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PROCESSOS DO
COMÉCIO EXTERIOR
Patrícia Garcia
E-book 2
Neste E-Book:
INTRODUÇÃO���������������������������������������������� 3
ACORDOS INTERNACIONAIS����������������� 4
Conceitos������������������������������������������������������������������4
Negociações no Comércio Internacional���������������5
Princípios que norteiam as negociações������������ 11
Rodada do Uruguai����������������������������������������������� 15
Rodada de Doha���������������������������������������������������� 17
Pacote de Bali������������������������������������������������������� 22
Conferência Ministerial de Nairóbi���������������������� 23
Conferência Ministerial de Buenos Aires������������ 24
Postura do Brasil nas Negociações Mundiais���� 24
Panorama Geral das Negociações���������������������� 28
Solução de controvérsias������������������������������������� 30
CONSIDERAÇÕES FINAIS���������������������� 33
SÍNTESE�������������������������������������������������������34
2
INTRODUÇÃO
Você sabe como surgem ou são criadas as normas
do comércio internacional? Sabemos que a regula-
ção no comércio exterior tem sua origem em um
processo de negociação, que pode ser entre dois pa-
íses ou entre vários. Sabemos também que existem
organismos internacionais que atuam na regulação
do comércio entre os países. Vamos descobrir como
funcionam as negociações em escala global?
3
ACORDOS
INTERNACIONAIS
Quando falamos de comércio internacional, os acor-
dos firmados entre países funcionam como uma nor-
ma para eles. Por isso, quando estudamos normas e
processos do comércio exterior, é essencial entender
a dinâmica dos acordos e tratados comerciais.
Conceitos
Um acordo acontece quando duas ou mais partes
estão envolvidas em ideias e objetivos comuns. Vale
lembrar que os acordos envolvem a decisão em co-
mum de todas as partes, ou seja, não pode ser im-
posto. Quando se trata de comércio internacional,
um acordo funciona como uma norma para as partes
signatárias. Tais acordos implicam direitos e deveres
que devem ser observados pelas partes.
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No comércio internacional, quando pensamos no
número de participantes, os acordos podem ser
bilaterais, multilaterais, plurilaterais ou regionais.
Os bilaterais envolvem duas partes. No âmbito da
Organização Mundial do Comércio (OMC, os acordos
multilaterais são aqueles a que todos os membros
devem aderir. Enquanto que, nos acordos plurilate-
rais, a adesão é facultativa. Ou seja, nos acordos
plurilaterais nem todos os países-membros da OMC
são signatários. Por fim, temos os acordos regio-
nais, quando envolvem países de uma região, como
América do Sul ou Europa, por exemplo.
Podcast 1
Negociações no Comércio
Internacional
Em geral, no comércio internacional, os acordos são
resultado de um processo de negociação. Assim,
em acordos bilaterais, dois países negociam entre
si; nos regionais, os países participantes do bloco
econômico também negociam entre si. Entretanto,
quando falamos de acordos em escala global, existe
a necessidade de um intermediário nas negociações.
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Atualmente, esse intermediário é um organismo inter-
nacional: a Organização Mundial do Comércio (OMC).
6
seus objetivos iniciais, e os participantes mais fortes
tanto política quanto economicamente podem impe-
dir que esses objetivos sejam atingidos se acharem
que terão algum tipo de desvantagem.
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mas também alterou as modalidades das nego-
ciações e a composição dos principais atores.
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vel que as questões comerciais internacionais se
resolvessem por meio de guerras, como acontecia
no passado.
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regulação do comércio internacional. O documento
inicial de 1947 (GATT 47) sofreu atualizações, con-
forme foram ocorrendo as rodadas de negociação.
A Tabela 1 apresenta o histórico de rodadas:
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Princípios que norteiam as
negociações
A OMC, nos processos de negociação, busca estabe-
lecer acordos multilaterais, nos quais o que é acorda-
do vale para todos os membros da Organização. No
entanto, também existem os contratos plurilaterais,
nos quais apenas parte dos membros são signatá-
rios, ou seja, são válidos apenas para os membros en-
volvidos no contrato e não para todos os membros da
OMC. A esse respeito, Magnoli e Serapião Jr. (2006)
explicam que a cláusula da “nação mais favorecida”
é o princípio do multilateralismo comercial:
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Sob a responsabilidade da Organização Mundial do
Comércio (OMC), as negociações globais seguem
os seguintes princípios:
• Não discriminação: engloba dois subprincípios:
Nação mais favorecida: obriga um país a estender
aos demais membros qualquer vantagem ou privi-
légio concedido a um dos membros.
