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Evolução da estrutura do Comércio

Internacional
• Para uma melhor compreensão da estrutura do
comércio internacional e para um entendimento
abrangente de sua importância, é fundamental
voltarmos à conjuntura histórica que deu origem a
atual Organização Mundial do Comércio (OMC) e
analisar as principais iniciativas no sentido da criação
de um organismo que regulasse o comércio
internacional no período após a Segunda Guerra
Mundial.
Evolução da estrutura do Comércio
Internacional
• A conjuntura do Pós Segunda Guerra Mundial tinha o
propósito de evitar o crescimento do socialismo que saiu
fortalecido no período posterior ao conflito.
• Com isso a maior preocupação dos países ocidentais
vencedores era a construção simultânea de um ambiente
pacífico, favorável ao crescimento econômico das nações, e
de uma ordem capitalista capaz de trazer estabilidade política
e econômica evitando assim o crescimento do socialismo.
• “Para alcançar esses objetivos era preciso construir uma
ordem econômica internacional que estabelecesse regras sob
as quais as forças de mercado pudessem atuar, permitindo a
previsibilidade das estratégias de investimentos
empresariais”.(GONÇALVES, 1998:55)
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• Nessa perspectiva, em 1944, foi firmado em Bretton Woods,


EUA, o acordo no qual o principal objetivo era criar as
condições para promover a reconstrução econômica
internacional, tendo como base três instituições
internacionais: FMI, BIRD e a OIC.
• O FMI é o Fundo Monetário Internacional voltado para
manutenção da estabilidade das taxas de câmbio e assistência
aos países membros em eventuais desequilíbrios no balanço
de pagamentos, através de acesso a fundos especiais,
desestimulando assim a prática da época de se utilizar regras
protecionistas e restrições ao comércio a cada desequilíbrio
do balanço de pagamentos.
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• O Banco Mundial ou Banco Internacional para Reconstrução e


Desenvolvimento (BIRD), com a função de financiar a reconstrução
dos países envolvidos na Guerra e também fornecer créditos para o
financiamento de projetos de infra-estrutura, programas
educacionais e ambientais, bem como a geração de emprego e
renda em países do chamado Terceiro Mundo.
• Organização Internacional do Comércio (OIC) com a missão de
construir, coordenar e supervisionar um sistema de comércio
internacional que facilitasse o funcionamento das forças de
mercado baseado nos princípios do multilateralismo e do
liberalismo. No entanto, a OIC não foi criada, na medida em que os
EUA temiam uma restrição à soberania do País na área do comércio
internacional em decorrência do surgimento da nova instituição.
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• Com a não criação da OIC, emerge, em 1947, o General Agreement on


Tariffs and Trade/Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), assinado
por 23 países, cujo objetivo principal era estabelecer as regras de
comércio internacional visando a liberalização do comércio mundial.
• Entretanto, não se tratava de um acordo definitivo e imutável. O
acordo inicial significou apenas um primeiro passo da liberalização do
comércio internacional que vem sendo, a partir de então, obtida de
forma progressiva com a introdução de periódicas rodadas de
negociações.
• O GATT tornou-se na prática, embora não legalmente, um organismo
internacional sediado em Genebra, coordenador e supervisor das
regras de comércio internacional, servindo como base institucional
para as negociações até o final da rodada do Uruguai e a criação da
atual Organização Mundial do Comércio (OMC).
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• O GATT acabou ganhando status de organização


internacional especial, à medida que apresentava
duas faces distintas:
1ª) constituiu num conjunto de regras procedimentais
sobre as relações comerciais entre os países
signatários.
2ª) constituiu num fórum de negociações comerciais
que procurava aproximar as posições de seus
signatários.
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• As regras básicas do GATT:

1 - Cláusula da Nação Mais Favorecida (NMF)


2 – Lista de Concessões (Reciprocidade)
3 – Eliminação das Restrições Quantitativas (Quotas)
4 – Tratamento Nacional
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• Cláusula da Nação Mais Favorecida (NMF):


