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PROPÓSITO
Compreender os institutos jurídicos do comércio internacional e da guerra para refletir de forma técnica,
crítica e humanística sobre o papel pacificador do comércio internacional e a necessidade de um Direito
Público Internacional que administre os conflitos armados de forma a promover a paz e a segurança.
PREPARAÇÃO
Para potencializar o aprendizado, recomendamos a seguinte leitura prévia:
Decreto n. 1.355 de 30 de dezembro de 1994: promulga a Ata Final que Incorpora os Resultados
da Rodada Uruguai de Negociações Comerciais Multilaterais do GATT, bem como o Acordo
Constitutivo da Organização Mundial do Comércio.
Decreto n. 8.327 de 16 de outubro de 2014: promulga a Convenção das Nações Unidas sobre
Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias – Uncitral.
Decreto n. 19.841 de 22 de outubro de 1945: promulga a Carta das Nações Unidas de 1945 que
contém o Estatuto da Corte Internacional de Justiça.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Vamos esclarecer a história do comércio internacional, os aspectos jurídicos inerentes a ele, suas
peculiaridades e alguns pontos em comum com o Direito dos Contratos, na esfera do Direito
Internacional Privado e do Direito do Comércio Internacional.
MÓDULO 1
Compreender os aspectos jurídicos do comércio internacional, suas peculiaridades e pontos
em comum com o Direito dos Contratos
Um grande filósofo do período mercantilista foi Adam Smith que, em 1776, publicou a obra A riqueza
das nações. Ele explicou o sistema mercantil (baseado na acumulação de riquezas mediante trocas
comerciais – quando surgiu o interesse pelo consumo de bens produzidos por outros países) e as
medidas intervencionistas tomadas para o equilíbrio da balança comercial como as primeiras políticas de
elevação de tarifas de produtos importados (CAPARROZ, 2018).
Contudo, essas políticas mostraram-se ineficazes, o que motivou ainda mais a busca de certos países
europeus por mais acumulação de riquezas baseadas em metais preciosos. Isso levou às grandes
navegações, em que muitos desses países exploravam suas colônias já formadas – normalmente
localizadas em outros continentes – mediante violência e saques (CAPARROZ, 2018; MESQUITA,
2013).
Um grande documento elaborado neste período foi a Lex Mercatoria, que criou as bases para a
arbitragem internacional, uma vez que tinha o objetivo de solucionar os conflitos decorrentes das
primeiras relações comerciais internacionais – além de regular as transações. Por ter que lidar com
vários países, não pôde se vincular às regras de nenhum território específico (CAPARROZ, 2018).
Segundo Bijos, Oliveira e Barbosa (2013, p. 250), a Lex Mercatoria medieval surge num momento em
que não havia organização estatal responsável pela estruturação, controle e intervenção no comércio
internacional, apesar de seu evidente interesse público e social. Tinha um caráter transnacional, pelos
usos e costumes no comércio, pela utilização de tribunais arbitrais do comércio, pela informalidade e
rapidez e, sobretudo, pela consideração da boa-fé na atividade comercial.
Outro documento importante, lançado ainda no período mercantilista e considerado o primeiro tratado
comercial internacional, foi o Tratado de Methuen (1703), mais conhecido como Tratado de Panos e
Vinhos. Foi firmado entre Inglaterra e Portugal, envolvendo a lã inglesa e os vinhos portugueses; a
Inglaterra escolheu estreitar suas relações comerciais com Portugal, em detrimento da França, com o
objetivo de obter melhor desempenho em relação àquele país e a conquista do ouro brasileiro
(MESQUITA, 2013).
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Considerando que, por meio do Tratado de Methuen, as relações comerciais com a França foram
deixadas em segundo plano, iniciou-se, no âmbito internacional, a discussão que deu origem, no século
XVII, a uma importante cláusula no comércio internacional, utilizada até os dias atuais: cláusula da
nação mais favorecida (NMF), trazendo à tona a discussão sobre o tratamento desigual de um país em
detrimento de outros na concessão de um benefício – normalmente de ordem tributária quanto às
importações (MESQUITA, 2013).
Segundo Mesquita (2013), essa cláusula trouxe algumas mudanças significativas nas relações
comerciais internacionais. Podemos citar algumas:
Se um país der preferência a outro – como a Inglaterra fez com Portugal no Tratado de Methuen –, essa
preferência e todos os benefícios e privilégios decorrentes dela deverão ser estendidos a outros países.
Pode ser uma cláusula incondicional, quando não depender de concessões recíprocas ou de uma
delimitação temporal; ou condicional, quando os benefícios futuros demandarem contrapartidas por
parte do país que os receberá.
Nos séculos XVIII e XIX, com a Revolução Industrial e o início do liberalismo econômico, o
mercantilismo deu lugar ao livre comércio e, consequentemente, ao fortalecimento do capitalismo.
Além de novas formas de acumulação de riqueza, o capital e a propriedade privada passaram a ser o
foco (CAPARROZ, 2018).
Precisamente em 1860, o Tratado Cobden-Chevalier foi firmado entre a Inglaterra e a França, no qual
a Inglaterra beneficiava a França com reduções e isenções tarifárias. Em troca, a França eliminou
inúmeras proibições no tocante às relações comerciais entre os dois países e também reduziu as tarifas
incidentes sobre os produtos ingleses (MESQUITA, 2013).
Nas décadas de 1970 e 1980, passamos para a etapa da globalização, que se aperfeiçoou na
atualidade: a financeirização do capitalismo, iniciada com a implementação de políticas neoliberais
nos governos de:
RONALD REAGAN
(Estados Unidos)
Foto: Autor desconhecido / Fundação Margaret Thatcher / Wikimedia commons / CC BY-SA 3.0.
MARGARET THATCHER
(Inglaterra)
É nesse último cenário que se insere a intensificação das relações comerciais internacionais e o papel
da Organização Mundial do Comércio (OMC) como reguladora dessas atividades, bem como
solucionadora das controvérsias entre os países, conforme veremos adiante.
CONTRATOS INTERNACIONAIS E ASPECTOS
JURÍDICOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
Uma vez que entendemos um pouco da história do comércio internacional, importante verificarmos
agora alguns aspectos jurídicos referentes a estas relações – antes de passarmos para um estudo mais
aprofundado acerca da Organização Mundial do Comércio (OMC) —, aproximando-nos do estudo do
Direito do Comércio Internacional.
ATENÇÃO
Muitas dessas regras são criadas por órgãos de comércio internacional, como a OMC, a Uncitral, a
Câmara de Comércio Internacional, entre outras, conforme veremos adiante (BASSO, 2020). Contudo, a
OMC é a principal organização reguladora e aplica essas fontes nas relações comerciais internacionais.