Tratamento nacional: impede o tratamento dife-
renciado de produtos nacionais e importados.
Previsibilidade: garante que operadores do co-
mércio exterior tenham previsibilidade de normas
e acesso aos mercados tanto na exportação quanto
na importação.
Concorrência leal: coíbe práticas ilegais como o
dumping e subsídios.
Proibição de restrições quantitativas: impede
o uso de restrições quantitativas como meio de
proteção.
Tratamento especial e diferenciado para países
em desenvolvimento: países desenvolvidos abrem
mão da reciprocidade nas negociações tarifárias,
e existe medidas mais favoráveis aos países em
desenvolvimento.
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de tarifas alfandegárias quando são exportados para
os países desenvolvidos.
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A Cláusula da Paz fazia parte do Acordo de
Agricultura (um dos acordos do sistema GATT-OMC)
e era o dispositivo jurídico que permitia a países de-
senvolvidos continuar a fornecer subsídios aos seus
agricultores. Ou seja, por meio dessa cláusula, os
países desenvolvidos podiam aplicar subsídios ile-
gais e não poderiam ser contestados. Os subsídios
agrícolas distorcem o comércio internacional e pre-
judicam a entrada dos países agrícolas no mercado
dos países desenvolvidos. A Cláusula da Paz perma-
neceu em vigor por nove anos e ficou válida até 2003.
FIQUE ATENTO
O Brasil foi o primeiro membro da Organização
Mundial do Comercio (OMC) a ousar questionar
os subsídios agrícolas sob a vigência da Cláusu-
la da Paz (BARRAL; AMARAL, 2015). Em 2002, o
Brasil, por meio da Associação dos Produtores de
Algodão (Abrapa) e do Ministério das Relações
Exteriores (MRE), questionou os Estados Unidos
em relação à legalidade dos subsídios agrícolas
(domésticos e direcionados à exportação) na
produção de algodão. A disputa foi finalizada em
1 de outubro de 2014, e o Brasil venceu a contro-
vérsia contra os Estados Unidos. A disputa, co-
nhecida como contencioso do algodão, resultou
em uma compensação financeira de aproxima-
damente US$ 900 milhões para os produtores de
algodão brasileiros (AZEVEDO, 2015).
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Estudamos, até este ponto, o funcionamento das
negociações no comércio exterior. A partir de agora,
vamos conhecer a principal rodada de negociação,
que aconteceu na estrutura do GATT, e a rodada
sob a responsabilidade da Organização Mundial do
Comércio.
Rodada do Uruguai
Você sabe dizer por que a Rodada do Uruguai foi
tão importante? Ela foi a última rodada de negocia-
ção antes da instituição da Organização Mundial do
Comércio (OMC). Dentre as que aconteceram antes
de 1995, a Rodada do Uruguai foi a mais longa (durou
oito anos), a que tinha o maior número de países en-
volvidos (123) e a que apresentava o maior número
de temas a serem discutidos. Vamos conhecer a
normatização que lhe deu origem.
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• Acordo sobre Medidas de Investimento
Relacionadas ao Comércio (Trade-Related Investment
Measures – TRIMs).
• Acordo de Antidumping e Direitos Compensatórios.
• Acordo sobre Subsídios.
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estudo sobre as negociações, pois os acordos firma-
dos nessas negociações globais fazem parte da es-
trutura normativa que rege o comércio internacional.
Rodada de Doha
Vera Thorstensen (2012) comenta que houve uma
evolução no processo de regulação do comércio in-
ternacional entre o sistema do GATT e a atuação da
OMC. A autora atribui dois fatores para essa evolu-
ção: a ampliação do número de países-membros; a
abrangência de temas.
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• Novembro de 2001 – Doha.
• Setembro de 2003 – Cancun.
• Dezembro de 2005 – Hong Kong.
• Dezembro de 2009 – Genebra.
• Dezembro de 2011 – Genebra.
• Dezembro de 2013 – Bali.
• Dezembro de 2015 – Nairóbi.
• Dezembro de 2017 – Buenos Aires.
SAIBA MAIS
Batalha de Seattle (2007, 1h51m) é um filme de
drama e ação que foi baseado em fatos reais. O
enredo trata de personagens fictícios envolvidos
no protesto de 1999 contra a Conferência Minis-
terial da Organização Mundial de Comércio, ocor-
rida na cidade de Seattle (EUA).
