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volume 04 número 11 agosto/2021

Eventos Climáticos Extremos: Conscientização, Impactos e Atores Sociais


Foto: Ralpho Camargo, 2017
capa Praia do Coqueirinho, Conde - PB

Esta publicação é uma produção do Grupo de Acompan- sor Pedro Roberto Jacobi (IEE/IEA/USP), e que reúne
hamento e Estudos de Governança Ambiental (GovAmb) docentes de diversas unidades da Universidade de São
sediado no instituto de Energia e Ambiente (IEE/USP), Paulo (IEE, IO, FSP, IAG, EACH, IEA), e dos programas de
e do Laboratório de Planejamento Territorial, sediado Pós-Graduação em Planejamento e Gestão do Território
na Universidade Federal do ABC, ambos vínculados ao (PGT) e de Políticas Públicas (PGPP) da Universidade
Temático FAPESP 2015/03804-9 "Governança Ambi- Federal do ABC (UFABC), do Instituto Tecnológico da
ental da Macrometropole Paulista face à Variabilidade Aeronáutica (ITA), do Programa de Pós-Graduação em
Climática - MacroAmb", parte do Programa FAPESP Arquitetura e Urbanismo e de Cursos de Graduação na
Mudanças Climáticas Globais, coordenado pelo profes- Universidade São Judas Tadeu.

ACOMPANHE-NOS
Editores Edição
Pedro Roberto Jacobi Vol. 04, n.º 11
Luciana Travassos Agosto/ 2021
Igor Matheus Santana-Chaves
Lidiane Alonso Paixão dos Anjos Sobre a revista
Ana Lia da Costa Monteiro Leonel Publicação Trimestal

Editores Convidados ISSN 2596-2183


Pedro Henrique Campello Torres
Thamires Luísa de Oliveira Brandão Campos
Edmilson Dias de Freitas
✉ jornalismomacroamb@iee.usp.br
Assessor Editorial
Bruno de Pierro ➲ https://periodicos.ufabc.edu.br/index.php/dia-
Guilherme Henrique Vicente logossocioambientais

Conselho Editorial
Andrea Lampis
REALIZAÇÃO
Célio Bermann
Edmilson Freitas
Klaus Frey
Leandro Giatti
Pedro Campello Torres LAPLAN LABORATÓRIO DE
PLANEJAMENTO TERRITORIAL

Sandra Momm
Tatiana Rotondaro
Vanessa Empinotti

Attribution-NvonCommercial 4.0
International (CC BY-NC 4.0)
sumário

Editorial Jovens Pesquisadores

6 Eventos Climáticos Extremos: 28 Adaptação às mudanças climáticas


Conscientização, Impactos e Atores Sociais sob o neoliberalismo: que lugar para a
Pedro Henrique Campello Torres Justiça Climática?
Thamiris Luisa de Oliveira Brandão Campos Gabriel Pires de Araújo
Edmilson Dias de Freitas Letícia Stevanato Rodrigues
Beatriz Duarte Dunder
Ana Lia Leonel
Conjuntura Rayssa Saidel Cortez
Bruno Avellar Alves de Lima
9 A abordagem climática no âmbito do
Zoneamento Ecológico- Econômico do
estado de São Paulo (ZEE-SP) Conjuntura
Lucia Sousa e Silva
Natalia Micossi da Cruz 32 Sobrevivendo ao Capitaloceno: o caso
Nádia Gilma Beserra de Lima da comunidade caiçara da Enseada da
Gil Kuchembuck Scatena Baleia, Cananéia/SP
Juliana Greco Yamaoka
Tatiana Mendonça Cardoso Giovanna
Interdisciplinariedades Gini

Avanços na conscientização da sociedade 36 Projeções de Uso e Cobertura da Terra


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sobre conceitos fundamentais relacionados na Macrometrópole Paulista
ao tempo, clima e Mudanças Climáticas Carolyne Bueno Machado
Tercio Ambrizzo Edmilson Dias de Freitas
Amanda Rehbein
Lívia Márcia Mosso Dutra
Natália Machado Crespo Entrevista
40 Extremos climaticos no litoral
20 Novos temas emergentes em mudanças paulista: praticas de adaptação
climática com Celia Regina de Gouveia Souza
Edson Grandisoli
Sonia Maria Viggiani por Pedro Henrique Campello Torres;
Coutinho Renata Ferraz de Toledo Thamiris Luisa de O. Brandão Campos
Pedro Roberto Jacobi e Edmilson Dias de Freitas

Engajamento
elia Regina de Gouveia uza
48 Artes
24 O poder da sinergia no combate às
Ilustração
mudanças climáticas
João Reis
Marcos Buckeridge
© Bruna Fernandes e Gabriel Machado
Grupo de Pesquisa Ruralidades Metropolitanas, 2021.

5
EDITORIAL

Eventos Climáticos
Extremos:
Conscientização,
Impactos e Atores Sociais

O
presente dossiê ocorreram durante o período de
é organizado em confecção desta edição, chuvas in-
meio a maior crise tensas com alagamentos na Alema-
sanitária mundial nha, China e Coréia do Norte, ondas
da nossa época: a de calor intenso nos Estados Unidos
pandemia da COVID-19. Autores e Europa, além da ameaça de uma
como o biólogo Antón Fernández nova crise hídrica no Estado de São
Pedro Henrique
Piñero, afirmam que a crise sa- Paulo, no bojo de uma estiagem que Campello Torres
nitária está intimamente ligada já é considerada pelo Governo Fe-
com outras duas crises de nosso deral como a maior seca do país em
tempo: a climática e a ecológica. 111 anos - que traz impactos tam-
Todas, "intimamente relaciona- bém na geração e preço da energia
das e se explicam em boa me- elétrica utilizada pelos brasileiros.
dida por um sistema capitalista Em meio a essa seca centenária em
que gira em torno do crescimen- parte do país, registramos a maior
to econômico constante, em um marca do nível de cheia do Rio Ne-
Thamiris Luisa de
planeta com recursos finitos, en- gro, na Amazônia, em 100 anos, Oliveira Brandão Campos
contrando os limites de suas pró- com 30 metros. Trata-se de exemplo
prias dinâmicas" (Piñeiro, 2020). simbólico do que entende-se por
Os impactos da SArs-CoV-2 exa- Eventos Extremos, que, com as mu-
cerbaram, ou deram ainda mais danças climáticas, tendem a ficar
visibilidade às desigualdades so- cada vez mais frequentes em nossas
ciais pré-existentes nos diversos vidas.
cantos do planeta. Com aborda- A produção de artigos (Figura 1)
gem interdisciplinar e buscando em revistas científicas indexadas Edmilson Dias
de Freitas
o diálogo com distintos atores sobre mudanças climáticas do Pro-
sociais, como jovens pesquisa- jeto Temático FAPESP Governança
dores, gestores públicos, acadê- Ambiental da MMP face à variabi-
micos e comunitários, os textos lidade climática, conhecido como
aqui organizados apresentam ao Projeto Macroamb, também acom-
leitor reflexões contemporâneas panhou a curva de crescimento da
face aos desafios que vivemos. ocorrência dos Eventos Extremos.
Um exemplo da atualidade das No período de junho de 2018 a maio
questões acima levantadas são os de 2019 houve publicação de 14 ar-
eventos climáticos extremos que tigos, o que dobrou para 28 artigos

6
Figura 1: Quantidade de artigos publicados em revistas científicas indexadas sobre mudanças climáticas do Projeto Macroamb
Fonte: Elaboração própria, 2021.

no período de junho de 2019 a maio Celia Regina de Gouveia Souza, que cientização da sociedade sobre con-
de 2020 e no próximo ano (junho de atua na linha de frente dos registros ceitos fundamentais relacionados ao
2020 a março de 2021) o número de e de práticas de adaptação baseada tempo, clima e Mudanças Climáticas.
publicações aumentou ainda mais em ecossistemas frente aos impac- A interdisciplinaridade também
para 35 artigos, evidenciando o in- tos dos eventos severos, com foco é tema do artigo Novos temas emer-
teresse da comunidade acadêmica no litoral paulista. gentes em mudanças climática dos
em entender o tema. As reflexões e as práticas, frente autores Edson Grandisoli Sonia Ma-
Para situar o leitor sobre o que aos desafios que enfrentamos de- ria Viggiani Coutinho Renata Ferraz
o Estado de São Paulo tem feito em mandam atualização constante das de Toledo Pedro Roberto Jacobi,
relação à questão os autores Lucia ferramentas e instrumentais teó- que avaliam a publicação de divul-
Sousa e Silva, Natalia Micossi da ricos, analíticos e metodológicos. gação científica publicada em 2015
Cruz, Nádia Gilma Beserra de Lima Nesse sentido torna-se imprescin- pelo grupo e refletem por um lado
e Gil Kuchembuck Scatena, que in- dível o trabalho e abordagem inter- como a educação pode colaborar
tegram a Secretaria Executiva do disciplinar como incentivada pelo no enfrentamento das mudanças
ZEE-SP (SE ZEE-SP), nos apresen- Núcleo de Apoio a Pesquisa em Mu- climáticas, quanto a velocidade em
tam o texto A abordagem climática danças Climáticas (NapMC), mais que novos temas e agendas estão
no âmbito do Zoneamento Ecológi- conhecido pelo acrônimo INCLINE ganhando espaço neste debate de
co- Econômico do estado de São Pau- (INterdisciplinary CLimate INves- 2015 para cá. Ainda nesse sentido,
lo (ZEE-SP), que descreve, sucinta- tigation cEnter), da Universidade o artigo O poder da sinergia no com-
mente a situação do instrumento do de São Paulo (USP). A produção bate às mudanças climáticas, do pro-
ZEE, com foco na questão climática interdisciplinar do INCLINE e sua fessor Marcos Buckeridge, Diretor
e seu potencial de contribuição ao contribuição a este campo do saber do Centro de Síntese USP Cidades
enfrentamento de seus efeitos no é tratada pelos autores Tercio Am- Globais (IEA-USP), e Diretor do De-
território. Na mesma linha, em um brizzi, Amanda Rehbein, Lívia Már- partamento de Botânica, Instituto
diálogo entre a produção científi- cia Mosso Dutra, Natália Machado de Biociências da USP, reforça e cor-
ca e a gestão, entrevistamos a Dra. Crespo, no artigo Avanços na cons- robora a importância de novas prá-

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ticas interdisciplinares para uma contexto". O segundo busca explo- jetivo de fazer dialogar a produção
governança mais eficiente, e ações rar o tema a partir de um estudo de científica com a sociedade e os to-
globais ancoradas em ações locais, caso sobre a realocação da comuni- madores de decisão, possam inspi-
buscando sinergias e harmonização dade caiçara da Enseada da Baleia rar novas reflexões e inspirar ações,
de tais práticas com envolvimento por conta de um processo de erosão inovações e práticas fundamentais
da sociedade, em processos demo- costeira e, como a organização local ao enfrentamento dos desafios con-
cráticos e embasados no conheci- dos moradores foi pilar fundamen- temporâneos que nos cercam.
mento científico disponível. tal para se contrapor a lógica da
A abordagem crítica por Justiça produção de injustiças e remoções Boa Leitura!
Climática, que rejeita, por exem- em casos como estes.
plo, noções como Antropoceno por Carolyne Bueno Machado e Ed-
privilegiar o entendimento de que milson Dias de Freitas, ambos do Artigos citados, utilizados ou para
estaríamos vivendo no Capitaloceno, Departamento de Ciências Atmos- saber mais:
ganha espaço no presente do dossiê féricas, Instituto de Astronomia,
com dois artigos. O primeiro, de jo- Geofísica e Ciências Atmosféricas, Antón Fernández Piñeiro Biólogo.
vens pesquisadores da Universidade da Universidade de São Paulo (USP), El Salto. El Capitalismo y las pan-
de São Paulo (USP) e da Universida- nos brindam com o artigo Projeções demias. 21 NOV 2020. Disponível
de Federal do ABC (UFABC), com o de Uso e Cobertura da Terra na Ma- em https://www.elsaltodiario.com/
título Adaptação às mudanças climá- crometrópole Paulista. Trata-se de coronavirus/el-capitaloceno-y-las-
ticas sob o neoliberalismo: que lugar avaliação do uso e cobertura da ter- -pandemias - acesso em 11/08/2021
para a Justiça Climática? dos auto- ra até 2050 no território da Macro-
res Gabriel Pires de Araújo, Letícia metrópole Paulista, área de estudo Brasil se divide entre pior seca e
Stevanato Rodrigues, Beatriz Duar- do Projeto MacroAmb. Geradas a maior cheia dos últimos 100 anos
te Dunder, Ana Lia Leonel, Rayssa partir de modelo probabilístico, https://www.canalrural.com.br/
Saidel Cortez e Bruno Avellar Alves as projeções do artigo se baseiam noticias/tempo/brasil-pior-seca-
de Lima. Bem como a contribuição em mudanças a partir de variáveis -maior-cheia-100-anos/
Sobrevivendo ao Capitaloceno: o caso da superfície que influenciam no
da comunidade caiçara da Enseada processo de antropização. Entre JOLY, Carlos A.; QUEIROZ, HELDER
da Baleia, Cananéia/SP de Juliana os registros está a expansão da in- LIMA DE . Pandemia, biodiversida-
Greco Yamaoka Tatiana Mendonça fraestrutura da região assim como de, mudanças globais e bem-estar
Cardoso Giovanna Gini. a presença de áreas protegidas na humano. ESTUDOS AVANÇADOS
Enquanto o primeiro texto bus- Macrometrópole Paulista. (ONLINE), v. 34, p. 67-82, 2020.
ca apontar o que os autores consi- Fechando a edição de forma to-
deram como “as falhas no sistema cante e com muita sensibilidade, a TORRES, P. H. C., URBINATTI, A.
econômico e político como uma seção Artes conta com a provocativa M., GOMES, C., SCHMIDT, L., LEO-
medida urgente para viabilizar saí- ilustração do João Reis. As fotos ao NEL, A. L., MOMM, S., JACOBI, P.
das da atual crise que superem nar- longo deste volume são do Ralpho R. Justiça climática e as estratégias
rativas e intervenções neoliberais Camargo, elas também nos esti- de adaptação às mudanças climáti-
e individualistas que se expressam mulam a refletir sobre o tema. Es- cas no Brasil e Portugal. ESTUDOS
territorialmente, discutindo o lugar peramos que os artigos, a arte e as AVANÇADOS 35 (102), 2021.
das mudanças climáticas em nosso fotografias aqui reunidas, com ob-

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CONJUNTURA

A abordagem climá-
tica no âmbito do
Zoneamento Ecoló-
gico- Econômico do
estado de São Paulo
(ZEE-SP)*

N
o estado de São Paulo, tos da Política Nacional do Meio Am-
a relação entre o Zo- biente (Lei Federal nº 6.938/1981) e da
neamento Ecológico- Política Estadual do Meio Ambiente
-Econômico (ZEE-SP) (Lei Estadual nº 9509/1997). Mais re-
e a temática climá- centemente, foi absorvido como Zo-
tica vem se estreitando ao longo neamento Ecológico-Econômico pela
dos últimos anos, o que pode ser Política Estadual de Mudanças Climá-
Lucia Sousa observado tanto em sua inclusão ticas (PEMC).
e Silva na Política Estadual de Mudanças Instituída pela Lei Estadual nº
Climáticas (PEMC), como no pró- 13.798/2009 e regulamentada pelo De-
prio processo de formulação do creto Estadual nº 55.947/2010, a PEMC
instrumento, que introduziu a Re- tem como objetivo geral estabelecer
Natalia Micossi siliência às Mudanças Climáticas o compromisso do estado frente ao
da Cruz como uma de suas diretrizes estra- desafio das mudanças climáticas glo-
tégicas. O objetivo deste artigo é bais, dispor sobre as condições para
descrever sucintamente a situação as adaptações necessárias aos im-
do ZEE no estado de São Paulo, pactos derivados dessas mudanças,
onde situa-se a Macrometrópole bem como contribuir para reduzir ou
Nádia Gilma Paulista, com destaque à sua re- estabilizar a concentração dos gases
Beserra de Lima
lação com a questões climáticas de efeito estufa na atmosfera. Dentre
e sua possível contribuição para o as ações necessárias para o enfren-
enfrentamento dos impactos das tamento das mudanças climáticas,
Gil Kuchembuck mudanças climáticas. tal política atribui ao governo do es-
Scatena
tado a tarefa de definir critérios para
* Este artigo é de autoria da Secretaria Executiva do ZEE-SP: o instrumento a elaboração e implantação do ZEE,
ZEE-SP (SE ZEE-SP), representada pelos autores, liga- O ZEE é um instrumento técnico e entendendo-o como um instrumento
dos à Sima. Conta, ainda, com a participação dos inte-
grantes do GT Clima/ZEE: Gustavo Armani (Instituto político de planejamento ambiental e capaz de disciplinar as atividades pro-
de Pesquisas Ambientais), Jussara de Lima Carvalho e
Maria Fernanda Pelizzon Garcia (CETESB). A coorde-
territorial que estabelece diretrizes de dutivas e o uso e a ocupação do solo.
nação da diretriz estratégica de Resiliência às Mudan- ordenamento e gestão do território, Ao ser introduzido como instrumento
ças Climáticas cabe ao pesquisador científico Cláudio
José Ferreira, do Instituto de Pesquisas Ambientais.
subsidiando a formulação de políticas integrante da PEMC, o ZEE-SP é forta-
públicas e o planejamento de investi- lecido no âmbito da agenda climática
Palavras-chave: Planejamento regio- mentos públicos ou privados. Origi- paulista.
nal; gestão territorial; políticas públi- nalmente, o Zoneamento Ambiental
cas; mudanças climáticas. está previsto como um dos instrumen-

