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Michel Maffesoli – A Violência totalitária - ensaio de antropologia política

Porto Alegre: Sulina, 2001.


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Síntese:
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Prefácio
Introdução
- Observar respeitosamente a pluralidade do dado social, não querendo, através da
análise, uniformizar seus diferentes aspectos.
- Fazer uma antropologia do político que ultrapasse as fronteiras pré-definidas entre vida
social e vida natural.
- Permitiu-se o crescimento da chamada ideologia produtivista, mas estamos em um
ponto de revisão de suas benesses – capitalismo tardio: revisão e desilusão.
- Questionar as grandes formas: “progresso”, revolução, poder.
- Intenção de superar a dicotomia capitalismo x socialismo,
para mostrar que o totalitarismo pode emergir das mais
variadas formas sociais.
- O poder atua como um simulacro na teatralidade social.
- Não existem dicotomias como bem x mal, completamente,
mas um “misto complexo” que constituiu a tessitura do
social.
- Primeiro capítulo: delinear os contornos do que se chama
poder (complementaria que ele insere a ideia de potência
como mais ampla).
Capítulo 1 – Poder Potência
1 Preliminares
- Observar a pluridimensionalidade do fato social – preservar a diversidade do visível.
- O vivido é construído pela vida e não arbitraria e abstratamente preenchido depois por
ela.
- Foco no “conhecimento espontâneo”.
- Nesse processo é fundamental o papel do jogo das diferenças (que o etnocentrismo, por
exemplo, apaga).
- O poder ou a dominação têm para alguns essa função de denegação (p. 37).
- Entre os pólos estrutural e dinâmico, a violência, na sua dualidade, desempenha uma
função de ligação ou de indicador. A “violência social”, como simbolização da força,
vivida coletivamente e ritualmente, assegura a coesão e o consenso; a “violência
sanguinária” se manifesta, quando há impossibilidade de simbolização, ou quando
esta é imperfeita, e significa o retorno do reprimido (p. 39) - violência simbólica
mantêm a coesão. Pareceu-me semelhante a ideia de hegemonia, pois ela não se
estabelece apenas pela violência ou pela legitimidade construída, mas pela
combinação de ambas, sempre.
- Resumo: não é “preto no branco e vice-versa", mas espectro amplo e diferentes
combinações de cores, de acordo com cada momento.

2 O poder como universum


- Estado: uno; Sociedade: o lugar das diferenças.
- Atomização social (fruto da industrialização e da tecnização da sociedade moderna,
através da ideologia da produtividade) explica o desejo de dependência. Isso resulta
num conformismo social, que o autor chama de conformismo coercitivo.
- Relação ambígua e intrínseca entre poder e proteção (logo, entre dominação e
proteção).
- A legitimação da dominação pela instrumentação técnica abre espaço para o fenômeno
totalitário.
- Fenômeno natural da luta pelo monopólio da mediação pelas instituições (luta por qual
classe/ função social terá preponderância como locutor especializado e legitimado,
por exemplo, a Igreja na Idade Média). Essa atuação não passa de um engodo
“garantida pelos técnicos em nome de um saber especializado”.
- Burocracia do Estado se concretiza nos partidos e nos sindicatos (não são pesos contra
o poder, mas anexos ao poder).
- Todo poder político é conservador – agem sob discurso de libertação e de liberdade, em
prol do bem comum, mas, na prática, mantêm a estrutura existente, mesmo sob
“violência polêmica”.
- Lider: figuração, representando essa pretensa “unidade”.
- Estado envolve luta de poderes e negação das diferenças - produção de uma “unicidade
ideológica”, recusando o pluralismo em nome da adoção de um viés.
- Há também o outro lado dessa dinâmica, que o autor não desenvolve bem no momento,
que é o desejo de submissão.
- Entretanto, o modelo coercitivo só é aceito em ocasiões excepcionais - não depende só
da coerção.
- Monopólio da fala leva a soberania. Tomada de fala sobre espaço para a contestação e o
dinamismo – estabiliza os sentidos.
- Estado não tem todo o poder, existe uma pluralidade. Essa pluralidade exerce tensão e
mudança (creio que seja na perspectiva de que o poder não é unilateral nem se
sustenta sozinho, apenas pela coerção. Ele é dinâmico e, inevitavelmente, irá se
modicar pela tensão social existente na enunciação, nas pressões existentes pelas
diferentes camadas sociais).

3 Intermezzo: a articulação do poder com a potência


- A coisa política não se resume ao poder e a luta pela sua obtenção. Há um algo a mais,
que o ultrapassa e que permite o múltiplo, a pluralidade e as diferenças. Isso é a
potência.
- O Estado tem uma lógica e uma estrutura, mas o político não se resume ao seu poder e
a sua narrativa de unicidade.
- Economia influencia o político - produtivismo instaura o poder de coagir (por ex.: uma
dívida que, não paga, fará existir punições).
- Espetacularização do Estado também no fato de “conceder” espaço para parecer
democrático - abre-se espaço para controlar, é um falso espaço.
- Referência à espetacularização de G. Debord.
- Meios de comunicação de massa também presentes neste espetáculo, gerando a
sensação de unicidade (acho que se aproxima da criação de públicos teorizada por
Tarde).

