULOS XVI-
16:30 às 18:30
XVIII): IDENTIDADES E
POSICIONAMENTOS
POLÍTICOS.

Prof.ª Dr.ª Camila Corrêa e Silva


de Freitas (UFPE)

15
Prof. Dr. Moreno Laborda Pacheco
(UFBA)

Mesa Redonda:

NEGÓCIOS, NEGOCIANTES E
FISCALIDADE NO MUNDO
ATLÂNTICO (BRASIL, SÉCS.
XVIII-XIX).

Prof.ª Drª. Bruna Iglezias Motta


16:30 às 18:30 Dourado (UFF)

Prof.ª Ms. Luanna Maria Ventura


dos Santos Oliveira (Doutoranda
PPGH/UFPE)

Prof. Ms. Estevam Henrique dos


Santos Machado (UFPE -
Doutorando PPGH/UFPE)

16
Conferência de Encerramento:

ALFORRIAS POR
SUBSTITUIÇÃO: UM TEMA
19:00 às 20:30 NEGLIGENCIADO PELA
HISTORIOGRAFIA DA
ESCRAVIDÃO.

Prof. Dr. João José Reis (UFBA)

17
SIMPÓSIO 01

JUSTIÇA E LITIGIOSIDADE NA
AMÉRICA PORTUGUESA -
ENTRE OUTRAS LIÇÕES DE
ANTÓNIO MANUEL
HESPANHA.

Coordenação:

Prof.ª Dr.ª Jeannie da Silva Menezes (UFRPE)

Prof.ª Dr.ª Virgínia Maria Almoêdo de Assis


(UFPE)

18
Dia 11 de novembro de 2019

A JUSTIÇA COLONIAL COMPONDO


TERRITÓRIOS NO SERTÃO DE PERNAMBUCO 1

Juliane Tavares Monteiro

Graduanda –Licenciatura em História, UFRPE

JulianeMonteiro09@outlook.com

Esta comunicação, se propõe a refletir sobre a justiça


colonial, mostrando as consequências das dinâmicas e
estruturação do judicial na constituição territorial de
Pernambuco na sua porção do sertão e de suas
ouvidorias. Em 1824, Pernambuco perdia parte do que

1
Trabalho sob orientação da Prof.ª Dr.ª Jeannie da Silva Menezes

19
fora seu território, comarca do Rio São Francisco. A
instituição da área desta comarca foi resultado do modo
pelo qual a justiça se estabeleceu no sertão da Capitania
Pernambuco, através das jurisdições e da atuação de
agentes camarários, juízes e ouvidores.
Nosso estudo tem como referência a abordagem de Ana
Cristina Nogueira, sobre as relações de poder e de
organização territorial, estabelecidos pelo Estado
Moderno Português, que contam com a influência direta
de António Manoel Hespanha. Juntos, trazem uma
concepção de espaço fundamental, que pauta por tratar o
espaço como uma realidade construída pelas práticas
individuais e coletivas dos homens, sendo um
condicionador da vida humana.
Deste modo, para as comarcas do sertão as condições em
que a justiça foi instituída contrastaram com as áreas
litorâneas e resultaram em dinâmicas próprias para área
como o território da Comarca do Rio de São Francisco.
Pensar a justiça colonial em suas formações territoriais,
ultrapassa as relações institucionais, quanto ao estudo dos
agentes e do próprio direito formalizado, pois promove a

20
investigação do espaço como uma construção do social,
além das práticas e do poder.

Palavras-chave: Sertão; Justiça; Território.

PROCESSOS INQUISITORIAIS NA CAPITANIA


DE PERNAMBUCO: UMA ANÁLISE DAS
NARRATIVAS DE DENUNCIADAS NOS
SÉCULOS XVI E XVII2

Marília Carolina Carneiro de Oliveira

Mestranda pelo PPGH/UFRPE

mariliacarolina25upe@gmail.com

2
Trabalho orientado pela Prof. Dra. Jeannie da Silva Menezes
(UFRPE).

21
O trabalho propõe-se a analisar as narrativas de mulheres
denunciadas em cinco processos inquisitoriais na
capitania de Pernambuco, oriundos da primeira e da
segunda visitação do Santo Ofício, ocorridas entre o final
do século XVI e a primeira metade do século XVII,
buscando, por meio das narrativas contidas nessa
documentação, historicizar o que foi construído sobre
elas e os possíveis relatos de suas histórias no momento
de montagem das capitanias. Para tanto utilizaremos
como fontes os processos inquisitoriais, por meio dos
quais pretendemos observar as representações do
feminino, nos textos das denúncias e processos atribuídos
às personagens Ana da Costa, Inês de Brito, Leonor
Pires, Brasia Pinta e Marta Fernandes, respectivamente
acusadas pelos crimes de judaísmo, proposição herética,
blasfêmias e bigamia.

Trabalhar com essas fontes processuais, sobretudo as


respostas e os testemunhos das denunciadas, é entender
bem mais do que a fala das mulheres processadas, mas
também acessar o ordenamento jurídico em seus rigores e
suas flexibilidades, repercutindo na dinâmica da vida

22
social. A leitura crítica dos documentos apresentados
como fontes nos permitirá compreender os lugares
construídos pelas mulheres na sociedade colonial.

Palavras-chave: mulheres; processos; narrativas,


capitania de Pernambuco; Tribunal do Santo Ofício.

AS ELITES LOCAIS NO COMPLEXO DE


CARREIRAS DA MAGISTRATURA: UM ESTUDO
SOBRE OS BACHARÉIS ORIUNDOS DE
PERNAMBUCO DURANTE O SÉCULO XVIII

Priscilla de Souza Mariano e Silva

Doutoranda no PPGH da UFPE

priscillasms@hotmail.com

23
As carreiras da magistratura no Ultramar vêm sendo, nos
últimos anos, foco de diversas análises no meio
acadêmico. Nesse sentido, a maior parte dos estudos
concentra-se nos cargos obtidos por esses bacharéis
durante o tempo em que serviram ao Rei como
magistrados, e até seus respectivos desempenhos nas
mais diversas localidades às quais foram designados.
Todavia, mesmo com todo esse cenário de análises do
direito e da justiça, ainda resta a dúvida sobre como
ocorria a inserção dos membros das elites locais da
capitania de Pernambuco nesse circuito e no desempenho
das atividades ligadas à magistratura. Sob a ótica da
monarquia corporativa, criada por António Manuel
Hespanha, na qual o poder real se via dividido
politicamente com poderes inferiores, tais como
universidades, famílias, municípios e, até mesmo,
poderes superiores como a Igreja Católica, temos
como objetivo a análise das ligações desses nichos de
poder local com a magistratura Real. Mediante a análise
dos trinta e cinco bacharéis oriundos de Pernambuco no

24
século XVIII, é possível perceber quais as principais
famílias da capitania estiveram envolvidas nas carreiras
da magistratura ultramarina. E, partindo dessa análise,
poderemos concluir, também, qual a importância de
Pernambuco dentro desse sistema.

Palavras-Chave: Direito, Justiça, Magistratura, Elites.

A CRIAÇÃO DA RELAÇÃO DE PERNAMBUCO E


A CULTURA JURISDICIONAL DO GOVERNO
JOANINO (1820-1821)

Jeffrey Aislan de Souza Silva

Doutorando em História na UFPE

aislan.jy@gmail.com

25
Entre outubro de 1820 e abril de 1821, a corte joanina
vivenciou sua mais grave crise política, ocasionada pelo
estopim da Revolução do Porto. O movimento de caráter
liberal e constitucionalista, colocava em xeque as bases
Antigo Regime monárquico. D. João VI, assessorado por
seus conselheiros, buscava soluções para a resolução dos
problemas impostos. Nesse interim, expediu em 06 de
fevereiro de 1821 um alvará mandando instalar uma
Relação na vila do Recife. No dito alvará, o rei afirmou
atender a uma solicitação da câmara de Olinda, devido as
dificuldades de se recorrer a Relação da Bahia, levando
em consideração as grandes distâncias, avultadas
despesas e demais inconvenientes. A Relação de
Pernambuco teria o mesmo Regimento dado a Relação
do Maranhão, mandada instalar em 1812, na vila de São
Luís. Entre os séculos XVII e início do XIX, nobreza e
povo da capitania de Pernambuco alegaram diversas
dificuldades para recorrer de seus pleitos a Relação da
Bahia, e enviaram solicitações aos monarcas, pedindo a
instalação de uma Relação na capitania. Contudo, nos
chama a atenção o porquê de instituir o tribunal após as
notícias do movimento constitucional que emergiu em

26
Portugal, e que rapidamente começou a provocar ecos
nas partes do império. Dialogando com autores que
puseram em debate o elemento constitutivo do direito e o
caráter jurisdicional do poder político na era moderna,
tanto nos Estados Europeus, quanto em seus impérios
coloniais – António Hespanha, Carlos Garriga, Alejandro
Agüero, Dario Barriera –, e partindo do entendimento de
que a cultura jurisdicional era um elemento constitutivo
da cultura política do Antigo Regime português, o
objetivo de nossa comunicação é analisar, quais
condições e motivações foram importantes na decisão da
coroa em instituir uma Relação em Pernambuco.
Palavras-Chaves: Relação de Pernambuco; Cultura
Jurisdicional; Governo Joanino; Crise Política.

27
Dia 12 de Novembro de

PRÁTICAS ILÍCITAS NO COMÉRCIO DA


CIDADE DO RECIFE E SUAS PRINCIPAIS
CONSEQUÊNCIAS (1750-1800)3

Mateus Bernardo Galvão Couto

Graduando, UFPE

mateusbgc@outlook.com

A presente pesquisa aborda 3 métodos de práticas ilícitas


recorrentes no comércio da cidade do Recife durante a
segunda metade do século XVIII, sendo: contrabando,

3
Trabalho de pesquisa sob orientação do Prof. Dr. George Félix
Cabral de Souza, professor Associado I da Universidade Federal de
Pernambuco (Departamento de História).

28
descaminho e atravessamento. As fontes utilizadas foram
o Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) e um Livro de
Registros de Cartas da Câmara Municipal do Recife. A
partir do debate historiográfico e bibliográfico acerca dos
contextos social, econômico e político correntes na
América portuguesa, em Portugal e no Recife; do
funcionamento, da composição e do papel das
municipalidades; e de como entendemos e classificamos
cada ilicitude, analisamos a dinâmica do comércio
paralelo local. Contrabando e atravessamento são
conceitos distintos que moldaram os negócios ilícitos e
foram meios de acumulação de capital e construção de
fortunas. Neste trabalho, trataremos sobre quem eram os
sujeitos responsáveis e de que forma agiam, quais eram
as principais rotas, quais foram as medidas tomadas pelos
órgãos régios para coibir as ações e, confrontando, quais
foram as estratégias adotadas pelos praticantes para
burlar tais medidas. Além disso, analisaremos quais
foram os períodos de maior intensidade e frequência de
cada ilicitude, dividindo-os de acordo com a vigência de
cada governador da capitania de Pernambuco. A partir
das listas de presos presentes nos autos de devassa e de

29
denúncias contidas em cartas pertencentes à Câmara do
Recife, atentamos, mesmo que ainda embrionária, à
hipótese de mapeamento e elaboração de biografias para
estudos mais sólidos e em escala reduzida sobre tais
sujeitos.

Palavras-chave: contrabando; atravessamento;


descaminho; comércio; Recife.

OS ÍNDIOS E O CONCEITO DE IMBECILLITAS


EM ANTÓNIO MANUEL HESPANHA

Iviana Izabel B. de Lira

Mestranda, UFRPE

izabelira82@gmail.com

30
A discussão que propomos para esta comunicação está
pautada pelas ideias e as construções de categorias
sociais fundadas por António Manuel Hespanha a partir
das classificações e dos estamentos de uma sociedade do
Antigo Regime norteada pelo olhar do direito português.
As implicações teorizadas em Imbecillitas categorizavam
as mulheres, os loucos, os menores e os indígenas
americanos como indivíduos sujeitados a outros por uma
incapacidade de se autogovernarem. O último grupo
citado é o objeto da nossa análise, na qual as discussões
teológicas e jurídicas ainda no século XV não davam
conta de uma definição singular acerca dos índios que
habitavam as novas terras conquistadas. Tais debates
tratavam acerca da condição de humanidade desses
sujeitos. Em outras disputas, uma eventual condição de
súdito foi possibilitada, sobretudo nos espaço de
conquista hispânica. Posto isto, nos propomos a
investigar qual categoria social estava destinada aos
índios. Se tutelados, como a instituição dessa tutela foi
definida e quais as inferências recaíam sobre eles. Em
algumas definições teológicas encontramos duas
perspectivas. Uma conferia ao indígena uma condição

31
paralela aos menores, os quais estariam destinados a
seriam regidos por outros e uma segunda implicação não
os considerava como personalidades jurídicas acabadas já
que careciam de outrem para se responsabilizar pela
educação cívica, religiosa e também da assistência
jurídica. Desse modo, buscaremos a partir de uma leitura
dos escritos de Hespanha e de algumas argumentações
que influenciaram a construção do seu pensamento, um
caminho possível de interpretação da condição jurídica
que foi atribuída para os índios na Época Moderna.

Palavras-chave: Categorias, Imbecilittas, Índios.

O CLERO SECULAR SEU ENVOLVIMENTO NAS


REDES DECRÉDITO E ENDIVIDAMENTO NO
MARANHÃO COLONIAL (1750-1800)

32
Adriana Dourado Oliveira

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História


Social – UFMA

adriana.hst@hotmail.com

A análise dos mecanismos creditícios existentes no


Maranhão no período colonial é o objeto da preocupação
deste trabalho que tem por objetivo investigar a
participação do clero nas redes de crédito e
endividamento da segunda metade do século XVIII
através do uso de fontes do Tribunal Eclesiástico do
Arquivo Público do Estado Maranhão (APEM), buscando
fazer a intersecção entre história econômica e história
religiosa, uma vez que os clérigos eram chamados ao
juízo por não saldarem suas dívidas. Dessa forma, é
importante pensar as dinâmicas econômicas e sociais
desse contexto envolvidas pelas determinações das
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia (1707)
que ditava as normas para viver na colônia e adequar os
costumes às determinações do Concílio de Trento que

33
proibia os eclesiásticos de se envolverem em práticas
comerciais. A partir desses processos é possível perceber
o estabelecimento de relações socioeconômicas do clero
com a sociedade, os produtos que movimentavam as
relações creditícias e a maneira como ocorriam às
transações comerciais no norte da colônia. Assim sendo,
inicialmente apresentaremos uma discussão sobre o
crédito e as formas assumidas por ele nas práticas
mercantis em uma sociedade permeada pelo imaginário
do Antigo Regime, posteriormente, evidenciaremos a
maneira que Tribunal Eclesiástico lidava com um clero
infrator e por fim, identificaremos os principais produtos
utilizados pelos clérigos nas negociações comerciais,
levando em consideração a escassa circulação de moedas
metálicas nesse contexto.

Palavras-chave: Clero. Economia. Redes de Crédito.


Maranhão.

34
OS IMPEDIMENTOS DE GENERE
DESCONSIDERADOS NALEITURA DOS
BACHARÉIS, PERNAMBUCO, SÉCULO XVIII4

Paulo Fillipy de Souza Conti5

Doutorando pelo PPGH-UFPE

paulofconti@gmail.com

É possível notar ao longo do século XVIII um processo


de profissionalização da magistratura a serviço dos
monarcas portugueses. O que já estava em curso muito
antes, a exigência de haver um processo de verificação da
qualidade técnica dos bacharéis em Leis ou Cânones,
acreditamos, seguiu a mesma lógica da exigência de

4
A presente comunicação faz parte de uma pesquisa mais ampla que
compõe tese de doutoramento prevista para ter conclusão em
fevereiro de 2021. Realizada sob orientação da Prof.ª Dr.ª Virgínia
Almoêdo de Assis.
5
Bolsista Capes.

35
prover determinados postos apenas com letrados. Nesse
sentido, a profissionalização da justiça estava em curso
em Portugal ao menos desde as Ordenações Manuelinas,
que já previam como “vantajosa” a atuação de advogados
letrados em todos os tribunais do Reino desde 1521. Para
os que desejavam “dizer o direito” em nome do rei, havia
um processo de habilitação totalmente a cargo do
Desembargo do Paço, a leitura ou exame dos bacharéis.
O historiador José Subtil diz que esse processo
“constituiu um instrumento de controle e disciplina da
magistratura territorial por se tornar indispensável no
acesso à carreira” (1996: 298). A frase de José Subtil nos
dá dimensão do poder exercido pelo Desembargo do
Paço nesses processos e sinaliza para um momento de
definição na vida de centenas de homens e suas famílias
que investiram em uma formação em Leis ou Cânones na
Universidade de Coimbra. Pois, parte fundamental da
leitura de bacharéis era o levantamento da linhagem e
procedimentos familiares do candidato até a segunda
geração. E, de acordo com as leis vigentes, os chamados
defeitos de sangue e mecânico eram impedimento para a
“leitura” no Paço. O que veremos aqui são casos de

36
magistrados que apesar de serem apontados com “fama
de judeu” ou “fama de mecânico”, conseguiram “ler” e
chegaram a ser nomeados para postos importantes, como
a ouvidoria de Pernambuco no século XVIII, por
exemplo. O que levou à queda desses impedimentos será
o fio condutor da nossa discussão.

Palavras-chave: Leitura de bacharéis; processo de


genere; ouvidores; Pernambuco; século XVIII.

37
SIMPÓSIO 02

IMPRESSOS E CULTURA
ESCRITA NOS ESPAÇOS
ATLÂNTICOS: SÉCULOS XVI-
XIX.

