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Direito Internacional Público

PRIMEIRA SEBENTA

Conceito de ordem jurídica:

- Sistema coerente de normas;

- Constitutivo de poderes e deveres;

- Surgindo no âmbito de uma determinada sociedade.

E daqui temos:

1- Ordem Jurídica Internacional- que constituiu um sistema de regulação de


condutas na sociedade internacional, com sistemas, fontes, poderes próprios
que se aplica a esta comunidade.
2- Ordem Jurídica Interno/Estadual- que constituiu um sistema de regulação de
condutas na sociedade estadual, dirigido a pessoas (singulares e coletivas), com
órgãos centralizados para a produção e aplicação do direito.

Constituem ambos direitos internos (=interior de um Estado) - de uma


determinada sociedade.

Definição de Direito Internacional de acordo com diferentes critérios (sendo


que nenhum, sozinho, é perfeito):

 Critério dos sujeitos:


a. O Direito Internacional como conjunto de regras jurídicas que regem relações
entre Estados (interestaduais), seus sujeitos.

Critica: alargamento do quadro de sujeitos internacionais, OI, outras entidades como os


insurgentes, o próprio individuo que tem hoje esferas indiscutíveis de direitos e deveres
internacionais.
b. O direito constituído pelas normas jurídicas que se aplicam aos sujeitos da
sociedade internacional.

Critica: definição de DI que reenvia aos seus sujeitos sendo determinados por referência ao
DI. Eu só sei quem são os sujeitos do direito internacional quando sei quem são os seus
sujeitos, estamos a relacionar dois conceitos sem definir nenhum deles.

c. Silva Cunha: conjunto de normas jurídicas que regem as relações entre todos
os componentes da sociedade internacional.

Critica: demasiado extensas, relações entre tais componentes podem ser regidas pelo
direito interno. Não é sempre necessário recorrer a este direito, há outros, como o interno
que o podem tutelar. Ex: Rede ferroviária portuguesa e rede ferroviária espanhola, pode
ser regulado em sentido estrito pelo direito internacional, mas Portugal e Espanha podem
achar que nem vale a pena fazer um tratado e só fazem um contrato definindo que o
direito aplicável não é o internacional, mas sim um terceiro (ex: o direito português).

 Critério do objeto de regulamentação das normas

a. DI como conjunto de normas que regem as relações de natureza internacional (e o


direito interno as relações por natureza interna).

Critica:

i. Linhas de fronteira entre o que por natureza é internacional e


o que é interno varia em função da evolução da sociedade
internacional e do desenvolvimento das relações
internacionais.
ii. O objeto do DI não é passível de pré-delimitação (pp da
expansibilidade da ordem jurídica internacional),
basicamente ele pode regular aspetos que se entendam que
sejam do nível de tratamento internacional.
Importante: Na determinação do domínio reservado dos Estados, ou seja, na determinação
das matérias em que o direito internacional não pode tocar mas não implica por exclusão a
definição de matérias internacionais.

 Critério do processo de elaboração das normas


(Este é o critério maioritariamente adotado pela doutrina portuguesa)

a. DI como conjunto de normas jurídicas criadas na comunidade internacional pelos


processos ou formas nelas reconhecidas como idóneas para tal efeito (atende às
comunidades onde o direito se cria)
- Serão então de direito internacional qualquer norma criada na comunidade
internacional ou em comunidades internacionais.

Dois sentidos que se complementam:

- Em função da origem da norma, do seu processo concreto de formação (ou fontes


formais) e

- Em função do corpo social de onde surgem (na comunidade internacional)

Importante: Chama a atenção para o modo de formação descentralizado com


maior relevo para certas fontes (face ao direito interno).

 Critério segundo as sanções:

a. Olha-se para a forma como se responde às violações das normas.

- Para o direito interno: normas cuja infração implicam consequências


para os indivíduos culpados- execução, pena, medidas disciplinares…

- Para o direito internacional: normas que preveem sanções coletivas


contra comunidades humanas como represálias, da guerra, medidas
coercivas de uma organização internacional contra os seus membros,
etc.
- Um dos mais ultrapassados.

Distinção entre direito internacional e moral internacional:

o Exemplo clássico para facilitar a distinção dado por Afonso Queiró: É o do Estado
assolado por uma catástrofe natural e a precisar de ajuda.

- Segundo a moral internacional, por razões de solidariedade devem auxilia-lo mas se não o
fizerem não estão a violar nenhuma norma de direito internacional.

- Este último aspeto, de violação de uma norma de moral internacional (que é diferente da
norma de direito internacional que não acarreta responsabilidade internacional do Estado
violador) parece tratar-se de um critério distintivo.

o De qualquer modo, isto já é um exemplo que se desaplica, pois caso isso acontecesse
acabaria por haver algum tipo de obrigação para que o Estado tivesse de ajudar que,
caso não o fizesse resultaria em sanção.

o Se a violação das normas jurídicas implica reações tuteladas pela ordem jurídica, as
regras morais só fazem apelo ao juízo éticos dos envolvidos, decorrendo a sua força
do reconhecimento voluntário de que é agir de forma correta.

o Mas a verdade é que quer o direito internacional quer a moral internacional aspiram à
promoção de fins comunitários e portanto acabam por se complementar porque a
verdade é que quanto mais alargado for o conjunto de regras e de princípios ético-
morais aceites comunitariamente, tanto maior será o cumprimento do direito
internacional.

Distinção entre direito Internacional e cortesia internacional


o Por cortesia internacional entende-se que sejam as regras e os usos internacionais
que decorre da boa vontade que os Estados devem observar nas suas relações
recíprocas, máxime nos contactos entre os seus representantes. Ex: o protocolo
aplicável nas relações com os agentes diplomáticos estrangeiros, a saudação feitas
pelos navios de guerra de diferentes países quando se cruzam em alto-mar, etc.

o Exemplo que facilita esta distinção: a de Calvet de Magalhães, quando distingue o


direito diplomático (enquanto conjunto de normas internacionais que regem o
exercício da profissão diplomática) e da prática diplomática (os vários processos em
que se traduz este exercício).

Distinção entre Direito Internacional Privado e Direito Internacional Público

- Partindo do pp que o Direito Internacional Público é aquele que entre outras coisas regula as
relações entre os Estados…

- Direito Internacional Privado:

 Este cobre juridicamente o surgimento de entidades não estaduais, sobretudo o


individuo, como sujeito internacional.
 É um direito mais interno e nacional, daí que as regras mais importantes dele estejam
consagradas no CCP.
 Para Batista Machado: É o direito que resolve conflitos de leis de direito privado no
espaço ou regula as situações da vida privada internacional.
 Não há muitas afinidades entre o Direito Internacional Público e o Direito
Internacional Privado porque não se trata de dois ramos do mesmo ordenamento,
mas sim de normas de ordenamentos diferentes.
 Não estamos acima do Estado no âmbito da comunidade internacional mas no âmbito
do ordenamento estadual trata-se de normas estaduais que delimitam o direito
privado de um Estado, estabelecendo quando este vai ser aplicado e quando, ao
contrário os juízes desse Estado devem aplicar normas de direito privado estrangeiro.
 A expressão peca por defeito quando pretende referir-se ao complexo de normas
com que cada ordenamento estadual se dota para ter em conta a existência de outros
ordenamentos estaduais. Todos os Estados procuram utilizar, nos casos pertinentes,
normas, procedimentos jurisdicionais, atos administrativos e outros valores jurídicos
provenientes do ‘exterior’ e portanto daqui resulta que este direito é uma parte do
direito interno que se refere, não só ao direito privado, mas também ao direito penal,
administrativo…
 O facto de o direito internacional puder regular relações interindividuais, e mesmo
objeto do direito privado (p.ex. convenções internacionais que contêm leis uniformes)
significa apenas que o Estado se obriga a transpor para o plano interno as normas
internacionais de que se ocupam essas relações.
 As possibilidades de regulamentação dele são limitadas.

Sentido e fundamento do direito internacional

- Qual é o fundamento e a natureza da obrigatoriedade do direito internacional? –


Possivelmente para que a ordem jurídica não fosse idêntica, na sua característica e premissa
ao Direito Interno.

