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Dissertação sobre o Sector das Telecomunicações

I – Historial da evolução e situação actual das telecomunicações

A telecomunicação, consiste na transmissão de sinais, mensagens, palavras, escritas, imagens, sons ou


informações de qualquer outra natureza, por fios, sinais óticos, de rádio ou de sistemas eletromagnéticos. A
telecomunicação ocorre quando existe troca de informações entre diferentes partes mediante o uso da
tecnologia, algo que é bem comum hoje em dia, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade no seu
todo.
Mas, para chegarmos ao que é as Telecomunicações de hoje, a humanidade, na sua necessidade de interação,
já se comunicava através de fumos (1200 a.C.: Homero comenta, na famosa obra “Ilíada”, a respeito de
sinais de fumaça), de pombos-correios (700 a.C. a 300 d.C., os pombos-correios foram usados nas
Olimpíadas). Nos anos de 1791, os jovens irmãos Chappe, na França, iam para escolas diferentes, mas
ficavam no mesmo campo de visão. Desenvolveram um sistema de sinalização, como um semáforo, para
que pudessem mandar mensagens um para o outro, através da movimentação de seus braços com um bastão,
cujas posições remetiam às letras do alfabeto. Em 1793, os mesmos irmãos Chappe desenvolveram o
primeiro sistema semafórico comercial, entre duas localidades próximas de Paris. Napoleão acreditou que
essa era uma boa ideia e desenvolveu sistemas para cobrir as principais cidades da França, o que se estendeu
para Itália, Alemanha e Rússia. A velocidade era de aproximadamente 15 caracteres/minuto.

O industrial francês Joseph-Marie Jacquard, foi fundamental para um dos grandes saltos da revolução digital.
Em 1801, inventou um método que consistia em usar cartões perfurados para controlar o processo dos teares
na sua indústria de tecelagem. Em 1937, Cooke e Wheatstone obtiveram uma patente para telégrafo e uma
série de inventos e descobertas marcou para sempre o despertar da era digital que vivemos hoje:
computadores digitais, sistemas binários, circuitos eletrônicos, máquinas capazes de lidar com palavras,
músicas, imagens e números. Em 1843, a inglesa Ada Lovelace publicou no Scientifc Memoirs, artigo com
suas ideias sobre uma máquina de calcular com poder de processamento que servisse a qualquer forma de
informação, o que ajudou a plantar as sementes da era digital que nasceria cem anos mais tarde. Em 1843, o
FAX foi inventado pelo físico escocês Alexander Bain e em 1844, Morse demonstra seu telégrafo elétrico,
enviando uma mensagem de Baltimore das câmaras da Corte Suprema de Washington, DC. A frase, “What
hath God wrought?” (O que Deus fez?) marcou uma nova era na comunicação e os primórdios do telecom.
Em 1866, a primeira linha transatlântica de telégrafos foi feita com sucesso. Antes da instalação do
cabeamento, uma mensagem entre os Estados Unidos e a Europa levava 11 dias para ser transmitida.

Em 1875, a teoria do telefone de Alexander Graham Bell foi confirmada numa fase experimental. No mesmo
ano, as primeiras palavras foram transmitidas por telefone. E já em 1876, Bell inventa o Telefone, e a
primeira sentença completa foi transmitida por telefone em Boston. A primeira conversa por linha aérea foi
realizada, entre Nova York e Chicago, em 1892 com quase 1.450 km de distância entre os pontos. Em 1902,
foi estabelecido a primeira conversa de longa distância por cabos subterrâneos, de Nova York a Newark,
com mais de 15 km entre os pontos. Em 1907, é o início da oferta dos serviços comerciais transatlânticos
sem fios, estabelecido por Guglielmo Marconi, com estações em Clifden (Irlanda) e Glace Bay (Nova
Escócia, Canadá).
A primeira demonstração de uma TV através do uso de bulbos de neon e discos mecânicos de escaneamento,
ocorreu em 1926. No ano seguinte, Philo Farnsworth demonstra a primeira Televisão para potenciais
investidores através da transmissão da imagem de um cifrão ($).

