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é a experiência e a prática social que criam diferenças entre homens e mulheres, e não
a parte biológica
os contributos da sociologia e dos estudos do género passam por tornar o género e
sexo como tema transversal às ciências e à realidade social
Feminismo - é um movimento que luta contra a opressão exercida nas mulheres e que
luta a favor da igualdade entre géneros
Impacto fundamental do feminismo:
- reformulação pela igualdade entre mulheres e homens e contra outras
formas de descriminação
- na reformulação teóricas das disciplinas das ciências socais e na sociologia
(pôs na agenda sociológica as questões do género e da sexualidade)
1ª Vaga Feminista
Ocorre entre 1840 e final da década de 1920
Cruza-se com a emergência da sociologia
A luta das mulheres passa fundamentalmente pela conquista de direitos cívicos iguais
para mulheres e homens: participação na esfera pública, nomeadamente o direito ao
voto
Identificar o género e as desigualdades
Fica conhecido como “sufragista”
Este movimento/vaga também esteve atenta ao acesso à educação e ao ensino superior,
à intimidade, à conjugalidade, à sexualidade, etc.
A sexualidade como desejo e a importância do desejo no feminismo: um desejo que não
fosse apenas físico
Vínculo entre sexualidade e amor, contrapondo com uma sexualidade meramente física
considerada fama da dominação masculina
O importante era as mulheres terem controlo no seu corpo e sexualidade
Identifica-se claramente que as desigualdades entre homens e mulheres não são
naturais, mas sim socialmente construídas e, portanto, um lugar de intensa luta política
e um palco para transformação social
Impacto do feminismo de 1º vaga na Sociologia:
- Weber nunca escreveu sobre feminismo ou sobre as mulheres, pelo
menos diretamente. Na fase final da sua vida, escreveu sobre a intimidade, o amor e o
erotismo. Nesses textos revelou algumas proximidades concorrentes do feminismo, na
medida em que percebia a intimidade e o erotismo como formas de se atingir uma verdade
antológica do ser humano
- Algumas correntes do feminismo contrapunham esta visão do amor e
da sexualidade a uma outra dominação, da vidência e da obrigação - dominação masculina
na esfera do amor e da sexualidade
- Weber tem um papel ativo na defesa do acesso das mulheres ao
grau de doutoramento na sua universidade; defende que as mulheres podem e têm o direito
a doutorar-se, a seguirem a carreira académica
-Os fundadores da Sociologia estavam envolvidos indiretamente nas
lutas pela igualdade
- Simmel, ao contrário de Weber, vivendo a modernidade
fortemente marcada pelos movimento feministas e pela vida das mulheres por uma
cidadania plena (participação política e acesso ao mercado de trabalho), pretende integrar
as mulheres no seu pensamento sociológico), sendo considerado o primeiro sociólogo a
transformar as mulheres num objeto de estudo legítimo. Mas esta integração é feita à custa
de muitas contradições na sua obra, ou pelo menos aparentes contradições
» por um lado, mantém em muitos textos a ideia que
vincula diferenças biológicas com funções ou papéis distintos para homens e mulheres.
Mostra-se preocupado com as mudanças e transformações que os movimentos feministas
trouxeram e com a crescente participação das mulheres na esfera pública e o que podem
trazer para uma tradicional organização quotidiana da vida social e familiar. Reforça o papel
das mulheres como cuidadores e responsáveis pela família e como destinadas às tarefas
emocionais
» por outro lado, preocupa-se legitimamente com o
problema da subalternização das mulheres na sociedade moderna, nomeadamente no seio
da família; as mulheres como objeto de estudo primordial; a questão biológica dos homens e
das mulheres contribui para a reprodução da desigualdade
2ª Vaga Feminista
Esta segunda vaga inicia-se na década de 60 nos EUA. Simone Beauvior foi uma grande
influência, tendo em conta que a sua visão assentava no facto de ser mulher se tratar de
uma construção a nível do tempo histórico bem como do tempo biográfico.