Uncitral é uma Comissão das Nações Unidas para o Direito do Comércio Internacional.
A fonte jurídica mais conhecida do comércio internacional é a Lex Mercatoria que, conforme
comentamos, surgiu durante o período mercantilista e foi incorporada como uma das precursoras da
Arbitragem Internacional.
COMENTÁRIO
Caparroz (2018) afirma que, diferentemente do âmbito interno ou doméstico, no qual os contratos, ao
apresentarem um problema, podem ser resolvidos com maior tranquilidade – tendo em vista que há
legislação nacional própria para cada problema –, no âmbito internacional, os problemas decorrentes
dos contratos perpassam pelo controle estatal, principalmente quanto às matérias de câmbio, tributação
e questões de interesse da Administração Pública.
No Brasil, a Convenção de Viena foi promulgada pelo Decreto n. 8.327/2014. De modo semelhante
ao Código Civil e ao Código de Defesa do Consumidor no Brasil, a Convenção de Viena de 1980
também possui disposições sobre as possibilidades de exigir o pagamento, rescindir o contrato ou pedir
indenização por perdas e danos, na hipótese de o comprador não cumprir com as suas obrigações.
Além disso, dispõe sobre o que deve ser feito na hipótese de ocorrência de eventos imprevisíveis, como
o caso fortuito e a força maior (CAPARROZ, 2018).
Por fim, um ponto muito importante dos contratos internacionais se refere aos Incoterms – abreviatura
para International Commercial Terms (Termos Comerciais Internacionais). Foram criados em 1936,
vinculados à Câmara de Comércio Internacional (CCI), com o objetivo de garantir estabilidade e
segurança jurídica aos termos especificamente dos contratos de compra e venda de mercadorias
internacionais.
ATENÇÃO
No Brasil, ainda que os Incoterms sejam livremente negociados, estão sujeitos à aplicação das
legislações nacionais, a exemplo do Regulamento Aduaneiro e da Lei de Arbitragem. Ademais, outras
recomendações recentes, formuladas pela Câmara de Comércio Internacional (CCI), em atenção às
novas formas de comercialização e novas necessidades no cenário internacional e nacional, passam a
dispor sobre as transações digitais – no âmbito do e-commerce ou comércio eletrônico –, as transações
que envolvem commodities, as transações em âmbito interno ou doméstico, entre outras (CAPARROZ,
2018).
Nas décadas que sucederam a crise de 1929 e a Segunda Guerra Mundial, as relações comerciais
internacionais estavam enfraquecidas em razão da forte crise econômica que se instaurou
mundialmente, motivo pelo qual houve um fortalecimento das políticas protecionistas – principalmente
nos países europeus –, no intuito de lidar com a crise em âmbito interno, a instabilidade econômico-
política e as ameaças à segurança nacional. Tais políticas protecionistas representaram maior controle
dos governos sobre as relações comerciais e, consequentemente, pouca autonomia para os agentes
envolvidos nas operações (MESQUITA, 2013; CAPARROZ, 2018).
Assim, surgiu a necessidade da criação de uma organização internacional que pudesse regular as
relações comerciais em âmbito internacional (incluindo os acordos já firmados), bem como auxiliar na
expansão dos negócios entre os países, no aumento da qualidade de vida da população mundial e na
ampliação do consumo de bens, entre outros objetivos.
Estados Unidos:
Apresentaram diversos entraves à aprovação da OIC por acreditar que a criação de um organismo
internacional geraria mais obstáculos às relações comerciais.
Alguns países europeus:
Diante desse impasse, em 1947, em Genebra (Suíça), foi aprovado um documento provisório –
enquanto não se criava a organização internacional propriamente dita – conhecido como General
Agreement on Tarifs and Trade (GATT), que pode ser traduzido como “Acordo Geral de Tarifas e
Comércio”.
Esse acordo, que teve inspiração nos projetos anteriormente apresentados para a criação da OIC e
entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1948, estabeleceu algumas cláusulas que buscaram minimizar
as políticas protecionistas, isto é, de proteção do mercado interno, ampliando as possibilidades de
concessões e acordos internacionais (MESQUITA, 2013).
ATENÇÃO
Cumpre recordarmos que os EUA ofereceram uma grande resistência ao GATT e optaram por não o
aprovar, motivo pelo qual não levaram a pauta ao Congresso. Por esse e outros motivos, o GATT
continuou com um status provisório, sem força institucional e regulatória. Na prática, existia e funcionava
e foi importante para a implementação da multilateralidade no comércio internacional – superando a
bilateralidade inicial, se resgatarmos o que aprendemos na síntese histórica do comércio internacional –
e o estabelecimento de inúmeras relações comerciais entre os países (MESQUITA, 2013). Formalmente,
contudo, não tinha validade jurídica.
Paralelamente, o GATT apresentava preocupações de ordem formal e institucional, dado o seu caráter
provisório e não oficial. As propostas que trazia para a solução de disputas e controvérsias entre os
países não eram eficientes. Essas discussões foram levando, aos poucos, às tentativas de reformulação
do GATT, para, enfim, ser construída uma organização oficial, conforme o plano inicial de criação da
“Organização Internacional do Comércio” (MESQUITA, 2013).
ACORDO DE MARRAQUECHE
A partir do “Projeto Dunkel”, em 1994, foi estabelecido o Acordo de Marraqueche, que fundou,
efetivamente, a OMC. Em 1º de janeiro de 1995, a Organização Mundial do Comércio começou a
funcionar em Genebra, na Suíça (MESQUITA, 2013).
VOCÊ SABIA
Atualmente, a OMC possui 164 membros, alguns presentes desde a sua criação, como o Brasil. Outros
foram ingressando ao longo do tempo, a exemplo da China (2001) e da Rússia (2012). Além dos países-
membros, alguns que não fazem parte oficialmente podem assumir a posição de observadores, como a
Argélia, a Etiópia e o Iraque (CAPARROZ, 2018).
A administração dos acordos realizados entre os membros: dos mais conhecidos, destacamos o
Acordo TRIPS, relativo aos Direitos da Propriedade Intelectual, e o Acordo Antidumping (as medidas
antidumping têm o papel de manter uma concorrência de preço justo e legal entre os fornecedores).
A solução das controvérsias entre seus membros, sob responsabilidade do Conselho Geral, como
Órgão de Solução de Controvérsias – uma das atribuições desse Conselho.
