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Página 273 - “Eu gostaria de dizer, antes de mais nada, qual foi o objetivo do meu
trabalho nos últimos 20 anos. Não foi analisar o fenômeno do poder nem elaborar os
fundamentos de tal análise. Meu objetivo, ao contrário, foi criar uma história dos
diferentes modos pelos quais, em nossa cultura, os seres humanos tornaram-se sujeitos”.
Foucault é famoso conhecido como filósofo do poder. Mas ele próprio aqui inverte esse
imaginário. Em retrospectiva ele pensa: O que eu estava tentando entender?
Estava tentando entender o sujeito. Como o sujeito se torna sujeito. Já que o sujeito é
FRUTO das relações de poder.
Entender como se exerce o poder é entender como se cria sujeitos. Ele é fruto das
relações de poder externas (da sociedade) e dele mesmo. Ele mesmo é relação de poder
consigo mesmo.
Ao analisar como os seres humanos se tornam sujeitos, Foucault vai dizer que existem
três tipos de formas de objetivação, ou seja, como objetivar os indivíduos a serem
aquilo que são:
Se um dos objetivos da filosofia é impedir que a razão ultrapasse os limites daquilo que
é dado na experiência existe um papel na filosofia que é impedir os excessos da
racionalidade política.
Existe relação evidente entre racionalização e excessos de poder. Foucault não está
dizendo que a razão é necessariamente leva ao totalitarismo, mas ele diz que a desrazão
pode ser tão opressora quanto...
COMEÇA AQUI:
Pensando nos sujeitos que são assujeitados pelas relações de poder mas não são
passivos completamente a essas relações de poder, e Foucault está pensando em termos
de revolução, reforma, insurreição, de resistência mesmo ao poder... ele propõe seu
caminho:
“E, para compreender o que são as relações de poder, talvez devêssemos investigar as
formas de resistências e as tentativas de dissociar essas relações”.
O objetivo dessas lutas de resistência, ele diz, “é atacar, não tanto tal ou tal
instituição de poder ou grupo ou elite ou classe, mas, antes, uma técnica, uma
forma de poder”.
“Essa forma de poder aplica-se à vida cotidiana imediata, que categoriza o individuo,
marca-o com sua própria individualidade, liga-o à sua própria identidade, impõem-lhe
uma lei de verdade, que devemos reconhecer e que os outros têm de reconhecer nele.
É uma forma de poder que faz dos indivíduos sujeitos. Há dois significados para a
palavra sujeito: sujeito ao outro através do controle e da dependência, e ligado à sua
própria identidade através de uma consciência ou do autoconhecimento. Ambos
sugerem uma forma de poder que subjuga e sujeita”.
Aqui surge o que de certa forma chamamos de identitarismo. Eu sou um sujeito, mas de
que? Qual minha sexualidade, meu gênero, minha raça, quais coisas compõem minha
subjetividade, quais relações de poder tentam suprimir minha subjetividade ou como
fazer a resistência ou a revolução contra isso...
Por isso Foucault é tão importante para os movimentos sociais, negros, lgbts,
feminismos....
As lutas contra as formas de subjetivação tão se opondo a esse estado moderno que se
organizou em termos de poder pastoral e que tem como objetivo atingir a subjetividade
dos indivíduos....
Antes de passar pro Fábio, gostaria de citar uma passagem do texto, página 281, 2º
parágrafo:
“Não acredito que devêssemos considerar o Estado Moderno como uma entidade que
tenha se desenvolvido acima dos indivíduos, ignorando o que eles são e até mesmo sua
própria existência, mas, ao contrário, como uma estrutura muito sofisticada, na qual os
indivíduos podem ser integrados sob uma condição: que essa individualidade fosse
moldada em uma nova forma e submetida a um conjunto de modelos muito
específicos”.
O estado moderno leva muito a serio a ideia de que existem indivíduos e que
precisamos produzir saber sobre eles para melhor governá-los de acordo com os
interesses gerais do próprio estado.
“Talvez o objetivo hoje em dia não seja descobrir o que somos, mas recusar o que
somos”
Isso não essencialmente, mas recusar aquilo que nos dizem que somos.
“Temos de imaginar e construir o que poderíamos ser para nos livrarmos desse ‘duplo
constrangimento’ político, que é a simultânea individualização e totalização própria às
estruturas do poder moderno. A conclusão seria que o problema político, ético, social e
filosófico de nossos dias não é tentar libertar o indivíduo do Estado nem das instituições
do Estado, porém nos libertarmos tanto do Estado quanto do tipo de individualização
que a ele se liga. Temos de promover novas formas de subjetividade através da recusa
(DA RESISTÊNCIA) desse tipo de individualidade que nos foi imposto há vários
séculos”.
Não existe algo a ser descoberto sobre nós mesmos, mas algo a ser construído.
Recusar aquilo que somos, porque que vamos assumir as rédeas daquilo que somos.
Portanto, a questão é:
Onde há poder, há resistência, porque só há poder quando o sujeito, o homem, pode no
limite, escapar. Foucault diz:
“Não há, portanto, um confronto entre poder e liberdade, em uma relação de exclusão
(onde quer que o poder se exerça, a liberdade desaparece), mas um jogo muito mais
complexo: nesse jogo, a liberdade aparecerá como condição de existência do poder”.