- Primeira questão: há direito efetivo e genuíno numa sociedade de Estados que estabelecem
a sua relação com base em poderes e que consequentemente defendem os próprios
interesses?

 Ceticismo apresenta quatro posições quanto a isto:


1. Verifica-se na comunidade internacional uma predominância do poder sobre o
direito;
 Realista e a verdade é que o direito está subordinado ao poder e muitas
vezes é um instrumento deste.
 Poder= possibilidade de um Estado impor a sua vontade a outro e
controlar situações contestadas por outros em aspetos militares,
psicológicos, políticos…
 E na sociedade internacional a distribuição desses aspetos de poder está
assente na desigualdade, tem como consequência que o poder, ou
ausência dele domina quase por completo as relações interestaduais.
 Estados procuram aumentar o seu poder e este é visto como um fim em si
mesmo e outras vezes como meio para ter mais liberdade de ação perante
os sujeitos.
 Direito= função estabilizadora.
NOTA: Poderíamos obter a mesma conclusão ao observar o ponto de vista
estrutural – o sistema interestadual é assente em relações de coordenação.
Nele a autoridade está repartida pelos membros da sociedade e concentrada
naqueles que detenham mais poder. O Estado, não estando subordinado a
nenhuma autoridade superior têm os limites reais à sua atuação no plano
internacional que são estabelecidos por dois critérios:

a- A perceção em concreto que o Estado faça do seu interesse;


b- O confronto com o poder dos outros Estados que venham, nessa medida,
condicionar a sua ação.

Exemplo: Estados que, devido à sua capacidade militar se apropriam de parcelas


territoriais de outro Estado.

2. O Direito Internacional depende, quase em exclusivo da vontade dos Estados;


3. A que aponta divisões culturais, de valores e de objetivos das componentes da
sociedade internacional- leva a questionar a praticabilidade de um sistema jurídico
comum.
4. A que realça a fragilidade de um sistema jurídico que não dispõe de órgãos
centralizados que emanem regras e garantam o seu cumprimento.

Efetividade da ordem jurídica internacional

- Não é despropositado afirmar que, para se falar em Direito é necessária a existência de uma
comunidade, de um mínimo de relações entre os seus membros e que essas relações sejam
regidas por certas regras de comportamento em alguma medida vinculativa.

- Para explicar o ‘momento vinculativo’:

a- Teorias voluntaristas- ‘teoria da autolimitação’;


b- Teorias normativas (principal mentor Kelsen);
c- Teorias do direito natural (vertente histórica- Vitoria e Suarez, vertente das
formações atuais- Verdoss);
d- Teorias sociológicas ou antropológicas (partem da radical natureza social
do Homem).

- A efetividade do direito internacional não pode ser aferida por padrões que não os seus.
- Dentro de cada ordem jurídica existem violações (o que não implica que não haja o
ordenamento) e em situações limites é o direito que se capitula (especialmente se se tratar de
direito interno).

- O direito não prescinde da força e portanto depende dela.

- Na verdade em certas situações do direito interno impõe-se normas de direito internacional


pois a verdade é que o direito internacional é mais eficaz do que o direito público interno.

- A verdade é que o direito internacional atinge um grau mínimo de efetividade.

 Objeções:

1. Será que os Estados não respeitam o direito internacional simplesmente por


motivos ajurídicos? Aqui contrapõe-se que ao Direito não interessa curar as razões
da observância das normas mas sim o lado externo da conduta. Na verdade
possivelmente são interesses que movem os Estados a respeitar o direito pois eles
ao agirem de acordo com este fortalecem a expectativa e a probabilidade de
acatamento dos restantes Estados. Ideia de reciprocidade.

2. Tem que ver com a função legitimante do direito internacional- Estados procuram
no direito internacional arrimo para os seus comportamentos.

Sociedade internacional como comunidade jurídica

- Mosler: o direito internacional deve ser analisado sob o ponto de vista de uma sociedade
internacional como comunidade jurídica.

- Comunidade internacional: conjunto de todos os sujeitos que participam no ordenamento


jurídico-internacional e portanto seus membros.

- A sociedade internacional implica uma comunidade jurídica que regula as relações dos seus
membros uns com os outros e com as instituições nacionais através de regras, princípios e
máximas de conduta.

- Sociedade internacional será uma comunidade jurídica na medida em que seja capaz de
viver de acordo com regras jurídicas e o direito internacional será o meio para regular os
acontecimentos da vida internacional.

Requisitos da comunidade jurídica internacional


- Antes do séc. XVI não havia comunidade jurídica internacional devido a duas razões:

i. Fática: ou seja, a ausência de unidades soberanas autogovernadas, ou seja, não


haviam sociedades humanas independentes e organizadas numa base territorial.
ii. Psicológica: ausência de regras jurídicas homogéneas e coerentes que substituíssem
uma autoridade superior.

- Atualmente a comunidade internacional, para existe precisa de ver realizado os seguintes


pressupostos:

 Pressuposto estrutural: o facto de um certo número de sociedades organizadas com


base territorial coexistirem sendo independentes umas das outras e não estando
submetidas a qualquer poder exterior.

Mas:

a. Na perspetiva de Marques Guedes podemos negar a existência desta comunidade


devido aos conflitos e fatores de divisão entre os atores.
b. Na perspetiva de Jorge Miranda devemos assumir a existência de várias comunidades
internacionais pois a comunidade internacional encontrar-se-á fragmentada em blocos
que entram em competição e conflito para dominar as relações internacionais.
Justifica-se pelo grau de desenvolvimento económico. – ‘Parcelamento da
comunidade internacional’.

 Pressuposto sociológico: Essas sociedade tem de ter a convicção de estar vinculadas


entre si por normas, aplicáveis reciproca e geralmente que as coloca em diferentes
situações jurídicas subjetivas, atribuindo-lhes direitos e obrigações. Basicamente os
membros que devem aceitar como obrigatório o campo normativo que reje as
relações intersubjetivas que se produzem no centro da sociedade internacional.
- Até porque se tal não acontecesse esta comunidade desapareceria pois há diferenças
económicas, conflitos políticos-ideológicos, etc. entre os seus membros.

Comunidade internacional e direito internacional

- Para muitos autores o direito internacional é a organização da comunidade internacional


mas para Jorge Miranda esta definição tem falhas, são elas:
 Historicamente o direito internacional não teria surgido de uma visão
transestadual ou transnacional de organização mas sim a partir das
soberanias dos Estados.
- Objeção: Sendo a expressão jurídica de uma forma societária
estadual o papel dos Estados é primário.
 Não haveria só uma comunidade internacional mas sim várias (posição
de Marques Guedes).
- Objeção: Mas tal seria incompatíveis com regimes
particulares, antes servindo a expressão ‘comunidade’ para
acentuar o carácter unitário e unificador do direito neste
contexto.

 Ao conceito de comunidade internacional poderia subjazer uma visão


ideológica/metajurídica.

- Objeção: Este enquadramento está, por definição ausente


pois apenas se acentua a convicção da existência de regras
jurídicas aplicáveis à sociedade internacional.

- Logo, apenas a apresentação destas objeções pode-se dizer que o direito internacional é o
direito da comunidade histórica e concreta.

Direito Internacional e Estado Mundial

- Com o aprofundamento da solidariedade e interdependência entre os membros da sociedade


internacional poderíamos atingir a fase de ‘Estado Mundial’ ou de sociedade humana mundial
organizada.

- Problema: Nesse caso não haveria base de sustentação- a sociedade internacional existe
enquanto existem Estados.

- A comunidade internacional, não está limitada ao conjunto de Estados soberanos, mas


compreende também as organizações internacionais e outros entes não estaduais.

Traduções jurídicas da ideia de comunidade internacional


- Sobre a conceção da ideia de comunidade internacional encontram-se várias ‘ideias’:

 Assembleia Geral das Nações Unidas, resolução 2625 (XXV), de 4 de Novembro de


1970 – ‘todos os Estados gozam de igualdade soberana. Tem direitos e deveres iguais
da comunidade internacional, não obstante as diferenças de ordem económica, social,
política ou de qualquer outra natureza’.
 Carta dos Direitos e Deveres dos Estados, cujo título III está titulado de
‘responsabilidades comuns relativamente à comunidade internacional’.

