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I - O COMÉRCIO INTERNACIONAL E OS PRINCIPAIS BLOCOS REGIONAIS

1 - O COMÉRCIO INTERNACIONAL

1.1 - A ORIGEM DA OMC E OS ACORDOS COMERCIAIS


O multilateralismo comercial surgiu com a criação do GATT em 1947, na Conferência de Havana (Cuba). Esse
acordo de tarifas começou a ser implantado em 1948 e seu princípio mais importante é o da Nação Mais Favorecida
(NMF), que proíbe a discriminação entre países signatários. Toda vantagem, favor ou privilégio envolvendo tarifas
aduaneiras e concedido bilateralmente deve ser estendido imediatamente ao comércio com os demais países. Esse
princípio consta do artigo 1º do GATT e é mais conhecido como Princípio de Não Discriminação entre as Nações.
Desde a criação do GATT foram realizadas sete rodadas de negociações para estimular o comércio entre seus
países-membros. As cinco primeiras estiveram voltadas exclusivamente para a redução de barreiras tarifárias. As
duas seguintes ampliaram o escopo de estímulo ao comércio com a inclusão de medidas não tarifárias e antidumping
(veja o quadro). A sétima rodada, uma das mais importantes pela abrangência que teve, foi lançada em Punta del Este
(Uruguai) e por isso recebeu o nome de Rodada Uruguai. Além de buscar diminuir as barreiras tarifárias e não
tarifárias, pretendia incorporar às regras do GATT setores como o agrícola, o têxtil e o de serviços, em que o
protecionismo se mantinha preservado por regras especiais que dificultavam a expansão das trocas comerciais.

RODADAS COMERCIAIS DO GATT

Ano Nome da rodada / Cidade onde Temas cobertos Países


foi lançada

1947 Genebra (cidade suíça) Tarifas (impostos cobrados sobre produtos) 23

1949 Annecy (cidade francesa) Tarifas 13

1951 Torquay (cidade inglesa) Tarifas 38

1956 Genebra Tarifas 26

1960-1961 Rodada Dillon (Genebra) Tarifas 26

1964-1967 Rodada Kennedy (Genebra) Tarifas e medidas antidumpin 62

1973-1979 Rodada Tóquio (capital japonesa) Tarifas e medidas não tarifárias 102

1986-1994 Rodada Uruguai (Punta del Este) Tarifas, medidas não tarifárias, regras, serviços, 123
propriedade intelectual, solução de controvérsias,
têxteis, agricultura, criação da OMC etc.

Prevista para durar quatro anos, a Rodada Uruguai extrapolou esse prazo por causa dos empecilhos impostos
pelos países desenvolvidos, sobretudo da União Europeia, que não queriam abrir mão dos subsídios concedidos a
seus agricultores. Essa ajuda econômica atingiu cifras superiores a 300 bilhões de dólares por ano, o que tem
prejudicado as economias dos países pobres. Com os subsídios, os produtos agrícolas das nações ricas ficam baratos,
o que torna a concorrência predatória, porque limita as exportações dos países em desenvolvimento. Estimativas do
Banco Mundial indicam que se esses subsídios fossem extintos poderia haver um aumento de mais de 200 bilhões de
dólares na renda dos agricultores dos países em desenvolvimento.
As negociações da Rodada Uruguai foram conduzidas até abril de 1994, quando foi assinada no Marrocos a
Declaração de Marrakech, documento que a concluiu e criou a Organização Mundial de Comércio (OMC) em
substituição ao GATT, que era apenas um acordo. Com isso a OMC passou a ter o mesmo status do Bird e do FMI e
mais força para fiscalizar o comércio mundial e fortalecer o multilateralismo. A organização começou a funcionar em
1º de janeiro de 1995. Desde essa data vem supervisionando os acordos comerciais e mediando disputas entres os
países signatários, que, em julho de 2008, eram 153 e controlavam quase 100% do comércio mundial (a entrada da
China em 2001, terceiro PIB e segundo maior exportador mundial em 2008, garantiu maior legitimidade e força à
organização).

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Quando um país se sente prejudicado no comércio internacional tem o direito de apresentar à OMC um pedido de
sanção contra a nação que está transgredindo as regras da organização. Caberá a ela encontrar uma saída consensual
para o problema. Caso não haja acordo entre os Estados envolvidos, a organização pode autorizar a imposição de
sanções econômicas, como a retaliação comercial. Por exemplo, depois de uma longa disputa comercial com os
Estados Unidos, por causa dos subsídios concedidos pelo governo norte-americano aos seus produtores de algodão,
em 2010 a OMC autorizou o Brasil a retaliar esse país no valor de 830 milhões de dólares. Fomos autorizados a
aumentar as tarifas de importação de diversos produtos daquele país para compensar as perdas dos exportadores
brasileiros.
Em 1999 houve a Terceira Conferência Ministerial da OMC, em Seattle, Estados Unidos (a primeira, em 1996,
foi em Cingapura e a segunda, dois anos depois, em Genebra). O objetivo da reunião foi iniciar a Rodada do Milênio,
que deveria levar à total liberalização do comércio internacional. Entretanto esse encontro, que foi marcado por
grandes manifestações de rua contrárias à globalização, fracassou por causa das divergências entre países
desenvolvidos e países em desenvolvimento.
Com o fracasso da reunião de Seattle, o tema da liberalização voltou a ser discutido na Quarta Conferência
Ministerial, realizada em Doha (Catar), em novembro de 2001. Após essa reunião iniciou-se uma nova rodada de
negociações, a Rodada Doha. Naquela ocasião, mais uma vez não houve acordo em razão da intransigência dos
governos dos países desenvolvidos, sobretudo europeus, que se recusaram a reduzir os subsídios que concedem aos
seus agricultores. Em setembro de 2003 realizou-se a Quinta Conferência Ministerial da OMC, em Cancún (México),
e os países desenvolvidos mantiveram o impasse nas negociações sobre o fim dos subsídios agrícolas. Porém, nesse
encontro, sob a liderança dos países do IBAS, especialmente do Brasil, foi organizado um bloco de vinte países em
desenvolvimento, batizado de G-20, para pressionar os países desenvolvidos a reverem suas medidas protecionistas
no setor agrícola (não confundir com o G-20 financeiro, o qual as potências emergentes querem consolidar no lugar
do G-8).
A atuação do G-20 do comércio está concentrada em agricultura, o tema central da Rodada Doha. Em 2009 o G-
20 tinha aumentado de tamanho, sendo composto de 23 países em desenvolvimento: 12 da América Latina, 6 da Ásia
e 5 da África (observe o mapa). O grupo reúne as principais potências emergentes - os países do Bric, com exceção
da Rússia, e os do IBAS - e outros importantes países em desenvolvimento como o México, a Argentina e a
Indonésia.

