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AUTORES:
MELISSA ANDREA SMANIOTTO
MURILO MALVEZZI
RESUMO: Diante da modernização digital, novas possibilidades virtuais então surgindo, não
somente de reuniões, ou aulas à distância, cursos e congressos remotos, mas também a
implementação de processos judiciais, audiências, e uma infinidade de documentos criados e
assinados virtualmente. Porém na seara dos testamentos, ainda é encontrada uma certa
resistência, de maneira a não se aceitar tal modalidade digital. Esta análise trata das
possibilidades de criação e validade de tal instituto, bem como das formas não aceitas para sua
elaboração, por meio da análise minuciosa e dirigida da legislação correlata, seus
desdobramentos e interpretações. Ao final, percebe-se que esta possibilidade é plausível,
porém com ressalvas e restrições
INTRODUÇÃO
RESULTADOS
3Um rol taxativo de opções, que demonstram este número restrito de alternativas.
4CF - CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.
de herdeiros legais que estejam fora do país, ou mesmo estrangeiros, que devem se submeter ao
cumprimento da soberania brasileira para herdar bens que se encontrem no Brasil. Apesar desse
modelo muitas vezes parecer justo e igualitário, nem sempre expressa a real vontade e
demonstração diferenciada de afeto do proprietário dos bens para com os futuros proprietários.
Importante lembrar que no Brasil, ao contrário de diversas outras nações que permitem a
expressão da própria vontade com a totalidade dos próprios bens, aqui se a pessoa possui cônjuge,
pais ou filhos (os chamados herdeiros necessários 5 ), nossa legislação limita a disponibilidade
somente à metade do total de bens, dividindo a totalidade, em bens disponíveis (passíveis de
doação) e bens legítimos (que não poderão ser retirados da possibilidade de repasse aos
herdeiros). A totalidade, pode sim ser usada da maneira que o proprietário quiser, porém, diante
de sua morte 6 , seu testamento só deve conter a parte disponível, seja pela descrição dos bens (o
legado) ou uma porcentagem dos bens disponíveis (o testamento).
Enfim, em situações extremas (em meio a um sequestro, serviço militar isolado, uma
guerra, ou mesmo em alto mar) nosso ordenamento até tem permissões excepcionais,
denominados: testamentos especiais, que são tratados a partir do art. 1886 do Código Civil.
São testamentos com regras específicas e principalmente, com prazos limitados, e por este
motivo, não serão tratados neste estudo.
Entre os demais testamentos, chamados ordinários, o mais simples é o testamento
particular 7 , também chamado privado, ou hológrafo. Basicamente o testador deve saber
escrever (apesar de poder ser feito de maneira mecânica), vistar e assinar o documento, e
necessita de ao menos três testemunhas. Sua existência e validade serão avaliadas em juízo, e
somente após a morte do testador. Acaba sendo muito comum ser esquecido e desprezado
durante partilhas de bens pelos herdeiros. Aí surgem perguntas:
8
• Pode ser feito no exterior ?
Como se no Brasil estivesse sendo confeccionado, não, porém seguindo as normas
locais sim, um testamento particular (ou semelhante a este) seguindo as regras do país onde se
encontra pode ser feito mesmo com a assistência de um advogado local (que poderá orientar
sobre as características do testamento naquele país) que pode não conhecer as características
testamentárias do Brasil9, e quando for aplicado (ou reclamado) no Brasil, para a partilha dos
bens que aqui se encontrarem, após a morte do testador, precisará cumprir os requisitos do
local e de quando foi elaborado.
• Poderia ser feito por meio digital?
5Herdeiros necessários, descritos no art. 1845 do CC, e disposições correlatas entre o art.1846
e 1850 do CC.
6Mesmo os bens doados em vida, devem obedecer a proporção de 50% (cinquenta por cento)
do total do patrimônio, respeitando a reserva legal aos supostos futuros herdeiros necessários,
mesmo que se trate de uma expectativa de direito, podendo assim somente dispor para doação
da proporção da disponível, a ser comparado ao valor total de bens existentes no ato de tal
liberalidade, excetuando-se em termos, o adiantamento de herança.
7Com suas regras e características expressas no CC, do art. 1876 ao 1880.
8Testamento realizado no exterior segue a lei do país em que foi feito, com suas exigências e
limitações, conforme art.9º da LINDB, devendo adotar como elemento de conexão formal as
obrigações conforme lei do local da celebração, entendimento já consolidado pelo STF, pela
regra locus regit actum.
9Será válida a descrição legal mais vantajosa ao cônjuge ou filhos, conforme CF, art. 5º, XXXI.
Basicamente, confeccionado digitalmente no exterior para que seja reconhecido de
imediato no Brasil, não. Como não existe previsão, não seria aceito. Ainda assim, deve se
basear na lei local aplicada para o testamento no país onde foi celebrado.
Resta ao nosso estudo a forma mais segura e certa de ver sua última vontade ser
realizada, o testamento público. Importante salientar que somente sua existência é pública, seu
conteúdo, apesar de ser escrito pelo tabelião, diante de duas outras testemunhas, fica
registrado de forma confidencial. Sim, agora, novamente a pergunta:
• Poderia ser feito por meios digitais?