Os “avós” dos celulares foram os rádios comunicadores, que eram usados em aviões e barcos. Os primeiros
protótipos desses telefones móveis foram criados nos Laboratórios Bell, nos Estados Unidos em 1947. Em
plena Guerra Fria, a então União Soviética desenvolveu o serviço Altay, de telefonia móvel, no ano de 1958.
O serviço permitiu o uso de telefones nos carros e chegou a estar disponível em até 30 cidades russas. Em
1961, os cientistas russos apresentaram ao mundo um telefone móvel que pesava apenas 70 gramas
(praticamente metade do que pesam os Smartphones mais sofisticados hoje). Um sucesso: o telefone cabia na
palma da mão! Em 3 de abril de 1973, surge, então, a chamada primeira geração de celulares, mas que seria
comercializada 10 anos depois. Em 1974, o primeiro satélite doméstico entra em operação e em 1981, o
primeiro serviço de Telefonia móvel é oferecido na Arábia Saudita e na Escandinávia.
Em plena Guerra Fria, a internet começa a ser pensada para proteger os dados de Defesa dos Estados Unidos
de possíveis ataques. O Pentágono financiou projetos de pesquisa nas universidades norte-americanas para o
desenvolvimento de redes que pudessem interligar bases de dados em diferentes lugares do território dos
Estados Unidos, replicando aquelas bases mais estratégicas para o país. Criou-se, assim, uma malha que
permitiria recuperar as informações em caso de ataque. A internet é a rede das redes. A partir da criação de
protocolos, que criaram uma linguagem comum entre redes locais, nasceu o que hoje conhecemos como a
internet, na década de 1970. Antes que a Universidade de Berkeley desenvolvesse os protocolos da rede das
redes, já havia redes locais, principalmente nas universidades e em órgãos de governo. Mas essas redes locais
não conversavam entre si. No final dos anos 1980, a internet – ou o que ela viria a ser – começou a deixar as
universidades e os órgãos de Defesa e ganhar um contorno mais comercial. Em 1982, o primeiro serviço de
teleconferência colorido é oferecido e em 1992 nasce a World Wide Web (www).

