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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

Disciplina: TEORIAS E SISTEMAS 1


Discentes:
Analice Tenório
Catarina Kelly Alves Santos
Emmanuela Calheiros
Letícia Marcelino
Luka de Melo
Luna Ajayi-Ologundudu
Maria Fernanda Medeiros
Ismael Marques da Silva Basílio
Docente: Frederico Alves Costa
Turma: 2023.1
Grupo: 2

PERGUNTAS PARA O DEBATE:

PERGUNTA 1:

“[...]processa-se uma transformação capital com relação ao século XVIII, uma vez que se

passa a distinguir ciência de metafísica, esta entendida como um saber sem fundamento.

É aí que ameaçavam ser alojados os saberes psicológicos do século XVIII, relegados à mera
metafísica na impossibilidade de serem ciências legítimas, graças às críticas kantianas.”
(FERREIRA, A., p.85)

Immanuel Kant é considerado o inaugurador da filosofia contemporânea e a partir de seu ideal


criticista passa a estabelecer novos parâmetros diante dos diversos conceitos epistemológicos
vigentes na época – século XVIII. Segundo este filósofo, para que a psicologia empírica se
prove como ciência propriamente dita, esta deveria englobar três procedimentos e, entre eles, o
segundo seria o ato de analisar o elemento a ser estudado de forma objetiva, em que o sujeito
não se misture com o objeto. Em outro caminho, há o conceito epistemológico da psicologia
comunitária, no qual a natureza da produção do conhecimento tem caráter monista, o que
significa que não há distância entre sujeito e objeto (MONTERO, M., p.44). Diante dessa etapa
de viés epistemológico e com base no que diz a teoria kantiana, poderia a psicologia
comunitária vir a ser classificada como ciência? Explique com base nos três
procedimentos considerados por Kant definidores da classificação científica.

Resposta:

De acordo com a teoria kantiana, para que a psicologia se enquadre como empírica e
consequentemente se encaixe na classificação científica, seriam necessários três procedimentos
de filtragem: descobrir o elemento de estudo, por meio do reducionismo metodológico; estudar
tal objeto de maneira objetiva, ou seja, descartando possíveis subjetividades; e produzir uma
matematização do estudo do objeto. Portanto, não seria possível que a psicologia comunitária
viesse a ser classificada como parte da ciência, uma vez que:

1 – Sendo o(s) objeto(s) de estudo da psicologia comunitária, de acordo com Maritza Montero,
os atores sociais - ou seja, os sujeitos dentro de suas relações com outros em uma comunidade
e, não, os sujeitos fisicamente e individualmente constituídos - não seria possível efetivar o 1º
procedimento, uma vez que os desdobramentos diante das relações comunitárias não possuem
uma origem primordial e única.

2- A psicologia comunitária, em sua dimensão epistemológica, engloba sujeito e objeto em uma


mesma dimensão, de transformação contínua e mútua, não sendo possível desvincular o
primeiro do segundo, e vice-versa, pois “a realidade está no sujeito e ao seu redor; por sua vez,
o sujeito está na realidade, faz parte dela, não sendo possível separá-los”(MONTERO,M., p.44).
Assim, não haveria maneiras, também, de acordo com a teoria kantiana, de efetivar o 2º
procedimento.

3- O 3º procedimento, constituindo-se, de certa maneira, como a forma experimental do 2º


procedimento, também não poderia ser aceito pela teoria kantiana, tendo em vista que, por não
haver elementos objetivos para constituir uma futura fórmula matemática, tal fórmula não
existirá e, portanto, não haverá matematização do estudo do elemento.

