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Professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
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Mestranda pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
adolescente e que contém agressões físicas e insultos cometidos por seu
namorado.
A leitura do texto produziu estados afetivos que desempenharam uma
função central na interpretação que os sujeitos deram à situação apresentada.
Para exemplificar, faremos referência a dois grupos de sujeitos cujas respostas se
destacaram.
No primeiro grupo os sujeitos propuseram o rompimento da relação e, como
justificativa, identificaram e recriminaram explicitamente a violência cometida pelo
namorado. Além disso, apresentaram a imagem de um homem que desejava
dominar sua mulher; e a imagem de uma mulher que não estava disposta a
subordinar-se ao seu parceiro. Trata-se, pois, de uma lógica na qual os sujeitos
reconhecem e recriminam estruturas afetivas de domínio e submissão.
No segundo grupo os sujeitos propuseram alternativas conciliatórias para a
resolução do mesmo conflito, o que lhes levou a negar, total ou parcialmente,
alguns dados da situação analisada como, por exemplo, as agressões sofridas
pela mulher. O fato de não reconhecerem a violência lhes permitiu “olhar” para a
figura masculina como uma pessoa triste, frágil, insegura e que, acima de tudo,
necessitava de cuidados e ajuda. Dentro dessa lógica, que de certa forma justifica
e/ou explica o comportamento masculino, trouxeram uma idéia que consistiu
basicamente em colocar a mulher num lugar de condescendência, benevolência
e/ou generosidade.
Eis os princípios que, mal entendidos, podem conduzir-nos ao que se
chama de ética do cuidado e a um modelo de amor unilateral, no qual a mulher
deve amar e cuidar. Dito de outra forma, uma certa cumplicidade entre quem
exerce e quem se submete ao poder. Cumplicidade que, num sistema patriarcal e
machista, legitima hierarquias e estabelece padrões que, além de provocarem a
exclusão e a invisibilidade das mulheres, naturalizam a desigualdade de gênero.
As origens dessas representações parecem estar nas interações entre as
histórias pessoais e uma ordem social que utiliza as diferenças de sexo para
estabelecer o domínio de umas pessoas sobre as outras. Ocorre que muitas vezes
não somos conscientes dessa estrutura social - de dominação-submissão -, que
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permeiam não só a violência de gênero como também o fenômeno da violência
escolar, que tanto nos aflige.
Assim sendo, defendemos que um programa educacional de ética e
cidadania deve abordar questões de gênero, de forma a evidenciar os “pactos”
velados contidos nos conflitos interpessoais. Deve, ainda, promover o diálogo no
cotidiano escolar, pois, através dele, criar-se-ão “novos e diferentes olhares” para
aquelas práticas que foram, coletivamente, naturalizadas. A escola é, por
excelência, o espaço privilegiado para fazê-lo. O diálogo e a problematização dos
aspectos sociais, culturais e psicológicos presentes nos conflitos de gênero podem
promover ações que previnem, identificam e atuam contra as exclusões, os
preconceitos e as discriminações advindas das diferenças de sexo. E isso nos
conduz a propostas de trabalho com a resolução de conflitos de gênero no
contexto escolar.
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processo, interativo e dinâmico, pressupõe a coordenação de diferentes aspectos
e pontos de vista.
Nesse sentido, a resolução satisfatória de um conflito exige que
descentremos do próprio ponto de vista para contemplarmos, simultaneamente,
outros pontos de vista diferentes e, muitas vezes, opostos aos nossos. Exige-nos,
ainda, a elaboração de fusões criativas entre os diferentes pontos de vista. Tal
processo implica, necessariamente, operações de reciprocidade e síntese entre as
diferenças. Para tanto, faz-se necessário analisar a situação enfrentada, expor
adequadamente o problema e buscar soluções que permitam resolvê-lo de
maneira satisfatória para os envolvidos. Tudo isso requer um processo de
aprendizagem que pressupõe romper com o paradigma ganhar-perder, cuja lógica
binária limita a construção de ações coordenadas que considerem as diferenças.
Promovendo o diálogo e a participação coletiva em decisões e acordos, a
resolução de conflitos torna-se um instrumento para repensar a própria cultura, a
transformação dos discursos institucionais e culturais. Uma oportunidade, pois, de
crescimento e desenvolvimento. (Schinitman & Littlejohn, 1999‡).
Assim, o processo de aprendizagem da resolução de conflitos requer
práticas sistemáticas de análise de suas causas, conseqüências, estados afetivos,
mudanças de perspectivas e elaboração de encaminhamentos para a situação
enfrentada. Essas práticas devem, a nosso ver, ser introduzidas desde o início da
escolaridade, cuja finalidade, para além de aprender a resolver conflitos, é
desenvolver a inteligência social e emocional. É preciso aprender a pensar nas
pessoas. E a escola deve ensinar os estudantes a fazê-lo.
Apesar do pequeno espaço que um texto dessa natureza nos oferece,
gostaríamos de concluir sinalizando alguns aspectos importantes que os docentes
devem levar em conta nas atividades de resolução de conflitos. Todos eles
consideram os estudantes como construtores da realidade e tomam, como ponto
de partida, o seu protagonismo.
‡
Schnitman, D. F. & Littlejohn, S. (org). Novos paradigmas em mediação. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1999.
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Através do trabalho sistematizado com conflitos sobre temáticas de gênero
acreditamos promover uma educação que favoreça a análise dos aspectos
sociais, culturais e psicológicos da feminilidade e da masculinidade, os
estereótipos de sexualidade e as relações de poder entre os gêneros, propiciando
condições para que o(a)s aluno(a)s desenvolvam sua capacidade dialógica e
autônoma de tomada de decisão na resolução de conflitos, consoante com a
noção contemporânea de direitos humanos.
Trata-se de favorecer que os estudantes§:
§
Sastre, G. & Moreno, M. Resolução de conflitos e aprendizagem emorional: gênero e
transversalidade. São Paulo: Moderna, 2002.
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significados a uma ordem social que, de alguma maneira, naturaliza as
desigualdades de gênero historicamente construídas e legitima uma visão de
mundo subordinada aos interesses masculinos.
O trabalho a ser desenvolvido nas escolas, com o intuito de superar o
sexismo e favorecer a construção de relações entre homens e mulheres pautadas
em valores éticos, democráticos e de cidadania pressupõe, entre outras coisas,
que o(a)s professore(a)s tomem consciência da necessidade de se romper com
uma cadeia de transmissão social de atitudes patriarcais e, acima, de tudo, tomem
consciência da força que têm para fazê-lo e para promover mudanças. Elas são
necessárias e urgentes.
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