A criação do G-20 do comércio abriu perspectivas de mudança na questão dos subsídios agrícolas porque é fruto
da organização dos países em desenvolvimento. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o
grupo, além de representar importantes países agrícolas, tem grande legitimidade por sua capacidade de traduzir os
interesses dos países em desenvolvimento em propostas concretas e consistentes, e por sua habilidade de coordenar
seus membros e interagir com outros grupos da OMC.
A Rodada Doha estava prevista para ser concluída em 2005. Entretanto, apesar da articulação dos Países do G-
20, a intransigência dos países desenvolvidos na questão dos subsídios agrícolas vem impedindo um acordo. Em
julho de 2008 aconteceu em Genebra uma reunião ministerial da OMC e mais uma vez não se conseguiu chegar a
uma conciliação sobre os subsídios. Os países desenvolvidos exigiam dos países em desenvolvimento uma abertura
de seus mercados para bens não agrícolas – industriais e serviços – desproporcional às concessões que estavam
dispostos a fazer no setor agrícola. Como evidencia um comunicado do G-20 lançado um mês antes do encontro. Leia
abaixo.
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DECLARAÇÃO DO G-20 SOBRE A RODADA DOHA


A agricultura é o motor dessa Rodada de Desenvolvimento. Consequentemente, o nível de ambição em
agricultura determinará o nível de ambição em outras áreas, especialmente acesso a mercados para bens não
agrícolas. A nova tentativa de alguns Membros Desenvolvidos de reverter essa lógica e tentar obter um preço
desproporcional dos Países em Desenvolvimento em outras áreas é uma receita para o fracasso. Esta é uma
Rodada para rever distorções fundamentais em regras internacionais de comércio e, assim, contribuir para o
desenvolvimento. Essas distorções residem principalmente em Agricultura e em níveis de subsídios associados a
países desenvolvidos e faixas cumulativas de proteção a mercados.
G-20. Declaração do G-20 sobre a Rodada Doha. 20 jun. 2008.

Ao final da reunião ministerial da OMC a sensação foi de desalento, como fica evidente nas palavras do ministro
das Relações Exteriores Celso Amorim: “uma pena, pois para qualquer observador externo – alguém de outro
planeta, por exemplo - seria inacreditável que, depois do progresso alcançado, nós não conseguimos chegar a uma
conclusão". Com isso as negociações da Rodada Doha chegaram a um impasse.

1.2 - A EXPANSÃO DO COMÉRCIO MUNDIAL


Entretanto, esse impasse não deve obscurecer o fato de que os acordos multilaterais do GATT/OMC, e os
arranjos intrablocos ou interblocos têm feito o comércio internacional crescer constantemente há muitas décadas.
Desde a criação do GATT, esse crescimento tem sido mais rápido que o do produto mundial bruto (a soma do PIB de
todos os países). Segundo a OMC, as trocas comerciais aumentaram em média 6,2% ao ano no período 1950-2007,
ao passo que o PIB mundial cresceu no mesmo período 3,8% na média anual. Na tabela podemos observar que essa
tendência se manteve até ser abalada pelas crises econômicas da virada do século. Como consequência das crises que
atingiram alternadamente vários países na segunda metade da década de 1990, incluindo as duas maiores economias
do mundo - Estados Unidos e Japão -, as exportações cresceram menos que o produto mundial bruto em 1998 e 2001.

VARIAÇÃO DO VALOR DAS EXPORTAÇÕES E DO


PRODUTO MUNDIAL BRUTO (1998-2009)
Ano Exportações (%) Produto mundial bruto (%)
1998 –1,5 2,5
1999 3,9 3,5
2000 12,9 4,7
2001 –4,1 2,2
2002 4,8 2,9
2003 16,9 3,6
2004 21,7 4,9
2005 13,8 4,5
2006 15,7 5,1
2007 15,3 5,2
2008 15,0 3,0
2009 –9,0 –0,8

Como mostra a tabela, a partir de 2002 o comércio voltou a crescer com taxas elevadas, bem superiores ao PIB
mundial, mas a crise financeira de 2008 fez com que tanto o PIB como o comércio mundial reduzissem o ritmo de
crescimento (o gráfico mostra a situação dos países da OCDE, os mais atingidos pela crise). Com isso, em 2009 tanto
o comércio quanto o PIB mundial encolheram, situação inédita no pós-guerra.
Não podemos nos esquecer de que parte da expansão do comércio na segunda metade do século XX deveu-se aos
avanços tecnológicos na área de logística, que permitiram o aumento da capacidade individual de cargas dos meios de
transporte e a redução do tempo de deslocamento entre os lugares. Atualmente há supernavios que transportam
milhares de toneladas de mercadorias a granel ou em contêineres. Os aviões, o meio mais rápido, continuam sendo
usados principalmente para transporte de passageiros, mas também transportam cargas leves e de alto valor unitário,
como produtos eletrônicos, além de perecíveis, como flores e frutas.
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Assim como a produção, as finanças e a tecnologia, o comércio também está fortemente concentrado nos países
desenvolvidos e em alguns emergentes. Como mostram os dados da tabela a seguir, em 2008 os dez principais países
exportadores do mundo (sete potências do G-8, a China e mais dois países europeus) eram responsáveis por metade
do comércio internacional. Se considerarmos os 30 maiores exportadores, eles são responsáveis por 81% de todas as
trocas comerciais mundiais.