- Não se devem, no entanto, sobrevalorizar estes exemplos.

 Mais significativo: Casos em que a jurisprudência internacional se referiu à


comunidade estadual, uma vez que dessas pronuncias deriva a fixação de direitos e de
obrigações.

1. Parágrafo 33, sentença do Tribunal Internacional de Justiça. Caso Barcelona


Traction- O Tribunal refere às ‘obrigações dos Estados relativamente à
comunidade internacional no seu conjunto’.
2. Parecer sobre a Namíbia, de 21 de Julho de 1971- Tribunal confirma esta
jurisprudência entendendo que a África do Sul, devido à sua presença continuada
naquele território ‘causava prejuízo a um povo que deve contar com a assistência
da comunidade internacional para alcançar os objetivos a que corresponde a
missão sagrada de civilização’.

 Também mais significativo: Casos em que textos convencionais ou projetos de


codificação reconhecem a existência de uma comunidade internacional e daí fazem
decorrer certas consequências jurídicas.

1. Artigo 53 da Convenção de Viena sobre o direito dos Tratados, a 23 de Maio de


1969- refere-se às normas imperativas de direito internacional geral (ius cogens) e
estabelece que estas são normas aceites e reconhecidas pela comunidade
internacional de Estados no seu conjunto, sancionando com a nulidade todo o
Tratado que com elas seja incompatível.
2. Artigo 19 do projeto sobre a responsabilidade internacional do Estado por factos
internacionalmente ilícitos.
Características da sociedade internacional

i. Composição preferencialmente interestadual, no entanto nela também


participam sujeitos não estaduais como organizações internacionais.
ii. O número de sujeitos que compõe a sociedade internacional é reduzido
(mas ampliou-se recentemente devido ao aumento do número de Estados
que acederam à independência e porque também aumentou o número de
organizações internacionais dotadas de personalidade jurídica
internacional).
iii. Estrutura paritária, pois não existe uma instância de poder superior em
relação à qual os Estados estejam colocados numa posição de
subordinação. O direito internacional baseia-se na existência de Estados
independentes e soberanos.
iv. Tendencionalmente inorgânica e descentralizada, nela não existem órgãos
de caráter estável ou permanentes assimiláveis.
- Acaba por demonstrar a ‘primitividade’ da sociedade internacional e
do ordenamento que a suporta e informa.

Evolução da sociedade e do direito internacional

Fundação do direito internacional

- Nascimento do Estado moderno é normalmente associado ao surgimento de uma sociedade


internacional clássica e este modo de ver, que perdurou pelo menos até à 1ªGuerra Mundial,
já não descreve com rigor a base social do direito internacional apesar de a ordem jurídica
internacional contemporânea conter elementos que decorrem do direito internacional
clássico.

- Então, a sociedade internacional é produto de uma sedimentação e evolução histórica.

- Mas qual é o momento historicamente aferido em que tenham surgido as suas


características fundamentais?

 Há divergência entre os ‘ius-internacionalistas’. Alguns defendiam que teve origem


em meados do séc. XVII, cristalizada com o Tratado de Vertefália, outros atribuíam-lhe
os Primórdios na Antiga Clássica, outros a charneira de queda do Império Romano do
Ocidente (476 d.C).
 Relativamente ao momento em que é celebrada a paz de Vestefália, aceitam-se as
objeções pois só por alturas do séc. XVII a sociedade internacional encontra a sua base
assente na paridaridade que conserva até hoje (e é por isso que muitos reportam
como sendo aquele momento).
- Tudo o que se pode afirmar, na verdade, é que naquele período temporal,
caracterizado pela cristalização em torno da Paz de Vestefália, de um novo
sistema europeu, eram já facilmente reconhecíveis os elementos
fundamentais da sociedade internacional moderna.

 Até pelo que vem sendo dito não se afigura crucial remontar o nascimento da
sociedade internacional ao séc. V.

 Escolha recai pelo séc. XVI, momento em que se entende ter surgido o Estado
Moderno, partindo do pressuposto que a componente primeira da sociedade
internacional são os Estados.

Da teorização da soberania estadual à teorização do direito internacional

- É a Jean Bodin que se atribui a primeira teorização clara da soberania como elemento
essencial do Estado.

 A sua construção teórica foi influenciada pela situação política de então, na qual se
redefiniam as estruturas do poder vigente.
 A França ainda se debatia entre os senhores feudais e poder eclesiástico e o do
monarca.
 A soberania servia para legitimar o poder titulado do Rei, simbolizava o Estado e
unificava o Governo.
 A seguir soberania é considerada como elemento fundamental do Estado e inerente à
noção da comunidade política.
 A forma mais importante de expressão desse poder supremo consistia na capacidade
legislativa, sem que o soberano estivesse vinculado às leis que emanou.
 Apesar disto o monarca, ao estar acima da lei ainda estava obrigado à lei divina, pela
lei de razão, elas leis comuns a todas as nações e pelas leis de governo ‘leis
fundamentais do reino’.
 A soberania servia, então, como um pp essencial do direito interno destinado a
ordenar a sociedade política.
 Limites que lhe são impostos: leis naturais e as leis divinas.
 Visão jusnaturalista do poder estadual.
 Abre-se caminho para a teorização e abordagem doutrinal moderna do direito
internacional.

- Hoje tem-se a ‘doutrina clássica do direito internacional’ que tem por um lado ‘jus naturae’
e por outro o ‘jus gentium’. Cada uma destas noções se presta ao enquadramento do
conteúdo e à reafirmação da juridicidade daquele complexo normativo que vinha sendo
formando no âmbito da comunidade internacional, uma ‘sociedade de entes soberanos’.

 Jus gentium: Representava a ideia de um fenómeno jurídico caracterizado por normas


que se aplicavam a toda a gente e a todos os países e que incluía ainda as regras que
disciplinavam o comportamento dos soberanos, reis e príncipes que nas suas relações
mutuas não admitiam posições de supremacia.
 Jus naturae: O direito natural servia aqui de lógica à ausência de uma autoridade
centralizada mas não era concebido, a não ser em casos excecionais.

- Francisco de Vitoria contribui para a teorização da soberania pois:

 Recusa o arbítrio que a noção pode comportar e por isso ia de arrepio às doutrinas do
início do séc. XVI que proclamavam que o poder soberano apenas estava limitado às
suas possibilidades materiais.
 Para ele a soberania do Estado podia manifestar-se, também, por ex. na manifestação
deste contra a ingerência, nos assuntos internos e internacionais, de qualquer
autoridade ou potência estrangeira.
 Defende que os Estados não tem o direito de se separar uns dos outros e que o
direito da sociedade e de comunicação é um direito que é portanto primeiro,
conatural ao homem, superior a qualquer outro e portanto ele não pode opor-se às
relações humanas e ao comércio internacional que delas decorre.
- Direito das gentes independente da vontade dos Estados.
- Estado sujeito à lei objetiva internacional.
- Se um Estado abusar da sua soberania e não se conformar com as prescrições
do direito natural os outros Estados lesados podem recorrer à guerra servindo
esta como instrumento de garantia de direitos e punição ao Estado infrator.

- Suarez contribuiu também para a teorização da soberania pois:


 Destacou o caractér obrigatório do direito internacional se basear no direito natural
e que a sua substancia decorria da regra segundo a qual eram de cumprir os
compromissos assumidos. (pacta sunt servanda)

- Grócio tem mérito de sistematizar de forma coerente um corpo de regras e princípios


internacionais.

 ‘Pai’ do direito das gentes.


 Sustenta, no início do séc. XVII que o direito da natureza funda-se na razão e que
existiria um direito natural válido mesmo que Deus não existisse – corte radical com
todas as conceções que subordinavam o fenómeno jurídico internacional a uma
comunidade de fé religiosa, posição arrojada à época que abre novos caminhos para o
direito internacional.
 Defesa da liberdade dos mares, um dos seus maiores contributos.
 As regras de direito internacional estão ligadas a um ambiente culturais e sociais
próprios e ter insistido neste aspeto foi um dos seus (também) maiores contributos.