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ZEE-SP e a abordagem climática Mudança do Clima”, do Ministério do do clima para a América do Sul), que
No estado de São Paulo, a Secreta- Meio Ambiente e da Fundação Oswal- tem como objetivo disponibilizar da-
ria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Cruz (MMA, 2016). A situação atual dos de projeções climáticas em escala
(Sima), por meio da Coordenadoria de constitui a caracterização da diretriz de detalhe para melhor representação
Planejamento Ambiental (CPLA), é o no momento de formulação do ZEE- de áreas regionais (CHOU et al., 2014a
órgão responsável pela coordenação -SP; as pressões compreendem dinâ- e 2014b).
do processo de elaboração do ZEE-SP. micas ou fenômenos que tendem a im- Para o ZEE-SP, foram selecionados
Sua elaboração estrutura-se sobre cin- pactar negativamente a situação atual dez elementos e índices de eventos
co diretrizes estratégicas, que foram e, portanto, a comprometer o alcance extremos climáticos relacionados à
estabelecidas a partir dos principais da diretriz; e a capacidade de resposta temperatura do ar e à precipitação,
desafios ambientais e socioeconômi- constitui o conjunto de políticas públi- no horizonte temporal 2020-2050. Os
cos do estado e da identificação de cas existentes (incluindo o arranjo po- cenários foram gerados a partir do
oportunidades de desenvolvimento: lítico-institucional) para a melhoria da modelo climático regional Eta-INPE,
Resiliência às Mudanças Climáticas, situação atual, o enfrentamento das configurado na resolução de 20 km,
Segurança Hídrica, Salvaguarda da pressões e, portanto, a consecução da considerando quatro modelos climá-
Biodiversidade, Economia Competiti- diretriz estratégica. Compõem essa es- ticos globais (HadGEM2-ES, MIROC5,
va e Sustentável e Redução das Desi- trutura variáveis sobre população, ati- BESM e CanESM2). No caso do ZEE-SP,
gualdades Regionais. vidades econômicas, infraestruturas considerou-se o cenário de emissão de
A metodologia de elaboração do instaladas, biodiversidade e recursos GEE 8.5, um dos quatro cenários pro-
ZEE-SP engloba as etapas de plane- hídricos. postos pelo IPCC em seu último rela-
jamento, diagnóstico, prognóstico e A etapa de prognóstico identificou tório.
subsídios à implementação do instru- tendências das dinâmicas territoriais O cenário de emissão 8.5 implica
mento (MMA, 2006). Tanto na etapa de no horizonte de 2040, a partir de ce- em um futuro em que não haverá mu-
diagnóstico quanto na de prognóstico, nários construídos por meio de proje- danças nas atuais políticas públicas
a questão climática teve forte presen- ções de uma série histórica de dados. para redução das emissões, com au-
ça. A etapa de diagnóstico envolveu A construção do cenário tendencial da mento das emissões de CO2, em 2100,
um vasto levantamento de informa- Resiliência às Mudanças Climáticas três vezes maior do que as atuais, in-
ções para caracterizar as potencialida- envolveu a seleção de variáveis rela- cremento rápido das emissões de me-
des e as vulnerabilidades ambientais cionadas às vulnerabilidades existen- tano e expansão de áreas agrícolas e
e socioeconômicas do estado, tendo tes no território e aos riscos associados de pastagens para suprir a demanda
como pano de fundo as cinco diretri- à ocorrência de eventos climáticos ex- devido ao crescimento da população
zes estratégicas. Para isso, foram ela- tremos. Na composição do resultado, mundial, projetada em 12 bilhões em
boradas cartas síntese, resultantes do as variáveis compreenderam os pro- 2100 (BJØRNÆS, 2013). Esse cenário
cruzamento espacial de indicadores cessos geodinâmicos, o balanço hídri- foi considerado no âmbito do ZEE-SP,
que retratam a situação do estado em co, a demografia, a condição socioeco- justamente por ser o menos conser-
relação ao alcance de cada diretriz es- nômica, a forma de produção agrícola, vador e o mais plausível de ocorrer,
tratégica. a mancha urbana / áreas edificadas, a considerando publicações recentes
No caso específico da diretriz 1, biodiversidade e a infraestrutura de (SCHWALMA et. al., 2020). Cabe des-
Resiliência às Mudanças Climáticas, saneamento, entre outros. tacar que a metodologia utilizada pelo
a carta síntese retrata a situação atual, Além disso, na etapa de prognós- ZEE-SP foi a de considerar todas as
as pressões e a capacidade de respos- tico também foram obtidas projeções tendências projetadas para o estado de
ta frente aos desafios das mudanças climáticas realizadas pelo CPTEC/ acordo com os quatros modelos climá-
climáticas, baseada na estrutura de INPE e disponibilizados via Platafor- ticos globais.
análise do projeto “Vulnerabilidade à ma PROJETA (Projeções de mudança À luz dos resultados das cartas sín-

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tese, dos cenários e das projeções cli- cursos hídricos, entre outros. DF: MMA, 2016. 295 p.
máticas, prevê-se que as zonas, com
metodologia ainda em construção, Considerações finais MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE.
sejam delimitadas a partir da identifi- Como instrumento da PEMC, o SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA O
cação das vulnerabilidades e potencia- processo de elaboração do ZEE-SP re- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.
lidades ambientais e socioeconômi- força a importância da temática cli- Diretrizes Metodológicas para o Zo-
cas. A garantia da rastreabilidade das mática na gestão territorial ao pautar neamento Ecológico-Econômico do
informações incorporadas propicia o a resiliência às mudanças climáticas Brasil – 3ª edição Revisada. Brasília,
endereçamento das ações e políticas como uma diretriz estratégica e ao in- DF: MMA/SDS, 2006.
públicas específicas mais adequadas corporar projeções climáticas em sua
e maior racionalidade nos investimen- construção, especialmente no contex- CHOU, S.C; LYRA, A.; MOURÃO, C.;
tos públicos e privados. to iminente de realização da Confe- DERECZYNSKI, C.; PILOTTO, I.; GO-
Para atingir maior resiliência às rência das Nações Unidas sobre Mu- MES, J.; BUSTAMANTE, J.; TAVARES,
mudanças climáticas, alguns territó- danças Climáticas, a ser realizado em P.; SILVA, A.; RODRIGUES, D.; CAM-
rios, como a Macrometrópole Paulis- Glasgow, na Escócia, ainda em 2021. POS, D.; CHAGAS, D.; SUEIRO, G.;
ta, poderiam requisitar diretrizes e Ao oferecer uma plataforma para a SIQUEIRA, G.; NOBRE, P. and MA-
metas para a contenção de processos integração e compartilhamento de in- RENGO, J. Evaluation of the Eta Simu-
erosivos, para a sustentabilidade na formações territoriais multiescalar (a lations Nested in Three Global Climate
produção agropecuária ou para incre- “Rede ZEE”), o ZEE-SP também apon- Models. American Journal of Climate
mento de vegetação nativa. Enquanto ta conflitos e sinergias e subsidia a Change, v. 3, p. 438-454, 2014a.
outros territórios atingiriam maior re- tomada de decisão. Contribui, assim,
siliência ao promover medidas para para a discussão de um planejamen- CHOU, S.C; LYRA, A.; MOURÃO,
melhoria da relação disponibilidade to territorial estratégico, que articula C.; DERECZYNSKI, C.; PILOTTO, I.;
hídrica/demanda, para maiores in- e integra as políticas públicas, seus GOMES, J.; BUSTAMANTE, J.; TAVA-
vestimentos no Plano de Agricultura instrumentos e as diversas estratégias RES, P.; SILVA, A.; RODRIGUES, D.;
de Baixo Carbono (Plano ABC) e para de desenvolvimento, consideradas em CAMPOS, D.; CHAGAS, D.; SUEIRO,
a implementação de instrumentos de sua múltipla escalaridade e governan- G.; SIQUEIRA, G. and MARENGO, J.
gestão de risco ou ações de requalifi- ça. Assessment of Climate Change over
cação habitacional, por exemplo. South America under RCP 4.5 and 8.5
Ao ZEE-SP se coadunam o de- Downscaling Scenarios. American
senvolvimento e a implementação REFERÊNCIAS Journal of Climate Change, v.3, p. 512-
de diversas iniciativas institucionais 527, 2014b.
correlatas, como a revisão das metas BJØRNAES, C, A guide to Representa-
de emissão de dióxido de carbono, tive Concentration Pathways. Center CPTEC/INPE. Dados gerados pelo
previstas na PEMC, o Programa Mu- for International Climate and Envi- CPTEC/INPE e disponibilizados na
nicípios Paulistas Resilientes, o Plano ronmental Research, 2013. Plataforma PROJETA. Disponível em:
Estadual de Ação Climática Net Zero https://projeta.cptec.inpe.br.
– 2050, a despoluição do rio Pinheiros, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
o Projeto Trajetórias de Descarboniza- (MMA). Plano Nacional de Adaptação SCHWALMA, C. R.; GLENDONA, S.;
ção, planos estaduais dos setores de à Mudança do Clima: volume II: estra- DUFFYA, P. B. RCP8.5 tracks cumulati-
saúde, agricultura, transportes e re- tégias setoriais e temáticas. Brasília, ve CO2 emissions. PNAS. vol. 117 | no.

11
© Ralpho Camargo, 2019
Curaçao, Caribe

12
Avanços na cons-
cientização da
sociedade sobre
conceitos funda- Tercio Ambrizzo Lívia Márcia
Mosso Dutra
mentais relacio- Amanda Rehbein Natália Machado
Crespo
nados ao tempo,
clima e Mudanças INTERDISCIPLINARIEDADES

Climáticas

C
ada vez mais as evi- a diferença entre aquecimento
dências e impactos global e Mudanças Climáticas?
das Mudanças Climá- Como o planeta está aquecendo
ticas batem às portas se frequentemente ocorrem on-
dos brasileiros. Fe- das de frio? Quem sente os efei-
nômenos severos de dois extre- tos dos extremos climáticos e de
mos, calor e frio, estiagens e ala- tempo? A quem interessa infor-
gamentos, secura e umidade, se mar e a quem interessa desinfor-
revezam em território nacional. mar? Na vida de quem isto trará
Apesar de haver praticamen- mais impactos?
te um consenso (97%) entre os Nós (autores) levantamos a
cientistas do contínuo aumento voz para enfrentar o desafio da
da temperatura média do Plane- conscientização sobre estes te-
ta relacionado às ações humanas mas, produzindo materiais elu-
(Cook et al., 2013), ainda há disse- cidativos, educativos e envolven-
minação de informações impre- tes para todos os públicos, como
cisas e inverídicas por uma mi- parte de um projeto de extensão,
noria com voz poderosa. Maior financiado pela Pró-Reitoria de
que a tendência de aumento de Cultura e Extensão Universitá-
temperatura média do globo, é ria da Universidade de São Paulo
a tendência da população igno- (PRCEU-USP) e pelo Banco San-
rar a ciência. Ainda pior que a tander, intitulado “Mudanças cli-
ignorância de alguns é a inação máticas e a sociedade: o desafio
de outros. Como academia, o da conscientização”. A ideia des-
que podemos fazer para que as te projeto surgiu a partir de nos-
engrenagens do ensinamento sa percepção da necessidade de
não enferrujem até que a cons- contribuir mais para gerar novas
cientização social das bases cli- fontes de conhecimento em lin-
máticas e nosso papel no aqueci- guagem acessível para o público
mento global sejam intrínsecos em geral, acerca dos principais
e indubitáveis independente de conceitos relacionados às Mu-
Palavras-chave: Mudanças Climáti- poderosas vozes desgovernan- danças Climáticas.
cas, sociedade, clima, conscientiza-
ção, efeito estufa.
tes? Afinal, quem sabe dizer qual Apesar da grande quantidade

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de material técnico disponível despertaram a atenção de diver- informações. Neste contexto, os
na literatura sobre este assun- sas pessoas e veículos de comu- anúncios publicados nas redes
to, tais como artigos científicos, nicação em diferentes formas. sociais para divulgação do mate-
livros e relatórios (cujo público Imediatamente após o lança- rial educativo em questão foram,
alvo é a comunidade científica), mento, canais de comunicação sem dúvida, fundamentais para
há ainda uma lacuna na dispo- distintos entraram em contato atrair a atenção de milhares de
nibilidade de material educativo direto com os autores para so- pessoas do público em geral.
para o público leigo. Dentro des- licitar depoimentos e entrevis- As Figuras 1 a 4 mostram
te contexto, e buscando produzir tas sobre o material gerado. Por exemplos de algumas estatísti-
conteúdo atrativo para o públi- exemplo, o Jornal USP e a em- cas, incluindo alcance de usuá-
co leigo, elaboramos um livreto presa Climatempo publicaram rios, visualizações, curtidas e co-
digital (ebook) de 44 páginas in- matérias1 a respeito, e a Meteo- mentários, obtidas em postagens
titulado “Mudanças climáticas rologista Cátia Braga convidou o de divulgação sobre o material
e a Sociedade” (Ambrizzi et al. professor Tercio Ambrizzi (autor de Mudanças Climáticas. As re-
2021) e o site www.climaesocie- principal) para uma entrevista des sociais oficiais da Universi-
dade.iag.usp.br, ambos compos- ao vivo2 através de uma chamada dade, incluindo contas da USP,
tos por textos em linguagem de de vídeo em seu canal no Insta- do INCLINE e do Departamento
fácil entendimento e ilustrações gram (@meteorologistacatiabra- de Ciências Atmosféricas do IAG,
originais que buscam captar o ga, o qual possui mais de 5.4 mil alcançaram milhares de pessoas;
interesse do leitor e estimular o seguidores). mais especificamente, a posta-
aprendizado. Em adição, o site O papel da mídia, em conjunto gem no Facebook de divulgação
desenvolvido possui mapas in- com todos os esforços da comu- do material pela conta da USP al-
terativos e um jogo estilo “quiz” nidade científica, é fundamental cançou mais de 25 mil pessoas,
para testar os conhecimentos ad- para a divulgação do conheci- obtendo mais de 2,3 mil reações,
quiridos pelo leitor. Todo o con- mento adquirido pelas ciências comentários e compartilhamen-
teúdo está disponível online de de volta para a sociedade. Cabe tos na rede social. Além disso,
forma gratuita desde o início de destacar também que, em anos instituições independentes tam-
abril de 2021, e o lançamento ofi- recentes, o uso de mídias so- bém promoveram o anúncio do
cial foi feito através de divulga- ciais pela população em geral material em suas redes sociais,
ções em listas de e-mail e mídias cresceu consideravelmente, e também alcançaram milhares
sociais do Núcleo de Apoio a Pes- de forma que, nos dias de hoje, de pessoas; como exemplo, ilus-
quisa em Mudanças Climáticas milhões de brasileiros utilizam tramos na Figura 4 a publicação
(NapMC), mais conhecido pelo diariamente plataformas como no Instagram pela conta do Nexo
acrônimo INCLINE (INterdisci- o Facebook, Instagram e Twit- Jornal (veículo de comunicação
plinary CLimate INvestigation ter como uma de suas principais eletrônico e independente), que
cEnter). fontes de obtenção de notícias e obteve mais de 2,4 mil curtidas e
dezenas de comentários.
Impactos Observados 1 - Disponíveis em: https://jornal.usp.br/ Fica evidente, portanto, a im-
universidade/site-educativo-para-crian-
Apesar de o conteúdo gerado cas-e-jovens-mostra-urgencia-das-ques- portância das redes sociais na
estar disponível a somente pou- toes-ambientais/ (Jornal USP) e em https:// disseminação de informação
www.climatempo.com.br/noticia/2021/04/08/
co mais de três meses e de es- usp-cria-cartilha-anti-fake-news-sobre-mu- científica para o público em ge-
perarmos um impacto maior na dancas-climaticasn-8993 (Climatempo) ral, não só através das contas ofi-
sociedade a longo prazo, já foi 2 - Disponível em: https://www.instagram.
ciais da Universidade (as quais
possível notar que o ebook e o site com/p/CNpmoIBAjNH/c/17854377035528693/ possuem, em sua maioria, se-

14
Figura 1 – Exemplo de anúncio nas redes sociais para divulgação do material educativo sobre Mudanças Climáticas, publicado através da
conta da USP no Facebook - Facebook /USP
Fonte: Elaboração própria, 2021.

