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APRENDIZAGENS NAS MARGENS DO ANTROPOCENO: A ECOLOGIA POLÍTICA DO

COLAPSO AMBIENTAL E O CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Philippe Pomier Layrargues

Introdução: a ecopolítica colapsista e o poder de previsão e prevenção da ecocatástrofe

A Colapsologia é um novo campo da ciência interdisciplinar que se constituiu


recentemente, com a constatação definitiva e inequívoca, de que o estado de emergência
climática que se instalou na modernidade tardia, representa o limiar inicial do Colapso
Ambiental, o indesejado e ameaçador acontecimento que evoca a tragédia do “fim do mundo”.

Natural, portanto que a possibilidade de uma ruptura de tal magnitude não passe
desapercebida ao escrutínio investigativo da razão científica, e receba olhares analíticos de
diversos campos disciplinares em busca da compreensão desse estarrecedor fenômeno; pois
mesmo com a capacidade de prever acontecimentos futuros prováveis como a própria crise
ambiental, a razão científica não conseguiu prevenir a ecocatástrofe, impedindo-a de se
manifestar no tempo presente.

Os primeiros sintomas surgiram logo no início do século XXI, tomando como duas
referências temporais emblemáticas, o furacão Katrina em 2005 e o relatório de 2007 do Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima (devido à sua enorme repercussão ao qualificar
como ‘muito provável’ que o ‘aquecimento global’ fosse uma realidade com 90% de confiança,
e por essa razão recebe o prêmio Nobel da Paz tornando-se literalmente a ‘verdade
inconveniente’ da mudança do clima). E a partir de meados da segunda década deste século, tais
sintomas se intensificam tornando-se mais recorrentes, quando inclusive Servigne (2015) publica
a obra de referência nos estudos da Colapsologia e as Nações Unidas lançam os famosos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, com uma agenda planejada para ser alcançada em
2030, e somente três anos depois, a ativista climática Greta Thunberg inicia o movimento da
greve juvenil pelo clima.

Fato é que a capacidade de prevenção para evitar o fim do mundo não acompanhou a
capacidade de previsão do fim do mundo, e este descompasso, no limite, passa pela relação
entre o saber científico e os poderes político e econômico implicados no drama socioambiental
da emergência climática.

Sabe-se que o planeta Terra está enfrentando uma severa e abrupta instabilidade
climática, e que os limiares de sustentação da Vida na ecosfera estão sendo perigosamente
afetados a ponto de serem arruinados com uma devastadora erosão da biodiversidade
planetária da envergadura de um sexto processo de extinção em massa de espécies vivas, de
acordo com projeções científicas de cenários futuros perturbadores. Estima-se que os impactos
da crise climática poderão ser dramáticos para o ser humano, e ainda mais catastróficos para
aqueles humanos que transitam pelo circuito inferior da sociedade e habitam a periferia do
sistema, que se encontram em condições de maior vulnerabilidade socioambiental aos riscos das
catástrofes climáticas e dos desastres naturais devidos ao ‘novo normal’ do clima. Acredita-se
que esse fenômeno seja decorrente de causas humanas, e suspeita-se fortemente que seja
advindo diretamente do novo ciclo de acumulação do capital que se estabeleceu a partir dos
Anos Dourados do Capitalismo, que se constitui no momento histórico da “Grande Aceleração”
(Gorg et al, 2020) rumo ao Antropoceno, precisamente a partir dos 1950, quando se funda a
Sociedade de Consumo (Layrargues, 2022); apesar das influentes correntes de pensamento que
seguem difundindo ‘meias verdades’, seja pela transmissão da narrativa genérica do impacto
‘antrópico’ do conjunto da humanidade como um todo indistinto, seja, acusando o
‘industrialismo’ de forma abstrata, em função da queima de combustíveis fósseis para a
produção de energia, como a causa primeira da crise climática.

Mas o fato é que não se sabe rigorosamente nada sobre o sombrio porvir humano
advindo da ecocatástrofe, inscrita na incerteza deste fenômeno tão complexo e inédito. É neste
vazio de representação, quando a evidência factual é questionável e quando a ciência formal se
depara com a possibilidade de fornecer somente projeções possíveis baseadas em modelos
computacionais estatísticos, que o Antropoceno se constitui como um poderoso símbolo que
nos lança rumo a um futuro até então inimaginável, que principia a povoar o imaginário social
com diversos cenários, dos mais brandos aos mais dramáticos, de como conceber esse inusitado
fim do mundo; que pode estar acontecendo neste exato momento, ou que pode ainda vir a
acontecer num futuro próximo, a depender do domínio da narrativa ideológica.

É neste enquadramento conjuntural do recente advento da crise da instabilidade


climática que atravessa o acidentado percurso da modernidade e sua relação de domínio sobre
a natureza, que o objetivo desta reflexão é efetuar uma Ecologia Política da Colapsologia que,
pensada pela Análise Crítica de Discurso foucaultiana, contribua com o desvelamento das
relações de poder na arena da Sociedade Disciplinar, em disputa pela hegemonia ecopolítica do
saber-poder colapsista. O aparecimento da emergência climática constitui-se como um drama
socioambiental inédito, que inaugura um novo campo social em disputa, a ser preenchido por
novos sentidos e novas interpretações que se enfrentam na legitimidade discursiva para
caracterizar o que se sabe sobre o acontecimento, e por conseguinte, como reagir a ele.

O objetivo aqui é entender como se processam as relações de poder que determinam as


vontades de verdade que preenchem os sentidos definidores do Colapso Ambiental e
influenciam o imaginário social sobre a ideia do fim do mundo, que atualiza e redefine
continuamente a dinâmica ideológica do controle da narrativa na opinião e no debate público,
agora sobre as feições do fim do mundo como o concebemos. A condição de hegemonia se
estabelece quando a posição mais legitimada e ‘poderosa’ consegue anular o contraditório,
apagar o Outro, ocultar as contradições, estabelecer o padrão normal para a sua sociabilidade,
impondo uma leitura de mundo que se tornou praticamente unânime e inquestionável,
tornando-se um paradigma social consensual, sem tensionamentos visíveis, onde a contra-
hegemonia é constantemente sufocada e não encontra espaço na relação desigual de poder. Seu
poder se torna hegemônico quando sua vontade de verdade ganha autonomia, replicando-se
automaticamente pelo tecido social ao longo do tempo histórico.

No centro do embate ideológico, a formação do imaginário desse futuro desconhecido:


é a concepção do fim do mundo que está sendo disputada. No movimento de ataque contra os
aparelhos ideológicos e repressores de Estado próprios da Sociedade Disciplinar, portador de
um saber desafiador que julga a ordem social e econômica atual como injusta e ecocida, a contra-
hegemonia do novo sujeito ecológico, amparado pela ética da Desobediência Civil, invoca uma
mudança radical e urgente no condenado sistema capitalista, antes que seja tarde demais. Na
posição da defesa, para preservar a qualquer custo a ordem social e econômica inalterada, o
esforço hegemônico de manter vivo o domínio da narrativa na audiência do debate climático,
acompanhada da neutralização do poder revolucionário do Ambientalismo Radical,
desqualificando a narrativa da ecocatástrofe, demonizando os ativistas climáticos e punindo os
transgressores da ordem pública, advoga por uma transição ecológica gradual e ‘responsável’,
porque a crise seria grave sim, mas não urgente o suficiente a ponto de precisar derrubar a
ordem social e econômica capitalista e mudar o sistema. Pela tangente, um terceiro perfil
desponta perigosamente com seus saberes e poderes próprios, também buscando espaço na
constituição desse imaginário, o populismo da extrema-direita negacionista, que afirma que
tudo a respeito do Colapso Ambiental não passaria de uma teoria conspiratória globalista
comunista para sabotar o capitalismo. Chama atenção a declaração assinada por pouco mais de
1.600 cientistas de todo o mundo, lançada em 2024 pela organização Climate Intelligence, na
contramão do estado da arte da ciência climática formal, que afirmou explicitamente que não
haveria uma emergência climática em curso e que portanto, não haveria motivos para se alarmar
e entrar em pânico. Argumentam simplesmente que os eventos climáticos extremos não se
tornaram mais agudos nem mais recorrentes, estariam na verdade dentro da média; que os
eventos extremos não aumentaram os desastres naturais; e que não devemos confiar na
predição de modelos matemáticos operados em simulações de computadores, porque eles são
influenciados pelos programadores e no limite, frequentemente apresentam erros nos
resultados.

Enfim, cada um desses três perfis dentro do campo social colapsista, rivalizando o
domínio da narrativa, desempenham papéis sociais radicalmente distintos, organizados por
sujeitos sociais igualmente distintos, com valores e interesses antagônicos, e poderes
absurdamente desiguais, atualizando o processo do conflito ideológico em busca do controle da
narrativa em torno do novo debate ambiental contemporâneo, que se cruza nada menos com o
projeto civilizatório contemporâneo.

Nesse contexto, a proposta deste ensaio é de abordar o tema da Emergência Climática e


do Colapso Ambiental por uma perspectiva fora do convencional, não a da ciência climática e
seus dados estatísticos metodologicamente validados que atestam as evidências cientificamente
certificadas, afirmando que a era da instabilidade climática já se iniciou, e que estamos na
iminência de um Colapso Ambiental acontecer em escala global e planetária, com um porvir que
pode ser inimaginavelmente catastrófico.

Não é nosso propósito enfatizar o fato que o tempo presente testemunha seguidas
quebras de recordes de temperaturas mais altas da história, também não é nosso propósito
sublinhar que as tragédias climáticas já estão em curso, interrompendo o cotidiano das pessoas,
especialmente das mais vulneráveis, em todas as partes do planeta. Assumimos como
pressuposto científico e como premissa ética, que a ciência climática formal já endossou e
comprovou a veracidade da crise climática antropogênica; a perspectiva analítica que queremos
adotar nesta reflexão sobre a Colapsologia é a da Ecologia Política, onde não vemos gráficos ou
tabelas contendo dados quantitativos dos indicadores geoecológicos e suas projeções em
cenários futuros perturbadores, esperando-se que a difusão de tais vontades de verdade
cientificamente válidas bastem por si só, como discurso competente, e sejam levadas a sério no
que diz respeito não mais à previsão, mas à prevenção da crise ambiental, acionando-se o regime
de urgência equivalente ao enfrentamento do estado de emergência climática. Por essa
perspectiva, adentramos no argumento central desta reflexão, colocando em cena as relações
de poder que estão em conflito ideológico na Ecologia Política Colapsista contemporânea e seus
respectivos interesses, saberes e poderes. Com isso, explica-se a contradição entre a capacidade
científica de previsão e a incapacidade política de prevenção, exatamente em função da
existência de interesses conflituosos atravessados nesta relação de poder desigual, no que diz
respeito à compreensão e difusão dos sentidos explicativos da crise ambiental.
O argumento, sinteticamente explicitado, se resume a afirmar que para além dos fatos
em si, que a ciência climática comprova já existir no tempo presente um estado de emergência
climática, há também uma construção sócio-histórica de concepções e ideias sobre o que
venham a ser as tais mudanças climáticas, suas causas e suas consequências (que para uns não
passaria de um ‘aquecimento global’ enquanto que para outros, seria uma ‘fervura ou ebulição
global’; que para uns seria sinônimo de novas oportunidades, e para outros, teríamos chegando
ao final dos tempos, com o dia do Juízo Final), em disputa pela colonização do imaginário coletivo
e domínio da narrativa. Há portanto, um enunciado validado pela razão científica e reconhecido
pelo saber dos povos tradicionais que sentem na pele o drama da instabilidade climática; mas
há também, e de forma concorrente na busca por legitimidade discursiva, enunciados com
interpretações ideologicamente construídas com algum grau de manipulação discursiva,
posições que apresentam ‘meias verdades’, que disputam politicamente a posição de hegemonia
no debate e na opinião pública sobre o Colapso Ambiental, conquistando o imaginário social
domesticado a conceber a crise climática sob contornos muito específicos, que podem coincidir
ou não com o enunciado central da ciência climática, que alerta para a extrema gravidade e
urgência da crise climática.