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A Rodada de Doha, também chamada de Rodada
do Desenvolvimento, apresentou em sua agenda de
negociação um número bem maior de temas que
já haviam sido discutidos. Os principais objetivos
foram:
• Redução de tarifas em bens não agrícolas.
• Discutir temas relacionados à agricultura: subsí-
dios, apoio interno, redução de tarifas e crédito à
exportação.
• Liberalização progressiva em serviços.
• Ampliar o Acordo TRIMs e o Acordo sobre Medidas
de Investimento Relacionadas ao Comércio.
• Debater princípios gerais de concorrência, trans-
parência, não discriminação, formação de cartéis,
cooperação voluntária e instituições de concorrência
para países em desenvolvimento.
• Transparência em compras governamentais.
• Questões institucionais do comércio eletrônico.
• Melhorar dispositivos do Acordo de Solução de
Controvérsias.
• Melhorias nos acordos de antidumping, subsídios
e medidas compensatórias.
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ao passo que os países em desenvolvimento, incluin-
do o Brasil, atuam enfaticamente em uma abertura.
A despeito disso, Magnoli e Serapião Jr. (2006) co-
mentam os subsídios da União Europeia:
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Inferimos, assim, que o impasse se estabeleceu
porque temos, de um lado, Estados Unidos e União
Europeia, que são os mais fortes e desenvolvidos
economicamente, demonstrando pouco interesse
na liberalização de seus mercados agrícolas; de ou-
tro lado, temos os países em desenvolvimento, que
solicitam o acesso ao mercado agrícola em troca de
redução de tarifas de bens não agrícolas.
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incremente os custos de transação no comér-
cio internacional, gerando ineficiências, além
de, na prática, criarem mercados preferenciais
por meio de reconhecimento mútuo padrões e
regulações técnicas e fitossanitárias, afetando
a eficácia e a pertinência das negociações no
âmbito multilateral THORSTENSEN (2012).
Pacote de Bali
O Pacote de Bali foi instituído em dezembro de 2013
como resultado da Nona Conferência Ministerial da
Organização Mundial do Comércio (OMC), contri-
buiu para a retomada da Rodada de Doha (AZEVEDO,
2015). Esse pacote reascendeu as esperanças de
revitalização do processo negociador da Rodada de
Doha. No entanto, após a Conferência Ministerial de
Bali, surgiram indícios de enfraquecimento de alguns
dos princípios basilares da OMC. Nesse sentido, Rios
e Panzini (2014) comentam algumas direções que
a OMC poderia seguir após a aprovação do Acordo
de Bali:
• Não manutenção do single undertaking, ou seja, não
haveria mais obrigatoriedade de que todos os acordos
fossem assinados e aprovados por todos de uma única
vez. Dessa forma, os acordos seriam aprovados em etapas.
• Avanço de acordos plurilaterais e não multilaterais.
• Incorporação de novo temas à agenda negociadora.
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Dos assuntos abordados no Pacote de Bali (facili-
tação de comércio, agricultura, algodão e questões
de desenvolvimento relacionadas aos países em de-
senvolvimento), o Acordo de Facilitação de Comércio
foi o mais relevante e o que de fato resultou em
uma regulação no âmbito do comércio internacional
(RIOS; PANZINI, 2014). De modo geral, tal acordo
refere-se às questões operacionais e burocráticas
do despacho alfandegário.
Conferência Ministerial de
Nairóbi
Na Conferência Ministerial de Nairóbi, em 2015,
foram acordadas regras para subsídios ao crédito
de exportação, ajuda alimentar e operações de em-
presas estatais exportadoras de produtos agrícolas
(RIOS; PANZINI, 2014). Ainda assim, tais regras não
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foram suficientes para uma efetiva abertura comer-
cial no setor agrícola.
Conferência Ministerial de
Buenos Aires
Na Conferência Ministerial de Buenos Aires
(Argentina), em 2017, houve acordos em temas con-
siderados menos importantes nos negócios inter-
nacionais, como comércio eletrônico e subvenções
à pesca. Além disso, criou-se um grupo de trabalho
para a adesão do Sudão à OMC. De modo geral, o
resultado dessa conferência não foi considerado
substancial.
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to. Como você acha que o Brasil se posiciona nas
negociações do comércio exterior?
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• Indonésia
• Malásia
• Nova Zelândia
• Paquistão
• Paraguai
• Peru
• Tailândia
• Uruguai
• Vietnã.