OS DEZ PRINCIPAIS PAÍSES COMERCIANTES - 2008

Posição / país Exportação Exportação Importação Importação


(bilhões de dólares) (% do total mundial) (bilhões de dólares) (% do total mundial)
1º Alemanha 1465 9.1 1206 7.3
2º China 1428 8.9 1133 6.9
3º Estados Unidos 1301 8.1 2166 13.2
4º Japão 782 4.9 762 4.6
5º Países Baixos 634 3.9 574 3.5
6º França 609 3.8 708 4.3
7º Itália 540 3.3 556 3.4
8º Bélgica 477 3.0 470 2.9
9º Rússia 472 2.9 292 1.8
10º Reino Unido 458 2.8 632 3.8
Total 10 mais 8166 50.7 8499 51.7
Total 30 mais 13120 81.4 13409 81.7
Total 153 membros 16127 100.0 16415 100.0

2 - OS BLOCOS REGIONAIS
Por que muitos Estados estão aceitando, embora com certa relutância, abdicar parcialmente de sua soberania para
fazer parte de blocos econômicos regionais? Desde o final da Segunda Guerra muitos países têm procurado diminuir
as barreiras impostas pelas fronteiras nacionais aos fluxos de mercadorias, capitais, serviços, e até mesmo de mão de
obra, na busca de aumentar os lucros das empresas, os empregos dos trabalhadores e seus respectivos PIBs.
Os países podem se organizar em diferentes tipos de blocos regionais: zonas de livre comércio, uniões
aduaneiras, mercados comuns e uniões econômicas e monetárias.
Numa zona de livre comércio, como o Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), que reúne os três
países da América do Norte, o objetivo não é muito ambicioso. Busca-se apenas a gradativa liberalização do fluxo de
mercadorias e de capitais dentro dos limites do bloco.
Na união aduaneira, um estágio intermediário entre a zona de livre comércio e o mercado comum, além da
abolição das tarifas alfandegárias nas relações comerciais no interior do bloco, é definida uma Tarifa Externa
Comum, que é aplicada aos países de fora da união. Assim, quando os integrantes do bloco negociam com outros
países do mundo, embora haja exceções, utilizam uma tarifa de importação padronizada, igual para todos eles. O
Mercosul é um exemplo de união aduaneira.
No mercado comum, como a União Europeia (caso único até 2011), a integração é mais ambiciosa. Busca-se a
padronização da legislação econômica, fiscal, trabalhista, ambiental etc, nos 27 países que compõem o bloco
regional. Entre os resultados, estão a eliminação das barreiras alfandegárias internas, a uniformização das tarifas de
comércio exterior e a liberalização da circulação de capitais, mercadorias, serviços e pessoas no interior do bloco. No
caso da União Europeia, o auge da integração deu-se com a implantação da moeda única, o que exigiu a criação do
Banco Central Europeu e a convergência das políticas macroeconômicas. Assim, o bloco atingiu a condição de união
econômica e monetária, único exemplo no mundo até o momento, embora continue também funcionando como um
mercado comum.
Paralelamente à constituição de blocos econômicos, como os mencionados, têm sido estabelecidos acordos
bilaterais de livre comércio que integram países isoladamente ou que pertencem a algum bloco. Por exemplo, o
México, que pertence ao Nafta, firmou um acordo com a União Europeia e outro com o Chile, que por sua vez é
associado ao Mercosul e tem acordos bilaterais com os Estados Unidos (do Nafta), a China, o Japão etc. Até
dezembro de 2008, o GATT/OMC recebeu a notificação de 421 acordos de livre circulação de mercadorias e
serviços, incluindo a formação de blocos econômicos regionais e arranjos bilaterais, dos quais 230 permaneciam em
vigor naquela data.