15
Figura 2 – Similar à Figura 1, mas para as contas do IAG no Facebook (esquerda - Facebook
DCA/IAG/USP) e Instagram (direita - Instagram IAG/USP).
Fonte: Elaboração própria, 2021.

com a academia possuem muito tidianas, dicas de cultura e lazer


mais seguidores e conseguem até assuntos mais complexos re-
com isso alcançar muito mais lacionados à economia e à ciên-
pessoas do que os canais cientí- cia, por exemplo; é tudo em um.
ficos oficiais das Universidades. Já os canais de divulgação
guidores que já fazem parte da O que motiva os leitores ou likes científica publicam exclusiva-
comunidade acadêmica), mas em tais plataformas? Será que mente sobre ciências o tempo
também através de canais de a publicação culminou em lei- todo, e talvez boa parte da po-
comunicação externos ao meio tura ou apenas likes? Canais de pulação nem saiba da existên-
científico. Muitas vezes, canais comunicação social são um mix cia de tais canais, muitas vezes
de comunicação social inde- de todos os tipos de informação, simplesmente por nunca terem
pendentes e sem conexão direta desde as superficiais fofocas co- “cruzado caminho” com ne-

16
Figura 3a – Similar à Figura 1, mas para as contas do IAG no Facebook INCLINE
Fonte: Elaboração própria, 2021.

nhum deles ao rolar seu “feed tante; por exemplo, o que soa de ajudar na divulgação da ciên-
de notícias” nas plataformas so- mais atrativo: “Cartilha e página cia, acabam sem querer fazendo
ciais, ou por nunca terem pes- web com material educativo so- piada da mesma.
quisado palavras-chave com os bre clima” ou “A plataforma que
tópicos que tais canais discutem. ensina o jovem a crise do clima”? Considerações finais
Ademais, a linguagem utiliza- Além disso, o ser humano ainda Este artigo discute os frutos
da em postagens de divulgação precisa se entreter com diferen- do trabalho desenvolvido no
científica, por mais esforços que tes assuntos, e entre fofocas e projeto intitulado “Mudanças
os cientistas façam, pode não ser assuntos sérios, o cientista bra- Climáticas e a Sociedade: o desa-
aquela que mais apetece o leitor sileiro obviamente se frustra ao fio da conscientização”. A ideia
que está rolando a página online ver seus esforços ganharem um deste projeto surgiu através da
em seu navegador. A escolha de pequeno espaço em uma página intenção dos autores de gerar
palavras nas manchetes utiliza- de jornal impresso dividida com novas fontes de conhecimento
das para divulgação de informa- as celebridades do momento em linguagem acessível para o
ção científica é também impor- que, algumas vezes, na tentativa público leigo acerca das Mudan-

17
tância das questões ambientais
e urgentes que nosso planeta en-
frenta atualmente, pesquisado-
res da USP trabalharam em um
projeto de extensão, financiado
pela PRCEU-USP e pelo Banco
Santander, que resultou na pro-
dução do conteúdo educativo do
ebook "Mudanças Climáticas e
a Sociedade” e do site www.cli-
maesociedade.iag.usp.br. O ma-
terial produzido intercala textos
explicativos e ilustrações, que
buscam representar os princi-
pais tópicos discutidos ao longo
do texto e captar o interesse do
leitor. Em especial, recebe des-
taque a parte do material que
explica como se dá o balanço de
energia no sistema terrestre, e
como a emissão de gases do efei-
to estufa interfere neste balan-
ço de energia e contribui para o
aquecimento global.
Os autores acreditam que o
melhor entendimento de meca-
nismos como estes pela socie-
dade pode contribuir para au-
mentar a aceitação da população
acerca da realidade da emergên-
cia climática que enfrentamos
Figura 3b – Similar à Figura 1, mas para as contas do IAG no Instagram INCLINE / Fonte: hoje. Assim, a criação de mais
Elaboração própria, 2021. canais de fontes confiáveis de
conhecimento pode ser usada
ças Climáticas e seus principais nas Universidades está disponí- como uma importante ferra-
conceitos envolvidos. Dentro do vel exclusivamente na forma de menta de combate à desinforma-
ritmo acelerado do ambiente artigos científicos, escritos em ção. É neste contexto que proje-
acadêmico, o qual é composto linguagem formal e com jargões tos de extensão, como este que
por uma demanda contínua por específicos de cada área. desenvolvemos sobre Mudanças
publicações técnicas e por pra- O formato destas publicações Climáticas, são extremamen-
zos para entrega de relatórios, científicas é, em geral, pouco te importantes para fortalecer
muitas vezes nos esquecemos atrativo e de difícil compreen- o diálogo entre a sociedade e a
que a maior parte da produção são para o público leigo. Neste Universidade, e despertar o in-
de conhecimento que é gerada contexto, e pensando na impor- teresse do público em aprender

18
mais sobre temas importantes que de forma di-
reta ou indireta afetam nossas ações e atividades
do dia a dia. Nós, autores, acreditamos que ini-
ciativas como estas devem continuar a ser produ-
zidas e exploradas, contribuindo para implantar
as verdades e o estado da arte sobre a ciência das
Mudanças Climáticas em nossa sociedade.

Referências:

AMBRIZZI, T.; REHBEIN, A.; DUTRA, L. M. M.;


CRESPO, N. M. Mudanças climáticas e a socieda-
de. São Paulo: IAG/USP, 2021 (Ebook disponível
em www.climaesociedade.iag.usp.br).

COOK, J. et al. Quantifying the consensus on an-


thropogenic global warming in the scientific lite-
rature. Environmental Research Letters, v. 8, n.
2, 024024, 2013.a dia.

Figura 4 – Similar à Figura 1, mas para as contas do Nexo Jornal no


Instagram.
Fonte: Elaboração própria, 2021.

© Ralpho Camargo, 2017


Lago Llanquihue, Puerto Varas, Chiloé – CL
19
Novos temas
emergentes
em mudanças
climática Edson Grandisoli

Sonia Maria
Renata Ferraz
de Toledo
Pedro Roberto
Viggiani Coutinho Jacobi

INTERDISCIPLINARIEDADES

A
s crescentes amea- ração de possíveis barreiras en-
ças a todas as formas tre a produção e a utilização da
de vida do planeta, ciência, favorecendo tanto uma
em decorrência da apropriação mais crítica da rea-
emergência climá- lidade, por parte dos sujeitos,
tica, demandam ações urgen- como o desenvolvimento de uma
tes. Embora pareça haver aqui ação transformadora. Com este
redundância, nos referimos à propósito organizamos, em 2015,
‘emergência’ pela intensidade de o livro “Temas atuais em mudan-
seus efeitos e potenciais riscos, ças climáticas”, destinado, em
e à ‘urgência’ como escala tem- especial, a educadores(as) e es-
poral, mais precisamente pela tudantes do ensino básico.
necessidade de mudanças ime- O livro contou com a colabo-
diatas. O termo "emergência cli- ração de pesquisadores(as) reno-
mática" foi eleito como palavra mados(as) de diferentes áreas do
do ano pelo dicionário Oxford conhecimento que, por meio de
em 2019. textos curtos de linguagem aces-
Dentre os inúmeros desafios a sível, trouxeram as múltiplas fa-
essas mudanças é importante in- cetas das mudanças climáticas
formar e ampliar o engajamento dentro de uma perspectiva inter-
de toda sociedade em torno des- disciplinar. Assim, diversos as-
te tema, especialmente em tem- pectos teóricos e práticos foram
pos de negacionismo científico, abordados, dentre eles: os prin-
nos quais observamos uma am- cipais acordos internacionais,
pliação da dificuldade de aproxi- climatologia, efeitos das mu-
mação entre ciência e sociedade. danças climáticas nas cidades e
Não há dúvidas sobre a comple- ecossistemas naturais, produção
xidade das mudanças climáticas e consumo, riscos, desastres e
e da relevância de qualificar os impactos à saúde, entre outros.
processos de comunicação, no O livro traz também sugestões
Palavras-chave: Emergência climáti- seu sentido mais amplo, ou seja, de métodos e ferramentas que
ca, educação climática, temas emer- de ‘tornar comum’ e, assim, ca- na perspectiva da aprendizagem
gentes, interdisciplinaridad minharmos em direção à supe- social, estimulam a participação,

20
a cooperação e o protagonismo nos leva a perguntar sobre como aprofundada sobre seus impac-
(Jacobi et al., 2015). Ao todo, fo- podemos ampliar as escalas de tos e possíveis respostas, o que
ram distribuídos gratuitamente engajamento e mobilização - no- limita a capacidade e interesse
1.000 exemplares impressos, em vamente, em seu sentido mais pela criação de ações continua-
especial, para educadores(as) do amplo, de "mobilizar para a das no enfrentamento da emer-
ensino básico. A produção está ação"? gência climática. Destacamos
disponível gratuitamente em: Nos últimos anos, movimen- três limitações: (1) as estruturais,
http://www.livrosabertos.sibi. tos internacionais como o Fridays (2) as curriculares e, (3) as forma-
usp.br/portaldelivrosUSP/cata- for Future, o The Climate Reality tivas; que representam alguns
log/book/315. Project, o Youth Climate Leaders, a fatores que dificultam a com-
A abordagem da aprendiza- Climate Action Network, e nacio- preensão da temática e impedem
gem social, fio condutor da pro- nais como o Movimento Escolas a realização de ações climáticas
dução, é apresentada desde uma pelo Clima da Reconectta, Brota mais contundentes e com resul-
perspectiva na qual se destaca no Clima do Engajamundo, entre tados concretos.
a importância da prevenção aos outros, têm ampliado a visibili- Sendo assim, considera-se
riscos conhecidos, como tam- dade sobre o tema da emergên- que:
bém da precaução, ou seja, que cia climática, por meio da pro- (1) A emergência climática,
antecede aos riscos que ainda moção de ações de mobilização por sua complexidade, só pode
não conhecemos, e que é muito coletiva - em especial de jovens ser compreendida, contextuali-
necessária frente às incertezas e - e a formação continuada de zada e enfrentada pela contribui-
controvérsias em torno do tema. educadores(as). ção do olhar de diferentes disci-
Ao ampliar e/ou criar espaços de A literatura mostra que a plinas. Dessa forma, do ponto de
diálogo e interação entre atores educação formal, não-formal e vista estrutural, é fundamental
de diferentes setores da socie- informal podem colaborar, de garantir tempos e espaços institu-
dade, estimular a negociação, a forma decisiva, no enfrentamen- cionais nos quais educadores(as)
corresponsabilização e a produ- to das mudanças climáticas, por de diferentes especialidades e a
ção compartilhada de saberes e meio do desenvolvimento de di- comunidade possam colaborar
práticas, a aprendizagem social ferentes habilidades e compe- e construir coletivamente, desde
possibilita a tomada de decisão tências que influenciem os hábi- atividades pontuais até estrutu-
baseada na reciprocidade e de tos das sociedades e descortinem ras mais organizadas na forma
forma que amplie o diálogo (Ja- as relações complexas entre ser de um currículo climático;
cobi, Silva-Sanchez e Toledo, humano e ambiente (Anderson, (2) A Base Nacional Comum
2019). 2010; Grandisoli, 2021). Curricular, que define as apren-
Observamos que as fronteiras Apesar dos esforços e da ne- dizagens essenciais que todos
difusas entre ciência, política e cessidade urgente pela constru- os(as) estudantes devem desen-
sociedade, e que os problemas ção de novas formas de pensa- volver, em suas 600 páginas, cita
socioambientais da atualidade, mento, a emergência do tema o termo "mudanças climáticas"
especialmente aqueles resultan- climático não se reflete na sua apenas por três vezes, e de forma
tes do aumento dos impactos ênfase nas diferentes institui- desassociada a habilidades espe-
das mudanças climáticas, ultra- ções e níveis de ensino. Em mui- cíficas a serem desenvolvidas ao
passam os limites geográficos tas ocasiões, a temática ainda é longo de todo o ensino básico.
(dos bairros, cidades, metrópo- abordada de forma disciplinar Ou seja, a emergência climáti-
les, macrometrópoles, regiões, e prescritiva, garantindo pouco ca está praticamente ausente do
bacias hidrográficas, etc.). Isto espaço para uma reflexão mais principal documento norteador

21
da educação brasileira. Na con- gentes, que perpassa pela análise to de metas. É importante enten-
tramão, nos últimos anos, em de sua complexidade, por meio der que a adaptação não se limita
nível internacional, inúmeras de um olhar interdisciplinar, a minimizar os efeitos adversos
publicações têm destacado a im- identificação das interrelações das mudanças climáticas. Mas é
portância da construção de um das possíveis soluções, alterna- uma oportunidade de caminhar
currículo climático voltado para tivas e políticas para o enfrenta- em direção aos ODS. Um dos
a valorização da Ciência Climá- mento destes desafios. Estas po- princípios orientadores da Es-
tica, da boa informação e do es- dem ser concretizadas por pelo trutura de Sendai é “Reconstruir
tímulo à criatividade, por meio menos três agendas: a agenda melhor”, sugerindo que a redu-
da criação de estratégias práticas de adaptação (e de mitigação), a ção do risco de desastre deve ir
de adaptação e mitigação dentro agenda 2030 e a agenda advinda além de abordar o risco de curto
das instituições de ensino e; do Marco de Sendai, para Redu- prazo. Alcançar efetivamente as
(3) Parte fundamental do pro- ção do Risco de Desastres. metas de uma agenda de desen-
tagonismo das instituições edu- A agenda de adaptação no Bra- volvimento envolverá necessa-
cacionais depende diretamente sil vem crescendo com o Plano riamente progressos substan-
da formação de diferentes espe- Nacional de Adaptação à Mudan- ciais em relação às outras duas
cialistas, ou seja, garantir uma ça do Clima - PNA, de 2016. Al- agendas (UNFCCC, 2017).
formação democratizada e de gumas das iniciativas realizadas Importante destacar que es-
qualidade sobre o tema da emer- a partir do PNA têm potencial tas agendas auxiliam a colocar
gência climática, aliada à aplica- de contribuir com o desenvolvi- em foco questões emergentes
ção de metodologias mais ativas mento e avanço dos objetivos e em mudanças climáticas, que
de aprendizagem, bem como metas previstas na Agenda 2030 chamam a atenção sobre a segu-
abordagens educacionais mais ligada aos Objetivos de Desenvol- rança humana, ameaçada pelos
integradoras, que estimulem a vimento Sustentável (ODS). conflitos violentos e inequida-
participação, a cocriação e a cor- Segundo UNFCCC (2017), a des, refletidos em alterações dos
responsabilização (Grandisoli, integração da agenda de adapta- padrões migratórios e na gera-
et al., 2020), como a abordagem ção do Acordo de Paris (no caso ção de refugiados climáticos; e
Science, Technology, Engineering brasileiro, o PNA) e da Agenda pela carência na manutenção
and Mathematics (STEM), por 2030 para o Desenvolvimento dos meios de subsistência e de
exemplo. Sustentável (ODS), com o Marco proteção social das populações
Dessa forma, nota-se que há de Sendai para Redução do Ris- tradicionais, seja pela destruição
ainda um longo caminho a ser co de Desastres, pode fornecer de ecossistemas e biodiversida-
percorrido, desde o estímulo a uma base para o desenvolvimen- de, seja pela falta de políticas
ações mais individualizadas e in- to sustentável, de baixo carbono de engajamento com o conheci-
cremento nas pesquisas, criação e resiliente às mudanças climá- mento local e tradicional sobre
de estratégias voltadas à educa- ticas. Construir um futuro resi- mudanças climáticas.
ção climática, até a implementa- liente é o componente principal Os temas acima, em conjunto
ção de políticas públicas educa- das três agendas e os principais com a importância do protago-
cionais. A urgência dos desafios benefícios da integração de polí- nismo juvenil, da atuação da mu-
que se multiplicam dia a dia ticas envolvem maior coerência, lher e das comunidades locais na
exige mobilização e diálogo ime- eficiência e efetividade, evitan- questão climática, sob a óptica
diatos de todos os atores sociais. do-se ações que contribuam para da educação, da arte, da prote-
Mas também um olhar inclusivo um conjunto de metas, mas que ção dos oceanos, da atual e das
para diferentes temáticas emer- podem prejudicar outro conjun- futuras crises sanitárias, entre