A revisão das políticas comerciais formuladas no âmbito interno dos países-membros. Também é
realizada pelo Conselho Geral, como uma atribuição de Órgão Revisor.
O combate às práticas anticoncorrenciais, como monopólio, oligopólio, cartéis, dumping, entre outras.
COMPOSIÇÃO DA OMC
A OMC está sediada em Genebra, na Suíça, e é formada pelos seguintes órgãos:
CONFERÊNCIA MINISTERIAL
Está no topo da estrutura da OMC, na qual todos os Estados-membros se fazem presentes por meio de
representantes. As reuniões ordinárias costumam ocorrer a cada dois anos.
CONSELHO GERAL
Atua no cotidiano da Organização, fazendo as vezes da Conferência Ministerial, no ínterim entre os seus
encontros, por meio dos representantes de cada país-membro. Possui as atribuições de: solucionar as
controvérsias e revisar as políticas comerciais.
CONSELHO PARA O COMÉRCIO DE BENS, CONSELHO
PARA O COMÉRCIO DE SERVIÇOS E CONSELHO PARA OS
ASPECTOS DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE
INTELECTUAL RELACIONADOS AO COMÉRCIO (ACORDO
TRIPS)
COMITÊS
São cerca de 40, incluindo Comitês, Subcomitês e Grupos de Trabalho. Cada um atua em um campo
específico, a exemplo do Comitê de Comércio e Desenvolvimento, Comitê de Restrições por Balanço de
Pagamentos e Comitê de Assuntos Orçamentários, Financeiros e Administrativos.
SECRETARIADO
É responsável pelos relatórios que preparam a realização das revisões das práticas comerciais dos
membros em âmbito interno. O secretariado é comandado por um diretor-geral.
SAIBA MAIS
Como os órgãos da OMC tomam decisões? Segundo Mesquita (2013), é necessário haver:
o voto de 2/3 dos membros para a aprovação de emendas;
unanimidade para decidir acerca da cláusula de nação mais favorecida, dada a sua relevância e o
seu caráter de cláusula pétrea.
Portanto, o modelo adotado é o de decisão por consenso, mediante acordo entre os membros. E se
não houver consenso? Neste caso, em tese, deve-se partir para votação (CAPARROZ, 2018).
Conselho Geral
Essas instâncias estimulam a resolução de disputas por meio de acordos, sempre que possível, bem
como fortalecem o aspecto multilateral das negociações. Assim, a OMC melhorou profundamente este
aspecto em relação ao que era previsto no GATT e suas rodadas (OMC, 2003).
ATENÇÃO
Precisamos destacar que somente os governos, como representantes dos Estados-membros, podem
levar as disputas ao conhecimento do Órgão de Solução de Controvérsias da OMC. Além disso, o Órgão
se reúne com periodicidade (geralmente, ocorre uma vez por mês), para estabelecer painéis, relatórios,
supervisionar as decisões e a fiscalização do cumprimento das obrigações dos acordos – incluindo a
suspensão destas obrigações, se necessário (OMC, 2003). As decisões do Órgão de Solução de
Controvérsias são tomadas privilegiando o consenso entre os representantes dos Estados-membros.
O Órgão de Solução de Controvérsias cumpre três etapas durante o processo de solução dos
desacordos:
Estabelecimento dos painéis, etapa na qual uma disputa será encaminhada ao Órgão para julgamento
Aprovação dos relatórios, quando os relatórios referentes à decisão judicial serão elaborados e
aprovados, a fim de fiscalizar seu cumprimento
Retaliação, espécie de sanção ao descumprimento da decisão por uma das partes que estavam
vinculadas.
O Brasil atuou como demandante em alguns casos muito conhecidos perante o referido Órgão de
Solução de Controvérsias da OMC:
Foto: Shutterstock.com.
Gasolina importada dos EUA: a disputa envolvia a importação de gasolina em relação à gasolina
comercializada nacionalmente, o que foi questionado pelo Brasil.
Foto: Shutterstock.com.
No vídeo a seguir, o professor Davi José de Souza da Silva faz uma abordagem do comércio
internacional como mecanismo de desenvolvimento e bem-estar para as nações. Vamos assistir!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) A Lex Mercatoria foi importante para eliminar o tratamento desigual entre os países, especialmente
quanto às políticas tarifárias estabelecidas sobre os produtos importados.
C) A Lex Mercatoria surgiu para organizar as relações comerciais internacionais, reunindo as principais
fontes do comércio internacional, bem como fornecendo as bases para as soluções de controvérsias. É
considerada precursora da Arbitragem Internacional.
E) A Lex Mercatoria é importante na medida em que regula a proteção da propriedade intelectual das
mercadorias internacionais, havendo um rigor por parte da Organização Mundial do Comércio em
relação à sua aplicação.
A) (i) Conferência Ministerial, órgão máximo da OMC, que possui representação de todos os Estados-
membros e cujas reuniões ocorrem uma vez por mês; (ii) Conselho Geral, que se reúne a cada dois
anos e possui dois grandes objetivos: solucionar as controvérsias e revisar as políticas comerciais; iii)
Conselho para o Comércio de Bens, Conselho para o Comércio de Serviços e Conselho para os
Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (Acordo TRIPS), que são
subordinados à Conferência Ministerial e supervisionam os acordos realizados entre os Estados-
membros, respeitando os assuntos de cada um; (iv) Comitês, que somam cerca de 40, incluindo
Comitês, Subcomitês e Grupos de Trabalho, para tratar de diversos assuntos relativos às relações
comerciais internacionais; e o (v) Secretariado, que é responsável por relatórios preparatórios para as
revisões das práticas comerciais dos Estados-membros.
B) (i) Conferência Ministerial, órgão máximo da OMC, que possui representação de todos os Estados-
membros e cujas reuniões ocorrem a cada dois anos; (ii) Conselho Geral, que atua no cotidiano da
Organização e possui dois grandes objetivos: solucionar as controvérsias e revisar as políticas
comerciais; (iii) Conselho para o Comércio de Bens, Conselho para o Comércio de Serviços e Conselho
para os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (Acordo TRIPS),
que são subordinados ao Conselho Geral e supervisionam os acordos realizados entre os Estados-
membros, respeitando os assuntos de cada um; (iv) Comitês, que somam cerca de 40, incluindo
Comitês, Subcomitês e Grupos de Trabalho, para tratar de diversos assuntos relativos às relações
comerciais internacionais; e o (v) Secretariado, que é responsável por relatórios preparatórios para as
revisões das práticas comerciais dos Estados-membros.