• Proíbe a discriminação entre países que são
partes contratantes do Acordo Geral,
estabelecendo que toda vantagem, favor,
privilégio ou imunidade concedidos a uma parte
contratante (País) devem ser estendidos
imediatamente e incondicionalmente a qualquer
outra parte contratante. Essa regra prioriza o
multilateralismo em detrimento do bilateralismo.
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• Lista de Concessões (reciprocidade):


• Estabelece a lista dos produtos e das tarifas
máximas que devem ser praticadas no
comércio internacional. Cada parte
contratante (país) deve cumprir no comércio
com outras partes os favorecimentos previstos
nas Listas de Concessões de forma recíproca.
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• Eliminação das Restrições Quantitativas:


• Proíbe restrições quantitativas às importações
através de Quotas, Licenças de importação e de
exportação ou outras medidas. Caracterizadas como
barreiras não tarifárias, essas medidas são
taxativamente proibidas, sendo as tarifas o único
elemento de proteção a ser utilizado.
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• Tratamento Nacional:
• Conhecida como regra de “não-discriminação
entre produtos”, ela proíbe a discriminação entre
produtos nacionais e importados à medida que
estabelece que taxas e impostos internos e
legislações que afetam a venda interna, a
compra, o transporte e a distribuição não devem
ser aplicados a produtos importados.
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• Exceções das regras do GATT:

a) Formação de Blocos Econômicos;


b) Países em Desenvolvimento e Concessões
Acordadas;
c) Salvaguardas ao Balanço de Pagamentos;
d) Itens Protegidos;
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• Formação de Blocos Econômicos:

• Mesmo tendo como um dos principais objetivos a


“eliminação do tratamento discriminatório no
comércio internacional”, o GATT não impede a
formação de blocos econômicos regionais ou
aduaneiros que objetivem a eliminação de barreiras
ao comércio entre si.
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• Países em Desenvolvimento:
• Têm regras especiais no Artigo XVIII para proteger seus
balanços de pagamentos e suas indústrias nascentes.
• Concessões Acordadas:
• O Artigo XIX permite que em caráter temporário a parte
contratante fique livre para suspender as concessões
acordadas através de tarifas ou quotas, retirar ou
modificar as concessões, se um produto está sendo
importado em quantidades crescentes e sob condições de
causar a ruptura do mercado doméstico, incorrendo em
prejuízo à economia local.
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• Salvaguardas ao Balanço de Pagamentos:


• Permitem restrição da importação de
mercadorias como medida de proteger a
posição financeira externa e o balanço de
pagamentos por qualquer parte contratante
dentro de um período de crise, conforme
Artigo XII.
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• Itens Protegidos:
• O Artigo XX prevê que nada no Acordo deve impedir a adoção
de medidas para proteção do seguinte:
• moral pública,
• saúde humana, animal ou vegetal;
• comércio de ouro e prata;
• marcas, patentes e direitos autorais;
• tesouros artísticos e históricos;
• recursos naturais esgotáveis (água, ar, solo, flora, fauna);
• garantias de bens essenciais (alimentação, vestuários e
outros).
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• Rodadas de negociação do GATT:


• Ao longo dos 47 anos de sua existência (1947 a 1994), o GATT
teve seu mecanismo discutido e ampliado durante 8 (oito)
Rodadas de Negociações Multilaterais de comércio (Multilateral
Trade Negociations –MTN).

• A 1ª Rodada de Negociação do GATT ocorreu enquanto a Carta


de Havana ainda estava sendo elaborada. Essa rodada resultou
em 45.000 concessões tarifárias, afetando um comércio de US$
10 bilhões, cerca de 1/5 do total do comércio mundial. Ela
ocorreu na cidade de Genebra (Suíça), em 1947, com a
participação de 23 países, entre eles o Brasil.
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• A 2ª Rodada de negociação aconteceu na cidade de


Annency (França), em 1949. Contou com a participação
de 13 países e resultou em 5.000 reduções de tarifas.
• A 3ª Rodada de negociação aconteceu na cidade de
Torquay (Inglaterra), em 1951. Envolveu 38 países, que
acordaram a redução de 8.700 tarifas.
• A 4ª Rodada de negociação aconteceu em Genebra
(Suíça), em 1956. Os 26 países participantes acordaram
reduções de tarifas aplicáveis a 2,5 bilhões de dólares
em negócios.
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• A 5ª Rodada do GATT (1960-1961) negociada em


