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O PROCESSO DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA DIANTE DO TEA

GUSMÃO, Dayane
MARTINS, Edson

Resumo

Este estudo discutiu o tema inclusão e intervenção específica para o autismo, que trata
do Transtorno do Espectro Autista assim como as suas implicações e necessidade de
promover atividades pedagógicas específicas para criança com TEA. Apoiou-se na
realização de uma pesquisa bibliográfica, considerando a seguinte problemática: De
que forma é possível fortalecer a inclusão da criança com TEA na escola regular?
Nesse sentido, este trabalho, tem como finalidade conhecer a criança com TEA e suas
reais necessidades, para que de forma significativa, o professor possa
oferecer/trabalhar métodos específicos de tal modo que a criança com TEA possa ser
incluída como um todo, independente do seu grau de comprometimento. Esses autores
apoiaram nas discussões e fundamentações sobre o Transtorno do Espectro Autista:
Intervenção específica pelo método TEACCH e como incluir e fortalecer a inclusão da
criança autista na escola regular. Este estudo justifica-se por contribuir e esclarecer aos
profissionais da educação como deve ser pensada a inclusão para o aluno com TEA,
considerando a formação inicial e continuada como o grande suporte para que a escola
seja verdadeiramente inclusiva. Nesse sentido, este trabalho, teve como objetivo geral,
conhecer a criança com TEA e suas reais necessidades, para que de forma
significativa, o professor possa oferecer/trabalhar métodos específicos de tal modo que
a criança com TEA possa ser incluída como um todo, independente do seu grau de
comprometimento. E objetivos específicos, abordar sobre a intervenção pelo método
TEACCH, e investigar o aplicativo ABC autismo e a necessidade de formação docente
específica para o TEA.

PALAVRAS-CHAVE: Escola Regular. Inclusão. Transtorno do Espectro Autista.


Dayane Gusmão: Estudante de pedagogia na faculdade FAEL.
Edson Martins: Pedagogo, especialista em EAD, mestre em Educação e doutor em Ciências da Religião.
Professor na Faculdade FAEL.
1. INTRODUÇÃO

O autismo, na atualidade, é um tema bastante abordado por diversos autores e


pesquisas. Demonstrando necessidade em discuti-lo. A importância da temática
discorre ainda pelo fato de como deve ser tratada a inclusão nas instituições escolares,
pois, a mesma vai além de somente matricular a pessoa com necessidades educativas
especiais, é preciso realmente inseri-la no processo de aprendizagem. Mesmo com
todas as dificuldades é neste ambiente que o aluno necessita ser estimulado e
preparado para viver em sociedade.
O presente trabalho discute o tema inclusão e intervenção específica para o
autismo, que trata do Transtorno do Espectro Autista assim como as suas implicações e
necessidade de promover atividades pedagógicas específicas para criança com TEA.
Apoiou-se na realização de uma pesquisa bibliográfica, considerando a seguinte
problemática: De que forma é possível fortalecer a inclusão da criança com TEA na
escola regular?
Nesse sentido, este trabalho, tem como finalidade conhecer a criança com TEA e
suas reais necessidades, para que de forma significativa, o professor possa
oferecer/trabalhar métodos específicos de tal modo que a criança com TEA possa ser
incluída como um todo, independente do seu grau de comprometimento.
Para fundamentar a pesquisa, foram reportados autores que se ocupam dessa
temática, Reis (2013); Mantoan (2015); Cunha (2017); Ferreira (2016); dentre outros.
É primordial que a instituição escolar possua as condições necessárias e
adequadas à sua disposição para atender as necessidades e garantir o acesso e
permanência desses alunos. É preciso que o professor tenha um olhar atento às
necessidades de cada aluno, foque em suas potencialidades e não em suas
dificuldades, para que de fato esse aluno se sinta incluído e assim se efetive o ensino-
aprendizagem.
2. O PROCESSO DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA DIANTE DO TEA

