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Aula 2: Sistema colonial

e modos de produção
História do Brasil I
Licenciatura em História
Prof. Marcus Marcusso
Textos Base
● PRADO JR., Caio. Sentido da colonização. IN: ______. Formação do
Brasil contemporâneo. [1942] São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
p. 15-29.

● NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial.
IN: MOTA, Carlos G. (Org,) Brasil em Perspectiva. São Paulo: Difusão
Europeia do Livro, 1971, p. 47 – 63.
Aspectos metodológicos dos
estudos

● Matriz teórica de Caio Prado Jr: Materialismo Histórico.


○ Mantida e reelaborada por Novais → com mais ênfase na ideia de sistema
e mais flexibilidade no rigor da relação entre metrópole e colônia.

● Busca por uma explicação mais geral, dentro dos quadros e da lógica do
capitalismo mundial. (sistema-colonização-empresa)

● Esforço em apresentar modelos analíticos ampliada. (totalidade)


○ Sentido da colonização” - Caio Prado Jr
○ “Antigo Sistema Colonial” Novais
PRADO JÚNIOR,
Caio. Formação do
Brasil
contemporâneo :
colônia. São Paulo :
Martins, 1942.

https://bndigital.bn.gov.br/exposico
es/caio-prado-jr/5097-2/
Atualidade paradoxal

“... apesar de parte significativa do contexto intelectual


e político que viu nascer o livro ter desaparecido, sua
análise permanece relevante. Mais importante, Caio
Prado Jr, continua a ter o que nos dizer, porque os
problemas do Brasil que analisou ainda são, em grande
parte, os problemas que enfrentamos.”
RICUPERO, Bernardo. História e política em Formação do Brasil
Contemporâneo. PRADO JR., Caio. Formação do Brasil
contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 430
Historiografia, atualidade e biografia
política
Totalidade e escrita da
história
Todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um certo “sentido”. Este se
percebe não nos pormenores de sua história, mas no conjunto dos fatos e
acontecimentos essenciais que a constituem num largo período de tempo. Quem
observa aquele conjunto, desbastando-o do cipoal de incidentes secundários que
o acompanham sempre e o fazem muitas vezes confuso e incompreensível, não
deixará de perceber que ele se forma de uma linha mestra e ininterrupta de
acontecimentos que se sucedem em ordem rigorosa, e dirigida sempre numa
determinada orientação. É isso que se deve, antes de mais nada, procurar quando
se aborda a análise da história de um povo, seja aliás qual for o momento ou o
aspecto dela que interessa, porque todos os momentos e aspectos não são senão
partes, por si só incompletas, de um todo que deve ser sempre o objetivo último
do historiador, por mais particularista que seja. (PRADO JR, 2011. p. 16)
Totalidade, escrita da
história e marxismo
“precisamente na relação que congrega aquelas partes e faz
delas um sistema de conjunto que absorve e modifica sua
individualidade que é fundação do todo e somente existe nesse
todo.(...) se a floresta constitui um sistema de relações em que
se desfaz e nele absorve a individualidade das árvores que a
compõem, as árvores, por seu turno, também constituem, cada
uma per si, um sistema de relações.” (PRADO JR, 1973. p. 51)
PRADO JUNIOR, Caio. Teoria Marxista do Conhecimento e Método Dialético Materialista. Revista
Discurso, São Paulo, nº 04, Ano IV. pp.41-78, 1973. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/discurso/article/view/37760/40487 Acesso em 25.jul.2021
Empresa e sentido

PRADO JR., Caio. Sentido da colonização. IN: ______. Formação do Brasil


contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 28.
Essência e externalidade

PRADO JR., Caio. Sentido da colonização. IN: ______. Formação do Brasil


contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 29.
Continuidade e sentido
Não sofremos nenhuma descontinuidade no correr da história
da colônia. E se escolhi um momento dela, apenas a sua última
página, foi tão somente porque, (...) aquele momento se
apresenta como um termo final e a resultante de toda nossa
evolução anterior. A sua síntese. (...) Não se compreende, por
isso, se desprezarmos inteiramente aquela evolução, o que nela
houve de fundamental e permanente. Numa palavra, o seu
sentido. (PRADO JR, 2011, P.16)
A presença da escravidão
Naturalmente o que antes de mais nada, e acima de tudo,
caracteriza a sociedade brasileira de princípios do século XIX, é a
escravidão. Em todo lugar onde encontramos tal instituição, aqui
como alhures, nenhuma outra levou-lhe a palma na influência que
exerce, no papel que representa em todos os setores da vida
social. Organização econômica, padrões materiais e morais, nada
há que a presença do trabalho servil, quando alcança as
proporções de que fomos testemunhas, deixa de atingir; e de um
modo profundo, seja diretamente , seja por repercussões remotas.
(PRADO JR, 2011, p.285)
ULIÃO, Carlos. Serro Frio [S.l.: 17--?]. 1
desenho aquarelado.