Genebra resultou em 4.400 reduções de tarifas.
• Esta foi a primeira vez que a Comunidade Econômica
Européia, hoje chamada de União Européia,
negociou como uma entidade, em nome de cada país
membro. Houve uma intensa negociação, mas os
resultados foram modestos: apenas 4.400
concessões tarifárias.
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• A 6ª. Rodada de negociação do GATT (1964-1967),


ocorreu em Genebra (Suíça), com 74 países-
membros. Essa Rodada resultou em reduções de
tarifas que variavam de 35 a 40 por cento. Resultou,
também, no Acordo Antidumping do GATT,
estabelecendo as normas para a regulamentação
nacional contra a exportação de bens a preços
desleais.
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• A 7ª Rodada de negociação ocorreu em Tóquio (Japão),


1973-1979. Ao final já eram 94 países-membros. Reformou-
se o sistema jurídico do GATT e estabeleceu-se nove acordos
sobre:
1 – Barreiras Técnicas
2 – Subsídios
3 – Antidumping
4 – Valoração aduaneira
5 – Licença de importação
6 – Compras Governamentais
7 – Comércio de Aeronaves
8 – Acordo sobre Carne Bovina
9 - Acordo sobre Produtos Lácteos
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• Nessa 7ª Rodada de negociação, houve progressos


com a legalização de tratamento preferencial
tarifário e não tarifário para as exportações dos
países em desenvolvimento nos mercados das
economias desenvolvidas, segundo o Sistema Geral
de Preferências (Generalized System of Preferences
– SGP).
• Porém, foram mantidas as restrições para produtos
industrializados e agrícolas desses países,
sobretudo nos produtos têxteis e alimentares
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• A última rodada de negociações e também a mais


importante, ocorreu entre os anos de 1986 e 1994
e tornou-se conhecida como Rodada Uruguai.
Lançada em Punta Del Este, a Rodada Uruguai foi
precedida de fortes divergências no que diz
respeito à inclusão de novos temas, como:
investimento e comércio, propriedade intelectual
e serviços. Considerava-se que as negociações
sobre esses assuntos fossem predominantemente
favoráveis aos interesses das nações desenvolvidas.
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• A inclusão de novos temas de interesse dos países


desenvolvidos gerou o receio por parte de economias
em desenvolvimento, como Brasil e Índia, de que isso
iria desviar a atenção das negociações pendentes
sobre acesso a mercados sobretudo de produtos
têxteis e agrícolas, que era de especial interesse para
a maioria das economias em desenvolvimento.
• Essa divisão de interesses permaneceu entre os
países membros e fez da Rodada Uruguai a mais
ampla, complexa e longa da história do GATT.
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• Os resultados dos dois primeiros anos de


negociação foram apresentados em Montreal,
no Canadá. O impasse nas negociações sobre
o tema agricultura levou à suspensão das
negociações dos demais temas. A proposta
norte-americana de eliminar os subsídios
agrícolas em dez anos não foi aceita pela CE.
Os impasses nas negociações prosseguiram
até 1992.
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• A etapa final das negociações iniciou-se em Genebra


em 1993 e depois do impasse na agricultura contou
ainda com a dificuldade de entendimento entre EUA
e CE sobre serviços. As negociações praticamente
encerraram-se em dezembro de 1993.
• Finalmente, em abril de 1994, em Marrakech, foi
assinado o acordo que engloba todas as áreas
negociadas durante a rodada. Considerada a rodada
de negociação mais relevante para o comércio
internacional, a Rodada Uruguai, prescreveu a
criação da Organização Mundial do Comércio –
OMC.
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• A ata final da rodada Uruguai, assinada por


123 países, consolidou a criação da OMC, que
entrou em vigor em janeiro de 1995. Assim, a
OMC é um desenvolvimento da estrutura
organizacional do GATT (1947), acrescida das
conclusões da Rodada Uruguai, com estrutura
ampliada, personalidade jurídica internacional
própria e poderes organizacionais no comércio
internacional.

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