PERGUNTA 2:

TEXTO 1

“Há dois elementos, em Participação e teoria democrática, que sinalizam


desdobramentos posteriores da reflexão de Pateman. O primeiro deles é que, embora não esteja
preocupada com questões de gênero e não dê atenção ao ambiente familiar, ela já põe em xeque
a fronteira entre o público (o Estado, em que processos democráticos de decisão são aceitos e
mesmo requeridos) e o privado (as empresas, nas quais é legítimo que impere o arbítrio do
patrão). O segundo é a recusa a aceitar ao pé da letra as maneiras pelas quais a submissão é
formalmente admitida como voluntária e, portanto, legítima. Ainda que, na democracia liberal,
a participação no processo eleitoral seja compreendida como a aceitação da autoridade que dele
resulta, na ausência de condições para uma ação efetiva e esclarecida esses resultados são
injustos e carentes de legitimidade.”

MIGUEL, Luis Felipe. (2017). Carole Pateman e a crítica feminista do


contrato. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 32(93), e329303. Epub December 19,
2016. Disponível em: https://dx.doi.org/10.17666/329303/2017
TEXTO 2

"[...] Eu sou, eu existo: isto é certo; mas por quanto tempo? A saber, por todo o tempo em que
eu penso; pois poderia, talvez, ocorrer que, se eu deixasse de pensar, deixaria ao mesmo tempo
de ser ou de existir. Nada admito agora que não seja necessariamente verdadeiro: nada sou,
pois, falando precisamente, senão uma coisa que pensa, isto é, um espírito, um entendimento
ou uma razão, que são termos cuja significação me era anteriormente desconhecida."

DESCARTES, R. (1641). Meditações sobre Filosofia Primeira

A partir da leitura dos dois textos, apesar de pertencerem a momentos históricos e sociais
distintos, apresentam uma construção de sujeito definida e embasada. Dessa forma, como a
ideia de Pateman, em sua crítica ao contrato social, e Descartes na sua segunda meditação,
diferem na concepção ontológica e como isso implica na construção da psicologia como
ciência?

Resposta:

Descartes parte do questionamento acerca do conhecimento e do grau de certeza que ele


carrega e, por sua vez, assumindo que os sentidos são enganosos, ele abandona o saber
proveniente das sensações. A partir disso, em sua segunda meditação, Descartes chega a sua
primeira verdade, que é a sua própria existência já que apenas pode ser enganado enquanto
existir, pensar, duvidar e desejar. Dessa forma, o filósofo constrói um indivíduo que antecede a
sociedade, isto é, o mundo é compreendido a partir desse ser. Essa é uma concepção
individualista de sujeito, o que Pateman critica com ardor, para ela o indivíduo separado das
relações sociais é a causa da legitimação da submissão e representa a dicotomia entre a esfera
pública e privada. Assim, o indivíduo trata a sua “liberdade” como propriedade passível de
venda.

Com relação ao estabelecimento da Psicologia como uma ciência é necessário


problematizar qual a dimensão ontológica que o conhecimento produzido está utilizando, visto
que ao utilizar a noção liberal do indivíduo, como Pateman denominou de individualismo
possessivo, esse sujeito é responsabilizado pela sua sujeição e penalizado pelos acontecimentos
que não estão ao seu alcance, mas são problemas de aspecto social. Logo, é necessário pensar
uma Psicologia para além da concepção abstrata de sujeito estabelecida por Descartes.

PERGUNTAS RESERVA:

PERGUNTA 3:

“Seja no contrato de trabalho, seja no contrato de casamento, há o estabelecimento de uma


hierarquia pela qual um dos contratantes (o patrão ou o marido) exerce autoridade sobre o outro
(o trabalhador ou a mulher). A subordinação é condição necessária para que, tanto no trabalho
quanto no casamento, a exploração possa ocorrer.” (MIGUEL, F., 2017, p.5 apud Pateman,
1988, p. 8).