A afirmação de Charlott Bunch marca esta fase do feminismo: “Não há domínio da
esfera privada que não seja política, e nenhum que não seja radicalmente pessoal” - isto é,
não há esferas que diferenciam homens de mulheres, caso isto exista encontramos
desigualdade.
A segunda vaga apresenta-se como movimento influenciado pelo estruturalismo
(estruturas regem o nosso quotidiano que afeta diretamente o individual e o coletivo), ou
seja, rejeição da ideia da liberdade humana radical.
Feminismo Liberal:
- as desigualdades são fundadas pela distinção entre esfera pública e privada
- a esfera privada pertence às mulheres associadas ao trabalho doméstico e à
educação dos filhos, que conduz as mulheres a uma dominação emocional, económica e
social dos homens, visto que as recompensas da vida social como o dinheiro, o estatuto, o
poder, etc. estão presentes na esfera pública à qual as mulheres não teriam acesso
- o que produz as desigualdades de género é uma ideia de sexismo, que limita as
mulheres desde a infância até à idade adulta deixando-a dependentes e subjugadas aos
papéis de género
- modelo parsoniano da família: mulher trata da casa, homem trabalha; foi atribuído
ao homem o papel instrumental e à mulher um papel emocional/efetivo que desempenha as
atividades domésticas
Feminismo Marxista:
- algo profundamente contemporâneo
- combina a análise marxista das classes socais com a protesta social feminista, o
que deriva numa teoria da desigualdade entre os géneros
- estas feministas enquadram todas as relações de género no que consideram ser a
estrutura fundamental do sistema de classes socais, isto é, todas as experiências dos
indivíduos são um reflexo, em primeiro lugar, da sua posição de classe, em segundo, do seu
género
- as mulheres de classes sociais diferentes (porque têm acesso a recursos e poderes
diferentes) têm entre elas menos experiências de vida em comum do que mulheres e
homens da mesma classe social
- dentro da mesma classe social, as mulheres estão sempre em desvantagem face
aos homens relativamente ao estatuto social, ao poder e das possibilidades de
auto-realização
- as causas das desigualdades entre homens e mulheres residem, em grande parte,
no sistema capitalista, que organiza as relações sociais/as estruturas sociais
- a única solução encontrada para acabar com as desigualdades de género passam
pela revolução, visto que esta eliminaria a opressão na classe social
- ser-se homem ou mulher varia de classe social para classe social
Feminismo no cruzamento entre a psicanálise e o estruturalismo:
- esta junção tem a ver no sentido em que a psicanálise é propensa às
desigualdades, visto que as mulheres pertencem à parte sentimental e o homem à parte
económica (estereótipos)
- reavaliam os possíveis contributos da psicanálise para a compreensão das
desigualdades de género e para as relações de género
- os contributos da psicanálise são contextualizados atualmente
- não se perde a influência das estruturas sociais (como sucede com a terceira
vaga e o cultural turn)
- enquadram-se nas teorias da opressão: as mulheres encontram-se numa
situação em que os homens as usam, controlam, submetem e oprimem
Feminismo Radical:
- nasce na altura que começa a luta pelos direitos LGBT
- profunda indignação perante a sua opressão
- as integrantes deste movimento querem acabar com a opressão
(desigualdades) que provém da dominação, conflito e poder
- para estas feministas, a sociedade caracterizar-se pela opressão das mulheres
- a estrutura fundamental dessa opressão é o género baseado no sistema do
patriarcado
- a violência é um aspeto fundamental para a reprodução da opressão das
mulheres pelos homens e a dominação masculina
- a violência, a opressão e dominação masculina é feita nas seguintes “áreas”:
» trabalho
» sexualidade (prostituição e pornografia - abolição)
» recursos económicos
- para acabar com o conflito, as mulheres teriam que se fazer ver
3ª Vaga Feminista
A influência do pós:
- fortemente influenciada pelo pensamento pós-moderno, pós-estruturalista