Não podemos falar de inclusão para as crianças com TEA, se não entendermos
de fato a inclusão e seus fundamentos. Por isso, inicialmente discutimos sobre
inclusão e alguns marcos que respaldam esse movimento e posteriormente
apresentamos as concepções de inclusão diante do TEA.
Em um ponto de vista amplo, a inclusão é a prática da compreensão, o ato de
respeitar e entender as diferenças que todo e qualquer indivíduo dispõe. Melhor
dizendo, é o exercício contínuo da alteridade; acolher, respeitar e entender as
necessidades de cada indivíduo. Portanto, é necessário compreender que as
diferenças estão presentes no contexto social, bem como entender que as pessoas
precisam ser respeitadas nessas diferenças. Dessa forma, não tem como acreditar na
incapacidade da pessoa com necessidades especiais de se relacionar e conviver de
maneira ampla com a comunidade. De acordo com os apontamentos de Lima (2006),
pode-se afirmar que: O desenho do homem primitivo criado sobre a superfície de
algum objeto tinha para ele, de início, a função de expressar suas ideias visualmente,
enquanto a fala era sua expressão auditiva. Com o passar do tempo, a expressão
visual desenvolve-se em duas direções distintas: o desenho como arte e o sistema
pictográfico na comunicação.
A inclusão, portanto, não é algo de que se fala, mas algo que se vive, intensa e
conscientemente, contínua e tenazmente, concreta e francamente. A inclusão é
a participação de todos pelo todo, com todos. A inclusão não é uma mera teoria
da moda, mas uma atitude de vida; uma expressão de sociedade e cidadania:
uma compreensão de que todos os seres humanos são humanos sem distinção
(LIMA, 2006, p.63).

De acordo com Reis (2013), a inclusão requer uma nova visão dos indivíduos,
uma mudança de mentalidade, de forma que todos sejam respeitados, independente
das suas diferenças. A educação inclusiva não significa somente permitir que o aluno
com deficiência esteja em sala de aula, mas é preciso propiciar possibilidades de
crescimento, e isso só ocorrerá a partir da atenção às peculiaridades de aprendizagem
e desenvolvimento do aluno.
Por isso é fundamental esclarecer sobre o fato de que a diferenciação como
pilar na deficiência, explica a discriminação como:
[...] toda diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência,
consequência de deficiência anterior ou percepção de deficiência presente ou
passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento,
gozo, ou exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de seus
direitos humanos e suas liberdades fundamentais (MANTOAN, 2015, p. 41).

Em 1990 em Jontiem na Tailândia aconteceu o Congresso de Educação para


Todos, que tinha o objetivo de erradicar o analfabetismo e a universalização do ensino
fundamental, isto é tornar compromissos oficiais do poder público, diante da
comunidade internacional. Com esse movimento nasceu um movimento de inclusão
mundial. O artigo três da Declaração Mundial de Educação para Todos garante que:
As necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de
deficiências requerem atenção especial. É preciso tomar medidas que garantam
a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de
deficiência, como parte integrante do sistema educativo. (UNESCO, 1990, p.4)

A Declaração Mundial de Educação para Todos, propõe a condição de acesso


educacional que é apresentada como sendo imperiosa necessidade de universalizar a
escolaridade básica dos indivíduos, independentemente das suas condições de raça,
idade, gênero, situação social, crença ou religião. Existe um rigor nas prescrições aos
grupos apontados como minoritários, evidenciando que os mesmos "[...] não devem
sofrer qualquer tipo de discriminação no acesso às oportunidades educacionais".
(UNESCO, 1990, p. 5).
Em 1994, ocorreu a Conferência Mundial sobre Educação de Necessidades
Especiais: Acesso e Qualidade, realizada em Salamanca (Espanha), que apresentou
uma abordagem de ensino inclusivo que buscou uma maneira de enaltecer o direito de
todos os educandos de aprenderem juntos, independentemente de qualquer dificuldade
ou diferenças que podem ter (BRASIL, 1994). Essa declaração foi criada para
estabelecer aos países a necessidade de políticas públicas educacionais que possam
atender a todas as pessoas com deficiência de maneira igualitária, independente das
suas condições pessoais, sociais, econômicas e socioculturais. Nessa perspectiva é
importante destacar que a Declaração de Salamanca (1994, p.1) evidencia:
Nós congregamos todos os governos e demandamos que eles: atribuam a mais
alta prioridade política e financeira ao aprimoramento de seus sistemas
educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as crianças,
independentemente de suas diferenças ou dificuldades individuais. Adotem o
princípio de educação inclusiva em forma de lei ou de política, matriculando todas
as crianças em escolas regulares, a menos que existam fortes razões para agir
de outra forma.