De acordo com Carole Pateman, a fórmula do contrato sexual permite a legitimação de


relações de subordinação, uma vez que esta é baseada no individualismo possessivo (MIGUEL,
F., 2017, p.5) – direitos individuais tidos como propriedades externas ao indivíduo, logo
negociáveis. Martinho Lutero, monge agostiniano, conceitua o homem como ser formado por
uma parte interior - que se deve diretamente a Deus; é verdadeira e inata - e exterior -
desenvolvida pelas vontades do próprio indivíduo. Nesse viés, porém, a parte exterior deveria,
para se constituir como correta e afastada do “mal”, receber o auxílio de um pedagogo, chamado
também de “colaborador de Deus”, o qual, em seu posto, iria assegurar a efetividade da palavra
bíblica (NEUSER, W.,2011, p.27).Com base na construção de Pateman sobre o contrato
sexual e suas consequências, de que maneira a função pedagógica de formação do
indivíduo, da maneira determinada por Lutero, pode ter influenciado na manifestação do
patriarcado e posterior aprisionamento da figura da mulher na sociedade?

Resposta:

De acordo com Martinho Lutero, há a necessidade da presença ativa de um pedagogo -


este poderia ser o pai, o presidente da república, ou alguma outra figura de poder na época; este
deveria também ser instruído em relação às escrituras bíblicas - desde o início da vida de
qualquer indivíduo e de forma consistente, para evitar “deslizes” e a “transformação de crianças
em bestas-feras”(NEUSER, W., 2011, p.27), pois, assim, a formação de tal sujeito se basearia
na atividade pedagógica desenvolvida. Levando em consideração o ideal de liberdade da mulher
na contemporaneidade, e diante dos dogmas medievais cristãos, nos quais a pedagogia de
Lutero se baseava, a formação da mulher como ser social se daria, em grande parte, a partir da
dominação do pai, ou seja, a partir de uma relação patriarcal - com base nos ideais machistas
de regulamentação feminina ligados ao cristianismo - e, portanto, tornaria a capacidade de
manifestação da mulher limitada, provocando seu aprisionamento.

PERGUNTA 4:

"Quando falamos em ‘Renascença’, referimo-nos a uma época que se distingue


estruturalmente tanto da época que a precedeu quanto daquela que a sucedeu. A época anterior
à Renascença, que costumamos chamar de Idade Média, e a época posterior à Renascença,
denominada Idade Moderna, são épocas marcadas por um desenvolvimento histórico
relativamente tranquilo e podem ser caracterizadas por questões que lhe são próprias e que
representam a marca fundamental para o seu modo de pensar. Para o pensador da Idade Média,
as perguntas que indicam os problemas apresentam suas soluções e determinam o modo de
pensar que estão estritamente vinculadas às questões relativas à fundamentação do
conhecimento numa dimensão exterior ao próprio pensador, enquanto para o pensador da Idade
Moderna a questão consiste em saber como o conhecimento pode ser entendido desde o
estabelecimento ou a instauração de si mesmo."

Neuser, W. (2011). A formação e o conceito de indivíduo na Renascença.

O renascimento é um momento de transição entre a idade média e a idade moderna que


contesta ideias até então vigentes sobre a noção de indivíduo e de ciência. Assim, tomando
como base a Ciência Extraordinária defendida por Thomas Kuhn. Quais ideias são colocadas
em xeque para construção de um novo paradigma sobre a noção de Indivíduo? Qual o
novo paradigma sobre indivíduo no renascimento?

Resposta:

A Renascença é um momento de transição de grande importância no que diz respeito à


novas construções de paradigmas, uma vez que os fenômenos continuam existindo, porém, a
forma de interpretação dos indivíduos acerca dos fenômenos muda. Ideias passam a ser
contestadas para construção de um novo paradigma:

• A religião como lugar de certeza;

• Existência de um ser transcendental que a partir dele as ações humanas são orientadas;

• Indivíduos com um papel secundário para o pensamento filosófico;

• A existência de duas fontes que determinam as relações: a fonte divina e paixões , vontades,
afetos, etc.

Na proporção que essas ideias passam a ser contestadas outras surgem para construção de um
novo pensamento acerca dos indivíduos; algumas delas são:

• O homem como a única instância capaz de ter certeza sobre o conhecimento;

• Igreja é colocada em segundo plano;

• Homem como protagonista para o pensamento científico e filosófico;

• Questionamentos sobre como os indivíduos são formados por si mesmos;

• Novo modelo epistemológico (racionalismo e empirismo).