e pós-colonialista
- associa-se fortemente ao movimento do cultural turn
- as classes sociais perdem importância para os estilos de vida (passagem das
desigualdades de acesso a recursos para a lógica de opção livre)
- existe uma visão periférica do género em que este se produz da forma como
os homens e as mulheres se encontram de acordo com as expectativas (diferenças)
atribuídas, visto que o género se faz pela ação
- a visão estruturalista dá lugar a olhares que percebem a existência de
sociedades líquidas, de sociedades individualizadas
- há uma centralidade da sexualidade em que as mulheres são livres de ter
desejos bem como de escolher a sua orientação sexual, visto que se cria um identidade
através da sexualidade, ou seja, há uma perda do ideal de opressão para passar a uma esfera
de interação
- há uma importância no pós-colonialismo com a questão racial, visto que
ser mulher em Portugal é diferente de ser mulher na Tailândia e é dever dar-se voz a essas
diferenças pelas experiências de vida dessas mulheres, de modo a espalhar as características
de cada tipo de mulher
- a sexualidade é uma fonte de emancipação, uma dimensão da vida sexual
A emergência do pós-estruturalismo:
- rejeição do estruturalismo
- a linguagem não se limita a transmitir pensamentos ou significados
- não há qualquer existência fundamental básica, essencial ou ontológica
fora da linguagem
- a base da realidade é feita à base de discursos, visto que é impossível não
usar linguagem, assim, a realidade é formada por esta, que ao longo do tempo fica extensa
- as nossas identidades são reguladas por discursos já existentes, em que
sabemos a posição em que se encontram homens e mulheres
- as nossas identidades são produto da forma como a linguagem nos
posiciona, nos descreve, ou nos define - como nos limita a existência
- não há uma verdade absoluta e que esta realidade pode ser alterada
com os discursos
A importância de Michel Foucault:
- centralidade da linguagem
- poder do discurso
- nada existe fora do enquadramento da linguagem e do discurso
- a linguagem que usamos serve como enquadramento para
compreender a interação com a realidade
- os discursos regulam a realidade e de como esta influencia a nossa
atuação dentro dela
- os discursos definem, também, o que deve ser o homem e a mulher,
visto que constroem a realidade e alguns dos estereótipos existentes face às expectativas
esperadas de acordo com o género
Judithe Butler - Visão Performativa do Género:
Pretende dissolver a dicotomia sexo vs género, que fornece às feministas possibilidades
de problematização da “natureza biológica” de homens e de mulheres
Para Butler, na sociedade contemporânea, estamos perante uma “ordem compulsória”
que exige a coerência total entre um sexo biológico, um género e um desejo/prática
sexual
A sua ideia é desmontar as ligações; o género e o desejo tornam-se mais flexíveis,
líquidos e não determinados ou causados por outros fatores
O género, mais do que um atributo fixo de um indivíduo, deve ser entendido como uma
variável fluída e pode mudar em diferentes contextos e ao longo do tempo (histórico) e
do tempo biográfico
A performance de género também não é exclusivamente automática ou mecânica; pelo
contrário, responde a um desejo dos indivíduos serem reconhecidos pelos outros, ao
desejo de não serem marginalizados
O género, bem como os projetos individuais de existência, formam-se através de atos
de repetição e de imitação, e não resulta de uma essência antológica que existe antes
da repetição
Todos nós colocamos em prática performances de género
O género produz-se e reproduz-se na exata medida em que homens e mulheres
desempenham aquilo que deles é esperado enquanto homens e mulheres
O género faz-se na ação:
- performance conservadora: reprodução das identidades e dos papéis de género
e das expectativas normativas da feminilidade e masculinidade
- performance disruptiva: criação de novas formas de feminilidade e
masculinidade, nomeadamente aquelas associadas à orientação sexual; formas de
