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Direito Internacional Público e

Privado

Material de Aula

Prof.ª Andrea Freire

2023.2
Introdução ao Direito Internacional Público

1.1 Sociedade Internacional e o papel do Direito Internacional

1.2 Relação entre o Direito Internacional Público e o Direito


Interno

1.3 Fundamentos do Direito Internacional Público


Direito Internacional
&
Direito Interno

Direito Internacional > Conjunto de normas que rege as relações entre os


Estados (sociedade internacional)

Direito Interno > Conjunto de normas que rege a ordem interna de um


Estado
Relação entre Direito Interno e Internacional

“Os estudos relativos ao Direito Internacional e ao Direito Interno são significativos pelo fato de a eficácia do
primeiro depender bastante da observância do segundo, ou seja, que o direito interno dos Estados esteja em
conformidade com o direito internacional” (GUERRA, 2022, p. 73)

QUESTÃO:
Em caso de conflito entre o Direito Interno e o Direito Internacional, qual deverá prevalecer?
Temos duas teorias:

1. Dualismo – De acordo com Sidney Guerra (2022, p.75), “a norma interna, segundo os dualistas, vale
independentemente da norma internacional, podendo, quando muito, levar à responsabilização do
Estado. Todavia, para que isso ocorra, a norma internacional precisa ser incorporada ao ordenamento
interno do Estado por força de uma lei, por exemplo”.

2. Monismo (Monismo com primazia do Direito Interno; Monismo com primazia do Direito
internacional)- “O monismo apresenta o Direito Interno e o Direito internacional como dois ramos do
Direito num mesmo sistema jurídico. Nesse caso, o direito internacional não carece de qualquer
‘transformação’ haja vista que os Estados mantêm compromissos que se justificam juridicamente por
pertencerem a um sistema único” (GUERRA, 2022, p. 77).
Monismo com primazia do Direito Interno

Trata-se de uma teoria do século XIX, segundo a qual o Estado tem “soberania absoluta, não podendo sujeitar-
se a uma norma jurídica que não partiu de sua vontade, e existiria para o Estado um direito estatal aplicado na
esfera internacional. Logo, a doutrina nega a existência do Direito Internacional como um ramo autônomo e
independente que ele é. Esta teoria foi completamente abandonada, pois não se adapta em nenhum sentido
com a realidade dos dias de hoje, principalmente se lembrarmos que vivemos em um mundo globalizado, ou
seja, em que as fronteiras estatais estão sendo ultrapassadas pelos movimentos econômicos” (GUERRA, 2022,
p.77-78)
Monismo com primazia do Direito Internacional

“O conflito entre o Direito Interno e o Direito Internacional não quebra a unidade do sistema
jurídico, como um conflito entre a lei e a Constituição não quebra a unidade do direito estatal. O
importante é a predominância do direito internacional, que ocorre na prática internacional como
nas hipóteses: uma lei contrária ao direito internacional dá ao Estado prejudicado o direito de
iniciar um processo de responsabilidade internacional; uma norma internacional contrária á lei
interna não dá ao Estado direito análogo ao da hipótese anterior. Vale dizer que ao ocorrer um
conflito de uma norma internacional com uma norma interna, a primeira deve prevalecer em
detrimento da segunda, isto é, pelo fato de o Direito Internacional ser superior é que o Direito
Interno àquela norma deverá ser aplicado” (GUERRA, 2022, p. 78).