Coordenação:

Prof.ª Dr.ª Marília Ribeiro (UFPE)

Prof. Dr. Kleber Clementino (UFRPE)

38
Dia 11 de novembro de 2019

ENTRE O HISTORIAR E O RELATAR: AS RELAÇÕES


HISTORIAIS E A ESCRITA DA HISTÓRIA NO
SEISCENTOS LUSOCASTELHANO

Kleber Clementino
Doutor em História
Professor do Departamento de História
Universidade Federal Rural de Pernambuco
kleberclementino1@gmail.com

Esta comunicação propõe caracterizar as relações


historiais lusocastelhanas da Guerra Holandesa (1624-
1654), compostas no interior dos impérios ultramarinos
português e espanhol, entre 1625 e 1660. No século XVII
ibérico, a escrita sobre o passado era atividade
segmentada, dotada de complexidade ainda pouco

39
examinada pelo campo da história da historiografia. O
relatar e o historiar eram, então, tidos como tarefas
intelectuais distintas. Podia-se, sim, oferecer ao leitor um
relato ou “relação” de acontecimentos recentes e inéditos,
costumeiramente em panfletos, cumprindo funções
retóricas e editoriais específicas, ligadas ao registro de
“sucessos”. Podia-se, por outro lado, abordar o passado
mediante uma obra histórica, amiúde in-folio,
consagrando façanhas e personagens já conhecidos,
julgados dignos de rememoração e apresentados numa
linguagem “elevada”. Entre um polo e outro, os letrados
seiscentistas começam a desenvolver abordagem
intermediária, a relação historial: cronologicamente
próxima aos eventos, saindo a lume em opúsculos in-
quarto, cumpria, tal como a relação de sucessos, funções
de minucioso registro e desvelamento dos
acontecimentos; todavia, valendo-se não raro de relações
já previamente publicadas, a relação historial vai além,
submetendo aqueles acontecimentos a um tratamento
historiográfico mais ambicioso, mobilizando o saber
erudito da época, de modo a amplificar, dar envergadura
e simbolismo aos eventos, arriscando sua primeira

40
inscrição nos anais da história pátria. Trata-se de uma
estratégia de escrita da história em vias de
amadurecimento, o que permite compreender seus
contornos ainda indefinidos.

Palavras-chave: Escrita da História; Guerra Holandesa;


Relações historiais

A JORNADA DOS VASSALOS DA COROA DE


PORTUGAL E A ESCRITA DA GUERRA HOLANDESA6

Luiz Gustavo de Oliveira Lins


Graduando em História
Universidade Federal Rural de Pernambuco
gustavodeoliveira@hotmail.com.br

6
Trabalho orientado pelo Prof. Dr. Kleber Clementino da Silva,
NEIC – Departamento de História da UFRPE.

41
Este trabalho tem como propósito apresentar e analisar a
obra Jornada dos Vassalos da Coroa Portugal escrita e
publicada pelo padre jesuíta Bartolomeu Guerreiro, em
1625. O livro possui 20 cm de altura e foi produzido no
formato in-quarto. Publicado meses após os eventos
descritos na obra e com as devidas licenças necessárias
para sua publicação, a narrativa descreve como se deu a
retomada da praça da Bahia pela armada luso-hispânica,
após a invasão neerlandesa através da Companhia das
Índias Ocidentais (WIC) no ano anterior à publicação do
livro. Bartolomeu se apresenta como preeminente
pregador e literato, tendo em sua trajetória outros escritos
como o sermão que foi feito em 1632 nas exéquias para o
príncipe D. Theodosio II. Além do papel fidedigno
operado por Guerreiro, a velocidade com que se deu a
publicação da obra pode está diretamente atrelada à
disputa de interesses em escrever e, consequentimente,
informar sobre os conflitos atlânticos. Como peça chave
para a produção historiográfica sobre o período Moderno,
as fontes escritas se manifestam como fundamental
mecanismo para a construção da História. Assim, a
narrativa de Bartolomeu Guerreiro é item de grande

42
importância para a compreensão da escrita da história
luso-brasileira, não apenas como texto descritivo, mas
como produto de um cenário sócio-político em que o
escritor estava inserido. Toda importância dada ao livro
de Guerreiro pode ser compreendida pelo desejo de tentar
captar o acirrado clima político do “período filipino”.
Momento em que uma gama de forças internas e externas
conflitavam sobre o futuro da monarquia.

Palavras-chave: Escrita da História; Período filipino;


Invasão Neerlandesa.

A HISTORIA DO BRAZIL DE FREI VICENTE DO


SALVADOR: MANUSCRITO E ESCRITA DA
HISTÓRIA DA ALTA IDADE MODERNA7

Vinicius Cavalcante Melo de Lima


Graduando em História
7
Orientador: Prof. Dr. Kleber Clementino da Silva,
NEIC/Departamento de História - UFRPE

43
Universidade Federal Rural de Pernambuco
vinicius.ken00@hotmail.com

A finalidade deste trabalho é expor como o historiador


frei Vicente do Salvador explora e mobiliza algumas
características da escrita da história no período em que
redigira sua Historia do Brazil, possivelmente concluída
entre 1627 e 1630. Além disso, tentar mapear a trajetória
do manuscrito que fora exposto no evento que marcava a
exposição de História e Geografia do Brasil, em 1881, na
Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Imerso na cultura
letrada dos séculos XVI e XVII, Vicente Rodrigues Palha
escreve sua obra de acordo com alguns preceitos de
escrita que circulavam nos espaços de produção
historiográfica da época: os conselhos políticos, a
retórica e a utilidade do escrito. Inspirado pelos ares do
Humanismo, invoca autores clássicos durante sua escrita;
oferta ensinamentos práticos aos colonos portugueses e
ancora seu desejo de tornar o Brasil centro do Império
luso e de ampliar sua importância geopolítica do Brasil
no equilíbrio do Império. Além disso, faz uma descrição,

44
muito pretenciosa, da fauna e da flora da América
Portuguesa. Frei Vicente foi pensador dos modos e ações
de governo, se mostrou por dentro da Razão de Estado e
com isso foi o professor dos “bons caminhos”.

Palavras-chave: Escrita da História; Manuscrito;


Vicente do Salvador.

“GRANDEZAS DO BRASIL”: UMA ANÁLISE DA


ESCRITA DIALÓGICA DE AMBRÓSIO
FERNANDES BRANDÃO NO BRASIL DO
SÉCULO XVII8

Arthur Feller Rigaud Cardoso


Graduando em História
Universidade Federal Rural de Pernambuco
arthur_feller@hotmail.com

8
Orientador: Prof. Dr. Kleber Clementino da Silva,
NEIC/Departamento de História - UFRPE

45
A presente comunicação tem como objetivo compreender
o discurso enaltecedor acerca do Brasil como foco do
império marítimo Lusocastelhanho, contido na obra
Diálogo das Grandezas do Brasil, datado de 1618 e de
autoria atribuída ao cristão-novo e senhor de engenho
Ambrósio Fernandes Brandão. O Diálogo fora produzido
nos padrões do Diálogo clássico grecorromano, gênero
em voga na Alta Idade Moderna, sendo uma estratégia
retórica que tem como objetivo o convencimento pela
erudição, muito utilizada por autores e letrados em
diversas partes do Império Ultramarino. Brandão
escreveu sua obra na transição dos séculos XVI ao XVII,
período em que outros autores também formularam
reflexões sobre as posses ultramarinas portuguesas,
marcado pela retração das Índias Orientais e a busca por
novas fontes de riqueza. Em seu Diálogo, o autor destaca
o Brasil como principal alternativa de lucro para a Coroa,
traçando argumentos e estratégias sobre como melhor
aproveitar a colônia, até então negligenciada, tomando
como contraponto as despesas com o comércio das Índias

46
Orientais. Utilizando-se de seu conhecimento dos autores
clássicos, bem como sua bagagem de conhecimento
empírico, Brandão faz uso do gênero dialógico para
defender e refutar ideias correntes na época, tendo como
objetivo atrair investimento ao Brasil. Por seu conteúdo
enciclopédico, com ricas e detalhadas informações sobre
aspectos sociais e econômicos do nordeste brasileiro, a
obra chama a atenção de estudiosos sobre as possíveis
intenções por trás do autor da obra, sendo as hipóteses
mais comuns considerá-lo um informante a serviço dos
neerlandeses, bem como ser um criptojudeu fugitivo da
Inquisição. Através da análise do discurso enaltecedor da
colônia portuguesa, seus argumentos e ideias, bem como
estudando aspectos da vida do autor, o presente trabalho
propõe contribuir para o debate sobre as possíveis
intenções de Brandão em seu louvor ao Brasil, contido no
Diálogo das Grandezas do Brasil.

Palavras-chave: Manuscrito; Diálogo; Cristão-novo;


América Portuguesa.

47
AS FORMAS DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO
DAS NOTÍCIAS SOBRE A GUERRA DE
SUCESSÃO ESPANHOLA (1701-1714) EM
PORTUGAL: OS IMPRESSOS LUSOS SOBRE A
BATALHA DE BLENHEIM/HÖCHSTADT (1704).9

Markus Antonio Machel


Graduando pela UFPE
machelmarkus@gmail.com

A Batalha de Höchstädt/Blenheim foi um evento chave


na Guerra de Sucessão da Espanha (1702-1715), que
marcou um ponto de viragem no conflito, quando em 13
de agosto de 1704 os exércitos aliados venceram as
tropas franco-bávaras perto de Höchstädt. Longe do
front, a batalha continuou a dar frutos em uma verdadeira
guerra midiática. As noticias da "Gloriosa Vitória" dos

9
Está pesquisa está em andamento sob a orientação das Profas. Dras.
Marília de Azambuja Ribeiro e Camila Corrêa e Silva de Freitas.

48
Aliados espalharam-se rapidamente no Sacro Império e
na Inglaterra, onde foram impressas imediatamente após
a chegada dos correios. Nos últimos anos, parte das
contribuições historiográficas sobre a Guerra de Sucessão
se dedicaram a seus aspectos propagandísticos, hoje são
relativamente conhecidos as frentes e os canais de
comunicação utilizados por ambos os partidos para obter
o apoio da opinião pública. Ao longo de todo o conflito,
no reino português a cobertura das notícias bélicas deu-se
por meio de impressos e manuscritos ocasionais. O
objetivo desse estudo é compreender a produção e
circulação das notícias sobre a Guerra de Sucessão no
reino de Portugal, através de um estudo de caso: o dos
impressos noticiosos sobre a Batalha de Höchstädt
/Blenheim publicados em Portugal no ano de 1704. A
partir desses impressos procuraremos compreender o
mercado das notícias em Portugal na primeira metade do
século XVIII, averiguar os canais e os tempos de
circulação da informação e refletir sobre o uso desse tipo
de publicação noticiosa como veículo de divulgação de
propaganda política.

49
Palavras-chave: Guerra de Sucessão da Espanha;
Impressos noticiosos; Propaganda; Portugal.

50
SIMPÓSIO 03

O MUNDO ATLÂNTICO E SUAS


DINÂMICAS: SOCIEDADE,
ECONOMIA E INSTITUIÇÕES.

Coordenação:

Prof. Dr. Henrique Nelson da Silva (SEDUC-


Recife)

Prof. Dr. Breno A. Vaz Lisboa (SEDUC-PE)

51
Dia 11 de Novembro de 2019

CAPITÃES DE NAVIO NEGREIRO E


FINANCIAMENTO DO COMÉRCIO
TRANSTLÂNTICO ESCRAVO NA ANGOLA
SETECENTISTA

Moreno Elli

Mestrando do PGH-UFRPE

morenoelli@gmail.com

Wildson Félix Roque da Silva

Mestrando do PGH-UFRPE

wildson_f@hotmail.com

52
A migração forçada de mais de doze milhões de africanos
durante a vigência do comércio atlântico de escravos foi
uma atividade que exigiu a organização de um grande
número de agentes nos diferentes espaços em que
ocorreu tal prática. Para os sujeitos envolvidos neste
trato, a dinâmica envolvia uma série de custos que ia
desde a armação do tumbeiro no porto de origem,
pagamento da equipagem e até a taxação dos escravos no
desembarque final, atividades em que o capitão de navio
era um agente ativo. Além disso, a própria composição
da carga dos navios negreiros era, sem dúvidas, um
elemento significativo no cálculo do empreendimento,
pois o mau aparelhamento e das escolhas das
mercadorias poderia resultar no êxito ou malogro da
empreitada na margem africana do trato. Na empreitada
negreira, além dos produtos que compunham a carga, era
essencial a presença de pessoas capazes e experientes que
soubessem realizar essa negociação, papel amiúde
assumido pelo capitão de embarcação, como foi o caso
de Custódio Rodrigues Fonseca, capitão da galera São
José e Nossa Senhora do Rosário saída do porto de
Lisboa com destino ao trato de escravizados em Angola

53
no ano de 1756. A viagem por si traz à tona todo um
processo dinâmico de financiamento e comercialização
inerentes ao comércio negreiro. Assim, a presente
comunicação busca analisar este elo entre dois fatores de
realce para o tráfico de escravizados: a atuação dos
agentes do trato negreiro, em especial a figura do capitão
de embarcação, e o papel dos bens manufaturados e
gêneros coloniais nas carregações dos vasos. Embora as
práticas de resgate ocorressem por toda a costa ocidental
da África, nosso foco estará restrito momentaneamente
na Angola setecentista.

Palavras-chave: comércio de escravos; financiamento;


atuação dos capitães.

54
TÊXTEIS E CATIVOS: MAPEANDO A
CIRCULAÇÃO DE TECIDOS NO COMÉRCIO
ESCRAVISTA NO ATLÂNTICO SUL.

Heitor Abreu Ferreira10

Graduando em História

Universidade Federal de Pernambuco

heitor.abreuff@gmail.com

Desde o início do processo da escravidão Atlântica, os


tecidos eram utilizados na permuta por homens, sendo
considerados por muitos historiadores como a principal
manufatura comercializada através do Atlântico. No
continente africano, os têxteis eram altamente
demandados, podendo ser utilizados de diversos modos:
como vestimenta, embalagem de mercadoria, moeda, em
cerimônias religiosas e para outros fins. É sabendo desta

10
Orientador: Prof. Dr. Gustavo Acioli Lopes. Departamento de
História – UFRPE.

55
importância que se inicia a presente pesquisa, que tem
por objetivo mapear os itens transacionados em Luanda e
Costa da Mina, inseridos no Tráfico Transatlântico de
Escravos, durante o século XVIII. Além disto, o trabalho
pretende contribuir para o debate historiográfico sobre a
importância dos tecidos e de outras mercadorias no
comércio de escravos na Costa da Mina e em Angola. A
discussão central baseia-se na identificação do papel que
determinadas mercadorias desempenhavam nos mercados
da África atlântica. O procedimento metodológico se dá
com a transcrição de uma fatura de carregação da
embarcação Nossa Senhora de Nazaré, Santo Antônio e
Almas, de 1768-9, que permite traçar uma série de etapas
importantes do tráfico transatlântico, devido ao grau de
detalhamento da fonte. A dita corveta parte da Bahia em
direção à Costa da Mina, com passagem na Ilha de São
Tomé, realizando a compra de cativos. Depois atravessa
o atlântico em direção ao Rio de Janeiro, onde os cativos
são vendidos e, por fim, retorna para a Bahia O principal
resultado oriundo da análise da dita corveta, até o
momento, foi a percepção de que os tecidos ocupavam o

56
mesmo (ou maior) patamar de importância do tabaco no
negócio da Costa da Mina.

Palavras-chave: Têxtei;. Comércio; Escravidão; Costa


da Mina

ALÉM DE MINA E ANGOLA: NAÇÕES E


GRUPOS ÉTNICOS DE ESCRAVOS AFRICANOS
EM PERNAMBUCO, 1742-1800

Filipe Matheus Marinho de Melo


Mestrando do PGH-UFRPE
Bolsista da FACEPE
filipemarinhoo@gmail.com

57
Este trabalho tem como objetivo apresentar resultados
preliminares sobre a composição das nações dos escravos
africanos presentes na Capitania de Pernambuco entre
1742 e 1800. Com base em análises quantitativas,
observamos que além dos já conhecidos escravos
identificados a partir dos grupos de procedência “costa da
mina” e “angola”, encontramos uma parcela de africanos
com identificação de nomes étnicos como “nagô”,
“calabar”, “courano”, “masimba”, etc. Como fonte de
pesquisa, utilizamos um conjunto de inventários onde
contabilizamos cerca 466 escravos em uma amostragem
de 35 senhores dentro do recorte estabelecido. A partir
desses números pudemos observar uma composição de
cerca de 59% de escravos africanos, 30% de mestiços e
11% sem identificação. Também o livro de batismo do
Santíssimo Sacramento nos dá indícios sobre composição
das nações, onde fizemos um levantamento preliminar
observando a nação dos pais, já que filhos de africanos
nascidos na América Portuguesa são identificados como
Crioulos. Tendo como base o que já foi produzido sobre
a temática e nos apropriando da noção de “grupo de
procedência”, cunhado pela historiadora Mariza de

58
Carvalho Soares, discutiremos também como essas
nações desempenhavam importante papel na construção
da identidade desses africanos em Pernambuco na
segunda metade do século XVIII.

Palavras-chave: Escravidão; Nação; Pernambuco


colonial;

“DOENÇAS CATIVAS”: CONDIÇÕES DE SAÚDE


DOS ESCRAVOS NA PROVÍNCIA DE SERGIPE
DEL REI, SÉCULO XIX

Bárbara Barbosa dos Santos

Mestranda do programa de pós-graduação de História da


UFS

59
Grupo de Pesquisa Mundo Atlântico e Colonização
Portuguesa

barbara-ceme@hotmail.com

Isabela Leite Santos

Graduanda em História pela Universidade Federal de


Sergipe

Grupo de Pesquisa Mundo Atlântico e Colonização


Portuguesa

isaleite97@gmail.com

11

A partir da documentação serial de livros de óbitos e


inventários post-mortem, buscamos com este artigo
lançar luz sobre as experiências de adoecimento da
população servil de Sergipe no século XIX. Na
perspectiva das novas abordagens em torno da escravidão
no Brasil, as condições de saúde oferecem importantes

11
Orientador: Dr. Prof. Carlos de Oliveira Malaquias

60
vestígios sobre o cotidiano escravo e suas nuances como
o padrão noológico, regime alimentar, a higiene e as
condições de trabalho a que estavam submetidos. Para
além disto, a problematização em torno das moléstias e
padrão noológico de cativos, permite na investigação
histórica a percepção do impacto da doença do corpo
escravizado sobre a sociedade escravagista, no caso
especial desta pesquisa, da província de Sergipe, que
conta com condicionantes importantes como o fenômeno
da crioulização e escassez da mão de obra cativa. Este
impacto pode ser averiguado no âmbito da política,
economia e demografia. Neste sentido mostraremos o
comportamento de proprietários de escravos frente ao
adoecimento destes, especificando quais mecanismos,
lançam mão para a recuperação da saúde e preservação
da vida cativa, como contratação de médicos, gastos com
boticário e/ou seguros de vida por exemplo. Como
também torna-se importante dar relevo aos atos do
Estado na intervenção frente a negligência e assistência a
indivíduos enfermos e escravizados. O que se configura é
um novo olhar sobre o cotidiano escravo a partir das

61
experiências de adoecimento, com a utilização da
metodologia da história da população.

Palavras-chave: Saúde; Escravidão; Doença; Sergipe.