C) (i) Conferência Ministerial, órgão máximo da OMC, que possui representação de todos os Estados-
membros e cujas reuniões ocorrem a cada dois anos; (ii) Conselho Geral, que atua no cotidiano da
Organização supervisiona os acordos realizados entre os Estados-membros; (iii) Conselho para o
Comércio de Bens, Conselho para o Comércio de Serviços e Conselho para os Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (Acordo TRIPS), que são subordinados ao Conselho
Geral e são responsáveis pela solução de controvérsias e revisão das práticas comerciais; (iv) Comitês,
que somam cerca de 40, incluindo Comitês, Subcomitês e Grupos de Trabalho, para tratar de diversos
assuntos relativos às relações comerciais internacionais; e o (v) Secretariado, que é responsável por
relatórios preparatórios para as revisões das práticas comerciais dos Estados-membros.
D) (i) Conselho Geral, órgão máximo da OMC, que possui representação de todos os Estados-membros
e cujas reuniões ocorrem a cada dois anos; (ii) Conferência Ministerial, que atua no cotidiano da
Organização supervisiona os acordos realizados entre os Estados-membros; (iii) Conselho para o
Comércio de Bens, Conselho para o Comércio de Serviços e Conselho para os Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (Acordo TRIPS), que são subordinados ao Conselho
Geral e são responsáveis pela solução de controvérsias e revisão das práticas comerciais; (iv) Comitês,
que somam cerca de 60, incluindo Comitês, Subcomitês e Grupos de Trabalho, para tratar de diversos
assuntos relativos às relações comerciais internacionais; e o (v) Secretariado, que é responsável por
relatórios preparatórios para as revisões das práticas comerciais dos Estados-membros.
E) (i) Conselho Geral, órgão máximo da OMC, que possui representação de todos os Estados-membros
e cujas reuniões ocorrem uma vez por mês; (ii) Conferência Ministerial, que se reúne a cada dois anos e
possui dois grandes objetivos: solucionar as controvérsias e revisar as políticas comerciais; (iii)
Conselho para o Comércio de Bens, Conselho para o Comércio de Serviços e Conselho para os
Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (Acordo TRIPS), que são
subordinados à Conferência Ministerial e são responsáveis pela solução de controvérsias e revisão das
práticas comerciais; (iv) Comitês, que somam cerca de 60, incluindo Comitês, Subcomitês e Grupos de
Trabalho, para tratar de diversos assuntos relativos às relações comerciais internacionais; e o (v)
Secretariado, que é responsável por relatórios preparatórios para as revisões das práticas comerciais
dos Estados-membros.
GABARITO
2. Marque a alternativa que contém a estrutura correta da OMC e as funções de cada órgão:
MÓDULO 2
AUTONOMIA DA VONTADE
As partes em conflito possuem ampla autonomia para decidir como a questão conflituosa poderá ser
resolvida, incluindo os prazos, os procedimentos e até mesmo a autoridade julgadora.
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CELERIDADE
O procedimento arbitral costuma ser mais rápido, principalmente se comparado à morosidade que
muitas vezes se observa na via judicial. Conforme explicamos, os prazos para os atos e para a sentença
podem ser acordados pelas partes antecipadamente. Segundo o Art. 23 da Lei de Arbitragem (Lei n.
9.307/1996), se o prazo para a sentença arbitral não for fixado pelas partes, aplica-se o prazo legal de,
no máximo, 6 meses; o próprio Artigo dispõe sobre a contagem desse prazo. Além disso, para prestigiar
a celeridade, é importante tornar o procedimento arbitral o mais simples possível, sem tumultuá-lo com
atos desnecessários e repetitivos, por exemplo.
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NÃO SURPRESA
Este princípio também possui aplicabilidade no processo civil comum – conforme os Artigos 7º, 9º e 10
do Código de Processo Civil. Está diretamente relacionado ao princípio do contraditório e informa que o
julgador não pode decidir sem antes ouvir a manifestação das partes envolvidas ou interessadas no
processo, evitando, assim, de serem surpreendidas com decisões sobre uma ação da qual não tinham
conhecimento – ou, nesse caso, um procedimento arbitral. O princípio da não surpresa foi uma grande
herança do Código de Processo Civil ao procedimento arbitral.
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CORDIALIDADE
As partes devem apresentar condutas éticas e de mútuo respeito, principalmente devido à ampla
autonomia que possuem para decidir sobre o procedimento arbitral. Dessa forma, um comportamento
adversarial não é bem-vindo, dando-se lugar às boas práticas de educação e colaboração. Quanto mais
harmônica for a relação entre as partes, mais facilmente entrarão em um consenso, tanto no decorrer da
Arbitragem quanto em relação ao conflito em si.
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CONFIDENCIALIDADE
Em geral, a Arbitragem ocorre de maneira sigilosa, evitando-se que sejam publicizados aspectos
confidenciais envolvendo a disputa, como segredos industriais e outras informações relativas à
propriedade intelectual, direitos autorais e patentes, por exemplo. Vazamentos de informações podem
comprometer o andamento dos negócios das partes envolvidas – nesses exemplos, pessoas jurídicas
de direito privado.
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FLEXIBILIDADE
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COMPOSIÇÃO DE UM PROCEDIMENTO ARBITRAL
É realizada quando a disputa envolve duas ou mais pessoas jurídicas de direito público, com base nas
regras do Direito Internacional Público. Materializa-se na forma de um tratado internacional,
notadamente o compromisso arbitral, que deve apresentar a especificação da disputa, os instrumentos
normativos incidentes, os prazos para a prática dos atos, o árbitro escolhido, entre outras cláusulas.
Ocorre quando a disputa envolve duas ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado, de modo
geral ligadas a relações comerciais internacionais. As Arbitragens inseridas nesta categoria podem estar
relacionadas com as regras internas do país, os princípios da Arbitragem Internacional, os usos e os
costumes.
COMENTÁRIO
Conforme dissemos, a Lex Mercatoria foi a precursora da Arbitragem Internacional, pois, além de ter um
caráter transnacional, sem vínculo a nenhum Estado, pretendia, como objetivo final, a solução das
disputas comerciais internacionais. O documento ajudou a reunir as diversas fontes da Arbitragem
Internacional existentes – como os tratados internacionais, das legislações nacionais às quais se
relacionam, como o Código de Processo Civil, o Código Civil, entre outros, bem como os usos e
costumes, os princípios arbitrais e a jurisprudência arbitral internacional.
Como veremos adiante, uma sentença arbitral produzida em outro país, para produzir efeitos no Brasil,
deve ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
ARBITRAGEM NO BRASIL
Normalmente, a Arbitragem se materializa em um documento conhecido como Convenção de
Arbitragem, no qual as partes entram em um acordo sobre as condições gerais da Arbitragem a ser
eventualmente realizada, caso participem de um conflito futuro ou estejam iniciando um no momento.