22
outros, serão objetos do segun- GRANDISOLI, Edson. Educa- bertos.sibi.usp.br/portaldelivro-
do volume do livro "Temas atuais ção climática: resposta para o sUSP/catalog/book/397
em Mudanças Climáticas", a fim presente e futuro. Porvir, 2021.
de aproximar desses novos cam- Disponível em https://porvir.org/ UNFCCC. United Nations Fra-
pos educadores(as), estudantes educacao-climatica-respostas- mework Convention on Climate
do ensino básico e primeiros -para-o-presente-e-futuro/. Aces- Change Secretariat. Opportuni-
anos da graduação e mobilizar so em 30 de junho de 2021. ties and options for integrating
para a ação climática. climate change adaptation with
JACOBI, Pedro Roberto; GRAN- Sustainable Development Goals
DISOLI, Edson; COUTINHO, So- and the Sendai Framework for
REFERÊNCIAS nia Maria Viggiani; MAIA, Ro- Disaster Risk Reduction 205-
berta de Assis; TOLEDO, Renata 2030. United Nations Climate
ANDERSON, Allison. Combating Ferraz de (orgs.). Temas atuais Change Secretariat, 2017. Dispo-
climate change through quality em mudanças climáticas: para nível em http://unfccc.int/files/
education. Global Views. Massa- os ensinos fundamental e médio. adaptation/groups_committees/
chusetts: The Brookings Institu- São Paulo: IEE-USP, 2015. adaptation_committee/applica-
tion, 2010. tion/pdf/techpaper_adaptation.
JACOBI, Pedro Roberto; SILVA- pdf. Acesso em 30 de junho de
GRANDISOLI, Edson, SOUZA, -SANCHEZ, Solange; TOLEDO, 2021.
Daniele Tubino Pante de; MON- Renata Ferraz de. Ciência Pós-
TEIRO, Rafael; JACOBI, Pedro Ro- -normal: uma reflexão episte- Jaime, Patricia Constante, Del-
berto. Participação, cocriação e mológica. In: JACOBI, Pedro Ro- muè, Denise Costa Coitinho,
corresponsabilidade: um modelo berto; TOLEDO, Renata Ferraz Campello, Tereza, Silva, Denise
de tripé da educação para a sus- de; GIATTI, Leandro Luiz (orgs.). Oliveira e, & Santos, Leonor Ma-
tentabilidade. In: GRANDISOLI, Ciência Pós-normal: ampliando ria Pacheco. (2018). Um olhar
Edson, SOUZA, Daniele Tubino o diálogo com a sociedade diante sobre a agenda de alimentação e
Pante de; MONTEIRO, Rafael; JA- das crises ambientais contempo- nutrição nos trinta anos do Sis-
COBI, Pedro Roberto (ogs.) Educar râneas.São Paulo: Faculdade de tema Único de Saúde. Ciência &
para a sustentabilidade: visões de Saúde Pública da Universidade Saúde Coletiva, 23(6), 1829-1836.
presente e futuro. São Paulo: Re- de São Paulo, 2019, p. 15-29. Dis- https://doi.org/10.1590/1413-
conectta; Editora Na Raiz, 2020. ponível em http://www.livrosa- 81232018236.05392018

© Edmilson Dias de Freitas, 2019


Marginal Tietê, São Paulo-SP. Brasil
23
Marcos Buckeridge

O poder da sinergia
no combate às mu-
danças climáticas

T
emos pouco tempo até as decisões locais, que incluem
que a temperatura do as prefeituras, empresas, grupos
planeta ultrapasse o sociais organizados (ONGs, ativis-
limiar de 1,5oC acima mo) e ações pessoais do nosso dia
da média de tempera- a dia. Alguns pensam que, como
tura durante a revolução industrial os governos são ineficientes, só a
na Inglaterra (entre 1860 e 1900). ação local salvará o planeta e que
Hoje nos encontramos 1oC acima por isto, temos que agir para evi-
daquela média e previsões indicam tar que o pior aconteça, mesmo
que poderemos passar de 1,5oC que os governos não participem.
entre 2030 e 2050, com consequên- A impressão de quem pensa
cias desastrosas para a sociedade que ações globais têm mais poder
(ALLEN et al., 2018). Como fazer de mudança do que ações locais
para baixar as emissões de CO2 no advém da ideia de que, quem tem
planeta em menos de 30 anos? De- mais poder pode, em tese, mudar
vemos confiar apenas nos governos mais facilmente esta situação e
ou agir de forma independente? que ações isoladas são inócuas por
Para lidar com as mudanças terem bem menos poder de mu-
climáticas globais tendemos, por dança. Do outro lado, os que acre-
um lado, a contar com ações gover- ditam somente na mudança local,
namentais que mudem o rumo de argumentam que os governos são
eventos que podem nos levar a ca- muito lentos e desconectados com
tástrofes. Quem pensa assim, ten- a realidade, principalmente a rea-
de a sentar e esperar que os gover- lidade individual.
nos tomem decisões e organizem Ledo engano. As ações globais e
tudo para baixar as emissões de ações locais são importantes isola-
CO2. Nesta linha de pensamento, damente sim, mas sem harmonia
as pessoas tendem a esperar que entre as duas, ficamos muito lon-
os governos tomem providências ge de atingir nosso potencial má-
para que nossas cidades se tornem ximo. Não é somente o poder de
preparadas para enchentes e on- um governo que muda uma cultu-
Palavras-chave: Sinergia, democra- das de calor e que o campo conti- ra, mas ela mesma. E há uma ra-
cia, cidades, governo, ativismo, mu-
dança climática, conhecimento cien-
nue produzindo comida suficiente zão para isto: o poder da sinergia
tífico. para todos. Na outra ponta, temos (CORNING e SZATHMÁRY, 2015).

24
© Ralpho Camargo, 2017
Sacos de areia - Punta Cana DO

Adam Smith, famoso pela ideia dos esforços individuais nunca mo de grupos – como ocorre com
central do liberalismo e consi- será como um esforço coordena- o ativismo por exemplo – fossem
derado, erroneamente, o criador do e sinérgico, em que o governo usadas. É preciso que estas ações
do capitalismo (OTTESON, 2019), tem um papel fundamental. Usan- também sejam sinérgicas com as
observou que, em uma fábrica de do o exemplo dos alfinetes, isto ações dos governos locais, meso-
alfinetes na Inglaterra do sécu- ocorre porque a mesma mágica -locais e nacionais (BUCKERID-
lo IX, o trabalho conjunto de dez da sinergia entre os trabalhado- GE, 2019). Isto porque poderíamos
trabalhadores conseguia produzir res, também vale para a sinergia esperar que o mesmo que ocorria
quase 50 mil alfinetes por dia, mas entre os trabalhadores e os donos com os trabalhadores que produ-
que um único trabalhador, fazen- da fábrica. Não é uma questão de ziam os alfinetes, também ocorra
do alfinetes sozinho provavelmen- trabalhar mais, mas de organizar entre os trabalhadores e seus pa-
te não passaria de 20 alfinetes diá- os processos de maneira a produ- trões.
rios. A observação de Smith ilustra zir muito mais com o mesmo tra- Transpondo a analogia para
o fato de que a ação sinérgica, em balho. uma cidade, as ações pessoais
escala, gera um resultado muito Se considerarmos que a maio- (individuais) de famílias e de gru-
melhor do que cada ação isolada, ria dos seres humanos do planeta pos sociais precisam encontrar
mesmo que estas sejam somadas. vive em cidades, as ações sinérgi- sinergia com as ações propostas
Eis porque não podemos abolir cas no ambiente urbano são fun- nos diferentes níveis de governo
os governos e fazermos tudo nós damentais para a ação climática. (câmaras de vereadores, subpre-
mesmos. Cada um de nós pode Devido ao efeito sinérgico men- feituras, prefeituras e níveis aci-
agir para baixar emissões e me- cionado acima, não seria suficien- ma nos estados e na federação).
lhorar as adaptações, mas a soma te que ações individuais ou mes- A ação sinérgica coordenada não

25
produziria como resultado a soma de de usar a democracia como fer- Temos um sistema democrático
das ações individuais, e sim como ramenta para melhorar a sinergia estabelecido, mas a desconexão
uma multiplicação. vertical. no sentido vertical ainda é enor-
Aqui chamarei o trabalho Mas este argumento tampouco me. A maioria dos líderes é guiada
sinérgico em um determinado escapa da crítica de que a demo- somente pela ânsia por votos. Por
nível (análogo aos trabalhado- cracia torna o processo decisório outro lado, a sociedade já começa
res produtores de alfinetes) de muito demorado. Por exemplo: a se conectar no que concerne a
sinergia horizontal e o trabalho temos que esperar muito por uma sinergia horizontal, mas ainda ca-
sinérgico entre diferentes níveis discussão sem fim entre as pes- rece de uma harmonização com
hierárquicos (dos trabalhadores e soas e as decisões coletivas não sinergia vertical.
patrões na analogia como o exem- conseguem caminhar no tempo
plo de Smith) de sinergia vertical. de uma sociedade que se comu- Precisamos urgentemente en-
Fica claro que um sistema que se nica com uma velocidade enorme contrar este equilíbrio. Se con-
caracterize como contendo siner- devido à informatização. seguirmos usar a vantagem de
gia horizontal e vertical ao mesmo Apesar da ideia de usar traba- termos um estado democrático
tempo, seria muito mais produtivo lhadores como máquinas não es- para fomentar a sinergia completa
do que ações individuais ou ações tar embutida no argumento geral (horizontal e vertical trabalhando
governamentais. de Smith, a sinergia horizontal se de forma harmônica) poderemos
Mas há um problema com o mostrou extremamente vantajosa, ter sucesso nas ações contra as
exemplo da fábrica de alfinetes. mas ainda carente de um algorit- mudanças climáticas bem mais
Durante a revolução industrial os mo que permitisse atingir o poten- rápida e seguramente, o que nos
trabalhadores eram explorados cial máximo da combinação entre levaria a efeitos muito mais im-
pelos patrões para produzir desen- as sinergias horizontal e vertical. pactantes e favoráveis à humani-
freadamente, sendo mal pagos e A sinergia vertical, no caso dos dade.
sem direitos trabalhistas. A siner- alfinetes, era ténue porque os pa- O caminho para este estado
gia vertical naquele sistema exis- trões não consideravam ideias que mais harmônico – que sabemos
tia apenas no sentido de que os pa- poderiam vir dos trabalhadores que nunca será perfeito – é utili-
trões passavam aos trabalhadores para melhorar ainda mais os pro- zar, em todos os níveis, a ciência
as instruções (um algoritmo) para cessos. Em o utras palavras, a mão como o embasamento comum. O
executarem os processos. Mas os invisível de Smith, que visa con- primeiro passo é concordar com
tratavam como máquinas. Se, por ferir liberdade de empreender a o que há hoje de conhecimento
acaso, o processo pudesse ser me- todos e deixar o sistema encontrar científico a respeito dos impactos
lhorado por algum trabalhador a seu máximo potencial, na rea- das mudanças climáticas sobre
devido à percepção de defeitos e lidade funcionava em uma única as cidades e de como poderíamos
alterações nos processos, estas direção e com isto aquém de seu utilizar tecnologias já disponíveis
melhorias permaneciam inaces- potencial máximo, tanto em quan- para amenizar impactos (DE CO-
síveis aos patrões, satisfeitos que tidade quanto em qualidade. NINCK et al., 2018). Quanto maior
estavam com seus lucros. Hoje em dia, empresas inteli- for a harmonia entre as pessoas e
Nos tempos de Smith, a desco- gentes promovem sinergia ver- organizações em seus respectivos
berta da sinergia entre os traba- tical e têm grande sucesso com níveis, maior será a sinergia hori-
lhadores mudou o mundo através isto. Porém, a sociedade atual – a zontal em cada um desses níveis.
do que conhecemos como revolu- brasileira em particular – carece Isto já será o suficiente para um
ção industrial. Nos tempos atuais, de sinergias e com isto se mantém bom efeito, aumentando a velo-
bem diferentes daqueles de Smi- extremamente vulnerável aos im- cidade de adaptação das popula-
th, temos algo mais: a possibilida- pactos das mudanças climáticas. ções aos impactos climáticos. No

26
entanto, o tempo que temos para mudar é muito monizados de forma sinérgica. E o fio que liga todos
curto. Se continuarmos no ritmo atual, cruzare- estes elementos é o conhecimento científico.
mos o limiar de 1,5oC em algum ponto entre 2030
e 2050 (ALLEN et al 2018). Para acelerar o processo, Agradecimento: agradeço ao amigo e colega José Eli
é crucial que usemos imediatamente os processos da Veiga por ter despertado em mim a visão da im-
democráticos para harmonizar a sinergia vertical. portância do sinergismo na natureza e na sociedade.
Governo, instituições governamentais e não gover-
namentais, ativistas e indivíduos precisam ser har-

Referências ckeridge, A. Cartwright, W. Dong, J. Ford, S. Fuss,


J.-C. Hourcade, D. Ley, R. Mechler, P. Newman, A.
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Global Warming of 1.5°C. An IPCC Special Report on 1.5°C above pre-industrial levels and related global
the impacts of global warming of 1.5°C above pre- greenhouse gas emission pathways, in the context
-industrial levels and related global greenhouse gas of strengthening the global response to the threat
emission pathways, in the context of strengthening of climate change, sustainable development, and
the global response to the threat of climate change, efforts to eradicate poverty [Masson-Delmotte, V., P.
sustainable development, and efforts to eradicate Zhai, H.-O. Pörtner, D. Roberts, J. Skea, P.R. Shukla,
poverty [Masson-Delmotte, V., P. Zhai, H.-O. Pörtner, A. Pirani, W. Moufouma-Okia, C. Péan, R. Pidcock,
D. Roberts, J. Skea, P.R. Shukla, A. Pirani, W. Mou- S. Connors, J.B.R. Matthews, Y. Chen, X. Zhou, M.I.
fouma-Okia, C. Péan, R. Pidcock, S. Connors, J.B.R. Gomis, E. Lonnoy, T. Maycock, M. Tignor, and T. Wa-
Matthews, Y. Chen, X. Zhou, M.I. Gomis, E. Lonnoy, terfield (eds.)]. (https://www.ipcc.ch/sr15/chapter/
T. Maycock, M. Tignor, and T. Waterfield (eds.)]. (ht- chapter-4/)
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complexity. Journal of Theoretical Biology 371: 45-
58.

Coninck, H., A. Revi, M. Babiker, P. Bertoldi, M. Bu-

27
JOVENS PESQUISADORES

Adaptação às mudan-
ças climáticas sob o
neoliberalismo: que
Gabriel Pires lugar para a Justiça
Climática?
de Araújo

A
Letícia Stevanato s sociedades hu- como uma derivação dos movi-
Rodrigues manas enfrentam mentos por Justiça Ambiental
um grande desafio questiona esse consenso. Por um
que congrega vários lado, a ideia evidencia o fato de
dos problemas so- que os impactos negativos das
cioambientais inerentes ao que mudanças climáticas são distri-
Beatriz Duarte se convencionou chamar como buídos de forma desigual, atin-
Dunder
Antropoceno: o fenômeno das gindo mais aqueles que menos
mudanças climáticas. Em um ce- contribuíram para a ocorrência
nário onde o atual sistema eco- do fenômeno e que também pos-
nômico de produção e consumo suem uma menor capacidade de
capitalista vai de encontro com resposta. Por outro, destaca o
Ana Lia
Leonel a necessidade de mitigação de fato de que as decisões tomadas
Gases de Efeito Estufa, atrelado pelas agências multilaterais, no
à dificuldade na adoção de medi- âmbito das conferências inter-
das de adaptação principalmen- nacionais, não serão suficientes
te nos países periféricos, têm-se para responder ao desafio posto.
Rayssa Saidel
uma situação de emergência A agenda internacional do
Cortez climática. Tal emergência foi de- clima aplicada aos territórios ur-
clarada por mais de 11 mil cien- banos, ainda que traga modifica-
tistas de 153 países, que também ções à urbanização, não supera
constataram que os efeitos das a prevalência dos interesses das
mudanças climáticas serão mui- elites econômicas. Essas trans-
Bruno Avellar to mais severos do que a ciência formações são, portanto, limita-
Alves de Lima inicialmente havia previsto (RI- das pelos modos como as cida-
PPLE et al., 2020). des são estruturadas sob a lógica
Palavras-chave: Justiça Climática;
Existe um entendimento geral atual do capitalismo, ou seja,
Emergência Climática; Instrumentos de que esses efeitos afetariam de suas formas de produção desi-
de Adaptação; Neoliberalismo; Plane- forma igual a todos. Nesse sen- gual, a matriz energética pauta-
jamento Urbano. tido, a ideia de Justiça Climática da em fontes fósseis, bem como