OS BRINCOS DE OURO DE RITA ISABEL:


FAMILIA ESCRAVA NO SERTÃO DE SERGIPE

Vladimir José Dantas

Faculdade Dom Pedro II – UNIDOM

Professorvladimir2017@gmail.com

A convivência dos homens e mulheres no sertão de


Sergipe nas décadas finais da escravidão são os temas
que serão discutidos nessa comunicação. O espaço

62
analisado será a Vila de Nossa Senhora da Conceição do
Porto da Folha. A população da Vila em 1850 era em
torno de 4.275 escravos, para um total de 9.565 pessoas.
Os escravos então, representaram 45% desse contingente.
Observando em escala menor a partir da consulta de 320
inventários distribuídos entre 1850-88, 193 desses
possuíam escravos, ou seja, a posse estava amplamente
disseminada por todo o final do século XIX. Nas três
primeiras décadas o escravo estava arrolado em número
considerável de inventários. Tendo sido encontrados 567
escravizados divididos entre jovens ou adultos, além de
170 crianças e 55 idoso. Outro conjunto de fonte que
tenho pesquisado, com intuito de conhecer as ações dos
escravizados no Sertão são as Cartas de Liberdade. Nos
87 registros verifiquei que foram alforriados 15
mulheres, 10 homens, 12 crianças e 15 velhos e 35
registros não possuíam tais informações. Aliado aos
inventários Post-Mortem e as Cartas de alforria,
obtivemos 112 registros da compra e venda de escravo
em Livros de Notas. Nesses. Podemos apresentar como
exemplo disso o inventário da forra Rita Izabel que
dimensiona a teia social, na qual escravos e forros

63
estiveram envolvidos. Os bens listados no inventário era
uma casa, uma roça, dois anéis de ouro, dois colares de
ouro, três vacas, dois bezerros, duas cabras, dois
marranos e duas ovelhas. A família era composta pelo
viúvo Brás, já liberto, quatro filhos, dos quais, dois eram
escravos do capitão Antônio Alves de Lima e Silva. A
própria configuração da família de Rita Izabel já nos
permite indicar que havia uma participação no tecido
social de diversas formas e que buscava um caminho para
uma vida igual à dos homens livres. A fonte serve para
discordamos do ambiente descrito por Silva (1981),
descrevendo a formação da miséria. A partir da
documentação, vimos que os escravos e libertos no sertão
participaram de uma rede de sociabilidades na qual
faziam empréstimos, compravam cartas de liberdades e
famílias.

64
TRÁFICO DE ESCRAVOS E OUTROS
INVESTIMENTOS MODERNOS EM
PERNAMBUCO NO SÉCULO XIX: OS
CAPITALISTAS BARÃO DE BEBERIBE & FILHO

Amanda Barlavento Gomes

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História


da UFPE

barlaventoamanda@hotmail.com

O comércio atlântico de escravos no Brasil do século


XIX se manteve, em parte, através de empreendimentos
modernos de alta tecnologia, investimentos realizados
por grandes capitalistas que mantinham vastas redes de
contatos que iam muito além de suas localidades e
podiam envolver várias empresas. Como maior
negociante atlântico de escravos da província de
Pernambuco na década de 1820, sócio de grandes
negociantes de escravos em Portugal e na África,

65
Francisco Antonio de Oliveira, o Barão de Beberibe,
também mantinha negócios com empresas inglesas e
norte-americanas com vínculos nesse comércio. Este
artigo busca apontar quem foram essas empresas
estrangeiras e como elas estavam ligadas aos negociantes
pernambucanos mesmo no período ilegal da entrada de
africanos no Brasil. Esta busca levanta questões
importantes acerca da adaptação dos comerciantes da
Praça do Recife aos novos moldes econômicos mundiais
e como participaram da construção dessa estrutura no
Brasil, deixando legados de grandes fortunas e
investimentos diversos para seus herdeiros que iam além
de imóveis e dívidas ativas. Para isso, serão tomados
como centrais os personagens do Barão de Beberibe e seu
filho herdeiro Augusto Frederico de Oliveira, que
continua o legado dos investimentos do pai, fora do
comércio de escravos, mas dentro da política e se
envolvendo com personalidades importantes do Império.

Palavras-chave: investimentos; empresas; tráfico de


escravos.

66
Dia 12 de Novembro de 2019

AS HABILITAÇÕES DE FAMILIARES DO SANTO


OFÍCIO EM PERNAMBUCO (1612-1730) COMO
BASE PARA A COLETA DE DADOS
BIOGRÁFICOS PARA SUBSIDIAR A
IDENTIFICAÇÃO DE REDES12.

Letícia Serrano Marinho de Araújo

Graduanda em Licenciatura em História – UFPE

leticiaserrrano@gmail.com

Maria Larissa França Araújo

12
Pesquisa de Iniciação Científica orientada pelo Prof. Dr. George F.
Cabral de Souza (UFPE) e financiada pelo CNPq.

67
Graduanda em Licenciatura em História – UFPE

larissafranca113@gmail.com

O processo para se tornar Familiar do Santo Ofício era


longo e minucioso. Surgido no século XVII, o cargo era
composto por leigos, que buscavam auxiliar a Inquisição
na sua vigilância sobre o comportamento dos indivíduos.
Também se constituía como um símbolo de distinção
social, e desta maneira, aqueles que pretendiam se inserir
nessa ocupação precisavam provar que eram “limpos” de
sangue e capazes de assumir essa responsabilidade.
Disso, decorria-se um processo esmiuçado sobre a
história de vida e família de cada investigado, assim
como também eram coletadas informações acerca
daqueles que eram testemunhas nos extensos
interrogatórios inquisitoriais. Sendo assim, as
Habilitações de Familiares do Santo Ofício se constituem
como documentos ricos, recheados de dados biográficos
sobre as inúmeras figuras que habitaram Portugal e os
seus domínios. Em Pernambuco, foram contabilizados
mais de 150 processos desse tipo, entre 1612 e 1730,

68
completos ou não, que estão disponíveis no site do
Arquivo da Torre do Tombo. Dessa forma, este trabalho
utiliza-se dessa documentação para construir um banco
de dados que contenha as informações obtidas nos
processos, reunindo-as de forma sistemática, a fim de
que, a partir disso, seja possível a identificação de redes
familiares e clientelares existentes em Pernambuco,
durante os séculos XVII e XVIII, com o intuito de
compreender melhor os sujeitos históricos locais e de que
forma se estabeleceram as dinâmicas internas dessa
sociedade colonial.

Palavras-chave: Familiares do Santo Ofício; Inquisição;


Pernambuco.

69
ENTRE A MICRO-HISTÓRIA E A
PROSOPOGRAFIA: UM OLHAR SOBRE A ELITE
MERCANTIL DO RECIFE ENTRE 1779 E 1808.

Pedro Ivo Gomes de Melo

Estudante de graduação em História/UFPE

pgomesdemelo@gmail.com

A presente comunicação é resultado do projeto de


pesquisa de iniciação científica enquadrada num
momento de revitalização historiográfica dos estudos
coloniais sob diferentes segmentos e olhares. Neste caso,
buscou-se discutir sobre os principais caminhos e
métodos para que se possa traçar uma investigação e
elaborar um perfil sobre o grupo mercantil do Recife no
período compreendido entre os anos de 1779 e 1808, cujo
início é marcado pelo fim das políticas pombalinas
representadas, principalmente, pela Companhia Geral de
Comércio de Pernambuco e Paraíba (CGCPP) até o

70
momento da abertura dos portos às Nações Amigas.
Dessa forma, busca-se discutir o contexto tratado e
analisar de qual forma ferramentas metodológicas como a
prosopografia e a micro-história permitem preencher
algumas lacunas referentes à diversas esferas da vida dos
homens de negócio, um grupo social cuja compreensão é
crucial para entender a sociedade, política e economia da
América Portuguesa. Através da alternância das “lentes”
de investigação, demonstrar-se-á que por meio de fontes
como as do Acervo Histórico Ultramarino e Processos de
Habilitação do Santo Ofício é possível contribuir para
investigar trajetórias desses sujeitos históricos, tais como:
estratégias mercantis, hierarquias sociais, participação
política, redes familiares e outras ocupações.

Palavras-chave: Elite Mercantil; Micro-História;


Prosopografia; Recife Colonial;

71
A TRAJETÓRIA DE DUARTE DA SILVA: O
BANQUEIRO DO REI (1630-1688)

Thiago Groh

thgroh@terra.com.br

Doutor-Universidade Federal do Tocantins, Campus


Araguaína (UFT)

Nascido em Lisboa no ano de 1596 na cidade de Lisboa


onde recebeu o sacramento do batismo na Igreja de São
Nicolau, a confirmação na Igreja de São Julião. Duarte da
Silva surge nos documentos como comerciante de grosso
trato a partir dos anos de 1630 quando passa a arrematar
alguns contratos e também é citado em denúncias no
Tribunal do Santo Ofício. Casado com sua prima Branca
Dias, tem com ela sete filhos, e a associado aos primos-
cunhados forma uma ampla rede comercial pelo Império
Português. Com negócios variados e pelas mais
diferentes parte desse Império, logo se torna um dos

72
principais assentistas de Lisboa. Com a Restauração de
Portugal em dezembro de 1640 e aclamação de D. João
IV, Duarte da Silva rapidamente tornou-se seu principal
financista, sobretudo após o fracasso da Conjura de 1641
na estava envolvido seu adversário no arrendamento de
contratos, Pedro Baeça da Silveira que acabou enforcado.
, amigo do jesuíta Antônio Vieira, a quem conheceu
quando passou pela Bahia no início do século XVII, foi o
grande apoiador das causas diplomáticas do religioso e
da criação da Companhia Geral de Comércio do Brasil.
Preso pela Inquisição em dezembro de 1647, o mercador
saiu em auto de fé no dia em que se celebrava o décimo
segundo ano da Restauração em uma provocação da
Inquisição ao rei. Condenado ao degredo para o Brasil
consegue, com a interferência do rei, suspender a pena.
Em 1662, articulou o pagamento do dote de Catarina de
Bragança com Carlos II de Inglaterra, em sua última
missão para o governo português. Após essa missão,
estabeleceu-se na Inglaterra por dez anos, terminando
seus dias em Antuérpia no ano de 1688. Pretendemos
nessa comunicação tratar da trajetória desse importante

73
comerciante, apontando para os conflitos políticos, os
desafios da manutenção da nova dinastia.

Palavras-chave: Duarte da Silva; cristão-novo; trajetória

SER FIDALGO NA AMÉRICA: VONTADES E


CONDICIONAMENTOS NA REESTRUTURAÇÃO
DA ECONOMIA POLÍTICA ATLÂNTICA
PORTUGUESA (SÉC. XVII).

Alex Rolim Machado

Mestre em História

Doutorando em História pela Universidade Federal de


Pernambuco

arolimm@hotmail.com

74
“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem
sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com
que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas
pelo passado...”. A frase de Karl Marx, já muito
conhecida, servirá como mote de problematização para o
trabalho que aqui se propõe. A presente comunicação
visa analisar a vida de Amaro Velho Serqueira, natural da
Vila das Alagoas (sul da Capitania de Pernambuco), que,
após ter lutado e perdido três irmãos e um cunhado na
luta contra os holandeses, se viu – assim como tantos
outros – a requerer mercês ao Monarca português,
visando, assim, tornar-se fidalgo e se estabelecer na
América a partir de uma posição de prestígio (foro de
fidalgo e um Hábito da Ordem de Cristo) e conforto
material (Tença e Comenda da Ordem de Cristo) para si,
sua irmã e seu sobrinho órfão. Ao travar uma negociação
com Dom João IV, o militar Amaro Serqueira se viu
inserido em uma reviravolta onde seus planos iniciais
foram tragados por forças externas mais antigas, onde o
sistema da economia das mercês tomou posição como

75
mecanismo de regência de boa parte das relações sociais
portuguesas na metade do século XVII. Para atingir a
consecução de seus requerimentos, Amaro Serqueira
atuou como militar na Bahia, navegou nas costas do
Brasil, fez parte dos quadros da Companhia de Comércio,
foi preso por piratas argelinos, tornou-se cativo dos
turcos, conseguiu ser resgatado e rumou para Angola,
voltando ao Brasil anos depois e terminando sua vida
como Capitão Mor da Capitania da Paraíba. Ao contrário
de homens como Salvador Correia de Sá e João
Fernandes Vieira, Amaro Serqueira não pretendia se
tornar um agente nos quadros das conquistas atlânticas.
No entanto, por conta de suas atuações, é-se impossível
pensar a fundamentação do domínio luso sem pensar nas
atuações das camadas médias e nas limitações e
aplicações mais refinadas em torno de concepções como
“autoridades negociadas”, “mobilidade social” e
“economia do dom”.

Palavras-chave: Império português. Mobilidade Social.


Economia do Dom.

76
REORGANIZAÇÃO ESPACIAL NAS CAPITANIAS
DO NORTE DO BRASIL: CRISE, TRÁFICO DE
ESCRAVOS E CONFLITOS JURISDICIONAIS
(1654-1750)

Matheus Silveira Guimarães

Doutorando/PPGH-UFPE

matheus13g@yahoo.com

A crise vivenciada pelas Capitanias do Norte desde


meados do século XVII tem sido debatida pela
historiografia há alguns anos. Após a guerra de
Restauração nesses territórios e a mudança na conjuntura
mundial, tais capitanias, que tinham como polo central de
seu comércio o porto do Recife, passaram por profundas
dificuldades econômicas, tendo uma recuperação lenta e
com algumas baixas por toda a primeira metade do
século XVIII. A recomposição de sua economia só se deu

77
de maneira estável no final do referido século. Diante da
crise, este período foi também de uma reorganização
espacial, pois Pernambuco perdia espaço no mundo
atlântico, devido às descobertas nas Minas e às
dificuldades em acessar o mercado de escravos, que se
tornavam cada vez mais caros. Em contrapartida, o poder
jurisdicional e influência comercial desta capitania
aumentava em relação às suas vizinhas. O espaço deve
ser compreendido como dinâmico, sendo definido a partir
das relações econômicas, sociais, políticas e culturais
construídas no tempo. Ou seja, devemos pensa-lo
historicamente. Assim, cabe-nos perguntar: qual a
relação entre a crise econômica das capitanias do Norte e
a reorganização desse espaço? Como se deram as
relações atlânticas entre as capitanias do Norte e o
Atlântico nesse período? Qual o papel do tráfico de
escravos nessa reorganização espacial? Na busca de
lançar luz a essas questões, este trabalho dialoga com a
bibliografia sobre o tema e utiliza como principais fontes
a documentação disponibilizada pelo Projeto Resgate do
Arquivo Histórico Ultramarino.

78
Palavras-chave: Organização espacial; tráfico de
escravos; conflitos jurisdicionais; crise; capitanias do
norte.

AS CÂMARAS DA CAPITANIA DA PARAÍBA: UM


RESGATE HISTÓRICO E DOCUMENTAL

Lucas Guedes Pereira Arnaud Arroxelas

Graduando – UFPB

Lucas_guedes97@hotmail.com

Maria Eduarda de Medeiros Brandão

Graduanda – UFPB

Maria_eduarda_mb@hotmail.com

Mozart Vergetti de Menezes

Doutor – UFPB

79
mmvergetti@gmail.com

Partindo das noções propostas por Antônio Manuel


Hespanha, em torno da relação entre a administração
central e as periféricas, em seu caráter diverso e
pluralista, o projeto “As câmaras da capitania da Paraíba”
se propõe a descortinar as relações estabelecidas entre a
capitania e a metrópole no séc. XVII, assim como as
interrelações entre esta e o Governo Geral, na Bahia, e as
demais Capitanias do Norte, por meio das
correspondências trocadas entre a Câmara da Cidade da
Paraíba e o Conselho Ultramarino, encontradas no
Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, e no conjunto
documental organizado pelo historiador paraibano Irineu
Ferreira Pinto, na obra Datas e notas para a história da
Paraíba. Este esforço de pesquisa faz frente ao
desaparecimento dos registros internos do órgão
camarário. Para tanto, objetiva-se neste simpósio
temático, a partir da caracterização da dita câmara,
introduzir os caminhos teóricos e metodológicos
percorridos para a esquematização de uma ficha-

80
protótipo, que possibilite as primeiras aproximações e
coletas de dados das ditas fontes, tais como a
identificação da tipologia documental, da abrangência
dos assuntos tratados, dos descritores incluindo as
toponímias, dos agentes envolvidos e afins.

81
Dia 13 de novembro de 2019

PODER E SOCIEDADE: FUNDAÇÃO DO


RECOLHIMENTO SAGRADO CORAÇÃO DE
JESUS NA VILA DE IGARASSU (c.1742- c.1762).

Cleiry Farias Medeiros

Especialização em História do Nordeste do Brasil-


UNICAP

E-mail: cleiryrscj@gmail.com

Este trabalho se propõe analisar a construção do


Recolhimento Sagrado Coração de Jesus na vila de
Igarassu, Pernambuco, e sua função social durante as
primeiras décadas de fundação (1742-1762). Nessa época
a coroa portuguesa incentivava a povoação de sua

82
colônia, as mulheres brancas deveriam casar e procriar
para garantir a hegemonia branca da metrópole. Assim,
os conventos representavam uma ameaça aos objetivos
reais por retirar da sociedade parte da sua população
potencialmente fértil. No Brasil, essas proibições foram
burladas em parte pela criação dos recolhimentos, que
eram uma mistura de conventos e casas religiosas com
finalidade assistencialistas, educativas e corretivas, neles
se enclausuravam mulheres que almejavam a vida
consagrada a Deus e aquelas que rompiam as normas
impostas pela sociedade. Nesse trabalho vamos tratar a
fundação do Recolhimento do Sagrado Coração de Jesus
que acontece em meio a tensões e conflitos pelo fato de
ser um espaço dedicado a acolher mulheres pobres,
viúvas e prostitutas convertidas. Ademais, trataremos de
estabelecer uma análise comparativa entre as fontes
primárias coletadas no arquivo das Religiosas do
Sagrado Coração de Jesus e os trabalhos acadêmicos
acerca da temática em questão. Para isso usaremos
autores como Leila Mezan Algranti, Suely Almeida,
Mary Del Priore, Luciana Gandelman e William de

83
Souza Martins, responsáveis por contribuições
imprescindíveis para a temática.

Palavras-chave: Mulheres, Normas, Religiosidade.