identidade que questionam e desafiam as expectativas normativas que definem o que é ser
homem e mulher
Pretende romper com a ideia de que o sexo biológico seja a base das desigualdades e
com o que significa ser-se homem ou ser-se mulher
Sexo: biológico e físico; nascemos com um determinado sexo
Género: é culturalmente construído; expectativas com características normativas de
modo a nós nos comportarmos de uma certa forma; resulta do sexo biológico
Sexualidade: incorpora regras inseridas, bem como as expectativas
A autora tenta desconstruir este aspeto porque há exceções a este modelo, visto que
alguém pode nascer homem, incorporar comportamentos de mulher e ser homossexual;
por isto mesmo, não devemos ficar restringidos a um modelo, mas sim regular o nosso
caminho
Baseia-se na teoria de Foucault, que afirma na obra “The history of sexuality”, que a
construção de sexo é produzida e regulada através de um serviço social e pelo controlo
da sexualidade, em que está em causa a satisfação dos desejos sexuais do homem e da
mulher que são formulados por discursos; de forma sucinta, o género resulta de
discursos
Género como performance: a repetição é feita através dos limites estabelecidos pelos
discursos reguladores normativos, ou seja, realidade; se rompermos com isto, não
somos válidos para o típico ideal
A centralidade da sexualidade:
- a sexualidade enquanto esfera da vida onde se jogam relações de poder,
passando a ser vista como uma esfera de potencial emancipação das mulheres -
emancipação através da afirmação dos seus desejos e da sua sexualidade
- a sexualidade deixa de ser vista como uma estrutura de opressão das
mulheres e dominação masculina
- emergência das “sex wars” (década de 1980) que ainda hoje perdura entre
diferentes correntes do feminismo - confronto entre as feministas de terceira vaga que
percebem o sexo como prazer e emancipação vs feministas de segunda vaga (sobretudo as
radicais) que entendem o sexo como perigo e opressão/objetivação
papéis de género produzem homogeneização dos homens e das mulheres pois existe
apenas duas possibilidades de papéis
noção de papel sexual deriva do conceito de papel social formado na
estrutural-funcionalista (Parsons)
a alternativa às teorias dos papéis de género são os conceitos de masculinidade e de
feminilidade de Connell e Kimmel
Sistema de Género:
- ordem de género: dimensão cultural; privilégios, vantagens e desvantagens
atribuídos a uns e a outros; têm variações nas diferentes instituições
- regime de género: ordem de género nas diferentes instituições
Níveis de análise nas relações sociais de género:
- existem relações de poder (político), de produção (trabalho), emocionais e
simbólicas (família, relações intimas sexuais)
- estas relações fazem-se através da masculinidade hegemónica e feminilidade
enfatizada
- contraria a queer theory
-afasta-se de de uma visão que percebe o género como uma simples diferença
cultural entre homens e mulheres, que teria origem na divisão biológica
- o género não se pode referir apenas ao indivíduo, como se todas as questões do
género girassem simplesmente em torno das identidade e da performance
- o género é uma estrutura das relações sociais, não é uma mera expressão da
biologia nem um fixo do carácter humano
- o conceito de género não deve deixar o corpo de lado, como se esse fosse apenas
um produto de construções sociais
Masculinidade Hegemónica:
- é um tipo específico de masculinidade que subordina as outras e é entendida
como um padrão de práticas contínuas que possibilita a dominação do homem sobre as
mulheres
- é normativa também sobre os homens, sendo que “incorpora a forma mais
honrada de ser homem”, exigindo que todos os outros homens se posicionem a relação
a ela
- não significa violência, mas imposição através da cultura e das instituições sociais
Feminilidade Enfatizada:
- é um tipo de feminilidade que encaixa totalmente nas exigências da
masculinidade hegemónica
- implica uma hierarquia de feminilidades subjugadas/subalternadas
