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Aula 01 – DESENVOLVIMENTO. DIP e DIREITO INTERNO, DIP e CF/88.

ESTADOS E
ENTES FEDERADOS. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO ART. 4º DA CF/88 -

- Desenvolvimento do DIP. A expressão “Direito Internacional” foi inicialmente


utilizada por Jeremy Bentham em 1780, em obra cujo título era “Uma
Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação”. Essa expressão
paulatinamente assume a função de designar essa disciplina, a qual
anteriormente era desempenhada pela terminologia “Direito das Gentes”, que
etimologicamente remontava à expressão jus gentium do Império Romano.
Bentham, ao utilizar essa nova denominação, queria afirmar que o ramo
do direito que ele estava examinando seria responsável por regular relações que
envolviam dois ou mais Estados (“International Law”, ou “law among nations”).
A argumentação desenvolvida por Bentham era confirmada pelo positivismo
jurídico, uma corrente de argumentação jurídica que prevalecia em sua época.
- Jusnaturalismo x positivismo jurídico - destinavam-se a responder a seguinte
pergunta: como ocorre o surgimento das normas internacionais?
- Para os jusnaturalistas, as normas internacionais seriam resultado não somente da
criação humana, como também poderiam derivar de considerações de moral e razão –
haveria valores superiores que informariam todo o restante do Direito Internacional.
Como afirma Bobbio, “O jusnaturalismo é uma concepção segundo a qual existe e
pode ser conhecido um ‘direito natural’ (ius naturale), ou seja, um sistema de normas
de conduta intersubjetiva diverso do sistema constituído pelas normas fixadas pelo
Estado (direito positivo)”. O Direito Natural seria anterior e superior ao Direito Positivo
e, em caso de conflito, deveria prevalecer.
- Já os positivistas jurídicos defendiam que uma análise científica dependeria da
possibilidade em confirmar empiricamente o fenômeno observado – somente aquelas
normas cuja existência pudesse ser constatada na prática internacional seriam
relevantes. E eram as normas criadas pelos Estados, segundo os positivistas, aquelas
que eram empiricamente utilizadas para reger as relações internacionais.
- Pode-se resumir da seguinte forma o argumento positivista: as normas internacionais
eram criadas pelos Estados para reger as relações existentes entre eles, criando
direitos e obrigações internacionais que somente eles podiam titularizar. Com base
nesse raciocínio, restava claro que esse direito não envolvia os atores internacionais
de forma mais ampla, mas somente os Estados.
- Século XX: o positivismo jurídico perde parte de sua relevância – considerações
jusnaturalistas voltam a ganhar força no estudo do DIP, em particular devido ao
desenvolvimento da sociedade internacional.
- Não somente os Estados são considerados como sendo capazes de titularizar direitos
e obrigações internacionais – outras pessoas possuem essa prerrogativa no atual DIP,
como as organizações internacionais e os movimentos de libertação nacional.
- Melhor definição para o atual DIP (Celso Mello): é um conjunto de normas que
disciplina as relações externas entre os atores que compõem a sociedade
internacional. Distinção entre atores internacionais e sujeitos de DIP, e entre
sociedade e comunidade internacional.
- Direito Internacional Público e Direito interno. O primeiro é caracterizado por não
ser produzido por um ente hierarquicamente superior, que detém soberania/jurisdição
geral e exclusiva sobre certa parcela de território. As relações existentes entre os
Estados, principais sujeitos de DIP, são relações horizontais, ou seja, de coordenação.
O Direito interno, por sua vez, é decorrente de uma vontade soberana, que impõe as
normas jurídicas a todos os jurisdicionados, garantindo sua aplicação mediante o uso
da força se necessário. As relações são aqui verticais, ou seja, de subordinação.
- Debate entre monistas e dualistas: embora superado (por ser mais acadêmico do que
prático), seus aspectos técnicos precisam ser conhecidos.
- Os dualistas defendem que o DIP e o Direito interno dos Estados seriam duas ordens
jurídicas completamente distintas, que poderiam ser representadas como círculos que
no máximo poderiam ser tangentes, mas nunca secantes.
As normas internacionais são concebidas para serem aplicadas na seara
internacional, regulando as relações entre os Estados, enquanto as normas internas
disciplinam as relações entre particulares, assim como entre particulares e o Estado.
- Como estaríamos aqui diante de duas ordens distintas, não poderia haver conflito
entre as normas internacionais e as normas internas, uma vez que operam em planos
distintos. Somente com a transformação de uma norma internacional em norma
