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Sebenta Direito Internacional Público:

O que é o DIP? – Existem 3 critérios primaciais para responder a esta questão:


1) Critérios dos sujeitos
-Direito Internacional Público é o conjunto de normas jurídicas que regem as
relações entre os sujeitos de Direito Internacional
2) Critério do objeto da norma internacional
-Direito Internacional Público é o conjunto de normas que regem as relações de
cariz internacional
3) Critério da forma de produção da norma internacional
-Conjunto de normas jurídicas criadas pelos processos de produção jurídica
próprios da comunidade internacional, e que transcendem o âmbito estadual

Críticas:
1) O critério é redundante. Quais são os sujeitos de Direito Internacional Público?

2) Não existem normas tipicamente internacionais, e cada vez mais se globaliza


esse fenómeno. Relembrar o caso Nottebohm (ou Guatemala vs Lichenstein)

Comunidade e sociedade:
- Temos, entre os seus membros, interesses convergentes e divergentes
- Na comunidade os fatores de agregação têm maior peso que os fatores de
afastamento
- Na sociedade os fatores de afastamento têm maior peso que os fatores de agregação

Marcello Caetano: “Na comunidade os membros estão unidos apesar de tudo quanto
os separa; na associação permanecem separados apesar de tudo quanto fazem para se
unir.

Comunidade internacional é, por esse motivo, mais próxima de uma Sociedade


internacional do que de uma comunidade.

Porque é que para Fausto Quadros o termo sociedade se articula melhor com a
natureza das coisas do que comunidade?
- Nas situações de comunidade os sujeitos estabelecem entre si relações em que
prevalece a supremacia da solidariedade, onde, por isso, existem relações verticais de
subordinação dos Estados a um poder agrupador e integrador. De certa forma é isso
que se passa com a EU desde que os Estados aceitaram o caso Costa/Enel.

Nas sociedades, como André Gonçalves Pereira entende que é o caso das relações
entre os sujeitos das relações internacionais, o Direito Internacional só vigora na
ordem jurídica dos Estados se, e na medida, em que a Constituição de um Estado o
permita.
Estamos, depois da segunda guerra mundial, num período híbrido, onde são maiores
os esforços de convergência e onde os estados, muitas vezes voluntariamente,
abandonam parte da sua soberania
Relações que se estabelecem entre Estados (3):
-Relações de cooperação (são estas as relações mais comuns) (são relações
meramente horizontais, sem implicarem perda de soberania dos Estados)
-Relações de subordinação
-Relações de reciprocidade (são as relações mais antigas) (imunidades de agentes
diplomáticos, dupla nacionalidade, extradição, reconhecimento de graus
académicos...)

Direito Internacional não se confunde com:


a) Direito Comparado (que não é verdadeiro Direito)
b) Moral Internacional
c) Cortesia Internacional
d) Política Internacional
e) Direito Internacional Privado

a) O Direito Comparado é tão somente a contraposição/comparação de sistemas


jurídicos, nem pode ser associado ao Direito por não existirem normas ou
princípios vinculativos
b) Moral e Direito são diferentes pelas razões expostas em IED (tipo de sanção,
recurso aos tribunais, relevância da exteriorização da intenção...)
c) Cortesia Internacional está associada a princípios de boa-fé, justiça,
moderação, proporcionalidade, que aliás vigoram na ordem jurídica
internacional como princípios gerais de DIP
d) Política Internacional corresponde a um modo de atuação espacialmente e
temporalmente localizado, conquanto que o Direito é uma ordem estável e
segura
e) Direito Internacional Privado não passa de Direito Interno remissivo para outras
ordens jurídicas. O DIPúblico é internacional pelo processo de criação do
Direito, enquanto o DIPrivado é internacional pelo conteúdo intrínseco da
norma.

Em que assentam as teorias que negam juridicidade ao DIP?


- não existência de órgãos especificamente destinados à produção do
Direito.
(-O facto de a formação do DIP ser descentralizada não obsta a que se criem normas.
Não estamos numa fase de Direito Mundial, de relações verticais, mas o DIP existe e
tem juridicidade independentemente disso. Mas, ainda que assim seja, já existem
alguns legisladores internacionais, particularmente nas comunidades supranacionais:
U.E, OEA)
(-Mesmo dentro dos Estados as leis não são as únicas fontes de Direito, vide Costume)
- não existência de um aparelho coercivo para a aplicação do DIP (“Na
comunidade internacional não há nem legislador, nem juiz, nem polícia”). A esta teoria
poder-se-á reconhecer, pelo menos, uma normatividade imperfeita do DIP.