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O processo de integração regional interessa aos Estados, mas também aos grandes conglomerados
multinacionais. O processo de globalização e os acordos regionais de comércio têm acentuado a tendência de
concentração de capitais, já que as grandes corporações passam a ter uma mobilidade espacial e uma capacidade de
competição sem precedentes. Nas últimas décadas tem havido muitas fusões de empresas, tanto em escala nacional
quanto global, o que as fortalece nas negociações comerciais e amplia sua influência política em muitos países.
No pós-guerra as empresas multinacionais têm se movimentado com mais facilidade entre diversos países, tanto
desenvolvidos como em desenvolvimento. No entanto, as fronteiras, os limites territoriais entre os países, com suas
normas e impostos aduaneiros, ainda impõem muitas barreiras à circulação de mercadorias (especialmente produtos
agrícolas), capitais e, sobretudo, pessoas pelo mundo. A busca por reduzi-las de forma multilateral vem desde a
criação do GATT, mas ainda esbarra em muitos conflitos de interesse, como vimos. Os acordos regionais também
não resolvem o problema porque embora reduzam as barreiras no interior de um bloco ainda mantêm muitas delas
para os países de fora, ou seja, desviam comércio e investimentos, como veremos. Por isso muitos defendem que o
melhor estímulo para a expansão do comércio internacional são os acordos multilaterais no âmbito da OMC. Mas,
apesar de suas limitações, após a Segunda Guerra houve uma grande expansão de blocos regionais de comércio.
Analisaremos a seguir os mais significativos em cada continente.
2.1 - UNIÃO EUROPEIA
A União Europeia (UE) foi criada pelo Tratado de Roma, assinado em 25 de março de 1957, com o nome de
Comunidade Econômica Europeia (CEE). O nome atual só foi adotado no início da década de 1990. Seus primeiros
integrantes foram França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo - grupo chamado Europa
dos 6. O processo de integração de suas economias se iniciou em 1º de janeiro de 1958, com a entrada em vigor do
Tratado de Roma. Desde essa data o bloco não parou de se expandir, chegando aos atuais 27 países. Em 2010, havia
ainda países candidatos – Turquia, Croácia e antiga República Iugoslava da Macedónia, além da Islândia - cuja
integração ao bloco vinha sendo negociada.
Os objetivos iniciais da CEE eram recuperar a economia dos países-membros, enfraquecidos econômica e
politicamente após a Segunda Guerra, espantar o espectro do comunismo e, ao mesmo tempo, deter o crescente
avanço da influência econômica norte-americana. Esses objetivos, muito abrangentes, foram alcançados
gradativamente. Embora a supressão de tarifas aduaneiras date de 1968, continuou vigente uma série de barreiras que
impediam a implantação de um mercado comum propriamente dito. Este só se delineou em 1986 com a assinatura do
Ato Único, acordo que complementou o Tratado de Roma. Esse documento definiu objetivos precisos para a
integração: o fim de todas as barreiras à livre circulação de mercadorias, serviços, capitais e pessoas, a ser atingido
até 1993. De fato, nesse ano começou a funcionar o Mercado Comum Europeu e os três primeiros objetivos foram
postos em prática. A livre circulação de pessoas começou a valer em 1995, quando entrou em vigor a Convenção de
Schengen (acordo que prevê a supressão gradativa de controle fronteiriço entre os países signatários).
Em 1991, os países-membros do Mercado Comum Europeu assinaram o Tratado de Maastricht (cidade dos
Países Baixos), por meio do qual definiram os passos seguintes da integração e mudaram a denominação do bloco
para União Europeia. Nesse mesmo tratado os integrantes do bloco também decidiram utilizar uma moeda única, o
euro, que começou a circular em 1º de janeiro de 2002 - exceto no Reino Unido, na Dinamarca e na Suécia. Assim, a
UE tornou-se uma união econômica e monetária, com controle cambial e monetário exercido pelo Banco Central
Europeu, sediado em Frankfurt (Alemanha).
Em 2000, o Tratado de Nice introduziu, entre outros avanços, a Carta de Direitos Fundamentais, que definiu os
direitos de cidadania em todos os países da UE. Em 2009, entrou em vigor o Tratado de Lisboa, que substituiu todos
os anteriores e deu mais poderes ao Parlamento Europeu, alçado ao mesmo patamar decisório da Comissão Europeia
(braço executivo do bloco).
A Política Externa e de Segurança Comum vem sendo delineada desde o Tratado de Maastricht. Com ela, os
europeus pretendem, gradativamente, consolidar um sistema de defesa comum, provavelmente tendo como base a
União da Europa Ocidental (UEO). Essa entidade foi criada no período pós-Segunda Guerra como uma aliança de
assistência mútua exclusivamente Europeia, mas sempre esteve à sombra da Otan. Com o fim da Guerra Fria e a
política de aprofundamento do processo de integração, os europeus estão empenhados em fortalecer a UEO e ao
mesmo tempo manter a cooperação com a Otan, evitando atritos com os norte-americanos.
Desde a assinatura do Tratado de Maastricht, houve um gradativo fortalecimento do Parlamento Europeu, cuja
sede fica em Estrasburgo (França). Esse órgão representa os cidadãos dos países-membros: seus parlamentares são
eleitos diretamente e tomam decisões que afetam toda a UE. O número de representantes é proporcional à população
de cada país. A Alemanha, o país mais populoso, tem direito a 99 deputados, e Malta, o de menor população, tem
direito a 5, de um total de 736 deputados (analise a tabela).
A União Europeia é, de longe, o maior bloco comercial do planeta: em seus domínios está a maior potência
exportadora do mundo, a Alemanha, além de mais cinco países da lista dos 10 principais países comerciantes: mas há
também pequenas economias com um comércio externo reduzido, como a Letônia. Em 2008, segundo a OMC, as
exportações do conjunto dos 27 países da UE atingiram 5,9 trilhões de dólares (37,5% do total mundial), e as
importações, 6,3 trilhões (38,9%). Entretanto, a maior parte desse comércio é intrabloco. No mesmo ano, as
exportações extra-UE somaram 1,9 trilhões de dólares, e as importações de países de fora do bloco, 2,3 trilhões.
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O Conselho da União Europeia representa cada um dos Estados-membros e é o principal órgão de tomada de
decisões no âmbito do bloco. Saiba mais sobre o Conselho Europeu lendo o texto a seguir.

CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA


O Conselho é o principal órgão de tomada de decisões da UE. Tal como o Parlamento Europeu, o Conselho
foi instituído pelos Tratados constitutivos na década de cinquenta. Representa os Estados-Membros, e nas suas
reuniões participa um ministro do governo nacional de cada um dos países da UE.
O ministro que tem de participar depende do tema a tratar. Se, por exemplo, o Conselho se destina a tratar
assuntos ambientais, participam na respectiva reunião os ministros do ambiente de todos os países da UE. Trata-
se então do Conselho "Ambiente".
As relações da UE com o resto do mundo são tratadas no Conselho "Assuntos Gerais e Relações Externas".
No entanto, o Conselho, neste tipo de configuração, tem também uma responsabilidade política mais genérica e,
por esse motivo, nas suas reuniões podem participar outros ministros e secretários de Estado, consoante seja
decidido pelos respectivos governos.
Existem nove diferentes configurações do Conselho: Assuntos Gerais e Relações Externas; Assuntos
Econômicos e Financeiros; Justiça e Assuntos Internos; Emprego, Política Social, Saúde e Proteção dos
Consumidores; Competitividade; Transportes, Telecomunicações e Energia; Agricultura e Pescas; Ambiente;
Educação, Cultura e Juventude.
Cada ministro que participa num Conselho tem competência para vincular o seu governo. Por outras
palavras, a assinatura do ministro obriga todo o seu governo. Além disso, cada ministro que participa no
Conselho é responsável perante o seu Parlamento nacional e perante os cidadãos que esse Parlamento
representa. Está assim assegurada a legitimidade democrática das decisões do Conselho.
Quatro vezes por ano, os presidentes e/ou os primeiros-ministros dos Estados-Membros, bem como o
Presidente da Comissão Europeia, reúnem-se no âmbito do Conselho Europeu. Estas “cimeiras” – encontros de
cúpula entre chefes de Estado e de governo, determinam as grandes políticas da UE e resolvem questões que não
puderam ser decididas num nível inferior (ou seja, pelos ministros nas reuniões normais do Conselho). Dada a
importância dos debates do Conselho Europeu, é frequente que estes se prolonguem pela madrugada, atraindo
grande atenção por parte dos meios de comunicação social.
EUROPA. Instituições e outros órgãos da UE. Conselho da UE.