Evolução história da sociedade internacional

Da paz de Vestefália à Primeira Guerra Mundial (1914)

- A paz de Vestefália põe fim à guerra dos 30 anos, constitui uma evolução da sociedade e do
direito internacional.

- Os principais Estados vencedores, França e Suécia criam uma nova ordem política e uma
nova ordem territorial que irá perdurar até às guerras da Revolução Francesa (Bonaparte).

 Um sistema de Estados territoriais:


- Salcedo: pode afirmar-se que se estabeleceu um sistema de Estados soberanos
territoriais que assumem o papel de reguladores das relações internacionais.

- Princípios fundamentais que fluem da Paz de Vestefália:


1. Respeito pelos limites territoriais dos Estados;
2. A prevalência de um princípio de jurisdição territorial dos Estados sobre o
princípio de jurisdição pessoal em matéria de legislação e de administração da
justiça;
3. Igualdade soberana dos Estados;
4. A afirmação progressiva do princípio da não intervenção dos assuntos internos
dos Estados;

- Isto alia-se a um sistema de garantia e de manutenção da paz cujos aspetos


principais são:

1. Afirmação explícita de que os Tratados devem ser observados pelos Estados


parte (pacta sunt servanda);
2. Os conflitos que pusessem em causa a paz deviam ser revolvidos por meios
pacíficos, de preferência mediante o recurso às negociações diplomáticas;
3. O princípio de que o Estado vítima de uma violação da ordem estabelecida
podia recorrer à força contra o Estado transgressor, sendo nisso apoiado pelos
Estados partes nos tratados de paz;
4. Uma guerra que fosse iniciada sem justa causa violava o direito, pelo que
todos os Estados partes nos tratados de paz deviam fazer face ao agressor;

Heterogeneidade e homogeneidade da sociedade internacional

- A sociedade internacional é desde o seu surgimento heterógena, no sentido que


compreende Estados pertencentes a diversas áreas geográficas, culturais e religiosas.

- Por outro lado os Estados europeus e pan-europeus formavam uma sociedade de Estados
extremamente homogénea porque eram cristãos e porque partilhavam a mesma matriz
cultural.

 Até porque no período do absolutismo real as regiões pertenciam à mesma família e


por isso não se excluía de nenhum modo os conflitos, dissensões, rivalidades e as
guerras entre os Estados europeus. Isto serviu para cimentar os aspetos de ligação.

- Relativamente aos outros Estados europeus e aos Estados do globo não cristãos a situação é
diferente pois estes meio que viviam à margem’ da sociedade internacional e portanto a sua
contribuição e intervenção para o desenvolvimento daquela foi reduzido.

 Grewe: durante mais ou menos 3 séc. (finais do séc. XVI ao séc. XVIII) os Estados
europeus e alguns países da Ásia (ex: Pérsia, Birmânia, Sião) tinham contatos mais ou
menos estreitos, assentem no pp da paridade. No entanto, a partir da Revolução
Industrial a tendência foi a de os Estados Europeus, numa política expansionista,
dominarem aqueles Estados por via de conquista, ou, ao menos, submeterem-nos à
sua influência. Daqui sucede que a sociedade que fora internacional torna-se aos
poucos uma comunidade europeia de raiz e para se voltar a tornar internacional foi
preciso um processo de descolonização, que se iniciou este século.

Aspetos principais desta tese, que, ainda que não concordemos com ela, são
indiscutíveis:
a- Desde a sua formação, a sociedade internacional nunca foi só constituída por
Estados Europeus, antes integrando nações ou aglomerados humanos;
b- No entanto, devido a uma pluralidade de fatores (históricos, culturais, políticos e
económicos) os Estados europeus assumiram, na sociedade internacional uma
posição de preponderância;
c- Daqui se partiu para uma construção jurídica, de fonte europeia, em que se
afirmava a superioridade dos Estados destes continentes aos restantes.

O sistema das capitulações e da conquista

- Em finais do séc. XIX, o domínio dos Estados europeus atingiu a sua expansão máxima.

- As relações entre os Estados ‘ocidentais’ e entre estes e todos os restantes eram regidas por
regras indiferenciadas:

a) Aquelas que se aplicavam entre os Estados Europeus (inclui-se os EUA e os


países da América latina);

b) Aquelas que disciplinavam as relações entre aqueles e os Estados terceiros ou


comunidades humanas com padrões organizacionais rudimentais, espécie de
‘direito externo’;

- Relações com os Estados propriamente ditos: Sistema de


capitulações (submetidos a um padrão mais ou menos homogéneo,
concluídos pelas nações europeias por exemplo com governantes
muçulmanos, com alguns países árabes (Egipto, Iraque, Síria,
Marrocos, Palestina) – consolidação deste sistema ocorre durante os
séc. XVII e séc. XVIII.

 Principais funções das capitulações era a de estabelecer e


regular as condições dos europeus nos territórios das nações
não-europeias.
 Aspetos de maior destaque:
- Os europeus que tivessem nacionalidade do Estado
contraente não podiam ser expulsos do Estado territorial sem
o consentimento do cônsul;
- Tinham o direito de praticar livre e publicamente o culto
cristão;
- Gozavam livremente da liberdade de comércio;
- Estavam isentos de certos aspetos do regime interno relativo
às importações e exportações;
- Beneficiavam de um regime muito favorável nos casos de
insolvência, nos quais o Estado territorial estava privado de
aplicar-lhes certas sanções previstas no seu ordenamento;
- A jurisdição sobre os conflitos entre europeus era exercida
pelo representante diplomático ou consular destes;
- Exceção: Os diferendos entre um europeu e um cidadão do
Estado territorial eram resolvidos pelos tribunais do último.

Consequências deste regime:


i. Os europeus constituíam, no Estado territorial, uma
comunidade pessoal e juridicamente separada dos
autóctones;
ii. Esta separação supunha uma sobreposição com a da
respetiva autoridade nacional (Cassesse- ‘Os Estados
Europeus projetavam a sua autoridade fora da
respetiva esfera territorial’);
iii. O regime das capitulações não era informado pelos pp
da paridade e da reciprocidade, expressa-se até em
privilégios que os europeus usufruíam;

Conclui-se então que este regime impunha limitações à


soberania dos Estados não-europeus.

- Relações que se estabelecem com comunidades humanas privadas


de qualquer autoridade central organizada: As aplicáveis a
comunidades que tinham sido objeto de conquista.
- Partes: Estados europeus e os grupos humanos que ou não eram
organizados em forma-estadual, ou não tinham uma autoridade
central suficientemente forte ou eram governadas por várias
autoridades locais.

- Os Estados europeus interessam-se, aos poucos, pelo continente


asiático e com a independência definitiva das colónias latino e sul-
americanos, os Estados ocidentais fazem incidir a sua atenção sob o
continente africano reforçando, por outro lado, a sua posição no
continente asiático.

- Direito internacional legitimava a conquista colonial porque:

1. Admitia a aquisição de soberania nesses territórios;


2. Privando as comunidades locais de qualquer estatuto jurídico
internacional relevante.

- Deste modo a ocupação efetiva do território e o controlo de facto


exercido sobre este eram condição suficiente para a aquisição de
direitos soberanos.

- A oposição à conquista estrangeira legitimava os Estados europeus a


iniciar uma guerra ou a estabelecer um acordo (Tratado) em que
estava ausente a ideia de reciprocidade (Tratado de Grã-Bretanha e o
Governador de Cartabar, 1841, p.ex.).

O Congresso de Viena

- Estamos num período em que o direito internacional apoiava e consagrava o poder do


‘Estado mais forte’. Ex: Acto Gral do Congo que promove o pp da ocupação efetiva.

- O modo geral dos Estados europeus era homogéneo quanto aos Estados ou territórios não-
europeus mas isso não quer dizer:

1. Todos tivessem a mesma parcela colonial

2. Tal homogeneidade se repercutisse na repartição de poderes interna do continente


europeu.

Desenvolvimento do direito internacional neste período histórico

- Direito internacional foi-se desenvolvendo a partir da Paz de Vestefália.

