Você está na página 1de 29

O MARANHÃO E O

RENASCIMENTO AGRÍCOLA
Furtado (Cap. 16), Caio Prado Jr. (Cap.10)
Prof. Edivaldo Constantino
ESTRUTURA DA AULA
O Maranhão e a falsa euforia do fim da época colonial
Apogeu da colônia
PANORAMA GERAL NO FINAL DO SÉC. XVIII
Queda nas exportações
 1760: +/- 5 milhões de libras
 1775-1800: +/- 3 milhões

Queda no preço do açúcar


Diminuição das extrações de ouro (+/- 500 mil libras)
Aumento populacional
O MARANHÃO E A FALSA EUFORIA DO FIM DA
ÉPOCA COLONIAL
“A renda per capita, ao terminar o século, provavelmente não seria superior a 50 dólares
de poder aquisitivo atual – admitida uma população livre de dois milhões – sendo esse
provavelmente o nível de renda mais baixo que haja conhecido o Brasil em todo o
período colonial.”

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 25ª. ed. São Paulo: São Paulo: Editora Nacional, 1995.
Capítulo 16, pp. 89-90.
O MARANHÃO E A FALSA EUFORIA DO FIM DA
ÉPOCA COLONIAL
Economia articulada em torno de dois polos principais: o açúcar e o ouro
Dois centros autônomos no norte: Maranhão e Pará
 Economia extrativa florestal com base na exploração de mão-de-obra indígena.
 Sistema jesuítico  Não pagavam impostos  Perseguição de Pombal
 Maranhão era autônomo,
 Mas se articulava com a região açucareira através da pecuária.
O MARANHÃO E A FALSA EUFORIA DO FIM DA
ÉPOCA COLONIAL
Os três principais centros dinâmicos – a faixa açucareira, a região mineira e o
Maranhão – se interligavam, se bem que de maneira fluida e imprecisa, através do
extenso hinterland pecuário.

Maranhão recebe suporte de Pombal na questão dos jesuítas.


FURTADO: CONJUNTURA EXTERNA FAVORÁVEL

Guerra da independência dos Estados Unidos, 1764-1789: arroz e algodão


Revolução industrial inglesa: aumento na demanda por algodão
Revolução Francesa: desorganização da produção colonial de artigos tropicais
Revolução no Haiti, 1789
O MARANHÃO E A FALSA EUFORIA DO FIM DA
ÉPOCA COLONIAL

“Dessa forma, praticamente todos os produtos da colônia se


beneficiaram de elevações temporárias de preços. O valor total da
exportação de produtos agrícolas praticamente duplica entre os anos
oitenta do século XVIII e o fim da era colonial, aproximando-se dos
quatro milhões de libras.”

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 25ª. ed. São Paulo: São Paulo: Editora Nacional, 1995.
Capítulo 16, p. 92.
O MARANHÃO E A FALSA EUFORIA DO FIM DA
ÉPOCA COLONIAL

“Entretanto, essa prosperidade era precária, fundando-se nas condições de anormalidade que
prevaleciam no mercado mundial de produtos tropicais. Superada essa etapa, o Brasil
encontraria sérias dificuldades, nos primeiros decênios de vida como nação politicamente
independente [...]”

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 25ª. ed. São Paulo: São Paulo: Editora Nacional, 1995.
Capítulo 16, p. 92.
450.000

400.000

350.000

300.000

250.000

200.000

150.000

100.000

50.000

0
1760 1771 1788 1805 1806 1807 1808 1809 1810 1811 1812 1813 1814 1815 1816 1817 1818 1819 1820 1821
Algodão (@) Arroz (@)

MARANHÃO: EXPORTAÇÕES DE ALGODÃO E ARROZ


FONTE: SIMONSEN, ROBERTO. HISTÓRIA ECONÔMICA DO BRASIL. 8ª. ED. SÃO PAULO: CIA. EDITORA NACIONAL, 1978, PP. 343 -345.
Entrada de
Ano Número de Navios
Africanos
1760 3 -
1771 10 -
1811 87
1812 79
1813 80
1814 105
1815 131
1816 151
45.447 MARANHÃO: ENTRADAS DE NAVIOS E
1817 155 AFRICANOS.
1818 144
FONTE: SIMONSEN, ROBERTO. HISTÓRIA
1819 133 ECONÔMICA DO BRASIL. 8ª. ED. SÃO PAULO:
CIA. EDITORA NACIONAL, 1978, PP. 343-346.
1820 98
1821 143
1822 114
APOGEU DA COLÔNIA
Ascenção das minas e a decadência da agricultura.
 Desenvolve-se a política colonial das grandes concorrentes de Portugal (França e Inglaterra)

A primeira metade do séc XVIII é um período sombrio para a agricultura brasileira.