UNIÃO EUROPEIA - 2007


Membros População PNB Exportações Representantes no
(milhões de habitantes) (bilhões de dólares) (bilhões de dólares) Parlamento Europeu
(mandato 2009-2014)
Alemanha 82 3307 1326 99
França 62 2467 553 72
Reino Unido 61 2464 438 72
Itália 59 1988 492 72
Espanha 45 1315 241 50
Polônia 38 375 139 50
Romênia 22 138 40 33
Países Baixos 16 748 551 25
Grécia 11 288 24 22
Portugal 11 201 51 22
Bélgica 11 437 431 22
República Tcheca 10 151 122 22
Hungria 10 118 95 22
Suécia 9 438 169 18

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Áustria 8 349 163 17
Bulgária 8 35 18 17
Dinamarca 5 303 103 13
Finlândia 5 234 90 13
Eslováquia 5 63 58 13
Irlanda 4 208 121 12
Lituânia 3 33 17 12
Letônia 2 23 8 8
Eslovênia 2 43 30 7
Estônia 1 17 11 6
Chipre 0.9 20 - 6
Luxemburgo 0.5 34 - 6
Malta 0.4 7 - 5
Total 491.8 15774 5291 736

A UE também dispõe de um poder executivo, a Comissão Europeia, que, por representar o interesse comum do
bloco, é independente dos governos nacionais e tem como principal função pôr em prática as decisões tomadas pelo
Conselho e pelo Parlamento, ou seja, é o órgão executivo por excelência. Sua sede fica em Bruxelas (Bélgica),
considerada a capital da UE.

2.2 - NAFTA
O Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês de North American Free Trade
Agreement) foi assinado em 1992 por Estados Unidos, Canadá e México e entrou em vigor em lº de janeiro de 1994.
Historicamente os Estados Unidos sempre estimularam o multilateralismo e encaravam com reserva a formação de
blocos comerciais por considerá-los uma forma de limitar seus mercados no mundo. Só concordou com a criação da
Comunidade Econômica Europeia em 1957, porque julgava que o acordo ajudaria a consolidar o capitalismo na
Europa Ocidental e a deter o avanço do comunismo.
No atual mundo globalizado, com o aumento da concorrência e a consolidação da tendência de formação de
blocos, os norte-americanos viram no regionalismo comercial um meio de expandir seus interesses econômicos na
América. Depois do Nafta, a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) foi o principal projeto integracionista
defendido pelo governo Clinton (1992-2000), porém está paralisado desde o governo Bush (2000-2008). A partir de
então os Estados Unidos passaram a firmar acordos bilaterais com diversos países da América, como o Chile, e de
outros continentes, como a Austrália.
O Nafta é um gigantesco mercado consumidor: em 2007 sua população era de 440 milhões de pessoas e o PNB
superava 16 trilhões de dólares. Segundo a OMC, em 2008 as exportações conjuntas dos três países do bloco
somaram 2 trilhões de dólares e as importações, 2,9 trilhões. Esse enorme déficit comercial é quase todo
responsabilidade dos Estados Unidos, que apresentaram uma balança comercial desfavorável no valor de 865 bilhões
de dólares naquele ano.
Desde a criação do Nafta houve um grande crescimento do comércio intrabloco, que desviou fluxos de
mercadorias de outras regiões, sobretudo da União Europeia. Com a gradativa redução das barreiras alfandegárias
entre os três países-membros essa zona de livre comércio ampliou significativamente suas trocas comerciais.

NAFTA - 2007
Membro População PNB Exportações
(milhões de habitantes) (bilhões de dólares) (bilhões de dólares)
Estados Unidos 302 13886 1162
Canadá 33 1308 419
México 105 990 272
Total 440 16184 1853

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Os números da tabela mostram que com a criação do Nafta acentuou-se a dependência do Canadá e
principalmente do México em relação aos Estados Unidos, cuja economia em 2007 correspondia a 86% do produto
interno do bloco. Em 2006 esses países dependiam mais do mercado norte-americano para vender seus produtos do
que em 1986, antes da criação da zona de livre comércio. Com a crise financeira que se iniciou nos Estados Unidos
essa dependência foi muito prejudicial aos outros dois países. Segundo o FMI, em 2008 o PIB mexicano cresceu
1,3% e em 2009 encolheu 6,8%; já o PIB canadense cresceu 0,4% em 2008 e encolheu 2,6% em 2009. Dos principais
países emergentes, como vimos anteriormente, o México foi o que mais sofreu com a crise de 2008.

