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O CAMINHO DAS DESCOBERTAS

(Renata Leal)

Os neurônios-espelhos são especializados em imitar.


Novos estudos mostram como isso afeta nosso comportamento

É difícil encontrar quem não sinta vontade de bocejar quando vê outras pessoas bocejando. Ao
mostrar a língua a seu bebê, um pai o vê responder da mesma forma, ainda que ele tenha acabado de
nascer. Quem assiste à televisão pode ter simpatia pelo mocinho de uma novela e ódio pelo vilão.
Essas três situações podem ter a mesma origem: os neurônios-espelhos. Estudos mostram que essas
células cerebrais nos levam a agir de acordo com o que os outros fazem, e não apenas com o que o
próprio cérebro manda. Mais: tudo o que vemos alguém fazer, fazemos também - nem que seja
apenas em nossa mente. Os neurônios-espelhos lêem a mente dos outros. E influenciam nosso
comportamento a partir da leitura.
Essa função foi descoberta por acaso, há cerca de dez anos. Três cientistas italianos da Universidade
de Parma conduziam um experimento com um macaco. Instalaram fios numa área de seu cérebro que
é responsável pelo movimento. Sempre que o macaco pegava ou movia um objeto, determinadas
células cerebrais disparavam. O monitor em que os eletrodos estavam ligados registrava a área de
localização desses neurônios e emitia um sinal. Como era verão, um dia um aluno entrou no
laboratório tomando um sorvete. Quando o rapaz levou a casquinha à boca, o monitor começou a
apitar. Foi aí que os cientistas se espantaram: o macaco permanecia imóvel. A cena voltou a se
repetir com outros alimentos, como amendoins e bananas. Portanto, a resposta de seus neurônios-
espelhos só podia vir da ação de outra pessoa. Os cientistas perceberam que as células cerebrais
disparavam quando o macaco via ou ouvia alguém fazer algo ou, ainda, quando ele mesmo realizava
uma tarefa. Assim chegaram às primeiras conclusões sobre a capacidade dos neurônios-espelhos.
Estudos recentes têm mostrado que eles são fortemente relacionados com nossa capacidade de
aprender. Além de responder a ações dos outros - daí o nome espelho -, eles podem ser a chave para
descobrir como o ser humano começa a sorrir, andar, falar e até dançar. Num plano mais profundo,
pode explicar a relação entre as pessoas e como as diferentes culturas são entendidas. "Compreender
as intenções dos outros e ter empatia pelas emoções deles são as principais funções descobertas até o
momento", disse a ÉPOCA o neurocientista Marco Iacoboni, da Universidade da Califórnia, um dos
principais especialistas no assunto. Um estudo do início do ano afirma que crianças autistas têm
atividade menor dos neurônios-espelhos.
"A imitação é um mecanismo-chave para o aprendizado porque ajuda a evitar o desperdício de tempo
com tentativas e erros", afirma Iacoboni. Assistir a um jogo de tênis de Roger Federer, por exemplo,
ajuda um jogador iniciante a aprender as "manhas" do profissional e ampliar seu leque de jogadas.
Comprovar as múltiplas atividades desses neurônios dá mais sustentação à concepção atual do
funcionamento cerebral. "Foi derrubada aquela imagem do cérebro como um armário cheio de
gavetinhas, em que cada parte tinha uma função", diz Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto
Internacional de Neurociências de Natal. "Hoje pensamos no cérebro com uma concepção
holográfica: tudo está ligado e os neurônios exercem múltiplas funções."
Por isso, a descoberta das funções dos neurônios-espelhos vem sendo considerada um dos principais
feitos da neurociência. Há cientistas que comparam o nível de importância desses estudos ao das
células-tronco.
Mas todos recomendam prudência diante dos resultados. "A descoberta dos neurônios-espelhos foi
muito importante, mas as pessoas precisam ter em mente que eles não explicam tudo", afirma
Iacoboni. "Não dá ainda para saber se, sem eles, o cérebro não faria a mesma coisa", afirma Ribeiro.
O cérebro tem cerca de 100 bilhões de neurônios - dos quais apenas 5% são espelhos. Não são
muitos, mas, se tudo o que se estuda sobre eles for comprovado, esses 5 bilhões respondem por
muito do que somos. Fonte: Revista Época, edição 425
RITMOS E HÁBITOS