(-contrapõe-se essa a ideia com a imposição crescente de jurisdição obrigatória ao


Tribunal internacional de Justiça ou com a submissão imediata de um estado que adira
à U.E à sua legislação e à jurisdição dos tribunais comunitários)
(-Nas relações de reciprocidade, por exemplo, ainda que não se consiga impor o
respeito pelo convencionado, “a regra do olho por olho, dente por dente” poderá
coagir o Estado que pretendia empreender uma violação do DIP a não o fazer)
(A pedra angular do Estado de Direito é o cumprimento da administração das decisões
judiciais. É necessário que a própria administração se submeta às suas decisões,
porque só ela as pode impor. Ninguém, com isto, nega a juridicidade do Direito
Interno. Porque razão negar a juridicidade do DIP baseada nesta ideia?)

- “Já só tem interesse histórico conhecer as opiniões dos negadores do


Direito Internacional”

- Teoria de Hegel de que nada existe superior ao Estado não permitiria


afirmar que os Estados estivessem subordinados a algo mais do que a sua
vontade

Crítica às teorias voluntaristas:


- Se o Direito Internacional surge apenas por adesão dos Estados ao mesmo e a
soberania do Estado é ilimitada, na verdade não há Direito Internacional, visto que os
Estados se podem subtrair a essas convenções quando assim entenderem
- Esta teoria assenta apenas nas relações com os outros sujeitos do DIP por força de
convenções. Mas e o Costume? (que é, aliás, a fonte imediata do DIP e a mais
importante)

Críticas às teorias normativistas (baseadas em pactum sunt servanta na pirâmide de


Kelsen):
-Não justificam o Costume, fonte primacial do DIP

Criítica às teses sociológicas:


- a ideia de que onde há sociedade há direito é demasiado lata. Não é por vigorarem
normas a reger determinado grupo que essas normas têm de ser jurídicas.

Teoria adotada por André Gonçalves Pereira: jusnaturalista


Monismo vs dualismo

Dualismo:
André Gonçalves Pereira rejeita a tese segundo a qual existe dualismo. Para ele, e até
porque as teses dualistas surgem historicamente associadas ao voluntarismo, não há
como defender a mesma, pela seguinte ordem de contraposições:
- não se referem ao costume enquanto fonte do Direito Internacional, não obstante o
reconhecimento constante que dele é feito na jurisprudência internacional
- o facto de existirem normas contraditórias de direito internacional e direito interno
não justifica que existam duas ordens jurídicas. Veja-se que dentro do mesmo
ordenamento interno duas normas administrativas podem ser contraditórias e gerar
colunas de colisão.
- A ideia de que o direito internacional e o direito interno têm diferentes sujeitos é
falsa. Hoje em dia o individuo é cada vez mais um sujeito de direito internacional.

Monismo com primado do direito interno:


- mesmo que um estado mude a sua constituição, não deixa de estar vinculado aos
compromissos internacionais a que antes tinha aderido
- artigo 27 da convenção de viena do direito dos tratados de 1969 não permite que o
Direito Internacional seja afastado por contrariar o direito interno.

Tese monista com primado do direito internacional:


- André Gonçalves Pereira diz ser a mais próxima da realidade
- Depende de se acreditar num primado radical do Direito Internacional (Kelsen) ou
num moderado (Verdross).
- Ideia de Kelsen, baseada na grundnorm, só faria sentido num direito mundial ou
estrutura federativa, que não é o caso
- Há prevalência do DIP, mas calma, que existe um campo de ação algo grande do
legislador interno (leia-se Estado)

Fontes do DIP:
Não existe no DIP uma espécie de constituição, razão pela qual não existe um texto
com adesão universal que enuncie as fontes do DIP.
Como resolver a questão? Utilizando um texto de grande adesão e de rara importância
política, e que corresponde, in casu, ao Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça.

Críticas ao artigo 38:


1) Ordem das fontes
2) Não dá definição das fontes
3) Não explicita que corresponde a um elenco não taxativo (não inclui, p.ex os
atos jurídicos unilaterais tanto dos Estados como das Organizações
Internacionais)
Costume:
A fonte mais importante do DIP
Tem, inesperadamente, conciliado bem a sua existência com as mutações da vida
internacional. (isto deve-se, em parte, ao facto de se ter abandonado um pouco o
critério da antiguidade para fazer prova da existência de um costume)
O costume vê parte da sua força manter-se pelo reconhecimento recorrente da
mesma em sede da jurisprudência internacional.