A MISSÃO DA ORDEM FRANCISCANA NO


BRASIL E SUAS RELAÇÕES POLÍTICO-SOCIAIS
COM A COROA PORTUGUESA E OS JESUÍTAS

Rafael Ferreira Costa

Mestre em História da Arte Portuguesa pela Faculdade de


Letras da Universidade do Porto

rafael.fe.costa@gmail.com

A Ordem dos Frades Menores de São Francisco


estabeleceu-se no Brasil, em 1585, com a fundação do
Convento de São Francisco de Olinda. A partir desse
marco, inicia-se a Custódia de Santo Antônio do Brasil,
elevada a categoria de Província, em 1657, somando

84
vinte e seis conventos construídos no Período Colonial.
Neste período, as Ordens Religiosas assumiram para si a
responsabilidade de trazer a Palavra ao Novo Mundo,
motivadas pelo sentimento de “salvação dos Gentios”, a
serem realizadas através das ações missionárias. A
atuação catequética adaptava-se a realidade local, assim
como atendiam aos interesses políticos da Coroa
Portuguesa. A aliança entre a Coroa e a Igreja consolidou
o poder ibérico sobre o Mundo Atlântico. O padroado
régio, assim como a ação missionária, determinaram o
modo como as instituições religiosas atendiam aos
interesses políticos e estabelecia suas relações com a
sociedade colonial, com os nativos e outras instituições
religiosas. Este trabalho terá como palco as atividades
missionárias da Ordem Franciscana no Brasil. O enfoque
nas dinâmicas político-sociais da Ordem, enquanto
instituição religiosa, permitirá reunir informações sobre
três âmbitos: a relação Igreja e Estado, a gestão
educacional-catequética e a interação com outras Ordens
Religiosas. O primeiro ponto passará pela maneira como
surge o padroado régio e como os Franciscanos atendiam
aos seus interesses. O segundo momento adentrará nas

85
ações missionárias, expondo aspectos do modo como
atuavam na educação dos colonos e catequese dos
nativos. A distinção no tratamento entre esses dois
grupos sociais e as táticas de incorporação dos povos
indígenas na cultura europeia serão pontos em destaque.
A relação conflituosa estabelecida com os Jesuítas será o
terceiro elemento deste estudo, exemplificando as
disputas de poder territorial com as demais Ordens
Religiosas. Ou seja, a maneira como o poder político se
insere na missão franciscana, partindo do poder que atua
sobre a Ordem, daqueles em igualdade e dos que se
submetem aos religiosos.

Palavras-chave: Ordem Franciscana; Brasil Colonial;


Padroado Régio; Missões; Jesuítas.

86
ENDIVIDAMENTO DE ECLESIÁSTICOS NO
MARANHÃO NA PRIMEIRA METADE DO
SÉCULO XVIII

Ana Paula Durans Lopes-Mestranda

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

anapauladurans@yahoo.com.br

O presente trabalho trata da investigação em processos


cíveis de cobranças de dívidas aos eclesiásticos que
foram denunciados a Justiça Eclesiástica do bispado
maranhense por comprarem e não pagarem seus débitos
com os credores no tempo estipulado. Desse modo, o
recorte temporal é de 1700 a 1750, período em que a
entrada da moeda metálica no Maranhão não era
autorizada oficialmente e o “dinheiro da terra” foi
utilizado como moeda natural. No cotidiano das
atividades socioeconômicas o adiantamento de
mercadorias ou mesmo empréstimo, era prática

87
recorrente por diversos fatores, inclusive a problemática
de falha na distribuição de dinheiro amoedado no
Império Ultramarino português agravando o
endividamento da sociedade colonial. Destarte, esse
adiantamento até para atender necessidades cotidianas
estava imbricada a formação de redes de crédito em que
os eclesiásticos acabaram por fazer parte. Para esta
investigação utilizamos fontes eclesiásticas, mais
especificamente a série documental de Autos de
Assinação de Dez Dias. Esses documentos além de
demonstrar como o Tribunal Episcopal procedeu ao lidar
com padres que foram acusados de não pagarem suas
dívidas, possibilita perceber as dinâmicas com relação
aos produtos arrolados e o pagamento ou troca através
dos gêneros.

Palavras-chave: Dívidas. Eclesiásticos. Moeda natural.

88
INQUISIÇÃO E VISITAS PASTORAIS: SEUS
LIMITES JURISDICIONAIS, DIFERENÇAS E
MODOS DE TRABALHAR NA AMÉRICA
PORTUGUESA.

Emerson Barbosa da Silva Aleixo

Mestrando História/PPGH/UFPE

emerson.aleixob@gmail.com

O Tribunal do Santo Ofício foi instalado em Portugal em


23 de maio de 1536. A partir desse marco, a Inquisição
será uma instituição religiosa e política de suma
importância em todo correr do século XVI e nos
seguintes. Estava sob sua responsabilidade fiscalizar e
extirpar todo e qualquer desvio relativo aos preceitos
morais e éticos da fé católica. Naquele momento, a
Europa perdia adeptos para as correntes do
protestantismo. A descoberta, por assim dizer, do Novo
Mundo, e mais tarde seu povoamento, fez com que a

89
Igreja Católica tivesse uma convergência de interesses
políticos e religiosos com a coroa. Seu objetivo era não
só a propaganda da verdadeira e real fé católica, mas
também, extirpar toda e qualquer heterodoxia religiosa
que nestas terras estivessem presentes. Contudo, vale
ressaltar, que antes mesmo da expansão dos domínios da
Inquisição, as visitas pastorais ou diocesanas na pessoa
dos Bispos locais, fizeram a priori esse trabalho,
investigando todo e qualquer deslize existente na colônia,
desde solicitação de padres no confessionário, até a
presença de bígamos e sodomitas, propagando ainda os
preceitos da ortodoxia católica. Objetivamos neste
trabalho mostrar como os prelados locais foram os olhos
da Inquisição, com práticas e jurisdições diferentes, mas
ainda assim, com os mesmos preceitos da Santo Ofício,
de moralização dos costumes e ortodoxia da fé.

Palavras-chave: Inquisição, pastorais episcopais,


colônia, crimes.

90
INSTRUÇÃO AGRÍCOLA, TRABALHO E
CIÊNCIA NA ESCOLA AGRÍCOLA DA BAHIA DE
SÃO BENTO DAS LAGES (1850-1900)

Idalina Maria Almeida de Freitas – Doutorado

Universidade da Integração Internacional da Lusofonia


Afro-brasileira – Unilab, Campus dos Malês, Bahia.

Email: idaensino@unilab.edu.br

O município de São Francisco do Conde reúne até hoje


um importante conjunto arquitetônico de herança
colonial, no qual se encontram as ruínas da Imperial
Escola Agrícola da Bahia. Pensando nos significados
dessas ruínas para a história local, nacional e atlântica, a
investigação busca a construção, organização do ensino e
demais debates em torno da reestruturação das dinâmicas
de trabalho agrícola na Bahia. Pretende também discutir
dentre outros aspectos, as experiências e historicidades
de agentes que participaram em diferentes âmbitos dessa

91
instituição. A Escola Agrícola de São Bento das Lages na
segunda metade do século XIX, instituiu-se como espaço
de desenvolvimento científico em torno da agricultura,
destinou-se a formação de engenheiros agrônomos e de
operariado agrícola “mais competente” e modernizado.
Um dos objetivos da EAB foi o de reestruturação da
mão-de-obra agrícola da Bahia, focada no ensino prático
da agricultura que contribuísse para a recuperação da
economia açucareira. Em sua primeira fase de
estruturação e consolidação das atividades de ensino
(meados de1868 período onde são finalizadas as obras da
construção), importou por meio do naturalista francês
Louis Jacques Brunet - primeiro diretor responsável e
professor de Ciências Naturais na instituição - acervos de
animais, objetos e plantas para a escola, viagem
subvencionada pelo Imperador. Nesse sentido, pode-se
perceber que tal projeto de reestruturação agrícola
dialoga com a circulação de saberes técnico-científicos e
novas relações de trabalho, numa perspectiva que
envolve não apenas a dimensão local, mas também o
mundo atlântico.

92
Palavras-chave: Operários agrícolas, Ciência, São
Francisco do Conde, Mundo Atlântico.

O ANTINIPONISMO NO MARANHÃO: UMA


ANÁLISE DAS INCONGRUÊNCIAS
DISCURSIVAS ACERCA DA EXPERIÊNCIA
IMIGRATÓRIA JAPONESA NO MARANHÃO NA
DÉCADA DE 1960

HEMELITA DA SILVA E SILVA

MESTRANDA EM HISTÓRIA SOCIAL PPGHIS /


UFMA

hemelitassilva@hotmail.com

93
O presente artigo faz uma análise do movimento
imigratório japonês que houve no Maranhão, a partir de
1960, que consistiu na chegada de duas levas de
nipônicos ao estado, através de acordo firmado entre o
governo maranhense e o Estado japonês foram instaladas
duas colônias agrícolas: uma localizada na cidade de
Rosário e; outra na capital; São Luís. Os processos de
choque cultural e adaptação dos estrangeiros, de que
maneira a presença dos novos moradores impactou a
sociedade local serão analisados no presente artigo.
Assim como o imigrante se relaciona num país diferente,
como sua identidade é constituída a partir de novas
vivências e culturas e que discursos foram produzidos
deste movimento.. A metodologia utilizada foi a História
Oral, dessa forma, as memórias foram fontes substanciais
na tessitura deste artigo, complementando-as, lanço mão
dos jornais de circulação no Maranhão no período de
instalação dos japoneses nas colônias até que estes se
dispersam. Assim como a Análise do Discurso para o
entendimento das contradições existentes entre os mais
diversos sujeitos e instituições que constituem a memória
acerca da imigração.

94
Palavras-chave: Antiniponismo; Memória; Imigração
japonesa; Maranhão.

95
SIMPÓSIO 04

PODER, RELAÇÕES
SOCIAIS E ÉTNICAS NAS
MONARQUIAS IBÉRICAS
(SÉCULOS XVI-XIX).

Coordenação:

Prof. Dr. Victor Hugo Abril (UFRPE)

Prof.ª Dr.ª Mariana Albuquerque Dantas


(UFRPE)

96
Dia 11 de Novembro de 2019

A BAHIA E SEUS DOMÍNIOS NO GOLFO DA


GUINÉ (1676-1815)

Augusto da Silva
Prof. Associado do DHI/PROHIS/UFS
augustodasillva@gmail.com

Os laços da Bahia com o golfo da Guiné vêm há muito


sendo estudados pela historiografia da escravidão e do
tráfico negreiro, resultando em importantes análises
demográficas, sociais, econômicas e culturais. O que
busco investigar nesta pesquisa são os vínculos, ou
mesmo as jurisdições, políticas, civis e militares que
uniam esses dois polos do Atlântico. No decorrer da
primeira metade do século XVII, conjunturas políticas e

97
econômicas do sistema atlântico, sobretudo a valorização
da produção açucareira do Brasil e a guerra luso-
holandesa, conduziram, entre outras coisas, ao fim da
carreira Lisboa-Guiné e consolidação da carreira Bahia-
Guiné. O tráfico negreiro para a Bahia realizado com o
tabaco (e também com a aguardente) transformou as ilhas
de São Tomé e Príncipe e a feitoria de São João Batista
de Ajudá, na costa da Mina, em bases, praticamente,
subordinadas à Bahia. A historiografia que se debruça
sobre a formação do estado e da administração da
América portuguesa esteve sempre muito presa a noção
de territorialidade própria do estado contemporâneo
brasileiro que se institui no século XIX. Com base na
comunicação política estabelecida entre esses dois polos
do Atlântico, da nomeação das autoridades destacadas
para o Golfo da Guiné, além dos relatórios de receita e
despesa busco problematizar os domínios do governo da
Bahia sobre aquelas duas bases do império português: as
ilhas de São Tomé e Príncipe e a feitoria de Ajudá.

Palavras-chave: Governo da Bahia; Golfo da Guiné;


São João Batista de Ajudá; São Tomé e Príncipe.

98
FAMÍLIA, ASCENSÃO SOCIAL E
CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS DE PODER NA
TRAJETÓRIA DE D. VASCO DE MASCARENHAS
(1626-1643)

Érica Lôpo de Araújo.

Doutora em História Social pela Universidade


Federal do Rio de Janeiro, professora Adjunta da
Universidade Federal do Piauí.

ericalopo@gmail.com

Essa comunicação tem como objetivo pensar as


oportunidades disponíveis e limites impostos à ascensão
social de um nobre português de primeira grandeza em
princípios do século XVII. Para tal, se partirá da
construção do “lugar de nascimento” de Dom Vasco de
Mascarenhas (feito primeiro Conde de Óbidos), para
analisar os caminhos trilhados por esse sujeito ao optar

99
por uma trajetória de serviços militares, matrimônios e
fidelidade ao reino de Portugal na complexa conjuntura
da guerra da Restauração de 1640. Para a elaboração
dessa pesquisa, parte-se de uma percepção da
centralidade da família, instituição detentora de grande
significação pública, cujos componentes se
caracterizariam pelo estabelecimento de relações
habitualmente estáveis e duradouras na vida social e
política. Para além disso, segundo Mafalda Soares da
Cunha, na sociedade de Antigo Regime, a família
constituiu um primeiro tipo (de um universo de três) de
relações sociais/interpessoais, ao criar laços
independentemente da vontade dos atores sociais como
no caso do parentesco (consanguinidade). O segundo tipo
de relações interpessoais se relacionava com decisões e
escolhas do próprio indivíduo, mas em consonância com
o grupo social em que este estava inserido, a exemplo do
matrimônio. E por fim, existiam as relações
independentes, o terceiro tipo, que nasciam diretamente
da vontade e iniciativa dos atores sociais, tais como
amizade, associações econômicas e alguns traços de
dependência como clientelismo ou fidelidade. Buscar-se-

100
á reconstruir a formação de redes sociais, ou vínculos,
resultantes desses três tipos de relações sociais, tendo
como finalidade a identificação de qual o papel
desempenhado por D. Vasco de Mascarenhas (aqui
enquadrado como representante da primeira grandeza
portuguesa), não apenas para o sucesso individual de sua
carreira, mas a fim de perceber qual a importância de sua
trajetória de serviços para a monarquia portuguesa no
Tempo dos Filipes e princípios da Guerra da
Restauração.

Palavras-Chave: lugar de nascimento; redes; família;


trajetória.

101
INQUISIÇÃO, UMA INSTITUIÇÃO SOBERANA?
ANÁLISE DAS RELAÇÕES DE PODERES NO
FUNCIONAMENTO DO TRIBUNAL DO SANTO
OFICIO NA PENÍNSULA IBÉRICA (SÉC. XVI-
XVII).

Talita da Costa Plum

Mestranda- UFMA

talitaaplum@gmail.com

Apesar de ter sido instaurado ao final do século XII onde


hoje é a atual França, O Tribunal do Santo Oficio,
também conhecido como Santa Inquisição, sobreviveu
até meados do século XIX em alguns territórios
europeus. Por ter tido uma longa trajetória, esse Tribunal
de Fé foi instalado em praticamente toda superfície da
Europa Ocidental, chegando a se expandir para o lado
Oriental do continente, como também para a América,
Índias e África, atuando dessa maneira em diversas

102
localidades do globo, demonstrando assim, sua evidente
importância na sociedade cristã europeia. Sua extensão é
resultado da política expansionista que os reinos da
Europa adotaram com o advento da centralização
monárquica, fortificada em grande parte no século XIV,
que sucedeu na exploração de novas terras. Como
consequência dessa centralização, surge uma nova forma
de governo que ganhará força no Velho Mundo,
conhecido como Antigo Regime ou Absolutismo. E será
nesse período, mais precisamente nos séculos XVI e
XVII, que o presente trabalho terá seu enfoque ao
analisar o funcionamento da Inquisição, pois o Tribunal
ganha uma nova roupagem com o cenário monárquico
centralizado. Essas mudanças são perceptíveis de forma
contundente nos reinos que formam a Península Ibérica
nessa época, apresentando uma Instituição antiga com
uma nova aparência. E ao analisarmos essas mudanças
utilizaremos como base a teoria de Michel Foucault sobre
as “sociedades soberanas” e as “sociedades
disciplinares”, na tentativa de demonstrar que a
Inquisição Ibérica não foi um Tribunal que se enquadrou
apenas em parâmetros de um “poder soberano”, mas que

103
também apresentava fortes características disciplinares,
apresentadas por Foucault apenas no século XVIII.

Palavras–chave: Inquisição; Península Ibérica;


Sociedade Soberana, Sociedade Disciplinar; Antigo
Regime.

DE CRISTÓVÃO LYERS A JOSÉ ANTÔNIO DAS


MERCÊS: A TRAJETÓRIA DE UM HEREGE
CALVINISTA NAS GARRAS DA INQUISIÇÃO NO
BRASIL POMBALINO.

Jadson Ramos de Queiroz

Mestrando – Universidade Federal de Alagoas

new.jadson@gmail.com

104
Os estudos sobre o Tribunal do Santo Ofício português,
instaurado em 1536, e os seus reflexos sobre a vida dos
colonos americanos têm crescido substancialmente nos
últimos anos. Especialmente no que concerne aos delitos
contra a fé, as práticas de judaísmo têm incorporado parte
considerável das pesquisas. Porém, outro delito de
mesma natureza apresenta-se carente de investigações
acerca dos presos no Brasil: o Protestantismo.

Desta forma, propõe-se a apresentação do Processo de


José Antônio das Mercês, um alemão que chegou ao
Brasil em 1754 e transitou pela Bahia, Rio de Janeiro e
Pernambuco. Neste último é preso, em 1756, por ter se
rebatizado e após julgamento do Tribunal Eclesiástico em
Olinda é enviado a Salvador no ano seguinte para ser
castigado pelo Arcebispo da Bahia. Mas seu caso não
fica circunscrito a esta jurisdição, o Tribunal do Santo
Ofício de Lisboa é informado sobre o seu delito. Enviado
para Lisboa em 1760 os inquisidores entendem que ele
não revelava sua verdadeira intenção de ter se rebatizado
concluindo que em seu coração era um calvinista ou
luterano, especificamente da seita anabatista, por sentir

105
mal do sacramento do batismo, assim como da própria fé
católica, e o veem como um propagador do
protestantismo na colônia. É condenado a abjuração de
leve, penitências, açoites e dois anos de serviços nas
galés.

Seu caso nos apresenta como os tribunais eclesiásticos


auxiliaram o Tribunal do Santo Ofício na tentativa de
manutenção da homogeneidade legal e religiosa na
Colônia, bem como a ameça protestante, junto as demais
manifestações de fé, foi uma preocupação para as
autoridades eclesiásticas.

Palavras-chave: Inquisição, Tribunal Eclesiástico,


Protestantismo, Pernambuco.