Observamos que tudo na natureza tem uma ordem, um ritmo: o dia e a noite, as estações do
ano – primavera/verão/outono/inverno. Como seria se numa manhã acordássemos e o sol não
estivesse no céu?
Para se sentir segura, a criança precisa de ritmo. Ela precisa se alimentar sempre à mesma
hora, dormir e acordar a intervalos determinados, ou seja, quanto maior o ritmo, maior e mais
perfeita será a saúde da criança. Seus momentos de brincadeiras e de estudos também devem
seguir o ritmo do dia. Assim nascem os bons hábitos, tão importantes na vida humana e que só
podem ser ensinados na infância. Não podemos esquecer que o que se aprende na primeira
infância (0 a 7 anos) dificilmente se esquece, e tudo que se repete se torna hábito, seja ele bom ou
ruim. Nós, adultos, precisamos ter a responsabilidade de cuidar das crianças para que bons hábitos
sejam instalados.
Nos primeiros anos de vida, a criança constrói a base física (saúde) e psíquica (sentimentos
equilibrados, autoconfiança) para toda a vida. Ritmos trazem saúde, garantia de bem-estar e
sensação de segurança.

EDUCAR A VONTADE
Antes de falar sobre a educação da vontade da criança, faz-se necessário falar da auto-
educação da vontade, que precede qualquer intenção em relação aos pequenos. A palavra-chave
nesse caminho é persistência. Quanto mais conscientes estivermos ao buscar nossas metas, de
forma metódica, disciplinada, sem que precisemos nos isolar ou enrijecer, mais as desejaremos,
mais as desenvolveremos e as incorporaremos, no sentido mais elementar da palavra in-corpo-r-ar:
trazer para dentro de nós! No adulto, a fonte da persistência está na consciência e na ação, mas,
nas crianças, percebemos que, para despertar e alimentar a vontade, é preciso repetir, repetir,
repetir... Repetir para conseguir, conseguir para dominar, dominar para querer mais! Mas
precisamos sempre de um desafio novo atrelado ao que já existe, um crescendo, para que se
atinjam o sentir e o desejo das crianças.
Cada fase de desenvolvimento traz seus segredos, suas buscas e suas imagens. Se formos
capazes de desvendar esses mistérios, proporcionando às crianças um ritmo diário, que tranqüiliza,
acalma, sustenta, fazendo sempre uso do tempero da novidade, de forma que esta também evolua
com base num chão terreno e luz num ideal celeste, talvez consigamos atingir esse reservatório de
vontade que nos acompanha pela vida desde o nascimento. Um reservatório que está sempre ali,
mas que precisa ser desejado, despertado e usado. Quanto mais o usamos, mais espaço nele se
cria, e assim mais precisamos gastar, preencher, renovar...
Como educadores, essa dinâmica não tem fim, até o momento em que as crianças estejam
maduras para conseguir por si sós manter, inicialmente pelo hábito e posteriormente pela
consciência, esta potente, latente e nobre qualidade humana que nos acompanha por toda a
existência: a vontade!
“Rotina é uma daquelas palavras que doem nos ouvidos, mas é ela a senha para quem tem
bebê em casa. Mais que a rotina, são a mesmice, a repetição, a falta de novidades marcantes que
permitem aos pequenos atravessar bem a delicada fase que vai do nascimento até por volta de 1
ano e meio. Para aflição dos pais acostumados ao ritmo aeróbico do ganha-pão, é preciso pisar no
freio quando o trabalho é cuidar dos pimpolhos. Não é fácil, mas só com a monotonia caseira, os
mesmos rostos e sensações muito parecidas, eles podem entrar no mundo como crianças fortes
para se relacionar com os outros.
Esta lógica dos bebês contraria as máximas dos adultos. Para os pequenos, o exercício para
crescerem expansivos e sociáveis não é rodar de colo em colo desde a mais tenra idade, como
pode parecer à luz do raciocínio dos grandes. Quanto menos gente, melhor. Principalmente quando
essa gente é quem cuida diretamente dos bebês” (Capelatto, 2006, p. 30).
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
A criança pequena tem uma postura em relação ao mundo bem diferente do adulto. A criança está
aberta às coisas e às pessoas e se sente una com o meio em que vive, vivencia tudo intensamente,
sem ter ainda a força para se distanciar e refletir sobre essas vivências. A criança assimila tudo que
acontece à sua volta e, por estar entregue ao mundo e às impressões do ambiente, aprende imitando.
Por isso, os pais e educadores que lidam com crianças pequenas têm esta tarefa: ser exemplo, fazer o
melhor e criar um ambiente sadio e harmonioso, sendo responsáveis por proporcionar um bom
aprendizado e um desenvolvimento emocional equilibrado, construindo assim uma base sadia para a
vida toda.
Por isso, é necessário o entendimento de como se dá o desenvolvimento da criança, principalmente
nos primeiros sete anos de vida.
 
OS TRÊS PRIMEIROS ANOS DE VIDA - “A mesmice que faz bem”

Recém-nascido:

Rotina é a senha para quem tem bebê em casa.