Nesse aspecto, o enunciado da ciência climática coincide em parte com os interesses do


Ambientalismo Radical, no sentido de evocar o estado de alerta e disseminar a percepção da
emergência da crise climática, para estabelecer um ultimato convocando o senso de urgência na
solução da crise, o quanto antes. Por outro lado, esse mesmo enunciado da ciência climática,
por omitir do seu enquadramento conceitual as relações de poder na arena colapsista, coincide
em parte com os interesses do Ambientalismo de Mercado, de não insuflar a rebelião das vítimas
da injustiça socioambiental e geracional a se voltarem contra seus algozes que arruinaram o
planeta e aniquilaram o futuro.

Dessa forma, o enunciado da ciência climática pode ser ideologicamente capturado e


discursivamente manipulado, servindo a múltiplos propósitos: o enunciado da ciência climática
que concorda com a gravidade da situação mas deixa de colocar em evidência as causas reais da
crise climática permite que seu discurso alimente a fábrica das ‘falsas soluções’, infantis ou
ingênuas, direcionando o poder de reação para soluções inócuas ou cosméticas e que não vão à
raiz do problema.

E que não por acaso, muitas vezes resultam ainda na estonteante sensação de apatia e
imobilismo de pessoas alarmadas mas impotentes, sofrendo com a biopolítica da angústia
climática, notadamente quando se encontram com seu imaginário colonizado pelo
determinismo teleológico do fim apocalíptico que cedo ou tarde, de uma forma ou de outra,
inexoravelmente se abaterá sobre a humanidade, pondo um ‘fim do mundo’ como
religiosamente se conhece, onde só resta ao sujeito aceitar passivamente e se conformar com o
dia do Juízo Final como representação inequívoca do Colapso Ambiental.

É esta ‘meia verdade’, a apresentação de um quadro parcial e reducionista dos contornos


do fim do mundo, que sinaliza para um falseamento da realidade, que desfaz a correlação do
Ambientalismo Radical entre o grito de alarme e a convocação para o ultimato à ação. É,
portanto, a leitura e incorporação desse saber fragmentado, que promove a angústia paralisante,
o que é extremamente revelador da correlação do saber-poder ecopolítico colapsista, uma vez
que é desta relação que se suprime a potência de ação revolucionária do indivíduo, que o
impulsionaria para uma política da sobrevivência nos escombros do Antropoceno.
É neste sentido que um dos mais admiráveis teóricos da Ecologia Política, Carlos Walter
Porto-Gonçalves (1989a) destacou que o campo ambiental se constituiu historicamente como
uma estrutura da Modernidade Tardia com o propósito de um agir preventivo contra uma
catástrofe ambiental, lançando um ultimato à ação, e não um pânico insensato e imobilizante:
“Do movimento ecológico parte um brado que precisa adquirir um contorno
político-cultural profundo: nossa sociedade está destruindo as fontes vitais à
sua própria sobrevivência. E esse brado traz em si uma das características mais
especificamente humanas: a consciência da morte. (...) Nós, ecologistas,
chamamos a atenção para a possibilidade de reversão dessa tendência eco-
suicida enquanto ainda há tempo (...) Eis a razão maior do movimento pela vida
que, como não podia deixar de ser, é um impulso radical, no sentido mais
profundo do termo, ou seja, que busca ir à raiz das coisas para dela fazer
emergir um pensar, um agir e um sentir mais lúcido”. (p.99). (grifo nosso)

Reconhecemos, portanto, que não basta uma alfabetização científica em torno da


difusão da ciência climática – sobretudo com crianças nas escolas – para que se logre um
aumento na consciência pública sobre o que pode ser feito para enfrentar a crise climática,
especialmente regidos pela sociabilidade da Sociedade Disciplinar, condicionando a formação
contínua de sujeitos dóceis e úteis. A relação causal entre este saber colapsista e o poder das
soluções da crise climática é muito mais complexa, por envolver relações de poder em disputa,
que questionam, distorcem, minimizam e inclusive negam os fatos da ciência climática. São
muitas e diversas vozes que procuram sobressair na polifonia colapsista e dominar a narrativa,
fazendo prevalecer seus interesses justificadores de seus poderes.

No centro do conflito da Ecologia Política Colapsista, emerge a disputa ideológica pela


constituição do imaginário coletivo do “fim do mundo”, quer seja, a construção imaginária da
percepção hegemônica dos significados atribuídos socialmente à ecocatástrofe. Trata-se
simplesmente de conquistar o controle sobre a opinião e o debate público acerca da questão
climática, com vistas à legitimação do seu programa particular para se evadir ou se desvencilhar
da crise climática. Isso porque o “saber colapsista”, ou seja, o conhecimento e a percepção do
que venha a ser a emergência climática e o próprio Colapso Ambiental, implica pari passo no
poder simbólico de interação com esta realidade socialmente constituída. Distintas ‘soluções’
para a crise climática dependem de diferentes caracterizações do panorama concebido. A
depender da compreensão socialmente construída do grau de criticidade da Emergência
Climática e do Colapso Ambiental, e de suas características, causas e consequências, diferentes
formas de reação e propostas de soluções podem ser invocadas e implementadas: algumas de
caráter técnico e reformista, que não se propõem afetar a ordem instituída; outras, de caráter
político e revolucionário, que visam transformar a ordem estabelecida e mudar o sistema.

Desvela-se assim, a conflituosidade intrínseca do campo do saber-poder colapsista em


disputa nas suas relações desiguais de poder, quer seja, quais são os interesses em jogo nesta
equação política colapsista, uma vez que as ações requeridas para mitigar a ecocatástrofe devam
estar em sintonia com o imaginário que prevalecerá sobre este acontecimento inédito, a
constituição do Colapso Ambiental: um quadro lógico que retrate o Colapso Ambiental como um
acontecimento catastrófico requer uma reação proporcional, a medida do estado de emergência
climática demanda um regime de urgência e uma mudança radical de direção; ao passo que um
quadro que retrate o Colapso Ambiental como um acontecimento grave mas não catastrófico,
demanda mudanças menos comprometedoras da manutenção da ordem social. Estamos falando
aqui, nada menos do que da evolução da clivagem da Guerra Fria, a rivalidade ideológica entre
capitalismo e socialismo, agora reatualizada pela perspectiva do debate ambiental no capítulo
do ‘final dos tempos’.

Na mesma medida, retratar o Colapso Ambiental como fruto do industrialismo que se


constituiu há mais de duzentos anos atrás, recai em soluções pragmáticas da ordem da razão
técnica que se converteu em força produtiva e acumulação do capital, a exemplo do importante
mas não decisivo mercado de carbono e de energias renováveis; ao passo que retratar o Colapso
Ambiental como resultado direto de um modelo de Desenvolvimento que colocou a Sociedade
de Consumo nos anos 1950 no patamar da condição ideal da modernidade, recai em soluções
negociadas na política, em busca de outro modelo de Desenvolvimento que não seja mais
orientado pelo Capital e calcado pelas relações de consumo perdulário de mercadorias feitas
para quebrar precocemente. Aqui o poder de ação recai no combate político à lógica do
desperdício, à prática da Obsolescência Planejada e à propaganda abusiva alusiva ao
consumismo, por exemplo, para desacelerar o ritmo da produção em massa de mercadorias, no
limite desnecessárias, porque não são bens duradouros, são apenas um meio de processar a
acumulação do capital.

Para estabelecer conceitual e metodologicamente essa Ecologia Política Colapsista,


dialogamos fundamentalmente com os pressupostos teóricos de Michel Foucault (1987, 1988,
1999, 2008, 2012) e de Norman Fairclough (2001, 2010, 2012), com suas propostas de Análise
Crítica de Discurso sempre focadas na investigação das relações de poder que envolvem
ideologias políticas em conflito, amalgamando dialeticamente o discurso com a prática social. É
o sujeito em sua completude, enquanto sujeito de discurso ideológico em interação com o
imaginário social, e enquanto sujeito atuante politicamente na esfera pública democrática.

No escopo deste novo tempo histórico caracterizado pela emergência climática e


Colapso Ambiental, para além dos registros geoclimáticos, emerge também uma nova ordem do
discurso e uma nova prática social correspondente que dá o testemunho do novo tempo
histórico que se abre com o fim do mundo (Layrargues, Sato, 2024, no prelo): constitui-se um
novo perfil do Sujeito Ecológico no ambientalismo contemporâneo demarcado pela convicção
de já ter adentrado o Antropoceno, significando com isso, que ultrapassou-se uma perigosa linha
vermelha que separa a humanidade da margem de segurança ecossistêmica planetária, que
demanda por um agir imediato e radical. O advento deste acontecimento histórico da
ecocatástrofe, que inaugura um novo campo social, põe um ator social em evidência,
naturalmente coberto de legitimidade para desafiar a ordem social instituída: o Ambientalista
Radical. A razão colapsista lhe pertence, e nessa condição de estar com os holofotes a si
direcionados, pode obter o domínio da narrativa, se sua participação na relação de poder com
os outros grupos de interesse for exitosa. Mas para isso, ele terá que não só ganhar legitimidade
discursiva pela exitosa capacidade de previsão do fim do mundo, como alcançar também o poder
de prevenir a ecocatástrofe, para mudar o sistema.

E isso vai contra todos os interesses dos grupos sociais que representam os interesses
do capital. Não é possível imaginar que a bilionária indústria do petróleo se conforme
passivamente em pôr um fim imediato na exploração dos combustíveis fósseis, para de fato
haver uma transição ecológica para energias limpas, em nome do futuro saudável do planeta.
Parte da reação desse setor social na arena colapsista evidentemente entra na disputa
ecopolítica do saber-poder investida pela leitura de outras vontades de verdade, distintas
daquelas do Ambientalismo Radical.
Por este caminho, podemos inventariar o novo vocabulário ambientalista colapsista que
acompanha o advento deste acontecimento – considerando também suas contradições, em
função da conflituosidade na vontade de verdade do saber-poder colapsista, a exemplo da
disputa narrativa em torno das opções “Antropoceno” ou “Capitaloceno” entre tantas outras,
que conduzem a compreensões causais bem diferentes uma das outras (Moore, 2022) –,
demarcando uma nova ordem de discurso erigida no campo colapsista; bem como, podemos
também identificar quem são e quais são as práticas dos sujeitos sociais enunciadores da
profecia apocalíptica da ecocatástrofe ‘por excelência’, que se expressam politicamente por meio
do Ambientalismo Radical, portadores do slogan anticapitalista “Mude o Sistema, não o Clima”,
manifestando-se por meio de protestos políticos que afrontam a ordem social e econômica
capitalista, sistemática e enfaticamente reprimidos exemplarmente pelos mecanismos de
controle repressivo da Sociedade Disciplinar, controlada pelo pensamento ambiental colapsista
hegemônico, aquele que adota uma postura moderada minimizando a dramaticidade e urgência
do Colapso Ambiental, porque não deseja que ocorram mudanças profundas na ordem social e
econômica capitalista prevalente. É neste momento de emergência do antagonismo social, que
nasce uma ecopolítica colapsista, desafiando e desestabilizando o domínio da narrativa
justificadora da manutenção da ordem instituída. Se a arena de disputa do campo social
colapsista legitima o grupo de interesse do Ambientalismo Radical, ela desponta ocupada já pelo
grupo de interesse do Ambientalismo de Mercado.