Em 1991, houve a primeira transmissão do novo formato digital de sinal de celular, o 2G. Além de
conversas, o novo padrão também possibilitava troca de mensagens por meio do serviço SMS, que no Brasil
ficou mais conhecido como torpedo. Três anos depois, a Nokia lançou o 9000 communicator, primeiro
celular com acesso à internet. Em 1998, um padrão do 2G, chamado 2.5G, adicionou o acesso à internet por
telefone celular usando padrão GPRS: eis aí o nascimento da internet móvel.
Em 1998, os primeiros conteúdos disponíveis para download foram compartilhados na Finlândia. Um ano
depois, no Japão, surge o primeiro serviço completo de acesso à internet pelo celular.
Em maio de 2001, surgiu no Japão a primeira rede 3G, transição que praticamente se completou em 2006.
Em 2005, na Coreia do Sul, iniciou-se a comercialização da tecnologia 4G WiMAX. Em 2007, surgiu, num
Smartphone, a primeira tela multitoque. Com o tempo, as tecnologias foram se aperfeiçoando e os aparelhos
também. A transmissão de dados também se desenvolveu, e essa evolução é dividida em gerações:
1G (transmissão analógica), 2G (transmissão digital), 3G (transmissão de dados por pacote), 4G
(transmissão de grande volume de dados) e 5G (maior velocidade e capacidade de transmissão e tempo de
latência muito inferior)
A chamada convergência digital permitiu que os telefones celulares se tornassem verdadeiros computadores.
Esse encontro da informática com a telefonia tem muitos marcos importantes. Entre eles, o uso das válvulas
termiônicas, que serviam como interruptores em circuitos eletrônicos, uma ideia do engenheiro britânico
Tommy Flowers, em meados dos anos 1930.
No contexto nacional, desde o período colonial foi criada os CTT (Correios, Telégrafos e Telefones), que
prestava os serviços de Correios (envio, receção e distribuição de cargas e correspondências) e das
telecomunicações (telefones, telégrafos e fax). Depois da independência e com a própria evolução e
dinâmica do sector, em 1987 o Governo decidiu separar os serviços dos correios e das telecomunicações,
através da criação da Direção Geral dos Correios e da Direção geral das Telecomunicações.
Em março de 1989, foi criado a Guiné Telecom através da privatização da Direção Geral das
Telecomunicações, no quadro duma parceria público privada, com a Rádio Marconi que detinha 51% do
capital e o Estado da Guiné Bissau ficou com 49%, para prestar serviços de telecomunicações num regime de
exclusividade, por um período de 20 anos!
Em 1999, foi criada a ICGB (Instituto de Comunicação da Guiné Bissau) e em 2010 foi criado a ARN, que
substituiu a ICGB, tendo como objetivo, apoiar o Governo na coordenação, tutela e planeamento do sector
da tecnologia da informação e comunicação, assim como a regulação, supervisão, fiscalização e
representação técnica do sector dos TIC.
Em 2003, o Governo liberalizou o sector das telecomunicações, sem fortalecer o operador histórico, nem
observância das clausulas de exclusividade que detinha a Guiné Telecom, o que provocou algumas
perturbações no relacionamento com a Portugal Telecom, que veio a ser ultrapassado em 2004 com a
assinatura dum novo acordo de parceria.
Em dezembro de 2003, foi criada a Guinetel, a primeira operadora de telefonia móvel no País, cujos passos
foi seguido pela Areeba (Grupo INVESTCOM), em Agosto de 2004. Em 2006 a MTN comprou a
INVESTCOM por 5.5 mil milhões de Dólares USD, e passou a deter a Areeba, transformando-a em Areeba-
MTN Guiné Bissau. A Orange Bissau, terceira operadora de telefonia móvel, entrou no mercado nacional em
2007.
Devido ao surgimento das operadoras da telefonia móvel e a incapacidade da Guiné Telecom em satisfazer a
necessidade do mercado, os clientes direcionaram as suas necessidades para as operadoras da telefonia
móvel, provocando a queda acentuada dos clientes na Guiné Telecom. Paralelamente a própria Guinetel, não
escapou a mesma problemática, porque com a retirada da Portugal Telecom como acionista em 2010,
deixando o Estado como único acionista, a pouca capilaridade de rede, o surgimento de 3G no mercado
nacional, aliado a falta de investimento nesta tecnologia, impossibilitando os clientes a utilizarem os serviços
inovadores (internet), precipitou a migração para outros operadores que estavam em condições de satisfazer
as suas necessidade, precipitando o desaparecimento das Empresas do Estado no Sector das
telecomunicações.
Em 2016, o Governo da Guiné Bissau, preocupado com a restruturação do Sector dos TIC, com o apoio do
Banco Mundial, decidiu fazer uma ligação direta a um cabo submarino internacional em fibras óticas, para
ter uma melhor conexão e cobertura geográfica em banda larga de elevada capacidade e ainda, a redução dos
custos dos serviços de telecomunicações/TIC. Aderiu ao Projeto WARCIP (“West Africa Regional
Communications Infrastructure Program”) do Consórcio ACE, proprietário do cabo submarino ACE, que
faz a ligação entre a Europa e a África. No quadro da adesão ao WARCIP, foi criada a SCGB (Sociedade
dos Cabos da Guiné Bissau) para deter a propriedade e proceder à exploração das infraestruturas de
conectividade internacional e nacional em regime de acesso aberto, através duma parceria público-privada,
cujos acionistas são, atualmente, o Estado da Guiné-Bissau (49%), a Orange Bissau SA (25,5%) e a
Spacetel-MTN Guiné-Bissau SA (25,5%). A situação da inoperacionalidade da Guiné Telecom SA e da
Guinetel SA não lhes permitiu, ainda, fazer parte da SCGB mas, ficando plasmado no Pacto de Acionistas da
SCGB, que quando estiverem operacionais, irão aderir à sociedade, através da participação nas ações detidas
neste momento pelo Estado.