A repetição, a falta de novidades permite aos pequenos atravessar bem a delicada fase que vai do
nascimento até por volta dos 2 anos. Esta lógica dos bebês contraria as máximas dos adultos.
Para os pequenos, o exercício para crescerem expansivos e sociáveis não é rodar de colo em colo
desde a mais tenra idade, como pode parecer à luz do raciocínio dos grandes. Não é assim que eles
treinam para serem descolados e cheio de amigos.  Ao contrário: a base mais consistente para que
construam esta e outras capacidades está justamente naquelas repetitivas horas passadas no restrito
círculo doméstico. “Quanto menos gente melhor”.
Neste jogo em que faces, vozes, toques e cheiros aparecem e desaparecem ao decorrer do tempo eles
têm as primeiras noções da própria existência e são chamados do mundo dos impulsos para o mundo
do afeto.
Rotatividade de babás ou de cuidadores em escolinhas e creches é o que mais atrapalha nesta fase.
A indispensável mãe que dá o leite e fica por perto, falando, cantando e embalando enquanto cuida, é
a referência máxima, é quem vai garantir o bem-estar e a sensação de segurança. Mas quando o casal
precisa de alguém para assumir uma parte da rotina do bebê, é importante escolher bem para que não
haja substituições ao longo destes primeiros 2 anos.”

(Ivan Capelatto – Preparando as crianças para o mundo)

O olhar perdido do recém-nascido encontra o olhar feliz, mas também interrogativo da mãe, que
repetidamente o segura junto a si. Por menor e mais inexperiente que seja quanto à sua
corporalidade, tanto maior e mais aberto o recém-nascido parece ser para o seu ambiente. Cada um
de seus movimentos, por menor que seja, é observado com preocupação e felicidade: os movimentos
de sucção durante o sono, o bocejo, o delicado mexer dos dedinhos. A respiração, quase inaudível, de
vez em quando é interrompida por uma série de ondas respiratórias mais profundas ou por um
grunhido, quando o bebê se espreguiça.
O anseio de vivenciar a si mesmo por meio das relações sensoriais com o ambiente está presente em
todas as manifestações do recém-nascido: ele desfruta o bem-estar depois de satisfeita a fome,
reclama avidamente o peito quando faminto e sabe sugar com perfeição. Entrega-se totalmente ao
sono, ou absorve a luz, os sons, os ruídos, o frio e o calor do ambiente. Sua vivência está totalmente
ligada a esse ritmo de abrir e fechar-se, de ansiar e de estar satisfeito. Assim ele cria “seu tempo”,
“seu horário”, muito antes de ter uma consciência temporal.
Nas primeiras semanas de vida a criança não tem necessidade de brinquedo nenhum. O primeiro
brinquedo dela deve ser a própria mão, que ela começa a descobrir por volta de dois meses de idade.
Se nesta fase pendurarmos brinquedos sobre o seu rosto, nos quais a criança bate as suas mãos sem
querer, deixamos a criança agitada e impedimos o descobrimento por iniciativa própria da sua mão.
Este primeiro brincar com a própria mão é de fundamental importância para todo desenvolvimento
futuro. Ele exercita ali a coordenação ente o olhar e a mão e descobre aos poucos que esta mão é ela.
Quando ela aprende a virar de lado, podemos colocar algum brinquedo simples do seu lado,
podemos, por exemplo, usar um paninho colorido, costurado em forma de cone que facilita que a
criança possa pegá-lo. A partir daí, podemos colocar vários brinquedos no local onde a criança
brinca, sempre tomando cuidado com a quantidade e que sejam grandes suficientes para que a
criança não os engula.
O que acontece de tão importante nessa fase? É uma época da qual não nos lembramos, que fica na
escuridão da inconsciência, mas é quando aprendemos as aptidões básicas para nossa vida como
seres humanos.
Psicólogos e terapeutas procuram, lá nos primeiros anos da infância, as raízes dos problemas da vida
adulta.

“A maior parte do que eu realmente precisava saber sobre viver, o que fazer e como ser, eu aprendi
no jardim-de-infância. Na verdade, a sabedoria não está lá no alto morro da faculdade, mas sim bem
ali, na caixa de areia da escolinha.” Robert Fulghum, psicólogo.

