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Fichamento Ciência Política, aula IX

Stephanie da Motta Virginio

BIROLI, Flávia. Teorias feministas da Política, empiria e normatividade. In: Lua Nova,
São Paulo, 102: 173-210, 2017.

Resumo:

O campo da teoria e da Ciência Política é diversificado. A incorporação de conceitos e


metodologias de tradições de pensamento, incide sobre as pesquisas, problemas de que tratam
e nas estratégias para enfrentá-los. Porém, tem a diversidade das expressões de pensamento
limitada às dinâmicas próprias das disciplinas (comunidades epistêmicas), que “reconhecem e
valorizam desigualmente as pretensões de conhecimento que abrigam”.

“Como as teorias feministas da política se situam no subcampo da teoria política, tendo como
referência o desenvolvimento da Ciência Política na segunda metade do século XX.”
- Pensamento elaborado por mulheres (excluídas e incluídas desigualmente da Pol. Inst.);
-Referenciado por um valor: igualdade de gênero;
-Objeto: Política Institucional, estruturas e relações de poder cotidianas;
-Problema: Sentidos e limites da política/ teoria e prática política (a partir posição de gênero);
-Temáticas: política, democracia e justiça (não é específica a agenda feminista/mulheres)
-Crítica: Concepções masculinas da política apresentadas como conhecimento “neutro”,
“imparcial” ou “isento”. Teoria política é teoria de gênero.

O que pensamos que estamos fazendo quando praticamos teoria política?


Tipologia por Andrew Vincent (2004) (abordagens fundacionais da teoria política)
-Normativas clássicas: universalistas quanto a valores na análise da pólis (cânones);
-Institucionais: análise do Estado;
-Históricas: conexões entre teoria política e história do pensamento político;
-Ideológicas: conhecimento e a sociedade em que é produzido
- Marxistas: determinações materiais
- Pós estruturalismo: caráter discursivo não representacional das ideias.
-Empíricas: ciência em oposição a ideologia/ C.Pol. e Teoria Política
- Positivismo, Behaviorismo, Teorias da escolha racional.
Debate feminista é situado no debate sobre justiça com Pateman e Okin e no debate sobre
“pluralismo da diferença”, multiculturalismo e pós-colonialismo.

Tipologia Judith Squires (2008 [1999]) (preocupação em situar as teorias feministas)


-Inclusão: abordagem liberal, objetivista - normativas e empíricas (antídoto para viés sexista);
-Reversão: interpretativa, da experiência dos homens para outras experiências.
Conhecimento e experiência - relações de poder na esfera privada;
-Deslocamento: genealógico, deslocamento da visão binária do feminino e do masculino.
Produção do gênero e das identidades e os sentidos que assumem em um dado contexto.
Teorias feministas colocam em xeque a diferenciação entre normativo e empírico.
A Teoria política sempre foi teoria de gênero.

Questionamento das bases ontológicas do pensamento político e filosófico e revisão dos


cânones na empreitada de situar o feminismo na teoria política contemporânea. A recusa em
tematizar gênero demonstra que a teoria política é teoria de gênero e “assume uma
conformação de gênero da política e do pensamento, colaborando para reproduzir formas de
dominação que excluem e marginalizam mulheres”.

Pateman: patriarcado como herança e atualização nas tradições de pensamento da disciplina.


Uma das formas correntes de atualização é a consideração do gênero como problema
específico. (algo das mulheres e não como composição das dinâmicas básicas de poder e de
organização das instituições)
-suspensão da dominação masculina como problema político e as barreiras para que mulheres
se situem como produtoras de conhecimento - exclusão histórica como sujeitos políticos.

Sapiro: baixa incorporação dos estudos teóricos e empíricos


-Sociológica: posição estrutural das mulheres na profissão/relativamente incontestada
-Epistemológica:dimensão conceitual e aos pressupostos no conhecimento produzido.

● Marginalidade das mulheres somada aos valores e práticas correntes no campo, que
com adesão ao “objetivismo” positivista produz obstáculos a maior incorporação dos
estudos de gênero comparativamente às demais disciplinas das ciências sociais. A
posição das mulheres não é específico versus universal (bem-comum), mas “é a base a
partir da qual as relações de gênero são trazidas à discussão, e política, democracia e
justiça são redefinidas em seus sentidos e fronteiras”.

Pesquisas feministas têm atenção central ao ponto de vista, à perspectiva e às conexões entre
produção teórica e as concepções da política que nelas emergem, com alguma relação às
políticas de presença no ambiente acadêmico.