Está em curso a instalação de equipamentos na ARN, que irá garantir uma melhor gestão e controle de
tráfego das operadoras no mercado, o que vai certamente permitir um melhor controle de tráfego e em
consequência um aumento de receitas para a ARN.

II – Perspetivas do sector dos TIC no âmbito nacional e Internacional

O sector das telecomunicações, no mundo em geral conhece uma enorme frenesia, devido ao surgimento da
tecnologia 5G, e as suas consequências no especto social, económico-financeiro e geopolítico.
Paralelamente, assiste-se a uma distorção de capilaridade das redes de 3G, 4G e 5G, entre os países
desenvolvidos, em vias de desenvolvimento e emergentes, e a Guiné-Bissau, não escapa a esta realidade.
A entrada em funcionamento da conexão com o Submarino ACE, a ser gerida pela SCGB, vai permitir um
melhor escoamento de trafego de dados, tanto de entrada como de saída, através da banda larga. Esta
infraestrutura tão importante vai aumentar a conectividade com o internacional, que até este momento está a
ser assegurada por uma ligação via terrestre que a Orange e a MTN, cada um dos operadores tem com o
Senegal, mas de capacidade reduzida, que viola duma certa forma as disposições previstas na Lei de Base
das TIC (art.º 57 da Lei nº5 de 2010), que reserva para o Estado a competência de “assegurar a existência,
disponibilidade e qualidade de uma rede pública de telecomunicações endereçada, denominada rede
básica, que cubra as necessidades de comunicação dos cidadãos e das atividades económicas e sociais no
conjunto do território nacional e assegure a todos os operadores de rede e prestadores de serviço de
informação e comunicações as conectividades e as ligações necessárias ao exercício das suas
atividades.)”

O Governo, nos finais de 2010, iniciou e continuou o projeto de relançamento das Sociedades Guiné
Telecom & Guinetel, como forma de dinamizar as TIC no país e terminar com a bipolarização do mercado
pelos dois Operadores Orange Bissau e MTN, situação que tem um impacto negativo na diversificação da
oferta de novos serviços, na fixação de preços dos produtos e serviços, e sobretudo num verdadeiro ambiente
concorrencial que possa beneficiar os utilizadores. Em agosto de 2021, o Governo assinou um contrato de
Assistência Técnica de Consultoria em Transação com a SFI (uma entidade do Grupo Banco Mundial), e o
processo de relançamento, encontra-se numa fase avançada, para a sua conclusão.
Com o relançamento destas duas sociedades de Telecomunicações, no quadro duma Parceria Público-Privada
e que vai continuar a ter o Estado como acionista, irá permitir a disseminação duma outra infraestrutura
muito importante para a Guiné-Bissau, que é a Espinha Dorsal Nacional em Fibra Ótica (backbone), uma
das atribuições da Guiné Telecom, que vai revolucionar o mercado das TIC, permitindo cobrir as principais
cidades do País, oferecendo a possibilidade para as Empresas de Telecomunicações (operadoras e outros), o
Governo através das suas diferentes estruturas (segurança, educação, saúde, cultura, stc.), as Empresas, os
Bancos, e as diferentes entidades, poderem alugar as capacidades disponíveis para fazer transitar seus dados
no país. Outro segmento de negócios da Guiné Telecom, será a introdução dos serviços da Telefonia Fixa,
Internet e TV via Cabo (“Triple Play”), nas residências, nas principais cidades do País. A Guinetel, a
semelhança da Orange e da MTN, irá desenvolver os serviços da Telefonia Móvel, reforçando o ambiente
concorrencial, que vai trazer muitos benefícios para os utilizadores.

Está em preparação no âmbito dos países da CEDEAO, a construção de mais uma infraestrutura de fibra
ótica submarina “Cabo Amílcar Cabral”, que vai permitir o País dispor de mais uma conectividade
internacional, reforçando a segurança na transmissão de dados de e para o internacional. Este projeto está
ainda na fase de estudos e obtenção de financiamento, mas é uma aposta interessante para melhorar a
conectividade do País.

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