Se observarmos o desenvolvimento de um bebê, temos a impressão de que a individualidade dele


desperta passo a passo dentro de seu corpo e vai dominando-o. Assim, também pouco a pouco ele
começa a se perceber como um ser diferente do mundo que o rodeia. Porém só com o tempo esse
organismo se desenvolve plenamente e “aprende” suas funções, sob a influência do mundo externo.
No primeiro ano de vida, amadurece principalmente o cérebro; os órgãos dos sentidos se
desenvolvem. O ouvido será mais sensível nas crianças que ouvem o som da voz humana, a mãe
cantando, os sons da natureza, instrumentos musicais, do que naquelas que ouvem o dia todo o som
forte do rádio e da televisão. Os movimentos serão mais perfeitos na criança que pode conquistar,
por si própria, o rolar, o arrastar, o engatinhar, o sentar e o andar, do que naquela que ficou presa no
berço, no carrinho ou no colo do adulto a maior parte do tempo.
 
Primeiro ano de vida: move-se livremente no espaço (arrastar/engatinhar/andar)

- 4 meses: sustenta a cabeça


rola
fixa o olhar
sorri
Brinquedos/brincadeiras: brincar com sons, filtrar e dosar estímulos de sons, cores e formas,
chocalhos suaves, canto, presença atenciosa dos adultos.

- 6 meses: movimento voluntário de cabeça, pescoço, braço.


Rasteja
Senta (é preciso conquistar)
Balbucia
Importância de falar corretamente com a criança
Brinquedos e brincadeiras: importância de colocá-la em espaço que possa ficar no chão; comunicar-
se com a criança; serra-serra; cavalinho (ritmo); contato com areia, grama, lã; sons onomatopéicos.

- 8 a 12 meses: engatinhar (força nos braços)


Andar “de macaco” (estimular)
Reage à música, dançando, emitindo sons
Consegue segurar bolas, toquinhos, etc.
Responde ao próprio nome
Compreende mais do que fala (não imitar a fala da criança)
Meneio negativo (cabeça)
Brinquedos e brincadeiras: colocar objetos dentro de recipientes; gosta de bonecas e bichinhos de
panos; bolas; brincadeiras de esconder.
 
Segundo ano de vida: conquista o espaço social – comunicação (falar)

No segundo ano de vida, ela aprende a falar. Com o andar, as mãos ficam em liberdade e assim
observamos uma nova vida na região torácica. A criança agora começa a ter uma alegria pelos
ritmos, pelas palavras, que são repetidas inúmeras vezes. Ela sente prazer com os sons e começa a
cantar.

- 12 a 18 meses: Fica em pé
Andar livre
Correr, saltar
Estimular movimentos anteriores (rolar, rastejar, engatinhar, andar de macaco)
Brincadeiras que treinem o corpo em diferentes posições.
Primeiras palavras (prazer em falar – repetições)
Músicas cantadas (associar gestos)

- 18 a 24 meses: Andar mais coordenado


Correr, pular
Escadas (com apoio)
Come sozinha

Brincadeiras e brinquedos: ouve histórias; bola ao cesto; brincadeiras com noções de embaixo, em
cima, dentro , fora; desenho livre (blocos de cera); cestos grandes com almofadas; panos; areia, água,
terra; chocalho com sementes/grãos/pedras; instrumentos musicais simples; puxa e empurra
brinquedos; folheia livros (vária páginas por vez); ouve histórias do dia-a-dia; histórias com apoio de
bonecos.
 
Do terceiro ao quinto ano de vida:

No terceiro ano de vida, aperfeiçoa a linguagem, formando frases, e seu pensar fica mais elaborado.
Nasce nessa fase a autoconsciência, e ela se percebe como um “eu” separado do mundo. Esse
momento é acompanhado de uma forte crise de “birra”, pois ela quer sentir sua personalidade. Nesse
período, o aparelho digestivo se fortalece e a criança já pode comer de tudo, inclusive carne, se for a
opção dos pais.

As primeiras lembranças que temos de nossa infância começam nesse período, pois o cérebro já se
encontra, até certo ponto, pronto. O potencial do pensar, nessa faixa etária, não se manifesta no
pensar lógico ou abstrato, mas na fantasia infantil. Agora, a criança não só brinca imitando os adultos
como também cria, inventa uma história após a outra. Tudo que encontra à sua volta é transformado
em fantasia. Uma pedrinha pode ser um nenê, um cachorrinho, um barco, conforme o momento.