PRINCIPAIS DESTINOS DAS EXPOSTAÇÕES DE CANADÁ E MÉXICO


(PORCENTAGEM DO TOTAL EXPORTADO)

Destinos Canadá México


1986 2006 1986 2006
Estados Unidos 77.8 82.3 65.8 79.2
União Europeia 7.0 6.1 14.5 4.8
Ásia 9.2 7.3 - -
América Latina - - 10.6 4.9

ALCA
As negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) foram iniciadas na I Cúpula
das Américas, realizada em Miami (Estados Unidos), em 1994, organizada pelo então presidente Bill Clinton. O
objetivo era implantar uma zona de livre comércio (envolvendo todos os países americanos, com exceção de
Cuba). O governo dos Estados Unidos esperava o encerramento das negociações até o inicio de 2005 e a entrada
em vigor dos acordos no final daquele ano, quando a Alca deveria começar a funcionar.
Entretanto, a resistência do Brasil e de seus sócios do Mercosul ao modelo de integração proposto e a perda
de prioridade da América Latina, após o ataque às torres gêmeas em 2001 e o envolvimento do governo George
W. Bush nas guerras do Afeganistão (2001) e do Iraque (2003), puseram fim às negociações.
Principalmente no Brasil, havia o receio de que a entrada na Alca pudesse trazer prejuízos econômicos. De
forma geral, a produtividade da economia norte-americana é maior que a brasileira, e a entrada de produtos com
tarifa zero causaria problemas em muitos setores, sobretudo na indústria e nos serviços. No entanto, nosso país é
mais competitivo que os Estados Unidos em alguns setores industriais - siderurgia, têxtil, calçados, celulose,
açúcar e álcool, entre outros. Mas o governo americano impõe uma série de barreiras não tarifárias justamente a
esses produtos, dificultando sua entrada.
Em 2009, a eleição de Barack Obama não mudou esse cenário porque sua maior preocupação foi enfrentar
a grave crise financeira que se abateu sobre os Estados Unidos no ano anterior e resolver as guerras no Iraque e
no Afeganistão.
Um exemplo do quanto está paralisado o projeto Alca: em 21 de março de 2010, ao buscar informações em
seu site oficial, o internauta se deparava com o seguinte aviso: "Este site foi atualizado em 21 de junho de
2006", Eram exatos três anos e nove meses sem atualização!
Na V Cúpula das Américas realizada em 2009 em Porto of Spain (Trinidad e Tobago), a integração no
âmbito da Alca nem foi discutida. Os temas de maior evidência foram a crise financeira mundial e a
reintegração de Cuba à OEA. A declaração final girou em torno de questões genéricas como a promoção da
prosperidade humana, da segurança energética e da sustentabilidade ambiental. A única menção ao comércio
deixou clara a preocupação em aprofundar o intercâmbio na esfera da OMC, ou seja, no âmbito de um sistema
multilateral, não regional, como propunha a Alca.

2.3 - MERCOSUL
O Mercado Comum do Sul (Mercosul) começou a se formar em 1985, nos governos de Raúl Alfonsín
(Argentina) e José Sarney (Brasil). Para viabilizar o projeto de integração, Brasil e Argentina tiveram de colocar de
lado sua tradicional rivalidade e seus projetos hegemônicos na América do Sul, vigentes na época em que eram
governados por regimes militares. Várias reuniões foram realizadas entre representantes dos dois governos ao longo
dos anos seguintes até que incorporassem o Paraguai e o Uruguai nas negociações e os quatro assinassem o Tratado
de Assunção em 1991.

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O objetivo inicial era estabelecer uma zona de livre comércio entre os países-membros por meio da eliminação
gradativa de tarifas alfandegárias e restrições não tarifárias, liberando a circulação da maioria das mercadorias.
Alcançada essa meta, em 1994 foi assinado o Protocolo de Ouro Preto e fixou-se uma política comercial conjunta dos
países do Mercosul em relação a nações não integrantes do bloco, medida que definiu a Tarifa Externa Comum
(TEC) e transformou o bloco em união aduaneira. A TEC serve para que todos cobrem um imposto de importação
comum, para evitar que algum membro dê tratamento diferenciado a determinado setor e se torne porta de entrada de
produtos que depois poderiam circular livremente dentro do bloco. Entretanto, como há uma lista grande de exceções,
isto é, de produtos que não se enquadram na TEC, diz-se que o Mercosul é uma união aduaneira
imperfeita/incompleta.
O Protocolo de Ouro Preto também criou uma estrutura institucional - composta pelo Conselho do Mercado
Comum e pela Comissão de Comércio do Mercosul, entre outros órgãos - para que a integração se aprofunde,
chegando - assim se pretende – ao estágio de mercado comum, terceira e mais avançada etapa do processo de
integração.
O Chile e a Bolívia assinaram acordos de livre comércio com o Mercosul em 1996, e o Peru, em 2003. Em 2004,
foi decidido que a Colômbia e o Equador seriam incorporados ao bloco como países associados. Isso não significa,
porém, a entrada desses países no bloco como membros-plenos, mas apenas a abolição gradativa de barreiras
alfandegárias, visando estimular o comércio regional. Em julho de 2006, foi assinado o protocolo de adesão da
Venezuela como membro-pleno do Mercosul, mas para efetivar sua entrada é necessário que os congressos de cada
um dos países-membros aprovem sua entrada. Os parlamentos da Argentina, do Uruguai e do Brasil já aprovaram.
Até o início de 2010 continuava faltando a chancela do congresso paraguaio. Muitos congressistas brasileiros
resistiram a aprovar a entrada da Venezuela com o argumento de que o governo de Hugo Chavez não era
democrático: o mesmo ocorre entre muitos de seus pares paraguaios. Nos acordos do Mercosul há uma cláusula
segundo a qual se um país-candidato não respeitar as regras da democracia constitucional não pode ser aceito no
bloco, e se um país-membro a desrespeitar é passível de expulsão.
Entretanto, problemas econômicos e divergências políticas entre o Brasil e a Argentina têm mostrado que deve
ser longo o caminho para a implantação do mercado comum, marcado inclusive por retrocessos. A desvalorização
cambial brasileira de 1999 fez os argentinos adotarem uma série de medidas protecionistas para barrar a entrada de
produtos brasileiros, que ficaram baratos com o enfraquecimento do real. A crise argentina, entre 2001 e 2002,
causou acentuada queda do PIB do país e consequentemente um grande aumento do desemprego e da pobreza, além
de redução da capacidade de consumo. Com isso, as exportações brasileiras para o vizinho argentino despencaram
nesse período, como mostra a tabela.