No Brasil, a Lei da Arbitragem dividiu a Convenção de Arbitragem em duas possibilidades. Uma delas
deve ser escolhida para formar a estrutura da Arbitragem: a cláusula compromissória ou o
compromisso arbitral, conforme os Arts. 3º, 4º e 9º da Lei Brasileira de Arbitragem, como veremos
adiante.
CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA
Refere-se ao compromisso previamente assumido entre as partes de que, qualquer conflito que surja no
decorrer de um determinado contrato internacional, elas se submeterão ao procedimento arbitral para
solucioná-lo. Isto é, a opção pela Arbitragem fica registrada antes mesmo da ocorrência do conflito.
Normalmente a cláusula compromissória vem disposta ao final do contrato, conforme previsão do Art. 4º,
§1º da Lei de Arbitragem.
COMPROMISSO ARBITRAL
Costuma ser firmado diante de um conflito concreto, também prevendo condições específicas, como as
partes e o órgão julgador. Além disso, a Lei de Arbitragem (Lei n. 9.307/1996) traz em seu art. 1º que os
direitos sujeitos à Arbitragem são os direitos patrimoniais disponíveis, isto é, podem ser objeto de
acordo, uma vez que não se tratam de questões envolvendo a vida, a liberdade ou a dignidade humana,
por exemplo.
Esta Lei também prevê em seu art. 34 a possibilidade de reconhecimento ou execução, no Brasil, de
uma sentença arbitral estrangeira – isto é, aquela que foi produzida em outro país –, desde que
homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme o art. 35, além de ter que estar alinhada com os
tratados e a principiologia do Direito do Comércio Internacional (CAPARROZ, 2018). A necessidade de
homologação da sentença arbitral estrangeira pelo STJ foi trazida pelo Código de Processo Civil de
2015, que regulamenta esse procedimento nos arts. 960 e ss.
De acordo com o Artigo 39, inciso I da Lei de Arbitragem, se “o objeto do litígio não é suscetível de ser
resolvido por arbitragem” (BRASIL, 1996), conforme as disposições do ordenamento jurídico brasileiro
sobre o assunto, incluindo essa mesma lei, então uma sentença arbitral desse tipo não poderia ser
homologada.
Ainda sobre o compromisso arbitral, ressaltamos o Decreto n. 4.311/2002, que ratificou, no território
nacional, a Convenção de Nova York – além dos outros mais de 150 países que fizeram o mesmo –, que
trata, por sua vez, do reconhecimento e da execução das sentenças arbitrais estrangeiras. Segundo
DOLINGER e TIBURCIO (2020), esta Convenção, por ser mais específica que a Lei da Arbitragem,
afasta a aplicação dos arts. 38 e 39 desta Lei.
Por fim, além dos pontos já comentados na Lei da Arbitragem, outras disposições importantes dizem
respeito à escolha e às atribuições do árbitro, as etapas do procedimento arbitral, a sentença arbitral e
até a possibilidade de recorrer ao Judiciário para o pedido de tutela de urgência e medida cautelar.
A Arbitragem Comercial Internacional pode ocorrer de várias formas, de modo que conseguimos
visualizar uma espécie de sistema, com vários órgãos e atividades próprias, visando a solução das
disputas internacionais. A seguir, veremos alguns deles:
Sede da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, Suíça. Foto: Shutterstock.com.
A primeira organização a ser destacada é a própria Organização Mundial do Comércio (OMC), que já
estudamos anteriormente. Entre os seus órgãos integrantes está o Órgão de Solução de Controvérsias,
formado pelo Conselho Geral. Como o sistema de decisões da OMC pressupõe um constante consenso,
seja para a aprovação ou rejeição de documentos, relatórios, painéis etc., na hipótese de não haver
consenso, aciona-se este Órgão (MESQUITA, 2013).
A Comissão das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional (Uncitral) tem papel
fundamental em relação à Arbitragem Internacional, uma vez que disponibiliza, como modelo, alguns
instrumentos normativos para aplicação no âmbito das relações comerciais internacionais, como a “Lei
Modelo da Uncitral sobre Arbitragem Comercial Internacional”, de 1985, que trouxe algumas disposições
importantes, como os princípios da Arbitragem, as etapas do procedimento arbitral, a sentença arbitral, o
local de aplicação, recursos e execuções, entre outros. Essas leis-modelo incentivam os Estados a
aprovarem as suas próprias Leis de Arbitragem – destacando que o Brasil possui a sua desde 1996.
Há também a Câmara de Comércio Internacional (CCI), uma das organizações mais conhecidas
internacionalmente, cuja finalidade geral é auxiliar na regulação das relações comerciais internacionais.
Dentro dela está a Corte Internacional de Arbitragem, fundada em 1923, que busca a solução das
disputas que lhes são submetidas (BASSO, 2020). A Corte possui ampla relevância, na medida em que
auxiliou a confecção da Convenção de Nova York, de que tratamos anteriormente.
No vídeo a seguir, o professor Davi José de Souza da Silva faz uma abordagem dos princípios da
arbitragem e dos sistemas de resolução de disputas. Vamos assistir!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) Segundo o princípio da celeridade, o trâmite do procedimento arbitral costuma ser mais rápido se
comparado às ações judiciais. Segundo o Art. 23 da Lei de Arbitragem (Lei n. 9.307/1996), se o prazo
para a sentença arbitral não for fixado pelas partes, aplica-se o prazo legal de no máximo 3 meses.
C) O princípio da não surpresa, segundo o qual a autoridade julgadora não pode decidir sem antes ouvir
a manifestação das partes envolvidas e/ou interessadas, é uma inovação trazida pela Arbitragem
Internacional, não tendo aplicabilidade no processo civil comum.
D) A autonomia da vontade sinaliza que as partes, mesmo estando em conflito, possuem ampla
autonomia para consentir sobre como o conflito poderá ser resolvido, incluindo os prazos, o
procedimento e até mesmo o julgador.
GABARITO
O princípio da autonomia da vontade permite que os sujeitos em conflito definam diversos aspectos do
procedimento arbitral, tornando-o mais adequado às suas necessidades concretas.
MÓDULO 3
Identificar os elementos do Direito Internacional que tratam da guerra
O QUE É GUERRA
Identificaremos os motivos que desencadeiam as guerras em sua acepção tradicional de conflito
armado, bem como reconheceremos que, na atualidade, há novos motivos e novas formas de
ocorrência de guerras e conflitos internacionais, considerando o cenário de inovações tecnológicas e
científicas. Também vamos discutir as possíveis consequências das guerras para compreendermos este
fenômeno – que também é político – sob a ótica do Direito Internacional Público.