É possível entender que a Declaração de Salamanca iguala os direitos de todos


os indivíduos no que se refere à uma educação de qualidade. A Declaração tem início
com a seguinte afirmação:
O direito de todas as crianças à educação está proclamado na Declaração
Universal dos Direitos Humanos e foi reafirmado com veemência pela Declaração
sobre Educação para Todos. Pensando desta maneira é que este documento
começa a nortear Todas as pessoas com deficiência têm o direito de expressar
os seus desejos em relação à sua educação. Os pais têm o direito inerente de ser
consultados sobre a forma de educação que melhor se adapte às necessidades,
circunstâncias e aspirações dos seus filhos. (BRASIL, 1994, p. 5 - 6).

Assim, compreende-se que a Declaração de Salamanca encaminhou as


diretrizes básicas para a concepção e reforma de políticas e sistemas educacionais
para incluir as pessoas com deficiências em escolas regulares.
A Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do
Espectro Autista, instituída pela Lei nº 12.764, em 27 de dezembro de 2012, certifica a
pessoa com transtorno do espectro autista (TEA) como pessoa com deficiência, para
todos os efeitos legais. É importante mencionar que o Parágrafo único dessa política
expõe que “em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do
espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular, nos termos do inciso IV
do art. 2º, terá direito à acompanhante especializado”. (BRASIL, 2012, p.02)
Essa política retrata o resultado de um trajeto de lutas de familiares e
especialistas envolvidos pelos direitos dos autistas, conquistando politicamente o
acesso a direitos previstos para pessoas com deficiência. Desse modo, ficou
legalmente previsto em lei, a garantia de uma educação em escolas regulares e
também o acesso a atendimentos em serviços de saúde especializada.
Paula e Peixoto (2019), ressaltam que é cientificamente conhecido como TEA. É
caracterizado por problemas na comunicação, na socialização e no comportamento,
geralmente diagnosticado entre 2 e 3 anos de idade. O autismo é um distúrbio do
comportamento que consiste em uma tríade de dificuldades, são elas: dificuldade de
comunicação, dificuldade de sociabilização e dificuldade no uso da imaginação.
Esse transtorno resulta de alterações neurocognitivas no desenvolvimento da
criança. As quais são expressas por meio da emissão de diferentes
comportamentos a saber: dificuldade na fala e comunicação, dificuldade em
expressar sentimentos, pouco ou nenhum contato visual, isolamento, ausência
de atenção compartilhada, dificuldade em fazer amizades e estabelecer vínculos
afetivos, déficits na reciprocidade sócio-emocional, emissão de comportamentos
em padrões repetitivos, dentre outros. (PAULA, PEIXOTO, 2019, p.1289).

Uma escola inclusiva para as crianças com o TEA ou demais necessidades não
é somente um ambiente inclusivo com recursos pedagógicos, mas também um
ambiente onde se encontrará qualidades humanas, elementares para o
desenvolvimento dessas crianças. Os alunos carecem de encontrar uma estrutura que
os acolham naturalmente com uma disciplina espontânea que os prepare para o
aprendizado.
TEA possui “a abrangência de distintos níveis do transtorno, classificando-os de
leve, moderado e severo”. Esses níveis irão possibilitar ao profissional a
identificação do grau de comprometimento e com isso, as crianças e demais
indivíduos com autismo, que passam por avaliações formais, são diagnosticados
com diferentes níveis, tornando peculiar e individual o funcionamento de cada
pessoa acometida com o transtorno. (CUNHA, 2017, p. 23).
A criança com o TEA traz consigo um isolamento social e exclusão escolar, por
isso é fundamental que a escola saiba respeitar os impactos do espectro autístico na
vida do aluno e da família de forma que o atendimento tenha um olhar amplo ao círculo
familiar, para que exista uma boa execução nas etapas do processo educacional. Para
tanto Cunha destaca:
Uma grande ajuda para todos os indivíduos com autismo, independentemente do
grau de severidade, vem das relações familiares, em razão do enfoque na
comunicação, na interação social e no afeto. Entretanto, escola e família
precisam ser concordes nas ações e nas intervenções na aprendizagem,
principalmente, porque há grande suporte na educação comportamental. Isso
significa dizer que a maneira como o autista come, veste-se, banha-se, escova os
dentes, manuseia objetos e os diversos estímulos que recebe para o contato
social precisam ser consoantes nos dois ambientes. (CUNHA, 2017, p.89).