Começam a surgir muitas perguntas sobre a vida, a morte, a natureza, sobre ela mesma, e é
importante que consigamos respondê-las dentro da fantasia infantil, e não explicando
cientificamente, direcionando para o intelecto.
Outra coisa importante que começa a surgir depois dos três anos é o relacionamento com outras
crianças. Ela já consegue brincar com outros, encaixa-se nas brincadeiras, participa das rodas, ouve
histórias e “obedece” até certo ponto.
Terceiro ano de vida: conscientização individual
(pensar/fantasia/ imaginação/memória/concentração)

Tem boa habilidade manual (empilhar, encaixar)


Ambidestro (com alguma preferência)
Fala frases com verbos
Conta experiências
Chega à consciência de si (fase da birra)
Começam os porquês
Aumenta seu prazer por histórias contadas
Já brinca com 1 ou 2 companheiros
Imita as tarefas das pessoas à sua volta: pai/mãe/cuidador/jardineiro/ pedreiro.
Músicas e mímicas

Quarto ano de vida:

Já consegue distinguir cores


Consegue contar até 20 ou mais
Sabe várias rimas infantis
Consegue cuidar da higiene pessoal (tomar banho/escovar dentes/veste-se/despe-se)
Brinca fora de casa construindo com mais variados materiais (areia/ paus/pedras/folhas/tocos)
Necessita de companhia de outras crianças

Dos cinco aos sete anos:

Aqui percebemos novamente uma transformação. A habilidade física da criança fica cada vez
melhor, ela gosta de trabalhar e quer ajudar nas tarefas do dia-a-dia: escolher feijão, descascar alho,
cortar verduras ou frutas, amassar pão.
Além disso, podemos ensinar-lhes alguns trabalhos manuais, pois elas precisam e querem exercitar
suas habilidades motoras. Costurar, fazer crochê e tricô de dedo, serrar madeira, lixar são tarefas que,
nessa idade, as crianças fazem com muita alegria.

Percebemos que as gordurinhas que existiam na criança pequena somem por completo, os membros
ficam mais musculosos e elas adquirem um domínio melhor sobre as pernas, conseguindo pular
corda, andar de pernas de pau, brincar de amarelinha. As brincadeiras começam a ter mais elementos,
divisão de papéis (eu sou a mãe, você o padre etc.), e conseguem levar a brincadeira até o fim.

Por volta dos seis anos, a criança começa a perder os primeiros dentes de leite, o que marca o fim da
primeira infância. Muitas vezes ela fica desanimada, não brinca mais com tanta fantasia como antes,
torna-se agressiva, entra numa crise parecida com a da puberdade. Agora ela está pronta para o
aprendizado escolar e aguarda com alegria a ida à escola.
A criança e o movimento
(Pilar Tetilla Manzano Borba)

Criança é sinônimo de movimento.


Observe uma criança livre num parque e verá que ela não pára quieta por muito tempo num só
brinquedo ou brincadeira. Ela vai do balanço ao gira-gira, do escorregador ao trepa-trepa, do tanque
de areia ao tronco da árvore e procurará escalá-la, se ninguém a impedir.

Por que é tão difícil para os adultos e principalmente para os educadores infantis compreender que
movimentar-se é tudo o que ela necessita? Pois exercitar seu corpo nos mais diversos movimentos
ajuda-a a se conhecer, a obter coordenação motora, a orientar-se no espaço circundante, a ter noção
de limite, a adquirir habilidades, e muitas outras coisas. Habilidades motoras que mais tarde se
desenvolverão em habilidades cognitivas e sociais.

Parem uma criança muito cedo na infância e com certeza terão crianças que não conseguirão
permanecer quietas em sala de aula, recebendo rótulos de indisciplinadas, desatentas e com falta de
concentração. Dêem atividades de coordenação motora fina antes do tempo e terão crianças com
problemas na aprendizagem da escrita e da leitura.

Impediríamos muitas dificuldades de aprendizagem se deixássemos as crianças serem crianças e


brincarem livremente por muito mais tempo. Se não precisássemos de tanta movimentação na
infância já nasceríamos adultos conscientes e controlados.
INFÂNCIA, SÓ SE TEM UMA.

BRINCAR: A ATIVIDADE MAIS SÉRIA DA CRIANÇA

Brincar, para a criança, é tão importante e sério como trabalhar é para o adulto. Ou mais até, porque
dificilmente encontramos um adulto tão dedicado ao seu trabalho como a criança o é à sua
brincadeira. O trabalho é dirigido de fora, pelas necessidades e metas dos adultos. Brincar brota de
dentro da criança. Brincando, a criança imita o trabalho, os gestos do adulto. Assim, ela descobre o
mundo. Ela vivencia suas leis sem fazer conceitos lógicos sobre elas (Ignácio, 2001, p. 25).

Ao brincar, a criança vivencia os elementos da natureza: a água, a terra, o ar e o fogo. Ao brincar


com a água, ela observa como se formam as gotinhas, o sol que bate nelas ou numa poça de água; ao
jogar uma pedrinha, fica encantada com os círculos concêntricos que vão se formando, faz um
barquinho ou pega uma casca de árvore e fica feliz quando flutua.
As vivências com o elemento terra, a criança tem com areia, pedregulhos, barro, argila, pedras de
todas formas e tamanhos. Quanto ao elemento ar, o encantamento da criança faz com que ela
acompanhe o flutuar, oscilar, pairar, voar das bandeirinhas, móbiles, aviõezinhos, balões, pipas,
bolhinhas de sabão. O elemento fogo é representado nas brincadeiras com fogueira, velas, lanternas.
Tudo isso para ela são vivências.