Antes de iniciarmos este ponto em nosso estudo, vamos fazer uma breve atividade.
RESPOSTA
À luz do Direito Internacional Público, uma guerra se inicia com a publicização de uma Declaração de
Guerra, conhecida como “Nota Diplomática”, feita de forma unilateral por um dos Estados envolvidos,
cujas finalidades principais são: 1) Demarcar o início da guerra – para fins de aplicabilidade dos instrumentos
normativos pertinentes; e 2) Evitar ataques inesperados entre os Estados envolvidos (MAZZUOLI, 2020).
Na prática, nem sempre a declaração de guerra é cumprida, pois muitas vezes a guerra se inicia com a
prática direta de atos materiais de hostilidade, como invasões, ataques, violência, tanto às Forças
Armadas quanto ao território em si (ACCIOLY; CASELLA; SILVA, 2019; MAZZUOLI, 2020).
EXEMPLO
Um exemplo muito conhecido de um ataque inesperado foi o da marinha japonesa à base naval de Pearl
Harbor, nos Estados Unidos, em 7 de dezembro de 1941.
Imagem: Shutterstock.com
Registro do ataque japonês à base naval Pearl Harbor, nos Estados Unidos.
Quanto à competência, quem pode declarar guerra? No Brasil, é a União, mais especificamente o
Presidente da República – desde que autorizado ou referendado pelo Congresso Nacional, conforme se
extrai dos Artigos 21, II, e 84, XIX, da Constituição Federal.
Imagem: Shutterstock.com.
Sob a ótica do Direito Internacional Público, o instrumento formal de encerramento de uma guerra é
o Tratado de Paz firmado entre os Estados beligerantes. O pontapé inicial para o fim da guerra é o
chamado armistício, que consiste em uma suspensão consensual e temporária do conflito armado,
objetivando, em última instância, o restabelecimento da paz (MAZZUOLI, 2020).
Imagem: Shutterstock.com
O retorno ao status quo ante, isto é, o retorno à situação anterior à guerra — embora se saiba que,
dependendo da força e da violência empregadas na luta armada, esse retorno se torne difícil ou
impossível.
Imagem: Shutterstock.com
O fim da condição de prisioneiros de guerra.
Imagem: Shutterstock.com
O restabelecimento das relações, acordos diplomáticos e tratados internacionais que haviam sido
rompidos com a Declaração de Guerra.
Primeiro individual
Depois coletiva
Por fim, estatal
VOCÊ SABIA
A partir dessa visão acerca da guerra, principalmente entre os romanos, surgiram os conceitos de jus in
bello e jus ad bellum (o direito na guerra e o direito da guerra, respectivamente).
Imagem: Shutterstock.com
Entretanto, com o tempo, a guerra passou a ser considerada, pelas Nações Unidas, como uma forma
violenta e ilícita de os Estados conflitarem entre si.
É assim que o Direito Internacional Público compreende a guerra atualmente, considerando os conflitos
violentos o último recurso de um Estado, uma vez que se passou a dar preferência às soluções pacíficas
diante de controvérsias internacionais (SHAW, 2017; MAZZUOLI, 2020).
Logo após a Primeira Guerra Mundial, consagrou-se no âmbito internacional o princípio da proibição
da guerra ou do uso da força, por meio dos seguintes instrumentos internacionais:
Carta das Nações Unidas, de 1945, que sobreveio ao final da Segunda Guerra Mundial, reafirmando a
proibição da guerra que havia sido sagrada nos documentos anteriores — embora não com estas
palavras.
O entendimento dominante passou a ser o de se evitar a guerra como solução dos conflitos
internacionais, exceto em situações de legítima defesa, como a reação a ataques armados e a proteção
da segurança no ambiente internacional (MAZZUOLI, 2020). E, mais recentemente, a partir do princípio
da responsabilidade de proteger e da possibilidade de intervenção humanitária, desde que autorizada
pelo Conselho de Segurança, conforme vamos abordar no tópico seguinte.
ATENÇÃO
Importante ressaltar que a Carta das Nações Unidas não dispõe expressamente sobre a guerra,
utilizando sinônimos para incluir outros tipos de conflitos que não necessariamente caracterizam
uma guerra (SHAW, 2017; ACCIOLY; CASELLA; SILVA, 2019). Trata-se, de certa forma, de uma
proibição tácita diante da proteção internacional dos Direitos Humanos. Nesse sentido, Shaw (2017)
ressalta que uma das palavras utilizadas em substituição à guerra é “força”, pois envolve tanto os
conflitos violentos quanto os demais dilemas que não necessariamente perpassam pelos conflitos
armados, como aqueles relativos ao poderio econômico, por exemplo.
Imagem: Shutterstock.com.
Além disso, a Carta das Nações Unidas classifica a força em diferentes aspectos, tais como:
RETORSÃO
Refere-se a uma espécie de retaliação de um Estado em relação ao outro, a exemplo do rompimento
das relações e acordos de diplomacia, bem como restrições de ordem econômica (SHAW, 2017). É
considerado um meio legal, tendo em vista que é pacífico e não implica a utilização da força militar,
necessariamente.
REPRESÁLIA
Refere-se aos atos que, quando realizados fora de um contexto de legítima defesa, tornam-se ilegais, na
medida em representam uma espécie de resposta a um Estado que já havia praticado atos ilegais
anteriormente – não armados –, ainda mais quando a resposta ocorre por meio da utilização da força
militar (SHAW, 2017). Como exemplo de represálias, podemos citar o caso da disputa Naulilaa, conflito
entre Portugal e Alemanha.
LEGÍTIMA DEFESA
Pressupõe a existência de um ataque armado de um Estado em relação a outro – devidamente
comprovado –, de modo que o Estado atacado pode utilizar a força militar para se defender (SHAW,
2017), sem que isso incorra na violação ao princípio da proibição da guerra ou do uso da força.
Podemos citar como análises importantes do direito à legítima defesa o Caso Nicarágua – Corte
Internacional de Justiça.
Para ilustrar o entendimento da proibição dos conflitos internacionais violentos como um ato ilícito e a
busca de solução por meios pacíficos, transcrevemos o Artigo 2, itens 3 e 4, do instrumento mais
recente da Carta das Nações Unidas (BRASIL, 1945):
[...]