E a resposta mais positiva nesta situação é um: talvez. Algo muito positivo, pois
apesar de falta de previsão legal expressa, não se encontra expressa a proibição. Sim, uma
lacuna de permissão.
A prática não é usual, mas nem mesmo a confecção de testamentos é algo comum,
então, é uma boa possibilidade de confecção on line. Já em 2020, foi expedido pelo CNJ11 o
provimento nº 100, dispondo sobre a prática e estabelecendo normas gerais sobre a prática de
atos notariais eletrônicos em todos os tabelionatos de notas do País. Ainda não são muitos os
tabelionatos que já aderiram a tais práticas, mas o número é naturalmente crescente.
Inicialmente é bom lembrar que as formas testamentais tratam-se de numerus
clausus, assim, as etapas de confecção do testamento devem se encaixar perfeitamente às
exigências legais; Sim, as possibilidades são reais, mas devemos seguir às minúcias essenciais
descritas no art. 1864 do CC, cumprindo estes três requisitos:
i) A exigência que seja escrito por um tabelião em seu livro de notas, acaba sendo
um fator facilitador, pois exime o testador de ter esta obrigatoriedade, como no testamento
particular manuscrito, e até mesmo da exigência de estar presente, como na situação do
testamento cerrado, assim, estas declarações do testador poderiam facilmente ser repassadas por
aplicativo de reunião on line (esta seria a videoconferência notarial, descrita no art. 2º, V, do
Provimento nº 100 de 2020, do DJe/CNJ ) completando a conexão do testador com o tabelião,
com a necessária presença das testemunhas, de alguma forma. Importante também lembrar que
nesta conversa on line, o tabelião deve criar a convicção de estar em contato com o real testador, e
de que suas expressões de vontade não estejam sofrendo interferências externas, uma vez que
outra pessoa poderá estar no mesmo ambiente do testador, de maneira a redirecionar e deturpar a
verdadeira vontade de declaração, por outro lado, torna-se possível a presença de um advogado de
confiança no local onde se encontre o testador, para orientá-lo, em
10Com suas regras expressas no CC, do art. 1868 ao 1875, porém, na prática, quase não são
oferecidos pelo tabelionato, praticamente caindo em desuso.
11Conselho Nacional de Justiça.
caso de dúvidas de procedimentos (mesmo ele estando em uma enfermaria de difícil acesso,
ou em outro país isolado).
ii) Quanto à leitura do instrumento já transcrito, deve ser em voz alta, pelo
tabelião ou o próprio testador, às testemunhas. Aqui, o testador não tem a obrigação de fazê-
la, assim, tal transcrição pode ser feita pelo tabelião, de maneira virtual, sendo visualizada
pelo testador em tempo real.
iii) O terceiro e último requisito é a assinatura, que não mais é necessariamente
feita com caneta no papel impresso, o que poderia ser uma exigência cartorária e um problema
há cinco, ou dez anos, porém, hoje é possível e relativamente comum a assinatura virtual
(assinatura digital, descrita no art. 2º, III, do provimento nº 100 de 2020, do DJe/CNJ ) , por
vezes expressa com maior segurança e integridade, e até com melhor aceitação jurídica e
documental do que a marca particular transcrita em papel, tanto modificada pelo passar do
tempo, ou por doenças, ou simples afetações motoras, e não há de se deixar de fora as
possibilidades de fraude, visto que o tabelião pode estar recebendo Mévio, que se passa por
Tício, porém com uma senha de assinatura virtual, esta dificilmente seria descoberta por
Mévio, que não poderia se passar por Tício. Assim, o único cuidado seria um programa de
computador, ou aplicativo, compatível entre os dispositivos do cartório e do testador,
independentemente de onde este testador se encontre.
Sim, com estes requisitos essenciais superados, as disposições de última vontade
podem ser transcritas em testamento válido e aceito para a regulação da partilha da herança
conforme a vontade do testador, seja pela distribuição total dos bens (quando da inexistência
de herdeiros necessários) seja pela distribuição da parte disponível (respeitando o mínimo
legal da parte legítima, reservada aos herdeiros necessários) dando o correto direcionamento
dos bens, pelo ponto de vista soberano e solitário do então proprietário, muitas vezes
facilitando a distribuição, evitando discussões familiares e suposições do tipo “ele sempre me
disse que desejava que isso me pertencesse após a sua morte”.
Ainda é importante lembrar que testamentos públicos ficam registrados em uma
central nacional, e em conformidade com o provimento nº 56 de 2016 do CNJ: “deverão
acessar o Registro Central de Testamentos On-Line (RCTO), módulo de informação do
CENSEC – Central Notarial de Serviços Compartilhados, para buscar a existência de
testamentos públicos e instrumentos de aprovação de testamentos cerrados.
DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de jan. de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 08 jul. 2022.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de mar. de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 08
jul. 2022.
BRASIL. Lei nº 14.063, de 23 de set. de 2020. Dispõe sobre o uso de assinaturas eletrônicas.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l14063.htm>.
Acesso em 07 jul. 2022