É, finalmente, com esses contornos a partir desta conjuntura que aponta para profundas
e indissociáveis conflituosidades ideológicas no campo ambiental colapsista, que analisamos a
agenda e o currículo da Educação Ambiental em tempos de Emergência Climática e Colapso
Ambiental, também entranhada pela disputa ecopolítica colapsista: o próprio currículo da
Educação Ambiental contextualizado pela Emergência Climática está em disputa, embora
imperceptível e silenciosamente, porque as relações de poder não são transparentes, são
ocultadas e invisibilizadas pelos mecanismos de controle da Sociedade Disciplinar, que estão
presentes inclusive no campo da Educação Ambiental disputando o controle da narrativa.

E aqui, passamos a contar com o apoio teórico de Althusser (1970, 1999) e Bourdieu
(1975) no que diz respeito ao caráter reprodutivista da educação a partir dos aparelhos
ideológicos de Estado; e com a contribuição de Apple (2008), quanto ao currículo oculto da
educação, com regras não escritas e expectativas não explicitadas, que faz fluir sutilmente
saberes que não constam oficialmente nos projetos político-pedagógicos nem nos objetivos de
aprendizagem do ato pedagógico, mas possuem a notável capacidade de influenciar e moldar o
imaginário social com a circulação de mensagens ideológicas midiáticas e escolares, geradoras
de uma ‘falsa consciência’ ou realidade paralela, porque seus sentidos operam com os
significados implícitos ou presumidos da fala enunciada, e não com os seus significados explícitos.
Falamos de uma falsa consciência por ter seus sentidos inoculados inadvertidamente, não são
construções imaginárias autênticas, são balizamentos importados externamente. Na perspectiva
do saber-poder, esta aprendizagem contribui desapercebidamente com a formatação de
comportamentos e valores culturais padronizados e alinhados com a expectativa daqueles que
formularam o currículo, quando os interesses da ordem social são transmitidos pelos aparelhos
ideológicos de Estado que se constituem o currículo oculto, sob domínio da Sociedade Disciplinar
que reproduz toda ordem do saber-poder.

Por exemplo, quando Rostow (1978) afirmou que a Sociedade de Consumo representaria
o último patamar do trajeto civilizatório do desenvolvimentismo a ser conquistado, isso significa,
implicitamente, a naturalização do capitalismo, de onde se presume que esta seria a ordem
social desejada por todos. Os significados implícitos que conectam as correlações entre a ideia
de Desenvolvimento com o modelo de produção capitalista fluem pela sombra do currículo
oficial, canalizados pelo currículo oculto, e sua eficácia depende de encontrar sujeitos
predispostos com valores e sentimentos, essas igualmente forjados midiaticamente, que
combinam perfeitamente com a mensagem ideológica formada para manter a estrutura e a
ordem social intacta. Este é o motor da engrenagem da relação saber-poder foucaultiano, a
forma que se dá a modelagem de sujeitos dóceis e úteis na Sociedade Disciplinar.

Não está escrito em nenhum plano de ensino, em nenhum programa ou currículo de


Educação Ambiental que se pretende formar, como intencionalidade pedagógica, sujeitos dóceis
e úteis, obedientes a uma Pedagogia de Deveres, anestesiados pela ideia da responsabilização
individual; mas é exatamente esse perfil de sujeito – domesticado – que o currículo oculto se
presta a influenciar na formação do sujeito ecológico que passa pela Educação Ambiental
conservadora e reprodutivista, quando o significado presumido, do ato político-pedagógico da
reciclagem ou da economia de água, por exemplo, são incentivados na Educação Ambiental que
não é Crítica. Quando se ensina a cada um fazer a sua parte, porque se espera que todos
individualmente a façam civilizadamente, se aprende obediência estrita a um dever, a uma
ordem, a um contrato social.

Inevitavelmente, o currículo da Educação Ambiental desempenha um papel estratégico


nesta relação de poder simbólico, ao atribuir sentidos à ecocatástrofe que podem ou não ser
conservadores e reprodutivistas, dependendo das intencionalidades político-pedagógicas e dos
objetivos de aprendizagem que venham a preencher o currículo e a prática docente em torno
das questões climáticas e colapsistas. Dessa forma, o campo da Educação Ambiental, que
definitivamente não é ideologicamente neutro, repercute para sua audiência saberes com
potência de ação que podem, ou não, mudar o sistema, a depender da obediência ou da
desobediência à ordem na Sociedade Disciplinar. O currículo da Educação Ambiental Climática
pode produzir sujeitos dóceis e úteis, indiferentes à manutenção da ordem social e econômica,
como também pode produzir sujeitos rebeldes e indignados com a injusta e ecocida ordem social
e econômica vigente. Este currículo pode tanto enfraquecer como fortalecer a ordem social e
econômica capitalista, dependendo dos saberes que transitarão pela audiência do ato educativo,
formal ou informal, para lembrar do importante papel que a mídia desempenha nesta relação
ecopolítica do saber-poder colapsista com a cobertura jornalística dos extremos e das tragédias
climáticas e com o papel da indústria cultural da sociabilidade capitalista.

No limite, pela sua natureza, a Educação Ambiental acaba sendo um fator imperativo na
disputa pela legitimação e domínio da narrativa, em busca de hegemonia no poder de
convencimento coletivo sobre como a sociedade deve conceber o fim do mundo, dada a sua
enorme influência para uma ampla audiência; e por conseguinte, como deve agir sobre esse
acontecimento tomando as rédeas da mudança do sistema; ou sobre como deve se comportar
enquanto assiste o fim do mundo acontecer diante dos seus olhos marejados de uma angústia
paralisante. A Educação Ambiental é um poderoso instrumento de difusão ideológica
legitimadora das soluções seja dentro ou fora da ordem, sejam reformistas ou revolucionárias;
que podem ser aplicadas ante o anúncio do fim do mundo, ou sua veemente negação.

Nas mãos da Educação Ambiental, não está apenas o saber da previsão do fim do mundo,
está também, e talvez sobretudo, o poder da prevenção da ecocatástrofe, não apenas de sua
mitigação. Assim, não basta apenas pleitear por novos espaços destinados a uma educação
climática ou a uma educação em riscos de desastres naturais, acreditando-se que isso por si só
já seja suficiente para garantir as ‘reais’ mudanças que precisam acontecer para proteger o
futuro da ruína ecológica; porque a disputa ideológica – determinante para a legitimação do
repertório de soluções para a crise climática –, gira fundamentalmente em torno da definição do
currículo oficial e sobretudo oculto, da questão climática.

Nascimento e constituição sócio-histórica do campo do Saber-Poder Colapsista

“A humanidade está numa crise tão séria como a das duas guerras mundiais; e
a perspectiva é desconcertante. A humanidade pode continuar a sobreviver
talvez por mais uns dois bilhões de anos, se a ação humana não tornar a biosfera
inabitável em alguma data anterior; mas o Homem agora possui o poder de
tornar a biosfera inabitável num futuro próximo, e é, portanto, possível que as
pessoas que estão vivas hoje possam ter suas vidas ceifadas por uma catástrofe
provocada pelo Homem que arruíne a biosfera e destrua a humanidade,
juntamente com todas as demais formas de vida. (...) Nessas circunstâncias
desconcertantes, somente uma previsão pode ser feita com certeza. O Homem,
o filho da Mãe-Terra, não seria capaz de sobreviver ao crime de matricídio, se
um dia o cometesse. A punição para isso seria a autodestruição. A humanidade
assassinará a Mãe-Terra ou a redimirá?” (Toynbee, 1978)

Tomemos esta frase do historiador Arnold Toynbee para caracterizar a emergência e os


sentidos característicos originais da ecocatástrofe, ou do Colapso Ambiental. Trata-se de um
saber – desconcertante – que constata o poder devastador nas mãos da sociedade moderna,
capaz de arruinar definitivamente com as condições de Vida na Terra num futuro próximo,
ameaçando inclusive a sobrevivência do próprio ser humano.

É ainda na década de 1970, no contexto da Conferência de Estocolmo em 1972, que


visões distópicas começam a povoar clara e inquietantemente o imaginário do campo ambiental,
com vislumbres do fim do mundo advindo da ruína ecológica. Uma eventual crise ambiental
poderia acarretar simplesmente no fim dos tempos, acarretando na própria autodestruição
humana.

Fato é que não é possível afirmar que o advento da ecocatástrofe tenha sido uma
surpresa inesperada que se arrebatou inesperadamente na segunda década do século XXI, pois
a possibilidade de um Colapso Ambiental vindouro já estava no horizonte do ambientalismo a
praticamente cinquenta anos antes de sua consumação. A questão da previsão do Colapso
Ambiental àquela altura não era se ele poderia acontecer, e sim quando aconteceria, se a rota
da ecocatástrofe não fosse desviada a tempo.

O primeiro passo nesta análise é situar o contexto sócio-histórico deste acontecimento.


O contexto de onde se situa o fenômeno colapsista está inserido na Modernidade Tardia, no
âmbito da constituição da Sociedade de Risco (Beck, 2010) ante a nova era das incertezas a partir
do momento que se perde o controle dos avanços tecnológicos com seus (de)efeitos ‘colaterais’
indesejados. Aqui se caracteriza uma quebra de encantamento com a modernidade,
combinando três elementos na percepção social contemporânea: a disfuncionalidade do
progresso, a imprevisibilidade da ciência, e a desconfiança no rumo do desenvolvimento,
aspectos agora incapazes de seguir levando a humanidade à melhoria contínua do bem-estar
social, especialmente quando se põe em evidência o crescente quadro de desigualdade social
que persiste na sociedade moderna com o testemunho de uma crescente concentração de
renda, tragicamente agravado pela deterioração da qualidade ambiental. Inaugura-se uma visão
distópica do futuro da modernidade.

É desta crítica de que o atual estilo de vida, de produção e de consumo que se


estabeleceu a partir dos Anos Dourados do Capitalismo nos anos 1950, e que se consolidou a
partir da instauração do Neoliberalismo precisamente nos anos 1970, não é nem ecologicamente
viável nem socialmente justo. É daqui inclusive que emerge o Ecossocialismo e a crítica
anticapitalista, como contraponto ideológico à ordem social e econômica capitalista,
estabelecido numa nova relação de poder simbólico que passa a disputar os sentidos dos
constrangimentos ecológicos sobre a economia crescimentista. Mas é daqui que também
começa a ecoar a nostalgia de um passado que teria sido melhor que o tempo presente em que
reina a modernidade, que teria quebrado a moral conservadora, alimentando politicamente a
ultradireita populista com seu discurso de ódio carregado com seu marxismo cultural e seu
xenofobismo recheado de meritocracia, contra todo o campo dos direitos humanos e da justiça
social.

É neste contexto que, após a eloquente hecatombe nuclear com a invenção e uso da
bomba atômica, desponta a ecocatástrofe como o próximo horizonte desafiador a lidar no porvir
contemporâneo da Modernidade Tardia. O poder devastador da bomba atômica é transferido
para o poder devastador da crescente degradação ambiental em escala global. Resultado do
severo aprofundamento da crise ambiental planetária, vislumbra-se a partir de então, um futuro
sombrio, nebuloso, contendo distintas visões de um derradeiro fim de mundo, que põem em
xeque seja o destino da civilização moderna, seja o comprometimento da biosfera, o
aniquilamento das bases ecológicas de sustentação da Vida planetária, a autodestruição
humana, inclusive.

No limite, não há ciência disponível com confiabilidade capaz de prever assertivamente


como será efetivamente esse fim de mundo, dadas as circunstâncias presentes, se trágico e
implacável, ou se passará como um solavanco que apenas sacudiu as estruturas da
modernidade, sem lhes causar quaisquer danos substanciais. Mas mesmo que houvesse uma
ciência climática absolutamente convicta do agudo grau de risco de um colapso civilizatório
advindo da ecocatástrofe, ainda assim existem discursos concorrentes das “controvérsias” do
debate científico com opiniões divergentes e marginais a circular incessantemente nos canais
das redes sociais digitais, semeando discórdias e ‘fake news’ sobre a questão climática, como
parte da tática da dominação da narrativa para estabelecer uma verdade particular.