PERGUNTA 5:

Tendo como base a seguinte citação “Com o uso do método histórico nos é dado
conhecer a ordem de apresentação do conhecimento que se inicia, na base, com as ideias
simples, chegando ao conhecimento geral. Com outras palavras, pode-se dizer que a
preocupação de Locke é esclarecer o problema da origem das ideias, isto é, como elas aparecem
na mente dos homens e como se dá a relação entre ideias e a realidade das coisas.” Dessa forma,
como as ideias de John Locke e o Associacionismo se relacionam com a terceira meditação
de Descartes?

Resposta:

A terceira meditação de Descartes trata da prova da existência de Deus, na qual ele


apresenta argumentos que fundamentam a confiabilidade das ideias claras e distintas. Locke,
por sua vez, concentra-se na origem das ideias, explorando como a mente humana adquire
conhecimento e a relação entre essas ideias e a realidade externa.

A relação entre as ideias de Locke e a terceira meditação de Descartes pode ser


observada ao considerar a importância do conhecimento claro e distintamente percebido. Locke
argumenta que as ideias se originam da experiência sensorial e que a mente as combina por
meio do processo de associação. Esse Associacionismo de Locke, que sugere que as ideias estão
conectadas através de experiências anteriores, pode ser visto como uma forma de apoio ao
método cartesiano de identificar ideias claras e distintas como um critério para estabelecer a
verdade.

Em outras palavras, enquanto Descartes busca a verdade através de ideias claras e


distintas como uma garantia de validade, Locke explora como essas ideias se formam na mente
e como são conectadas. Ambos os pensadores estão interessados na relação entre a mente
humana, suas ideias e a realidade externa, embora abordem essas questões de maneiras distintas.

Portanto, a abordagem associacionista de Locke em relação à formação e conexão das


ideias pode ser vista como complementar à busca de Descartes por conhecimento seguro e
confiável, através do discernimento das ideias claras e distintas. Ambos os pensadores
contribuem para uma compreensão mais ampla da epistemologia e da relação entre a mente e a
realidade.

PERGUNTA 6:

Considerando a citação “Mesmo o ambiente social que forçava a mulher ao casamento,


permitindo o paralelo inconteste com a privação que obriga o trabalhador a se assalariar, sofreu
transformação”, e levando em conta os argumentos de Pateman, que ressaltam as estruturas de
poder e gênero, como a crítica feminista do contrato social se inter-relaciona com a
concepção de mudança de paradigma proposta por Thomas Kuhn?

Resposta:

Quando relacionamos essa citação com a teoria do paradigma vencido de Thomas Kuhn,
podemos ver como os conceitos se entrelaçam. A teoria de Kuhn, apresentada em "A Estrutura
das Revoluções Científicas", argumenta que a ciência avança através de mudanças
paradigmáticas, onde paradigmas estabelecidos eventualmente cedem lugar a novos. Isso
acontece quando as anomalias acumuladas desafiam a capacidade do paradigma vigente de
explicar certos fenômenos.

Da mesma forma, a citação de Carole Pateman sugere que os paradigmas sociais, como
o que forçava as mulheres ao casamento e os trabalhadores ao assalariamento, podem estar
sofrendo transformações semelhantes. Novas compreensões das desigualdades de gênero, bem
como as mudanças nas relações de poder na sociedade, podem estar questionando a validade
desses paradigmas sociais anteriores.

Assim, a teoria de Pateman se mescla à ideia do paradigma vencido de Kuhn ao enfatizar


que as mudanças sociais e políticas podem criar um contexto onde os paradigmas sociais
previamente aceitos estão sendo questionados, desafiados e eventualmente substituídos. Isso
implica que a compreensão das estruturas de poder e gênero evolui conforme as novas
perspectivas emergem e as anomalias dentro dessas estruturas se tornam mais evidentes. A
análise crítica de Pateman, portanto, se encaixa na ideia mais ampla de como as mudanças
sociais podem conduzir à transformação dos paradigmas vigentes, tanto na ciência quanto nas
relações sociais.

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