Teoria Queer:
- crítica a Judithe Butler
- traduz-se numa teoria de género que defende que a orientação sexual e
identidade sexual dos indivíduos deriva de uma construção social e, assim, não existem
papéis sexuais ou biologicamente inscritos na natureza humano, mas sim diferentes
formas de desempenhar um ou vários papéis sexuais
Masculinidade Hegemónica:
- o conceito foi pela primeira vez usado por Connell em 1982 no seu primeiro
trabalho sobre género
- ideal típico de ser homem
- trata-se da capacidade de impor uma definição específica sobre outros tipos de
masculinidade, o que significa que o modelo exaltado corresponde, na realidade, a
muitos poucos homens
- as masculinidades alteram-se na história e no contexto scio-espacil, e as mulheres
têm um grande peso na criação do conceito
- surgiu com o estudo das desigualdades sociais na escola de Austrália,
apresentando várias hierarquias de género, hierarquias que se relacionam
profundamente com a construção do mesmo
- um dos traços importantes da masculinidade hegemónica, junto com a sua
conexão com a dominação, é o facto de ser heterossexual
- é a referência apesar de ser inatingível; é o que se deve ambicionar
-masculinidade cúmplice: são formas de querer ser homem que pretenda atingir,
mas não conseguem alcançar aos pressupostos da masculinidade hegemónica
- masculinidade desafiante: são formas que questionam as preceitas normativas
da masculinidade hegemónica (tradicional); ex.: homens que assumam ativamente a
sua parentalidade
- “é entendida como um padrão de práticas continuadas (isto é, coisas que são
feitas e não apenas uma série de expectativas de papéis ou uma identidade), que
possibilita a dominação dos homens sobre as mulheres e sobre outros homens”
- as masculinidades dizem respeito à posição dos homens na ordem do género
- as masculinidades dizem respeito à posição relativa dos homens entre si, isto é, à
posição relativa que cada homem ocupa no campo competitivo das masculinidades
- as masculinidades podem ser definidas como um padrão de práticas que
permitem a reprodução de um sistema de dominação dos homens sobre as mulheres
- a masculinidade hegemónica em poder normativo, ela determina o que deve ser
o homem, o homem adequado
- a hegemonia só se cria através de arquétipos que vão mudando, visto que é
historicamente construída, ou seja, é um processo histórico
Feminilidade Enfatizada:
- corresponde à masculinidade hegemónica mas nas mulheres
- desejam cumprir uma normatividade de género que sublinha a aceitação da
ligação direta e restritiva das mulheres com os domínios do privado, da domesticidade e
do quarto (Connell, 1987)
- esforçam-se na manutenção de uma feminilidade formada pela aceitação da
subordinação e orientada para a acomodação aos interesses e desejos dos homens
(Connell, 1987)
NOTA: é a relação entre masculinidade hegemónica e feminilidade enfatiza que permite
a reprodução de um sistema de desigualdades entre homens e mulheres e que privilegia os
homens
Sexualidade:
- é socialmente construída e o principal eixo de estruturação é o género
- a sexualidade, os comportamentos sociais ou os modelos gerais de organização e
significação da sexualidade funcionam como uma confirmação da identidade de género
- será através da exploração da masculinidade e/ou feminilidade que o homem e a
mulher se constroem enquanto seres sexuais
- a forma como vivem/experimentam reforça o seu determinado tipo de
masculinidade; rutura com o comportamento expectável e adequado, originando uma
masculinidade alternativa
- a sexualidade é construída tendo em consideração normatividades de género
- o género é confirmado através do comportamento sexual (Kimmel)
- o sexo assume um estatuto simultaneamente central na identidade de género e
na afirmação da sexualidade
- nos homens: os homens são reféns de um sistema ideológico que imagina o sexo
como um instrumento classificatório da masculinidade e do cumprimento de requisitos
normativos. Ao mesmo tempo, ficam aprisionados e pressionados por um modelo de
