1) O documento discute o Direito Internacional do Comércio Internacional, focando-se na Organização Mundial do Comércio (OMC) e no Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT).
2) Explica que o GATT surgiu em 1947 como um acordo provisório para regular o comércio global na ausência de uma organização internacional, permanecendo em vigor por quase 50 anos.
3) Discutem-se as principais rodadas de negociações do GATT que levaram à criação da OMC em 1994
1) O documento discute o Direito Internacional do Comércio Internacional, focando-se na Organização Mundial do Comércio (OMC) e no Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT).
2) Explica que o GATT surgiu em 1947 como um acordo provisório para regular o comércio global na ausência de uma organização internacional, permanecendo em vigor por quase 50 anos.
3) Discutem-se as principais rodadas de negociações do GATT que levaram à criação da OMC em 1994
1) O documento discute o Direito Internacional do Comércio Internacional, focando-se na Organização Mundial do Comércio (OMC) e no Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT).
2) Explica que o GATT surgiu em 1947 como um acordo provisório para regular o comércio global na ausência de uma organização internacional, permanecendo em vigor por quase 50 anos.
3) Discutem-se as principais rodadas de negociações do GATT que levaram à criação da OMC em 1994
1. Antecedentes da Organização Mundial do Comércio OMC – O GATT 1947
(i) Iniciativas de negociaçõ es comerciais desenvolvidas pelos EUA
durante a II GM em cooperaçã o com o Reino Unido envolviam duas abordagens distintas:
- Via bilateral: Programa de acordos comerciais bilaterais para
liberalizaçã o do comércio assente na reduçã o das tarifas iniciado pelos EUA em 1943 ao abrigo do Reciprocal Trade Agreements Act : 32 acordos em 1945 cujas claú sulas influenciaram o conteú do do General Agreement on Trade and Tariffs (GATT).
- Via multilateral: Criaçã o de instituiçõ es multilaterais que
combatessem o protecionismo e promovessem a liberalizaçã o comercial e os princípios do comércio livre.
(ii) O acordo de Bretton Woods (1945) apenas envolveu a criaçã o do Fundo
Monetá rio Internacional e do Banco Mundial nã o existindo qualquer previsã o de criaçã o de uma organizaçã o para regular o comercio internacional. Uma proposta nesse sentido surgiu só em 1946 por iniciativa do ECOSOC da ONU que propô s a criaçã o de uma Organizaçã o Internacional do Comércio (OIC) cujo draft de tratado constitutivo proposto pelos EUA foi objecto de negociaçõ es nas Conferências de Londres, Genebra e Havana.
Em paralelo os EUA, tendo em conta a sua experiência com os tratados
bilaterais de reduçã o tarifá ria, propuseram a outros países o inicio de negociaçõ es para um tratado multilateral visando a reduçã o reciproca de tarifas, o acordo GATT.
A preparaçã o do GATT e da OIC foram processos separados mas paralelos e
interligados - o GATT seria um tratado multilateral que deveria operar debaixo do chapéu da OIC e por esta gerido – que reflectiam as duas vias ensaiadas no período da guerra. Os dois processos foram negociados de forma conjunta e integrada. Assim, a Conferência de Genebra 1947 tinha 3 partes distintas: a primeira dedicada à criaçã o da OIC; a segunda dedicada à negociaçã o de um tratado multilateral para reduçã o de tarifas; a terceira à elaboraçã o de claú sulas gerais das obrigaçõ es relacionadas com tarifas. A segunda e terceira partes correspondiam ao GATT.
Como o Congresso dos EUA recusou a ratificaçã o da carta da OIC, subsistiu
apenas o acordo multilateral GATT que foi ratificado pelos EUA ao abrigo da delegaçã o de poderes que o Congresso tinha concedido ao Presidente em 1945 e que expirava em 1948. A entrada em vigor do GATT foi concebida numa base provisó ria ao abrigo do Protocolo de Aplicaçã o Provisó ria que, paradoxalmente, acabou por se prolongar por cerca de 48 anos até à criaçã o da OMC, tendo sido o principal instrumento jurídico internacional de regulaçã o do comércio internacional durante a Guerra Fria. Esta regulaçã o foi apenas parcial por três razõ es:
- limitaçõ es subjectivas: nã o se aplicava aos países membros do bloco
de Leste liderado pela USSR que nã o eram membros do GATT e que se regiam pelo principio da solidariedade socialista (incompatível com o principio MFN) e pelas regras do COMECON.