Embora o entendimento atual seja o de evitar conflitos armados, existem algumas leis ou fontes das leis
de guerra responsáveis por orientar conflitos, a depender da forma de sua realização: se conflito
marítimo, aéreo, terrestre etc. Entre outras fontes, veremos três delas:
Foto: Shutterstock.com.
DECLARAÇÃO DE PARIS
CONVENÇÃO DE GENEBRA
Foto: Shutterstock.com.
CONVENÇÕES DE HAIA
A Convenção de Haia de 1889 dispõe sobre a regulamentação das guerras terrestres; e a de 1907
dispõe sobre o fim das hostilidades, tanto em guerras terrestres quanto marítimas e demais questões
relacionadas (ACCIOLY; CASELLA; SILVA, 2019; MAZZUOLI, 2020).
Em suma, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, com a reafirmação tácita do princípio da
proibição da guerra, esta passou a ser vista como um ilícito internacional, e o uso da força considerado
uma exceção a este princípio, cuja permissão para utilização reside na hipótese de legítima defesa ou
determinação do Conselho de Segurança da ONU em casos de intervenção humanitária e/ou o
cumprimento ao princípio da responsabilidade de proteger (SHAW, 2017; MAZZUOLI, 2020).
ARTIGO 39. O CONSELHO DE SEGURANÇA DETERMINARÁ
A EXISTÊNCIA DE QUALQUER AMEAÇA À PAZ, RUPTURA
DA PAZ OU ATO DE AGRESSÃO, E FARÁ
RECOMENDAÇÕES OU DECIDIRÁ QUE MEDIDAS DEVERÃO
SER TOMADAS DE ACORDO COM OS ARTIGOS 41 E 42, A
FIM DE MANTER OU RESTABELECER A PAZ E A
SEGURANÇA INTERNACIONAIS.
Portanto, as principais decisões relativas à ameaça à paz ficam a cargo deste Conselho.
Por fim, um princípio correlato a este é o da Proibição da Intervenção Externa aos Assuntos Internos,
disposto no Artigo 2 (7) da referida Carta das Nações Unidas.
Este princípio se refere à proteção dos Estados entre si e em relação às suas populações, no intuito de
evitar ou minimizar os impactos desastrosos decorrentes de conflitos armados, entre eles: genocídio,
crimes de guerra e contra a humanidade, limpeza étnica etc. Nesse sentido, a soberania do Estado se
refere também à proteção da sua própria população em relação a estes conflitos.
Tal responsabilidade foi objeto de discussão em 2005, em uma reunião com os Estados-membros
pertencentes à Cúpula Mundial da ONU, na qual assumiram um compromisso que reforçou a Carta das
Nações Unidas, incluindo uma série de ações a serem praticadas pelos Estados para prevenir e punir
atos conflituosos (ONU, 2005). Destacam-se os Artigos 138, 139 e 140 deste compromisso, que foi
organizado em forma de um Documento Final da Cúpula Mundial ocorrida em 2005.
A intervenção humanitária tem estrita relação com o princípio da responsabilidade de proteger, uma vez
que diz respeito, em linhas gerais, à possibilidade de intervenções externas de um Estado em relação a
outro, mediante a autorização do Conselho de Segurança da ONU, com a permissão para o uso da
força, notadamente das Forças Armadas. O uso da força aparece como último recurso, dando-se
preferência para os meios pacíficos para impedir a consumação de grandes catástrofes, uma vez que o
Estado que sofre a intervenção não cumpriu a responsabilidade de proteger a sua própria população
(SHAW, 2017).
EXEMPLO
LEGÍTIMA DEFESA
Quando tratamos do princípio da proibição da guerra ou da proibição do uso da força, dissemos que
uma das exceções a este princípio são as situações de legítima defesa. Segundo Mazzuoli (2020), a
legítima defesa é considerada em duas hipóteses:
Perigo de ocorrência de um dano atual e iminente
A legítima defesa não é livre e irrestrita, devendo cumprir certas condições e requisitos, inclusive quanto
à intensidade – não podendo ser desmedida –, em respeito ao princípio da proibição da guerra e à ideia
de que a força, a violência e os conflitos armados devem ser o último recurso.
EXEMPLO
Reportando-nos à origem do instituto da legítima defesa, há o famoso caso do Navio Caroline, ocorrido
em 1837, no qual um navio com canadenses e norte-americanos foi invadido por tropas britânicas sob o
argumento da prática de pirataria. Os britânicos incendiaram o navio e o levaram ao naufrágio,
provocando a morte e o ferimento de alguns tripulantes. Esses atos de legítima defesa foram
considerados excessivos em posterior julgamento, embora o principal acusado tenha sido absolvido ao
final (MAZZUOLI, 2020).
A legítima defesa possui respaldo no Artigo 51 da Carta das Nações Unidas, senão vejamos:
No vídeo a seguir, o professor Davi José de Souza da Silva comenta sobre os princípios internacionais
da guerra. Vamos assistir!
Quanto à condição de prisioneiros, o entendimento predominante é que estes não devem ser
torturados ou mortos durante a guerra. Tão logo a guerra termine – de preferência por meio do Tratado
de Paz – os prisioneiros devem ser libertados. Além da proteção conferida à integridade física, também
se busca proteger juridicamente a propriedade dos seus bens. Outro aspecto importante é que os
prisioneiros não estão sob a guarda das pessoas que o prenderam e sim do governo adversário.
Foto: Shutterstock.com.
Quanto à condição de prisioneiros, o entendimento predominante é que estes não devem ser
torturados ou mortos durante a guerra. Tão logo a guerra termine – de preferência por meio do Tratado
de Paz – os prisioneiros devem ser libertados. Além da proteção conferida à integridade física, também
se busca proteger juridicamente a propriedade dos seus bens. Outro aspecto importante é que os
prisioneiros não estão sob a guarda das pessoas que o prenderam e sim do governo adversário.
Fonte: Shutterstock.com
SIMPLES OU VOLUNTÁRIA
Ocorre quando um dos Estados declara, unilateralmente, que não pretende participar da guerra —
condição que possui um caráter temporário.
PERPÉTUA OU PERMANENTE
Ocorre de maneira bilateral ou multilateral, mediante um Tratado Internacional, a exemplo dos Tratados
firmados após o fim de uma grande guerra. Possui um caráter definitivo.
Mazzuoli (2020) e outros autores do Direito Internacional Público entendem que a postura neutra não é o
ideal, tendo em vista que a guerra deve ser considerada uma exceção, devendo-se prezar pela
manutenção da paz e pacificidade entre os países. Para esses autores, é um dever dos Estados se
manifestarem sobre atos de guerra, visando combatê-los, ainda que não estejam participando deles
diretamente. A busca pela paz no ambiente internacional e pelos instrumentos pacíficos de solução de
conflitos é constantemente reforçada pelas Nações Unidas, tanto em sua Carta quanto em eventos
anuais e encontros extraordinários.