E aí reside o âmago do biopoder e seu afeto acionado pelo medo da morte: ninguém
sabe ao certo como vai ser o fim do mundo, e é na oportunidade deste opaco vazio de
representação social que a disputa ecopolítica do saber-poder colapsista se estabelece e
acontece. O conflito reside na descrição deste imaginário social, em povoar o ideário coletivo
sobre como vai ser esse tal de fim de mundo: se absoluto e irredutível matando a todos nós, se
uma transição civilizatória para uma nova era astrológica, a de Aquário; ou se apenas uma
fantasia delirante e condenável de alguns ativistas desviantes da ordem social, rebeldes sem
causa, apenas insatisfeitos com o sistema capitalista, acreditando que para salvar o planeta e o
futuro, seria necessário derrubar o capitalismo. Como vimos em Toynbee, a narrativa
catastrofista, que joga com a chantagem da autodestruição humana, caso nada for feito, incide
diretamente sobre o medo da própria morte em decorrência do colapso total da natureza, e este
dispositivo é absolutamente central na modulação do discurso colapsista: ele é extremamente
mobilizador – ou não! – das potências de ação acionadas em nome da própria sobrevivência, ou
salvação. Garré e Henning (2017), que abordam a reflexão ecopolítica pela perspectiva
foucaultiana, sinalizam que o discurso midiático catastrofista possui vínculos muito estreitos com
o atravessamento da biopolítica do medo como dispositivo de controle social, culpabilizando as
pessoas pela crise ambiental, e na mesma medida, responsabilizando-as para agir
individualmente na sua esfera doméstica, cada um fazendo a sua parte. Faz sentido pensar que
todos temos uma parcela individual de responsabilidade...

Mas é também neste cenário, que se funda o Princípio Responsabilidade e o Princípio da


Precaução, considerados como estruturas fundamentais capazes de prever e prevenir este porvir
ameaçador como resultado colateral da Sociedade de Risco na Modernidade Tardia. É neste
contexto precisamente que se inaugura a Modernidade Reflexiva, de onde enfim, emerge o
Ambientalismo enquanto um movimento histórico civilizatório, que se propunha a erigir o
sistema de proteção da Sociedade de Risco contra a destruição da natureza, inaugurando estes
princípios e todo estatuto jurídico-institucional de gestão e política ambiental, capazes de fazer
cessar a degradação ambiental, bem como prever e prevenir os riscos futuros do caminho da
modernidade.

A prospecção do futuro monitorando a possibilidade de prever uma crise ambiental


despontar no horizonte é a aplicação prática do Princípio da Precaução, para que seja possível
tomar medidas a tempo de resolver com antecedência uma emergência ambiental se
aproximando. Contudo, não esqueçamos da relação de poder entre a Sociedade de Consumo e
a Sociedade de Risco, o choque civilizatório é inevitável, pois a função moral do Ambientalismo
representava uma ameaça decisiva a esse novo estilo de vida que mal principiava com a
expansão do American Way of Life mundo afora. Heróis para a Sociedade de Risco, vilões para a
Sociedade de Consumo, os Ambientalistas que lançaram os alertas de risco de crise ambiental,
polarizando a maximização da proteção ambiental com a expansão do capital sobre a natureza,
se tornaram o centro das atenções da nova polarização ideológica que viria a se somar à disputa
da Guerra Fria, tornaram-se alvo de uma intensa batalha ideológica de todo tipo de
desqualificação moral, por serem o estraga-prazeres da farra consumista de uma sociedade
marcada pela ideia da abundância e desperdício que agora deveria ser regida pela parcimônia.
Em regime científico de incerteza, a precaução é um princípio ético fundamental a ser adotado
nas esferas políticas decisórias.

Os protagonistas desse processo histórico do Ambientalismo foram intitulados como os


Profetas do Apocalipse (McCORMICK, 1992), que a partir dos anos 1960, iniciaram a produção
de uma vasta obra literária advertindo a audiência que se a ‘humanidade’ continuasse seguindo
na mesma direção do desenvolvimentismo acéfalo e da economia crescimentista que desprezava
o cuidado com a proteção ambiental, o resultado inevitavelmente seria uma crise ambiental
global de proporções inimagináveis. Ao invés do paraíso, estaríamos indo rumo ao inferno.
Mesmo apesar de toda desqualificação moral que os Profetas do Apocalipse evidentemente
receberam da Sociedade Disciplinar, o incessante trabalho ao longo dos anos 1960, 1970 e 1980
contribuiu sobremaneira para que enfim, na Conferência do Rio, se apresentasse a fórmula para
a solução do impasse ecológico, consagrando a ideia do Desenvolvimento Sustentável como a
possibilidade de salvação do futuro. Os Profetas do Apocalipse foram a personificação simbólica
da Modernidade Reflexiva, atentando-se para evitar a ecocatástrofe e impedir o fim do mundo,
convocando a precaução como meio de prevenção da crise ambiental, o efeito colateral
indesejado do progresso da modernidade.

É assim que, no início dos anos 1990, calcado na ética e no direito das gerações futuras,
fundou-se o compromisso histórico com o equilíbrio civilizado entre os interesses da proteção
ambiental, da justiça social e da eficiência econômica. As Nações Unidas apresentaram o
Desenvolvimento Sustentável como a opção civilizatória, o curso natural da Modernidade
Reflexiva que principia a se proteger formalmente das disfuncionalidades da Sociedade de Risco
com a Modernidade Tardia. Esse lugar ideológico lhe confere a voz competente que torna o
conceito inviolável; mesmo que questionável, por conter termos antagônicos entre si, quando
analisados pela perspectiva das relações desiguais de poder. Mesmo apesar da fragilidade da
pedra fundamental de todo edifício teórico do Desenvolvimento Sustentável, confiou-se à ética
das gerações futuras a capacidade de corrigir as distorções inatas do capitalismo comandado
pelo neoliberalismo.

Assim, apostou-se que a escolha individual do consumidor seria a mola propulsora da


economia de mercado ainda baseada na produção em massa de mercadorias, mas agora
orientada por um imperativo ético, capaz de erigir uma economia circular e estabelecer uma
economia verde, a promessa para salvar o futuro com a criação do eco capitalismo: o curso
natural do Desenvolvimento Sustentável seria conduzido pelo Ambientalismo de Mercado e suas
empresas verdes, também conhecido como um ecologismo reformista que aceita o
esverdeamento superficial da economia capitalista, desde que não se altere a sua estrutura
(Prado & Prates, 2015), ou o Ambientalismo dos Ricos (Kempf, 2010; Dauvergne, 2016), aquele
que clama por uma Sustentabilidade Eco-Friendly, baseada na ideia da responsabilização
individual do cidadão-consumidor representar a engrenagem central que movimentaria uma
economia industrial capaz de compatibilizar o modo de produção em massa e o lucro, com a
proteção ambiental; explorando o caminho das tecnologias limpas e eco eficientes. A única
mudança que a ordem social e econômica sofreu para se adaptar ao novo imperativo ecológico
do Desenvolvimento Sustentável, foi o de garantir que o mercado seria capaz de ser orientado
por um imperativo ético, um voluntarismo altruísta combinado entre sujeitos ecológicos e
empresas verdes atuando livremente nas suas relações mercantis convencionais, sem a
intromissão de um Estado que apontasse a direção da Sustentabilidade. Confiando na cruzada
da sensibilização ecológica planeta afora, acreditou-se que bastaria haver ‘consumidores verdes’
no mercado, com seus novos comportamentos eco orientados atuando como a mão invisível que
apontaria o rumo do desconhecido caminho da Sustentabilidade com uma produção mais limpa,
mas ainda em massa.

PAIM e FURTADO (2024) caracterizam um traço da perspectiva Eco-Friendly do


Ambientalismo, que define a natureza da crise climática na sua vontade de verdade atenuada,
baseada no reducionismo da razão técnico-científica afastado da ‘desnecessária’ dimensão
política, crendo que a emergência climática possa ser resolvida unicamente com a aplicação dos
mecanismos de mercado que animariam uma Economia Verde (que ainda precisaria de mais
tempo para se desenvolver efetivamente). Importante resgatar aqui a advertência de Porto-
Gonçalves (1989b), de que a razão técnica é um dos pilares mais profundos, por excelência, da
modernidade, valorizada em uma construção sócio-histórica de legitimação inerente da técnica
não só que alcançou proporções inimagináveis desde o surgimento do industrialismo tornando-
se uma força produtiva, capaz de propiciar continuamente melhores condições de vida para o
ser humano, mas também porque representa o domínio triunfal do humano controlando a
natureza. Nesse sentido, com a busca pela validação da abordagem reducionista do problema
unicamente pela dimensão técnica, apresenta a solução ao impasse climático de forma a
preservar intacta tanto a sociabilidade da Modernidade, quanto a ordem social e econômica
capitalista. O que significa, de fato, a continuidade das relações assimétricas e desiguais de poder
na prática social da economia do agronegócio, da mineração, do petróleo e da ‘transição
energética’, ainda produtores de conflitos e injustiças socioambientais, a partir da nova onda de
expansão do capital e do avanço da fronteira da produção de commodities ambientais pelos
territórios dos povos.

Nessa perspectiva, não há lugar para a narrativa do slogan ‘Mude o sistema, não o clima’,
e o capitalismo continuaria funcionando, apesar dos pesares. Por outro lado, no contraponto do
conflito ideológico dessa vontade de verdade de um saber colapsista atenuado e reducionista, o
Ambientalismo Radical evoca a vontade de verdade de um saber colapsista que denuncia a
falsidade da promessa da Sustentabilidade Eco-Friendly, acusando de blá-blá-blá inconsequente
de falsas soluções para a crise climática, porque afinal de contas, a crise climática não passaria
de mais uma oportunidade de capitalização da natureza e consequentemente, de uma nova
lógica de acumulação do capital, sem maiores compromissos em de fato, enfrentar o desafio da
crise climática e do Colapso Ambiental.

O outro traço constituinte do Ambientalismo Eco-Friendly é mais um reducionismo,


comportamental, definido pela lógica do “cada um fazer a sua parte”. A fórmula clássica que
contaminou profundamente a Educação Ambiental que passou a disseminar, de forma
hegemônica, o mantra da responsabilização individual produzindo sujeitos conformados. “O que
cada um pode fazer”, sugerindo coisas que estão ao alcance de um cidadão comum, que
decididamente não é um sujeito político, e que pode ajudar a fazer a diferença. A ideia mais
poderosa difundida historicamente pelo currículo oculto da Educação Ambiental corresponde a
uma meia-verdade; uma vez que sim, é importante que todos façam a sua parte,
individualmente, reduzindo nossos impactos ambientais, mas que omitiu da receita um
ingrediente fundamental que é ação política na esfera pública, disputando objetivamente as
relações de poder.