- limitaçõ es objectivas: em relaçã o aos membros as regras do GATT nã o
se aplicavam ao comércio de serviços, apenas ao comércio de bens e mesmo neste domínio nã o abrangia o comércio de produtos agrícolas e de têxteis e vestuá rio.
- regime “grandfather rights”: qualquer membro que tivesse uma
legislaçã o nacional em vigor previamente à data da adesã o ao GATT que fosse inconsistente com as regras da parte II (arts III a XXIII) poderia mantê-la em vigor, o que gerava dois efeitos que limitavam a efectividade das regras e fragilizavam o direito internacional: direito nacional poderia violar regras do direito internacional; inexistência de um regime ú nico, igual para todos os membros, em relaçã o à maioria das obrigaçõ es substantivas incluídas na parte II do GATT prevalecendo um quadro de assimetria das regras aplicá veis a diferentes membros. Só as partes I (principio MFN) e III (regras processuais) eram igualmente vinculativas para todos os membros do GATT.
O GATT é apenas um tratado multilateral aplicado provisoriamente, nã o é
uma organizaçã o internacional.
(ii) Rondas negociais
Foram realizados 8 Rounds negociais visando a liberalizaçã o do
Os 5 primeiros rounds concentraram-se na reduçã o das barreiras
tarifá rias e conseguiram introduzir com sucesso reduçõ es significativas nas tarifas dos produtos industriais. A partir do Kennedy Round a atençã o centrou-se também nas barreiras nã o-tarifá rias que se tornaram verdadeiramente o aspecto prioritá rio das negociaçõ es a partir do Tokyo Round.
O Uruguay Round introduziu modificaçõ es estruturais fundamentais na
regulaçã o do comércio internacional tendo um dos resultados fundamentais a criaçã o da Organizaçã o Mundial do Comércio (OMC). Outros resultados fundamentais do Uruguay Round incluem:
Reforma do GATT dando origem ao GATT 94 que envolveu a
aboliçã o dos “granfather rights”, a plena integraçã o da agricultura e dos têxteis e vestuá rio (com um período de transiçã o de 10 anos) no perímetro de regulaçã o. Aprovaçã o de um novo tratado multilateral para regular o comércio de Serviços GATS (General Agreement on Trade on Services), até aí nã o regulado pelo direito internacional do comércio internacional. Aprovaçã o de um novo tratado multilateral para regular os direitos de propriedade intelectual relevantes no â mbito do comércio internacional TRIPS definindo standards mínimos pra protecçã o de direitos como patentes, direitos de autor e segredos comerciais. Novo sistema de soluçã o de controvérsias plasmado no Dispute Settlement Understanding DSU que define um sistema ú nico aplicá vel aos três tratados substantivos.
A nova organizaçã o multilateral de regulaçã o do comércio internacional a OMC
está assente e 4 pilares fundamentais que correspondem aos tratados multilaterais que por ela sã o geridos:
(i) GATT 1994 – comércio de bens
(ii) GATS - comércio de serviços (iii) TRIPS - direitos de propriedade intelectual conexos com o comércio internacional (iv) DSU – sistema de soluçã o de controvérsias
2. Princípios do GATT
(i) Princípio da Não-Discriminação – 2 vertentes complementares
a) Cláusula da Nação mais Favorecida MFN (art. I): os países membros
devem estender a todos os membros do GATT qualquer concessã o comercial feita em benefício de um deles, qualquer tratamento mais favorá vel atribuído a um membro deve ser imediata e incondicionalmente extensível a todos os outros membros. Em suma, implica uma proibiçã o de discriminar entre importaçõ es provenientes de diferentes países, colocando os produtos importados de todos os parceiros comerciais de um membro do GATT em pé de igualdade entre si. Esta obrigaçã o aplica- se nã o só à s taxas aduaneiras, mas também a todos os encargos relacionados com importaçã o, como taxas administrativas de desalfandegamento, e também a impostos internos e taxas (por ex. taxas de IVA nã o podem ser diferentes para importaçõ es provenientes de diferentes parceiros comerciais) e regulamentos técnicos para transporte, venda, embalagem de produtos. Esta é a regra bá sica, o pilar fundamental de todo o edifício do GATT. A principal excepçã o a esta regra é o art. XXIV sobre os RTAs, os acordos regionais de comércio, uniõ es aduaneiras e á reas de comércio livre.