masculinidade incansável que hipertrofiam a sexualidade enquanto dimensão
constituída daquilo que é ser-se homem. Em suma, a sexualidade é o palco de
performance, manifestação e consolidação da masculinidade
- nas mulheres: as mulheres ficam aprisionadas a um modelo de feminilidade que
prescreve a hipotrofia da sexualidade feminina. Estas ficam limitadas por uma estrutura
ideológica e por uma organização normativa do género que implica uma sexualidade
invisível, silenciosa, passiva e recatada. O sexo é problema para elas, pela persistência
do controlo da hipotrofia da sexualidade que torna inexistente uma linguagem de
prazer e do desejo sexual feminino
- duplo padrão sexual:
» sexualidade expansiva - homem (quantas mais mulheres melhor)
» sexualidade recatada - mulher (quantos mais homens pior se torna a sua
imagem)
- imperativo da heterossexualidade:
» a masculinidade define-se pela negação da homossexualidade
» o objetivo será colocar distância não só às mulheres ou às emoções, mas
também formas de masculinidades subalternizadas (ex.: homossexuais),
permitindo a afirmação de uma masculinidade em contraposição
» a dicotomia heterossexual/homossexual revela-se um eixo estratificador
central, em torno do qual se classificaram diferentes tipos de homens
- diversidade sexual:
» corresponde à imagem do homem com poder sexual
» a masculinidade tradicional será atingida por desempenhos que pretendem
obter a aprovação de outros homens que depende, por sua vez, das conquistas
sexuais
» as mulheres são utilizadas como indicadores do cumprimento dos preceitos
normativos da masculinidade e são fundamentais na conquista e estatuto dos
homens hierarquizados
- imperativo do homem ativo:
» corresponde ao arquétipo do homem no poder aplicado à esfera social da
sexualidade
»o homem percebido como único responsável pelos acontecimentos que
ocorrem na interação sexual e pelo sucesso do encontro
» a masculinidade afirma-se pelo distanciamento do feminino, pelo que não
pode permitir comportamentos que se aproximem ou se assemelhem à
passividade sexual tradicionalmente atribuída às mulheres
» o homem com o lugar da atividade, o ativo, o penetrador vs a mulher com o
lugar de passividade, a passiva, a penetrada; os homens enquanto produtores do
que se passa no encontro sexual e as mulheres enquanto recetoras
Feminilidade Provocada:
- percebem-se como mulheres provocadores, como agentes de transformação,
como mulheres vanguardistas, que pelo seu comportamento sexual desafiam aquilo
que delas seria expectável (ex.: acompanhantes de luxo)
- são autoras de uma feminilidade que quebra as partilhas morais em torno de uma
forma enfatizada de feminilidade e de uma sexualidade contida
- trata-se de uma feminilidade que se afirma pela contestação prática ao duplo
padrão sexual que lhes condicionaria a experimentação da sexualidade
Diferenças culturais:
- a forma como homens e mulheres são constituídos varia de acordo com os
contextos culturais
- os comportamentos e atitudes expectáveis ao homem e à mulher são diferentes
consoante a cultura
- ex.: para algumas culturas (ocidental, europeia, norte-americana) o lugar da
mulher é subaternizado
Matriarcado ≠ Patriarcado
Patriarcado:
- a hegemonia ou a dominação são invisíveis
- existência na segunda vaga do feminismo
- baseia-se na passividade das mulheres e a agencialidade dos homens
Socialização:
- processo de aprendizagem de regras e normas sociais de um grupo ou de uma
cultura
- esta aprendizagem envolve a interiorização de valores e comportamentos
socialmente aceitáveis
- ao cumprirem os papéis sociais transmitidos pela socialização, os indivíduos estão
a conformar-se às normas do grupo e a evitar comportamentos que violem as normas
instituídas
- funciona como mecanismo de controlo, de produção e de reprodução “mágica”
(automático) social e de ideologias de género
- as pessoas não recebem a socialização de forma acrítica
- círculos de socialização:
» família
» escola
» amigos
» trabalho
» amor