Contudo, passadas cinco décadas desde os primeiros alertas de ecocatástrofe à vista, e


duas décadas após a realização da Conferência do Rio em 1992 desde as fundações do projeto
de superação da crise ambiental com a implementação do Desenvolvimento Sustentável, surge
uma tremenda fratura epistêmica quebrando a tranquilidade da lenta travessia do mercado
verde, pois começaram a surgir evidências preocupantes de que essa fórmula Eco-Friendly da
sustentabilidade, que passa pelo mercado, quando a proteção ambiental se dá unicamente em
razão da possibilidade de se obter lucro com a movimentação financeira comprando ou
vendendo ativos ambientais, não entregou o que prometeu; quer seja, a economia verde não
prosperou e o capitalismo não foi capaz de impedir que fôssemos atingidos por uma crise
ambiental que inclusive chegou mais cedo do que se suspeitava (Angus, 2023; Moore, 2022;
Marques, 2015; Barreto, 2022; Foladori, 1999; Araújo e Giulio, 2020; Casara, 2016; Engelman,
2013; Whitacker, 2013; Tybuch, Mello e Silva, 2021, Pires e Silva, 2017; Paffarini, Colognese,
Hamel, 2017; entre muitos outros). Além do capitalismo não ter eliminado a pobreza e a
desigualdade social com a promessa do progresso e crescimento econômico; algo deu muito
errado no desenvolvimento desta equação da Sustentabilidade, que envolveria papéis
combinados entre sujeitos ecológicos interessados em consumir mercadorias Eco-friendly e
empresas verdes equipadas com tecnologias limpas, ambos aparados pelo imperativo ético do
direito das gerações futuras, para darem cada um, a sua cota individual de sacrifício em nome
da salvação do planeta. Quem em sã consciência desejaria aniquilar o futuro dos próprios filhos?
Então porque falhamos?

Fato é que o cruel destino que os Profetas do Apocalipse tanto alertaram, finalmente
havia chegado. As gerações futuras não tiveram, afinal de contas, seu direito assegurado, como
fora prometido. Dessa forma, desde que se tornou possível sentir a instabilidade climática global
já nos primeiros anos do século XXI, a voz dos Profetas do Apocalipse ressurgiu, instaurando o
Ambientalismo Radical como o perfil de um novo sujeito ecológico no tempo da ecocatástrofe.
A constatação de que o sistema falhou com seu propósito, se tornou imperativa; e fundamental
para justificar a nova correlação de forças: essa avaliação representa um drama social, na medida
que pode impactar e alterar as relações de poder até então estabelecidas. Assim, o saber
colapsista original contém dois elementos básicos: a constatação da crise climática efetivamente
instalada, e a avaliação negativa dos efeitos do modelo de Desenvolvimento Sustentável que não
foi bem sucedido. Avaliar que o modelo atual do Desenvolvimento Sustentável falhou,
representa um fator de empoderamento a mais da voz do Ambientalismo Radical, e o
enfraquecimento do Ambientalismo de Mercado, sentenciado como incapaz, o que significa
implicitamente que precisa ser substituído.

O sistema, pressionado pela inegável intensificação da crise ambiental em função da


emergência climática, é convocado a reagir, mas ao mesmo tempo, defender-se para não perder
a posição de hegemonia, e é aqui que entra em cena a aplicação do poder ideológico e repressivo
da Sociedade Disciplinar, impondo de modo enfático, a estrita obediência à ordem, sob risco de
punição exemplar. A arena da disputa se dá nesse contexto, definido a priori, do enquadramento
da luta social absolutamente desigual, porque quem vê a crise climática como algo não tão grave
assim a ponto de exigir uma mudança da ordem social e econômica capitalista, comanda os
aparelhos ideológicos e repressores da Sociedade Disciplinar, enquanto quem vê a crise climática
com a urgência suficiente para mudar o sistema, porque ele não evitou a ecocatástrofe, é vítima
da opressão e repressão disciplinar da Sociedade de Consumo, tendo sua voz sufocada e sua
militância proibida, condenada.

É então neste momento que se estabelece a condição de desigualdade na relação de


poder colapsista, rivalizando a vontade de verdade colapsista radical dos Profetas do Apocalipse
desafiando a vontade de verdade colapsista moderada do Ambientalismo dos Ricos, que difunde
ainda a desgastada fórmula da responsabilização individual, onde basta que ‘cada um faça a sua
parte’ assumindo comportamentos ecologicamente orientados, para evitar a crise ambiental,
insistindo na manutenção da mesma fórmula fracassada da Rio 92, reproduzindo o mesmo
modelo da sociabilidade e economia capitalista. Como se percebe, a tarefa científica de auscultar
o futuro para prever a ecocatástrofe, até funcionou; contudo, a tarefa política de prevenir a
tragédia, não deu certo. Não deu certo conceber que o capitalismo se ecologizaria e criaria um
mercado verde colocando um fim na angústia do fim do mundo e da autodestruição humana.

Fato é que de alguma forma, a fórmula da Sustentabilidade Eco-Friendly, fracassou,


embora evidentemente haja uma certa dificuldade do Ambientalismo dos Ricos de reconhecer
sua falência, na medida que sustenta a ideia de que nem o Colapso Ambiental chegou, nem sua
missão civilizatória de guiar o mundo rumo à Sustentabilidade ainda foi cumprida: ainda há
tempo suficiente para pôr em prática a morosa mecânica da Economia Verde.

A perspectiva da responsabilização individual, receita político pedagógica que ensina


que cada um deve fazer obedientemente a sua parte, porque pequenos gestos importariam,
afinal de contas não se sustentou e falhou, entrando no repertório das falsas soluções
apresentadas pelo sistema para evitar a ecocatástrofe.

E essa constatação é da maior importância, porque esta fórmula está na raiz não só do
Ambientalismo de Mercado, como também se entranhou enraizando-se profundamente na
Educação Ambiental que não é Crítica e é reprodutivista. Ambos (de)formam o sujeito para que
ele exista apenas enquanto indivíduo atomizado e reduzido à sua dimensão comportamental na
esfera privada: o sujeito é moldado para se conformar a sobreviver na Sociedade de Consumo;
não por acaso tantos estímulos formativos de um Consumidor Verde estão presentes no campo
da Educação Ambiental. Tentar ser um bom sujeito eco orientado ao mesmo tempo preservando
intacta a estrutura da ordem social e econômica capitalista caracterizada pela Sociedade de
Consumo, não bastou, ficou longe de ser suficiente. Não adiantou a indústria cultural estimular
cada um tentar fazer a sua parte, quando seria necessário que bilhões de partes fizessem
isoladamente a sua parte, e sobretudo, quando uma pequena fração dessa parte, que detém um
poder político e econômico descomunal, tem interesses conflitantes não só com a justiça social,
mas também com a prudência ecológica e o cuidado ambiental, uma vez que a ordem social e
econômica capitalista opera pela lógica da Produção-Destrutiva (Mészáros, 1996), estabelecida
nos Anos Dourados do Capitalismo com a disseminação da Obsolescência Planejada nos planos
de negócios empresariais de todos os segmentos produtivos da nova era de produção de
mercadorias, não mais apenas em série, mas em massa (Layrargues, 2022).

E para entender o quão profundo foi o fracasso da fórmula do Desenvolvimento


Sustentável confiada ao eco capitalismo, o cenário da ecocatástrofe tem enfatizado que no
quadro da injustiça socioambiental, as classes populares subalternas no estrato social são as
mais vulneráveis aos desastres associados ao Colapso Ambiental. Não por acaso, o grito por
Justiça Climática ecoa a lembrança da incômoda desigualdade que persiste assolando a
turbulenta modernidade contemporânea, quando 1% das pessoas mais ricas do mundo emitem
tanto CO2 quanto mais da metade da população mais pobre no planeta.

Desde fins da primeira década do século XXI, que a ciência climática se tornou robusta o
suficiente para assinalar que já se atingiu o limiar inicial do Colapso Ambiental, ou seja, que o
processo de ultrapassagem dos limiares ecossistêmicos de sustentação da Vida planetária
começou a atingir perigosamente um ponto de não retorno. A dúvida é se seremos capazes de
impedir que os combustíveis fósseis continuem a movimentar as máquinas da modernidade
imediatamente, e não por mais algumas décadas até a fatídica data de 2050 para descarbonizar
a economia, o que seria inadmissível para evitar ultrapassar as metas do Acordo de Paris.

É neste atravessamento do indesejado Colapso Ambiental, que não era para ter
acontecido, que finalmente desponta uma segunda onda histórica colapsista, aportando agora
para toda uma nova ordem discursiva e também uma nova prática social na militância ecologista,
de alguma forma, atualizando e ressignificando a voz dos Profetas do Apocalipse, empoderada
pela constatação de que seu alerta de risco deveria ter sido realmente levado à sério. Mas com
uma grande diferença em relação aos signos da primeira onda de alertas: agora se coloca em
causa, e com muita assertividade, o capitalismo.

Estabelece-se assim, um reposicionamento da correlação de forças em disputa no campo


colapsista. O fracasso da fórmula Eco-Friendly da Sustentabilidade do Ambientalismo de
Mercado é o fiel da balança crucial que assegura um inerente fortalecimento do Ambientalismo
Radical, que desponta como uma ameaça poderosa à manutenção da ordem social e econômica
vigente. Ou seja, a legitimação do poder investido pelo Ambientalismo Radical está posto na
avaliação, julgamento e condenação do Ambientalismo de Mercado com sua fórmula Eco-
Friendly da Sustentabilidade: a prova de que o capitalismo fracassou na tentativa de se
ecologizar, o que portanto, legitimaria a ascensão do ecossocialismo inaugurando uma nova
ordem social para conduzir o Antropoceno. Daí se percebe que a própria ideia de avaliação do
desempenho da fórmula da Sustentabilidade Eco-Friendly é objeto de disputa ideológica na
arena colapsista; e não por acaso, o Ambientalismo dos Ricos precisa criar e difundir um
imaginário atenuado do que venha a ser o fim do mundo, simplesmente porque não pode
reconhecer que essa fórmula não passou de blá-blá-blá, com suas falsas soluções performáticas,
que mal disfarçam toda ordem de maquiagem verde praticada pelo Ambientalismo Empresarial.

E aqui podemos encontrar ainda, uma aliança estratégica entre o Ambientalismo


Moderado Eco-Friendly e o Negacionismo Climatista atuando contra o Ambientalismo Radical,
porque para ambos, há que se demonizar o socialismo, e o marxismo cultural da extrema-direita
interessa ao Ambientalismo dos Ricos.

Saber e convencimento: a disputa ecopolítica colapsista pelas narrativas do fim do mundo

Assim, por não poder reconhecer o seu fracasso, não é por acaso que a tática
negacionista climática em tempos de ecocatástrofe reside na política da minimização da crise e
da moderação na reação; convocando, com um certo atraso, o slogan da ‘transição justa e
responsável’, ainda dentro da ordem para viabilizar a implantação da Economia Verde, como
contraponto do slogan “Mude o sistema, não o clima”; como justificativa dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável e dos longos prazos requeridos para uma mudança que se impõe
com regime de urgência, além da responsabilização individual. A lógica é simplesmente de
validar um saber-poder colapsista atenuado, com um grau de gravidade menos severo do que
aquele apresentado pelo Ambientalismo Radical. Há que se convencer à mais ampla audiência
que o alerta dos Profetas do Apocalipse teria sido exagerado, e que não haveria motivos para se
propor mudanças radicais na ordem social.

“Mude o Sistema, não o clima”, porque “Não há um Planeta B”: esse talvez seja o
conjunto de slogans mais simbólico do debate climático, quando se observa o repertório das
ações diretas e protestos do ativismo climático presente na práxis militante do Ambientalismo
Radical. Esta pode ser vista como a chave da relação de poder ecopolítico colapsista, pois traz
embutido nela a vontade de verdade do ultimato à ação e o seu potencial equivalente, o de
“mudar” o sistema capitalista, acusado de ter levado o planeta a esta dramática situação. O
cerne do tensionamento deste slogan se encontra na sutileza da definição do que venha a ser
essa ‘mudança do sistema’, de que forma concebemos o que é preciso mudar dentro do sistema,
ou o próprio sistema que precisa dar lugar a outro projeto societário, para que o clima não
ultrapasse o limite estabelecido pelo Acordo de Paris, quer seja, 1,5 graus. Para uns, o sentido
profundo da mudança que cabe neste slogan, seria apenas uma reforma do sistema; para outros,
a revolução para destituí-lo do poder. Para os primeiros, a mudança requerida seria a transição
para uma economia verde na direção do eco capitalismo; para os outros, a mudança necessária
seria a instauração do eco socialismo. O que seria essa mudança do sistema, depende d
subjetividade prévia de pessoa para pessoa, mas está posta a provocação pela Ambientalismo
Radical, que via de regra, busca o convencimento de que o capitalismo precisa dar lugar ao
ecossocialismo.