É desafiador o progresso das intervenções e da educação do aluno com autismo


em diferentes ambientes casa/escola, para tanto deve existir atividades similares e
práticas educativas nos mesmos ambientes, ou seja, se o aluno que se veste sozinho
em casa o mesmo deve acontecer na escola e vice-versa, bem como a manipulação de
brinquedos e materiais de desenvolvimento, como os materiais montessorianos , que
são trabalhados na escola em que os mesmos podem ser trabalhados e utilizados no
ambiente familiar.
Percebe-se desta forma a importância da mediação escolar na educação de
alunos com TEA e a ação mediadora devidamente organizada e planejada pode
ser fundamental para a aprendizagem. Identificaram que a educação deve seguir
“[...]num caminho anteriormente visto como plano, alavancando o
desenvolvimento da criança, principalmente nos casos [...] do autismo, no qual o
papel da educação deverá ser mais atuante, pois a criança necessitará de um
auxílio e envolvimento mais efetivo do outro”. (MARTINS, MONTEIRO, 2017, p.
223)

Para um bom aprendizado, desenvolvimento e independência da criança com o


TEA, é necessário a existência de atividades diárias gerenciadas pelo profissional
educacional e apoio da equipe multifuncional, com objetivos e ferramentas eficazes
gerando autonomia e criando rotinas favorecendo assim o reforço comportamental na
organização do dia, tanto em casa quanto na escola.
Nesse sentido, as escolas precisam ter uma sala de recursos para que as
crianças com autismo, independente do grau de severidade e que possam vivenciar um
ensino individualizado, que os favoreça na inclusão e na sociabilidade. Em relação a
isso, Cunha
afirma:
A sala de recursos precisa ser simples, sem muitos objetos para que não haja
estímulos em demasia. Neste ambiente, o aluno recebe uma educação
individualizada, específica, com ênfase na mudança de alguns comportamentos e
aprendizado de outros. É importante não tentar muitas mudanças ao mesmo
tempo. O aprendente precisa visualizar somente materiais ou brinquedos que irá
trabalhar, para que haja maior concentração possível. Entretanto, em primeiro
momento, o professor deve observar quais os objetos ou atividades que atraem
mais, para usá-los nas tarefas. Detalhes, que, muitas vezes, são
desconsiderados por nós, exercem grande atração (CUNHA, 2017, p.33).

Para tanto é necessário que o professor desperte a percepção da criança com


propostas pedagógicas que envolva os aspectos sensoriais, pois os mesmos são
muitos sensíveis; a capacidade espacial, pois para criança autista visualiza detalhes
menores em relação ao todo; a subjetividade visto que sentimentos, tristeza e amor são
complexos para a compreensão da criança autista, e também trabalhe os outros
aspectos como a linguagem, a cognição, a hiperatividade, a estereotipias, a
psicomotricidade, a socialização e o mais importante, o afeto. A criança autista se isola
por naturalidade e não possui vínculo com o exterior, visto que para ela é muito difícil
aceitar carinhos, abraços e companhias de terceiros, tendo com isso grande dificuldade
de se expressar e perceber o amor e o carinho que outros possam ter para com ela.
Desse modo Cunha ressalta:
O afeto irrompe em lugares impenetráveis a conteúdos meramente acadêmicos
ou terapêuticos. A questão proposta em toda educação, independentemente de
deficiências ou de outras dificuldades, é canalizar as emoções do aprendente
para suas experiências de aprendizagem. Sempre que atentarmos para o
interesse do aluno e os seus desejos em nossa prática pedagógica, estaremos
comunicando-nos com seu afeto (CUNHA, 2017, p.49).

Diante dos estudos realizados, percebe-se que os professores na sua maioria,


ainda tem como práticas de ensino a tendência do senso comum, às quais foram
incorporadas no decorrer dos anos em que os deixam ainda reféns de uma prática que
atenda de fato a todos, em suas necessidades específicas, sobretudo esquecendo a
humanidade da sua profissão. Para trabalhar com a inclusão é fundamental perceber o
outro como um ser integral na sua condição biológica, social e afetiva.
Existe uma vasta gama de intervenções específicas que podem ser trabalhadas
com crianças com TEA tendo em vista o seu desenvolvimento e aprendizagem. Diante
disso optou-se por abordar neste trabalho o TEACCH – Treatmentand Educationof
Autisticand Related Communication Handicapped Children, ao considerar que esta seja
uma intervenção propícia para o espaço escolar, que objetiva flexibilizar o currículo
educacional funcional para crianças com esse transtorno.