Se o adulto der espaço para a criança brincar sadiamente, quando se tornar adulta ela terá vontade de
agir e transformar o mundo. Hoje em dia, quando se fala em educação, só se fala no pensar lógico,
mas o homem não é só pensar – ele também sente e age.
A criança não tem constância nenhuma em seu brincar, vai pulando de um brinquedo a outro. Num
momento, faz uma casinha com panos, para em seguida embrulhar num desses panos seu “nenê” e
levá-lo para passear. Logo junta cadeiras para formar um trem, que em seguida se transforma num
barco. Por isso, muitas vezes os adultos não consideram o brincar uma atividade séria, ou se
assustam, pois a criança não termina nada. Mas o que existe no interior dela é uma grande fantasia,
tão importante para a criança como o movimento do corpo (Ignácio, 2001).

Em tempos passados, brincar era algo natural para a criança. Brincavam e ninguém se preocupava
com isso.
Não se falava ou escrevia de suas atividades. Em nossa civilização, predominantemente técnica, a
criança está perdendo cada vez mais a sua capacidade original de brincar.
Certamente as crianças desejam brincar, como o fazem em todos os lugares do mundo e como
fizeram sempre, pois brincar é algo inerente ao “ser” da criança.
“O brincar da criança é a manifestação mais profunda do impulso que conduz ao fazer, sendo que
neste fazer, o homem tem a sua verdadeira essência humana. Não seria possível imaginar uma
criança que não desejasse ser ativa, como o é quando brinca, pois o brincar representa a liberação de
uma atividade que deseja se libertar do cerne do ser humano (Rudolf Steiner)” (Anders e Trommer,
1982).

O brincar infantil não é apenas uma “brincadeira superficial desprezível”, pois com ele se avivam as
forças da fantasia, que chegam a ter ação formadora sobre o cérebro, e esse processo é a maneira
natural de “criar inteligência”.
De grande importância para as crianças são também as vivências com plantas e animais, pois
ajudam-nas no entrosamento com o ambiente natural em que vivem.
As crianças estão sendo conduzidas precocemente para o âmbito adulto, o que as obriga a se
adaptarem, com todo seu ser, à vida dos adultos. Ela não é um adulto em miniatura, cuja
“usabilidade” para a indústria e o comércio precisa ser intensificada.
Hoje, parece que já não se lembra mais que o brincar infantil é uma das formas básicas e decisivas de
formação do ser humano, por ativar as forças criativas da criança. Os brinquedos industrializados,
produzidos em série e de gosto duvidoso, apresentam-se de tal forma hoje em dia que a fantasia da
criança não encontra alimento, pois não há nada a completar, a imaginar e a projetar em relação a
esses brinquedos.
As forças da fantasia necessitam de liberdade e mobilidade para poderem se desenvolver, e é por
isso que a criança pequena não deseja encontrar brinquedos prontos, pois isso reduz as possibilidades
dela de dar vazão a seu mundo de fantasia.
Se observarmos a criança quando ela está profundamente envolvida em seus “afazeres” no jardim,
com uma poça d’água, com areia, amassando e rasgando papel, amontoando caixas vazias,
vivenciando as formas cilíndricas de um rolo de papel higiênico, certamente reconheceremos o que
significa para ela o brincar cheio de vida. São coisas que a marcam para o resto da vida, pois, ao
manusear diversos tipos de materiais, ela aprende, sem nossa interferência, importantes leis
fundamentais da vida e do mundo. Aprende, por exemplo, o que significa duro/mole, áspero/liso,
maleável, elástico, móvel, em cima/embaixo, atrás/na frente, direita/esquerda,
perpendicular/horizontal, quente/frio, leve/ pesado, equilíbrio. Pelo manuseio dos materiais, a criança
vivencia de forma elementar o mundo, as formas e a qualidade de tudo que a rodeia.
Nós, adultos, nos tornamos severos, secos e frios em relação a esse mundo criativo, original e cheio
de vida da criança. Estamos sempre exigindo ordem e limpeza, que são conceitos secos do mundo
adulto e os maiores inimigos da fantasia. Precisamos encontrar, conscientemente, os devidos limites
(“É tão cômodo deixar as crianças em frente à TV..”).