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• Coreia do Sul
• Estados Unidos
• França
• Índia
• Indonésia
• Itália
• Japão
• México
• Reino Unido
• Rússia
• Turquia.
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para políticas de estoques de alimentos com
a chancela de segurança alimentar.
SAIBA MAIS
Estudante,
mesmo não sendo necessário decorar todos os
acordos, é sempre bom saber onde devemos pro-
curar quando precisamos. Na página do Ministé-
rio do Desenvolvimento, Indústria, Comércio Ex-
terior e Serviços (MDIC), você encontra uma lista
dos acordos da OMC, inclusive o acordo GATT
47, e consegue fazer o download se quiser ler na
íntegra. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/in-
dex.php/comercio-exterior/negociacoes-interna-
cionais/1885-omc-acordos-da-omc. Acesso em:
30 ago. 2019.
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Quando pensamos em rodadas de negociação ou
Conferências Ministeriais da Organização Mundial
do Comércio, observamos que a postura dos países
pode mudar de acordo com interesses políticos e
econômicos da época em que acontecem as reuni-
ões; tal postura pode mudar o ritmo e o rumo das
negociações mundiais.
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Solução de controvérsias
Além das rodadas de negociações, existe outro pro-
cesso muito importante no comércio internacional:
a solução de controvérsias. A Organização Mundial
do Comércio (OMC) atua como um tribunal para a
solução de conflitos entre os países envolvidos no
comércio internacional. Analisemos a estrutura da
OMC e seus principais órgãos:
• Conferência Ministerial.
• Conselho Geral.
• Conselho para o Comércio de Bens.
• Conselho para o Comércio de Serviços.
• Conselho para Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio.
• Comitês (Comitê de Acesso a Mercados, Comitê
Agrícola e de Subsídios, por exemplo).
• Secretariado.
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• Consultas.
• Painéis.
• Apelação.
• Implementação.
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ainda são considerados pendentes e permanecem
na agenda do DSB.
SAIBA MAIS
Você já observou como essas disputas funcio-
nam na prática? O Contencioso do Algodão foi
uma disputa entre Brasil e Estados Unidos que
durou mais de dez anos e rendeu uma compen-
sação financeira relevante aos produtores de al-
godão brasileiros.
Podcast 2
32
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste módulo, aprendemos que os Tratados e
Acordos Comerciais fazem parte da normatização
do comércio exterior; que existem acordos bilaterais
(quando envolvem apenas dois países), multilaterais
e plurilaterais (quando envolvem mais de dois países)
e os acordos regionais (quando envolvem um grupo
de países dentro de uma região). Estudamos os acor-
dos que são fruto de um processo de negociação e
entendemos como funciona o processo na estrutura
GATT-OMC (rodadas de negociações).
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SÍNTESE
NORMAS E PROCESSOS DO
COMÉRCIO EXTERIOR
CONTEÚDO:
SÍNTESE
Neste módulo, estudamos que as normas e os processos do comércio internacional são
frutos de acordos� Existem acordos:
bilaterais, quando envolvem apenas dois países
multilaterais
plurilaterais, quando envolvem mais de dois países
regionais, quando envolvem um grupo de países dentro de uma região�
Os acordos, por sua vez, são resultado de um processo de negociação e, no âmbito global,
as negociações são coordenadas por organismos mundiais: o GATT (1947-1995) e OMC
(1995-), os quais são os responsáveis pela coordenação das rodadas de negociação entre
os países�
No âmbito do GATT, a Rodada do Uruguai foi a mais importante� Sob a gestão da OMC,
temos a Rodada de Doha, que se iniciou em 2001 e ainda não foi finalizada� Além disso, o
processo de Solução de Controvérsias, sob a responsabilidade da OMC, é também um
mecanismo importante para a regulação do comércio internacional�
ACORDOS INTERNACIONAIS
Conceitos
Negociações no Comércio Internacional
Princípios que norteiam as negociações
Rodada do Uruguai
Rodada de Doha
Pacote de Bali
Conferência Ministerial de Nairóbi (2015)
Conferência Ministerial de Buenos Aires (2017)
Postura do Brasil nas Negociações Mundiais
Panorama Geral das Negociações
Solução de Controvérsias�
Referências
Bibliográficas
& Consultadas
AZEVEDO, R. A OMC aos 20 anos. Revista
Brasileira de Comércio Exterior (RBCE). Rio de
Janeiro, v. 124, n. 1, p. 4-7, 2015.