28
sua forma espacial, segregada e mais vulneráveis. urbano que podem não só exa-
difusa. Do mesmo modo, políti- No caso do Brasil, ainda são cerbar as mudanças climáticas,
cas de descarbonização podem poucos os instrumentos especí- como também levar à injustiças
colidir com as lógicas de cresci- ficos para adaptação às mudan- territoriais, uma vez que a pro-
mento urbano capitalista, mas ças climáticas e a maioria dos posição é de maior investimento
também podem ser apropriadas existentes não consideram a di- em eixos já consolidados (ARAÚ-
pela lógica de mercado (produ- mensão de justiça (TORRES, et JO et al., 2020). A despeito desses
ção de carros elétricos, energias al, 2020). Na esfera nacional, o cenários na escala nacional e
limpas, e etc.) e incentivar o Plano Nacional de Adaptação à regional que indicam que a te-
crescimento urbano capitalista Mudança do Clima1, instituído mática da Justiça Climática não
com uma narrativa "sustentável" em 2016 em consonância com a está efetivamente inserida nos
(WHITEHEAD, 2014). Política Nacional sobre Mudan- instrumentos de planejamento
Grande parte das ações pro- ça do Clima, é um instrumento referentes às mudanças climáti-
postas e realizadas frente à bastante detalhado e extenso cas, há indicativos de avanços na
emergência climática estão con- que se atenta às populações vul- escala local. O Plano Municipal
centradas em produzir respostas neráveis, porém, o conceito de de Mudança de Clima de Santos,
aos efeitos de inundações, desli- Justiça Climática é praticamen- por exemplo, apresenta preocu-
zamentos de terra, secas e outros te nulo. Considerando o recor- pação com temas correlatos à
eventos extremos, na expectativa te da Macrometrópole Paulista justiça principalmente por con-
de reduzir danos à vida humana (MMP), na esfera estadual temos ferir maior atenção às popula-
e não-humana. A resposta a esses a Política Estadual de Mudanças ções vulneráveis e residentes de
efeitos se dá majoritariamente Climáticas (PEMC)2 que apesar áreas de risco.
pelo investimento em tecnologia de considerar as vulnerabilida- Neste cenário, o capital finan-
e infraestrutura para a constru- des do ambiente e da população, ceiro internacional apropria-se
ção de cidades inteligentes e não aborda a questão em torno da crise climática como discur-
sustentáveis. No entanto, Mark da Justiça Climática. Dispondo so, encontrando novas oportu-
Whitehead (2014) pontua que as do Plano de Ação da Macrome- nidades de investimentos no
ações orientadas pela ideia de trópole (PAM) como referência imobiliário e nas infraestrutu-
cidades adaptáveis promovem de instrumento regional macro- ras. Na Região Metropolitana de
soluções concebidas sob a égide metropolitano, vale mencionar São Paulo, por exemplo, novos
da ordem hegemônica mundial que as mudanças climáticas são empreendimentos com amplas
contemporânea (o capitalismo pouco abordadas, e consequen- áreas verdes, prédios com ener-
neoliberal), o que possibilita a temente a Justiça Climática não gia renovável e certificação de
sua expansão em um cenário de é considerada. baixo carbono surgem como me-
incertezas impostas pelas mu- Além disso, o PAM acaba por dida de adaptação. No entanto,
danças do clima. Assim, a adap- congregar ações pautadas na tratam-se de unidades habitacio-
tação às mudanças do clima tor- lógica do empreendedorismo nais com altos preços do metro
na-se um negócio, restringindo quadrado, voltadas apenas a se-
sua abrangência sobre a totali- 1 - Lei Federal nº 12.187, de 29 de dezembro tores de mais alta renda (FERRA-
dade da população que vive nas de 2009. RA, 2020). Ao mesmo tempo, as
cidades e relegando à marginali- 2 - Lei Estadual nº 13.798, de 9 de novembro
disputas pela valorização imobi-
dade ações para aqueles que são de 2009. liária expulsam os mais pobres

29
das áreas melhor dotadas de in- pacto à população às margens do tes para o enfrentamento das
fraestrutura, expondo-os, assim, Rio Tamanduateí - mesmo após injustiças climáticas. Para além
de forma mais pronunciada aos a construção de um dos maiores disso, é preciso que haja ações e
riscos impostos pela intensifica- “piscinões” da cidade - e, mesmo práticas direcionadas para o en-
ção de fenômenos climáticos ex- um pouco mais “democráticas” frentamento das causas das in-
tremos. naquele ano, ainda foram mais justiças sociais, ambientais e cli-
Os efeitos das chuvas inten- prejudiciais a quem não pôde es- máticas promovendo mudanças
sas que atingiram a Favela da colher a suas condições de mora- estruturais em nosso modo de
Vila Prudente, na Zona Leste da dia. Ou seja, ainda que pareçam relação entre humanos e natu-
metrópole paulistana, em março atingir a todos, os mais atingidos reza. O combate às injustiças cli-
de 2019, testemunharam empiri- ainda são aqueles que não pos- máticas mostra que a construção
camente que a população pobre suem direito à moradia digna e de um outro mundo é possível,
é a mais atingida pelos fenôme- estão mais expostos aos efeitos desde que as relações socioam-
nos das mudanças climáticas, das mudanças climáticas, apro- bientais sejam pautadas pela jus-
da mesma maneira pela qual fundando as injustiças locais. tiça e não por soluções pontuais
é impactada pela lógica de se- A reivindicação por Justiça que margeiam a espinha dorsal
gregação espacial imposta pela Climática revela que os efeitos de nossas injustiças: as diversas
produção do espaço urbano no negativos das mudanças do cli- formas de exclusão e desigualda-
capitalismo. Segundo o depoi- ma não são democráticos. O foco de social da ordem hegemônica
mento de uma liderança popular em ajustes tecnológicos e em in- global.
da Favela da Vila Prudente (uma fraestrutura, em detrimento de A proposta de cidades adaptá-
das maiores e mais antigas na um combate às desigualdades, veis, inteligentes e sustentáveis
capital) em visita de campo após podem intensificar ainda mais as sem o enfrentamento das desi-
uma noite de intensas chuvas, a injustiças sociais e, consequen- gualdades sociais que estrutu-
intensidade e volume das águas temente, a distribuição desigual ram a sociedade atual não será
pela primeira vez atingiu de for- dos efeitos negativos das mu- suficiente para enfrentar o desa-
ma supostamente “democrática” danças climáticas às populações fio da emergência climática, ser-
a população de mais alta renda mais pobres. vindo inclusive para reproduzir
que reside próxima à favela. O Vale pontuar a importância de a injustiça climática no âmbito
relato apontou que, seguindo o obras de infraestrutura urbana dos territórios, incluindo o da
padrão de injustiça territorial para intervenções locais frente Macrometrópole Paulista.
pelo qual a favela é constante- às mudanças climáticas, porém,
mente submetida, é comum que somente intervenções técnicas
as enchentes tenham maior im- e localizadas não são suficien-

30
Referências São Paulo. Editora Consequên- WHITEHEAD, M. Ambienta-
cia, 2020. p. 373-391. lismo Urbano Neoliberal e a Ci-
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Nacional de Geografia Urbana.

© Ralpho Camargo, 2018


incêndio Camp Fire – California EUA

31
CONJUNTURA

Sobrevivendo ao
Capitaloceno: o caso
da comunidade cai-
çara da Enseada da
Baleia, Cananéia/SP

A
Ilha do Cardoso está Capitaloceno é o termo que descre-
no litoral sul de São ve a era contemporânea (Moore, 2017).
Paulo, num impor- O conceito centraliza o sistema capita-
tante remanescen- lista como a causa do que hoje é consi-
te florestal de Mata derado o Antropoceno. Em outras pa-
Atlântica, condição que favoreceu lavras, uma época em que o “humano”
a implementação de Unidades de já se tornou uma força geológica e que
Juliana Greco Conservação (UCs). Em 1962, foi o resultado são alterações climáticas e
Yamaoka transformada em Parque Estadual extinção em massa.
da Ilha do Cardoso (PEIC), desde
1998, tem conselho consultivo, Erosão, realocação, rompimento e
plano de manejo (2002), laudo an- reconhecimento de direitos
tropológico (2012) e um histórico Historicamente são percebidas al-
de atuação contra ocupantes não terações em toda a Ilha do Cardoso,
tradicionais. A ilha perdeu parte mas a área foco é o Esporão Arenoso
Tatiana Mendonça
Cardoso das famílias caiçaras em função do Ararapira, por concentrar a maior
de legislações ambientais e da UC, parte das famílias da Ilha (no Marujá,
atualmente lá vivem nove comu- Vila Rápida, Enseada da Baleia e Pon-
nidades: oito caiçaras e uma indí- tal de Leste). Trata-se de um prolon-
gena. gamento de planícies com restingas
Este artigo propõe uma análise in- e manguezais, disposto em direção
Giovanna Gini terdisciplinar sobre o reassentamento SW-NE (Figura 1). Em 28 de agosto de
da comunidade caiçara Enseada da 2018, ventos fortes, lua cheia e grandes
Baleia, na Ilha do Cardoso, forçada ondas provocaram o deslocamento
pela erosão costeira e intervenções hi- das águas oceânicas para a face lagu-
dráulicas, em um contexto de mudan- nar resultando no rompimento dos 18
ças climáticas e políticas neoliberais. km que formavam o Esporão, em duas
Com objetivo de refletir sobre pressões ilhas distintas separadas por uma bar-
socioeconômicas e ambientais vividas ra em transformação permanente (Fi-
à luz do conceito de Capitaloceno, gura 2). Em setembro, a “Nova Barra”
usaram-se métodos de pesquisa parti- chegou a quatro centenas de metros
Palavras-chave: Comunidades tradi- cipante e analisaram-se depoimentos e o dobro, em outubro (CHELIZ et al.,
cionais; erosão costeira; mudanças de moradores da Enseada da Baleia, 2019) e em poucos meses tinha mais
climáticas; Capitaloceno. entre 2016 e 2019. de um quilômetro.

32
(1) O Canal artificial do Varadou-
mento e aceleração da erosão que re- presentes na extensão do Canal do ro foi inaugurado em 1955 (depois de
sultou
Essenarompimento
Nova Barra (Figura
alterou2):a dinâ- Ararapira. dois séculos de negociações), com ob-
mica v (1) O
localCanal artificialodo
e promoveu Varadou-
desapareci- Em 2011, um parecer da Secreta- jetivo de solucionar o problema econô-
ro foi inaugurado
mento em 1955 (depois
de duas comunidades de
caiçaras, ria de Meio Ambiente/SP, negou-lhe a mico do Vale do Ribeira (RODRIGUES,
dois séculosda
a Enseada deBaleia
negociações),
e a Vilacom ob-
Rápida possibilidade de outra área na Ilha por 1959), ligava às Baías de Paranaguá/
jetivo
(Figura de1solucionar
e 2). Esteotrabalho,
problemafocaeconô-
na ser uma UC de proteção integral, onde PR e de Trapandé/SP, transforman-
mico
Enseada,do Vale
quedo Ribeira (RODRIGUES,
historicamente vem dis- o uso seria exclusivo para pesquisa e do o istmo do Superagui/PR, em ilha
1959),
cutindoligava às Baías
a erosão de Paranaguá/
e a realocação. turismo. Em fevereiro/2015, um aci- artificial. Essa obra aumenta a vazão
PR Ae erosão
de Trapandé/SP,
é percebidatransforman-
desde a dé- dente com uma embarcação turística de águas no Canal do Ararapira. Para
do
cada o istmo do razão
de 1960, Superagui/PR,
pela qualem ilha
Sr. Ma- provocou o desmoronamento de cin- o Entrevistado 01, segundo técnicos:
artificial.
laquias e Essa
DonaobraErciaumenta
(casal dos a vazão
quais co construções na face lagunar. Além “onde é só um canal, a linha é reta,
de águas noas
descendem Canal do Ararapira.
11 famílias Para
da Enseada) do prejuízo, ficou evidente que não quando desemboca dois, a desembo-
o Entrevistado anos
demandaram, 01, segundo técnicos:
mais tarde, um havia mais área para a reconstrução cadura do mar e do canal, já entra em
“onde é só um
lugar seguro canal,
para a linha éA reta,
realocar-se. per- em função da diminuição da área dis- debate alguma coisa, que fez uma cur-
quando
manência desemboca
na Ilha tinhadois,oaobjetivo
desembo- de ponível para as famílias. va aqui. [...] o volume é mais forte, ela
cadura
manterdo mar ede
o modo dovida
canal,
e ajá entra em
escolha foi 2) Em outubro/2016, uma ressaca bate no Paraná e [...] na Enseada” que
debate alguma
influenciada coisa,
por Donaque fezque
Erci, uma cur-
vinha no litoral paulista provocou a erosão se assemelha perfeitamente às curvas
va aqui. [...] o volume
reivindicando a “terra”,é mais forte,
no lugar ela
onde de mais de 15 metros do Esporão, em presentes na extensão do Canal do
bate
tinhano ParanáSegundo
morado. e [...] na os
Enseada” que
moradores conjunção de lua nova e fortes corren- Ararapira.
se assemelha
dali, existem perfeitamente
duas causas para às curvas
o au- tes (CHELIZ et al., 2019). Depois do Em 2011, um parecer da Secreta-
Figura 1 – Mapa da Ilha do Cardoso com as comunidades caiçaras ria de Meio Ambiente/SP, negou-lhe a
Fonte: Adaptado de Yamaoka et al. (2019).

Figura 2 – Abertura do Esporão Arenoso do Ararapira e a Nova Barra (set. a nov./2018)


Fonte: Adaptado de Cheliz et al. (2019).

33
(1) O Canal artificial do Varadouro Enseada) ainda caso seguissem com enquanto faltou teto, água potável e
foi inaugurado em 1955 (depois de dois um metro ao ano. Outros relatos evi- alimentos. A partir de 2018, a antiga
séculos de negociações), com objetivo denciam ambas as influências, a praia vila foi desaparecendo nas águas (Fi-
de solucionar o problema econômi- mudando seu formato e as ressacas gura 3).
co do Vale do Ribeira (RODRIGUES, ocorrendo além do período de inver-
1959), ligava às Baías de Paranaguá/ no (mudanças climáticas). O Canal do
PR e de Trapandé/SP, transforman- Varadouro erosiona a face lagunar e
do o istmo do Superagui/PR, em ilha torna o Esporão frágil para ressacas
artificial. Essa obra aumenta a vazão mais fortes.
de águas no Canal do Ararapira. Para Sr. Malaquias faleceu em 2010 e
o Entrevistado 01, segundo técnicos: como responsável pelas atividades
“onde é só um canal, a linha é reta, quan- produtivas, sua perda provocou a par-
do desemboca dois, a desembocadura do tida de vários jovens. Isso só não sig-
mar e do canal, já entra em debate algu- nificou o final da Enseada pelo surgi-
ma coisa, que fez uma curva aqui. [...] o mento de um grupo de mulheres, que
volume é mais forte, ela bate no Paraná e com suas habilidades e valores da eco-
[...] na Enseada” que se assemelha per- nomia solidária, ressignificam recur-
feitamente às curvas presentes na ex- sos territoriais e os transformam em
tensão do Canal do Ararapira. corte e costura, receptivo para estudo
Em 2011, um parecer da Secreta- do meio e beneficiamento de pescado.
ria de Meio Ambiente/SP, negou-lhe a Além disso, lidam com a invisibilida-
possibilidade de outra área na Ilha por de da mulher, fortalecem tradições
ser uma UC de proteção integral, onde e lutam pela dignidade das famílias,
o uso seria exclusivo para pesquisa e preservando a autonomia. O Grupo
turismo. Em fevereiro/2015, um aci- de Mulheres Artesãs da Enseada da
dente com uma embarcação turística Baleia (MAE) foi responsável pela fun-
provocou o desmoronamento de cin- dação da Associação de Moradores
co construções na face lagunar. Além (AMEB) em 2015.
do prejuízo, ficou evidente que não A autorização do local para realo-
havia mais área para a reconstrução cação saiu no final de 2016 e a licença
em função da diminuição da área dis- para o desmatamento em 2017. Com
ponível para as famílias. a autorização e sem ajuda financeira
(2) Em outubro/2016, uma ressaca de entidades públicas, pessoas e par-
no litoral paulista provocou a erosão ceiros foram mobilizados para que a
de mais de 15 metros do Esporão, em realocação fosse possível. Entre 2017 e
conjunção de lua nova e fortes corren- 2019, foram feitos mutirões para a mo-
tes (CHELIZ et al., 2019). Depois do bilização de recursos, para a negocia-
evento, o argumento de “mudanças ção com parceiros/agentes contrários
climáticas” ganhou força localmente, e para a reconstrução da infraestru-
já que a erosão média era de 1 m ao tura existente na antiga vila. O maior
ano. Para o Entrevistado 01, a quan- desafio enfrentado neste processo foi
tidade de metros perdidos em um o falecimento de Dona Erci (2017), Figura 3 – Mercearia do Sr. Malaquias na an-
evento, mostram que algo está mu- que não chegou a ir morar na Nova tiga vila da Enseada (2016-2019)
dando, pois poderiam estar lá (antiga Enseada. Sua casa abrigou as famílias Fonte: Kotchetkoff (2019).