Porém, para outros, se o problema reside no industrialismo, então o ‘sistema’ que


precisaria mudar seria a economia baseada no combustível fóssil, buscando-se a razão técnica
para promover a descarbonização e efetuar a transição energética, mas ainda dentro dos limites
do sistema capitalista. E para outros ainda, a mudança do sistema que precisa ocorrer seria a
substituição da economia linear para a economia circular. A ‘mudança do sistema’ é um
enunciado aberto e vazio, pronto para ser recheado com quaisquer conteúdos que se
apresentem mais convincentes.
O que importa na disputa pelo convencimento da audiência, contudo, é que o
Ambientalismo Radical opera com a perspectiva de um saber que nem o apocalipse da
ecocatástrofe está teleologicamente determinado, e que portanto, não haveria mais o que se
fazer para evitar o fim do mundo, o tempo de reação teria se esgotado, e o que restaria seria se
conformar apaticamente e se desesperar serenamente com a chegada do Juízo Final; e
tampouco, que a razão técnico-científica que se tornou a força produtiva-destrutiva que levou o
planeta a essa dramática situação, seria capaz de descarbonizar a economia a tempo de nos
salvar apenas com este gesto. Nem pessimismo extremado, nem otimismo exagerado,
modulações que são evocadas implicitamente no discurso colapsista, capazes de gerar
imobilismo ou confiança cega na tecnologia.

Fato então, é que o saber-poder original do Ambientalismo Radical conduz a um ultimato


à reação imediata e enérgica, pois quanto mais se postergar ou minimizar o cenário, pior poderá
ser o desenho do fim do mundo. Dessa forma, a ecopolítica colapsista do Ambientalismo Radical,
em essência, é aquela que enfrenta a ordem social e econômica caracterizada como injusta e
ecocida, e desafia as estruturas de controle da Sociedade Disciplinar que protegem e preservam
a Sociedade de Consumo e a produção-destrutiva do novo ciclo de acumulação do capital.
Acentua-se a gravidade da emergência climática e a severidade do Colapso Ambiental, mas não
produz imobilismo ou apatia, ao contrário do que o processo de difamação e desqualificação
que os mecanismos disciplinares impõem os ativistas climáticos: com o convencimento tácito,
convocariam a audiência à rebelião contra o sistema. Aqui, literalmente, saber é poder.

Acompanhando a expectativa de Barreto (2022) acerca da imperativa necessidade de


superação do capitalismo em direção ao ecossocialismo como a verdadeira transição civilizatória
rumo à Sustentabilidade, a obra de Marques (2023) é categórica nesse sentido do ultimato à
ação, ao convocar para a reação proporcional à envergadura da crise, com a criação de políticas
de sobrevivência em sintonia com a ciência climática, como um último alerta, ao frisar que os
anos 20 do século XXI representam a década decisiva, a última oportunidade capaz de minimizar
os estragos do Colapso Ambiental, para que a situação não fique ainda pior do que os cenários
em jogo, porque estaríamos ainda adentrando no limítrofe inicial do final dos tempos. O prazo é
inadiável e a reação – enérgica e inconformada –, imperativa. Cumpre ressaltar que o autor
lembra que essa reação que deve ser decisiva, implica combater, de forma inclemente e sem
hesitação, os pilares do capitalismo, para superá-lo. A perspectiva ecossocialista é praticamente
indissociável do Ambientalismo Radical. E exatamente por essa razão, na ecopolítica colapsista,
é muito conveniente ao Ambientalismo dos Ricos que seja difundida a ideia errônea e
desqualificadora que correlaciona a ordem do discurso colapsista do Ambientalismo Radical ao
alarmismo e fatalismo insano, ao desespero e desesperança irracional, que só assustaria as
pessoas e resultaria na apatia e imobilismo, para que a perspectiva ecossocialista seja
implicitamente depreciada ou ocultada.

A superação da civilidade servil: o desafio do Ambientalismo Radical na Sociedade Disciplinar

Na estratégia de controle, o sistema molda o ‘sujeito’, assujeitado pelo modo de existir


dentro da sociabilidade capitalista, dentro da Sociedade de Consumo, com uma ordem do
discurso que se aplica de forma sutil e interruptamente, com total controle sobre os corpos
docilizados e prontamente úteis para manter a ordem social inalterada. Há uma forma ideal de
existir no capitalismo e na Sociedade de Consumo, e ela se aplica por meio dos dispositivos de
controle da Sociedade Disciplinar, formatando e conformando os sujeitos a performar segundo
uma lógica muito particular, fazendo a sua parte, civilizadamente, sem perturbar a ordem
pública. Vem deste saber implícito, a influência sobre os limites do que pode ser feito dentro da
regra da sociabilidade coletiva marcada pela relação de servidão com a distribuição desigual e
injusta de poderes. Pode comprar à vontade, mas não pode protestar de jeito nenhum. Deve
cumprir obedientemente com seus deveres, mas ignorar que também é um sujeito de direitos
neste contrato social que não explicita quais são os termos desse pacto pela civilidade servil.
Deve manter viva a ideia altruísta de que todos deverão fazer civilizadamente a sua parte,
acreditando na ideia de que os pequenos gestos cotidianos de um bom cidadão em casa ou nas
compras decididamente vão resolver o problema da mudança climática. E de que ninguém
poderá se rebelar e romper com este contrato servil e ultrapassar os limites da ordem.

O sistema exerce hegemonia quando essa forma social de existir culturalmente


construída é absolutamente naturalizada, tornando-se praticamente inquestionável, e se o for,
aí também se aplicam os instrumentos repressivos de controle social para persuadir os
desviantes da ordem. A ponto de conseguir se reproduzir automaticamente, sem a necessidade
de um estímulo externo que siga formatando o molde original, porque a regra da obediência
incondicional já está firmemente consolidada pelo currículo oculto da Educação Ambiental que
não é Crítica, com a Pedagogia dos Deveres, e que acaba caindo na armadilha paradigmática e
reproduz acriticamente o mantra da responsabilização individual altruísta do sujeito eticamente
engajado com a mudança de comportamentos nos hábitos cotidianos, conforme o sistema lhe
ensinou a viver nesta sociedade. Neste modelo comportamental, dialogando com Freire (2000),
só há espaço para o anúncio da sustentabilidade, jamais para a denúncia da insustentabilidade
(Layrargues, 2020).

Na alteridade da relação de poder ecopolítico colapsista, como toda relação de poder, a


hegemonia busca continuamente valorizar-se, e desvalorizar o Outro que lhe ameaça. Busca se
legitimar como racional, civilizado e ponderado e desqualificar o Outro, subversivo, violento e
inconsequente. Assim foram tratados historicamente os Profetas do Apocalipse e são agora
tratados os ativistas do Ambientalismo Radical, sinalizando, para o papel contra hegemônico,
ingrato, quando se adota a visão de mundo indignada e rebelde contra o sistema, mesmo
quando qualificado como injusto e ecocida, mesmo quando se trata de corrigir a
disfuncionalidade distópica da Modernidade Tardia.

No limite, a Sociedade de Risco blindou-se com os aparatos ideológicos e repressivos de


controle social da Sociedade Disciplinar, para não ser perturbada, muito menos, transformada.
Daí a dificuldade da adoção na prática, do slogan “Mude o Sistema, não o clima”. É exatamente
contra esse estado da ordem dominante da Sociedade Disciplinar que o Ambientalismo Radical
se coloca na desigual luta política para evitar o fim do mundo.

Além do aparelho ideológico da Sociedade Disciplinar, a presente disputa ecopolítica


colapsista envolve também o aparelho repressor de Estado, com a aplicação de uma lei
garantidora da manutenção da ordem social, e que tem se tornado rotineira a repressão violenta
aos movimentos de ação direta promovidos por ativistas climáticos: em novembro de 2023, por
exemplo, três ativistas pelo clima do grupo Greve Climática Lisboa foram detidas durante uma
palestra na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa sobre a questão climática e a
reivindicação pelo fim do uso de combustíveis fósseis. A repressão contra ativistas do
Ambientalismo Radical é tão frequente, que inclusive já surgiu um movimento que propaga a
mensagem de que o protesto climático não é um crime, e sim uma manifestação política, a partir
de um pronunciamento da ativista climática Greta Thunberg, quando foi detida em janeiro de
2023 na Alemanha, durante um protesto público e pacífico contra um projeto de expansão da
mineração de carvão. Sob pretexto de perturbação da ordem pública ou de danos materiais no
patrimônio público e com o endurecimento da legislação que abrange o espectro do terrorismo,
o Estado tem praticamente rotineiramente a demonização e condenação dos ativistas climáticos
em função das suas manifestações políticas.

Não é por acaso que o Ambientalismo Radical recorre a um conjunto de princípios éticos
e jurídicos, como o Estado de Necessidade, a Escusa de Obediência e a Desobediência Civil, e
inclusive, se vale das próprias regras jurídicas lançando mão da Litigância Climática, processando
governos e empresas por inação climática. O que ocorre é que a ação direta, este modelo de
ativismo militante que explicita uma vigorosa e indignada denúncia contra a ordem social injusta
e ecocida, irrompeu-se ultrapassando o ‘sinal vermelho’ da obediência tácita da sociabilidade
capitalista provocando fortes reações da Sociedade Disciplinar para neutralizar e reverter a
ameaça ao sistema.

Aliás, é neste aspecto que reside uma das grandes campanhas ideológicas de difamação
do Ambientalismo Radical, quando se lhe acusa de ser violento, quando na verdade, ele está
preenchido por um corpo ético firmemente baseado na não-violência. Contudo, a perturbação
da ordem pública com pequenas infrações penais justificadas pela declaração do Estado de
Necessidade Climática, não é tolerada no cotidiano da vida disciplinar de uma sociedade
amansada, domesticada; e é neste sentido que se cria ardilosamente a correlação espúria entre
‘violência’ e o ativismo climático do Ambiental Radical. É a ‘segregação da loucura’ foucaultiana
marcada pela irracionalidade, que tanto o Ambientalismo Moderado Eco-Friendly como o
Negacionismo Conspiracionista recorrem na ecopolítica colapsista. Cumpre lembrar que não há
desqualificação mais profundamente desumana do Outro, do que retirar dele o caráter da
racionalidade, o estatuto que define a superioridade humana no paradigma Antropocêntrico da
Modernidade, posto que a violência se coloca no reino do irracional e ‘selvagem’, não tem lugar
entre cidadãos servis civilizados e altruístas.

A ‘interdição da palavra’ foucaultiana também é um dos recursos repressivos da


Sociedade Disciplinar contra o Ambientalismo Radical, especialmente pelos regimes políticos
marcados com elementos do autoritarismo: livros didáticos sobre questões climáticas nas
escolas texanas nos Estados Unidos, um dos estados maior produtor de petróleo deste país,
passaram à categoria de “inconvenientes” e entraram no repertório de materiais educativos
proibidos pela visão conservadora da extrema-direita norte-americana, pois geram um ‘pânico
desnecessário’ com tantas coisas assustadoras advindas dos extremos climáticos.