Sobre o tema, ver artigo Monismo e dualismo no brasil: Uma dicotomia afinal irrelevante,
de Gustavo Binenbojm, disponível em
<https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista09/Revista09_180.pdf>
Como os Estados aplicam as
regras do Direito
Internacional?
Introdução ao Direito Internacional Público

Vídeo: Direito Internacional – Valerio Mazzuoli

https://www.youtube.com/watch?v=b56KUR1x74E
Sociedade Internacional > Estados e Organizações Internacionais e indivíduos

Direito Internacional > conjunto de regras e princípios que tem como objetivo reger a sociedade
internacional

Objetivo do Direito Internacional > tratar de temas de interesse comum da sociedade internacional (paz,
segurança, comércio)

Atualmente, o Direito Internacional trata de temas variados tais como meio ambiente, saúde, economia,
meios de comunicação e transporte, terrorismo, crime organizado, etc.
Vídeo:

Planeta perde 24 bilhões de toneladas de solo fértil todos os anos, alerta


ONU

https://www.ihu.unisinos.br/590145-planeta-perde-24-bilhoes-de-
toneladas-de-solo-fertil-todos-os-anos-alerta-onuEm
Fundamentos do Direito Internacional Público > Doutrinas

Doutrina Voluntarista: vontade dos Estados (expressa ou tácita)

Doutrina Objetivista: direito natural, prevalência de normas e princípios

Doutrina Objetivista Temperada: imperativo ético das normas aceitas pelos Estados
Sugestão de leitura:

GODOY, A. S. M. HISTÓRIA DO DIREITO INTERNACIONAL: O CASO LÓTUS (1927).

Disponível em:

https://portalrevistas.ucb.br/index.php/rvmd/article/view/2560/0
ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

Sobre a origem e evolução histórica do Direito Internacional pode-se afirmar que antes mesmo da formação
dos Estados Nacionais, já havia a noção de um direito internacional, compreendido como um “direito
intersocial” ou “intergrupal” .

É possível identificar marcos históricos e pensadores que contribuíram para o desenvolvimento do Direito
Internacional, tais como Francisco de Vitória (1486-1546), considerado como o fundador do Direito
Internacional, o Congresso de Vestefália (com o Tratado que pôs fim à guerra dos 30 anos) e Hugo Grotius
(1583-1645), considerado como fundador do Direito Internacional Público. A partir de então, reconhece-se a
soberania e a igualdade entre os Estados, que estavam em período de formação.
O período de formação dos Estados se estende até o século XIX. As duas grandes guerras representam marcos
históricos importantes no desenvolvimento do Direito Internacional, com o objetivo de implementar um
sistema de normas e princípios que visa a coexistência e relação de cooperação entre os Estados a fim de evitar
conflitos.

Nos séculos XIX e XX marcam o desenvolvimento e aperfeiçoamento do Direito Internacional e o aparecimento


das organizações internacionais como sujeitos de direito internacional. A ONU (Organização das Nações
Unidas) é o órgão por excelência que representa esse processo.

No século XX, é possível identificar processos de integração política, econômica e social, como por exemplo, a
União Europeia. Também verifica-se a compreensão dos indivíduos como sujeitos de direitos em face do
Direito Internacional.
RELAÇÕES INTERNACIONAIS, SOBERANIA E AUTODETERMINAÇÃO DOS ESTADOS

A estrutura jurídica do sistema internacional (as relações internacionais) é marcada pelo respeito à soberania e
autodeterminação dos Estados, os quais elaboram as regras que pretendem seguir, operando numa relação de
horizontalidade, ao contrário do que ocorre no âmbito do Direito Interno em que prevalece uma estrutura jurídica
hierárquica.

Há que ressaltar, portanto, a soberania interna dos Estados que envolve seu território e povo, ao passo que a
soberania externa, que diz respeito à independência do Estado em relação às demais autoridades existentes no plano
internacional.

Cabe mencionar, o princípio de autodeterminação dos povos, o qual deve ser analisado em dois aspectos: 1) aspecto
interno (cada povo tem o direito de determinar seu regime político e econômico; 2) aspecto externo (cada Estado é
independente e soberano em relação aos outros Estados).
PRINCÍPIOS DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

Os princípios do Direito Internacional Público são o resultado de construções históricas que refletem as
relações internacionais.

Pode-se citar alguns princípios básicos, tais como: a autodeterminação dos povos; solução pacífica dos
conflitos; coexistência harmônica; desarmamento; não agressão, dentre outros.