34
A Figura 3 pode ser compreendi- iii) na concessão para a iniciativa pri- Referências
da à luz das memórias da Dona Erci vada da visitação pública do PEIC; e
(2016), que contou o que representava iv) novos projetos de desenvolvimento CHELIZ, P. M. et al. Apontamentos so-
cada árvore, “cada filho que nascia eu que ameaçam os modos de vida das bre oscilações geomorfológicas e im-
plantava um pé de planta para ele [...] populações tradicionais, através da pactos ambientais na ruptura da Ilha
vinha há mais tempo já, todo mundo mercantilização e exploração sob uma do Cardoso, e formação de nova barra
fazia isso, quando eu tive meus filhos, visão capitalista. do Canal de Ararapira (Cananéia-SP).
fui pondo o nome deles em cada pé de Simpósio Brasileiro de Geografia Físi-
árvore que eu plantava”. Com essa re- ca e Aplicada, 18.
flexão, vale desnaturalizar a visão oci- Considerações finais
dental e cartesiana de natureza, para O que fica claro na experiência 2019, Fortaleza. Anais... Fortaleza:
ressignificar a experiência de perda do da comunidade da Enseada é que há Universidade Federal do Ceará, 2019.
seu lugar para o caiçara da Enseada. mais do que “mudanças climáticas”
A esses desafios soma-se uma con- que ameaçam seus territórios, tradi- MOORE, JW. The Capitalocene, Part I:
juntura socioeconômica e política que ção e identidade. A mercantilização on the nature and origins of our eco-
privilegia a reorganização de territó- da natureza e das pessoas, pode pro- logical crisis. The Journal of Peasant
rios para finalidades diversas de acu- mover grandes genocídios – de pes- Studies, 2017.
mulação capitalista, como é o caso soas e outros seres, tudo em nome do
das concessões à iniciativa privada das progresso e desenvolvimento baseado RODRIGUES, M. R. C. O canal do Vara-
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que se multiplicam pelo território, em e tradições e assumir estruturas co- YAMAOKA, J. G. et al. A comunidade
relação ao modo de vida e à autono- munitárias, buscando preservar suas caiçara da Enseada da Baleia e a sua
mia. autonomias, com ações pautadas pela luta pelo território - Cananéia (SP).
Nesse sentido, o Capitaloceno se cooperação com a natureza e respeito Guaju, Curitiba, v. 5, n. 4, 2019.
apresenta nesse caso: i) através dos à vida. Na disputa à noção de desen-
interesses que mobilizaram a abertu- volvimento, a Enseada reivindica ca-
ra do Canal do Varadouro que pode minhos voltados para a igualdade, so-
ter interferido na erosão e na abertura lidariedade, redistribuição, respeito às
da nova barra; ii) no acidente causado pessoas e à natureza.
pela embarcação turística, em 2015;

35
CONJUNTURA

Projeções de Uso e
Cobertura da Terra
na Macrometrópole
Paulista

A
tualmente, entender danças de uso e cobertura da terra
e mensurar os im- (UCT) gerem o mínimo impacto
pactos das mudanças ambiental e social.
na superfície tem se De fato, vemos que no Brasil, como
tornado um objeto de no mundo todo, passamos de um
estudo multidisciplinar. Por um período no qual o desenvolvimento
lado, existe a necessidade de iden- econômico foi associado a grandes al-
Carolyne Bueno tificação de áreas disponíveis para terações da superfície - com a expan-
Machado a expansão da agropecuária, vi- são da fronteira agrícola, abertura de
sando maior produção de alimen- estradas e ferrovias, intervenção de
tos e de biocombustível, impor- grandes rios, dentre outros métodos
tante em um cenário de crescente de ocupação do solo que mostraram a
demanda mundial; como também capacidade humana de dominar a na-
áreas viáveis para a construção de tureza - para um período em que ten-
reservatórios de água, expansão tamos reverter os impactos negativos
de infraestrutura urbana, instala- que este avanço gerou. Afinal, já esta-
ção de grandes empreendimentos, mos experimentando as consequên-
dentre tantas atividades humanas cias da ocupação inadequada do solo.
Edmilson Dias
que necessitam da ocupação do Em larga escala, além do aquecimento
de Freitas solo. Por outro lado, existe tam- global, ampliado pela emissão huma-
bém a preocupação com o uso da na dos gases do efeito estufa, temos
terra de forma sustentável, visan- o desmatamento da Amazônia sendo
do maximizar a produtividade em associado a um menor fluxo de umi-
áreas já ocupadas, recuperar áreas dade da região tropical para o Sudeste
degradadas com vegetação nativa da América do Sul, afetando o regime
e evitar a perda de biodiversida- pluviométrico (Zemp et al., 2014). Já
de. Essas medidas têm impactos em uma escala regional e local é pos-
positivos na gestão dos recursos sível citar o crescente número de de-
hídricos, na regulação do clima e sastres naturais associados a eventos
no ganho de resiliência frente às de tempo severo, com perda de vidas
mudanças climáticas. Lidar com humanas (Travassos et al., 2020), por
Palavras-chave: Modelagem dinâmi- todos estes fatores é um desafio decorrência da impermeabilização do
ca; Antropização; Urbanização; Des- para a gestão e planejamento do solo, enchentes, alagamentos e des-
matamento. território, de forma que as mu- lizamentos de terra (Marengo et al.,

36
2020), causando também o assorea- as áreas de maior probabilidade a so- áreas florestais, que se dividem entre a
mento e a contaminação dos rios. Os frer alteração é possível tentar frear a Floresta Estacional Semidecídua, Flo-
impactos decorrentes são ainda mais supressão florestal na Amazônia, evi- resta Ombrófila Densa e Mista, além
prejudiciais à população vulnerável, tando a mesma devastação que ocor- das pequenas áreas de Savana no cen-
que vive em regiões de baixa infraes- reu nos outros biomas brasileiros, em tro e oeste da MMP. Boa parte dessa
trutura, devido à urbanização inade- especial na Mata Atlântica. Contudo, vegetação nativa foi desmatada para
quada de grandes cidades. a modelagem dinâmica espacial tam- dar lugar a áreas de Agricultura e Pas-
Na Macrometrópole Paulista bém pode ser utilizada para estudar o tagem, que em 1985 ocupavam cerca
(MMP) este é um aspecto importante processo de urbanização, como reali- de 20% e 37% da área total, respecti-
a ser estudado, devido ao grande nú- zado por Young (2013), identificando vamente (Figura 1-b). As áreas de Flo-
mero de pessoas vivendo em assen- as áreas de risco sujeitas à ocupação resta Natural nesse período cobriam
tamentos precários, à sua grande im- no futuro. cerca de 33% da MMP, principalmen-
portância socioeconômica e à alta taxa Nesse sentido, utilizamos um mo- te nas regiões montanhosas da Serra
de urbanização da região. Segundo os delo construído na Dinamica EGO do Mar, Serra da Cantareira e Serra
dados do último censo do IBGE, a re- para projetar as mudanças de UCT da Mantiqueira. Entre 1985 e 2015 os
gião tinha cerca de 16% da população até 2050 na Macrometrópole Paulista, tipos de UCT que mais cresceram são
brasileira e 27% do Produto Interno com o objetivo de estimar a expansão a Infraestrutura Urbana (51,8% de au-
Bruto (PIB) nacional em 2010, e desde das áreas urbanas e dar suporte para mento), expandindo as áreas já exis-
1950 a população urbana teve aproxi- outros estudos. O modelo simulou so- tentes, a Floresta Plantada (144,2%),
madamente 790% de aumento, sendo mente o processo de antropização, ou que avançou principalmente sobre
atualmente mais de 97% da população seja, ele não permitiu a regeneração as áreas de Floresta Natural, e a Agri-
total da MMP. da vegetação nativa. Porém, as áreas cultura (15%), que substituiu grandes
Um meio de projetar as alterações de proteção existentes atualmente fo- áreas de Pastagem (Figura 1-c). Dessa
na superfície, e gerir os impactos do ram mantidas e a mesma taxa de an- forma, o padrão de mudança de UCT
processo de antropização, é simular tropização que ocorreu no passado foi que ocorreu no período observado foi
cenários futuros utilizando a mode- aplicada no futuro. A probabilidade extrapolado até 2050, como mostra a
lagem dinâmica espacial. No Bra- de transição entre os tipos de UCT cal- Figura 1-d, o que confere uma impor-
sil, a plataforma Dinamica EGO (csr. culada no modelo se baseia no cresci- tante expansão da Infraestrutura Ur-
ufmg.br/dinamica/), desenvolvida mento populacional dos municípios, bana, que pode cobrir 14,4% da MMP
pela UFMG, é bastante utilizada para na proximidade com estradas, corpos no futuro, sendo a maior alteração
construir modelos de mudanças de hídricos, setores urbanos, áreas pro- projetada (77,7% de aumento). Em se-
UCT. Essa abordagem utiliza modelos tegidas, áreas montanhosas, assim guida destaca-se novamente o avanço
autômatos-celulares que calculam a como no tipo de solo e elevação do da Floresta Plantada, com ganho de
probabilidade de transição baseada terreno. Os produtos do MapBiomas 76,9% em área entre 2015 e 2050.
na vizinhança, sendo ponderada por coleção 4.1 (mapbiomas.org), para os É interessante notar também que
variáveis da superfície (forçantes), que anos de 1985 e 2015, foram utilizados o avanço das áreas urbanas em 2050
influenciam de forma positiva ou ne- para representar a ocupação do solo. foi mais significativo, por exemplo,
gativa as transições entre os tipos de A vegetação teórica original da nas regiões metropolitanas de Cam-
UCT. Muitos estudos focam na mode- MMP, que representa a cobertura da pinas, Sorocaba e Vale do Paraíba do
lagem do desmatamento da Amazô- terra sem alteração pelas atividades que na Grande São Paulo. Isso ocorreu
nia, observando a influência de estra- humanas (UCT-T0), pode ser observa- porque o modelo entende que nessas
das, corpos hídricos e outras variáveis da na Figura 1-a, com base nos dados regiões existem áreas mais suscetíveis
externas (Soares-Filho et al., 2002). do IBGE do projeto RADAMBRASIL. É à urbanização. No entanto, um fator
Assim, ao identificar as forçantes e possível observar a predominância de que merece destaque é que cerca de

37
11,9% da área urbana expande em áreas com risco de deslizamentos. mais importante em cada transição
regiões de relevo irregular (>20º de de- O cenário UCT-2050 também apre- simulada foi a proximidade com o tipo
clividade), entre 2015 e 2050. De fato, senta pouca perda de Floresta Natu- de UCT a ser criado, o que ressalta a
as áreas de relevo montanhoso (>45º ral em relação a 2015 (6%), pois essa capacidade do modelo em expandir
de declividade) tiveram influência alteração não é muito significativa áreas antrópicas pré-existentes. De
positiva na criação de Infraestrutura entre 1985-2015. Contudo, a forçante uma forma geral, a proximidade com
Urbana, nos municípios de grande externa mais importante para a con- estradas/rodovias e setores urbanos
crescimento populacional durante as servação dessas áreas foi a presença favorece o processo de antropização
últimas décadas. De acordo com You- das áreas protegidas na MMP, que co- na MMP. Por sua vez, a hidrografia e
ng (2013), a expansão da urbanização brem cerca de 32,3% de seu território, as áreas protegidas tendem a evitar as
na Região Metropolitana de São Paulo predominantemente onde as áreas na- mudanças de UCT.
até 2030 pode aumentar em 200% as tivas são remanescentes. Já a variável

Figura 1 – Mudanças de uso e cobertura da terra na Macrometrópole Paulista e projeção para 2050
Fonte: Elaboração própria, 2021.

38
Por fim, destacamos o potencial da plataforma Dinamica EGO,
assim como da metodologia e dados utilizados, que se mostraram
satisfatórios na projeção de cenários futuros de UCT e avaliação do
processo de antropização, inclusive para a aplicação em outras re-
giões. Podemos concluir que as atividades humanas geraram his-
toricamente grande alteração da superfície na MMP e a supressão
da vegetação nativa. Porém, ainda no período recente existe o des-
matamento e a conversão entre diferentes usos antrópicos da terra
que devem ser estudados, especialmente o processo de urbaniza-
ção. Portanto, ressalta-se a importância do planejamento territorial
e da manutenção/ampliação das áreas protegidas, uma medida para
conservar a vegetação nativa remanescente e diminuir os impactos
das mudanças de UCT projetadas, em especial sobre a população
mais vulnerável, que tende a ocupar áreas de risco.

Referências

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14-13337-2014.

© Ralpho Camargo, 2019


Playa Kalki, ‎Curaçao - Caribe
39
ENTREVISTA

com Celia Regina de Gouveia Souza

Extremos
climaticos no
litoral paulista:
praticas de adaptação
POR: PEDRO HENRIQUE CAMPELLO TORRES,
THAMIRIS LUISA DE O. BRANDÃO CAMPOS
EDMILSON DIAS DE FREITAS

© Ralpho Camargo, 2016


Praia da Baleia, São Sebastião - SP 40
Celia, pode contar para a gente
como foi o percurso da sua forma-
ção acadêmica?
Eu me formei em Geologia em
1983, terminei o mestrado em Ocea-
nografia Química e Geológica em
1990, e o doutorado em Geologia Se-
dimentar em 1997. Todas as forma-
ções foram pela Universidade de São
Paulo. Iniciei os trabalhos de campo
do doutorado em 1992, quando per-
corri todas as praias do litoral de São
Paulo. Foi aí que comecei a perce-
ber vários indícios de erosão costei-
ra em muitas praias, e cujas causas
poderiam ser antrópicas e naturais,
como, por exemplo, a elevação do
nível do mar. Publicações sobre esse
assunto eram escassas, mas nessa
época foi publicado o primeiro re-
latório do IPCC (Painel Intergover-
namental de Mudanças Climáticas), Erosão na praia do Tombo em 29 de outubro de 2017
cujos alertas sobre a elevação do Fonte: Celia Regina Gouveia, 2017.
nível do mar pareciam confirmar
Celia, como você acha que os após o meu doutorado. Vale a pena
minha hipótese inicial. Em 1990 as-
impactos das mudanças climáticas contar um caso específico...
sumi o cargo de pesquisadora cientí-
vêm sendo tratados, desde a sua Na década de 1990 havia uma prá-
fica no Instituto Geológico-SIMA/SP,
percepção na década de 90 até ago- tica comum nas praias urbanas, em
que acabou de ser aglutinado ao Ins-
ra? que as prefeituras faziam o rebaixa-
tituto de Pesquisas Ambientais-SI-
Bem, fazendo uma retrospectiva mento, entre 20 e 30 cm, do nível da
MA/SP. Atuo no Grupo de Desastres
desde que entrei no IG, na década areia junto à mureta da praia, para
Naturais e Gestão de Riscos, sendo
de 1990, e até meados da década de evitar que as areias fossem para a
responsável pela linha de pesquisa
2000, eram raras as pessoas que co- calçada, jardins ou avenida à beira-
em riscos costeiros (erosão costeira
nheciam algo sobre mudanças cli- -mar... Terrível isso, não? Felizmen-
e inundação costeira) e inundações
máticas e seus efeitos na zona cos- te, em 1996, o IBAMA reuniu todas
em planícies costeiras. Em 2006 fui
teira. Recordo que eu tentava tratar as prefeituras do litoral e solicitou
convidada para integrar o quadro de
o tema da erosão costeira sempre que eu proferisse uma palestra para
professores orientadores do Progra-
atrelado aos efeitos das mudanças alertar os gestores sobre os perigos
ma de Pós-Graduação em Geografia
climáticas, tantos nos inúmeros lau- da retirada de areia das praias e
Física - FFLCH/USP, onde atuo até
dos que eu fazia, principalmente apresentasse algumas soluções. Foi
hoje. Essa interface entre instituição
para o Ministério Público e o IBA- bem difícil sensibilizar os prefeitos
de pesquisa vinculada ao governo
MA, sobre impactos relacionados à e outros gestores presentes, mas ao
estadual e a academia é fundamen-
retirada de areia das praias e outras final deu certo, até porque tratamos
tal para a transferência de conhe-
intervenções antrópicas na orla que de caso a caso e eles sentiram con-
cimentos e experiências em gestão
pudessem causar erosão nas praias, fiança nos meus conhecimentos e
pública.
também nas incontáveis palestras no órgão que eu representava. Des-
que dei sobre o assunto, em especial de então, essa prática, bem como

41
qualquer outra de retirada de areia
ficaram
Quando proibidas, à exceção
olho pela janela da
da mi-
limpeza
nha salapública.
no mar Edeesta continua
prédios em
sendo um sério problema, porque o
São Paulo às vezes fica inevitável
método
revisitarde naraspagem
memóriada praiaandei
o que com
tratores é extremamente
fazendo até pouco antes da pan- maléfico.
E o que éEu
demia. pior,
meossento
contratos com ao
de volta as
empresas
computador são ebaseados
olho parano volume
as mi-
de “lixo” recolhido! Portanto,
nhas fotografias. Água é o tema já sa-
bemos no que
do século, é isso vai dar, não?
a história Para
de todas
se ter uma ideia, o lixão da
as histórias. Como fotógrafo, eu Alemoa,
de Santos, foi permanentemente
dou o testemunho a partir do
recoberto com areias retiradas das
que vejo, para tentar não me per- Praia Mococa - Caraguatatuba - 26-05-2021
praias! Depois, entre o final da dé-
der no esforço de entender o que Fonte: Celia Regina Gouveia, 2021.
cada de 1990 e o início da de 2000,
está errado: o que eu não quero
veio a febre de se pavimentar as
mais para mim. Eis um excelente
novas ruas que estavam sendo aber-
ponto de partida para o ajuste de
tas em todo o litoral, com o uso de
rota que desejamos para as gera-
bloquetes sextavados, mas utilizan-
ções futuras. A especialista e ati-
do areia das praias para o assenta-
vista canadense Maude Barlow,
mento deles. Terrível! Portanto, se
aponta em seu livro Água - Pacto
até essa época a percepção sobre a
Azul, pelo menos três cenários
importância de se manter as areias
para nossa
nas praias erareflexão:
mínima, oo que mundo
diria
está ficando sem água doce
de se falar que o nível do mar estava por
desvio,
subindo esgotamento
(por causa das oumudanças
poluição
das fontes disponíveis;
climáticas) e que isso aumentaria a cada
dia, maisdas
a erosão pessoas
praias?estão
Não sevivendo
faziam
sem
relações entre esses temas. há um
acesso à água limpa;
obscuro
Do pontocartel
de corporativo capaz
vista de percepção
das pessoas, eu acredito que 2007 Mongaguá 30-10-2016
foi um marco importante devido à Fonte: Celia Regina Gouveia, 2016.
maior visibilidade e destaque que a
tos, na TV e no rádio, e até partici- ção do nível do mar e a erosão nas
mídia deu ao relatório do IPCC pu-
blicado naquele ano, e que alertava pei de programas de variedades na praias brasileiras, em que visitamos
o mundo sobre os impactos dramá- TV e no rádio. Foi muito bom por- áreas críticas em São Paulo. Bem,
ticos das mudanças climáticas no que, finalmente, consegui alertar e foi só a partir de meados da década
planeta, entre eles a elevação do sensibilizar as pessoas sobre o que de 2000 que as pessoas começaram
nível do mar e os seus efeitos nas estava acontecendo em São Paulo a olhar mais para as “suas” praias.
praias. Por conta do Mapa de Risco e elas começaram a olhar para as E além dos alertas mundiais sobre
de Erosão Costeira que publiquei praias e perceber os problemas em as mudanças climáticas, acho que
naquele ano (eu o atualizo a cada curso. Desde então, esse assunto fi- as pessoas também começaram a
5 anos desde 2002), recordo que fui cou tão em alta que, em 2010, parti- sentir cada vez mais os efeitos das
muito procurada pela mídia para cipei de uma grande reportagem no ressacas do mar, porque elas de fato
dar entrevistas para jornais escri- programa Fantástico sobre a eleva- estão ficando cada vez mais inten-