O Conselho Estadual de Educação do Texas, afirmando que a ciência ainda não é


unânime sobre o ‘aquecimento global’, rejeitou em novembro de 2023, livros didáticos sobre
questões climáticas tendenciosos demais para serem trabalhados nas escolas texanas. E dessa
forma, se interdita o saber-poder colapsista radical, que por sinal, para Wayne Christian, um dos
conselheiros texanos de Educação que claramente presume que é perigosa a ameaça que o
slogan “Mude o Sistema, não o Clima” representa à indústria do petróleo, tais livros didáticos
poderiam promover ‘uma agenda ambiental radical’ entre os jovens nas escolas do Texas. Já nos
estados vizinhos Oklahoma e Arkansas, o esforço de domesticação minimiza a gravidade das
alterações climáticas e contesta a causalidade antropocêntrica, numa contrapropaganda
ideológica, para adiar a ação revolucionária segundo o espírito do mudar o sistema, e não o
clima.

Percebe-se o quanto o currículo da emergência climática está em disputa, quando se


constata que a indústria do petróleo recorre a campanhas de desinformação nas escolas,
carregando o negacionismo científico e distribuindo materiais pedagógicos ‘alternativos’, e sob
o ponto de vista dos interesses da indústria do petróleo, que afirma por exemplo, que o aumento
da concentração de CO2 na atmosfera é benéfico para as plantas. Com a difusão desse saber-
poder ideologicamente domesticado, que faz desacreditar a gravidade da crise climática, como
pode-se esperar que jovens se rebelem com uma causa que fortaleça imediatamente as fileiras
do ativismo climático, participem dos movimentos sociais da greve estudantil pelo clima,
acionem a justiça para condenar governos e empresas por inação climática?

O nítido silenciamento por meio da censura da circulação de materiais didáticos ou de


um currículo para a educação climática, aqui, equivale à gritante negação da realidade pela lente
da ciência climática, ocultando a realidade do grave quadro da instabilidade climática. É quando
não vem ao caso, na correlação de forças colapsistas, sequer disputar os sentidos do saber-poder
colapsista: não interessa, pela perspectiva negacionista climática, caracterizar a crise climática
como exagerada; ela simplesmente não existiria para além das teorias conspiratórias. Não vem
ao caso, portanto, sequer disputar espaço de sentidos dentro do currículo da educação climática:
ele é simplesmente rechaçado. Todo seu saber colapsista é negacionista, e reside na afirmação
de tratar-se de tentativa, desmascarada, de minar o capitalismo, de forma a estimular
seguidamente o engajamento anticomunista. É, afinal de contas, um saber-poder alinhado à
reprodução do marxismo cultural.

De fato, parte expressiva da extrema-direita conservadora nega a existência de uma crise


climática, e atribui o debate a uma versão fantasiosa e exagerada da realidade promovida pelo
comunismo globalista, como uma ardilosa conspiração para combater o capitalismo nas
trincheiras da defesa ambiental. A justificativa alega que o que existiria na verdade é uma farsa
“climatista”, difundida com dados científicos deturpados e manipulados pelos esquerdistas do
Ambientalismo Radical para fazer crer ao público de que a crise climática seria uma realidade
cruel, gerando um falso pânico a ponto de ameaçar o sistema capitalista. Sim, os comunistas são
ainda entendidos como aquela ameaça sempre presente e muito forte que está por um triz de
tomar o poder e derrotar o capitalismo, tal qual concebe o marxismo cultural, doutrina
ideológica na qual a extrema-direita se apoia. De fato, a realidade do desejo de mudança de
sistema para não mudar o clima, representa a ancoragem lógica da aceitação tácita do saber-
poder colapsista negacionista, embora a realidade do estado de emergência climática tenha sido
substituída pelo ‘climatismo’, negando as evidências da ciência climática.

Ideologia e os currículos da Alfabetização Climática no campo da Educação Ambiental

Costuma-se dizer que a questão climática é um assunto complexo e de difícil abordagem,


e como vimos, também é um novo campo de conhecimento inexplorado e a ser preenchido de
sentidos explicativos, com suas razões, interesses, verdades e meias-verdades. Ao mesmo
tempo, é unânime a opinião da necessidade de se incorporar a questão climática na escola, e de
fato, muitos esforços têm caminhado nesta direção.

Esta constatação abre margem para uma ampla diversidade de caminhos e roteiros
possíveis para a formação em uma ‘alfabetização climática’ que encerre os contornos de um
currículo. Em algumas delas, inclusive, sequer aparece o símbolo da “Emergência” Climática a
preencher o sujeito de significados alinhados com respostas e soluções urgentes e radicais. Os
nexos possíveis de serem estabelecidos na aprendizagem da questão climática podem ser diretos
ou indiretos, genuínos, abarcando a problemática dos interesses em jogo com a indústria do
petróleo e a produção de gases de efeito estufa, ou espúrios, abarcando as ‘falsas soluções’ da
crise climática.

Nesse contexto, Jacobi e Grandisoli (2023) afirmam que, essencialmente, a Educação


Climática deve estar voltada à formação do sujeito para compreender os sentidos filosóficos da
incerteza e da complexidade, marcas epistêmicas do Colapso Ambiental; além de desenvolver
habilidades e competências para prevenir o impacto colateral da Modernidade Tardia,
considerando também a educação para o risco de desastres dentro deste escopo curricular.

Em 2011, no governo Dilma Rousseff, foi sancionada a lei federal nº 12.533, instituindo
o Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, a ser ‘comemorado’ no dia 16
de março, momento em que as escolas deverão promover atos, eventos, debates e mobilizações
relacionados a medidas de proteção dos ecossistemas brasileiros. Interessante observar no
próprio enunciado, quais saberes e fazeres preenchem o currículo ‘oficial’ para se celebrar a
data, de uma forma que não parece dialogar com os elementos político-pedagógicos que
evoquem o estado de emergência climática e o ultimato da reação de se cobrar urgente e
enfaticamente a responsabilidade dos decisores políticos e lideranças econômicas na preparação
de uma solução realmente efetiva da crise ambiental, cessando inadiavelmente a produção de
combustíveis fósseis. A própria lei enuncia um nexo causal espúrio, na medida que não é
exatamente a proteção dos ecossistemas que o estado de emergência climática requer como
soluções, e sim a drástica e imediata redução da produção de combustíveis fósseis.

Com efeito, no Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas de 2024,


foi possível perceber uma grande circulação de mensagens pelas mídias sociais digitais, muitas
delas sem qualquer nexo causal direto e genuíno entre o estado de emergência climática e as
práticas ‘ensinadas’ nas campanhas educativas. É outro saber-poder que passa a se apropriar do
signo dessa data comemorativa buscando sua significação na disputa curricular de uma
educação ambiental climática. A alteração do nexo causal é um poderoso dispositivo que se
caracteriza pela costumaz ‘manipulação discursiva’, uma distorção lógica na argumentação, que
aparece de forma recorrente no saber-poder colapsista, que não só gera confusão mas também
disciplina para controlar a dissidência contra a ordem.

Não fica de fora da disputa ideológica, inclusive, a caracterização do próprio perfil do


‘ativista climático’, que também vai operar a gradação entre um militante rebelde que se investe
do princípio da Desobediência Civil e entre um delegado juvenil domesticado por cursos
formativos das Nações Unidas, para qualifica-lo como representante da juventude engajada pelo
clima tendo seu direito de voz assegurado nas Conferências do Clima. O jovem ativista climático
que se enquadrar, poderá receber um passaporte para ser ouvido, desde que tenha sido
efetivamente domesticado por processos formativos oficiais da alfabetização climática. Com o
que se sabe, define-se o que se faz. E assim, a hegemonia no poder, o Ambientalismo Moderado
Eco-Friendly, procura desfazer (ou desqualificar) a ideia do perfil militante do Ambientalismo
Radical, anulando seu poder contestador; enquanto aproveita o palco curricular para seguir
disseminando e formatando a ideia mais poderosa de todos os tempos no campo da Educação
Ambiental, a responsabilização individual conformada, também para o enfrentamento da crise
climática, reproduzindo a sociedade cheia de novos sujeitos dóceis e úteis, desde a infância
domesticados para um agir obediente aos seus deveres, em nome da civilidade servil.

É interessante notar, inclusive, que a justa luta pelos direitos animais e pelo veganismo,
costuma associar a crise climática à pecuária em função da expansão dos pastos florestas abaixo
e da emissão de metano proveniente da digestão do gado; mas nesta associação, estabelece a
conexão causal entre mudança climática e redução individual do consumo de carne, o que
mantém vivo ainda o aparelho ideológico de reprodução social, por mais que se deseje formar
sujeitos não tão úteis assim ao sistema, por deixarem de consumir carne, mas ainda
permanecem dóceis, pois são estimulados apenas a fazer a sua própria parte. O objetivo é
ensinar como cada um de nós pode colaborar, com pequenos gestos cotidianos, com ações
simples de serem adotadas até mesmo por crianças, e que podem contribuir com a redução do
impacto individual da crise climática. Nesta perspectiva educadora, não se ensina
freireanamente a denúncia da insustentabilidade, quando poderia se aprender a lutar
politicamente contra os interesses econômicos da indústria da produção de proteína animal.

Nesta disputa curricular do saber-poder colapsista, aparecem ainda nexos causais


indiretos entre o estado de emergência climática e a respectiva solução, que passariam pelo
plantio genérico de mais florestas ou da adoção de energias limpas, sem colocar em análise o
fato da produção de combustíveis fósseis e o consumo de gás, carvão e petróleo seguir de forma
crescente desde a COP dos Emirados Árabes em 2022, apesar do pacto político global pela
descarbonização da economia aparentar mesmo o blá-blá-blá vazio de intenções da
Sustentabilidade Eco-Friendly... e assim segue o fluxo hegemônico do Ambientalismo dos Ricos,
argumentando que a Economia Circular funcionará a tempo de evitar o fim do mundo, porque a
transição ecológica para descarbonizar a economia precisa ser ‘responsável’ e gradual. E
implicitamente, o capitalismo continua naturalizado nesse modelo de educação reprodutivista.

Em 2021, jovens lançaram o Manifesto pela Educação Climática no Ensino Básico


Brasileiro, cobrando o direito de ter acesso à formação e ao debate sobre esse assunto-
acontecimento tão relevante e que impacta diretamente suas vidas futuras. O presidente Lula
disse em 2023 que seria preciso colocar a questão do clima no currículo da escola brasileira, para
que o aluno não se torne um ‘analfabeto climático’ e não saiba como fazer para cuidar do clima.

É neste espírito que foi formulado o projeto de lei federal nº 2.964/2023, para incluir a
educação climática como base da educação escolar, já que a Base Nacional Curricular, instituída
em 2017, ignorou por completo a questão climática. E foi nessa direção que, para que os jovens
em idade escolar não permaneçam alheios à crise climática, com a lei nº 9.949/2023, a rede
estadual de ensino do Rio de Janeiro se comprometeu a ofertar o ensino da educação climática
a partir de 2023, como um tema transversal e de forma interdisciplinar, e em consonância com
a realidade de cada unidade escolar. Além de um conjunto de diretrizes genéricas e abrangentes,
não se fala no documento sobre a formação de professores tampouco sobre os materiais
didáticos, muito menos sobre o currículo propriamente dito. O governador do estado vetou o
artigo que justamente apontava para o conteúdo curricular que deveria ser abordado conforme
assinalado pelo projeto de lei, que mencionava entre outros temas a serem considerados no
debate político-pedagógico, o estado de emergência da crise do clima, os interesses da
geopolítica climática, a injustiça climática e o racismo ambiental que afetam
desproporcionalmente as pessoas. Justamente os temas que analisam as contradições do
modelo e apresentam um quadro mais complexo e detalhado, o saber-poder denunciador da
insustentabilidade e mobilizador da indignação, que expõe os interesses e os poderes envolvidos
na crise climática; que ficaram ocultados pelo veto do governo, em função do seu potencial
ameaçador de ruptura com a ordem social injusta e ecocida. Eis um modelo de currículo que fez
a opção conservadora pelo silenciamento dos elementos perturbadores da ordem, anulando o
processo de aprendizagem da cultura da militância, da ressignificação da rebeldia, da superação
do reducionismo pedagógico que predomina na Educação Ambiental reprodutivista.
Os currículos da educação climática da Unesco e do Centro Nacional de Monitoramento
e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) por exemplo, pautados pela adaptação ao novo
regime climático, são fundamentalmente diferentes do currículo da educação climática
promovida pelo Movimento Coalizão pelo Clima do Rio de Janeiro, que oferece um curso de
formação de lideranças comunitárias na baixada fluminense pelo enfrentamento das injustiças
e desastres climáticos, que combina Justiça Climática com militância anticapitalista, para atuar
na solução das causas, não apenas na mitigação das consequências do novo regime de
instabilidade climática. São distintos saberes-poderes colapsistas a fluir nos espaços
pedagógicos: enquanto num processo formativo o sistema aponta para onde está o limite da
narrativa, permitindo abordar aspectos éticos da Injustiça Climática, de forma a deixar salvar da
morte os oprimidos lançando mão de uma Educação para Desastres Naturais, mas sem abordar
os aspectos políticos da Justiça Climática, sem portanto, insuflar a ira e rebelião dos injustiçados
climáticos contra seus algozes; no outro processo formativo, o saber da instabilidade climática
aparece como o ponto de partida para o poder da instabilidade política apontada pelo slogan
‘Mude o Sistema, não o Clima’.