https://bndigital.bn.gov.br/wp-content/uploads/2014/02/O-Sentido-da-Coloniza%C3%A7%C3%A3o-7.jpg
Escravidão, servidão e outras formas de
trabalho compulsório são parte da história de
sociedades antigas e pré-modernas. Mas
como explicar a permanência desse tipo de
opressão e violência na contemporaneidade?
Nesta obra, o procurador do trabalho Tiago
Cavalcanti faz uma impactante reflexão sobre
as várias faces da exploração do trabalho em
diferentes conformações sociais, com
destaque para a sociedade capitalista atual.
Indo além da análise jurídica, o livro propõe um
olhar crítico à trajetória histórica do trabalho
humano e busca alternativas que possibilitem
uma vida digna e realmente livre para todos.
(Sinopse da editora)
LEMBRANÇA do Brasil: Ludwig & Briggs.
Introd. Lygia da Fonseca Fernandes da
Cunha. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional,
Div. de Publicações e Divulgação, 1970.
Fac-símile de The Brazilian souvenir: a
selection of the most peculiar costumes of
the Brazils. Rio de Janeiro, 1834.

https://bndigital.bn.gov.br/exposicoes/caio-prado-jr/5097-2/
Trabalho desumano em minas de carvão em Rondon do Pará: maioria
de negros (Crédito:Mario Tama). Fonte:
https://istoe.com.br/continuamos-escravos/
Antigo Regime

NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo


Sistema Colonial (1777-1808). 5ºed. Estudos Históricos. São
Paulo: Hucitec, 1979. p.66.
Antigo sistema colonial

NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial. IN:


MOTA, Carlos G. (Org,) Brasil em Perspectiva. São Paulo: DIFEL, 1971. p. 47.
Estado
Moderno Política
Mercantilista

Antigo
Sistema
Colonial

Monopólio
Burguesia
comercial
comercial
(dois sentidos)
Capitalismo comercial e antigo
sistema colonial

NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial. IN: MOTA,
Carlos G. (Org,) Brasil em Perspectiva. São Paulo: DIFEL, 1971. p.56.
Modo de produção colonial e a questão da
mão de obra

Necessidade de Impossibilidade Renascimento da escravidão e


alta de mão de obra de outras formas servis e
Vestibulum congue
lucratividade livre diante da
tempus
semi-servis de relações de
(produção agrícola e o abundância de trabalho, em direção oposta a
Lorem ipsum dolor sit amet,
tráfico em si) terras livres
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difusão do regime assalariado
sed do eiusmod tempor. nos países europeus.

“O escandaloso paradoxo do renascimento da escravidão em pleno bojo da civilização


cristã desencadeou toda uma série de racionalizações, cada qual mais sutil, tendentes a
aquietar a piedade cristã e velar a crueza chocante da realidae colonial-escravista”

NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial. IN: MOTA, Carlos G.
(Org,) Brasil em Perspectiva. São Paulo: DIFEL, 1971. p.59.
A Igreja e a escravidão negra
A posição da Igreja em face a escravidão foi, para usar uma
linguagem amena, altamente permissiva durante quase quatro
séculos. A série de bulas papais ditadas a pedido da Coroa
Portuguesa , entre 1452 e 1456, autorizando e incentivando a
expansão ultramarina de Portugal, deu ao país ampla
liberdade para subjugar e escravizar os povos pagãos que
encontravam pelo caminho, caso fossem ‘hostis ao nome de
Cristo’”
BOXER, Charles. A Igreja militante e a expansão ibérica
(1440-1770). [1978] Trad. Vera Pereira. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007
Escravismo e latifúndio no sistema colonial

NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial. IN: MOTA, Carlos G. (Org,) Brasil
em Perspectiva. São Paulo: DIFEL, 1971. p.62.
Retomada do sentido da colonização

NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial. IN: MOTA,
Carlos G. (Org,) Brasil em Perspectiva. São Paulo: DIFEL, 1971. p.63.
Retomada do sentido da colonização

NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial


(1777-1808). 5ºed. Estudos Históricos. São Paulo: Hucitec, 1979. p.68.
A catequese e sentido da
colonização
“Só seria possível catequizar os índios, o que representava
uma legitimação para o domínio, se houvesse controle
sobre a terra e sobre o gentio. Isso dá outra dimensão ao
sentido da colonização. Por outro lado, só haveria recursos
para a catequese se fosse possível a exploração da terra. A
operação toda vai ficando imbricada. Mas, de todo modo,
insisto que esse é um desdobramento que parte da análise
de Caio Prado Jr. , e a incorpora. ”
NOVAIS, Fernando. Entrevista. In: PRADO JR., Caio. Formação do
Brasil contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
p. 414
Externalidade da acumulação