3. TEACCH

O TEACCH é um método que foi desenvolvido nos Estados Unidos na década


de sessenta pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da
Universidade da Carolina do Norte, que tinha como intuito um atendimento para as
crianças autistas. O TEACCH tem como método de aproveitamento a PEP-R (Perfil
Psicoeducacional Revisado) classificando e definindo os pontos fortes e de maior
interesse, a fim de promover um programa individualizado. Assim sendo, Ferreira
salienta:
O TEACCH se baseia na adaptação do ambiente para facilitar a compreensão
da criança em relação a seu local de trabalho e ao que se espera dela. Por meio
da organização do ambiente e das tarefas de cada aluno, o TEACCH visa o
desenvolvimento da independência do aluno de forma que ele precise do
professor para o aprendizado de atividades novas, mas possibilitando-lhe
ocupar grande parte de seu tempo de forma independente (FERREIRA, 2016,
p.33).

O método/programa TEACCH é uma inclinação que se baseia nas estruturas e


no condicionamento de vários recursos para aperfeiçoar a linguagem, o aprendizado
das coisas, objetos e seus conceitos e mudança comportamental. Ferreira (2016, p.34)
evidencia que “a filosofia do programa TEACCH tem como objetivo principal ajudar a
pessoa com autismo a se desenvolver da melhor maneira, de modo a atingir o máximo
de autonomia na idade adulta.”
O programa TEACCH foi implantado no Brasil em 1991 no Centro TEACCH
Novo Horizonte em Porto Alegre/RS, logo em seguida pelas AMAs (Associação de
Amigos do Autista) e posteriormente por algumas APAEs (Associação de Pais e
Amigos dos Expecionais), seguindo o mesmo método de como foi desenvolvido e seus
princípios norteadores, reforçando seus conceitos de modo que informasse, educasse
e organizasse a vida das pessoas com autismo a partir da primeira infância.
No contexto escolar e no método TEACCH a criança com TEA será instigada a
brincar em grupo, conforme as pesquisas de (Ferreira, 2016), para poder adaptar o
processo de educação, de modo que, as estruturas organizacionais e fazer atividades
com propósitos específicos, de acordo com orientação dos professores, e para que
isso aconteça o professor deve compreender seu aluno, percebendo seus pontos
fortes e seus déficits dos espaços e as atividades sejam adaptadas à criança, e que
ela possa compreender melhor o ambiente que lhe é proposto.
O método/programa TEACCH é de baixo custo, as atividades escolares são
executadas com recursos do dia a dia, de acordo com a necessidade de cada aluno, e
que essas atividades tenha a abrangência de todos que estarão em convívio com a
criança, a tal modo que o planejamento tenha base no currículo, e que as adaptações
sejam feitas conforme a necessidade. E neste método, as crianças se envolvem na
construção das tarefas, nos materiais selecionados, no proceder ao que está sendo
requisitado, sob a orientação do professor e assim sistematizando o trabalho. De
acordo com os apontamentos de Ferreira (2016), pode-se afirmar que:
Para orientar o aluno nas atividades, o material visualmente organizado é
dividido em área de armazenamento e área de execução. A área de
armazenamento é aparte extrema esquerda (ou superior) do material onde se
depositam os estímulos móveis que serão transferidos para a parte direita da
tarefa ou lugar (FERREIRA, 2016, p.46).

O método TEACCH pode ser adaptado a vários currículos, respeitando as


habilidades que são necessárias para cada faixa etária. E neste mesmo método os
conceitos das coisas e objetos terão que ser bem explicados e explicitados, de tal
modo que não se misture e não sugira outra instrução, para que uma habilidade
cognitiva seja trabalhada por vez.
Não se faz necessário produzir/ensinar uma atividade que a mesma não tenha
uma funcionalidade a algo determinado para vida da criança, por essa razão as
imagens serão sempre apresentadas indicando, mostrando, instruindo e reforçando os
conceitos/habilidades, estimulando a área de armazenamento, e dessa forma o
conteúdo que a princípio seria verbal é transformado em não verbal, enfatizando o
aprendizado da criança com o TEA. É nesse cenário, que segundo Ferreira (2016)
afirma que:
[...] muitas vezes o livro didático traz detalhes desnecessários, informações que
não fazem parte do conceito que queremos ensinar, estímulos que podem
chamar mais atenção que a tarefa em si, elementos soltos podem ser facilmente
destruídos, podem vir sem cor, etc. Então, nas adequações curriculares, nosso
papel, é transformar a atividade original, oferecendo uma estrutura adicional,
caso a criança assim necessite. É organizar um jogo com um apoio visual ou
sistema de trabalho que facilite a compreensão das regras, é dar chance para
um trabalho independente e oferecer ferramentas para a linguagem expressiva
se guiar (FERREIRA, 2016, p.50).