42
sas e mais frequentes desde o início
da década de 2000.
Hoje em dia o aumento da per-
cepção das pessoas quanto à erosão
das praias e às mudanças climáti-
cas tem feito com que elas formem
associações e redes, e participem
cada vez mais das decisões de ges-
tão das praias. A sociedade está
mais interessada em entender o
que está acontecendo com as praias
e em protegê-las. Recentemente,
aproveitando um trabalho de cam-
po de uma aluna de doutorado, dei
uma aula de campo em praias de
Caraguatatuba, para explicar a um
grupo de leigos as causas dos pro-
cessos erosivos nessas praias, o pro-
blema da implantação de obras de
contenção inadequadas, e possíveis
soluções ou medidas de adaptação.
Tivemos a participação de pessoas
de ONGs, associações de amigos de
praias, quiosqueiros e alunos da re-
gião. Depois fizemos uma reunião
com um gestor público e a defesa
civil municipal, para alertar sobre o
que está acontecendo nas praias do
município. E essas ações reverbe-
ram e estão ganhando maior ampli-
tude e mobilização social. Foi bem
interessante e importante perceber
esse empenho individual e em rede Ressaca e maré Alta anômala em Ilha Comprida no dia 10 de abril de 2020
de pessoas da comunidade, tra- Fonte: Celia Regina Gouveia, 2020.
balhando em prol da preservação nos, instrumentos e normas para blico ou uma comunidade tradicio-
do ambiente onde vivem. E acho
diminuir os impactos? nal em risco, ou como incorporar o
que só assim poderemos promover
Sim, o tempo todo. E para mim Mapa de Risco de Erosão Costeira
mudanças de comportamento e de
sempre foi um desafio pensar em em políticas públicas regionais ou
paradigma da gestão pública das
praias. maneiras de incorporar a pesquisa municipais? Tenho vários exem-
científica nas políticas públicas. Por plos. Os próprios laudos técnicos e
Essa experiência prática com exemplo, como transferir os conhe- atividades como as que mencionei
interface da academia é fundamen- cimentos científicos sobre a erosão acima já são bons exemplos, né?
tal, inclusive com a participação da das praias e os efeitos das mudan- Um processo participativo bem in-
sociedade, isso se traduz em pla- ças climáticas para um gestor pú- teressante foi em decorrência de

43
um fenômeno que ocorreu na En- gestão e, também, atrelar o Mapa de morfodinâmica de praias do Sudes-
seada da Baleia, no Parque Estadual Risco de Erosão Costeira ao progra- te brasileiro aos impactos de even-
da Ilha do Cardoso (Cananéia), onde ma de seleção de áreas para a recu- tos extremos e ao aumento do nível
duas comunidades tradicionais fi- peração ambiental. A mais recente do mar até 2100; e o Projeto Ressa-
caram em risco devido à abertura experiência, também desafiadora, cas, no qual pretendemos desenvol-
de uma nova desembocadura no é com a Ilha Comprida, onde estou ver um sistema de alerta precoce
esporão arenoso da Praia de Arara- orientando um projeto-piloto, uma para todo o litoral, definir os índices
pira. O fenômeno foi impulsionado obra emergencial para tentar miti- com maior precisão e, assim ajudar
pela erosão tanto do lado lagunar gar ou reduzir a forte erosão que as- os municípios a elaborarem seus
quanto da praia, e culminou com o sola a parte norte da ilha há várias planos de contingência. Também
rompimento do esporão em agosto décadas. Além de outras medidas mantemos atualizado um banco de
de 2018. Além do monitoramento como a remoção de escombros da dados de ocorrência de eventos in-
dos processos erosivos que inicia- faixa de areia, a ideia central é fazer tensos de ressacas no mar e marés
mos em 2012, também realizamos um anteparo flexível com enormes altas anômalas, com registros desde
a escolha de uma nova área para a sacos preenchidos com areias flu- 1928 para o litoral paulista.
realocação de uma das comunida- viais, que aguente e absorva o im- Em relação à atuação do governo
des, dentro da própria unidade de pacto das ondas e, assim, reduza o do Estado, podemos citar algumas
conservação. Esta comunidade foi processo erosivo da praia e permi- políticas e ações que começaram a
aquela que acreditou e confiou na ta a recuperação da primeira duna incorporar essa temática de riscos
ciência, aceitando fazer a mudan- frontal. Ou seja, o objetivo é tentar costeiros e mudanças climáticas
ça em 2016, quando acionamos o realinhar o sistema praia-duna. recentemente: a Política Estadual
estado de atenção de risco de rom- de Mudanças Climáticas (PEMC),
pimento. A outra comunidade não Sobre a atuação do Governo do atualmente em revisão junto à
quis sair e foi rapidamente atingida Estado, quais são os planos de mi- SIMA; o Programa Estadual de Pre-
quando a barra se abriu, e as pes- tigação e adaptação em relação às venção de Desastres Naturais e Re-
soas acabaram se dispersando. mudanças climáticas com foco em dução de Riscos Geológicos (PDN);
Outra experiência importante riscos costeiros? os Planos de Manejo das APAs Ma-
foi o Projeto Metrópole (2013-2017), Em relação aos riscos costeiros, rinhas; o Plano de Ação 20-22 para
realizado em Santos, no qual desen- um importante passo foi dado em Mitigação e Adaptação no âmbito do
volvemos uma modelagem de cená- 2016, com a elaboração do Plano GT-Clima da SIMA, que realizou um
rios de inundação costeira até 2100 e Preventivo de Defesa Civil para Ero- diagnóstico sobre todos os projetos
calculamos os danos potenciais em são Costeira, Inundações Costeiras com temática de mudanças climáti-
prédios para duas situações: de não e Enchentes, também apelidado de cas na SIMA e estabeleceu recomen-
se fazer nada e de se tomar medidas PPDC de Ressacas. Durante a elabo- dações para a PEMC; o Programa
de adaptação. O projeto foi a base ração desse plano, nos deparamos Município VerdeAzul; e o Programa
para a criação do Plano Municipal com a falta de dados que pudessem Municípios Paulistas Resilientes da
de Adaptação às Mudanças Climá- servir de base para a definição dos SIMA. Outra ação interessante foi o
ticas, o primeiro do litoral paulista índices meteorológicos e oceano- projeto Biodiversidade e Mudanças
e um dos pioneiros no Brasil. Outro gráficos necessários à implantação Climáticas na Mata Atlântica, de-
exemplo bem desafiador foi a par- do Plano. No que tange à minha senvolvido pelo Ministério do Meio
ticipação na elaboração dos Planos pesquisa, atualmente coordeno Ambiente em parceria com a GIZ
de Manejo das três APAs Marinhas dois projetos cujos objetivos estão (Deutsche Gesellschaft für Interna-
de São Paulo, no qual pudemos con- bem alinhados com essa temática: tionale Zusammenarbeit), em que
tribuir conceitualmente com a in- o Projeto Praias (financiamento CA- foi um estudo pioneiro em São Pau-
clusão das praias como unidade de PES), que visa entender a resposta lo, que incluiu uma análise do risco

44
Orla Massaguaçu
Fonte: Claudio Gomes-PMC (48).

climático na região do mosaico La- Santos tem sido apontado como em 2016. Acho que tanto a pesqui-
gamar (Litoral Sul). O Projeto Litoral um caso importante de melhores sa científica, quanto a participação
Sustentável, coordenado pela SIMA práticas no planejamento de po- de técnicos da Prefeitura no projeto
e em fase final de tratativas junto ao líticas públicas face às mudanças foram fundamentais nesse proces-
BID, deverá alavancar muitos estu- climáticas. O que faz Santos ser um so. No projeto desenvolvemos uma
dos sobre a temática de riscos com a caso de sucesso? modelagem de cenários de inunda-
lente climática nos próximos anos. Santos baseou-se na ciência para ção costeira para 2050 e 2100, que
Finalmente, como ação internacio- elaborar o planejamento de polí- foram aplicados em duas áreas do
nal em rede, posso citar o grupo de ticas públicas face às mudanças município, na Zona Sudeste (entre o
assessoramento técnico da platafor- climáticas. E o Projeto Metrópole Canal 4 e a Ponta da Praia, até o Fer-
ma de mudanças climáticas, risco (projeto internacional e temático ryboat), e na Zona Noroeste, no in-
e resiliência da América Latina e da Fapesp, coordenado pelo Dr. terior do estuário. As tendências de
Caribe para reservas da biosfera e Marengo do CEMADEN), no qual elevação do nível médio do mar e de
geoparques da UNESCO, criado em eu também participei juntamente eventos extremos de sobrelevação
2020. com colegas da Unicamp, da USP, do nível do mar (que são as marés
do INPE e da própria Prefeitura, altas anômalas) foram baseadas em
foi a grande base, que alavancou dados de séries históricas dos maré-
a criação do Plano Municipal de grafos locais e de altimetria de sa-
Adaptação às Mudanças Climáticas, télite. Com base nessas tendências

45
Recuperação de dunas na Enesada do Guarujá em 03 de novembro de 2019
Fonte: Celia Regina Gouveia, 2019.

foram feitos os mapas mostrando vão desde a destruição de estrutu- agravante é o aumento da frequên-
os cenários de inundação e calcu- ras urbanas e interrupção de ativi- cia e magnitude desses eventos in-
lados os danos potenciais aos pré- dades essenciais durante os eventos tensos e extremos. Para se ter uma
dios atingidos. Os resultados foram intensos, até a artificialização cada ideia, de acordo com o nosso banco
então apresentados em Workshops vez maior da linha de costa e a per- de dados, somente nos primeiros 16
públicos, nos quais a sociedade teve da irreparável de serviços ecossis- anos do século 21 foram registrados
a oportunidade de discutir esses ce- têmicos, gerando muitos reflexos 61,4% de todos os eventos cadastra-
nários e sugerir melhores medidas nas cadeias produtivas, em especial dos desde 1928, e a ocorrência de
de adaptação para cada zona. O pro- na do turismo. Sabemos que o ní- ressacas fortes aumentou em mais
jeto foi finalizado em 2017. vel do mar está subindo, e em São de 3 vezes no mesmo período.
Paulo a taxa de elevação calculada
Do ponto de vista da disponibi- no Projeto Metrópole, por exemplo, Celia, sua carreira científica pa-
lidade de conhecimento científico, é similar à do IPCC. Em Santos, o rece ter sido muito ativa, engajada
modelagem e projeção quais são os pior cenário projetado para 2100, e atuante de forma prática, você
principais impactos previstos para de elevação do nível médio do mar pode dividir alguma ação de adap-
o litoral de São Paulo?  de 0,45 m, somado à cota máxima tação que participou ou iniciou?
Os principais impactos são o au- de inundação, de 1,66 metros, pro- Sim. Além daquela realizada na
mento da erosão das praias e das vocada por um evento extremo com Enseada da Baleia, tem uma outra,
inundações costeiras na orla oceâ- tempo de retorno de 100 anos, já foi da qual até me emociono ao falar…
nica e estuarina das cidades. E isso extrapolado em 2016, durante um Eu apelidei de “minhas dunas” e digo
tudo normalmente gera uma teia evento de extremo conjugado de que é uma importante contribuição
de impactos socioeconômicos, que ressaca e maré alta anômala. Outro minha como cientista. A ação tinha

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© Edmilson Dias de Freitas, 2021
Butantã, São Paulo-SP. Brasil

o objetivo de recuperar naturalmente as dunas na Praia recuperadas, levando em média 60% das áreas então
da Enseada do Guarujá. Nessa praia a Prefeitura muni- recuperadas. Onde não havia duna, o mar invadiu a
cipal sempre praticou a remoção das dunas em vários avenida à beira-mar e destruiu várias estruturas urba-
trechos, enquanto em outros, a presença de quiosques nas e até danificou alguns quiosques, demonstrando
sobre a faixa de areia se encarregava disso. Quando ini- assim a importância das dunas como barreira natural
ciei o Projeto Praias-Capes, em 2017, aproveitei a deixa contra a erosão. Foi muito bom ter conseguido sensi-
de que uma ação do Ministério Público havia obrigado bilizar o poder público e, posteriormente, também os
a remoção dos quiosques da faixa de areia dessa praia, quiosqueiros, ambulantes e outros usuários da praia,
e fui conversar com o Secretário do Meio Ambiente sobre a importância de recuperar e manter as dunas.
do município sobre essa praia e as dunas. Expliquei Esse tipo de ação muda a cabeça das pessoas e as fa-
o contexto da erosão costeira em São Paulo e o sen- zem enxergar que soluções baseadas na própria natu-
sibilizei demonstrando o risco de desaparecimento de reza, nos ecossistemas, podem ser as melhores saídas
praias em processo de erosão costeira crônica, as pos- para a adaptação aos riscos climáticos. Meu desejo é
síveis causas disso, bem como os benefícios que as du- que as pessoas possam reconhecer a gama de serviços
nas poderiam trazer, como uma medida de adaptação ecossistêmicos prestados pelo sistema praia-duna, em
muito barata, mas muito eficaz e capaz na proteção da especial o de proteção costeira, e que elas passem a ver
praia e do ambiente urbano. Graças ao bom senso do as dunas como uma feição natural desse tão maravi-
Secretário, o município parou de retirar as areias que lhoso e sensível ambiente, as praias.
se empilhavam na parte superior da praia e, então, as Enfim, que possamos preservar as praias e ter “Uma
dunas começaram a se recuperar naturalmente e cres- Areia para o Futuro”, este é o slogan de uma rede de
ceram bastante. No mês de abril de 2020 duas ressacas erosão costeira para São Paulo que planejamos criar
muito fortes e consecutivas impactaram muito a praia em breve.
e provocaram a erosão da praia e das faixas de dunas

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ARTES

por João Reis


@rabiskus_do_joao

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49
editores
PEDRO ROBERTO JACOBI
Professor Titular Senior do Programa de Pós-Gradu-
LIDIANE ALONSO PAIXÃO DOS ANJOS
Engenheira Florestal (UNESP), Mestra em Ambiente,
QUEM
ação em Ciência Ambiental (IEE) da Universidade
de São Paulo (PROCAM/IEE/USP). Coordenador do
Projeto Temático Fapesp MacroAmb. Editor da re-
Saúde e Sustentabilidade (USP) e Doutoranda em
Planejamento e Gestão do Território pela UFABC. Atua
como Professora de biologia, Pesquisadora do Temá-
FEZ
vista Ambiente e Sociedade. Coordenador do Grupo tico Fapesp Macroamb e Pesquisadora Colaboradora
de Pesquisa Meio Ambiente e Sociedade do Instituto
de Estudos Avançados da USP (IEA). Presidente do
Conselho do ICLEI- Governos Locais pela Sustenta-
do Projeto GovernAgua - SARAS Institute - Inter-A-
merican Institute for Global Change Research (IAI).
Participa do Grupo de Pesquisa “Governança, políticas
ESSA
bilidade – América do Sul. Atua na coordenação do
sub-projeto de pesquisa junto ao INCLINE. Coordena-
dor (Brasil) do Projeto GovernAgua - SARAS Insti-
tute - Inter-American Institute for Global Change
públicas e território” da UFABC.