Nesta disputa é que se formata o currículo oficial e oculto da educação climática,


tensionado por interesses contraditórios. O conteúdo da alfabetização climática não está dado
a priori, tampouco é natural que o conteúdo curricular seja essencialmente a popularização da
ciência climática e sua capacidade de previsão da crise, ideologicamente neutra, por
desconsiderar da análise ambiental, os aspectos político-econômicos determinantes da
ecopolítica climática que concorrem para as causas que devem ser solucionadas. E pode ser
francamente domesticador, visceralmente comprometido com a manutenção da Sociedade
Disciplinar, formando sujeitos alfabetizados em termos climáticos, mas politicamente ingênuos
e culturalmente domesticados: dóceis e úteis, absolutamente dentro da ordem, onde o slogan
chave “Mude o Sistema, não o Clima” é ocultado e o poder da rebeldia é neutralizado, porque
no seu lugar, ideológica e implicitamente se enaltece a virtuosidade da participação individual
altruísta de um ‘bom cidadão’ em uma sociedade cujas relações de poder não estariam
estruturadas em posições hierárquicas injustas e conflitantes, marcadas pela opressão.

Seguem acreditando também, que o nexo entre o saber colapsista da razão científica de
previsão da crise não envolveria nenhuma relação desigual e conflituosa em torno da capacidade
ecopolítica de manipular o poder da prevenção da crise; deixando assim, de reconhecer a
importância fundamental de se definir os termos que devem constar do currículo da
alfabetização climática, para que fique claro se as intencionalidades político-pedagógicas são
domesticadoras ou emancipatórias. A presença ou ausência de determinados conceitos e
conteúdos apontam claramente para qual projeto curricular se deseja trabalhar na Educação
Ambiental Climática, dentro ou fora da ordem vigente.

Adianta apenas minimizar os impactos negativos dos desastres naturais sobre as


principais vítimas da crise climática, sem questionar as causas e desejar alterar o modelo? Se a
ambição for apenas de mostrar os efeitos deletérios dos extremos climáticos, menosprezando
onde estão as causas e origens profundas do Antropoceno, não haverá espaço para um processo
de conscientização climática alinhado com o senso de urgência e com a reprovação do modelo
do Desenvolvimento Sustentável Eco-Friendly do Ambientalismo dos Ricos, capaz de formar
sujeitos indóceis e subversivos, que compreendem o papel civilizatório representado pelo
Ambientalismo Radical, na agrura da posição contra-hegemônica, para estimular a mudança
estrutural da Sociedade Disciplinar de Consumo.
Isso especialmente quando esse currículo ensejar unicamente a preparação da
resiliência aos desastres ambientais causados pelas alterações climáticas, a partir do discurso da
‘adaptação’ à nova realidade; mas de forma acrítica, e sem espaço para a Pedagogia da
Indignação mobilizada pelo grito por Justiça Climática mobilizador da transformação da ordem
social e econômica capitalista. É evidente que é muito bem-vindo que políticas que reduzam a
injustiça climática sejam implementadas, é inquestionável que os mais vulneráveis sejam
minimamente protegidos pelo conjunto da sociedade, como apontam os valiosos e premiados
trabalhos de Trajber (2022) e de Matsuo (2023); contudo, é questionável quando esse mesmo
movimento caminha no sentido da domesticação desses sujeitos em condições de
vulnerabilidade ambiental – justamente aqueles potencialmente mais investidos da justa razão
da rebeldia –, neutralizados, de forma que não encontrem condições de se rebelarem contra o
sistema, e sim apenas se adaptem ao novo sacrifício que a presente ordem social injusta e
ecocida lhes impõe, não lhes cabendo qualquer crítica ou possibilidade de mudança da ordem.

Conclusão: a Educação Ambiental Climática entre a obediência servil e a desobediência civil

Esse ensaio segue uma argumentação alinhada com o Manifesto por um Educação
Ambiental indisciplinada (Layrargues, 2020), que convoca o campo da Educação Ambiental a se
colocar criticamente diante da inadiável tarefa de destituição da Sociedade Disciplinar, como
uma condição fundamental para romper a educação conservadora e deixar de se produzir
sujeitos dóceis e úteis, conformados com a naturalização do capitalismo e da Sociedade de
Consumo; que é a principal barreira contra a mudança da ordem social injusta e ecocida e com
isso, ter alguma chance de adiar o fim do mundo.

Por essa razão, entendemos que todo currículo de uma educação climática contemple,
por princípio, uma pedagogia da indignação a preencher a formação militante em desobediência
civil, tal qual expressa Abajo-Sanches (2022) a respeito do processo formativo assumido pelo
movimento Extinction Rebellion para o ativismo rebelde pelo clima por jovens em Paris. O
primeiro obstáculo a superar são os próprios instrumentos de controle da Sociedade Disciplinar.

O currículo oculto é um poderoso aparelho ideológico de Estado da Sociedade


Disciplinar, que atua no sentido da reprodução social da sociabilidade capitalista. O currículo
oculto da Educação Ambiental que não é Crítica, mas que é hegemônica, molda sujeitos dóceis
e úteis, funcionais ao Ambientalismo dos Ricos e sua Sustentabilidade Eco-Friendly. Se for este o
currículo a fluir predominantemente no programa da Educação Ambiental Climática, dificilmente
haverá condições de formação de sujeitos rebeldes capazes de contestar e transformar a ordem
social e econômica capitalista.

O currículo oculto da emergência climática na Educação Ambiental que não é Crítica,


pela perspectiva hegemônica, reside no apagamento da política e na continuidade da fórmula
da responsabilização individual altruísta a partir da adoção de novos comportamentos eco-
orientados como a norma social a se investir. É a mesma Pedagogia dos Deveres de sempre,
continuando a ensinar a obediência incondicional à ordem.

É simplesmente por esta razão que o legado da Conferência do Rio não foi capaz de lograr
o cumprimento da promessa de assegurar o direito das gerações futuras e eliminar a
desigualdade socioambiental. Não basta apelar ao bom senso lógico do alerta de emergência da
ciência climática, é necessário superar os aparelhos repressores e ideológicos de Estado que
bloqueiam quaisquer mudanças que possam desfigurar o sistema capitalista.
Nessa perspectiva, o Ambientalismo Radical encontrará sérios obstáculos enquanto os
mecanismos de vigilância e controle contra a insurreição da ordem social estiverem acionados,
impedindo a emergência de quaisquer mudanças estruturais que ameacem a reprodução social
capitalista. E a Educação Ambiental que não é Crítica, mas é reprodutivista, colabora com a
manutenção desses obstáculos, quando coloca a rebeldia da denúncia da insustentabilidade
num lugar de menosprezo, desqualificando os ativistas climáticos como inconvenientes e
desvalorizando a sua importância civilizatória; e quando estabelece nexos não coerentes entre
as causas e propostas de soluções da crise climática na prática educativa, estabelecendo uma
vontade de verdade que não corresponda à realidade da emergência climática dentro de um
regime político e econômico global que fracassou.

Capacitar crianças a compreender as mudanças climáticas para tomar decisões


informadas e medidas apropriadas na aquisição de habilidades e valores necessários para a
transição rumo a economias e estilos de vida mais verdes e sustentáveis é uma vez mais,
reproduzir a mesma fórmula que afasta o agir político da cena, que é totalmente mergulhada na
mudança comportamental individual na esfera privada, incapaz de promover mudanças
estruturais no sistema, porque se entende implicitamente que não há necessidade de se efetuar
mudanças estruturais, e sim paliativas. A UNESCO (2017) admite que “as respostas à mudança
climática começam em cada um de nós, com as maneiras como pensamentos e agimos, e com
as nossas atitudes e comportamentos”. Pais podem adotar práticas amigáveis ao clima em casa...
É este ‘saber’ que está em disputa ideológica. Por outro lado, é sintomático que Klein (2021)
dedique um capítulo exclusivo de seu livro, pedindo ao leitor que pare de tentar salvar o mundo
sozinho, porque essa fórmula é inócua.

O ano de 2023 ficou registrado como o ano que praticamente se atingiu o teto limite da
temperatura estabelecida como ‘segura’ pelo Acordo de Paris, atingindo o aumento de 1,48
graus Celsius em relação ao patamar pré-industrial. Este ano, sob condições normais, deveria ter
sido o momento histórico do alerta crítico que os Profetas do Apocalipse teriam lançado contra
a Modernidade Tardia, para acionar a marcha para evitar o fim do mundo. Contudo, ainda está
porvir a reconfiguração da opinião e do debate público acerca da questão climática.

O que acontece é que a sociedade, apesar dos pesares, se encontra anestesiada, e a


Educação Ambiental que não é Crítica, é parte substancial desse anestésico que domestica os
sujeitos com um saber-poder que os torna incapazes de agir politicamente e na esfera pública, e
com a energia revolucionária que o tempo presente exige. Parece que o antídoto para despertar
do torpor apático e poder lidar com o Colapso Ambiental, esteja na capacidade de formação de
um sujeito ecológico que transcenda sua condição de docilidade e utilidade ao sistema, de forma
que os mecanismos de controle da Sociedade Disciplinar deixem de operar contra a rebeldia
climática e então possam ser erigidos os pilares de uma nova ordem social e econômica provida
do princípio da precação e com reais capacidades de prevenção para adiar o fim do mundo.

Para uma última problematização deste ensaio, deixamos a reflexão do historiador e


militante socialista, Walter Rodney, que chama atenção para a disputa dos sentidos inclusive da
própria noção de ‘violência’, cuja prática é tolerada e justificada para quem ocupa a posição
fortalecida da relação de poder, e que é reprimida para quem ocupa a posição ‘denegrida’ de
oprimido no sistema, quando este ousa se rebelar e que – nas palavras de Paulo Freire, em
entrevista concedida à TV PUC-SP em 1997 –, ‘se recusam a uma obediência servil’:

“Disseram-nos que a violência em si é um mal e que, seja qual for a causa, é


moralmente injustificada. Por qual padrão de moralidade a violência usada por
um escravo para quebrar suas correntes pode ser considerada a mesma
violência de um senhor de escravos? Por quais padrões podemos equiparar a
violência dos negros que foram oprimidos, reprimidos e deprimidos por quatro
séculos com a violência dos fascistas brancos. A violência que visa à recuperação
da dignidade humana e à igualdade não pode ser julgada pela mesma medida
que a violência que visa a manutenção da discriminação e da opressão ”.

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