Imagem: Shutterstock.com.
TERRORISMO INTERNACIONAL
Um ponto muito importante e atual diz respeito ao terrorismo internacional, que pode ser definido como
um conjunto de atos de violência praticados por um grupo contra cidadãos comuns (civis), com o
objetivo de gerar medo ou terror e chamar a atenção de determinado Estado, seja a título de uma
resposta ilegal ou para obter a realização de uma vontade (MAZZUOLI, 2020).
O ataque às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York (EUA) em 11 de setembro de 2001,
que resultou em quase 3 mil mortes.
Foto: Shutterstock.com.
O ataque realizado na casa de entretenimento Bataclan, em Paris — entre outros realizados na França
no mesmo período — em 13 de novembro de 2015, que resultou em 137 mortes.
Resolução n. 1.535/2004, que dispõe sobre as ameaças à paz e segurança no âmbito internacional
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) O princípio da proibição da guerra não possui previsão legal, é considerado um princípio tácito de
Direito Internacional Público e amplamente aplicado pelos países-membros da Organização das Nações
Unidas (ONU).
B) O princípio da proibição da guerra nos revela que os conflitos violentos ou o uso da força devem ser
considerados o último recurso, uma vez que se passou a dar preferência às soluções pacíficas de
controvérsias internacionais, cuja previsão está expressa na Carta das Nações Unidas.
C) O princípio da proibição da guerra nos revela que os conflitos violentos ou o uso da força devem ser
considerados o último recurso, uma vez que se passou a dar preferência às soluções pacíficas de
controvérsias internacionais, porém, na prática, não possui ampla aplicabilidade.
D) O princípio da responsabilidade de proteger informa que os Estados devem garantir proteção entre si
e às suas populações no intuito de evitar tanto as controvérsias pacíficas quanto os conflitos armados, é
considerado, portanto, um princípio abrangente.
E) O princípio da responsabilidade de proteger informa que os Estados devem garantir proteção entre si
e às suas populações, no intuito de evitar ou minimizar os impactos desastrosos decorrentes de conflitos
armados, entre eles: genocídio, crimes de guerras e contra a humanidade, limpeza étnica etc. É
considerado um princípio tácito de Direito Internacional Público e amplamente aplicado pelos países-
membros da Organização das Nações Unidas (ONU), uma vez que não possui disposição expressa.
C) A guerra se encerra oficialmente com a assinatura do Tratado de Paz, de modo que, enquanto não
sobrevier a assinatura, os Estados ainda podem praticar atos de hostilidade. É, portanto, uma exceção
ao princípio da proibição da guerra.
D) O Tratado de Paz delimita o encerramento das hostilidades, mas os prisioneiros de guerra devem
permanecer presos até que sobrevenha julgamento perante o Tribunal Penal Internacional.
E) Segundo o Direito Internacional Público, a guerra deve ter início com a declaração de guerra, que é
feita de forma unilateral por um dos Estados envolvidos, cujas finalidades principais são: (i) demarcar o
início da guerra; e (ii) evitar ataques inesperados entre os mesmos.
GABARITO
De acordo com o princípio da proibição da guerra, é prioritário o uso das soluções pacíficas de conflitos.
O uso da força, ao contrário, é excepcional.
O início da guerra é marcado pela declaração unilateral de guerra por um dos Estados.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudamos aspectos fundamentais relacionados ao Direito Internacional Privado — a história do
comércio internacional, seus aspectos jurídicos, a estrutura da Organização Mundial do Comércio e a
Arbitragem Internacional — e ao Direito Internacional Público — o direito da guerra e os conflitos
internacionais.
Esperamos que você continue aprimorando a sua jornada de estudos para entender mais
profundamente as relações internacionais atuais, sejam elas de origem pública ou privada.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G. E. do Nascimento; CASELLA, Paulo Borba. Manual de direito
internacional público. 24. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
BASSO, Maristela. Curso de direito internacional privado. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2020.
BIJOS, Leila; OLIVEIRA, João Rezende Almeida; BARBOSA, Leonardo Garcia. Direito do Comércio
Internacional: delimitação, características, autorregulação, harmonização e unificação jurídica e Direito
Flexível. Revista de Informação Legislativa, jan./mar. 2013, n. 197, p. 249-256.
BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Principais casos em que o Brasil atuou como
demandante. Divisão de Contenciosos Comerciais – DCCOM. Consultado eletronicamente em: 7 fev.
2021.
CAPARROZ, Roberto. Comércio internacional e legislação aduaneira esquematizado. 5 ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2018.
DOLINGER, Jacob; TIBÚRCIO, Carmem. Direito internacional privado. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020.
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. Rio de Janeiro: Grupo GEN,
2020.
MESQUITA, Paulo Estivallet de. A Organização Mundial do Comércio. Brasília: FUNAG, 2013.
SHAW, Malcolm N. International Law. 8. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2017.
SOUZA, Ielbo Marcus Lobo de. Desafios à ordem internacional: ataques armados por atores não
estatais e o direito de legítima defesa. Revista de Informação Legislativa, Brasília, jan./mar. 2008, Ano
45, n. 17.
UNITED NATIONS — ONU. Responsibility to Protect. Consultado eletronicamente em: 24 jan. 2021.
WORLD TRADE ORGANIZATION — WTO. Dispute settlement system training module. Consultado
eletronicamente em: 7 fev. 2021.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos tratados, leia:
GOUVEIA, Jorge Bacelar Gouveia. O uso da força no Direito Internacional Público. Revista
Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 107, p. 149-200, jul./dez. 2013.
OLIVEIRA, Rodrigo Szuecs; SILVA, Carlos Canedo Augusto. O instituto da legítima defesa
internacional na era do terrorismo global. Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações
Internacionais, v. 7, n º 13, jan./jun. 2018, p.284-307.
HARARI, Yuval Noah. Terrorismo: não entre em pânico; Guerra: nunca subestime a estupidez
humana. In: 21 lições para o século 21. São Paulo: Cia das Letras, 2018. cap. 10 e 11.
Consulte o site do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pesquise por “Princípio da não surpresa”, para
entender o princípio da não surpresa à luz do Processo Civil e das decisões desta Corte.
Assista ao filme Pearl Harbor (2001), do diretor Michael Bay, sobre o ataque à base americana de Pearl
Harbor.
CONTEUDISTA
Davi José de Souza da Silva
CURRÍCULO LATTES