- 3 características que se destacavam deste ‘direito das gentes’:


 Voluntarismo: As normas emanavam a vontade expressa ou tácita dos Estados
(reafirmando-os como destinatários e criadores deste direito);
 Neutralidade: Não vinculação do direito internacional a inspirações religiosas ou
ideológicas;
 Positividade: Direito internacional como conjunto de normas jurídicas em vigor e não
de regras morais ou de aspirações.

- De um ponto de vista mais substantivo, o corpo de regras do direito internacional que se


desenvolveu até ao séc. XVIII é caracterizável por referência a alguns aspetos
fundamentais:

1. O estabelecimento de um sistema em que a solidariedade dinástica repercutia


uma repartição territorial assente no princípio do equilíbrio de forças
(consagração expressa na Paz de Utrecht em 1713).
2. Desenvolvimento das missões diplomáticas permanentes (provoca a
intensificação da atividade política internacional e o próprio desenvolvimento do
direito diplomático vem acentuar o carácter voluntarista da sociedade
internacional).
3. Esforço de regulamentação de guerra- a ideia de humanizar a guerra vem
acoplada a obrigação de respeito pelos inocentes, população civil, hoje. É neste
período que se começam a cristalizar como regras consuetudinárias internacionais
a proteção e o respeito pelos princípios da guerra e da população civil.
4. Convergência na vertebração das regras relativas aos espaços marítimos e ao
tratamento do problema essencial da liberdade dos mares – questão que só viria
a ser resolvida com a Paz de Utrech (1713)
o Ligada a esta questão está a de delimitação dos espaços marítimos
que pode ser entendido como um meio de determinar espacialmente
o exercício da jurisdição dos Estados mas também como elemento
primordial na defesa e segurança do Estado costeiro.

Os projetos de ‘paz perpétua’

- Muitos Tratados até aqui referiam-se à disciplina da guerra e aos aspetos dela… E isto não é
ao acaso pois estas eram, na verdade, as principais preocupações do Direito Internacional
nesta fase histórica da sua evolução;
- Mas é no séc. XVII e séc. XVIII que surgem projetos de paz perpétua ou de organização
internacional;

 Devido ao facto da existência de guerra e de ausência de solidariedade na Europa;

 Projetos de Wiliam Penn e de Leibnitz: mais do que políticos tinham inspiração


religiosa e espiritual. Leibnitz, nomeadamente, considerava que o apaziguamento
político na Europa seria uma consequência da unidade religiosa reencontrada pela
qual pugnava.
 Kant: Considerava que é o Estado Universal, analisado enquanto princípio regulativo,
ou seja ‘um critério racional que serve como ponto de orientação para a configuração
da realidade’. Vivendo os estados em estado de natureza, sairiam dele para criar uma
civitas gentium regulada por um ius cosmopolictum. Mesmo que tal objetivo não se
realizasse, não estaria questionada a validade deste imperativo, que serviria como fio
condutor da Humanidade.

- O ‘sonho da paz pelo direito’ teve um sucesso considerável neste período, e a ele se deve
o lançamento das sementes que mais tarde irão culminar na constituição da Sociedade das
Nações, em 1919, e mais tarde nas Nações Unidas.

- Estes autores tiveram mérito visto no sentido que insistiram na necessidade de organizar,
institucionalizar as relações entre os Estados independentes, tendo como objetivo o
aprofundamento das solidariedades naturais dos membros da sociedade internacional,
que teria como reverso a diminuição das hipóteses e conflitos bélicos.

Do Congresso de Viena a 1914

- Desde o início do séc. XIX até 1914 que as tendências detetáveis nos dois séculos
anteriores continuaram a solidificar-se acrescidas de algumas alterações de maior
importância internacional;

 Pp nacional: é uma delas. Modificou radicalmente a estrutura política do Estado e


se repercute no plano internacional. Com o primeiro marco estabelecido na
Revolução de 1789, a conceção do Estado do Antigo Regime (monárquico e
interdinástico) é substituída por uma outra, a da nação soberana, consagrada
como novo princípio de legitimação do poder político.
- O advento de um sistema de Estados nacionais, bem como a ideia
revolucionária da guerra nacional serviu para destronar o absolutismo. Ex: Santa
Aliança, com o instaurar desta assiste-se, depois do fracasso da epopeia
napoleónica, ao instaurar de uma nova ordem baseada nos princípios da
legitimidade dinástica e do equilíbrio.

- Este pp leva ao declínio da expressão do direito das gentes: a expressão ‘direito


público da Europa e de ‘direito das gentes europeu’ passa a ‘direito internacional’,
e esta nova expressão expressa melhor a realidade regulada pelo sistema jurídico,
ou que este potenciava: relações entre Estados nacionais.

- O Congresso de Viena inicia um período que praticamente só se finaliza com a 1ª Guerra


Mundial (1914-1918).

o Numa primeira etapa (1815/1839)- encontramos uma forte reação


contra os princípios da Revolução Francesa, ao serviço do chamado
legitimismo monárquico de que são expoentes a Santa Aliança e as
intervenções militares destinadas a esmagar movimentos de tipo
liberal que se manifestam em Portugal, Espanha, Nápoles e Piemonte.

- Um fator importante de progresso da sociedade foi o


reconhecimento do pp das nacionalidades que esteve na base
e terá sido o motor ideológico das unidades políticas italianas
(1870) e alemã (1871) e marcou a sua influência por todo o
período cronológico que vai até à Primeira Guerra Mundial.

- Desenvolvimento económico e industrial- Provoca um


alargamento das trocas, a expansão colonialista dos países
industrializados em África e em Ásia e o início do acesso do
proletariado ao (Velasco) protagonismo político;

- Progressiva expansão ou ampliação da comunidade


internacional- independência da América Latina (1808-1825),
participação da Turquia no concerto europeu (Tratado de Paris
de 1856) e o estabelecimento de relações com os países
orientais, China e Japão.

- Sumariando esta fase: foi uma fase de expansão do direito


internacional, desenvolvem-se as relações económicas e as relações
diplomáticas entre as nações (sendo a maioria destas ocidentais). O
volume do direito internacional aumenta através do alargamento e
constituição de novas regras consuetudinárias e convencionais, pelo
que poucos continuavam a insistir na supremacia do direito natural.
Ainda se levanta contudo o problema da soberania estadual
enquanto princípio orientador das relações internacionais.

De 1919 à Segunda Guerra Mundial- Esboços de institucionalização da


comunidade internacional

- A comunidade internacional, entre as duas guerras, vai aperfeiçoando o direito


internacional;

- Tem importância os Tratados de Paz de 1919-1920 e o Tratado de Versalhes;

- Cria-se no mesmo ano a Organização Internacional do Trabalho e a Sociedade das


Nações, que foram a primeira tentativa de cooperação política internacional de
carácter permanente e de organização internacional com fins gerais, onde se
destacava a vontade de manutenção da paz;

- Estabelece-se o Tribunal Permanente de Justiça Internacional, que teve bastante


importância pois concretizou um processo, embora embrionário, de
institucionalização de uma jurisdição internacional permanente. O seu estatuto
também transitou, quase inalterado, para o órgão jurisdicional que lhe sucedeu,
Tribunal Internacional de Justiça.

- A renúncia à guerra, quer como meios de resolução de diferendos políticos quer


como instrumento de política nacional;

- Trilogia: desarmamento, segurança e arbitragem- consagração destes encontra-


se no Pacto da SDN, nomeadamente no art. 8, que proclamava o desarmamento
(redução das forças militares dos Estados ao mínimo indispensável para garantir a
sua segurança) e no art. 10, onde se estabelecia que a agressão contra qualquer dos
membros da Sociedade obrigava os outros a prestarem assistência à vítima.

 Aqui, a introdução do conceito de segurança coletiva era novidade


absoluta porque correspondia à primeira sistematização de uma ideia
que, por exemplo, desde a Paz de Vestefália, estava associada a
pressupostos diferentes (ideia de manutenção de um sistema de
equilíbrio e de poder).