OS FÉRTEIS CAMPOS FÚNEBRES DA MORTE: A


PRESENÇA DOS CEMITÉRIOS NA SOCIEDADE
COLONIAL ENTRE OS SECULOS XVII AO XIX

Izabela Pereira de Lima

106
Mestra em arqueologia, UFPE: E-mail:
izabelapereiradelima@hotmail.com
Lucas Alves da Rocha
Mestrando em Arqueologia, UFPE: E-mail: Lucas-
alves170@hotmail.com

Quando falamos da morte no Brasil colonial, muitos,


logo rementem a ideia dos enterros em igrejas, nas
regiões da nave e alguns ainda no adro dos templos como
local de sepultamentos, pois não existiam os cemitérios
neste período no Brasil, mas será que tal afirmação está
correta? Será que não existiam os campos santos no
Brasil antes do século XIX? E se existiam quem eram os
responsáveis? Essas e outras perguntas foram a base para
elaboração deste trabalho, que ao notar uma lacuna sobre
a história dos cemitérios no Brasil iniciou uma pesquisa
nos arquivos históricos e em pesquisas relacionadas a
sítios arqueológicos para demonstrar que possivelmente
os campos santos já existiam bem antes do que se
imaginava. Utilizando exemplos localizados em
Pernambuco, Pará, Bahia e Rio de Janeiro, que muito

107
além de mencionar cemitérios entre 1624 a 1812,
descreve questões como as sanitárias e sobre cemitérios
dentro do período estudado, as pessoas envolvidas desde
a construção destes campos santos aos responsáveis pela
exumação dos cadáveres nestes locais, para quem era
direcionado esses locais de sepultamento que muitas
vezes poderiam ser anexos a uma igreja ou fora do
perímetro urbano da cidade. Esse trabalho é a soma de
pesquisas realizadas entre os anos de 2013 a 2019, no
qual a principal missão é trazer novos dados sobre a
história da morte no Brasil.

Palavras chaves: Cemitérios, Arqueologia da Morte,


História da Morte, Arqueologia Urbana.

108
Dia 12 de Novembro de 2019, às 14:00

AS SINGULARIDADES DO PODER: A ATUAÇÃO


POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DE SEBASTIÃO DE
CASTRO E CALDAS NA CAPITANIA DE
PERNAMBUCO (1700 – 1750)13

Lídia Noronha

Graduanda - UFRPE

noronhaa@outlook.com

Esta pesquisa propõe realizar um estudo sistemático


sobre a trajetória dos agentes recrutados para o cargo de
governador na capitania de Pernambuco durante o
reinado de D. João V (1700 - 1750), tendo em vista
compreender a administração colonial a partir da atuação

13
Orientador: Victor Hugo Abril - UFRPE

109
politico-administrativa e a relação desses personagens
com o poder central e os poderes locais.

Para realização deste estudo estão sendo consultadas as


fontes impressas da legislação portuguesa e fontes
manuscritas referentes à capitania de Pernambuco dos
acervos locais (APEJE, LAPEH, IAHGP) e os que foram
digitalizados e estão disponíveis no projeto resgate do
arquivo histórico ultramarino de Lisboa (AHU): cartas
régias, requerimentos e pareceres da comunicação entre a
capitania de Pernambuco, territórios vizinhos e o reino.

A partir de estudos bibliográficos sobre o tema, leitura e


transcrição da documentação, buscamos identificar as
relações que constituem e controlam o cotidiano da
prática administrativa na sociedade colonial.

Inicialmente, tivemos como enfoque no desenvolvimento


deste trabalho o governo de Sebastião de Castro e Caldas
e sua atuação como governador da capitania de
Pernambuco entre 1707 e 1710. Do qual é bastante
complexa e envolve importantes conflitos entre os
aspectos de sua vida pública e privada. Ao ser
selecionado ao cargo governador por D. João V por seu

110
histórico de serviços prestados à coroa era esperado que
ele a partir de suas implementações e negociações tivesse
a capacidade de manter o controle sob os vassalos e
garantir os interesses da Coroa. Contudo, na prática,
Castro e Caldas utiliza seus privilégios enquanto
autoridade régia para assegurar condição financeira
vantajosa.

Palavras-chave: Governo – Trajetória – Administração


– Colônia

“O AMADO DO SENHOR”: ENCÔMIOS


RELIGIOSOS E A LEGITIMAÇÃO DAS
REFORMAS POMBALINAS NA AMÉRICA
PORTUGUESA, 1775-1776.

Marcone Carlos dos Santos Nascimento

111
Mestrando em História social da cultura regional,
UFRPE
marconnykarlos@gmail.com

Sebastião José de Carvalho e Melo enquanto ministro de


D. José I, contou com a colaboração de religiosos para
implementar suas reformas, não só no âmbito interno da
Igreja, mas externo à mesma. Alguns religiosos, além de
seus interesses particulares, viam no projeto regalista
uma forma de alcançar maior autonomia da Igreja
lusitana frente à Santa Sé. Assim, buscaram aderir aos
princípios regalistas, aperfeiçoando sua formação,
combatendo superstições e adotando teologia moral
distinta da jesuítica, além de produzirem, traduzirem e
divulgarem textos que legitimavam à intervenção régia
nas questões eclesiásticas. Logo, este trabalho visa
analisar alguns escritos religiosos, como orações em ação
de graça pela conservação da vida do dito ministro, por
exemplo, a pronunciada na Igreja de Nossa Senhora da
Madre de Deus do Recife pelo então bispo de Olinda, D.
Thomás da Encarnação Costa e Lima, e a elaborada pelo

112
cônego da Sé da Bahia, José da Silva Freire. Ambas
escritas na América portuguesa em 1776, produzidas
logo após a suposta conspiração orquestrada pelo
genovês, João Baptista Pele, contra a vida de Pombal em
1775. Contribuindo para o fortalecimento de seu poder e
legitimando suas ações na América Lusa, uma vez que,
ambas apontam aspectos teológicos e jurídicos para o
poder atribuído ao marquês, assim como, fazem apologia
contrária aos inacianos e procuram por meio dos feitos
administrativos e das atitudes do ministro enquanto
católico, moralizar as condutas dos fiéis e do próprio
corpo eclesiástico.

Palavras-chave: Pombal; Religiosos; Regalismo;


Conspiração; Legitimação.

A DEVASSA DO CAPITÃO-MOR DE SERGIPE


DEL REI JOAQUIM ANTONIO PEREIRA DA
SERRA MONTEIRO CORRÊA (1758-1762)

113
Leandra Pereira Lima14

Graduanda em História e bolsista PIBIC/COPES/UFS

leandralima0789@outlook.com

Em 1761, Joaquim Antonio Pereira da Serra Monteiro


Corrêa foi acusado de cometer violências e escandalosos
procedimentos no emprego do seu cargo de Capitão Mor
de Sergipe del Rei. O processo teve idas e vindas, com
prisão, recursos e, por fim, sua absolvição. Pesava contra
ele a extorsão de consideráveis somas de dinheiro dos
moradores com a venda de cargos na capitania de Sergipe
del Rei e a perturbação do sossego público com outras
vexações. A Devassa aberta contra este Capitão Mor
(custodiada pelo Arquivo Histórico Ultramarino e
disponível digitalmente) pode servir de análise, sobretudo
com base nos relatos testemunhais, para uma série de
questões para nossa compreensão dos governos na
14
Orientador: Prof. Dr. Augusto da Silva do Departamento de
História/UFS

114
América Portuguesa no século XVIII. Tomando por base
esse documento, assim como outros relacionados a
trajetória desse capitão-mor, nosso objetivo é investigar
questões ligadas aos conflitos entre as autoridades,
desvios de conduta no exercício do cargo; definição (ou
indefinição) dos campos do público e do particular e
relações do governo com a sociedade.
Metodologicamente, a pesquisa consistirá na transcrição
documental, revisão da historiografia específica à luz dos
debates mais atuais da história da América portuguesa e
apresentação de uma análise crítica do documento.

Palavras-chave: Sergipe del Rei – capitães-mores –


governo colonial

É ILEGAL, MAS NÃO IMORAL: O


CONTRABANDO NO BRASIL NO SÉCULO XVIII

115
Luciana Lima de Andrade Barbosa 15
Graduanda em História
Universidade Federal Rural de Pernambuco
lucianalima1878@gmail.com

Este resumo refere-se a uma pesquisa em andamento,


cujo objetivo inicial é investigar o conceito do termo
contrabando, no contexto da América Portuguesa durante
o século XVIII. Também verificar alguns agentes
envolvidos na prática, onde e de que forma ela ocorria, e
principalmente qual era a posição da Coroa portuguesa
perante tal. O contrabando, também conhecido como
descaminho, é por definição o ato de importar e/ou
exportar mercadorias sem que se pague os devidos
impostos, é o desvio do dinheiro da Coroa, a venda de
produtos contra a ordem da mesma. No citado período
colonial o termo era um tanto quanto mais abrangente,
incluindo o desvio de impostos bem como de
mercadorias, e em grande escala o desvio do ouro das

15
Orientador: Prof. Dr. Victor Hugo Abril, NEIC/Departamento de
História - UFRPE

116
Minas Gerais. Essa atividade ilícita era praticada em
grande parte por pessoas influentes da colônia, grandes
mercadores, clérigos, oficiais militares, e importantes
administradores. No entanto, poucos eram aqueles que
eram devidamente punidos pelo ato. O que a pesquisa e a
literatura referente ao tema pontuam é que o contrabando
era aceito, em certo ponto até regulamentado pela Coroa,
tudo era uma questão de quem o praticava, e que
relevância tal indivíduo tinha perante o governo
português, que muitas vezes concedia o perdão aqueles
julgados pela prática. Sendo assim a atividade era ilegal,
mas não imoral, e considerada parte inerente da
sociedade colonial.

Palavras-chave: 1 Contrabando; 2 Comércio Ilegal; 3


Coroa Portuguesa

117
“NEM TUDO É FESTA”: OS DISPÊNDIOS POR
TRÁS DOS FESTEJOS EM RECIFE E OLINDA
DURANTE O PERÍODO JOSEFINO.

Noelly Gomes da Silva


Mestra em História (UFRPE) /Professora da Rede
Municipal do Recife
noellygomes@gmail.com

Esta comunicação compõe a dissertação defendida no


ano de 2014 com título de “Viva El Rey”: aclamação e
celebração para D. José I em Pernambuco (1742-1777), a
qual trata do reinado deste monarca e, principalmente,
algumas festas que foram realizadas para o soberano em
Recife e Olinda. Para este momento, selecionamos parte
do terceiro capítulo, o qual trata sobre os “bastidores”
dos festejos realizados para D. José I atrelado ao ônus
que as Câmaras Municipais enfrentavam em arcar com os
custos das celebrações. Através de algumas
documentações específicas podemos perceber e narrar os
entraves que havia por trás de toda pompa demonstrada.

118
Há um destaque maior para a Câmara do Recife, onde
localizamos um número maior de reclamações por falta
de recursos e aumento de propinas para participar das
festas.

Palavras-chave: Celebrações. D. José I. Bastidores.


Câmaras Municipais.

119
Dia 13 de Novembro de 2019

SERTÕES E ALDEAMENTOS DO BRASIL


SETECENTISTA

Taylor Uchôa Cavalcanti16


Graduando em História
Universidade Federal Rural de Pernambuco
tayloruchoa123@gmail.com

Este trabalho tem como finalidade fazer uma discussão a


respeito dos múltiplos significados que o termo “sertão”
carrega no século XVIII, no Brasil, e expor que mais do
que um “simples vazio”, há nele uma zona mediadora de
interesses sociais e uma relação político-jurídica para a
administração do império português. Além de abordar a

16
Orientador: Prof. Dr. Victor Hugo Abril, NEIC/Departamento de
História – UFRPE.

120
política de aldeamento no século XVIII como forma de
assimilar as populações indígenas aos “moldes
europeus”. Dentre os significados adquiridos pelo termo
“sertão”, tinha-se como oposto a “litoral”: este era tido
como civilizado que, embora habitado por negros e
índios, colonizado por brancos; ao contrário, aquele
apreendido como região apartada do mar por todas as
partes, assim definiu Rafael Bluteau, lar de bárbaros
índios e animais bravios. Para além dessa relação
polarizada, existe uma relação de completude entre
“civilizado” e “selvagem”, uma zona intermediária, que
fez a Coroa portuguesa mover esforços para integrar
grupos indígenas que ali habitavam, pela construção de
aldeamentos ou pelo fio da espada, visando a
consolidação do território. Portanto, no plano de gestão
de uma unidade política espacial, o sertão se apresenta
como zona de confluência entre diligências.

Palavras-chave: Sertão; Grupos Indígenas; Política.

121
PERSPECTIVAS DE PODER: O CONFLITO
ENTRE A FAMÍLIA ARAÚJO E A ALDEIA DE
SANTO AMARO (COMARCA DAS ALAGOAS,
1723-1755).

A. Karolline Campos Mendonça

Mestra pela Universidade Federal de Alagoas

Doutoranda vinculada a Universidade Federal de


Pernambuco

E-mail: karolline-campos@hotmail.com

A comunicação tem como objetivo central analisar o


conflito por terras expe-rimentado entre os anos de 1723
e 1725, na Comarca das Alagoas; protagonizado por
personagens advindos da família Correa da Paz-Araújo e
pelos índios da Aldeia de San-to Amaro, na Vila das
Alagoas. Serão verificados, a partir daí, determinados

122
vestígios discursivos, manipulados e transformados em
fontes de poder utilizadas para o fortale-cimento das
investidas na manutenção de interesses dos indivíduos
envolvidos, compre-endidos como distintos entre si.
Nesse interim, serão observadas pelo menos três pers-
pectivas de forças atuantes, legítimas, contrastantes e
concorrentes. Tratar-se-á de um estudo capaz de
identificar os pontos de vista dos suplicantes e, ainda, dos
oficiais de-signados para verificação e julgamento do
caso. Tenta-se com isso, esboçar como se davam o forjar
de mecanismos de poder, bem como ressaltar as
possibilidades e limita-ções a serem flexibilizadas ou
superadas de acordo com as qualidades dos requerentes
envolvidos e com as relações que foram capazes de
desenvolver. Pode-se, ainda, trazer à luz alguns pontos
fundamentais no que diz respeito a percepção das formas
de pensa-mento social, político e jurídico inerentes ao
Império português e ao momento histórico competente.

Palavras-chave: Alagoas Colonial; Poder; Discurso.

123
UM ARTICULADOR INDÍGENA: A TRAJETÓRIA
DE MANUEL VALENTIM NA ZONA DA MATA
SUL DE PERNAMBUCO E A DEFESA DO
RIACHO DO MATO (1860-1880)17

Paulo José de Melo Lima

Graduando em história – UFRPE

paullolima@outlook.com

O presente trabalho tem o objetivo de apresentar os


primeiros resultados da pesquisa realizada sobre a criação
do aldeamento do Riacho do Mato, em 1860, localizado
na região da zona da mata sul de Pernambuco, próximo à
fronteira com Alagoas, e liderado por Manoel Valentim

17
Este trabalho possui orientação da Prof. Dra. Mariana
Albuquerque Dantas do Departamento de História da Universidade
Federal Rural de Pernambuco.

124
dos Santos. A intenção é apresentar algumas informações
sobre a trajetória de vida de Manuel Valentim ao longo
do século XIX e, com isso, abordar a situação histórica
da região citada durante os processos de criação e
extinção do aldeamento do Riacho do Mato, bem como a
sua transformação, na década de 1880, em espaço para
alojamento de migrantes da seca, denominado Colônia
Socorro (Dantas, 2018). Manuel Valentim atuou na
articulação da transferência dos índios da aldeia em
iminente extinção para o novo território, aonde viriam a
se estabelecer. Faltam muitas informações sobre a
atuação de Valentim, principalmente depois que a aldeia
foi extinta e transformada na colônia Socorro. No
entanto, podemos perceber que apesar de ser uma figura
histórica carregada de polêmicas e contradições,
Valentim foi capaz de articular estratégias de atuação
frente aos ataques de posseiros e à omissão das
autoridades locais. Valentim se apropriou de ferramentas
legais, fez reivindicações, denúncias e alianças, tentando
garantir o direito à posse coletiva de terra e melhores
condições de sobrevivência. Como estratégias
metodológicas, utilizamos as abordagens micro-histórica

125
(Revel, 1998) e biográfica (Le Goff, 1999), além de
referências sobre o protagonismo indígena na história do
Brasil e sua participação em revoltas populares no século
XIX. Assim, nosso trabalho tenta compreender a relação
entre atuação individual de nossos atores históricos e a
pluralidade de sentidos que eles podem traçar na relação
com seus contextos sociais. Para que assim possamos
construir novas perspectivas, que reflitam a tendência de
as populações indígenas passarem a ocupar um lugar de
maior destaque no palco da história (Almeida, 2010).

Palavras-chave: Biografia; Manuel Valentin; Micro-


História; Protagonismo Indígena; Riacho do Mato

DISTINÇÃO E MOBILIDADE SOCIAL NOS


CORPOS MILITARES DE HOMENS PRETOS E

126
PARDOS NO BRASIL IMPÉRIO: O CASO DE
SERGIPE.18

Eden Filipe Santos Vieira

Mestrando em História

PROHIS-UFS

edenitabi@hotmail.com

Desde os tempos coloniais, os corpos militares na


América portuguesa foram constituídos e segmentados
por brancos, pardos e negros para a defesa do território.
Embora fossem importantes e numerosos, devido à
alforria, reprodução, mestiçagem e mobilidade social, os
homens de cor viviam numa sociedade católica e
escravista que naturalizava a ideia de estratificação entre
as pessoas e alicerçava as reciprocidades desiguais. Após
a independência do Brasil, a constituição liberal

18
Orientador Prof. Dr. Carlos de Oliveira Malaquias – Universidade
Federal de Sergipe/UFS.

127
outorgada em 1824 garantia que os cidadãos brasileiros
eram iguais perante a lei, garantindo o mérito e a
ausência de discriminação. No entanto, as diferenciações
continuariam em relação a cor e/ou qualidade dos
indivíduos. Em Sergipe, os batalhões militares, tentaram
manter as hierarquias entre brancos e homens de cor.
Requerimentos, queixas e denúncias dos e sobre os
pardos e pretos são constantes no processo de
consolidação da independência do Brasil e da província
sergipana em relação à Bahia. É dentro dessas
circunstâncias imersas em contradições, tensões e
conflitos, que pretendemos compreender o universo por
onde transitaram os homens de cor, desvelando suas
estratégias para se distinguir e ascender socialmente
numa sociedade escravista.

Palavras-chave: escravidão; mestiçagem; pardos; pretos;


mobilidade.