Que choque para a criança quando, por meio de um comportamento severo do adulto, ela é arrancada
de seu lindo mundo de fantasia e sonho e empurrada para a realidade do mundo adulto. Com essa
atitude, o adulto retira todo o prazer original do brincar da criança, que vai se transformando em
timidez e medo, implantando-se o germe de doenças futuras (...). (Anders e Trommer, 1982).
Jogos, brinquedos, ocupações e o desenvolvimento sadio da criança

Segundo a Federação das Escolas Waldorf no Brasil (1999), o valor do brincar para o
desenvolvimento sadio da criança é cientificamente comprovado e é preocupação de muitos
educadores. O brincar livre, não dirigido ou proposto, é visto como o melhor estimulador para um
desenvolvimento que esteja de acordo com a maturidade etária e as capacidades individuais de
cada criança. Ela procura a atividade lúdica que melhor corresponde às suas necessidades,
seguindo inconscientemente, instintivamente, os estímulos provenientes de uma sabedoria
corpórea.
Não é possível criar o bebê ou a criança pequena sem que aprenda a ser alegre. Os brinquedos e os
jogos serão o meio e o pretexto para essa aprendizagem, ao mesmo tempo que permitem à criança
satisfazer uma necessidade que cresce com a idade: a atividade. A criança exercita assim seus tenros
músculos, e também seu conhecimento do mundo e seus sentidos: ver, logo olhar; ouvir, logo escutar;
tocar, logo pegar (Borba, 1999b, p. 2).

Formas de brincar
- Brinquedos e jogos que sugerem movimentos e funções (imitação)
- Jogos de imaginação, representação, dramatização
- Jogos de construção (dos mais simples aos mais complexos)
- Jogos regidos por regras
- Esportes em times e jogos em grupos – por volta dos 8 anos, quando a criança já tem capacidade
intelectual para compreender e se adaptar às normas do jogo.

- 1 ano: a criança aprende a brincar


- 2 anos: a criança se expressa cada vez mais em suas atividades espontâneas
- 3 anos: a criança começa a se orientar nos acontecimentos ao seu redor
- 4 anos: a criança demonstra cada vez melhor sua adaptação à realidade

Quanto melhor a criança der conta dessas quatro formas de brincar, tanto melhor estará preparada
para enfrentar o aprendizado escolar.
Ljublinskaja, psicóloga russa, vê o ato de brincar como um processo criativo.
A criança não só imita o que percebe ao seu redor, mas também representa aquilo que observou
da maneira que ela pessoalmente percebeu e vivenciou.
Segundo Ljublinskaja, existem os seguintes elementos:
- brincar é uma forma inicial de aquisição de conhecimentos;

- brincar é um acontecimento concreto orientado no aqui e agora. No brincar a criança reflete de uma
maneira pessoal o mundo que a rodeia;

- brincar é sempre uma ação corporal cujo conteúdo é formulado por uma reprodução de uma realidade
observada. Ao lado desta ação, a linguagem é um meio de executar e de solucionar a tarefa;
- brincar é uma forma especial de pensar (a criança primeiro anda, depois fala, depois pensa). Sempre
há necessidade de formas de pensar para solucionar a tarefa;

- brincar é um processo ativo; o mundo não é somente imitado, mas também modificado. Brincar é uma
combinação de realidade e fantasia (Borba, 1999a, p. 15).

Hoje vemos crianças vivazes, com bochechas rosadas, olhinhos curiosos e felizes, mas
também vemos crianças, em número cada vez mais crescente, que já perderam esse brilho
peculiar da face e do olhar. Algumas têm a expressão cansada, são pálidas, outras se tornam
hiperativas e até mesmo violentas.
Por que existe essa diferença, se são todas da mesma idade?
As respostas são encontradas no modelo de civilização em que vivemos hoje, na educação
que privilegia a intelectualização, a especulação teórica, em detrimento da reflexão, da
interiorização. O currículo escolar atual, na maioria, leva a criança a conteúdos abstratos, sem
vínculo, sem correspondência com seu mundo, então ela não tem interesse, pois não há nada que
a cative, que chame sua atenção, sua curiosidade, seu entusiasmo. A criança não se relaciona com
o que lhe é apresentado. Assim, esse modelo de educação leva à formação de seres humanos
inflexíveis, rígidos, secos e áridos.
Devemos tentar deixar livre e incentivar o brincar da criança, principalmente nos primeiros
sete anos, antes que comece a seriedade da vida escolar, pois brincando ela vai encontrando seu
caminho dentro do mundo e também encontrando a si mesma, desenvolvendo,
concomitantemente, capacidade de relacionamento social e habilidades corpóreas.
O excesso de atividade intelectual leva à desvitalização, gera palidez, empobrecimento da
capacidade imaginativa, desinteresse pelo mundo e por outros seres humanos.