 Situação que se altera na sua última parte
 Aumento do mercado para os produtos coloniais.
 Aumento da população europeia no séc. XVIII.
 Aumento das relações econômicas.
 Prenúncio da Revolução Industrial
APOGEU DA COLÔNIA

“A importância do comércio colonial para os países da Europa, neste período, se


manifesta nas lutas que em torno dele se acendem. Todos os conflitos europeus, pode-se
dizer que desde a guerra de Sucessão da Espanha, e inclusive as guerras napoleônicas,
têm sempre, como ultima ratio, o problema colonial.”

Caio Prado Jr, História Econômica do Brasil, cap. 10


APOGEU DA COLÔNIA
Portugal se envolve em poucos conflitos
 Neutralidade portuguesa que se estendia sobre o Brasil e seu comércio.
 Principais concorrentes sofriam golpes: agitações políticas e sociais (Haiti), em 1972

“Ainda ocorre na segunda metade do século mais um fator particular que estimula a agricultura
brasileira. Até então, o grande gênero tropical fora o açúcar. Outro virá emparelhar-se a ele, e
sobrepujá-lo-á em breve: o algodão.(...) Os progressos técnicos do séc. XVIII permitirão o seu
aproveitamento em medida quase ilimitada, e ele se tornará a principal matéria-prima industrial
do momento, entrando para o comércio internacional em proporções que este desconhecia ainda
em qualquer outro ramo.”
Caio Prado Jr, História Econômica do Brasil, cap. 10
APOGEU DA COLÔNIA
Fornecedores do Oriente não conseguem atender a demanda.
A América irá preencher esse espaço.

“É somente quando se torna mercadoria de grande importância no mercado internacional que o


algodão começa a aparecer, tornando-se mesmo uma das principais riquezas da colônia.
Verifica-se aí, mais uma vez, o papel que representa na economia brasileira a função
exportadora: é ela o fator único determinante de qualquer atividade econômica de vulto.”
Caio Prado Jr, História Econômica do Brasil, cap. 10
APOGEU DA COLÔNIA
Quando a fibra brasileira é desbancada e quase excluída do mercado internacional pelos
concorrentes, a produção cai e as regiões produtoras, como não encontram um substituto,
entram em colapso.

“Mas é no Maranhão que o progresso da cultura algodoeira é mais interessante, porque ela
parte aí do nada, de uma região pobre e inexpressiva no conjunto da colônia. O algodão dar-
lhe-á vida e transformá-la-á, em poucos decênios, numa das mais ricas e destacadas capitanias.
Deveu-se isto em particular à Companhia geral do comércio do Grão-Pará e do Maranhão,
concessionária desde 1756 do monopólio desse comércio. É esta companhia que fornecerá
créditos, escravos e ferramentas aos lavradores”
Caio Prado Jr, História Econômica do Brasil, cap. 10
APOGEU DA COLÔNIA
O algodão se espalha pela colônia.

Desde o extremo-norte até o Paraná.


 Mas será uma produção precária.
 Distância ao porto e dificuldades de transporte terminarão sufocando a atividade.
 Concorrência internacional e a queda de preços elimina tais área do mercado.

Sobra apenas o NE e o Maranhão.


APOGEU DA COLÔNIA

“O país inteiro será atingido pelo boom, e alinhar-se-á entre os grandes produtores
mundiais da fibra. Mas não será mais que um momentâneo acesso. Com o declínio dos
preços, que se verificará ininterruptamente desde o começo do séc. XIX, consequência
sobretudo do considerável aumento da produção norte-americana e do aperfeiçoamento
da técnica que o Brasil não acompanhou, a nossa área algodoeira vai-se restringindo.”
Caio Prado Jr, História Econômica do Brasil, cap. 10
APOGEU DA COLÔNIA
Simplicidade da produção.
 Separação do caroço e enfardamento.
 Não exigem instalações prévias.
 Grandes fazendas com mão-de-obra escrava negra.

No final do séc. XVIII o açúcar se renova na BA e em PE.


Novas regiões de produção se abrem: São Paulo
APOGEU DA COLÔNIA
“No momento que nos ocupa começa a se destacar; e é no açúcar, sobretudo, que fundará
sua prosperidade. A lavoura de cana se desenvolve no litoral; mas o planalto interior,
embora separado da costa pelo abrupto da Serra que dificulta singularmente os transportes
e comunicações, também será beneficiado. Em conjunto, São Paulo já figurará no final do
séc. XVIII como exportador de açúcar, embora modestamente com suas 1.000 caixas anuais
que vêm depois das 20.000 da Bahia, 14.000 de Pernambuco e 9.000 do Rio de Janeiro.”