128
A ORGANIZAÇÃO DAS FORÇAS POLICIAIS
PERNAMBUCANAS DURANTE A GUERRA DO
PARAGUAI (1864 – 1870) .19

Reydson Augusto Machado de Souza


Graduando (UFRPE)
Reydso9augusto@gmail.com

A polícia é, na prática, a instituição estatal mais palpável


para grande parte da população, pois é por meio de sua
ação que muitos cidadãos têm contato com o poder
público, reforçando o pressuposto de que o Estado tem a
força bruta como mecanismo de poder. Em Pernambuco,
durante todo o século XIX, o Corpo de Polícia variou em
sua organização, contingente e distribuição dos
destacamentos pelas diversas regiões da província. Mas,
no período de 1864 a 1870, essa variação ganhou um
componente extra: a eclosão da Guerra do Paraguai. No
ano de 1865, com o início da referida guerra houve a

19
Orientador: Prof. Dr. Wellington Barbosa da silva (UFRPE).

129
necessidade de uma reorganização militar visando o
deslocamento de tropas para o front – uma situação que
também envolveu o Corpo de Polícia. Como uma parcela
do seu efetivo se voluntariou para participar do esforço
bélico, o governo provincial teve de criar uma força
pública, de caráter provisório, para continuar o serviço de
policiamento em Pernambuco. Contando com o aporte
documental dos anais da Assembleia Legislativa
provincial e da coleção de leis provinciais, sob a guarda
do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano
(APEJE), esta comunicação tem justamente como
objetivo analisar a atuação do Corpo de Polícia nos anos
iniciais da supracitada guerra na tentativa de
compreender suas relações com o Estado e a sociedade
no período em tela.
Palavras-chave: Corpo de Polícia; Organização; Polícia
Provisória

130
OS XUKURU DO ORORUBÁ NA LIGA
CAMPONESA DE PESQUEIRA20

Ellen Joshua Alves da Silva


Graduanda – Licenciatura em história da UFRPE
ellenjoshuaas@gmail.com

A presente proposta de trabalho trata das análises


preliminares realizadas na pesquisa em andamento sobre
as estratégias de reivindicação agrária adotadas pelos
Xukuru do Ororubá frente à negação de sua identidade
étnica e, consequentemente, das terras de seu antigo
aldeamento, com enfoque na cidade de Pesqueira entre os
anos de 1954 e 1964. A problemática a ser abordada se
baseia na participação desses indígenas juntamente à
Liga Camponesa da zona rural de Pesqueira, inclusive na
ocupação, em 1963, do sítio Pedra D’Água, área
pertencente ao antigo aldeamento de Cimbres, que
passou ao domínio da União (SILVA, 2010). Esse

20
Orientada pela Prof.ª Dra. Mariana Dantas, Professora do
Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em
História da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

131
processo constituiu historicamente a sua primeira
retomada de terras, antes da Assembleia Nacional
Constituinte de 1987 e da Constituição de 1988,
geralmente reconhecidos como estopins para os
processos de mobilizações para as retomadas de terras
Xukuru. As fontes utilizadas nesta Comunicação serão
documentos oficiais e publicações da época, bem como
romances e periódicos regionais, visto que as entrevistas
para coleta de relatos orais ainda não foram realizadas.
O início do recorte temático se dá em 1954 devido à
viagem a pé de três indígenas ao Rio de Janeiro, onde
localizava-se a sede do SPI, motivada, entre outras
coisas, pelas pressões dos fazendeiros em esbulhar as
ricas terras da Serra do Ororubá, um brejo de altitude em
meio ao agreste pernambucano. Através dos discursos
sobre a participação de seus antepassados na Guerra do
Paraguai, acabaram por conquistar a instalação do Posto
do SPI, não tendo este, porém, solucionado os conflitos
com os invasores das terras do antigo aldeamento
(SILVA, 2008). Neste contexto, compreender o conceito
de territorialização formulado por João Pacheco de
Oliveira (1998) é essencial no sentido de que, através da

132
atribuição territorial fixa de uma população, como foi o
aldeamento de Cimbres, suas formas culturais e
organização política são reestruturadas, bem como a
reelaboração de sua relação com o passado.

Palavras-chave: Xukuru; Territorialização; Estratégias;


Pesqueira.

133
SIMPÓSIO 05

HISTÓRIA E CULTURA
AFRICANA E DA
DIÁSPORA.

Coordenação:

Prof. Dr. José Bento Rosa da Silva (UFPE)

Prof.ª Dr.ª Luiza Nascimento dos Reis (UFPE)

134
Dia 12 de Novembro de 2019

OS FRESSUREIROS
MALUNGOS: ASSOCIATIVISMO, TRABALHO E
CARNAVAL NO RECIFE DO PÓS-ABOLIÇÃO

Karla Hegeane Vieira de Lima


Mestre em História.
Email: karli_lima@hotmail.com

No Recife do pós-abolição, uma categoria de


trabalhadores se articulou de modo a promover auxílios
mútuos através de instituições beneficentes, como
também promoveu diversas greves em favor do
melhoramento de seus ganhos pecuniários e sociais, os
fressureiros. Esses trabalhadores eram responsáveis pelo
serviço de venda de miúdos e vísceras de porta em porta
e nos mercados e feiras da cidade, homens negros em sua

135
maioria. Mas para além dessa articulação relativa tão
evidentemente ao mundo laboral, vários fressureiros do
Recife moradores das imediações de Afogados e
Cabanga formaram um misto carnavalesco alcunhado de
Malunguinhos nas primeiras décadas do século passado.
A escolha do nome Malunguinhos no plural remete à
ideia de que os brincantes eram malungos. Se não
companheiros na viagem atlântica, mas com certeza
vizinhos que partilhavam muitos de seus modos de vida,
dos problemas do cotidiano, numa amálgama de relações
que projetava a noção de experiência compartilhada. Essa
escolha também remete ao líder do famoso quilombo
localizado na Toca da Onça que décadas antes tinha
assombrado o imaginário dos habitantes do Recife.
Relações de trabalho e vizinhança se articularam na
criação desse clube carnavalesco, e dizem de uma
experiência diásporica no fazer e no rememorar
ancestrais.
Isto posto, intento pontuar como relações laborais e de
vizinhança foram responsáveis pela articulação
associativista em diversos âmbitos dos fressureiros,
sendo a experiência associativa num clube de carnaval a

136
observada como maior ênfase, tentando enxergar o modo
como esses homens desejavam divertir-se e como se
projetaram socialmente a partir de referenciais negros,
sendo inclusive assim percebidos em suas práticas pelos
jornais da cidade.

Palavras-chave: pós-abolição, carnaval, associativismo


negro, trabalhadores.

A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO VISUAL


SOBRE O NEGRO (1850-1914)

Gustavo Henrique Ribeiro Tiné

Graduando em História, UFRPE

E-mail: gustavo.tine20@gmail.com

137
O trabalho consiste em uma pesquisa histórica e
documental acerca da produção e circulação de imagens
sobre a África e os africanos entre o período da proibição
do tráfico de escravos e os primeiros anos do Pós
abolição e república no Brasil. A pesquisa está inserida
nas atividades do projeto “Imaginário colonial e racismo
nas primeiras décadas da república no Brasil” sob
orientação da Professora Drª Cibele Barbosa da Silva
Andrade 21 , fomentada pelo Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), da Fundação
Joaquim Nabuco, com previsão de conclusão em julho de
2020. A partir do estudo dos acervos pessoais, artigos de
imprensa e documentos visuais é possível traçar a
atuação de grupos liderados por senhores de escravos na
composição de um imaginário sobre africanos e
afrodescendentes. Busca-se analisar imagens
provenientes e sobre a África tais como cartões postais,
ilustrações, pinturas, gravuras, entre outros, muitos dos
quais foram produzidos pelas metrópoles europeias
marcadas pelas teorias raciais. Estão sendo trabalhados
21
Historiadora e pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco,
vinculada ao Centro de Estudos da História Brasileira (CEHIBRA).

138
os acervos do Instituto Arqueológico, Histórico e
Geográfico Pernambucano, Fundação Joaquim Nabuco e
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. O estudo
deste corpus de fontes permitirá compreender de que
maneira as elites escravocratas se comportavam em
relação às populações africanas e afrodescendentes no
período pré e pós abolição da escravidão, a partir do
consumo e da produção de imagens.

Palavras-Chave: Imaginário colonial; afrodescendentes,


Pós-Abolição.

REFLEXÕES HISTORIOGRÁFICAS SOBRE O


QUILOMBO DOS PALMARES

Gabriel Medeiros Alves Pedrosa

139
Mestrando em História – Programa de Pós-Graduação em
História da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE). Gabriel7art@gmail.com

Resumo: Dentre todos os mocambos e quilombos que


existiram no Brasil escravista, Palmares é o mais famoso,
tanto pelas dimensões que atingiu quanto pela longa
existência que alcançou. Porém, adentrar na história e na
historiografia de Palmares e de seus líderes requer o
conhecimento de que estamos lidando com um passado
repleto de lacunas e que foi, muitas vezes, idealizado em
narrativas heroicas e apropriado pela memória. O
Quilombo dos Palmares já foi objeto de estudo de
diversos autores inseridos em diferentes escolas teóricas,
em metodologias distintas, em posicionamentos políticos
díspares. Dessa forma, os enquadramentos dessa história
contemplam vários recortes, interpretações, objetivos e
epistemologias. O presente trabalho tem como objetivo
discutir questões historiográficas acerca do Quilombo
dos Palmares através da análise de alguns
enquadramentos que esse tema recebeu ao longo das seis

140
primeiras décadas do século XX. Não pretendo me
embrenhar por questões factuais, pois isso excederia os
limites desse texto cuja finalidade é discutir historiografia
e não história. Para tal, tomei como foco algumas das
obras mais importantes desse período (Nina Rodrigues,
Ernesto Ennes, Edison Carneiro e Clovis Moura). Por
último, optei por tratar de uma pequena narrativa de
divulgação histórica contida no fascículo sobre Zumbi da
coleção Grandes pensadores da nossa história (1969),
levando em conta a ampla distribuição que obteve.

Palavras-chave: Quilombo dos Palmares; historiografia;


enquadramentos.

A ESCRAVIDÃO NO MUNDO ATLÂNTICO E A


LITERATURA DE VIAGEM EM UM ESTUDO
SOBRE HENRY KOSTER

141
Aline Jeronimo Barros

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Culturas


Africanas, da Diáspora e dos Povos Indígenas –
PROCADI. Universidade de Pernambuco (UPE).
aline_jbarros@hotmail.com

Resumo: A historiografia mais recente, após a década de


1970, tem avançado de maneira significativa nos debates
sobre escravidão e os povos africanos, trazendo uma
compreensão mais alargada da construção da América
Portuguesa e do Brasil Império, levando em consideração
novas fontes e abordagens que possam contribuir nessa
análise. Essa renovação nas pesquisas históricas inclui a
abordagem de fontes como a literatura de viagem, que,
embora possua as particularidades de quem a escreve, é
um importante meio para entender o cotidiano da
sociedade brasileira, destacando questões raciais,
culturais e econômicas. Dessa maneira, o presente
trabalho tem como objetivo discutir, através de uma

142
análise bibliográfica, o início do tráfico de escravizados
africanos para o Novo Mundo e a relação comercial entre
Brasil e África; as relações do Brasil com a Inglaterra (da
legalidade à ilegalidade do tráfico); e por último analisar
as vivências do inglês Henry Koster que esteve no Brasil
no início do século XIX e fez importantes descrições,
publicadas em forma de diário de viagem, sobre aspectos
culturais, comerciais e sociais no Novo Mundo, dando
destaque a escravidão, assunto presente no cotidiano e
nos escritos do viajante.

Palavras-chave: Literatura de viagem; diáspora africana;


Oitocentos; historiografia.

IMPRIMINDO REFERÊNCIAS DE UM
CONTINENTE NA DIÁSPORA: O JORNAL
ANGOLA E SUAS (RE)CONEXÕES ATLÂNTICAS

143
André Eduardo Bezerra de Carvalho

Mestrando em História pelo PPGH-UFPB. E-mail:


carvalho.andree@gmail.com

O Angola foi o primeiro jornal negro do Recife em


circulação no século XX, iniciando suas atividades no
ano de 1981, no contexto da rearticulação do ativismo
negro na capital. Ligado a uma das mais antigas
entidades negras do estado, o Centro de Cultura Afro-
Brasileira (CCAB), o Angola enfocava uma dimensão
bastante específica da luta antirracista: a religiosidade. O
universo das religiões de origem africana e afro-brasileira
é o tema que perpassa simplesmente todo o corpo do
jornal, como sugere o próprio subtítulo: “nosso jornal de
umbanda e candomblé”.

A escolha por essa vertente se materializou no resgate e


valorização das origens africanas como forma de
despertar um sentimento de orgulho e mitigar os efeitos
negativos criados pelos estereótipos relacionados às
religiões afro. A propósito dessa valorização de aspectos

144
religiosos e culturais que tem como marco de origem o
continente africano, é perceptível aos olhos de quem lê o
Angola o retrato de um trânsito de influências que se cria
a partir de laços transatlânticos. A transmissão de saberes
e intercâmbios com a África foi de suma importância
para a constituição do jornal, indicando ao pesquisador
um potente manancial para compreensão das identidades
negras forjadas na diáspora a partir de referenciais
múltiplos. Neste ínterim, os estudiosos que se
debruçaram sobre o tema, sobretudo Stuart Hall e Paul
Gilroy, se detiveram e enfatizaram menos uma circulação
sul-sul que norte-sul, sendo, portanto, o contexto Leste-
Oeste ao sul do hemisfério, mais precisamente Brasil-
África, digno de ser balizado e explorado mais
vigorosamente também no século XX.

Isto posto, busco pontuar como o Angola imprimiu nas


suas páginas as referências vindas da África,
estabelecendo conexões dentro do contexto Atlântico. O
próprio nome do jornal já sugere prima facie uma
ligação, assim como a presença escrita de africanos,
sobretudo da Nigéria, que em um compasso de trocas de

145
ensinamentos acoplavam suas tradições vindas da
África.

Palavras-chave: História Atlântica; Imprensa Negra;


Religiões afro-brasileiras.

146
Dia 13 de Novembro de 2019

A REVOLTA DOS MACOTAS DO REI GINGA:

CONFLITOS EM ANGOLA NO PERÍODO DE


EXPANSÃO DO TRÁFICO ATLÂNTICO (1817-
1830)

Aline Emanuelle De Biase Albuquerque

Mestre em História

Professora no Instituto Federal do Sertão Pernambucano

E-mail: alinedebiase@gmail.com.

Este trabalho faz uma análise das disputas políticas em


Angola no período de expansão do comércio atlântico de
escravos para o Brasil. Utilizando a documentação do

147
Arquivo Histórico Ultramarino, o objetivo deste trabalho
é investigar os conflitos no interior angolano, de 1817 a
1830, a fim de identificar a resistência contra o domínio
português e o tráfico negreiro na região. No recorte de
1817 a 1830, uma série de reclamações dos comerciantes
da praça de Luanda e da região de Ambaca ao
governador de Angola denunciaram que alguns sobas e
macotas, súditos do rei Ginga, estavam acoitando
escravos fugidos, recusando-se a pagar os impostos e
impedindo o comércio feito pelos pumbeiros no interior.
O episódio, referenciado ao longo do artigo como a
revolta dos macotas do rei Ginga, será utilizado como
ponto de partida para analisar esses conflitos que
abalaram o cotidiano colonial e escravista e a dinâmica
do tráfico atlântico nas terras do rio Lucala. Desse modo,
este trabalho dialoga com uma historiografia que vem
analisando os meandros da costa africana durante o
tráfico atlântico, contribui no entendimento das
dinâmicas políticas e da resistência anti-colonial e anti-
tráfico na região que mais enviava pessoas escravizadas
para o Brasil.

148
Palavras-chave: Angola. Tráfico de escravos. Sobas.
Macotas.

AFRO-SERGIPANIDADE: DESIGNAÇÕES
AFRICANAS ENCONTRADAS NO PLANTEL
ESCRAVISTA DE SERGIPE DEL REY 1800-1856. 22

Erike Adriane Lima Correia

Graduando pela Universidade Federal de Sergipe

Email: limacorreiamagisterio@gmail.com

A entrada da Capitania de Sergipe Del Rey na economia


açucareira se deu tardiamente embora nos séculos XVI e
XVII pudesse ser contado um ou outro engenho, só na

22
Trabalho orientado pelo Professor Doutor Carlos Oliveira
Malaquias (UFS)

149
segunda metade do século XVIII a economia açucareira
se firmou. O arranjo da laboração nos engenhos em
Sergipe Del Rey não escapou à norma colonial com seu
predomínio do cativeiro negro. O presente trabalho traça
um panorama da composição e distribuição da mão-de-
obra escrava africana, empregada nas atividades
econômicas desenvolvidas na capitania de Sergipe Del
Rey, com o enfoque nas suas designações de origem,
visualizando as ligações de Sergipe com o tráfico
atlântico dentro do recorte temporal que vai de 1800 a
1856. Nossos dados foram encontrados a partir do
levantamento de inventários post-mortem, acessados no
Arquivo Geral do Judiciário de Sergipe, e nos apresentam
as origens, sexo e idades dos escravizados africanos
encontrados no plantel sergipano. Os procedimentos de
coleta e análise das informações dos inventários seguem
os postulados da chamada História Quantitativa: a
produção de bancos de dados, a criação de longas séries
temporais de informações e o uso de técnicas estatísticas
para tratamento dos documentos. Essa metodologia
oferece uma visão global do universo pesquisado e de sua
evolução no tempo. Os principais resultados nos

150
permitem concluir que houve uma baixa participação de
africanos ao longo do tempo, não superior a 20% dos
escravos, e o predomínio de indivíduos originários da
região centro africana, embora note-se uma variedade de
provenientes da África Ocidental e sua alteração ao longo
do tempo.