 Contudo, o sistema da SDN não podia ser eficaz porque:

a. O princípio do desarmamento (consagrado no art. 8) ‘não era


imediatamente executório, exigindo a celebração de acordos
complementares’.
b. Porque ante as várias disposições do Pacto, nunca era a
‘Sociedade’ mas sim os seus membros, que deviam proceder de
um ou de outro modo.
c. Art. 12, 13 e 15- estabeleciam um sistema complicado de
‘moratória de guerra’ e tornava ilícito o recurso à guerra em caso
de diferendo que não incidisse sobre o domínio reservado dos
Estados e teve aplicação muito escassa.
Brierly: ‘todo o funcionamento da instituição ficava assim
dependente da disposição que os Estados Membros revelassem
de cumprir, e de cumprir prontamente as obrigações assumidas’.
Pelo que uma organização concebida nestes termos não podia
deixar de ter uma estrutura débil, pouco eficaz e menos
operativa’.

- Era o papel reconhecido à autotutela, que até ao período da SDN se mostrava o


aspeto mais claramente distintivo do direito internacional, quando confrontado com
os direitos internos ou estaduais.

 De acordo com o direito internacional clássico, a possibilidade de


recurso à autotutela não conhecia limites e compreendia o lícito uso
da força para obter a reintegração de um direito subjetivo que o
Estado pudesse ter violado por outro sujeito internacional.
 Na esfera internacional não se conhecia qualquer controlo exercido
por terceiros que permitissem objetivamente aferir da correta
apreciação, por parte do Estado, dos factos que o tinham levado a
recorrer à força. Era por isso uma apreciação subjetiva que
determinava o comportamento do Estado.

 Antes do fim da 1ª Guerra Mundial o único avanço que se verificou


neste sentido foi a distinção entre a legítima defesa e as represálias.

- Apesar de tudo a SDN teve o mérito de:

1. Limitar o direito dos Estados de recorrer à guerra para resolução dos seus
diferendos e isso acabou por levar a uma aceitação de que havia casos em que
o uso à força poderia ser sancionado.

2. Antecipar as Nações Unidas.

Expansão material do direito internacional:

- Gradual expansão dos setores da vida comunitária, cobertos pelo direito internacional.

 Proteção das minorias, incluído nos Tratados que puseram fim ao conflito 1914/1918
e que encontra o seu fundamento nos reajustes territoriais realizados pelas potências
vencedoras;
 Proteção internacional de certas categorias de indivíduos, qual seja o caso dos
trabalhadores, nas convenções elaboradas pela OIT.

- Alargamento da esfera do direito internacional às relações económicas internacionais,


comerciais e monetárias.

 Primeiros acordos ditos de controlo, que visavam regulamentar o comércio de certas


matérias-primas, como a borracha, estanho e açúcar.

Após 1945. A sociedade internacional dos nossos dias- A influência da Segunda Guerra
Mundial no mundo pós 1945

Aspetos marcantes deste pós-Guerra:


- Emergência definitiva dos Estados Unidos e da União Soviético como árbitros das relações
internacionais;

- A guerra reduziu a influência dos países europeus, diminuindo a sua capacidade de governo
do mundo colonial o que fez lançar os sedimentos para o processo de descolonização que
varreu a sociedade internacional nos anos 60 e para o desenvolvimento das lutas de libertação
nacional;

- Marcou a emergência da Idade Nuclear (Hiroshima e Nagasaki), o que torna o mundo um


lugar mais perigoso.

- Levou à criação e consolidação de um bolco comunista, liderado pela União Soviética;

- 3 Situações que se destacaram, no último meio século, então pela importância que tiveram
nas relações internacionais, e por terem provocado profundas mutações no ordenamento
jurídico internacional:

1. A modificação radical da composição da comunidade internacional, devido ao acesso


à condição estadual dos antigos territórios coloniais. Pela primeira vez na história da
humanidade, participam e têm voz nas relações internacionais, entidades de contextos
sociais, políticos, económicos e culturais muito diversificados;
2. Choque ideológico entre Estados seguidores de um modelo de democracia liberal e
de Estados inspirados na ideologia marxista aos quais se associaram regimes
autoritários. Esta organização bipolar das relações internacionais condicionou
também, durante dezenas de anos, o papel e funções do direito internacional, bem
como o seu conteúdo;
3. Desenvolvimento tecnológico – desde 1945 permitiu a acumulação e fabrico de
armamento de destruição maciça. Consequências:
 O facto de o Homem ter ao seu dispor armas cuja utilização pode levar à
extinção do género humano;
 Impossibilidade jurídica de regular a hipótese de uma guerra total;

O Terceiro Mundo: descolonização, neocolonialismo e revolução

- Depois de 1945, o maior desafio que se deparava às potências coloniais, talvez não fosse a
hipótese de perda das suas colónias, antes a ameaça de uma revolução social que pusesse em
causa os seus interesses;
- Em alguns casos a descolonização veio dar-se mais cedo do que o previsto, sobretudo
naqueles em que o país colonizador, mais do prevenir um processo de acessão à
independência, procurou influenciar os seus termos (caso da retirada britânica da Índia);

- Outras potências, no entanto, mostraram-se dispostas a combater para preservar os seus


impérios: Portugal em África (Angola, Moçambique e Guiné);

- O declínio do sistema colonial teve ainda outras consequências, como a criação de fissuras na
unidade do bloco ocidental.

- Os Estados Unidos viam com bons olhos o acesso à independência do Terceiro Mundo: não
só por acreditarem na ilegitimidade do domínio colonial mas também porque este processo
lhes fornecia uma excelente oportunidade de penetração em novos mercados e o acréscimo
da influência política em vastas zonas do globo;

 Porém a estratégia colonial nunca terá sido o eixo central da política externa
americana e, no que se refere a Cuba e às Filipinas tratou-se mais do aproveitamento
da decadência do império colonial espanhol do que da afirmação de um desígnio
colonizador;
 Após a II Guerra Mundial, o presidente Truman respeitou as promessas do seu país e
proclamou a independência das Filipinas em 1946, acompanhada de um auxílio
económico significativo para a reconstrução do arquipélago;
 A ambiguidade da política americana revelava-se então na ilusão de pretender
continuar ou perpetuar relações de domínio colonial (em Cuba e nas Filipinas o
domínio económico americano era tão completo que a consequência não podia ser
outra senão a dependência política total) - antecipavam-se relações tipicamente
neocoloniais que dificultaram as relações entre as ex-colónias e os vários países
europeus.

- Durante décadas, apesar da perda das suas colónias, a maior parte dos países industrializados
do ocidente continua ainda em posição privilegiada para exercer influência sobre a evolução
de muitos países do Terceiro Mundo, minimizando, assim, os efeitos da descolonização;

- Tratou-se então de um processo que deu o acesso à condição estadual e garantiu a muitos
países a independência política mas não os libertou de mecanismos de dependência
económica que perduram até hoje;

As primeiras etapas da descolonização


- Ásia é o primeiro continente a emancipar-se;

- Em 1946 os EUA acordam a independência das Filipinas;

- A 1947 verifica-se a descolonização do Império britânico das Índias;

- A 15 de Agosto dá-se a independência de 2 Estados resultantes da repartição entre as


províncias hindus e muçulmanas do subcontinente indiano: União Indiana e o Paquistão.

 Este processo não se conclui sem vários conflitos entre as comunidades ético-
religiosas… E a primeira guerra indo-paquistanesa que teve por base a disputa de
Cachemira;

- As outras parcelas do Império, Celião e Birmânia, conseguem a sua emancipação de forma


pacífica;

- 1947 a Malásia acede à independência;

- Nas Índias orientais ou Índias holandesas, a luta nacionalista e uma tentativa de reconquista
mal sucedida levam os holandeses a aceitar a independência da Indonésia em 1949.
Inicialmente constitui-se uma União holando-indonésia, dissolvida a 1954.

- Na Indochina, a França, face a movimentos nacionalistas particularmente ativos, procura


salvaguardar a sua influência aceitando a independência de Laos, do Camboja e do Vietname
no âmbito da União Francesa, criada logo após a guerra em 1946, para servir de
enquadramento administrativo e constitucional no antigo império colonial.