A INFLUÊNCIA DAS CORES NA FORMAÇÃO ORGÂNICA DAS CRIANÇAS


Pilar Tetilla Manzano Borba

Quando o sol ainda não nasceu no horizonte temos no firmamento a da cor das trevas (trevas aqui sendo
entendida como a escuridão onde tudo está contido). Assim que o sol desponta no horizonte um misto de
cores indo do violeta ao vermelho começa a aparecer. Em seguida, com a luz do dia chegando, surge a cor
magenta como um misto de lilás, vermelho, rosa e alaranjado.

Ao nascimento do sol no horizonte e sua jornada até o pico do meio-dia, relacionamos o nascimento da
criança e de sua consciência nesta sua vida aqui na terra.

Conforme o sol vai chegando a pico e seu amarelo vai ficando mais brilhante, assim a consciência da criança
vai também ficando cada vez mais acordada na medida em que cresce e se desenvolve.

Enquanto pequenina, a criança vive num estado de inconsciência (consciência de sono) pois toda sua energia
está sendo gasta para formar e amadurecer seu corpinho que recém chegou ao mundo e que necessita ainda
de muito trabalho interno para ficar pronto. Basta percebermos quanto seu corpo se desenvolve e cresce
nos primeiros anos de vida. Quanto trabalho interno!
As cores exercem uma atuação forte no seu desenvolvimento. Elas podem colaborar na formação interna de
seus órgãos ou podem roubar-lhes energia prejudicando-os em sua formação quando retiram a criança
desse estado de sono e a trás para fora e a sobrecarrega em seu sistema neurosensorial visual trazendo-lhe
um extremo cansaço e palidez.

Desde o útero de sua mãe a criança já enxerga a cor magenta.

Ao nascer, quando protegida da claridade ela vai recebendo devagar a luz do dia. Se nos seus primeiros anos
de vida for devagarzinho sendo inserida nas cores que estão na frente da luz, ela irá aos poucos ‘acordando’
em sua consciência e seus órgãos internos desta forma poderão ser formados com saúde.

O que vem a ser então cores que estão na frente da luz?

São as cores que vão do vermelho ao amarelo ouro: vermelho, salmão, rosa, alaranjado e amarelo ouro.

No ambiente da criança pequena as cores do amanhecer para a vida deveriam prevalecer ajudando-a a ficar
o mais tempo possível nessa atividade corporal formadora sonhadora.

As outras cores que estão atrás da luz (amarelo limão, verde, azul e violeta) poderão estar no ambiente da
criança porém não em quantidade que sobrepõe às cores da frente da luz.

Devemos nos lembrar sempre que as cores ajudam e interferem na formação e manutenção orgânica da
criança e do adulto; existe até a cromoterapia como auxílio na cura de doenças orgânicas e psíquicas.

Para o ambiente da criança pequenina, quanto menos cores inadequadas estiverem presentes, maior será o
benefício na formação de seus órgãos.Os móveis na cor da madeira e os brinquedos se possível nas cores da
natureza e tudo sempre em tons pastosos e suaves colaborando para não solicitar da criança um acordar
prematuro de seu intelecto. Toda vez que a criança recebe um estímulo, tanto os que entram pela visão
como audição, olfato, paladar e tato, células nervosas estão sendo gastas para sua decodificação. A palidez
infantil, a grande excitabilidade das crianças, o seu nervosismo ou apatia, muitas vezes são conseqüências do
bombardeio neurosensorial que as crianças recebem de seu ambiente desde a mais tenra idade.

Como percebemos o nascimento da consciência na criança? Através do desenho do sol.

Nos desenhos infantis livres podemos observar que a criança sempre desenha o sol amarelo à esquerda da
folha de papel. Isso denota que o hemisfério cerebral direito (responsável pela orientação de seu corpo no
espaço, e que domina sobre seu lado esquerdo) é que está se desenvolvendo e dominando nos primeiros
seis, sete anos de vida.

Na medida que o sistema neurológico amadurece a criança passa a desenhar o sol no meio da folha (fase da
simetria) e, quando por volta dos seis, sete anos o desenho do sol é feito no canto direito da folha, isto
demonstra que o hemisfério esquerdo (responsável pela orientação temporal) está amadurecido para as
atividades intelectivas estando a criança assim pronta para a aprendizagem acadêmica.

Ainda sobre os desenhos infantis, quando a criança desenha um arco em cima de seu desenho ela está nos
sinalizando que ainda precisa da nossa proteção, que ainda não está pronta para um ambiente acadêmico.
Seu corpinho (amadurecimento neurológico) ainda não se encontra em prontidão para a alfabetização. Esta
requer da criança a abstração que só se adquire com o amadurecimento neurológico.

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