4 A potência como dinamismo social


- Potência social é um conjunto de elementos interligados, articulados: força, coletivo,
diferença...
- Foco nos micro eventos cotidianos como atos permanentemente fundadores do
dinamismo social = isso me lembra muito Certeau com a concepção de invenção do
cotidiano como forma de resistência = cita os “deixados de lado”.
- Em outras épocas outros elementos serviam de “função imaginal”, ou seja, de elemento
integrador e formador da coletividade. Na Idade Média, citada pelo autor, era o
vínculo comunitário o integrador.
- Fala de impulso ao bem comum como o assegurador da “ecologia” do indivíduo com o
seu grupo, seja isso chamado de virtude ou de honra – pelo que entendi, tem algo que
liga as pessoas, que não as fazem agir em prol de “cada um por si”. Foi com a
atomização da Revolução Industrial que isso se desfez, em parte.
- Na minha síntese: poder limita, simplifica, enrijece. Potência amplia, diversifica,
fluidifica.

5 Estruturação da potência
- Potência é algo sempre presente no social, seja em maior ou em menor grau.
- A força funda uma sociologia da potência (entendi no sentido de que é o movimento, a
resistência, o viver que funda a potência. A insubmissão, a inconformação).
- Em Durkheim, Marx, Weber, Simmel: a solidariedade é que funda a sociedade, foi a
industrialização que criou a ilusão da individualidade.
- Negação do coletivo: mecanismo de neutralização das relações sociais.
Capítulo 2 – O processo de recorrência nos fenômenos revolucionários
Capítulo 3 - Sociogênese do progresso e do serviço público
Capítulo 4 – Totalitarismo e indiferença
1 Da organicidade ao individualismo
2 A Organização totalitária
1 O poder sagrado
- Retorno do reprimido – o coletivo que o individualismo tenta negar se exprime em
formas perversas que são o totalitarismo e o racismo. - Pelo que entendi, o retorno do
reprimido ocorre pois, numa sociedade atomizada, permanece a necessidade de uma
coletividade. Entretanto, sem a potência, mas apenas pelo poder, o tipo de coletivo
que se forma é o totalitarismo e o racismo, na tentativa de criar essas “unicidades
perversas”. Por exemplo: nós, os brancos, os negros, ou qualquer outra forma de
exclusão sob a justificativa de uma “unidade”. Na psicanálise, retorno do recalcado é
a manifestação daquilo que negamos, mas manifestando-se de forma inconsciente e
incontrolável.
- É necessário traçar as linhas gerais do totalitarismo: “O totalitarismo não é [...] a
combinação de valores opostos, mas, a nosso ver, a solidariedade orgânica; é a
resposta desvairada que a organização economista acha para um individualismo que
lhe foi necessária no início, mas que traz em si elementos de anarquia, de
desagregação que não são integráveis. Em suma, o individualismo burguês de um
capitalismo concorrencial não mais funciona quando o que está em questão é a
racionalização total da economia ou da existência. O totalitarismo, que se deve tomar
aqui como uma noção exploratória, pretende realizar, em torno de um valor
dominante, uma unidade necessária à perdurância social; entretanto, essa unidade,
melhor seria dizer essa interdependência, será obtida de cima, por um órgão
centralizador, e não mais a partir da espontaneidade social. (p. 243). - achei muito
interessante pois faz total sentido se pensarmos no advento dos regimes totalitários
em 20 e 30, no mundo, como resposta ao declínio do liberalismo como organizador e
garantidor da sociedade.
- Totalitarismo então como um “mecanismo de centralização”.
- Poré, a racionalização do poder tende a eliminar todas as diferenças, intervindo cada
vez mais na vida cotidiana, à exemplo do romance 1984 (Orwell) e a inserção da
onipresença do Big Brother.
- Caráter sagrado do poder: calcado na lei e na gestão, torna os funcionários (a
burocracia) como os “doutores da lei”, os únicos legitimados para interpretar e mediar
o social - técnica e especialização.
- Assim, o sagrado do poder se constrói no Estado sendo esse estruturado como uma
Igreja: transmitindo dogmas, tendo seus profetas e legitimando seu poder pela sua
“superioridade”.
- Isso se faz através da administração dos signos - domínio da fala especializada.
- Portanto, há um misticismo na organização burocrática, tanto nessa organização, quanto
na ideia de abnegação do funcionário em prol do bem comum, que acaba fazendo
desaparecer o indivíduo frente à estrutura do poder.
2 O desenvolvimento da burocracia
- A “ideologia do serviço público” tende a se acentuar quando a socialidade se dilui na
atomização individualista – sobressalto centralizador que pretende realizar
arbitrariamente a solidariedade esquecida.
- A sociedade industrial, em sua complexidade, necessita de um vasto aparelho, no qual
trabalhem indivíduos anônimos em prol da eficácia.
- Totalitarismo: intervenção estatal sobre o conjunto da vida; líderes especializados;
resposta ao individualismo.
- Negação da iniciativa individual e da diversidade.

3 A justificação moral
- Justificação do poder sempre em nome de um “melhor”, uma promessa futura, um
“dever-ser” = leva ao totalitarismo.
- Racionalismo exacerbado nessa justificação (assim como na sociedade como um todo).
- “O justiceiro que adormece em cada reformador não hesita em recorrer à coerção” (p.
262)
- Caráter pedagógico
- Entretanto, “o querer-viver social vem sempre se exprimir na duplicidade ou na
dissimulação. Há sempre meios de encontrar a prática ilegal, a brecha pouco perigosa
que permite viver não contra, mas ao lado da imposição.” (p. 264) = para mim muito
próximo da Invenção do Cotidiano de Certeau.
- Vigilância generalizada.

3 A imposição socialista
4 Estrutura de serialidade
Conclusão

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