IGOR MATHEUS SANTANA-CHAVES


EDIÇÃO?
Arquiteto e Urbanista, Mestre e Doutorando em Pla-
Research (IAI). nejamento e Gestão do Território pela UFABC. Pesqui-
sador do temático MacroAmb (FAPESP), Pesquisador
LUCIANA TRAVASSOS Colaborador do Projeto GovernAgua - SARAS Institute
Professora adjunta da Universidade Federal do ABC - Inter-American Institute for Global Change Research
(UFABC), no Bacharelado em Planejamento Territo- (IAI), e do Laboratório de Planejamento Territorial
rial e na Pós-gradução em Planejamento e Gestão do (LabPlan) (UFABC/PGT). Também é membro do corpo
território. É arquiteta urbanista e doutora em Ciência editorial da Revista Ambiente & Sociedade.
Ambiental (PROCAM-USP). Trabalha com a relação
entre a produção do espaço e a natureza,  com base ANA LIA DA COSTA LEONEL
na justiça ambiental e foco em dinâmicas territoriais Ciêntista Social (UFSCar), Mestre e Doutoranda em
e políticas públicas. Professora colaboradora do Pro- Planejamento e Gestão do Território pela UFABC com
jeto GovernAgua - SARAS Institute - InterAmerican pesquisa, principalmente, na área de planejamento
Institute for Global Change Research (IAI). ambiental. Associada ao Laboratório de Planejamento
Territorial (LabPlan) (UFABC/PGT), integra os Grupos
de Pesquisa CNPq “Campo do planejamento territo-
rial” e “Território e natureza: planejamento e gestão”.
Pesquisadora do temático MacroAmb (FAPESP).

autores

Amanda Rehbein - Possui graduação em Me- do ABC // Gestor Ambiental (EACH-USP). Mestre Geologia Sedimentar pela USP. Pesquisadora
teorologia pela Universidade Federal de Santa e Doutor em Ciência Ambiental (PROCAM-IEE- Científica VI do Instituto Geológico e Profes-
Maria (UFSM), mestrado e doutorado em Ciên- -USP). Pesquisa as relações entre produção do sora Convidada do PPG em Geografia Física da
cias Atmosféricas pelo Instituto de Astronomia, espaço urbano e natureza, sob uma perspectiva FFLCH-USP. Coordena o Programa de Monito-
Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Uni- crítica orientada pela ecologia política. É pesqui- ramento da Erosão Costeira no Estado de São
versidade de São Paulo (USP), tendo realizado sador do Projeto MacroAmb (Fapesp) Paulo e o Grupo de Estudos Costeiros (CNPq).
estágio de pesquisa na Universidade de Tóquio, Participou da elaboração do PPDC de Ressacas
Japão, na área de modelagem climática de alta Carolyne Bueno Machado - Doutoranda em Me- e Marés Altas Anômalas de São Paulo. Participa
resolução. É coordenadora discente do Grupo teorologia pela Universidade de São Paulo, com do GT-Clima/SIMA e do Grupo de Asesoramien-
de Estudos Climáticos (GrEC) da USP. Atua nas sua pesquisa voltada à avaliação do impacto to Técnico - Plataforma de Cambio Climático,
áreas de Meteorologia Dinâmica, Mesoescala, das mudanças de uso e cobertura da terra nos Riesgo y Resiliencia de América Latina y Caribe
Modelagem Numérica e Mudanças Climáticas. padrões de precipitação da Bacia do Rio Para- – UNESCO.
ná. Trabalha atualmente com a modelagem di-
Beatriz Duarte Dunder - Gestora Ambiental (EA- nâmica espacial e com modelagem numérica Edmilson Dias de Freitas - Departamento de Ci-
CH-USP), Mestranda em Ciência Ambiental pelo regional da atmosfera. Possui mestrado em Sen- ências Atmosféricas, Instituto de Astronomia,
IEE-USP, tem como área de pesquisa Ecologia soriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Geofísica e Ciências Atmosféricas. Universidade
Politica e Segurança Hídrica. É parte do Projeto Pesquisas Espaciais e graduação em Engenha- de São Paulo.
Temático MacroAmb (FAPESP). ria Ambiental pela Universidade Tecnológica
Federal do Paraná. Edson Grandisoli - Biólogo, Ecólogo e Doutor
Bruno Avellar Alves de Lima - Pesquisador asso- em Educação para a Sustentabilidade (PRO-
ciado ao Instituto de Energia e Ambiente da Uni- Celia Regina de Gouveia Souza - Geóloga, Mes- CAM-USP) e Pós-doutor pelo Programa Cida-
versidade de São Paulo e à Universidade Federal tre em Oceanografia Geológica e Doutora em des Globais do Instituto de Estudos Avançados
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(IEA-USP). Diretor da Reconectta, consultor da pesquisa científica. de 200 publicações científicas e desde 2018 é
UNESCO, Editor Adjunto da Revista Ambiente & diretor do Instituto de Biociências da Universi-
Sociedade e pesquisador na área de Educação e Letícia Stevanato Rodrigues - Gestora Ambiental dade de São Paulo.
Sustentabilidade. (EACH-USP), Mestra e Doutoranda em Ciência
Ambiental pelo IEE-USP. Seus principais temas Nádia Gilma Beserra de Lima - Possui gradua-
Gabriel Pires de Araújo - Gestor Ambiental (EA- de pesquisa são Resíduos, Ecologia Política Ur- ção em Geografia pela Faculdade de Filosofia,
CH-USP). Mestrando em Ciência Ambiental bana, Gerenciamento de riscos e Justiça Am- Letras e Ciências Humanas da Universidade de
(PROCAM-IEE-USP). Tem como área de inte- biental. Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa São Paulo (2005), Mestrado (2009) e Doutorado
resse Gestão Ambiental, Justiça Climática e em Organizações, Sociedade e Sustentabili- (2014) em Ciências pelo Programa de Pós-gradu-
Adaptação às Mudanças Climáticas. dade (NOSS) e do Projeto Temático MacroAmb ação em Geografia Física da Universidade de São
(FAPESP). Paulo. Trabalhou como Especialista Ambiental
Gil Scatena - Formado em Turismo pela Uni- na Coordenadoria de Planejamento Ambiental
versidade Anhembi Morumbi; Mestre em Pla- Lívia Márcia Mosso Dutra - Possui Graduação - CPLA, da Secretaria de Infraestrutura e Meio
nejamento e Gestão do Território pela Univer- em Meteorologia pela Universidade de São Paulo Ambiente do Estado de São Paulo – SIMA (2010 a
sidade Federal do ABC (UFABC); Professor de e mestrado em Ciências (área: Meteorologia) 2020) e atualmente faz parte do corpo técnico do
Gestão Ambiental na Universidade 9 de Julho pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciên- Instituto de Pesquisas Ambientais – IPA (antigo
e Centro Universitário SENAC; Coordenador de cias Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Instituto Geológico).
Planejamento Ambiental da Coordenadoria de Paulo (USP). É membro colaborador do Grupo
Planejamento Ambiental (CPLA) da Secretaria de Estudos Climáticos (GrEC) da USP e do IN- Natália Machado Crespo - Formada em Meteo-
de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de terdisciplinary CLimate INvEstigation Center rologia-Bacharelado pela Universidade Federal
São Paulo (Sima), de 2017 até o presente. (INCLINE), ambos na USP. Atualmente trabalha de Santa Maria, trabalhou no Laboratório Ozônio
como assistente administrativo e de pesquisa x Radiação do Instituto Nacional de Pesquisas
Giovanna Gini - Aluna de doutorado que trabalha no IAG/USP, atuando nas áreas de Meteorologia Espaciais (CRS/INPE-MCTI), onde exerceu ativi-
com mobilidades no Antropoceno com foco na Dinâmica, Modelagem Numérica da Atmosfera dades no Programa de Monitoramento do Ozônio
América do Sul. Bacharel em Ciências Políticas e Climatologia. Atmosférico. Possui Mestrado e Doutorado em
pela Universidade de Trento, Itália; onde tam- Ciências (Área: Meteorologia) pela Universidade
bém em 2018 concluiu seu mestrado em Estudos Lucia Sousa e Silva - Possui graduação em Ar- de São Paulo, sendo o foco de sua pesquisa o es-
Europeus e Internacionais com uma tese com o quitetura e Urbanismo pela Faculdade de Ar- tudo da relação entre ciclogênese em superfície
título: ‘Migração como Estratégia de Adaptação: quitetura e Urbanismo da Universidade de São e vorticidade potencial em altos níveis. Atual-
Um estudo de caso da Tanzânia’. Desde 2018, faz Paulo (1994), e mestrado e doutorado em Ciência mente é pós-doutoranda no IAG-USP, no projeto
parte do programa Mobile People, uma colabo- Ambiental pelo Programa de Pós-Graduação Western South Atlantic Climate Experiment
ração entre a Queen Mary University of London em Ciência Ambiental da Universidade de São (WeSACEx), e integrante do Grupo de Estudos
e o Leverhulme Trust Doctoral (QMUL-LTDS). Paulo (2005 e 2013). Desde 2012, é funcionária Climáticos (GrEC) do IAG-USP desde 2014.
Colabora com a Rede Sul-Americana para Mi- efetiva da Secretaria de Infraestrutura e Meio
grações Ambientais (RESAMA). Ambiente do Estado de São Paulo, na Coordena- Natália Micossi da Cruz - Possui graduação em
doria de Planejamento Ambiental (CPLA), onde Geografia pela Universidade Estadual Paulista
João Reis - Visual Facilitator, Illustrador e Ge- atua na análise de dinâmicas territoriais e na “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP (2006). É fun-
rente de Produção no Grupo SBF. proposição de instrumentos de planejamento e cionária efetiva da Secretaria de Infraestrutura
gestão territorial. e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, na Co-
Juliana Greco Yamaoka - Doutoranda pelo Pro- ordenadoria de Planejamento Ambiental (CPLA)
grama de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Marcos Buckeridge - Professor Titular da Uni- desde 2009 e, desde 2016, diretora do Centro de
Desenvolvimento, na linha de Epistemologia versidade de São Paulo. Foi Presidente da Acade- Planejamento Territorial Ambiental. Atua na
Ambiental da Universidade Federal do Paraná mia de Ciências do Estado de São Paulo, Membro análise de dinâmicas territoriais e na proposi-
(UFPR), bolsista pela CAPES. Mestra em Desen- do Painel Intergovernamental sobre Mudanças ção de instrumentos de planejamento e gestão
volvimento Territorial Sustentável, na linha de Climáticas (IPCC) e Diretor Científico do Labo- territorial ambientais.
Socioeconomia e Saberes Locais, pela UFPR - ratório Nacional de Bioenergia (CNPEM-Campi-
Setor Litoral, especialista em Desenvolvimento nas). Atualmente é Membro da Academia Brasi- Pedro Henrique Campello Torres - Cientista So-
Regional (UFPR) e bacharel em Turismo (UAM). leira de Ciências, coordena o Instituto Nacional cial e Planejador Urbano. Atualmente é professor
Facilitadora e educadora popular, trabalha com de Ciência e Tecnologia (INCT) do Bioetanol e o de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciên-
comunidades tradicionais e coletivos de eco- Centro de Síntese USP-Cidades Globais do Insti- cias e Humanidades (EACH) e Pós Doutorando
nomia solidária em projetos socioambientais e tuto de Estudos Avançados da USP. Possui mais em Ciências Ambientais, no Instituto de Energia
51
e Ambiente (IEE), da Universidade de São Paulo da Enseada da Baleia, Ilha do Cardoso, Cananéia/
parte do Projeto Temático FAPESP MacroAmb SP, integrante do grupo das Mulheres da Enseada
(2015-03804-9). Interesse nos temas do planeja- da Baleia (MAE), trabalhando com confecção
mento ambiental, como foco nas desigualdades, sustentável/arte em madeira, culinária e turis-
justiça ambiental e climática. mo comunitário e educacional.

Rayssa Saidel Cortez - Arquiteta e Urbanista Tercio Ambrizzi - Professor Titular no Instituto
(FAAC/UNESP), mestra e doutoranda em Plane- de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféri-
jamento e Gestão do Território (PPGPGT/UFABC), cas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP).
realiza pesquisa em segurança hídrica e comu- Atualmente é Superintendente de Gestão Am-
nidades vulneráveis. Integra o Laboratório Jus- biental na USP e coordenador do INterdiscipli-
tiça Territorial (labJUTA), o Grupo de Pesquisa nary CLimate INvestigation cEnter (INCLINE).
em Ecologia Política, Planejamento e Território Possui doutorado em Meteorologia pela Uni-
(eco:t) e o Projeto temático FAPESP "Governança versidade de Reading, Reino Unido, e atua na
Ambiental na Macrometrópole Paulista face a área de Ciências Atmosféricas, com ênfase em
variabilidade climática". Meteorologia Dinâmica, Modelagem Numérica
da Atmosfera e Climatologia. É membro da Aca-
Renata Ferraz de Toledo - Bióloga (UNESP, Botu- demia Brasileira de Ciências e já publicou mais
catu-SP); Especialista em Educação Ambiental de 130 artigos científicos em revistas científicas
(Faculdade de Saúde Pública da Universidade arbitradas e dezenas de livros e capítulos de
de São Paulo – FSP/USP); Mestre e Doutora em livros.
Saúde Pública (FSP/USP); Pós-doutorado (Facul-
dade de Educação/USP). Docente do Programa Thamiris Luisa de Oliveira Brandão Campos -
de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo Doutora em Meteorologia pelo Instituto Nacional
e do Programa de Pós-Graduação em Educa- de Pesquisas Espaciais. Atualmente integra o
ção Física da Universidade São Judas Tadeu. projeto temático MacroAmb (Processo FAPESP
Pesquisadora do Projeto Temático MacroAmb n.º 2019/12015-9 e 15/03804-9) como pesquisado-
(Fapesp 2015/03804-9). Editora adjunta da Re- ra pós-doc no Instituto de Astronomia, Geofísica
vista Ambiente & Sociedade. Experiência nas e Ciências Atmosféricas da Universidade de São
áreas de interface da Educação, Saúde e Am- Paulo com o tema de eventos extremos e mu-
biente e Metodologias Participativas, como a danças climáticas na Macrometrópole Paulista.
Pesquisa-ação.

Sonia Coutinho - Possui graduação em Direito,


mestrado em Saúde Pública e doutorado em Ci-
ências, linha de pesquisa Políticas Públicas e
Gestão Ambiental, todos pela Universidade de
São Paulo. Pós-doutorado pela FSP/USP, com
Bolsa Fapesp, e junto à Escola Politécnica/USP,
com bolsa CEST/USP. Atualmente é Pesquisa-
dora colaboradora do Instituto de Estudos Avan-
çados/USP. Orientadora pontual do Programa
de Pós-Graduação Ambiente, Saúde e Susten-
tabilidade. No IEA, é membro do Programa USP
Cidades Globais.

Tatiana Mendonça Cardoso - Caiçara, Cientista


Social pela Universidade de Franca (UNIFRAN),
educadora popular, atua em projetos e estudos
sobre tradição, fortalecimento feminino e con-
servação ambiental. Moradora da comunidade
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO 8. O arquivo todo do manuscrito deverá ter o
máximo de 2. Poderá haver excepcionalidades em
casos de utilização de mapas, gráficos e tabelas
1. O tema de cada artigo é sugestão temática essenciais a compreensão do texto.
norteadora por parte dos organizadores para guiar
os autores, podendo ser alterado pelos mesmos. 9. Título do artigo deve ter, no máximo, 15 pala-
vras.
2. O recorte da Macrometrópole paulista pode
tanto ser utilizado de forma sistêmica, como recorte 10. As Palavras-chave, devem ser no mínimo 3 e
geográfico ou mesmo a escolha de uma cidade, uma no máximo 5.
região que esteja inserida dentro da MMP. 11. Elementos gráficos (Tabelas, quadros, gráfi-
3. Entende-se por MMP o conjunto dos 174 cos, figuras, fotos, desenhos e mapas). São permiti-
municípios formados pela soma das regiões metro- dos apenas o total de três elementos ao todo, nume-
politanas de São Paulo, Baixada Santista, Campinas, rados em algarismos arábicos na sequência em que
Vale do Paraíba e Litoral Norte, Sorocabana, além aparecerem no texto.
das Aglomerações Urbanas de Jundiaí e Piracicaba. 12. Imagens coloridas e em preto e branco, digi-
https://www.emplasa.sp.gov.br/MMP talizadas eletronicamente com resolução a partir de
4. O manuscrito deve ser estruturado da se- 300 dpi.
guinte forma: Título, autor e co-autores em ordem 13. As notas de fim de página são de caráter
de relevância para o texto, Palavras-chave, introdu- explicativo e devem ser evitadas. Utilizadas apenas
ção, desenvolvimento do texto, referências. Notas de como exceção, quando estritamente necessárias
rodapé e/ou de fim de página são opcionais e devem para a compreensão do texto e com, no máximo,
ser evitadas ao máximo. três linhas. As notas terão numeração consecutiva,
5. O texto deve ser redigido no idioma portu- em arábicos, na ordem em que aparecem no texto.
guês. 14. Número de Referencias não deve ultrapas-
6. Fonte Arial 11 e espaçamento 1,5 (um e meio) sar cinco.
entre linhas. 15. As citações no corpo do texto e as referên-
7. O texto deverá apresentar as referências ao cias deverão obedecer às normas da ABNT para
final. autores nacionais e Vancouver para autores estran-
geiros.

REALIZAÇÃO

LAPLAN LABORATÓRIO DE
PLANEJAMENTO TERRITORIAL

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