Palavras-chave: Escravidão, africanos, tráfico atlântico,


etnias africanas

CONEXÕES TRANSATLÂNTICAS YORUBANAS:


O CULTO A ÒGÚN NO NÀGÓ PERNAMBUCANO
E EM TERRITÓRIO YORÙBÁ EM SUA
SINGULAR RITUALIDADE DE DOMINAR A
SERPENTE

Ronnei Prado Lima

Mestrando em História - UFPE

ronneilima@yahoo.com.br

151
Resumo: A proposta é, a partir da trajetória do
Bàbálóòrìÿà Claudionor Antonio de Oliveira
(n.26/08/1924 - m.24/03/2014), analisar um peculiar
ritual continuado na comunidade afro-religiosa Ilé aÿé
Ògún Màátá localizado no bairro de Tejipió em Recife,
no qual o òrìṣà Ògún dança com a serpente. Temos como
referência relatos do Reverendo Samuel Johnson (1921),
os estudos de Peel (1989), e outros, quando analisam o
culto a Ògún com uma notável adaptação às condições no
novo mundo. Esse mesmo ritual é praticado em Èkìtì,
considerada a terra de Ògún e em outros grupos
yorubanos. Margaret Drewal descreve mulheres
“possuídas” por Ògún em Ìgbògilá e Êgbádò com cobras
enroladas no pescoço abençoando e curando pessoas.
Histórias que nos levam a refletir essa tradição como uma
prática diaspórica em relação à África Ocidental e que se
manteve nessa travessia entre as duas margens do
Atlântico. É nessa perspectiva que procuramos trabalhar
com a oralidade desses grupos yorubanos, quando
demonstram a relação do òrìṣà com a serpente. A

152
transmissão do conhecimento, a tradição oral, é
considerada por eles uma fonte legítima que conta a
história do seu povo, pautada na memória. A oralidade é
uma atitude perante a realidade existente. Quando nos
referimos aos Yorùbá aludimos a populações que ocupam
grande parte da atual Nigéria, Togo e Benim.
Atualmente, os Estados yorubanos são Õÿún, Õyö, Ògún,
Ondo, Kwara, Kogi, Lagos (Èkó) e Edo. Procuramos,
dessa forma, respeitar as matizes étnicas que esses grupos
utilizam como referência identitária e religiosa. A análise
desses grupos no contexto dessa peculiaridade ritualística
nos permite um estudo que proporciona uma ampliação
da visão cultural e histórica do Atlântico negro yorubano.
Há relatos desse peculiar rito com Pai Duda em Tejipió,
Olegário em Casa Amarela, Claudionor Antonio de
Oliveira em Tejipió, Leda em Cavaleiro, Kleiton em
Maranguape II, Antonio Cabritinha no bairro do Pina e
Lídio da Mangabeira com registros desde 1930.

Palavras-chave: Yorùbá. Ògún. Transitoriedades.


Oralidade. Conexões.

153
RESSSIGNIFICAÇÕES DAS RAÍZES AFRICANAS
DA CULTURA EGÍPCIA: O ESTEREOTIPO DA
CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA TRADIÇÃO
CLASSICIZANTE

Daniele Cristina Liberato de Oliveira


Doutoranda em Artes PPGARTES/UERJ e em
Arqueologia PPGArq/UFPE
danny-liberato@hotmail.com

Pensar em uma relação do continente africano com Brasil


pode gerar diferentes vertentes de trabalho. As
associações com as influências das culturas africanas
também dizem respeito a analisar os afastamentos de
uma parte da população que passou a ser rejeitada desde
sua chegada no Brasil. Por outro lado, um outro país
africano teve um processo diferenciado em seu contato
com o Brasil: trata-se da cultura egípcia, associada, em

154
grande parte, a uma tradição inventada de base
classicizante. Sendo assim, o imaginário egípcio, apesar
de sua localização geográfica, remete muito mais ao eixo
eurocêntrico do que a sua história como um país africano.
É preciso destacar, no entanto, a importância do país para
o continente em que está inserido e diferentes influências
que essa cultura teve ao longo de cerca de cinco mil anos
de história. Assim, se por um lado o Egito construiu uma
longa história de disputa com outras civilizações
africanas, por outro, ele foi reconhecido ao longo da
história ocidental pela construção imagética ligada ao
passado hebraico, muçulmano, cristão, greco-romano,
dentre outras possibilidades de interpretação de sua
história; deixando de lado sua essência africana. Há que
se analisar que isso é uma construção do outro sobre a
cultura egípcia. Todo esse processo tem alguma relação
com o Brasil? Para foco do presente trabalho, atuo,
primeiramente, em analisar que diferentes olhares
construíram um imaginário egípcio e como isso
influenciou a formação de outras nações. Sendo assim,
no século XIX, o fascínio sobre o Egito ganhou força em
quase todos os países ocidentais. Em um segundo

155
momento, todavia, trato como o colecionismo de objetos
egípcios foi fundamental no processo de formação dos
Estados-Nação do século XIX, incluindo o caso
brasileiro. Como recorte temporal trabalho com especial
ênfase om o século XIX, enquanto como recorte
geográfico, atuo com a problemática da formação da
identidade brasileira.. Neste sentido, procuro analisar a
importância dessa associação egípcia com o projeto
civilizatório brasileiro e o possível abandono das demais
tradições africanas e indígenas, como um não
pertencimento à essas culturas. Recupero, assim, o
conceito de africanidade egípcia e suas reverberações ao
longo da história.

Palavras-chave: Imaginário Egípcio; Africanidade;


Pertencimento; Identidade Nacional.

156
SIMPÓSIO 06

SOCIEDADE, TRABALHO E
CULTURA NO BRASIL
IMPÉRIO.

Coordenação:

Prof. Dr. Robson Pedrosa Costa (IFPE)

Prof. Dr. Cristiano Luis Christillino (UEPB)

157
Dia 12 de Novembro de 2019

OS FEITORES EM DEBRET: TRABALHO E


COTIDIANO DE UM OFICIO DA ESCRAVIDÃO

Bruno Augusto Dornelas Câmara

Doutor em História

Universidade de Pernambuco – UPE, Campus Garanhuns

Programa de Mestrado Profissional em Culturas


Africanas, da Diáspora, e dos Povos Indígenas –
PROCADI

E-mail: brunohist@hotmail.com

A obra intitulada Feitores açoitando negros na roça, de


Jean Baptiste Debret (1828) é possivelmente a

158
iconografia mais marcante da escravidão no Brasil.
Desde cedo aprendemos a associar a violência do sistema
escravista a algo semelhante ao que foi retratado ali.
Rápidas associações da violência da escravidão aos
feitores evidenciam e personalizam apenas um aspecto do
próprio sistema, e encobrem muitos outros. O uso dessa
imagem cristalizada da escravidão quase acaba por
colocar o feitor como um sujeito sem história, como se a
forma da violência e do trato com os escravos fosse
quase atemporal. De fato, a imagem (as representações
literárias e até as históricas) dos feitores, através do
tempo, pouco foi alterada. O trabalho dos feitores, como
mão-de-obra especializada, vai muito além do trato com
os escravos, de alguém que regulava e dirigia o trabalho
sob o peso do chicote. Diante disto, a presente
comunicação é uma tentativa de compreender de forma
mais ampla o trabalho desses feitores. Afinal, pouco se
fala desses sujeitos na própria história social do trabalho
no Brasil.

Palavras-chave: Trabalho livre; Feitores; Escravidão

159
AFRICANOS LIVRES: TRABALHO E
RESISTÊNCIA NO ARSENAL DE GUERRA DE
PERNAMBUCO (1854 – 1864) .23

Paulo Vinicius Nunes Fernandes

Graduando (UFRPE)

pauloviniciusnf.09@gmail.com

Em 7 de novembro de 1831, a promulgação de uma lei


determinou que todos os africanos escravizados que
entrassem no território do Brasil, após aquela data,
seriam considerados livres. No entanto, antes de
adquirirem a sua liberdade efetiva, eles deveriam ser
“alugados em praças a particulares de estabelecimento e

23
Orientador: Prof. Dr. Wellington Barbosa da silva (UFRPE).

160
probidade conhecida” ou servir como libertos em alguma
instituição pública “de mar, fortalezas, agriculturas e de
ofícios”, pelo período de 14 anos, como justificativa para
sua adaptação ao cotidiano do Império. Em Pernambuco,
uma das repartições públicas que mais recebeu africanos
livres, foi o Arsenal de Guerra, sendo matriculados nessa
instituição, até o ano 1856, mais de 92 negros. A diretoria
do arsenal recebia do governo provincial uma quantia de
240 réis para vestir, curar e alimentar esses africanos –
um valor reputado, pelos próprios diretores, como
insuficiente para custear essas despesas. Grande parte dos
africanos livres não possuíam uma função fixa e podiam
trabalhar tanto nas oficinas, produzindo manufaturados,
como em serviços de manutenção do prédio onde
funcionava o arsenal. Sendo assim, apoiada em diversos
ofícios legados pela burocracia do Arsenal de Guerra,
cujo acervo pertence ao Arquivo Público Estadual Jordão
Emerenciano (APEJE). a presente comunicação tem
como proposta analisar os tipos de serviços, as condições
de trabalho e a resistência dos africanos livres no Arsenal
de Guerra de Pernambuco, no período de 1854 a 1856.

161
Palavras-chaves: Africanos Livres; Arsenal de Guerra;
Resistência.

MÃE PRETA PARA FILHO BRANCO: AS AMAS


DE LEITE NOS ANÚNCIOS DO DIARIO DE
PERNAMBUCO EM 1871 E 1889

Hygor Francisco Carvalho Gonçalves


Graduado em Licenciatura Plena em História pela
UNICAP
Especialista em História do Nordeste do Brasil pela
UNICAP
hygorfcgoncalves@gmail.com

Esta pesquisa pretende trazer questionamentos acerca de


como as amas de leite, figuras outrora tão romantizadas e
estigmatizadas pelos processos sociais que envolvem a

162
escravidão no Brasil, eram representadas publicamente
na sociedade através de anúncios jornalísticos. Estudar as
amas de leite, neste contexto, se faz relevante devido ao
fato de que, em grande parte, são elas figuras arquetípicas
do cotidiano doméstico e escravocrata do Brasil. Parto,
portanto, de um levantamento teórico e historiográfico
sobre os estudos de representação e sobre História do
Cotidiano, a partir de autores como Roger Chartier e
Michel de Certeau, e também sobre a História da
Escravidão e do desenvolvimento da Cidade do Recife e
sua sociedade, como abordado por Kátia Mattoso,
Raimundo Arrais, e Marcus Carvalho, compondo um
panorama do Recife no século XIX. Para análise, tomo
como referência a capital pernambucana na segunda
metade do século XIX e como fonte de pesquisa faço uso
do jornal Diario de Pernambuco, mais precisamente dos
seus anúncios referentes às solicitações por amas de leite.
No que concerne ao recorte de pesquisa, foram
analisados anúncios de 1871 e 1889, anos importantes
por conta da aprovação da Lei do Ventre Livre e da
Proclamação da República, respectivamente. No decorrer
da pesquisa, principalmente durante a análise, foi

163
diagnosticado que os anúncios traziam em seus corpos
uma certa padronização que abrangia tanto a estrutura
textual do anúncio, mas também as alegorias
qualificativas que eram usadas para defini-las e, assim,
para basilar suas representações. Dentre as mais
emblemáticas alegorias estão os termos relacionados à
saúde das amas e à qualidade do seu leite. Por fim, a
pesquisa nota, a partir do estudo comparativo entre os
anos destacados, o desaparecimento das amas de leite nos
anúncios e levanta a hipótese de que as amas de leite
foram reagrupadas em outras categorias de serviço,
terminando por inserirem-se em outros modos de
trabalho.

Palavras-chave: ama de leite; escravidão; Recife;


representação; século XIX

164
ANNA E A VIRADA PARA A LIBERDADE –
BUSCANDO DIREITOS, RECONSTITUINDO
TRAJETÓRIAS (PEDRAS DE FOGO, 1869-1874)

Raphaela Ferreira Gonçalves


Mestranda na Universidade Federal de Pernambuco –
UFPE
raphaelafgoncalves@hotmail.com

As trajetórias individuais e coletivas, de sujeitos que


sofreram a escravidão, têm sido resgatadas por
pesquisadores da História Social no Brasil desde
aproximadamente os anos de 1980, buscando adentrar em
um passado que não pode ser compreendido apenas pela
perspectiva dos grandes acontecimentos, dos grandes
homens e das Instituições. A importância da
reformulação de procedimentos e olhares para os sujeitos
e suas singularidades, além de ressignificar fontes
históricas até então desconsideradas, tem sido uma
maneira mais refinada para o conhecimento do passado,

165
que nessa apresentação, se insere no contexto da
escravidão afro-brasileira no século XIX nos limites entre
Pernambuco e Paraíba. Mobilizaremos para nossa análise
um processo civil de tutela, que se encontra no fundo da
comarca de Itambé, nos arquivos do Memorial da Justiça
de Pernambuco (TJPE). Em 1869, após o falecimento de
Dona Josefa das Virgens Teixeira, seu sobrinho Joaquim
Correia d'Oliveira Andrade, credor e herdeiro desta,
morador do Engenho Canabrava na vila de Pedras de
Fogo, abre um processo para que seja apreendido os
escravos de sua tia e que se dê prosseguimento ao
inventário. Em vida, proprietária de alguns escravos,
dentre eles Anna Maria da Conceição e sua cria, e
Thereza Maria da Conceição, sua irmã, ambas filhas de
Agostinha, que também fora escrava de Josefa, essas
mulheres fizeram parte de uma trajetória familiar de
submissão e escravidão. Em petição anexada no
processo, Anna usou de seus direitos e do domínio da lei
que possuía, esse “bem humano incondicional”, que a
permitiu lutar contra as “más leis”, pela lei e dentro das
formas da lei, para buscar sua alforria (THOMPSON,
1987). Destacamos que o diálogo entre História e Direito

166
tem encontrado êxito nessa temática, e “por isso mesmo,
aos poucos, as noções de justiça e os princípios de direito
que eram ali acionados também foram se tornando objeto
de estudos no âmbito da história social” (LARA, 2006),
como veremos nesse trabalho, através da trajetória dos
sujeitos envolvido nesse processo.

Palavras-chave: Escravidão, direito dos escravos,


história social.

FUGAS E RAPTO DE ESCRAVIZADO(A)S NO


“BREJO DAS BANANEIRAS-PB” NO FINAL DO
OITOCENTOS (1871-1888)

Daniel de Oliveira

167
Doutorando pelo PGH-UFRPE

Professor de História dos Municípios de Caiçara-PB e de


Boa Saúde-RN

danielprofhistoria@hotmail.com

Neste texto trato acerca das fugas e do rapto de


escravizado(a)s no “brejo das Bananeiras” nos anos finais
da escravidão, 1871-1888. Este momento é caracterizado
pela intensificação das críticas a propriedade
“sacrossanta da propriedade escrava”. Bananeiras
apresenta uma diversidade de produtos agrícolas (açúcar,
mandioca, café, frutas e flores) e criatório (bovino,
equino, caprino); e, de grandes, médias e pequenas
propriedades rurais. Diante disto, é nessa sociedade
permeada pela escravidão e diversificada que o(a)s
escravizado(a)s de Bananeiras aproveitaram momentos
oportunos para fugir e experimentar “experiências de
liberdade”, ficando próximo, talvez, de conhecidos,
parentes espirituais e sanguíneos. A documentação
estudada é constituída por jornais, inventários post-

168
mortem, petições, lista de matrícula, carta precatória,
assentos de batismo e etc. De início, analiso as fugas
do(a)s escravizado(a)s, percebendo o seu perfil, os
motivos e os períodos escolhidos para fugir. Em seguida,
estudo o rapto dos cativos Dionísia e Fernando
propriedades do Comendador Felinto Florentino da
Rocha, filho do Barão de Araruna. Estes focos de
resistência permitem conhecer melhor as relações
escravistas no interior do Brasil imperial localizadas na
vila-cidade de Bananeiras da então Província da
Parahyba do Norte.

Palavras-chave: Escravidão, Fugas, Bananeiras-PB.

169
O TEATRO COMO FERRAMENTA
ABOLICIONISTA24

Jefferson Gonçalo do Carmo, Mestrando pelo


departamento de História da UFPE. E-mail:
Jefferson.historia2010@gmail.com

O a discussão sobre o fim da escravidão em Recife


contou com diversas ferramentas, dentre ela o uso dos
espaços públicos, sendo assim é nossa intenção elencar a
utilização dos teatros na propagação das ideias em
relação ao fim da escravidão e suas diversas atividades
realizadas no interior desse espaço com o intuito de
comover os espectadores sobre a situação vivida pelos
escravizado na capital pernambucana no oitocentos. Para
tanto, uma das formas utilizadas ainda no
período/momento da legalidade do movimento, foram as
apresentações de peças teatrais que visavam por meio da
comoção influenciar os presentes sendo que no fim de
24
Orientador: Prof. Dr. José Bento Rosa da Silva.

170
cada espetáculo era entregue uma carta de alforria a
algum cativo, o que contribuía para levar o publico ao
delírio. Ainda no começo da década de 1880, a luta pelo
fim da escravidão estava sendo realizada buscando
sempre o apoio tanto da população quanto dos órgãos
oficiais, como por exemplo, juízes de paz que concediam
cartas de alforria em eventos festivos, constituindo assim,
uma prática que era realizado em dialogo com alguns
proprietários de escravizados, pois, as associações que
estavam por trás da produção do teatro abolicionista
buscavam sempre deixar claro que não havia uma
intenção revolucionaria, caracterizando com isso um
modelo emancipacionista de caráter mais conservador do
termino do modelo servil. A importância do evento era
tamanha que é possível observar nos dias em que eram
realizados tais acontecimentos o trânsito da Capital era
alterado para que a população recifense pudesse
participar em massa. Algumas peças representadas no
interior sejam do Teatro Santa Isabel, seja do Santo
Antônio poderiam ou não ser de caráter abolicionista,
como por exemplo, Corá a filha de Agar ou A Corja
Opulenta.

171
Palavras-chave: Abolição, movimentos populares,
Império

AS PRÁTICAS DO MOVIMENTO
ABOLICIONISTA EM PERNAMBUCO (1884-1889)
FERNANDA CAMARGO PEIXOTO

Mestranda em História

Universidade Federal Rural de Pernambuco25

camargopeixoto@gmail.com

25
Orientadora Professora Doutora Maria Emília Vasconcelos dos
Santos.

172
O movimento abolicionista no Império Brasileiro se fez
presente em diversas províncias, inclusive em
Pernambuco. Os avanços tecnológicos dos séculos XVIII
e XIX, como o telégrafo, contribuíram para o maior
compartilhamento de ideias, tal como o fim da
escravatura. Os integrantes dessas organizações, que
buscavam abolir a escravidão, propagaram seus ideais de
liberdade a partir de práticas que ocupavam o espaço
público. As instituições formais do Império, como o
Parlamento, eram locais destinado a poucos, em especial,
aos homens letrados. Dessa maneira, o movimento
abolicionista fez uso da rua e do teatro, por exemplo,
para conseguir a adesão do maior número de pessoas.
Homens e mulheres, alfabetizados ou não, livres ou
escravizados, pessoas de diferentes condição sócio-
econômica e intelectual foram convidadas a participar
das conferências, dos meetings, da leitura de novos
jornais e apresentação de peças teatrais, cuja temática era
a luta abolicionista. Nosso objetivo é discutir de que
maneira o movimento pernambucano pelo fim da
escravidão utilizou o espaço público para difundir seus
princípios e obter adeptos à sua causa. Para início dos

173
nossos estudos, consideramos o ano de 1884, data em que
o Ceará tornou-se a primeira província liberta de
escravizados do Império.