interna poderiam os direitos e obrigações que a primeira estipula serem aplicáveis no
plano interno de um país – não existe a possibilidade de incorporação automática.
- Duas possibilidades de transformação: dualismo radical x dualismo moderado.
No dualismo radical, a norma internacional precisa ser integralmente
transformada em norma interna – ela vige no plano interno de um Estado como
norma interna somente, desvinculada da norma internacional que lhe deu origem.
Exemplo: incorporação de tratados no Reino Unido.
- Já o dualismo moderado não exige a completa transformação da norma internacional
em norma interna, mas sim que haja um ato normativo/ordem de execução que
permita a vigência da norma internacional no plano interno do Estado. Exemplo: os
decretos executivos que permitem, no Brasil, a vigência de tratados que acarretam
compromissos gravosos ao patrimônio nacional.
- Os monistas, por sua vez, sustentam que o DIP e o Direito interno dos Estados
pertencem a uma mesma ordem jurídica com abrangência universal, sendo
responsáveis por disciplinar as mesmas relações jurídicas. Há, aqui, a aplicabilidade
imediata das normas internacionais no plano jurídico interno dos Estados, ocorrendo o
fenômeno da incorporação automática.
Consequentemente, podem ocorrer conflitos entre as normas internacionais e
as normas internas, que precisam ser equacionados. Há três correntes que explicam
como resolver tal situação:
(1) Monismo nacionalista (ou com primazia do Direito interno).
(2) Monismo radical ou internacionalista (ou com primazia do DIP). Kelsen.
(3) Monismo moderado – cabe, nesse caso, à constituição de cada país decidir, em
cada situação, qual norma deverá prevalecer.
- Constituição e Direito Internacional. Estados federados e entes federados. A nossa
CF/88 não possui, enquanto regra, disposições específicas acerca do relacionamento
das normas internacionais com nosso direito interno brasileiro.
Exceção – art. 5º, §3º da CF/88, acrescentado pela EC n.º 45/04.
- Regra geral: uma vez incorporadas ao direito interno brasileiro, as normas
internacionais encontram-se em paridade normativa com a nossa legislação federal
ordinária. Todavia, normas oriundas de tratados de direitos humanos possuem
hierarquia diferenciada.
- Tratados de direitos humanos aprovados pelo Congresso Nacional segundo a regra
2+2+3/5 (EC n.º 45/04): possuem status equivalente ao de uma Emenda à CF/88.
- Demais tratados de Direitos Humanos – possuem hierarquia supralegal
(jurisprudência corrente do STF – RE n.º 466.343). Esses não são protegidos, em tese,
por cláusula pétrea – suas normas não são formalmente constitucionais.
- Impossibilidade de normas internacionais que versam sobre tema reservado à lei
complementar serem incorporadas ao direito interno brasileiro sem sua
transformação completa (STF, ADI n.º 1480).
- Estados federados e entes federados – a CF/88 não confere aos entes da nossa
Federação personalidade jurídica internacional. Cuidado com o art. 52, V da CF/88.
- Princípios que regem o Brasil nas relações internacionais (art. 4º CF/1988).
São normas que possuem, em tese, natureza programática. Todavia, é
indiscutível seu papel fundamental ao enunciar os valores que precisam ser
respeitados na condução dos nossos negócios internacionais.
1) Princípio da independência nacional – a soberania é um dos fundamentos da
República Federativa do Brasil (art. 1º, I da CF/88).
2) Princípio da prevalência dos direitos humanos – a dignidade da pessoa humana é
considerada como sendo o eixo axiológico de todo o ordenamento jurídico brasileiro
hodiernamente (art. 1º, III da CF/88). Princípio pro homine no DIP.
3) Princípio da autodeterminação dos povos. Autodeterminação externa e interna.
Resolução n.º 2625 da AGNU.
4) Princípio da não intervenção. Art. 2º, §7º da Carta da ONU.
5) Princípio da igualdade entre os Estados. Art. 2º, §1º da Carta da ONU.
6) Princípio da defesa da paz. Art. 2º, §4º da Carta da ONU.
7) Princípio da solução pacífica dos conflitos. Art. 2º, §3º da Carta da ONU.
8) Princípio do repúdio ao terrorismo e ao racismo.
9) Princípio da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade.
Art. 4º, parágrafo único – integração econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana
de nações.
10) Princípio da concessão de asilo político. Distinção entre asilo e refúgio. Art. 27 da
Lei de Migração (Lei n.º 13.445/17).
- Três grandes categorias de princípios:
(1) Princípios de coexistência e cooperação internacionais (art. 4º, I, IV, V, IX e
parágrafo único)
(2) Princípios de direitos humanos (art. 4º, II, III, VIII e X)
(3) Princípios relacionados à proibição do uso da força nas relações internacionais (art.
4º, VI e VII).

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