COMÉRCIO BRASILEIRO COM A ARGENTINA E O MERCOSUL


(EM BILHÕES DE DÓLARES)
Ano Exportações para a/o Importações para da/do
Argentina Mercosul Argentina Mercosul
1998 6.8 8.9 8.0 9.4
1999 5.4 6.8 5.8 6.7
2000 6.2 7.7 6.8 7.8
2001 5.0 6.4 6.2 7.0
2002 2.3 3.3 4.7 5.6
2003 4.6 5.7 4.7 5.7
2004 7.4 8.9 5.6 6.4
2005 9.9 11.7 6.2 7.1
2006 11.7 14.0 8.1 9.0
2007 14.4 17.4 10.4 11.6
2008 17.6 21.7 13.3 14.9
2009 12.8 15.8 11.3 13.1

A retomada do crescimento econômico nos dois principais países-membros, o aumento do fluxo de comércio
entre eles, especialmente a partir de 2004 (analise a tabela acima), e a assinatura do protocolo de adesão da Venezuela
(2006) são fatos que apontavam para um fortalecimento do Mercosul após anos de instabilidade. Entretanto, a crise
financeira de 2008 e a retomada de medidas protecionistas por parte da Argentina provocaram uma queda
significativa do comércio intrarregional em 2009, como mostra a tabela. Além disso, o aumento da competição
chinesa – apesar da TEC - tem tomado o lugar de produtos brasileiros no comércio com o bloco. Esses fatos puseram
o Mercosul novamente em xeque.
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GEOGRAFIA 1 CURSO ASCENSÃO
Como mostra a tabela a seguir, em 2007 o bloco tinha uma população de 241 milhões de habitantes e um PNB de
1,4 trilhão de dólares. Em população, equivale a pouco mais da metade do Nafta e da União Europeia, mas seu PNB é
cerca de 12 vezes menor que o desses blocos. Em termos de comércio o peso proporcional do Mercosul é ainda
menor. De acordo com a OMC, em 2008 os quatro países do bloco exportaram mercadorias no valor de 279 bilhões
de dólares e importaram 259 bilhões. Desse total, o Brasil foi responsável por exportações no valor de 198 bilhões de
dólares e por importações de 183 bilhões. Como se pode perceber, o Brasil é responsável por cerca de 70% do
comércio exterior do Mercosul. Veja os indicadores desse bloco e os compare com os da UE e do Nafta.

MERCOSUL – 2007
Membro População PNB Exportações
(milhões de habitantes) (bilhões de dólares) (bilhões de dólares)
Brasil 192 1122 160.6
Argentina 40 239 55.9
Uruguai 3 21 4.5
Paraguai 6 11 2.8
Total 241 1393 223.8

2.4 - UNASUL
A grande pretensão do governo brasileiro, desde a década de 1960, é fortalecer a integração da América do Sul
em acordos que reúnam todos os países do subcontinente, projeto que vem sendo impulsionado com a letargia do
Mercosul. Um importante passo foi dado nessa direção durante a III Reunião de Presidentes da América do Sul,
realizada em Cuzco (Peru) em 8 de dezembro de 2004, quando foi estabelecida a Comunidade Sul-Americana de
Nações. A Declaração de Cuzco, documento fundador desse fórum, reafirma em sua introdução a convergência
entre os países sul-americanos: "A história compartilhada e solidária de nossas nações, que desde as façanhas da
independência têm enfrentado desafios internos e externos comuns, demonstra que nossos países possuem
potencialidades ainda não aproveitadas tanto para utilizar melhor suas aptidões regionais quanto para fortalecer as
capacidades de negociação e projeção internacionais”.
Em 2007, em reunião ocorrida na Venezuela, o nome dessa entidade foi mudado para União das Nações Sul-
Americanas (Unasul), cujo objetivo é criar um espaço sul-americano integrado no âmbito político, social, econômico,
ambiental e infra-estrutural. A base para isso será a criação de uma zona de livre comércio que integre os países do
Mercosul, da Comunidade Andina, o Chile, a Guiana e o Suriname.
Em uma reunião de representantes dos 12 países sul-americanos ocorrida em Brasília, em 23 de maio de 2008, a
Unasul foi oficialmente formalizada, ganhando status jurídico-político próprio, isto é, se transformou num organismo
internacional. Com isso deixou de ser apenas um fórum e passou a ter a possibilidade de adotar medidas conjuntas
como a integração das infra-estruturas – transportes, energia, telecomunicações etc. - visando à aproximação dos
países-membros. Além disso, foi proposta a criação de um Conselho de Defesa para resolver pendências e possíveis
conflitos entre os países do subcontinente.

2.5 - ASEAN E APEC


Há mais de duas décadas a Ásia vem apresentando os maiores índices de crescimento econômico do mundo e seu
comércio intrarregional tem aumentado mais do que as trocas com outras regiões. Apesar disso, é o continente em
que menos avançou o processo de formação de blocos regionais de comércio. As rivalidades e desconfianças
históricas entre os países asiáticos, sobretudo entre Japão, China, Índia e Coréia do Sul, suas maiores economias, têm
dificultado uma integração regional mais aprofundada. Assim, ao contrário das outras potências econômicas mundiais
- Estados Unidos e Alemanha -, o Japão e a China não lideram nenhum bloco regional de comércio. Nenhum dos dois
faz parte do mais importante bloco comercial da região, a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
Integram a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), mas esse fórum composto por diversos países dos três
continentes banhados pela bacia do Pacífico - Ásia, América e Oceania - ainda não constitui uma zona de livre
comércio.
A Asean (do inglês Association of South East Asian Nations) foi criada para desenvolver o Sudeste Asiático e
aumentar a estabilidade política e econômica da região. Foi estabelecida em 1967 em Bancoc (Tailândia) pelos cinco
membros fundadores: Indonésia, Malaísia, Filipinas, Cingapura e Tailândia. Em 1997, no 30º aniversário da
associação, foi lançada a Asean Visão 2020, ambicioso plano para criar a Comunidade Asean visando aprofundar a
integração econômica, política e cultural entre seus países-membros.
Em 2009, o bloco contava com dez países. Além dos fundadores também compunham o bloco: Brunei, Vietnã,
Laos, Camboja e Myanmar (excetuando os três últimos, os outros sete também são membros da Apec: observe seus
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indicadores em destaque na tabela). Os dez países da Asean dispõem de um amplo mercado consumidor. Segundo
dados da entidade, em 2008 sua população era de 584 milhões de habitantes e seu PIB conjunto, de 1,5 trilhão de
dólares. De acordo com a OMC, em 2008 os países do bloco exportaram 990 bilhões de dólares e importaram 936
bilhões.