 Esta solução era, no entanto, ilusória, e não impediu um conflito entre a França e
os nacionalistas do Vietname, apoiados pelo bloco comunista.
 Depois da derrota de Dien Bien Piu a França reconhece a independência a estes 3
territórios;

- No acesso à independência da Ásia Oriental, e derrocada do sistema colonial, há um aspeto


de grande importância que não é muito referido, que é o papel do Japão, no processo.

 A propaganda japonesa, na II Guerra Mundial, insistia em fatores raciais contra os


europeus e este processo, apesar de ter contribuído para o crescimento dos
movimentos nacionalistas, acabou por se retornar contra a ocupação japonesa;
 Os movimentos nacionalistas tinham como alvo o colonizador, mas também o
ocupante;
 Por vezes a independência verificou-se sob controlo japonês (caso da Birmânia) que
na mesma altura declara guerra aos Aliados mas logo no ano a seguir, 1944, se
constitui uma Frente Popular, em que participaram os comunistas, que desempenha
um papel importante na derrota do Japão;

- Relativamente à África:

 Em 1945 praticamente na sua totalidade está submetido ao domínio colonial, com


exceção da África do Sul, a Etiópia e a Libéria;
 Os movimentos nacionalistas mais ativos surgem no Norte África, Egipto, Argélia;
 A ‘África adormecida’ altera-se a partir do início dos anos 50, com a criação da Liga
Árabe e a primeira guerra israelo-árabe.
 Em finais de 1963 a maior parte da África se emancipou politicamente.

Descolonização e universalização da sociedade internacional

- Principais repercussões do processo de descolonização na sociedade internacional:

 Solidariedade entre países que tinham acedido recentemente à independência;


 Heterogeneização da sociedade internacional, com a formação de regras
internacionais que modificaram radicalmente o ordenamento jurídico internacional,
fazendo vingar o princípio de uma certa ‘democratização’ (de salientar o papel
desempenhado pelas Nações Unidas);

- Os novos Estados, maioritariamente africanos e asiáticos, são portadores de uma grande


diversidade de interesses e de pretensões, que pretenderam fazer valer perante aqueles
que compunham a sociedade internacional e isto é um dos mais fundamentais legados da
descolonização;

 Os Estados de independência recente caracterizam-se por componentes


étnicas, estruturas económicas e sociais e valores culturais substancialmente
diversos dos velhos Estados euro-americanos e, aplicando-lhes os padrões
tradicionalmente aceites de desenvolvimento económico e social, os
resultados são confrangedores;
- A modificação da comunidade internacional levou a que muitas normas de direito
internacional fossem objeto de contestação firme.

 A área do tratamento dos estrangeiros;


 A área da sucessão dos Estados;
 O regime jurídico-internacional aplicável aos recursos que não pertencem,
especificamente, a um Estado- ex: Antártida, mar alto.

- Os Novos Estados contribuíram para a afirmação definitiva no direito internacional do


princípio da autodeterminação dos povos.

 A legislação dos movimentos de libertação nacional, das lutas de descolonização e de


uma ideia de solidariedade internacional com os povos/etnias que aspiram a um
destino político autónomo;

- Mas os Novos Estados também contribuíram para a necessidade de afirmação da proibição


do uso de força e na defesa acérrima da integridade territorial e da independência política e
económica dos Estados;

- Também estes contestaram o próprio sistema jurídico-internacional e as fontes daquele


ordenamento;

 Os novos entes estaduais mostraram mais fé na obra de codificação do direito


internacional realizada pela Comissão do Direito Internacional das Nações Unidas e no
processo consuetudinário;
 A modificação do direito internacional teria, então, de seguir este caminho;
 Porque, em primeiro lugar, os Novos Estados, normalmente com poder escasso,
detêm real influência na elaboração de um instrumento jurídico que depende de
manifestações de vontade explícita e em que beneficiam da aplicação, ‘pp da
igualdade, um Estado, um voto’.
 Em segundo lugar porque o processo de formação das normas internacionais por via
consuetudinária escapa mais facilmente ao controlo formal dos Estados, como
processo dinâmico que é, e sobretudo desvaloriza o pp da igualdade, porque os
Estados poderosos intervêm mais ativamente na formação das regras costumeiras,
nomeadamente na fixação de usos;
 Terceiro lugar porque o processo convencional inovador em que participavam- que,
além de codificar, em muitos casos desenvolvia o direito internacional, lhes facultava
uma mudança mais rápida e radical do direito internacional;

- A realidade mostrou-se, no entanto, pouco complacente com os esforços: algumas


convenções, com escassíssimo número de ratificações, a de mostra-lo e algumas regras
consuetudinárias, antes gerais e depois ‘regionalizadas’.

- Perante estas dificuldades, os Estados de independência recente encontraram outra forma de


estimular o processo de evolução do direito internacional consuetudinário, o da utilização de
um fórum internacional em que estão em posição de força.

 Refere-se à Assembleia Geral das Nações Unidas, órgão no qual todos os


Estados-Membros da organização tem peso igual e onde os países do Terceiro
Mundo detêm maioria;
 Apesar de ser verdade que as resoluções da Assembleia Geral não tem
carácter obrigatório, a maior parte das vezes, por iniciativa dos países do
Terceiro Mundo, a Assembleia Geral posicionou-se criticamente em relação a
muitas normas do direito internacional costumeiro;

- Um aspeto mais importante deste arrumar ideológico prende-se com o facto de, em cada
grupo, os Estados estarem mais facilmente dispostos a aceitar limitações dos respetivos
atributos soberanos;

- A pertença a sistemas diferentes teve ainda outra consequência- o papel privilegiado que, no
plano das relações entre países ideologicamente opostos, era reconhecido à disciplina
convencional, quanto mais nítidas fossem as diferenças ideológicas, mais destacado era o
carácter ‘contratual’ dos acordos estipulados;

- Relativamente ao papel do Tribunal Internacional de Justiça:

 No pós-guerra e até recentemente, o recurso a este órgão decaiu, contrariando, na


prática, uma tendência que, desde finais do séc. XIX.
 É compreensível que, na hipótese de diferendos entre países pertencentes a famílias
ideológicas diferentes, as negociações políticas diretas fossem preferidas;
 Além de outros motivos, destaca-se o principal, que consiste no facto de se tratar da
forma de resolução dos diferendos em que os Estados conservam domínio total sobre
o desenrolar do processo em que se envolvem;
 Diluídos, no entanto, os elementos essenciais da divisão por blocos que conheceu a
sociedade internacional, verificou-se uma maior disponibilidade dos Estados em
aceitar, na solução de diferendos ou de situações conflituais em que estejam
envolvidos, o recurso à figura de um mediador.

- Mesmo na fase de maior tensão entre o bloco ocidental e o bloco comunista não se parece
ter verificado o desaparecimento de um sistema internacional comum.

- Os conflitos ideológicos, além do mais, não impediram a institucionalização da comunidade


internacional, e certifica-o o crescimento imparável do fenómeno organizacional;

 O seu crescimento quantitativo e qualitativo é um dos fatores mais relevantes da


sociedade internacional contemporânea, e denota, necessariamente, o reforço dos
laços de solidariedade entre os Estados que nela participam;

- A alteração que, na esfera das relações internacionais, importou ter-se tornado absurda a
hipótese de uma guerra total, do tipo da que conheceu o Mundo em 1939. A arma nuclear
limitou o uso da força internacional. Deu-se a proibição do recurso à guerra e à interdição do
uso da força nas relações internacionais e hoje isto é consensual entre os Estados;

Tendências da evolução: o direito internacional do século XXI

- Revela-se com alguma crueza certos aspetos das relações internacionais já percetíveis desde
a Segunda Guerra Mundial:

1. Declínio e morte das conceções isolacionistas do Estado – a existência de relações


de profunda interdependência entre os diferentes atores internacionais e tem-se dado
a multiplicação destes.

2. A evolução da realidade social e internacional foi acompanhada de uma


modificação de alguns dos conceitos reguladores fundamentais, e aquela relativizou o
caráter interno de certas situações que antes só interessavam ao Estado.
- Os anos 90 caracterizaram-se também por processos de fragmentação cujas consequências
só agora começam a ser delimitadas com mais previsão (União Soviético, Jugoslávia e
Checoslováquia).