A ideia de costume internacional reproduz ipsis verbis aquilo que se aprendeu em IED:
“prática social com convicção de obrigatoriedade”

Mas qual é o fundamento da obrigatoriedade do costume?


1) Grócio- “pacto tácito” (doutrina voluntarista)
- não é preciso todos os Estados estejam de acordo com o costume para que
ele deva ser cumprido
- Os novos Estados não contribuíram para a formação do costume mas a ele
estão sujeitos, sem qualquer vontade a isso associada.
- A esta doutrina obsta o facto de até os estados dissidentes terem de se
submeter ao costume quando o costume se origine

2) Rousseau- “forma espontânea de criação do Direito pela prática, em relação à


qual falham todas as tentativas para a reconduzir à vontade de um Estado”
(doutrina objetivista) (seguida por André Gonçalves Pereira)

O que é preciso para haver um costume?


Não se trata de uma questão de número de atos num mesmo sentido mas a
uniformidade na construção de um uso.

Convenção de Viena do Direito dos Tratados (1969, mas só entrou em


vigor em 1980)

Elogio ao ETIJ – apesar de no seu artigo 37º ter dado uma definição de tratado, teve a
bondade de esclarecer que a definição se aplicaria apenas para os tratados regidos por
aquela convenção.
André Gonçalves Pereira: acordo de vontades, em forma escrita
entre sujeitos do Direito Internacional, agindo nesta qualidade,
de que resulta a produção de efeitos jurídicos
1) Acordo de vontades (voluntas)
2) Tem de ser um acordo escrito (no âmbito dos tratados
regidos pela presente convenção)
3) Sujeitos de Direito Internacional munidos do seu ius imperii
4) Têm de resultar efeitos jurídicos do acordo de vontades

A propósito do 3) há uma discussão em torno da internacionalização do direito quando


se trate não de um acordo de vontades entre sujeitos do Direito Internacional, mas sim
entre um sujeito de direito internacional e um outro sujeito que não o seja (empresa,
por exemplo) (inicialmente a state immunity era levada muito a sério, mas isso levou a
um retrocesso económico que obrigou a posteriores evoluções. A paridade Estado e
Privado foi positivada em várias resoluções de 74.

Artigo nº2 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados postula a possibilidade
de se dar um nome diferente de “tratado” a algo que o seja.
Costumam utilizar-se designações diferentes, para realidades também distintas, ainda
que no fundo sejam todas igualmente tratados:
1) Pacto – sociedade das nações
2) Carta – nações unidas
3) Estatuto – ETIJ
4) Constituição – OIT
5) Acordo...
6) Convenção

Carta ou constituição são usados para instituição de sujeitos de Direito Internacional


Convenção é usada para tratados em que uma das partes é uma organização
internacional (como é exemplo o caso da Convenção de Viena de 1969)

Exemplo de que não há grande distinção entre tratado e convenção é que os próprios
estatutos do tribunal internacional de justiça se referem no 38º a convenções,
enquanto no 36º fala em tratado

Tipos de tratados:
1) Tratados-leis vs tratados-contratos
- Há tratados híbridos e zonas de fronteira ambivalentes

2) Tratados bilaterais e multilaterais


- Celebrados entre duas partes e os celebrados entre 3 partes ou mais (atenção
que uma parte não se define apenas pela quantidade de sujeitos: tal como
estudado em tgdc, as partes poderão ser identificadas, isso sim, pelo interesse
comum subjacente

3) Tratado multilateral geral e Tratados restritos


-Tratado multilateral geral é aquele que pretende conter uma disciplina
potencialmente aplicável a todos os membros da comunidade internacional. A
contrariu sensu, serão restritos aqueles que apenas pretenderam regular as
relações próprias dos estados que a ela aderem

4) Tratados solenes e acordos com forma simplificada


- Tratados solenes são aqueles que carecem de ratificação (é este o único
critério distintivo dos tratados solenes e dos acordos com forma simplificado)
- Acordos com forma simplificada tinham como intenção evitar conluios entre o
executivo e o legislativo, assim se desprendendo a validade do acordo da
vontade da maioria

É o direito constitucional de cada um dos estados que estipula quem serão os


sujeitos/órgãos que poderão vincular internacionalmente um Estado.

Há tipicamente 3 fases do processo de ratificação:


1) Negociação
2) Assinatura
3) Ratificação

1) As negociações são levadas a cabo por um ministro plenipotenciário, que tenha


uma carta patente que o muna de plenos poderes (poderes de negociação
necessariamente limitados)

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