Caio Prado Jr, História Econômica do Brasil, cap. 10


APOGEU DA COLÔNIA
Outras culturas relevantes na economia brasileira
 Arroz (MA, PA, RJ).
 Anil (não deu muito certo)

É um renascimento agrícola que se faz em contraste com as regiões mineradoras, cujo


declínio é acentuado.
 Se voltam para atividades rurais.
 Pecuária  Laticínios  Queijo de Minas
 Tabaco  Sul de Minas

Deslocamento do eixo do interior para a área litorânea


APOGEU DA COLÔNIA
“O algodão, nos primeiros tempos da febre e dos grandes lucros, gozando de preços
anormalmente altos, constituirá uma destas exceções. Encontrando no interior condições
naturais altamente propícias, mão-de-obra relativamente abundante que a decadência
da mineração deslocara e pusera à sua disposição, ela se alastra por setores
inesperados, como foi referido. Mas tratar-se-á sempre de uma situação precária e que
não durará muito. E aqueles centros do interior não contrabalançarão nunca a faixa de
territórios mais próximos do mar, mesmo neste caso particular do algodão.”

Caio Prado Jr, História Econômica do Brasil, cap. 10


APOGEU DA COLÔNIA
São Paulo
 No início a agricultura se instala no litoral, mas depois se desloca para o planalto interior.
 É lá onde se instala a produção do açúcar...e também o café!

Por que?

Planície litorânea estreita  Ao expandir, avança sobre áreas alagadiças 


Impróprio para a agricultura  No Planalto os solos são melhores e não está tão
longe do porto.
APOGEU DA COLÔNIA

“De um modo geral, é assim a faixa de territórios mais próximos do mar que é atingida pelo
renascimento agrícola da colônia. Outro fato, já referido incidentemente acima, virá reforçar esta
tendência geral para a costa: é a decadência da região do interior nordestino, acossada pela
seca, e que será substituída, como fornecedora de carne, pelos campos do Rio Grande do Sul.”

Caio Prado Jr, História Econômica do Brasil, cap. 10


APOGEU DA COLÔNIA
Desenvolvimento agrícola é considerável
 Quantitativo e menos qualitativo
 Precariedade e de curta duração.

“Para a instalação de novas culturas nada de novo se realizara que o processo brutal e
primitivo da "queimada"; para o problema do esgotamento do solo, outra solução não se
descobrira ainda que o abandono puro e simples do local por anos e anos consecutivos, com
prazos cada vez mais espaçados que o empobrecimento gradual do solo ia alargando. Para
se tornar afinal definitivo. A mata, sempre escolhida pelas propriedades naturais do seu
solo, e que dantes cobria densamente a maior parte das áreas ocupadas pela colonização,
desaparecia rapidamente devorada pelo fogo.”
Caio Prado Jr, História Econômica do Brasil, cap. 10
APOGEU DA COLÔNIA

“Naturalmente de outros melhoramentos mais complexos do solo nunca se cogitou um


instante sequer. Irrigação, tão necessária em muitos lugares e relativamente fácil em vários
casos; drenagem e outros processos de regularização do fornecimento da água para a
agricultura, ou em defesa dela, providências estas todas tão importantes num clima
particularmente sujeito à irregularidade e violência das precipitações pluviais e escoamento
das águas, são praticamente desconhecidas na colônia.”

Caio Prado Jr, História Econômica do Brasil, cap. 10


APOGEU DA COLÔNIA
“Estes índices da agricultura brasileira revelam, sem margem para dúvidas, o seu ínfimo nível
técnico. A rotina é a ignorância. O responsável por tal estado de coisas é naturalmente o
sistema geral da colonização, fundada no trabalho ineficiente e quase sempre semi-bárbaro do
escravo africano. Seria difícil realizar qualquer coisa de muito melhor com trabalhadores desta
natureza. Mas não é só o trabalho escravo o responsável. De nível bastante superior eram a
agricultura e indústria anexas em outras colônias tropicais, contando embora com idêntica mão-
de-obra. Já sem contar os Estados sulinos da União norte-americana, onde o trabalho também é
escravo. A razão da diferença está, não pode haver outra, na natureza do colono português, e
sobretudo no regime político e administrativo que a metrópole impôs à sua colônia.”
Caio Prado Jr, História Econômica do Brasil, cap. 10
APOGEU DA COLÔNIA
“Seja como for, é em condições precárias, apesar do bafejo providencial de conjunturas
favoráveis, que a economia brasileira entra no século XIX; século em que a liberdade e a
livre concorrência pô-la-iam, em campo aberto, em face de adversários infinitamente mais
bem aparelhados. A sua derrota era inevitável; e mantendo-se, como se mantinha, unicamente
na base do comércio exterior, dependendo de mercados sobre que não tinha a mais leve e
remota ação, o colapso não tardaria, se a Providência não viesse em nosso auxílio... E foi o
que ocorreu, embora já estejamos aqui nos adiantando em nosso assunto; viria o colapso e
viria também a Providência salvadora. Esta chegaria até nós sob a forma de um gênero para
cuja produção a Natureza nos aparelhara admiravelmente: café.”
Caio Prado Jr, História Econômica do Brasil, cap. 10
O MARANHÃO E O
RENASCIMENTO AGRÍCOLA
Furtado (Cap. 16), Caio Prado Jr. (Cap.10)
Prof. Edivaldo Constantino

Você também pode gostar