- Esta ‘decomposição infindável’ de um sistema estadual repercute-se em sucessivos processos


secessionistas. Reabre-se a discussão entre conceitos-chave, como o de Estado, nação,
identidade nacional- e reabilita-se, de alguma maneira, a história.

- Ao mesmo tempo, esta ‘regionalização’ do Mundo é rebatida por relações de dependência


recíproca, que acentuam o globalismo nas relações internacionais.

- No sistema internacional não deixa de ser significativo o gradual protagonismo que começa a
reconhecer-se ao Homem, como último sujeito das relações internacionais e embrionária
aceitação de uma conceção humanistas das relações internacionais. Do ponto de vista político
é sintomático que a configuração do Estado comece a ser associada aos conceitos de Paz e de
respeito pelos Direitos do Homem.

- Ainda relativamente a um facto que teve efeito nas relações internacionais: o 11 de


Setembro.

 Para alguns, aqueles atentados alteraram drasticamente alguns capítulos do direito


internacional, quer relativamente ao uso da força quer de um ponto de vista
institucional, relativamente às funções que se atribuem às Nações Unidas,
aparentemente enfraquecidas devido à incapacidade de fazer face às novas ameaças.
 A guerra no Afeganistão realça a questão do papel dos atores não internacionais
(como a Al-Qaeda) e a ameaça que podem representar para a segurança dos Estados e
dos indivíduos.
 Atualmente discute-se uma reforma profunda das Nações Unidas, retomam-se
mecanismo de justiça privada e relativiza-se a invocação da soberania dos Estados e
desvaloriza-se o percurso institucional da sociedade internacional.
 Estas pretensões colidem, ao menos em parte, com valores até agora tidos como
fundamentais (a proibição do uso de força, a resolução pacífica dos diferendos
internacionais e o princípio da não intervenção…)

SEGUNDA SEBENTA

Os sujeitos internacionais/pessoas internacionais como atores internacionais:

- Oque são?
 São as entidades com personalidade jurídica internacional, ou seja, dotadas de
capacidade de ser titulares de direitos e obrigações reconhecidos pelo direito
internacional.
 Esta noção é comum a todos os sistemas de direito, e assimila-se à possibilidade de ser
destinatário direto das regras de um dado sistema jurídico.

- Qual é a base destes sujeitos internacionais/pessoas internacionais?

 A palavra ‘pessoa’ deriva do latim persona e designa, na origem, a máscara usada em


cena pelos atores e, mais tarde, o personagem representado pelo ator.
 É neste sentido que se falam nos atores da sociedade internacional- uma vez que cada
uma das entidades dotadas de personalidade jurídica internacional desempenha um
determinado papel e em alguns casos, a sua existência como sujeitos deste
ordenamento jurídico tem na sua base razões de natureza funcional (caso das
organizações internacionais).
 Num sistema de direito, as entidades que possuem personalidade jurídica são as que
desempenham diretamente um papel nesse sistema.

Critérios de diferenciação dos sujeitos internacionais

- A doutrina diferencia:

1. Sujeitos de direitos e sujeitos de deveres;


2. Sujeitos passivos e sujeitos ativos;
3. Sujeitos permanentes e sujeitos transitórios;
4. Sujeitos originários e sujeitos supervenientes;
5. Sujeitos com autodeterminação e sujeitos sem autodeterminação;
6. Sujeitos de direito internacional público e sujeitos de direito internacional privado;

- A utilidade destas distinções varia e algumas delas pecam pela excessiva abstração, por
exemplo, relativamente à linha divisória que separa os sujeitos de direitos e sujeitos de
deveres, Silva Cunha defende que, sendo regra a de que os sujeitos de direito internacional são
simultaneamente sujeitos de direitos e de deveres ‘pode suceder que haja entidades a quem
diretamente o direito internacional atribua ou só direitos ou só imponha obrigações’.

- O género de responsabilização internacional do individuo é já concretização de obrigações


internacionais cujos destinatários são todos os indivíduos.
Similitude com os sistemas jurídicos internos

- O sistema jurídico internacional é composto por poucos sujeitos jurídicos;

- Boa parte das considerações aplicáveis aos sistemas jurídicos internos podem transpor-se
para o plano internacional.

- O direito internacional é composto por 3 características fundamentais: flexibilidade,


adaptabilidade e ausência de apriorismos.

- Personalidade jurídica é então um estatuto que o sistema jurídico pode conferir, recusar ou
retirar a qualquer entidade. Há diferenças entre capacidade jurídica e direitos e obrigações
efetivos. Ela pode ser atribuída a entidades diferenciadas, as quais podem ser titulares de
conjuntos de direitos e de obrigações que se não identificam. Ter personalidade jurídica não
corresponde sempre a possuir direitos e obrigações.

Personalidade no ordenamento jurídico internacional

- Com esta definição salienta-se o estatuto jurídico específico dos sujeitos de direito
internacional- a capacidade de ser titular de direitos e de ser obrigado pelo sistema
normativo internacional.

- Direitos e obrigações reconhecidos pelo direito internacional: identificam-se, em sentido


estrito, com os direitos e deveres jurídicos definidos pelas regras de direito internacional, e de
que o sujeito jurídico em questão é diretamente titular.

NOTA: Os direitos e os deveres que se falam são aqueles que são reconhecidos pelo direito
internacional e não por qualquer outro ordenamento jurídico. Para efeitos de personalidade
jurídica internacional são irrelevantes as regras do direito interno estadual. A mesma entidade,
no entanto, pode ter personalidade jurídica em várias ordens normativas.

- O direito internacional enquanto sistema jurídico independente não pode deixar de


considerar as regras jurídicas dos sistemas jurídicos internos.

- Também não é possível fundar a personalidade jurídica internacional de uma dada entidade
num instrumento jurídico que apenas se pronuncie sobre a personalidade jurídica interna ou
estadual dessa entidade.
Sentido da titularidade de direitos e obrigações jurídicos

- Perante direitos e obrigações jurídicas, o sujeito deve ser o destinatário direto e real desses
direitos e obrigações.

- O direito internacional deverá ter uma intenção moral de atribuir direitos e obrigações.

- No fundo, só as pessoas internacionais são verdadeiros sujeitos de direito internacional,


mesmo se as vantagens ou encargos que resultam das regras de direito beneficiam ou
incumbem algo seu (ex: navios).

Personalidade jurídica objetiva ou subjetiva

- TIJ foi questionado sobre a capacidade de organização para apresentar uma reclamação
internacional contra um Estado não-membro (no caso, Israel), pelos danos sofridos por um
dos agentes n exercício das suas funções.

- TIJ diz que uma larga maioria de membros da comunidade internacional tem o poder, de
acordo com o direito internacional, de criar uma entidade que possuísse personalidade
internacional jurídica objetiva- e não reconhecida apenas por eles- bem como a capacidade
para apresentar reclamações internacionais.

- Critica a isto centra-se no artigo 34 da Convenção de Viena sobre o direito dos tratados, no
qual é referido que um tratado não cria nem obrigações nem direitos para Estados terceiros
sem o seu consentimento.

- No caso, a assunção desta obrigação pelo Estado não membro corresponde ao


reconhecimento da personalidade internacional da Organização. Se assim não fosse seria
difícil a ONU fundar uma reclamação internacional face a um Estado que se recusasse a
reconhecer ‘o estatuto oficial do agente e das suas atividades e que não tivesse reconhecido a
capacidade jurídica da organização’.

- Em relação a sujeitos não estaduais a personalidade jurídica continua a ser subjetiva e


consequentemente relativa.

- O princípio é o da inoponibilidade da personalidade internacional da organização a Estados


terceiros.

Índices de personalidade
- Quando a personalidade jurídica internacional não tiver sido expressa ou implicitamente
acordada por uma regra de direito ou em relação a partes num diferendo, por consentimento,
reconhecimento, assentimento tácito, será de indagar se uma entidade possui de facto direitos
ou deveres em virtude de uma norma de direito internacional.

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