APEC - 2007
Membro População PNB Renda per capita
(milhões de habitantes) (bilhões de dólares) (dólares)
Estados Unidos 302 13886 46040
Japão 128 4829 37790
China 1318 3126 2370
Canadá 33 1308 39650
Rússia 142 1070 7530
México 105 990 9400
Coreia do Sul 48 956 19730
Austrália 21 752 35760
Taiwan 23 691 30084
Indonésia 226 373 1650
Hong Kong (China) 7 219 31560
Tailândia 64 217 3400
Malásia 27 171 6420
Cingapura 5 148 32340
Filipinas 88 142 1620
Chile 17 136 8190
Nova Zelândia 4 115 27080
Peru 28 95 3410
Vietnã 85 65 770
Brunei 0.4 10 26740
Papua Nova Guiné 6 5 850
Total 2677.4 29304 -

A Apec (do inglês Asia Pacific Economic Cooperation) foi fundada em 1989. Com sede em Cingapura, é
composta de vinte países da bacia do Pacífico e por Hong Kong (região administrativa especial chinesa). Por
enquanto é apenas um fórum, mas com o tempo pretende implantar uma zona de livre comércio entre seus membros.
Entretanto, para que isso aconteça terão de superar muitos problemas ligados às suas profundas disparidades
socioeconômicas, como se pode observar na tabela. A Apec tem como membro a maior potência econômica do
mundo, os Estados Unidos, e também um dos países mais pobres, o Vietnã. A renda per capita do primeiro é 60
vezes maior que a do segundo.
Há também problemas político-econômicos a serem superados. Apesar da crescente interdependência econômica
dos países da bacia do Pacífico, é muito difícil estabelecer uma integração semelhante à da União Europeia, ou
mesmo à do Nafta, por causa das disputas comerciais entre as três principais potências - Estados Unidos, Japão e
China - e da característica fortemente nacionalista dos projetos de desenvolvimento implantados pelos Estados da
região, especialmente do Leste e Sudeste Asiático.
Se a Apec se constituísse como um bloco econômico seria o maior do mundo, superando a União Europeia. Em
2008, segundo dados da entidade, sua população correspondia a 40,5% dos habitantes do planeta; seu PIB, a 54,2%
da produção bruta mundial; e suas exportações/importações, a 43,7% do comércio internacional.

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2.6 - SADC
Na África os processos de integração regional são
prejudicados pelo grave quadro de desagregação do continente:
dependência econômica, carência de infra-estrutura básica, baixo
nível de industrialização, pobreza, fome, epidemias e guerras
civis. Os blocos africanos - Comunidade Econômica e Monetária
da África Central (EMCCA, em inglês), Comunidade Econômica
dos Estados da África Ocidental (Ecowas, em inglês), entre
outros - são muito frágeis, espelhando a realidade dos países que
os compõem. O mais importante acordo regional de comércio do
continente é a Comunidade de Desenvolvimento da África
Austral - SADC (do inglês Southern African Development
Community). Esse bloco foi criado em 1992 para assegurar a
cooperação na região austral do continente africano e em 2010 era
composto por 14 países (localize-os no mapa), que têm como
objetivo constituir uma zona de livre comércio.
A Área de Livre Comércio da SADC foi lançada em Sandton
(África do Sul) em 17 de agosto de 2008. É composta por 12
países-membros do bloco e dois deles - Angola e República
Democrática do Congo – devem aderir posteriormente. As tarifas vêm sendo reduzidas desde 2000 e no momento do
lançamento da zona de livre comércio, cerca de 85% dos produtos comercializados entre os 12 países já circulavam
com tarifa zero.
O país-membro mais importante da SADC é a África do Sul, cuja economia corresponde a 68% da produção
total do bloco. Apesar de ser o principal acordo regional de comércio da África, a SADC é muito pequena em termos
econômicos quando comparada aos principais blocos do mundo. Analise a tabela e compare-a com as das páginas
anteriores.
Em 2007, os 255 milhões de pessoas que viviam nos países que compunham a SADC eram responsáveis por um
PNB conjunto de 404 bilhões de dólares e por exportações no valor de 139 bilhões de dólares. Para comparação: a
Suécia, uma economia de tamanho médio na União Europeia, cuja população era de apenas 9 milhões de habitantes,
no mesmo ano gerou um PIB de 438 bilhões de dólares e exportou mercadorias no valor de 169 bilhões de dólares.
Essas informações, mais a comparação dos dados constantes das tabelas mostradas ao longo do capítulo,
evidenciam como o comércio internacional é desigual, como os fluxos de mercadorias são mal distribuídos no espaço
geográfico mundial e, consequentemente, como os blocos são muito diferentes em termos de tamanho econômico e
capacidade comercial.
SADC – 2007
Membro População PNB Exportações
(milhões de habitantes) (bilhões de dólares) (bilhões de dólares)
África do Sul 48 274 69.8
Angola 17 43 39.9
Tanzânia 40 16 2.0
Botsuana 2 12 5.1
Congo 62 9 2.7
Zâmbia 12 9 4.6
Maurício 1 7 2.2
Namíbia 2 7 2.9
Moçambique 21 7 2.7
Madagascar 20 6 1.2
Zimbábue 13 5 2.1
Malavi 14 4 0.7
Suazilândia 1 3 2.5
Lesoto 2 2 0.8
Total 255 404 139.2

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