NOVAIS, Fernando Antonio. Condições da privacidade na Colônia. In: SOUZA, Laura de Mello (Org.)
História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América Portuguesa. São Paulo.
Companhia das Letras, 1997. p.30
Externalidade da acumulação

NOVAIS, Fernando Antonio. Condições da privacidade na Colônia. In: SOUZA, Laura de Mello (Org.)
História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América Portuguesa. São Paulo.
Companhia das Letras, 1997. p.30
Escravismo colonial
● Ciro Flamarion Cardoso, marxismo e a teoria dos modos de produção coloniais
(1971) → Escravismo colonial como um modo de produção de uma área mais
ampla, a Afro-América (Antilhas, parte da América Espanhola e sul dos EUA).

1) O fato colonial, o caráter dependente do escravismo na Afro-América;


2) “Brecha camponesa”: agricultura de mantimentos na qual os escravos produziriam
sua própria subsistência com graus de autonomia → subordinada a economia do
plantation. Críticas → Nem brecha, nem camponesa
3) Elevados e concentrados investimentos na aquisição dos escravizados →
endividamento e dependência.
4) Baixo nível técnico da economia → “má vontade” dos escravos no uso dos instrumentos

5) O escravismo colonial, é um modelo de produção que só acaba com a abolição.


ESCRAVISMO COLONIAL, [verbete] In: VAINFAS, Ronaldo. (org.) Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p.210-12
Brecha camponesa

Permite nuançar a visão habitualmente monolítica em excesso que


se possa ter do sistema escravista da Afro-América, ao mostrar as
colônias afro-americanas como sedes de verdadeiras sociedades,
ativas, dinâmicas e contraditórias – e não como campos de
concentração generalizados, habitados mais por figuras
estereotipadas do que por pessoas vivas.

CARDOSO, Ciro Flamarion S. Escravo ou camponês? O protocampesinato negro nas Américas. São Paulo:
Brasiliense, 1987. p.90
Brecha camponesa
Por “brecha” não entendemos de forma alguma, um elemento que pusesse em perigo,
mudasse drasticamente ou diminuísse o sistema escravista. (...) O que queremos significar
(...) é uma brecha para o escravo, como se diria hoje “um espaço”, situado sem dúvida dentro
do sistema, mas abrindo possibilidades inéditas para atividades autônomas dos cativos.
Dizer que não havia diferença, que as mesmas relações de produção prevaleciam nos
canaviais e nas parcelas dos escravos só revela em nossa opinião, uma profunda ignorância
de como funcionava a “brecha camponesa”, do sentido que tinha e do próprio conteúdo das
fontes mais detalhadas a respeito; revela também, uma visão dogmática e rígida do que são
um modo de produção e uma formação econômico-social como conceitos e como objetos
históricos. Tal visão conduz Gorender a negar todos os exemplos, conhecidos, de quão
importante podiam ser as atividades dos escravos produzindo e vendendo alimentos: para
ele, isso não passa de exceções (...) com o fito de preservar o esquema de que parte com
toda a sua rigidez estática.

CARDOSO, Ciro Flamarion S. Escravo ou camponês? O protocampesinato negro nas Américas. São Paulo:
Brasiliense, 1987. p.90
Escravismo colonial
● Jacob Gorender, marxismo e Escravismo Colonial (1978) → Escravismo colonial
como um modo de produção no Brasil do século XVI até 1888.
● Teoria geral do escravismo colonial → construção de modelos e esquemas
interpretativos
● Mudanças de interpretação dentro e fora do marxismo
○ Novais → Retomando o sentido externo da colonização e negando a
determinação de modos de produção;
○ Estudos culturalistas da década de 1980 → mudança do foco
socioeconômico para o sociocultural (ênfase no papel ativos dos
escravizados → conflitos e negociações)
● Reação de Gorender → crítica historiográfica aos estudos culturalistas no livro
A escravidão reabilitada (1990)
ESCRAVISMO COLONIAL, [verbete] In: VAINFAS, Ronaldo. (org.) Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p.210-12
Nesta aguardada reedição, Jacob Gorender
responde às críticas dos setores conservadores à
sua obra anterior, O escravismo colonial, dos anos
1970, impulsionados pela crescente ofensiva
neoliberal dos anos 1990.

O revisionismo histórico requentou a antiga tese


de um suposto escravismo brasileiro patriarcal e
benigno, com raízes em Gilberto Freyre, para
justificar a existência de dominadores de ontem e
de hoje. Neste livro, ele demonstra a debilidade
histórica e teórica dessas análises que
empreendiam verdadeira suavização do
escravismo brasileiro. Esta obra é de extrema
atualidade tanto para a batalha das ideias no
campo da historiografia e da teoria da história
quanto para compreender o passado escravista
brasileiro e suas permanência.

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