As crianças com TEA após passar pelo método TEACCH aprendem,


apreendem e humanizam-se mais progressivamente, adquirindo algumas habilidades
e construindo significados, mesmo que limitados se comparados com outras crianças,
mas que, não deixa de representar um grande progresso.
O TEACCH pode ser utilizado também em casa e no ambiente terapêutico
tendo sua demanda específica. O método não se limita apenas ensinar/estimular o
cognitivo, mas também ensina conhecimentos básicos de Atividades de Vida Prática
(AVP) e Atividades de Vida Diária (AVD) tornando possível uma maior independência.
O método também estimula e desenvolve a atenção, favorece o controle do
comportamento e conduz a sequencialização, O TEACCH não pretende eliminar o
padrão autístico, mas sim estimular outros sentidos e aprendizados.

4. O APLICATIVO ABC AUTISMO

As tecnologias móveis estão em conjunto com as tecnologias de informação e


comunicação (TIC) com o propósito de abarcar a aprendizagem em todos os lugares e
a qualquer hora. E essa aprendizagem acontece de várias formas: conectando-se com
outras pessoas, usando aparelhos móveis para ter acesso a recurso e aplicativos
educacionais, usando ferramentas e aparelhos dentro e fora da escola, abrangendo
assim metas em apoio a uma educação mais ampla e uma comunicação mais eficaz
entre aluno, escola e família (UNESCO, 2014).
As TICs visam uma educação mais inclusiva e de qualidade, oportunizando que
todos tenham acesso independente de classe social, vulnerabilidade, gênero e
localização, e pensando nisso iremos relatar sobre uma TIC que vem com intuito de
melhorar o aprendizado da criança com TEA.
Para interpelar o ABC Autismo, temos que ter em mente que o programa
TEACCH tem como função a estruturação do tempo das atividades, materiais e
ambiente usufruído pela criança, tendo em vista compensar os déficits característicos
do espectro do autismo, possibilitando assim ganhos significativos para o convívio
social. E pensando em como aproveitar e melhorar o processo de acompanhamento e
tratamento foi desenvolvido o aplicativo ABC Autismo.
O ABC Autismo é um aplicativo móvel, que automatiza o desenvolvimento da
elaboração das atividades educacionais que são usadas na asserção do programa
TEACCH, com interações amigáveis e autoexplicativa. Nessa perspectiva Farias; Silva;
Cunha (2014) afirmam que:
[...] a intenção foi criar um programa de computador lúdico e divertido a fim de
contribuir com o processo de alfabetização de crianças com autismo ou com
défices relacionados ao aprendizado. Com condição fundamental, a ferramenta
precisaria incorporar algumas das premissas do programa TEACCH,
principalmente as recomendações relacionadas à estrutura e adaptação das
atividades utilizadas para o processo alfabetizador das crianças com autismo. O
objetivo que norteou todo o processo de desenvolvimento foi a criação de uma
ferramenta que futuramente auxiliasse consequentemente agregasse valor ao
tratamento de crianças com autismo (FARIAS; SILVA; CUNHA, 2014, p. 461).

O ABC Autismo abrange exclusivamente afazeres que estimulam o dinamismo


de transposição de objetos concretos dos mais variados formatos e tamanhos, o nível
inicial foi criado no cenário do aplicativo com atividades de transposição de imagens,
trabalhando também a coordenação motora na função de arrastar os desenhos dos
elementos (bichos, objetos e animais). É predominante a função arrastar visto que é o
mais sugerido como forma de estimular a atenção e a coordenação motora da criança,
para mais existe uma diversidade de cores e objetos de tamanhos diferentes
possibilitando os formatos das respostas cabíveis dentro das áreas correspondentes.
Nesse sentido Farias; Silva; Cunha (2014) enfatizam que:
A dinâmica utilizada para automaticamente diminuir a área de resposta na
medida em que a criança vai obtendo êxito na execução das exigências
pertinentes a atividade, potencializada gradativamente a sua coordenação
motora, provendo assim estimulo das mais variadas formas e perspectivas
possíveis (FARIAS; SILVA; CUNHA, 2014, p. 462).