Palavras-chave: Movimento abolicionista. Pernambuco.


Práticas festivas.

O CLUBE DO CUPIM E OS QUILOMBOS


ABOLICIONISTAS DO RECIFE NOS ANOS
FINAIS DA ESCRAVIDÃO, 1884-1888.

Arthur Danillo C. B. de Souza26

Doutorando em História - PPGH/UFPE

26
Doutorando do PPGH da Universidade Federal de Pernambuco. O
presente trabalho está sendo realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).

174
danshowdesouza@hotmail.com

O Club Cupim foi fundado oficialmente em 1884 por


homens do comércio, estudantes da faculdade de Direito
do Recife e por alguns políticos pernambucanos. O
Cupim foi uma associação abolicionista com status de
secreta e carbonária, tendo em vista o modelo no qual
baseou sua organização, que ligou homens e mulheres de
diversas categorias sociais no final do século XIX.
Pessoas de cima e de baixo das malhas sociais do
Império se uniram na década de 80 do século XIX por
uma causa em comum e o Club do Cupim foi a expressão
pernambucana mais interessante desta união. Era
formado por monarquistas liberais, republicanos radicais
e até alguns conservadores, que aproveitaram o
crescimento do movimento popular abolicionista e
inovaram nas formas de ação política com o auxílio de
diversas categorias sociais. Destacaremos neste trabalho
não somente a ação dos homens considerados membros
da elite pernambucana, mas a participação dos
escravizados, que foram considerados pelos membros do

175
Club como agentes dos seus próprios destinos. Muitos
destes “cidadãos escravizados”, como eram chamados na
documentação, seguiram para os territórios livres do
Império, fazendo da participação escrava e popular um
dos pontos de destaque do Clube. Este, que também era
de caráter misto, tinha em suas plagas auxiliares internas
e externas do sexo feminino, muitas das quais foram
consideradas peças fundamentais para as ações do grupo.
Também buscaremos demonstrar um pouco da formação
dos quilombos abolicionistas urbanos em Pernambuco,
casas, pessoas, nomes de ruas e endereços que eram
vinculados ao Club do Cupim e que serviam de
esconderijos e parada obrigatória para as pessoas que
intentavam fugir para outras províncias e se afastar do
cativeiro em Pernambuco.

Palavras-chave: Abolicionismo; Associativismo;


Pernambuco; Cupim; Escravidão.

176
Dia 13 de Novembro de 2019

A CONSTRUÇÃO DE UMA NARRATIVA SOBRE


1817 NA HISTÓRIA DO CEARÁ (1817-1918)

Fellipe D. R. Feijó

Graduado em História – UFPE

fellipe.denilson@gmail.com

Este artigo é baseado no Trabalho de Conclusão de


Curso de Graduação em História pela Universidade
Federal de Pernambuco sob a orientação do professor
Marcus Carvalho. Um pouco mais de 200 anos separam
a nossa sociedade do 06 de março de 1817. Muitas
coisas foram escritas, apropriadas e reapropriadas do
discurso sobre a Revolução de 1817. Dito isso, este

177
artigo tem por objetivo apresentar e situar
historicamente a narrativa memorialista construída
sobre 1817 e a participação das gentes do Ceará no
conflito. Para esse fim, partiremos da “Ata de
Aclamação” de D. João VI, publicada juntamente com a
Devassa, em 1953, pela Biblioteca Nacional. Também
utilizaremos o documento publicado, em 1900, pela
Revista do Instituto do Ceará – RIC “Uma festa em
Fortaleza no tempo do governador Sampaio”, em
(co)memoração do aniversário do príncipe d. Pedro,
ocorrido em Fortaleza, em outubro de 1817. Cem anos
depois, outra festa foi dada na cidade de Fortaleza para
a (co)memoração do centenário do “primeiro grito de
república” do Brasil. O tom republicano e
memorialístico tomou conta dos “discursos que uniam o
povo cearense ao povo pernambucano” (VADEVINO,
1918). Mas que mudanças ocorreram, tirando a
proclamação da república brasileira em 1889, e qual o
caminho percorrido pela narrativa da Revolução de
1817 que proporcionou que o discurso da repressão
fosse substituído por uma memória republicana? São
perguntas que norteiam o nosso trabalho.

178
Palavras-chave: Revolução de 1817; Ceará; Narrativa;
Memória

A “LEI DO CATIVEIRO” EM SERGIPE:


REAÇÕES AO REGISTRO CIVIL NO SERTÃO DO
PORTO DA FOLHA EM MEADOS DO SÉCULO
XIX

Carlos de Oliveira Malaquias

Universidade Federal de Sergipe

carlos.malaquias@hotmail.com

É suficientemente conhecido que a instituição dos


registros civis de nascimento e óbito, bem como a
organização do primeiro censo do Império, foram
barradas pela revolta popular que alcançou largos
espaços e ampla notoriedade no final do ano de 1850 e

179
nos primeiros meses de 1851. Há registros de
mobilização contra o que ficou conhecida como “Lei do
Cativeiro” no interior de Pernambuco, epicentro da
revolta, e nas províncias de Paraíba e Alagoas.
Documentos recém descobertos no Arquivo Público de
Sergipe mostram que a tentativa de aplicação da lei na
“Pequena Província” também foi acompanhada de
rebeldia popular no sertão, além de diversas dificuldades
e mal-entendidos entre a norma do Estado e os costumes
populares em relação à morte. Esta comunicação
debruça-se sobre tais documentos compreendendo-os
sobre o pano de fundo mais amplo da sociedade e
economia do sertão são-franciscano de Sergipe. Além da
correspondência trocada por juízes de paz e párocos com
o governo provincial, lançamos mão de mapas de
população, uma ampla série de inventários post-mortem e
os registros paroquiais de terras. Percebe-se uma região
sertaneja marcada pela criação do gado e cultivo da
mandioca. Embora a mão de obra escrava não fosse
majoritária e estivesse em queda, havia significativo
número de libertos classificados nos mapas de população.
A população era em grande parte descendente de

180
escravos, tratando-se, portanto, de negros e pardos que
conheciam ou haviam nascido na liberdade. A riqueza era
altamente concentrada nas mãos dos grandes criadores e
a larga maioria dos moradores vivia e explorava terras
indivisas, o que implicava um forte senso comunitário.
Nesse contexto, os decretos imperiais nº 797 e nº 798, em
Sergipe, como em outras províncias do Norte, também
foi recebido como uma ameaça. As fontes são fortemente
comprometidas com a visão da elite social, mas deixam
entrever, por um lado, os sentidos senhoriais das relações
de subordinação pessoal desafiadas pela mobilização
autônoma dos moradores do sertão e, por outro lado, a
resposta popular ao que se julgava ser uma ameaça aos
espaços de liberdade estabelecidos.

Palavras-chave: História Agrária; Sergipe; Lei do


Censo; Revolta dos Marimbondos.

181
“A MÁQUINA MALMONTADA”:
MELHORAMENTOS URBANOS,
ESTRANGEIRISMO E CONFLITOS EM TORNO
DA REPARTIÇÃO DE OBRAS PÚBLICAS DA
PROVÍNCIA DE PERNAMBUCO (1837-1850)27

Bruno Adriano Barros Alves,

Mestrando em História pela

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

(brunoalves_2010_@hotmail.com)

O objetivo desse trabalho é analisar a conjuntura em que


ocorreu a participação de estrangeiros nos trabalhos da
Repartição de Obras Públicas (ROP) da Província de
Pernambuco entre 1837 e 1850. Em 1837, Francisco do
Rego Barros (Barão da Boa Vista) é escolhido para

27
O presente trabalho é oriundo da minha pesquisa de dissertação de
mestrado (em andamento) orientada pela Profª. Drª. Suzana Cavani
Rosas (UFPE).

182
presidir a província em um contexto marcado pela
presença massiva de conservadores nos cargos de poder.
A historiografia aponta que diversas obras, como pontes,
estradas, obras de higienização, abastecimento de água,
etc., visando o melhoramento, foram protagonizadas pelo
governo provincial a partir desse momento. Algo central
para esse “projeto de modernização” foi a moralização e
o aperfeiçoamento da mão de obra presente nos canteiros
de obras, até então marcados pela participação de
africanos livres, escravos, presos ferropeados, indígenas,
etc. Como “solução” para o caso as lideranças provinciais
investiram na intensificação da chegada de trabalhadores
estrangeiros, principalmente franceses e alemães, com o
intuito de qualificar o trabalho protagonizado pela
repartição. Contudo, ao chegar no Brasil, esses
estrangeiros se depararam com condições de trabalho por
demasiadas vezes incondizentes com as promessas feitas
ainda na Europa, além de um clima bastante hostil por
parte de muitos brasileiros motivados por um sentimento
antiestrangeirista. A hostilidade se deu não só em críticas
publicadas em periódicos, como também no dia a dia da
repartição. O conflito acabou por ser aguçado, nesse

183
recorte, principalmente por duas questões: a disputa em
torno dos poucos empregos públicos disponíveis e o
embate entre conservadores e liberais energizados a partir
da cisão liberal de 1842, evento que acarretou o
surgimento do “Partido Nacional Pernambucano”
(Praieiro), embebido da retórica nativista. Nesse sentido,
a pesquisa visa entender as relações de poder presentes
no bojo de uma instituição como a ROP em meio a um
contexto sociopolítico e cultural tão complicado como o
do “projeto de modernização”.

Palavras-chave: Estrangeiros; Repartição de Obras


Públicas; Projeto de Modernização; Insurreição Praieira.

UMA POLÍCIA PARA OS SERTÕES: A


FORMAÇÃO DA GUARDA LOCAL EM
PERNAMBUCO (1874 – 1878). 28

28
Orientador: Prof. Dr. Wellington Barbosa da Silva (UFRPE)

184
Anderson Linaldo de Lima Nascimento

Graduando (UFRPE)

anderson.limant@gmail.com

Na década de 1870 algumas leis levaram o serviço


policial a se reorganizar na província de Pernambuco.
Entre elas estava lei imperial n.º 2395 de 10 de setembro
de 1873, que alterou a organização da Guarda Nacional e
a proibiu de executar atividades de polícia. Porém na
referida província o auxílio da instituição era essencial no
serviço policial. A mesma foi criada com o objetivo de
guardar a constituição, os princípios da liberdade e
independência, além de velar pela obediência das leis,
conservação da ordem e tranquilidade pública para a
manutenção da integridade do império brasileiro.
Também deveria atuar auxiliando o exército de linha na
defesa das fronteiras e costa. (BRASIL, 1837) Não
obstante, na província pernambucana a supracitada
instituição desempenhava papel fundamental na questão
do policiamento, atuando junto a sessão volante do Corpo

185
de Polícia, este que por sua vez operava realizando
destacamentos em direção às grandes extensões
territoriais do interior da província. Portanto para
preencher esse estado de insuficiência no emprego
policial do sertão da província de Pernambuco foi criada
a Guarda Local. A partir da lei provincial de número
1130 de 30 de abril de 1874 que reorganizou e
determinou a força policial em Pernambuco para os anos
de 1874 e 1875. Sendo assim, está comunicação tem por
objetivo compreender os processos que levaram à
constituição da força policial organizada sem
estruturação militar e aquartelamentos, que ficou
responsável pela preservação da tranquilidade púbica e
atuação contra os grupos de salteadores e facinorosos
muito presentes no sertão da província.

Palavras-chave: Guarda Local; Polícia; Sertão;


Pernambuco.

186
DEUS GUARDE O SERTÃO DO PAJEÚ:
ATUAÇÃO DOS PREFEITOS DE COMARCA EM
FLORES (1836-1842).29

Vinicius do Espirito Santo Ferreira

Graduando (UFRPE)

viniciusferreira05@yahoo.com.br

Diante da nova configuração política que passou o Brasil


no período regencial (1831-1841), marcada por
constantes revoltas e incertezas populares, os deputados
da Assembleia Legislativa Provincial de Pernambuco
usaram uma brecha legal no Ato Adicional de 1834 e,por
meio da lei provincial n.º13 de 14 de abril de 1836,
criaram o cargo dePrefeito de Comarca– uma autoridade
que, entre 1836 e 1842,concentroudiversas atribuições
policiais e criminais. como as de fazer prender, garantir o
policiamento do espaço público, manter a segurança

29
Orientador: Prof. Dr. Wellington Barbosa da Silva (UFRPE).

187
individual e de propriedade, dissolver os ajuntamentos
ilícitos, entre outras.Atribuições que, outrora, estavam
nas mãos dos Juízes de Paz. Tendo como aporte
documental os códices da Prefeitura da Comarca de
Flores, que fazem parte do acervo do Arquivo Público
Estadual Jordão Emerenciano (APEJE), o objetivo desta
comunicação é compreender a atuação desta autoridade
policial na referida comarca, onde, de acordo com os
documentos aqui utilizados, vicejava um clima de
insegurança devido à ação de salteadores e grupos
armados, pondo em risco a propriedade e a segurança
individual dos seus habitantes.

Palavras-chave: Prefeito de Comarca; Polícia; Flores.

PARA ALÉM DE “VENDELHÕES MASCATES,


NEGOCIANTES QUEBRADOS E ADVOGADOS

188
DE ÚLTIMA CLASSE”: NOTAS SOBRE A ELITE
MUNICIPAL NO BRASIL OITOCENTISTA
(RECIFE, 1829-1849).

Williams Andrade de Souza

Doutor em Estudos Históricos Latino-Americanos

Professor Pesquisador I da UAB/UFRPE e SEDUC-PE.

E-mail: willandsouza@hotmail.com

Propomos aqui uma leitura introdutória sobre o perfil da


elite municipal no Brasil oitocentista. Tomando como
base o estudo das biografias coletivas dos 95 homens que
atuaram como vereadores do Recife entre 1829 e 1849,
apesentaremos dados de pesquisa referentes aos aspectos
da formação, às múltiplas ocupações e aos vínculos
político-econômicos daqueles indivíduos. Confrontando
generalizações historiográficas, deslindamos a vida de
personagens imergidos no universo da ilustração, da
polícia, da política e miríade de negócios que, entre

189
outros, possibilitavam-lhes a circularidade nos espaços de
poder da paróquia à Corte. Portanto, para além de
“vendelhões mascates, negociantes quebrados e
advogados de última classe”, como queria um
contemporâneo, os membros da municipalidade em
apreço formavam uma elite complexa, uma elite de elites,
compondo o mosaico dos grupos dominantes partícipes
da formação e consolidação do Estado brasileiro
oitocentista.

Palavras-chave: Elite Municipal; Biografia Coletiva;


Perfil da Municipalidade; Brasil Imperial; Recife
Oitocentista.

190
ENTRE HEREOS: A PROPRIEDADE INDIVISA
COMO UMA ESTRATÉGIA FAMILIAR
(SERGIPE, 1856)30

Lucas Oliveira de Jesus


Graduando em História (UFS) – Bolsista PIBIC
(Copes/UFS)
lucas.olivercaldas@hotmail.com
Fernanda Carolina Pereira dos Santos
Graduando em História (UFS) – Bolsista PIBIC
(FAPITEC/SE)
nanda.carolina01@gmail.com

A morte de um ente querido poderia representar não só


um momento de comoção, mas o início de uma intensa
disputa pelos bens deixados pelo falecido. De acordo
com as Ordenações Filipinas, todas as propriedades que
pertenceram ao defunto deveriam ser divididas
igualmente entre todos os herdeiros. No entanto,
contrário à fragmentação da propriedade, muitos

30
Orientação do Prof. Dr. Carlos de Oliveira Malaquias.

191
coerdeiros preferiam manter a unidade produtiva
indivisa, através da coletividade da terra. A partir dessa
prática, a nossa pesquisa buscou identificar esse hábito na
província sergipana e como essa coletividade era
perpetuada. Após uma leitura atenta da historiografia
preocupada em abordar as dinâmicas do espaço agrário
brasileiro, além de demais autores interessados na
pesquisa sobre as terras comunais, tanto num cenário
nacional, como internacional, foi realizada consulta dos
livros de registros paroquiais de terra de oito freguesias
sergipanas, escritos entre 1856 e 1859, localizados no
Arquivo Público do Estado de Sergipe. Além dessa fonte,
também foram consultados os inventários post mortem
correspondentes à primeira metade do século XIX,
salvaguardados no Arquivo Geral do Judiciário de
Sergipe. O cruzamento e perscrutação das informações
coletadas possibilitou constatar como algumas famílias,
independente de posição social, coabitavam suas
herdades de forma conjunta, mesmo após a partilha da
propriedade. A partir desse resultado, o presente trabalho
evidencia como a dinâmica agrária oitocentista
ultrapassava as normativas jurídicas, sendo a terra

192
indivisa o resultado de estratégias intrafamiliares entre
coerdeiros e coabitantes.

Palavras-chave: Terras indivisas; Sergipe; Século X

AS TERRAS DO “NOVO NORTE”: apontamento


sobre o (re)conhecimento da Amazônia durante o
Segundo Reinado

Paulo de Oliveira Nascimento


Doutorando – História/PPGH/UFPE
E-mail: paulo.nascimento@ifam.edu.br

Na segunda metade do século XIX, o Império do Brasil


empreendeu significativos esforços para manter o
domínio sobre o vasto território da Amazônia, seja no
plano político, seja no plano econômico, num contexto

193
em que o imperialismo europeu e norte-americano
demostrava claro interesse naquela região. Objetivamos,
neste trabalho, compreender como se operou a inserção
da região amazônica no circuito geopolítico e econômico
do Segundo Reinado, a partir da ideia de uma outra
espacialidade, o “Novo Norte”, que surgia em clara
oposição àquele que teria sido até então o “Norte”, a
parte do Império que se estendia da Bahia ao Maranhão e
correspondia às áreas de produção açucareira e de criação
de gado. A despeito da política imperial para a Amazônia
ao longo do século XIX, havemos de considerar a
necessidade de integração regional tanto do ponto de
vista geopolítico quanto econômico, o que teria levado a
Coroa a investir na navegação fluvial e na agricultura,
além de ter criado a Província do Amazonas,
desvinculada da Província do Grão-Pará em 1850. No
plano econômico, o extrativismo da borracha
desempenhou importante papel na composição das
riquezas do Império, o que levou as elites políticas e
econômicas a dispensar uma atenção especial para a
“Grande Floresta” e perceber que aquela região carecia
de um novo nome, diferente do “Sul” cafeeiro e do

194
“Norte” açucareiro. Até que se inventasse o “Nordeste”,
chamariam aquelas terras do Grão-Pará e Amazonas de
“Novo Norte”.

Palavras-chave: Império, regiões, geopolítica, “Novo


Norte”, Amazônia.

195

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