“O princípio da continuidade do Estado decorre de uma realidade fática observável na tese de que o Estado per
si tende a continuar existindo, posto que se identifica e reconhece como pessoa jurídica de direito público na
presença de elementos caracterizadores como território, governo soberano e povo” (TEIXEIRA, 2020, p. 22).

O artigo 4ª da Constituição da República elenca os princípios do Estado Brasileiro nas relações internacionais.
Constituição da República Federativa do Brasil

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos;

III - autodeterminação dos povos;

IV - não-intervenção;

V - igualdade entre os Estados;

VI - defesa da paz;

VII - solução pacífica dos conflitos;

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;


Constituição da República Federativa do Brasil

Art. 4º (continuação)

IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X - concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos
da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

Leitura sugerida:

Os princípios das relações internacionais e os 25 anos da Constituição Federal, de Alexandre Pereira da Silva

Disponível em <https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/50/200/ril_v50_n200_p15.pdf> Acesso em 24/08/2022


Além destes, temos outros princípios do Direito Internacional Público:

• Consentimento (Os Estados se subordinam ao Direito que reconheceram/construíram);

• Pacta Sunt Servanda (O pacto deve ser cumprido. Art. 26 da Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados: “Todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido por elas de boa-fé);

• Boa-fé (A boa-fé é princípio que rege a elaboração/efetivação do Direito Internacional)

• Responsabilidade por atos ilícitos (Estado responde por danos causados a outro Estado)

• Jus Cogens Internacional


Jus Cogens internacional: “norma imperativa de direito internacional geral”

Para maior esclarecimento sobre o Jus Cogens, indico a leitura do artigo Jus cogens. Ainda esse desconhecido,
de Salem Hikmat Nasser, cujo trecho destaco abaixo:

A inclusão do jus cogens na Convenção de Viena sobre direito dos tratados de


1969, adotada por uma grande maioria dos Estados, bem como sua anterior
adoção pela Comissão de Direito Internacional por unanimidade, e sua razoável
aceitação pela doutrina, atestam o seu pertencimento ao direito positivo
internacional. Esse pertencimento é inconteste quando se trata de jus cogens nos
termos postos pela Convenção de Viena, pois, afinal de contas, está inserido num
tratado que obriga as partes. Quando se pensa o jus cogens em termos mais
amplos, seu pertencimento ao direto positivo é discutível, mas por muitos aceito.
Na Convenção de Viena o jus cogens é tido por sinônimo de “norma(s)
imperativa(s) de direito internacional geral” e essas normas são por sua vez
definidas como aquelas “aceita(s) e reconhecida(s) pela comunidade internacional
dos Estados como um todo, como norma(s) da(s) qual(is) nenhuma derrogação é
permitida e que só pode(m) ser modificada(s) por norma ulterior de Direito
Internacional geral da mesma natureza” (art. 53).
Referências:

BINENBOJM, Gustavo. Monismo e dualismo no brasil: Uma dicotomia afinal irrelevante. Disponível em
https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista09/Revista09_180.pdf Acesso em 24/08/2022.

FRANCE, Guilherme. Introdução ao Direito Internacional Público. Material Didático, Sala de Aula Virtual.
Universidade Estácio de Sá.

GUERRA, Sidney. Curso de Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2022.

NASSER, Salem Hikmat. Jus cogens ainda esse desconhecido. Disponível em


<https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/9658/Salem%20Hikmat%20Nasser.pdf> Acesso
em 24/08/2022.

SILVA, Alexandre Pereira da. Os princípios das relações internacionais e os 25 anos da Constituição Federal.
Disponível em <https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/50/200/ril_v50_n200_p15.pdf> Acesso em 24/08/2022

TEIXEIRA, Carla Noura. Manual de Direito Internacional Público e Privado. São Paulo: Saraiva, 2020.

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