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Liberdade humana como fundamento da ética social

“Os primeiros que sistematizaram o conceito de liberdade foram os gregos. Na sua génese a
liberdade era usada para designar a diferença que existia entre os homens livres e os escravos.
Os gregos usaram o termo eleuteros, livre, para designar o homem não escravizado.” (MORA,
2001, p. 407).

De acordo com Marx (2010),


A liberdade equivale, portanto ao direito de fazer e promover tudo que não prejudique a
nenhum outro homem. O limite dentro do qual cada um pode mover-se de modo a não
prejudicar o outro é determinado pela lei do mesmo modo que o limite entre dois terrenos
é determinado pelo poste da cerca. Trata-se da liberdade do homem como mónada isolada
recolhida dentro de si mesma”... O direito humano à liberdade não se baseia na
vinculação do homem com os demais homens, mas ao contrário, na separação entre um
homem e outro. Trata-se do direito a essa separação, o direito do indivíduo limitado,
limitado a si mesmo. A aplicação prática do direito humano à liberdade equivale ao
direito humano a propriedade privada. (MARX, 2010, p.49).

A liberdade é um atributo do ser social, enquanto género humano, mas com a propriedade privada,
através da produção do trabalhador, e do estranhamento a liberdade se perde como objecto.

A responsabilidade e ética social estão directamente relacionadas sociabilidade humana, mas


expressas por meio de diferentes concepções, condicionando as diferentes visões de mundo,
nosso modo de pensar e agir, nosso modo de ser. A coexistência de projectos distintos em
permanente confronto faz reconhecer as diversidades, limites e contradições, que também se
manifestam no Serviço Social.

Estas indicações sinalizam que os diferentes modos de compreensão da sociedade implicam


directamente na formação ética dos indivíduos, em seus valores, seu pensar, agir e se
organizar, isto é, forjam ideários, consolidam hábitos, comportamentos, um modo de ser.
Ideários e sonhos que podem apontar para a construção de projetos coletivos e societários ou
não acreditar nestes como possibilidade histórica, caracterizando diferenças e conflitos
significativos na contemporaneidade. Essas ponderações permitem afirmar que está implícito
ao homem, em sua sociabilidade e historicidade, um exercício permanente de acção e
reflexão, uma práxis, cujo entendimento tem aqui o sentido diferenciado de actividade prática.
É compreendida como categoria central, pois vai além da interpretação das coisas.
A vivencia moçambicana em termos éticos

Os tempos são diferentes e a intensidade dos problemas varia de época para época, dessa
forma, tal afirmação de Ferry (2007, p.117), é passível de questionamentos. Primeiro, não
podemos comparar negativamente dois episódios situados em tempos distantes, pois não
temos nenhum testemunho vivo que nos garanta afirmar a supremacia da crise na emergente
modernidade em comparação à crise ética contemporânea. Segundo, as provas documentais
foram produzidas por homens situados em determinados lugares sociais e com posições
políticas e ideológicas a defender.

Actualmente em Moçambique há uma profunda crise, causada por uma ruptura que separa os
homens uns dos outros.

Assistimos actualmente a um processo de enriquecimento gradual do individualismo.


Podemos caracterizar o homem moçambicano como um ser isolado, preocupado consigo e
longínquo da realidade em seu torno. Estamos numa era em que os vizinhos têm pouco tempo
de conversar, onde cada um fica isolado no seu quintal com murro alto e com arame farpado,
portas e janelas gradeadas devido ao medo que cada um tem pelo outro.

Nesse contexto, encontramos a formação de um campo de relações que em retro alimentação


que gera o que Ortega (2004) chama de “tiranias da intimidade”, processo no qual ao invés
da potencialização de troca entre os sujeitos, gera-se um olhar íntimo tomado em uma esfera
individual, tornando as relações mais distantes, ainda que aparentemente próximas.

Não queremos, ao apresentar os problemas citados acima, firmar uma acepção pessimista
sobre o homem actual, mas enfatizar como ele vem se distanciando de um princípio relevante
para sua própria realização enquanto ser humano, a relação.

O que tem ocorrido em Moçambique é o ser voltado para si mesmo – “inversão”, o que,
paradoxalmente, lhe tem causado grandes aflições.

Assim, dentro da abrangência das circunstâncias do mundo Moçambicano, está-se revelando


cada vez mais difícil a generosidade e reciprocidade das pessoas, quem sabe, seja um dos
motivos que tem levado o homem aos conflitos em relação a sua existência.

Segundo Frantz Fanon “a pessoa só é considerada humana na medida em que ela é


reconhecida pelo outro. É neste outro que se condensa o sentido da sua vida”, isto é, o
reconhecimento que um traz para o outro como seu semelhante é que dá sentido à sua vida,
(Cfr. FANON, 1975:180).
Diferença entre ética social e a lei tendo em conta o crime e o pecado

A Ética Social são os princípios filosóficos e morais que, de uma forma ou de outra,
representam a experiência colectiva de pessoas e culturas. Esse tipo de ética geralmente
age como uma espécie de “código de conduta” que governa o que é e o que não é
aceitável, além de fornecer uma estrutura para assegurar que todos os membros da
comunidade sejam cuidados (BOFF, 2003, p. 32).

A ética padrão é tipicamente orientada pela moral individual que determina o certo ou errado.

Portanto, a lei, como sustenta Ferreira, (1996):

é um grande aliado para agirmos correctamente, pois além de ser algo colocado
obrigatoriamente para toda a sociedade, é um conjunto de regras que compreende
igualdade, direitos e obrigações para todos. Já que algumas pessoas têm dificuldade de
seguir os valores éticos por livre e espontânea vontade, a lei favorece para o seguimento
dessas regras, essenciais para o bom convívio social, sem que um ultrapasse os direitos
dos outros (FERREIRA, 1996, p. 13).

A conduta do ser humano faz com que cada um tenha uma concepção do que pode fazer e se
vai ser aceito pela sociedade e do que não se pode fazer, porque em razão dessas práticas
erradas sofrerá algum tipo de sanção social.

As pessoas percebem as coisas de maneira diferente, no entanto, e várias culturas


compartilham crenças frequentemente opostas; como tal, o que é considerado “certo” para um
grupo pode não ser necessariamente e universalmente consistente e definir a ética social como
um absoluto é muitas vezes muito difícil.

Existem alguns padrões gerais que os membros da maioria das sociedades devem aderir no
decorrer da interacção regular entre si. Às vezes, isso se reflecte em leis ou códigos legais
como proibições contra assassinato e roubo, por exemplo.

Textos religiosos como a Bíblia às vezes podem ser usados como base para o clima ético de
uma sociedade. Mais frequentemente, porém, são coisas que devem ser feitas ou não feitas
por nenhuma outra razão que sejam as “coisas certas a fazer”. A proverbial “regra de ouro” de
“faça aos outros o que gostaria que fizessem a você”. se encaixa bem neste modelo.
Bibliografia

Boff, L. (2003). A ética e a formação de valores na sociedade. São Paulo.

FANON, Frantz. Pele negra, máscara branca, 2ª edição, Paisagem, Porto, 1975.

Ferry, D. (2007). Eclipsi da ética social na era contemporânea. Rio de Janeiro.

MARX. K. Sobre a questão judaica. São Paulo: Boitempo, 2010.

MORA, J. F. Dicionário de filosofia. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

ORTEGA, Francisco. Por uma ética e uma política da amizade. São Paulo: Perspectiva,
2004.

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