Quanto ao normativo e o empirico, a perspectiva feminista recoloca as conexões para que


seja possível ultrapassar esta dicotomia. Os dados são sempre informados empiricamente,
vivenciados em seu entrecruzamento com as desigualdades de classe, o racismo e o sexismo.
A suspensão destas colaboram com práticas políticas excludentes.
A crítica feminista à objetividade tem como especificidade em relação a outras correntes de
pensamento o ponto de partida:
- A excusão das mulheres e a produção sexista e heteronormativa do genero em
teorias supostamene “neutras”.
- Conexões entre vida doméstica e pública (definição das fronteiras entre a política e
o cotidiano da vida familiar e afetiva.

A dicotomia é reconfigurada na crítica às fronteiras da política, tematizadas na teoria


feminista, ao atribuir relevância às experiências que emergem fora do que é considerado a
ciência “neutra” e ao reivindicar a incorporação da vida doméstica como questão de justiça e
problema político engentrado em regimes de poder epecíficos. Reconfiguram, assim, as
fronteiras da política e a compreensão das identidades dos agentes políticos.

Fronteiras da política, experiências e identidades.

A contestação da neutralidade do pensamento político de referência passou pela


demonstração de seu caráter contextual e perspectivo: homens brancos constituem o
universal-abstrato em vez de serem neutralizados por ele.
Mesmo diverso, o debate feminista é atravessado pela premissa dos espaços definidos como
privados e domésticos como politicamente significativos. Práticas cotidianas de submissão
incidem de forma específica sobre mais da metade da população.
-Família em sua dinâmica interna de poder
- Acesso aos recursos fundamentais para a participação, como o tempo
Desconsiderar a posição relativa de homens e mulheres influi na teoria da esfera pública.
Assim, o que é definido como público e/ou doméstico passa a ser uma questão política central
-Gênero perpassa todas as esferas da vida.

Crítica de Fraser a Habermas: público e privado, classe burguesa como universal, deixando
fora da análise outras esferas e públicos e seus conflitos. A incorporação da posição relativa
das mulheres teria permitido um olhar mais aguçado para esse conflito, tanto quanto as
hierarquias na convergência entre gênero e classe.

● A recusa pode ser lida como estruturalmente ligada à posição dos homens como
atores políticos e produtores de conhecimento.
Textos precursores do feminismo, próximos de uma perspectiva da “inclusão”, no sentido
definido por Squires (não foram incorporados ao debate teórico fora da discussão de gênero):
-Mulheres em funções na vida pública (educação com apelo ao aperfeiçoamento como
companheiras e como mães) século XVIII
-Retirada da dimensão dos assuntos coletivos, tarefa da mulher é agradar
-Simone de Beauvoir, século XX: casamento como carreira, liberdade negativa, com
custo desigual material e simbolicamente. Socialização e experiências das mulheres.

Crítica feminista históricamente: passagem do problema da exclusção ao problema da


produção de gênero. Ou, do problema da exclusão para o problema do privilégio.
-Incorporação de outras variáveis (trabalhadoras, imigrantes, sul global…)
- Crítica Hooks: mulheres como categoria universal/sem hierarquias internas
-Teóricas socialistas, antirracistas, pós e decoloniais
-Economia política do privilégio ultrapassa a dualidade fem/masc. (outras dinâmicas
de opressão)
Não existe posição ou vivência que seja comum a todas as mulheres. Novo debate a partir da
segunda metade do século XX: dualidade entre público e privado e a divisão sexual do
trabalho, segundo o grau de incorporação das convergências entre gênero, classe e raça nas
análises. Maternidade como problema político (diferenças).
Mulheres em posições de privilégio que universalizam suas experiências repetem uma lógica
que remete às relações de poder institucionalizadas. Nas análises de experiências femininas
do corpo e do mundo doméstico-familiar se desdobram considerações sobre agência e
opressão. (desvantagens se realiza como apagamento, mas não faz desaparecer experiências e
lutas)

Considerações finais
-Críticas feministas da política e lugar das teorias feministas na ciência política
-Relevância política das suas experiências
-Redefinição do empírico e normativo (dimensões do empírico que as informam)
-Fronteiras da política (púbico e privado)
-Teorias políticas são teorias de gênero
-Posição relativa das mulheres e suas experiências informam o universo das teorias
-Relações de poder na esfera doméstica e o caráter patriarcal da esfera pública.
-Produção teórica e ativismo/sujeito coletivo “mulheres” nas teorias e lutas políticas.
-Suspensão da perspectiva de gênero despolitiza a política
-Dimensão estruturante das relações de poder nas diferentes esferas da vida.
-”teorizamos muito e pouco nos preocupamos com o papel político da teorias”,
mesmo no campo que nasce da crítica a teorias que naturalizam exclusão e hierarquia.
-Escuta implica parcialidade e não a universalidade, enfrentamento e não recusa dos
conflitos políticos vivenciados em um dado contexto histórico.

“Em que medida as teorias confrontam ou naturalizam hierarquias e formas de concentração


de poder?”

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