O ABC Autismo é composto por quatro níveis TEACCH, e cada nível tem dez
fases. No nível 1(um), as atividades são básicas de transposição de figuras, não há
critérios para as imagens, e contém pouco detalhe para evitar distração da criança com
TEA. No nível 2(dois) será necessário um pouco discernimento da criança para resolver
a atividade, pois esse nível a criança deverá diferenciar a forma, cor e tamanho dos
elementos da área armazenada e relacioná-la a área de resposta. A criança terá que se
esforçar cognitivamente para definir os critérios, selecionando os elementos
corretamente.
Percebe-se que O ABC Autismo é uma nova ferramenta para ser trabalhada com
a criança com o TEA como forma de complementação no processo de intervenção, mas
que é importante que fique claro, que o contato da criança com o objeto concreto o qual
é apresentado no método/programa TEACCH é de suma importância, e de maneira
alguma deve ser deixado de lado no processo educacional da criança.

CONCLUSÃO

Esse trabalho teve como objetivo apresentar uma proposta de intervenção


específica para criança com TEA, baseado no método TEACCH contribuindo com a
inclusão dessas crianças no ambiente escolar.
Os estudos apontam que a criança com Transtorno do Espectro Autista tem um
forte comprometimento no convívio social, assim como apresentam alterações ao nível
de linguagem, desinteresse pelas pessoas, jogos, brincadeiras, riso ou choro sem
motivo aparente, ausência da consciência do perigo, resistência à aprendizagem,
inconsistência nas respostas, rejeição ao contato físico, resistência à mudança, uso
inadequados dos objetos e comportamento repetitivos e estereotipados. O autista é
incapaz de compreender os estados mentais do outro ou mesmo reconhecer o que a
outra pessoa sente ou pensa, apresentando também comprometimento na percepção,
análise e resolução de alguma tarefa ou trabalho.
O autista também tem dificuldade de trabalhar o emocional, podendo apresentar
atitudes agressivas, as crises podem acontecer por modificação da rotina, por
repetições ou desmotivação de determinados afazeres.
Tendo em vista esse perfil peculiar, as crianças autistas necessitam de uma
intervenção específica para se desenvolverem, e ao considerar a aplicabilidade do
método TEACCH na escola, optamos por apresentar esse método.
TEACCH é uma inclinação que se baseia nas estruturas e no condicionamento
de vários recursos, para aperfeiçoar a linguagem, o aprendizado das coisas, objetos e
seus conceitos, no intuito de fazer atividades com propósitos específicos.
O professor para trabalhar o método TEACCH deve compreender seu aluno,
percebendo seus pontos fortes e seus déficits, proporcionando atividades adaptadas à
criança, e que ela possa compreender melhor o que lhe é proposto, por essa razão as
imagens serão sempre apresentadas indicando, mostrando, instruindo e reforçando os
conceitos/habilidades, estimulando a área de armazenamento, e dessa forma o
conteúdo que a princípio seria verbal é transformado em não verbal, enfatizando o
aprendizado da criança com o TEA.
Os estudos revelam que a tecnologia móvel em smartphones e tablets está
cada vez mais presente na vida das pessoas, incluindo aquelas que possuem alguma
necessidade especial, o que coloca a escola diante de uma aliada na inclusão escolar,
pois, além desse referencial, essa tecnologia é capaz de exercer grande atratividade
sobre as crianças autistas, despertando o interesse e a atenção dessas. Por isso,
exploramos o aplicativo ABC autismo como uma proposta de intervenção específica
baseada no método TEACCH.
O ABC autismo, é um aplicativo móvel, que automatiza o desenvolvimento da
elaboração das atividades educacionais que são usadas na asserção do programa
TEACCH, com interações amigáveis e autoexplicativa, o qual é composto por quatro
níveis, e que cada nível possui dez fases. O aplicativo ABC autismo de um nível para o
outro, direciona a criança responder o que lhe é solicitado, como transposição de
figura da esquerda para direita, conhecimento das cores, formatos e tamanhos de
desenhos, diferenciação e associação de elementos, conhecimentos de números e
letras, os quais levam a criança a alfabetizar e letrar de forma lúdica.
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UNESCO. Declaração mundial sobre educação para todos. Plano de ação para
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