b) Principio do tratamento nacional (art. III): os produtos importados
devem receber o mesmo tratamento do que os produtos similares nacionais, implicando a proibiçã o de discriminaçã o entre produtos nacionais e produtos importados, pelo que coloca em pé de igualdade os produtos importados com os produtos internos do país importador. Tal nã o implica um tratamento exatamente igual mas sim que qualquer discriminaçã o tem de ser concentrada na fronteira, pelo que depois das importaçõ es passarem as fronteiras devem ser tratadas de forma nã o discriminató ria relativamente aos produtos nacionais no que respeita aos impostos e taxas internas a que sã o sujeitas, à s regras relativas à sua venda, transporte, distribuiçã o ou uso.
(ii) Princípio da Proibição de restrições quantitativas (art. XI)
Este principio implica a proibiçã o de restriçõ es quantitativas à s importaçõ es ou à s exportaçõ es, designadamente quotas importaçã o ou exportaçã o, uso restritivo de licenças de importaçã o ou exportaçã o, controlos de pagamentos internacionais, na medida em que distorcem os fluxos comerciais. Tal significa que a proteçã o na fronteira deve ser feita apenas através de tarifas como ú nico instrumento de proteçã o, as quais representam um indicador claro e inequívoco do grau de protecionismo, sem a utilizaçã o de subterfú gios ou barreiras nã o- alfandegá rias.
(iii) Principio da Transparência (art. X)
Este principio implica a obrigaçã o de todos os membros disponibilizarem informaçã o sobre o regime nacional de regulaçã o do comércio, publicarem as medidas e regulamentos internos que afectem o comércio de modo a garantir certeza, previsibilidade e responsabilidade
(iv) Princípio da Flexibilização em Caso de Urgência
Prevê a adoçã o de medidas excepcionais em determinadas situaçõ es.
Exemplos: a) Clá usulas de salvaguarda (art.XII)
b) Waivers: dispensa (isençã o) de compromissos assumidos (art.XXV)
3. Sistema de solução de Controvérsias
O Dispute Settlement Understanding é o tratado internacional que consolidou o
sistema de soluçã o de litigios no seio da OMC fundamental para gerir os conflitos comerciais. Este sistema introduziu diversas inovaçõ es:
(i) Unificaçã o do sistema de soluçã o de controvérsias que é o mesmo para
GATT, GATS e TRIPS. (ii) Principio do consenso negativo em substituiçã o do consenso positivo, o que assegura a todos os Membros da OMC, independentemente do seu poder econó mico, o direito a que a sua queixa seja apreciada e decidida, nã o podendo o Membro contra o qual é apresentada bloquear o processo. Em principio o processo avança e a decisã o é adoptada excepto se existir um consenso negativo, o que implica o acordo do Membro queixoso, para parar o processo e suster a adopçã o da decisã o. (iii) Previsã o de mecanismos que permitem uma decisã o relativamente rá pida de forma a minimizar os prejuízos através de mecanismos automá ticos para vencer a inércia das partes. (iv) Criaçã o de um mecanismo de recurso da decisã o dos painéis, e de um ó rgã o o Appelate Body que aprecia os recursos e tem uma funçã o central de sanar divergências na interpretaçã o das regras de direito internacional do comércio internacional, uniformizando a interpretaçã o e consolidando a jurisprudência da OMC; em segundo lugar o sistema de recurso contribui para uma maior aceitaçã o e cumprimento voluntá rio das decisõ es pelos Membros. (v) Sistema robusto de follow-up por parte do DSB (dispute settlement body) de modo a garantir o cumprimento, enforcement das decisõ es evitando também os mecanismos de “justiça privada”; em consequências só podem ser adoptadas sançõ es contra uma parte que nã o cumpre o direito internacional se decididas e implementadas pelo DSB.
Estas inovaçõ es tornaram mais robusto e credível o direito internacional do
comércio internacional na medida em que permitiram:
1. Consolidar a jurisprudência da OMC garantindo maior previsibilidade na
interpretaçã o e aplicaçã o do direito internacional, o que permite reduzir o risco 2. Despolitizar a soluçã o dos litígios comerciais e resolve-los numa ló gica jurídica e nã o diplomá tico-politica, reforçando o papel do direito internacional do comercio internacional, moderando o poder dos Estados mais fortes do ponto de vista econó mico e comercial. 3. Controlar e desincentivar a aplicaçã o de medidas e sançõ es unilaterais e arbitrá rias.